21
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · meio de uma proposta pedagógica direcionada a leitura crítica do gênero propaganda social impressa e televisiva desenvolvida

Embed Size (px)

Citation preview

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL UNIVERSIDA-

DE ESTADUAL DE LONDRINA

______________________________________________________

MONICA MARTINS PORTELINHA

A leitura e os modos de ascensão cultural, social e

econômica.

__________________________________

Londrina 2014

2

MÔNICA MARTINS PORTELINHA

Gênero Textual – Propaganda

A leitura e os modos de ascensão cultural, social e

econômica.

Projeto de Intervenção Pedagógica

Apresentado ao Programa de De-

senvolvimento Educacional - PDE

do Governo do Estado do Paraná.

Orientadora: Profª Drª Mariângela P. Galli Joanilho

__________________________________

Londrina 2014

3

PROPAGANDA SOCIAL

Monica Martins Portelinha1

Mariângela P. Galli Joanilho2

RESUMO:

Inserido no PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná), este arti-

go apresenta resultados e reflexões suscitadas durante a aplicação do Projeto de Intervenção

Pedagógica na Escola, a partir das atividades sugeridas na Unidade Didática Gênero Textual

Propaganda - A leitura e os modos de ascensão cultural, social e econômica, utilizando como

aporte teórico, os princípios postulados pela Análise do Discurso de linha francesa (doravante

AD), fundada por Michel Pêcheux, e como corpus textual o discurso publicitário, a ser utili-

zado em aulas de língua materna. Dessa forma, o presente artigo reúne o resultado obtido por

meio de uma proposta pedagógica direcionada a leitura crítica do gênero propaganda social

impressa e televisiva desenvolvida com alunos do 9º Ano do Colégio Estadual Talita Breso-

lin, a fim de contribuir com a formação de um leitor ativo, crítico e a tento à sua realidade. O

ensino de Língua Portuguesa pautado na perspectiva discursiva requer práticas pedagógicas

baseadas no uso da linguagem em situações reais de comunicação, assim o trabalho focou de

forma sistemática o estudo do gênero propaganda social em aulas de leitura, não só por se

tratar de um gênero bastante presente no cotidiano escolar e extraescolar dos alunos, mas

também por apresentar aspectos linguístico-textuais, semânticos, pragmáticos e discursivos

relevantes no processo de desenvolvimento da sua competência discursiva e comunicativa.

Sob essa perspectiva, as Diretrizes Curriculares Estaduais (PARANÁ, 2008, p.50) reporta que

o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa visa aprimorar os conhecimentos linguísticos e

discursivos dos alunos, para que eles possam compreender os discursos que os cercam e terem

condições de interagir com esses discursos. Para isso, é relevante que a língua seja percebida

como uma arena em que diversas vozes sociais se defrontam, manifestando diferentes opini-

ões. Desta forma, a língua é, portanto, o lugar onde se materializa o discurso, objeto de estudo

da AD, e onde se realiza a produção de sentidos.

Palavras - chave: Propaganda Social; leitura crítica; cidadania.

1 Professora PDE 2013/2014. Pós Graduada em Língua Portuguesa Descrição e Ensino. Graduada em

Letras - Português/Inglês. Professora de Português no Colégio Estadual Talita Bresolin-

Califórnia - PR. 2

Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas e

Pós-Doutorado Ecole Normale Supériéure Lettres et Sciences Humaines – Lyon, Docente na Univer-

sidade Estadual de Londrina.

4

1. INTRODUÇÃO

A participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE 2013/2014)

propiciou à elaboração de um Projeto articulado a construção de uma Unidade Didática intitu-

lada Gênero Textual Propaganda - A leitura e os modos de ascensão cultural, social e econô-

mica, cuja implementação foi realizada no Colégio Estadual Talita Bresolin com alunos do 9º

Ano, a fim de contribuir com a formação de um leitor ativo, crítico e a tento à sua realidade.

As discussões do material didático-pedagógico foram fomentadas no Grupo de Trabalho em

Rede (GTR) em 2014.

O objetivo deste artigo é apresentar algumas reflexões suscitadas a partir das ativida-

des sugeridas na Unidade Didática que traz como estratégia didática o estudo do gênero dis-

cursivo propaganda social impressa e televisiva, a fim de ressaltar os aspectos linguístico-

discursivos, propiciando ao aluno a oportunidade de realizar a leitura crítica de textos diversi-

ficados, levando-os à produção desse gênero, direcionando-os a desenvolver atitudes cidadãs.

O trabalho desenvolvido foi norteado, pelas Diretrizes Curriculares Estaduais – DCE

(PARANÁ, 2008, p. 49), de Língua Portuguesa, as quais tomam como base teórica as refle-

xões do Círculo de Bakhtin a respeito da linguagem e assumem a concepção que considera

esta “[...] como fenômeno social, pois nasce da necessidade de interação (política, social, eco-

nômica) entre os homens”. O referido documento acrescenta que, no contexto ensino-

aprendizagem, deve-se objetivar o aprimoramento dos conhecimentos linguísticos e discursi-

vos dos alunos, a fim de que os mesmos não só compreendam os discursos que os cercam,

mas, também, estejam instrumentalizados para interagir com esses discursos.

Partindo deste pressuposto como premissa, o presente trabalho propôs-se a provocar

uma leitura crítica das propagandas, usando alguns princípios teóricos e metodológicos da

Análise do Discurso (doravante AD) de orientação francesa. A AD nos fornece o aporte teóri-

co e metodológico para que a escola supere a visão instrumental da linguagem, a fim de con-

tribuir para que nossos alunos percam a ingenuidade da transparência da linguagem e de sua

neutralidade.

Na perspectiva da teoria dos gêneros do discurso, compreende-se a propaganda soci-

al como um enunciado concreto, cuja compreensão é de natureza responsiva que é à base do

dialogismo (BAKHTIN, 2003, p. 32). Isso quer dizer que o destinatário (ao compreender) não

fica indiferente, podendo assumir diversas atitudes ou diferentes relações dialógicas, tais co-

mo de aceitação, de negociação, de confronto, de sensibilização, de réplica – o que sempre

5

será uma resposta. Por isso, o trabalho didático com esse gênero desperta a consciência dos

alunos para uma compreensão responsiva ativa, levando-os a concordar, discordar, refutar,

aceitar e até negar o enunciