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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Propaganda institucional. 1. INTRODUÇÃO O ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita nas escolas públicas têm se constituído

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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GÊNEROS DISCURSIVOS E O ENSINO DA LEITURA E DA ESCR ITA

Leonor Vasques Moraes Ribeiro MARTINEZ* Marinês LONARDONI**

RESUMO Este artigo tem por objetivo apresentar resultados da implementação pedagógica desenvolvida a partir de uma proposta teórico-metodológica com o gênero discursivo propaganda institucional, por meio de práticas de leitura e de escrita, na disciplina de Língua Portuguesa. Inicialmente, busca-se ressaltar os aspectos relevantes da abordagem dos gêneros discursivos, através de uma concepção de linguagem como produção humana, cuja natureza encontra-se nas práticas sociais, culturais e históricas, com base nos fundamentos teóricos de autores como: Bakhtin (1990 e 2011), Leontiev (2004), Vigotsky (2001), Dolz e Schneuwly (2004), dentre outros. Em seguida, aponta-se como aconteceu a efetivação das ações, envolvendo a aplicação de uma sequência didática sobre o gênero discursivo propaganda institucional, em uma turma de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, do Instituto de Educação Estadual de Maringá, abordando os encaminhamentos dados e a participação dos educandos. Por fim, conclui-se, salientando que as atividades propiciaram a ampliação das capacidades de leitura e escrita dos alunos envolvidos no projeto, o que vai ao encontro da inserção dos gêneros discursivos no currículo das escolas públicas e da necessidade de ações pedagógicas efetivas e reais de leitura e escrita, presentes também nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para o Estado do Paraná (2008). Destaca-se, ainda, a possível contribuição dada pelo projeto aos professores de língua portuguesa, no que tange à elaboração de seus próprios planejamentos. Palavras-chave: Gênero. Leitura. Escrita. Propaganda institucional.

1. INTRODUÇÃO

O ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita nas escolas públicas têm

se constituído em um desafio para o professor de língua portuguesa, haja vista as

condições encontradas no ambiente pedagógico atual, como: indisciplina, falta de

atenção por parte dos alunos, formação docente deficitária, carga horária reduzida,

dentre outros.

É possível observar os resultados desse processo nos vários índices

brasileiros quantitativos e qualitativos sobre leitura e escrita, divulgados por

diferentes organismos institucionais nacionais e internacionais. Isso aponta para

uma necessidade urgente de se voltar o olhar para a sala de aula, para professores

e alunos, por meio de reflexão amparada por teorias consistentes e a proposição de

* Professora de Língua Portuguesa da Rede Pública do Estado do Paraná, inserida no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE de 2013, com especialização em Teoria Histórico-Cultural, docente no Instituto de Educação Estadual, no município de Maringá. ** Professora Titular do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, Mestre em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP - Araraquara, Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP – Araraquara.

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alternativas para a prática pedagógica, de forma a contribuir para a melhoria das

capacidades discentes de ler e escrever.

Ao encontro dessa perspectiva, vem a compreensão de que a leitura e a

escrita devem ser desenvolvidas por todas as disciplinas, permeando o espaço

escolar, auxiliando o professor de língua portuguesa no trabalho a ser desenvolvido.

Isso remete à ideia de que a escola deve caminhar em torno de um objetivo comum,

agindo com responsabilidade e profissionalismo no tocante à sua função social que

é possibilitar aos alunos a apropriação dos conhecimentos produzidos social, cultural

e historicamente pelos homens.

Nesse sentido, é preciso buscar propostas de trabalho na referida disciplina

que possam contribuir, efetivamente, para a melhoria qualitativa e quantitativa do

processo de aprendizagem dos educandos no que tange à leitura e à escrita.

Propostas essas, ancoradas em referenciais teórico-metodológicos sólidos e que

apresentem encaminhamentos condizentes com as necessidades da escola atual.

Para tanto, apresenta-se, neste trabalho, a aplicação de uma sequência

didática sobre o gênero discursivo propaganda institucional, constituída de sete

etapas, para alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, do Instituto de Educação

Estadual de Maringá. Esse material didático, elaborado com base nos estudos de

Bakhtin (1990 e 2011), Leontiev (2004), Vigotsky (2001), Dolz e Schneuwly (2004),

dentre outros, possibilitou uma abordagem dos gêneros discursivos dentro do

currículo da disciplina de língua portuguesa, inserindo-os no plano de trabalho

docente, previsto para o ano letivo de 2014.

Desse modo, por meio da implementação dessa sequência didática, foram

desenvolvidas as ações previstas no Projeto de Intervenção Pedagógica, referente

ao Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná (PDE), contribuindo para

ampliar as capacidades de leitura e escrita dos alunos e auxiliando os professores

de língua portuguesa no planejamento de suas aulas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A leitura e a escrita representam, em qualquer língua, capacidades

fundamentais para a formação do indivíduo e para a sua inserção no meio social,

pois é a linguagem que lhe possibilita interagir com outros de sua espécie e

desenvolver-se como ser humano. Vygotsky (2001) salienta que, ao apropriar-se da

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linguagem, o sujeito passa a representar o real, a fazer abstrações, ou seja, passa

do plano concreto para o abstrato, desenvolvendo o seu pensamento racional.

Nessa perspectiva, a linguagem é tida como fundamental na própria aquisição

da humanidade, uma vez que o ser não nasce humano, mas se torna humano, por

meio da interação social. Ao conviver com os outros seres, o homem vai

apropriando-se dos diferentes signos, das formas de comunicação, da língua, o que

lhe permite estabelecer relações, observar, pensar e desenvolver-se. Assim,

entende-se o homem como um ser social, cultural e histórico, conforme salienta

Vygotsky (2001) em seus estudos teóricos, os quais apontam a linguagem verbal

como determinante sobre a formação da consciência humana.

Se a aquisição da linguagem ocupa papel preponderante no desenvolvimento

humano, é preciso, pois, que sejam possibilitadas ao sujeito as interações

necessárias para que ele possa apropriar-se dela, adequadamente. Ao internalizar a

linguagem, o homem desenvolve o seu pensamento, amplia suas capacidades

mentais, bem como a sua leitura da realidade. E, a partir da realidade ao seu redor,

de uma consciência coletiva, é que o indivíduo tem as condições para desenvolver a

sua consciência individual. Nesse sentido, Leontiev (2004, p. 138-139) afirma que:

A sua consciência individual só pode existir nas condições de uma consciência social; é apropriando-se da realidade que o homem a reflete como através do prisma das significações, dos conhecimentos e das representações elaboradas socialmente.

Dessa forma, é possível compreender que a linguagem é um dos

instrumentos simbólicos mais importantes para a formação das funções psicológicas

superiores, pois medeia as relações entre sujeito e cultura, entre ele e realidade que

o cerca. A linguagem é o que possibilita que os indivíduos interajam uns com os

outros, é o que os torna humanos, uma vez que é por meio dela que eles se

apropriam do que as gerações anteriores produziram cultural, social e

historicamente. Assim, afirma Leontiev (2004):

A linguagem é aquilo através do qual se generaliza e se transmite a experiência da prática sócio-histórica da humanidade; por consequência, é igualmente um meio de comunicação, a condição da apropriação dos indivíduos desta experiência e a forma da sua existência na consciência.

Nesse contexto, a linguagem deve ser compreendida como produção

humana, social, cultural e histórica. Por meio dela, os sujeitos interagem, constroem

significações, desenvolvem o seu pensamento. Portanto, concepções de linguagem

como expressão do pensamento e instrumento de comunicação, tão presentes em

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tempos anteriores, devem ceder espaço para a concepção de linguagem como

interação entre os homens, apontada nos estudos de Bakhtin (1990).

De acordo com Bakhtin (1990), “a consciência adquire forma e existência nos

signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais”. Tais

relações pressupõem o uso da linguagem. Para ele, essas relações são ideológicas,

nunca acontecem de forma neutra. Da mesma maneira é o uso da linguagem, pois

ela manifesta-se por meio de discursos situados cultural, social e historicamente, ou

seja, não pode ser entendida se for separada de seu contexto de produção.

Na interação verbal, está presente o enunciado oral ou escrito que, segundo

Bakhtin (2011), é a unidade básica da linguagem, pois a sua existência se dá

apenas em situações reais de comunicação, dentro de um determinado contexto.

Ele traz as marcas intencionais daqueles envolvidos na interação verbal e irá

acontecer de acordo com as condições de sua produção.

Assim, de acordo com esse autor, o enunciado constitui o discurso, o qual é

permeado por ideologias, por intencionalidades, refletindo o que ocorre no contexto

social, cultural e histórico. O discurso, por sua vez, é o resultado das interações que

ocorrem entre os indivíduos dentro desse contexto. Assim, não é possível

compreender a língua, se ela for tomada apenas como um conjunto de estruturas,

de normas, desligadas do aspecto discursivo, interacional, cuja base está no seu

caráter social, cultural e histórico. Conforme Bakhtin:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1990, p. 123 apud PARANÁ, 2008)

Ainda, segundo Bakhtin (2011), os enunciados orais e escritos são

“relativamente” estáveis, dado o caráter de dinamicidade presente na sociedade, ou

seja, eles irão variar de acordo com a sociedade, a cultura e a história. São

chamados por esse autor de gêneros do discurso e circulam em diferentes esferas

de atividade humana. Para ele, os gêneros do discurso são produzidos a partir de

condições específicas que envolvem uma intenção para sua produção, na qual estão

presentes elementos como: autor, finalidade, papel social, interlocutor, suporte,

esfera de atividade, etc. Podem ser considerados primários aqueles mais comuns,

que circulam na esfera do cotidiano, ou secundários que são aqueles mais

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elaborados, complexos, que circulam nas esferas de atividade mais complexas,

como: esfera acadêmica, esfera jornalística, dentre outras.

Para Bakhtin (2011), não há neutralidade no discurso e, por conseguinte, nos

gêneros discursivos produzidos no processo de interação verbal. Eles são

permeados por ideologias que refletem a intenção de quem os produz. Cada um dos

seus aspectos irá mostrar as escolhas realizadas, intencionalmente, por quem o

produz, para alcançar um determinado fim. Os gêneros discursivos são infinitos, pois

a sociedade sempre estará se movimentando e criando novos gêneros.

De acordo com Bakhtin (2011), os gêneros do discurso são constituídos por

três elementos: conteúdo temático, forma composicional e estilo. O conteúdo

temático apresenta o que é característico do gênero, seu objetivo, como, por

exemplo, a avaliação de uma obra cultural, científica, presente no gênero discursivo

resenha. A forma composicional faz referência à sua estrutura geral, como é

organizado, composto, como, por exemplo, no gênero discursivo bula, em que estão

contidas as indicações de uso, composição, posologia, etc. O estilo refere-se à

adequação do discurso à situação de comunicação, ao grau de formalidade ou

informalidade, aspectos linguísticos e discursivos, tendo em vista o estilo pessoal do

autor e aquele próprio do gênero. Todos os três elementos que caracterizam o

gênero discursivo estão intrinsicamente ligados ao seu contexto de produção, pois

não é possível conhecer um gênero sem que se leve em consideração tal aspecto.

Nessa perspectiva, os gêneros discursivos devem ser compreendidos como

produção humana oriunda das práticas sociais, culturais e históricas, permeados por

ideologias, intenções e, portanto, delas não podem ser separados. A compreensão

da linguagem como processo de interação humana deve ancorar a prática com a

disciplina de língua portuguesa, com a abordagem dos gêneros discursivos

secundários, preferencialmente.

Nesse sentido, cabe ressaltar a importância que o ato de escrever, ler,

compreender e interpretar tem na constituição do próprio ser humano, uma vez que

tais ações estão conectadas à inserção do sujeito na sociedade. Desse modo, a

abordagem dos gêneros discursivos em sala de aula requer um trabalho pedagógico

organizado, por meio de práticas discursivas de oralidade, leitura e escrita, conforme

apontam as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para o Estado do Paraná

(2008). O trabalho com a escrita e a leitura, segundo esse documento, deve buscar

relacionar a aprendizagem da língua e o seu uso real. As Diretrizes apontam que:

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Praticar a leitura em diferentes contextos requer que se compreendam as esferas discursivas em que os textos são produzidos e circulam, bem como se reconheçam as intenções e os interlocutores do discurso. É nessa dimensão dialógica, discursiva que a leitura deve ser experienciada, desde a alfabetização. O reconhecimento das vozes sociais e das ideologias presentes no discurso, tomadas nas teorizações de Bakhtin, ajudam na construção de sentido de um texto e na compreensão das relações de poder a ele inerentes (PARANÀ, 2008).

Portanto, a prática pedagógica com a leitura e a escrita deve envolver

situações reais de uso da língua, buscando ultrapassar a mera codificação e indo ao

encontro da significação discursiva, por meio de um processo de ensino e

aprendizagem interacional, dialógico, com a presença de diferentes gêneros do

discurso, de diferentes esferas de circulação.

Nesse contexto, o gênero propaganda institucional apresenta-se com um dos

gêneros discursivos que devem ser abordados em sala de aula, pois traz elementos

da esfera publicitária, conectando, de forma intencional, a linguagem verbal e a não

verbal. Ao abordar as condições de produção da propaganda institucional, seu

conteúdo temático, sua forma composicional e seu estilo, comparando-o com outros

gêneros, o professor oportuniza aos alunos momentos de análise e reflexão, os

quais são essenciais para a sua formação.

Esse gênero permite inúmeras atividades envolvendo as práticas de leitura e

escrita, pois se refere à divulgação de ideias. Para Pinho (1990), a propaganda deve

ser entendida como “o conjunto de técnicas e atividades de informação e persuasão

destinadas a influenciar, num determinado sentido, as opiniões, os sentimentos e as

atitudes do público receptor”. Atrair a atenção do leitor se constitui em um dos

grandes desafios da propaganda, segundo Sandmann (2010), pois envolve

criatividade e utilização de imagens, de diversos recursos linguísticos, textuais e

discursivos. São amplas, portanto, as possibilidades de abordagem pedagógica que

esse gênero discursivo oferece para o professor. Sandmann (2010) argumenta

ainda que:

Sendo a linguagem da propaganda até certo ponto reflexo e expressão da ideologia dominante, dos valores em que se acredita, ela manifesta a maneira de ver o mundo de uma sociedade em certo espaço da história. Abordando essa questão sob outro ângulo, poderíamos perguntar que aspirações humanas a linguagem da propaganda procura alimentar, satisfazer ou de que aspirações humanas ela procura vir ao encontro, sempre com o objetivo de vender uma ideia e, mais comumente até do que isso, um produto ou serviço. (SANDMANN, 2010, p. 34)

O gênero propaganda envolve elementos discursivos, textuais e linguísticos

importantes para o trabalho na disciplina de língua portuguesa. Ao explorar o jogo de

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intenções que permeiam esse gênero, os alunos têm mais condições de ler

criticamente outros gêneros discursivos, de ter um olhar mais detalhado para o que

circula no meio social. Nesse sentido, pode-se destacar também a contribuição que

a Análise do Discurso (AD) pode propiciar para o trabalho com esse gênero.

Conforme Orlandi (2012, p. 15):

A análise do discurso, como seu próprio nome indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando.

Por isso, ao serem analisados os vários discursos que circulam nas diferentes

esferas, é possível realizar-se uma leitura dessa mesma sociedade, pois a

linguagem é para a análise de discurso um instrumento de mediação entre o ser

humano e a realidade. Não se pode entender o processo de constituição do homem

sem que se compreenda a linguagem por ele utilizada. Orlandi (2012, p. 16) afirma

que a análise do discurso “[...] considera os processos e as condições de produção

da linguagem, pela análise da relação estabelecida pela língua com os sujeitos que

a falam e as situações em que se produz o que dizer”.

A linguagem é, pois, parte fundamental na própria história do homem. Ao se

trabalhar com o gênero propaganda, mais especificamente a propaganda

institucional, é possível, no contexto escolar, por meio de elementos da análise do

discurso, proporcionar aos alunos espaço e condições de reflexão sobre os diversos

discursos que permeiam esse gênero. Reflexão sobre o contexto social, cultural e

histórico, sobre as condições de produção, o que é dito pelo autor no texto, como ele

faz isso, observar aquilo que ele não diz, a ideologia, tudo o que está nas

entrelinhas, a presença e a intenção de uso da imagem, marcas linguísticas,

escolhas lexicais. As condições de produção para a AD são fundamentais para a

compreensão do discurso que é veiculado. Segundo ORLANDI (2012):

O que são as condições de produção? Elas compreendem fundamentalmente os sujeitos e a situação. Também a memória faz parte da produção do discurso. [...] Podemos considerar as condições de produção em sentido estrito e temos as circunstâncias da enunciação: é o contexto imediato. E se as consideramos em sentido amplo, as condições de produção incluem o contexto sócio-histórico, ideológico.

Na análise do discurso, a abordagem da leitura necessita envolver ações de

forma organizada, cuidadosa, pois o caráter ideológico, de não neutralidade está

presente na linguagem, no discurso, o que faz com que todos os detalhes sejam

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extremamente importantes. Dessa forma, na prática pedagógica na disciplina de

língua portuguesa, o estudo do gênero discursivo propaganda institucional possibilita

a abordagem de elementos discursivos, textuais e linguísticos importantes como:

ideologia, intencionalidade, finalidade, persuasão, figuras de linguagem, imagem,

ortografia, variação linguística, etc., apontados por Sandmann (2010). O caráter de

não neutralidade presente na propaganda propicia um amplo trabalho com a leitura

e a escrita, não apenas na área de língua portuguesa, mas em todas as outras

disciplinas.

3. APLICAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO SOBRE O GÊNERO DI SCURSIVO

PROPAGANDA INSTITUCIONAL NA DISCIPLINA DE LÍNGUA PO RTUGUESA

A proposta de trabalho com o gênero propaganda institucional foi ancorada

nos estudos de Bakhtin (1990 e 2011), na Análise do Discurso e na metodologia da

sequência didática, com adaptações, dos autores Dolz e Schneuwly (2004).

Para Dolz e Schneuwly (2004), a sequência didática, “é um conjunto de

atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero

textual oral ou escrito”. Para eles, uma sequência didática deve conter os seguintes

passos ou etapas:

• apresentação da situação de comunicação - momento em que é apresentado

um problema aos alunos;

• primeira produção – verificar o que os alunos já sabem sobre o gênero e

diagnosticar suas dificuldades, com o objetivo de encaminhar as atividades

seguintes;

• módulos de atividades - diferentes oficinas/atividades que serão realizadas

pelos alunos, considerando o gênero trabalhado;

• produção final - momento em que o aluno irá aplicar o que aprendeu nos

módulos de atividade.

Embora o material produzido tenha se pautado na proposta da sequência

didática desses autores, foram feitas algumas adaptações em relação às etapas

trabalhadas e aos encaminhamentos dados. No material didático produzido para o

PDE, a sequência didática foi composta com sete etapas:

1) Apresentação da Situação de Comunicação e do Gênero Propaganda

Institucional;

2) Primeira Produção;

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3) Módulos de Atividades ou Oficinas;

4) Produção Final;

5) Avaliação;

6) Reescrita Textual;

7) Circulação/Divulgação da Produção dos Alunos.

Tendo em vista a carga horária reduzida no ensino médio, optou-se pela

aplicação da proposta em uma turma do ensino fundamental, uma vez que a carga

horária da disciplina de língua portuguesa, nos nonos anos, somava um total de

cinco aulas semanais, diferente das duas destinadas às primeiras séries do ensino

médio. Portanto, esse material didático, sobre o gênero propaganda institucional, foi

aplicado no primeiro semestre de 2014, no Instituto de Educação Estadual de

Maringá, para uma turma de 36 alunos do 9º ano do ensino fundamental, no período

da tarde, como parte das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional

do Estado do Paraná – PDE.

Cabe ressaltar que todas as atividades e questões utilizadas nas etapas, bem

como as propagandas estão disponíveis na produção didático-pedagógica do PDE.

Incialmente, foi apresentada a produção à equipe pedagógica da escola

durante a semana pedagógica de fevereiro de 2014, com o objetivo de socializar as

intenções referentes à sua implementação. Tal ação foi bastante importante, pois

possibilitou que a equipe pedagógica pudesse acompanhar mais de perto o material

e os encaminhamentos que seriam desenvolvidos com os alunos.

Na primeira etapa da sequência didática, os educandos foram levados para o

auditório do colégio, para que fosse realizada a apresentação da situação de

comunicação para eles. Isso aconteceu por meio de trabalho com dados

educacionais do próprio estabelecimento de ensino e também sobre o país,

utilizando-se vídeos, sites, fotografias, gráficos, tabelas. O trabalho realizado com a

prática da leitura foi bem intenso, pois houve muita reflexão sobre textos escritos e

imagens. A discussão, mediada pela professora e iniciada a partir de vários

questionamentos, abordou temas como: aprendizagem, ensino, leitura, escrita,

preocupação com a falta de compromisso dos alunos com seus estudos, a

importância da escola, dos estudos, do uso do uniforme, a produção de

propagandas institucionais.

Criou-se, nessa etapa, uma necessidade de elaboração de propagandas

institucionais para mostrar o compromisso da escola com as causas educacionais,

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como forma de conscientizar os alunos para a importância da educação, para ser

veiculada no suporte escolhido flyer, estabelecendo, portanto, relações do conteúdo

– gênero discursivo propaganda institucional – com a realidade dos alunos, isto é,

com o seu contexto social. O termo flyer significa coisa ou pessoa que voa. No

campo da propaganda e publicidade é um pequeno folheto que voa de mão em mão,

com mensagens claras, diretas, curtas, com amplo alcance de divulgação.

Em seguida, a proposta com a sequência didática sobre o gênero discursivo

propaganda institucional foi mostrada para eles, explicando sobre o projeto PDE, o

período em que ocorreria o trabalho e as atividades previstas. A recepção dos

alunos foi muito boa. Ficaram bem empolgados com o trabalho que iria ser feito.

Na segunda etapa da sequência didática, já em sala de aula, foi solicitada

uma produção inicial de uma propaganda institucional pelos alunos, a partir dos

conhecimentos prévios que eles tinham sobre o assunto. Essas produções foram

recolhidas e analisadas pela professora, tendo em vista critérios como:

• o aluno considera o contexto de produção;

• considera a finalidade do texto;

• o tema e a forma composicional estão adequados;

• utiliza imagens ou desenhos;

• há utilização de linguagem verbal;

• utiliza tempos verbais adequados;

• estabelece relação de sentido entre imagens e texto;

• utiliza recursos de linguagem;

• faz uso correto da pontuação e da ortografia;

• faz uso correto das concordâncias nominal e verbal.

Todos os alunos fizeram a primeira produção. Nela, foi possível constatar que

alguns deles conseguiram aproximar-se mais do gênero, outros tiveram mais

dificuldade, pois não conseguiram diferenciar a propaganda comercial da

institucional. Também foram observados erros de ortografia, de concordância verbal,

de colocação pronominal, falta de pontuação, dentre outros. Nessa primeira

produção, o objetivo foi reforçar alguns aspectos abordados na apresentação da

situação e planejar as próximas ações, tendo em vista o material didático.

A partir do diagnóstico levantado com a observação das produções iniciais, foi

possível organizar a aplicação dos módulos e inserir mais algumas atividades que

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não tinham sido previstas. Tais produções foram guardadas pela professora para

comparação com a produção final ao término da sequência didática.

Na terceira etapa da sequência – foram desenvolvidos módulos/oficinas com

atividades escritas e orais, individuais e coletivas. As ações tiveram como objetivos o

desenvolvimento das capacidades de linguagem dos educandos, por meio de

práticas de leitura e escrita e o estudo dos elementos constitutivos do gênero

discursivo propaganda institucional. Dessa forma, foram aplicados cinco módulos de

atividades com os alunos, sendo o primeiro sobre a identificação do gênero

propaganda institucional; o segundo sobre as condições de produção desse gênero;

o terceiro sobre o seu conteúdo temático; o quarto sobre a sua estrutura

composicional e o quinto sobre o estilo linguístico referente a esse gênero

discursivo. A título de exemplificação , o segundo módulo , sobre as condições de

produção, será apresentado mais detalhadamente.

No primeiro módulo, foi realizado o reconhecimento do gênero propaganda

institucional por meio de modelos didáticos e comparação de diferentes

propagandas. Os alunos foram organizados em grupos e fizeram a leitura e análise

de diversas propagandas (comerciais, eleitorais de outros estados, religiosas,

institucionais, etc.), por meio de impressos, jornais, revistas, vídeos, fotografias e

panfletos.

Algumas questões, elaboradas previamente, foram colocadas para os alunos,

de forma a instigá-los para a discussão, sendo feito o registro, no quadro, das

considerações feitas por eles. Em seguida, foram distribuídos três exemplares de

propagandas (uma propaganda comercial, uma institucional e uma eleitoral) para

cada grupo de estudantes para que fizessem a análise e anotassem as

semelhanças e diferenças entre elas. Após o término da atividade, foi feita a

apresentação dos resultados obtidos por cada grupo. As observações feitas por eles

foram bem interessantes. Eles ressaltaram aspectos das imagens, da escrita, e

prováveis intenções presentes nas propagandas. Nesse módulo, ainda foram

distribuídos para os alunos três outros exercícios impressos para que

consolidassem, nas atividades previstas, o reconhecimento do gênero propaganda

institucional. Todos os alunos realizaram as atividades.

No segundo módulo , o objetivo foi possibilitar a identificação pelos alunos

das condições de produção do gênero discursivo propaganda institucional. Assim,

foram observados elementos como: gênero discursivo; autor; enunciador/locutor;

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contexto social e histórico; interlocutor/leitor; intencionalidade; ideologia,

situacionalidade; finalidade do texto; esfera de atividade humana; suporte; papel

social; vozes sociais presentes no texto.

Iniciou-se esse módulo com um texto sobre o contexto histórico do gênero

propaganda institucional, como se originou, para qual fim e a história da propaganda

no Brasil. Em seguida, foram mostradas diversas propagandas institucionais antigas,

encontradas em sites da Petrobrás, Fundação Bunge, dentre outros, com o

propósito de trabalhar o contexto social e histórico de produção. Na sequência, os

educandos assistiram a vídeos e imagens de propagandas institucionais na

atualidade, abordando o contexto social, econômico, político, cultural, religioso de

outras épocas e o atual, sendo destacados temas como: consumo, lucro,

globalização e internet. A partir do contexto atual dos alunos, foi trabalhada a

finalidade da propaganda institucional, utilizando-se, para isso, algumas imagens e

vídeos para que eles os analisassem coletivamente, com a mediação da professora.

Dando continuidade, foi entregue, para cada aluno, uma propaganda

impressa da Viapar, sobre prevenção de acidentes no trânsito e iniciada uma

análise, primeiramente em duplas, depois com a turma toda. Então, cada aluno

recebeu cinco exercícios (questões abertas e fechadas) sobre a referida

propaganda, para serem feitos individualmente, abordando a identificação do

gênero, situação de comunicação, ideologia, contexto social, histórico e cultural e

finalidade. Após a realização das cinco atividades, os alunos leram suas respostas,

em voz alta, relacionando-as com a propaganda estudada. Também foi feita pela

docente uma retomada da análise, oralmente, com o propósito de fortalecer os

conceitos trabalhados. Houve uma participação discente excelente.

Em seguida, foram apresentados aos alunos, por meio de slides e vídeos,

algumas notícias, dados, estatísticas e imagens de acidentes no trânsito, causados

por embriaguez, relacionando-os ao contexto social, histórico e cultural atual,

envolvendo esse tema. A partir das imagens e dados, foi feita uma reflexão coletiva,

mediada pela professora, sobre o contexto atual brasileiro, a situação de

comunicação e a necessidade de produção do gênero propaganda institucional.

Então, cada aluno recebeu uma folha com quatro exercícios escritos

(questões abertas e fechadas presentes no material didático elaborado) para serem

respondidos, a partir da leitura e análise de uma propaganda impressa da Viapar

(disponível no material didático), abordando aspectos do contexto de produção

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como: situação de comunicação, enunciador, interlocutor, papel social e suporte.

Também fizeram pesquisa sobre outras propagandas semelhantes. Após ser

realizada essa atividade, foi apresentada a pesquisa e feita a leitura das respostas,

em voz alta, pelos alunos, com análise coletiva, mediada pela professora, com as

anotações, no quadro, dos conceitos referentes aos elementos do contexto de

produção estudados. Os educandos demonstraram ter gostado muito desse

exercício. Fizeram várias relações com outras propagandas que já tinham visto.

Depois de finalizada essa atividade, foi entregue outra propaganda impressa,

agora da empresa Rodonorte, para que os educandos, em duplas, pudessem

analisá-la, orientados pela resolução de sete exercícios escritos (questões abertas e

fechadas, preenchimento de tabelas comparativas). Tais exercícios abordaram a

esfera de circulação, vozes presentes na propaganda, enunciador, interlocutor,

suporte, papel social, finalidade e contexto histórico da propaganda entregue e

também a relação e comparação dela com as outras propagandas impressas já

analisadas anteriormente. Depois de terminadas as atividades, cada dupla

apresentou seu trabalho. As análises ficaram muito boas. Durante a apresentação, a

professora anotou os aspectos principais apontados pelos alunos no quadro e, no

final, retomou os elementos do contexto de produção estudados. Nesse módulo,

objetivou-se estimular os alunos a lerem para além do que está escrito, para

observarem todos os aspectos intencionais presentes na produção da propaganda.

No terceiro módulo, buscou-se o conhecimento do conteúdo temático da

propaganda institucional, por meio de atividades orais e escritas envolvendo o

estudo dos temas presentes na propaganda institucional, conteúdo temático próprio

desse gênero, o seu objetivo, o que a diferencia das outras propagandas. Durante

as atividades escritas, análise coletiva de vídeos e material impresso, foram sendo

elaborados, pelos alunos, os conceitos referentes ao conteúdo temático do gênero.

No quarto módulo, objetivou-se a identificação da estrutura composicional da

propaganda institucional pelos alunos. Para isso, foram apresentadas duas novas

propagandas impressas, além de vídeos e slides com exemplos desse gênero, para

que o aluno observasse os elementos que as compunham. Também foram

analisadas todas as propagandas vistas no módulo anterior, por meio de

comparação, destacando-se aspectos como: título, corpo do texto, assinatura e

imagem, abordados por Sandmann (2010), na forma de atividades escritas

individuais (questões abertas e fechadas) e coletivas (orais) com preenchimento de

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tabelas para fixar os conteúdos estudados. Nessa etapa, abordaram-se as

sequências tipológicas (Marcuschi, 2002) próprias do gênero propaganda, diferença

entre logomarca e logotipo, os usos e efeitos produzidos pela imagem (cor,

tamanho, plano, profundidade, etc.). Esse foi um dos módulos que os alunos mais

gostaram de realizar, devido à inserção de flyers reais, de vídeos interessantes e o

estudo voltado para a leitura da imagem.

No quinto e último módulo, o enfoque recaiu nas marcas linguísticas ou estilo

do gênero propaganda institucional. Procurou-se trabalhar com os elementos

linguísticos, discursivos e textuais presentes no gênero propaganda. Para tanto,

foram abordados tópicos como: seleção lexical; verbos nos modos imperativo,

indicativo e subjuntivo; variação linguística; pronomes pessoais; figuras de

linguagem; referenciação; função das classes de palavras e gramaticais

(substantivo, verbo, adjetivo, pronome, numeral, advérbio), observando função e

efeito de sentido nas propagandas institucionais.

Nesse módulo, foi desenvolvido um conjunto de atividades diversificadas,

orais e escritas, envolvendo duas novas propagandas e também todas as outras já

analisadas anteriormente. Essas atividades necessitaram de muita atenção por

parte dos alunos. Houve muitas perguntas acerca da escolha de vocábulos.

Já, na quarta etapa da sequência didática, solicitou-se aos alunos uma

produção final de uma propaganda institucional. Os temas propostos foram:

educação; leitura; escrita; meio ambiente; prevenção de acidentes no trânsito, sendo

os dois últimos, sugestões dos discentes. Antes que eles produzissem a

propaganda, fez-se, no quadro, uma retomada de todos os elementos presentes no

gênero discursivo propaganda institucional, com o objetivo de fixar o que foi

estudado até aquele momento, além de pesquisa sobre a escola. Os educandos

também tiraram várias fotos do espaço escolar para serem usadas em suas

produções. Nessa etapa, eles puderam utilizar todos os conhecimentos que foram

trabalhados nas etapas anteriores. Então, os textos foram recolhidos pela professora

para que fossem feitas a análise e a comparação com a produção inicial.

Na quinta etapa da sequência, foi realizada a avaliação das produções dos

alunos, observando-se os seguintes critérios:

• condições de produção - considera o contexto social e histórico atual,

atende à finalidade do gênero, considera o suporte, utiliza outras vozes

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no texto, considera o papel social do interlocutor, considera a esfera de

circulação, o tema está adequado;

• conteúdo temático - o tema está adequado ao contexto social e

histórico, o tema está relacionado ao objetivo do gênero;

• estrutura composicional - apresenta título e corpo do texto, apresenta

assinatura – uso de logotipo ou logomarca, apresenta imagem,

apresenta sequências tipológicas adequadas ao objetivo do gênero;

• estilo - utiliza linguagem verbal relacionada com a imagem, faz uso de

variações linguísticas, utiliza a pontuação adequadamente, faz uso de

elementos de referenciação, utiliza figuras de linguagem, o texto

apresenta-se coerente, faz uso de elementos coesivos, utiliza os

tempos verbais de forma adequada, faz intertextualidades, faz a

concordância nominal e verbal adequadamente, emprega corretamente

as regências verbal e nominal.

Nessa etapa, foi possível observar que a maioria dos alunos conseguiu

elaborar a propaganda institucional de forma adequada, observando as condições

de produção, o conteúdo temático e a forma composicional. Alguns poucos alunos

ainda tiveram dificuldades em relação ao conteúdo temático e finalidade desse

gênero. No tocante ao estilo, ainda foram observados, por parte de alguns alunos, o

emprego inadequado de: pontuação, principalmente a vírgula, modos verbais

indicativo, imperativo e subjuntivo, além dos pronomes.

Na sexta etapa da sequência didática, a partir da avaliação feita pela

professora, foi proposta aos alunos a realização da reescrita textual das

propagandas produzidas por eles, com o objetivo de corrigir as inadequações

encontradas. Também foram retomados, oralmente, os conteúdos já estudados

sobre as condições de produção, conteúdo temático, forma composicional e estilo do

gênero propaganda institucional. Em seguida, os alunos refizeram seus textos e os

entregaram para serem avaliados novamente.

Na sétima etapa da sequência didática, aconteceu o processo de seleção e

divulgação das propagandas produzidas. As propagandas institucionais elaboradas

pelos alunos, depois de revisadas, foram encaminhadas para um grupo de

professores para que eles fizessem a seleção de três entre as trinta e seis

produzidas e, depois, uma entre as três. A seleção aconteceu e a propaganda

escolhida foi enviada para uma gráfica, para serem feitos duzentos flyers (tamanho

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dez por vinte centímetros), os quais foram distribuídos entre alunos, pais,

professores e equipe pedagógica. Ao final, foi feita uma exposição dos trabalhos e

realizado um pequeno coquetel entre os alunos e professores, para encerrar o

projeto. Abaixo, apresenta-se a propaganda selecionada.

Fonte: Arquivo pessoal - Aluna Maria Eduarda dos Santos Mariano

Cabe destacar alguns pontos importantes que auxiliaram muito durante a

implementação do projeto:

• uso do material real de circulação do gênero estudado nas aulas (flyers e

folders doados pela Viapar), além da imagem impressa em sulfite, o que

aproximou o conteúdo da realidade dos alunos;

• carga horária adequada para o desenvolvimento das atividades;

• inclusão das ações previstas no projeto dentro do plano de trabalho docente.

A abordagem do gênero discursivo propaganda institucional agradou aos

alunos, pois houve a utilização de materiais diversos, como imagens, vídeos, jornais,

revistas, flyers, folders, dentre outros. Foi possível constatar o interesse que tais

materiais causaram nos educandos, propiciando momentos mais adequados para

efetivar as ações de ensino, tendo em vista a aprendizagem dos conteúdos.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A implementação do material didático produzido no Programa de

Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE), no Instituto de Educação

Estadual de Maringá, possibilitou a observação do processo de ensino e de

aprendizagem dos alunos do ensino fundamental (uma turma do nono ano) no que

tange às atividades de ler e escrever.

O propósito inicial da produção didático-pedagógica foi disponibilizar um

material, fundamentado teórica e metodologicamente, o qual pudesse contribuir para

uma melhoria da formação dos alunos da rede pública, uma vez que os resultados

atingidos pelos estudantes brasileiros em avaliações nacionais e internacionais

apontavam para uma defasagem na leitura e na escrita.

Dessa forma, buscou-se, primeiramente, levantar o conhecimento prévio dos

alunos e suas dificuldades, para que fosse aplicada a proposta desenvolvida no

PDE, com base no gênero discursivo propaganda institucional. Com a aplicação

desse material, foi possível observar que os alunos realizaram várias atividades

envolvendo a leitura crítica e produção textual, as quais possibilitaram a eles ações

de análise, reflexão, percepção, intertextualidade, dentre outras, o que, certamente,

contribuiu para o desenvolvimento das suas capacidades de leitura e escrita.

Além disso, intencionou-se também auxiliar os professores no planejamento

de suas aulas de língua portuguesa, de forma a propiciar maior organização na

seleção e aplicação de atividades envolvendo gêneros discursivos. Nesse sentido,

constatou-se, com a implementação das ações previstas no projeto do PDE, que a

sequência didática realmente auxilia o professor a organizar suas aulas, pois

apresenta um encaminhamento metodológico orientado teoricamente, no qual o

docente tem condições de visualizar todas as etapas do seu trabalho e fazer as

intervenções necessárias ao logo do caminho.

Dentre os vários aspectos positivos encontrados na aplicação desse material

didático sobre o gênero discursivo propaganda institucional, destacam-se os

seguintes: apoio da equipe pedagógica e da direção da escola; participação efetiva

dos alunos nas atividades; apropriação, pelos alunos, de termos referentes aos

gêneros discursivos, como: papel social, contexto social e histórico, locutor,

interlocutor, suporte, vozes presentes no texto, ideologia, conteúdo temático, gênero,

dentre outros; a ótima compreensão que a maioria dos alunos teve dos conteúdos

trabalhados; o estabelecimento, por parte dos alunos, de relações intertextuais entre

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os conteúdos abordados na propaganda institucional e outros gêneros discursivos; a

contribuição que a metodologia, com base na sequência didática, propiciou para o

planejamento e efetivação das aulas de língua portuguesa.

Outro ponto a ser destacado é que o gênero discursivo propaganda

institucional oferece muitas possibilidades para a prática da leitura e da escrita em

sala de aula, uma vez que as condições de sua produção e os elementos que o

constituem – conteúdo temático, forma composicional e estilo – possibilitam espaços

para exploração dos aspectos discursivos, textuais e linguísticos. Esse é um

resultado importante, pois as atividades propostas no material didático produzido

podem ser adaptadas para outros gêneros discursivos.

5. REFERÊNCIAS

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_________. Estética da criação verbal. 4ª ed. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola . Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.

LEONTIEV, Aléxis. O desenvolvimento do psiquismo . 2ª ed. São Paulo: Centauro, 2004. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela et al. Gêneros textuais e ensino . Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. ORLANDI, E. P. Análise do discurso : princípios e procedimentos. 10ª ed. Campinas, São Paulo: Pontes Editores, 2012.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação do. Diretrizes curriculares da educação básica : língua portuguesa. Paraná: Imprensa oficial, 2008.

PINHO, J. B. Propaganda institucional: usos e funções da propaganda em relações públicas. 4ª ed. São Paulo: Summus, 1990. SANDMANN, A. J. A linguagem da propaganda . 9ª ed. São Paulo: Contexto, 2010.

VIGOTSKY, Lev S. A construção do pensamento e da linguagem . São Paulo: Martins Fontes, 2001.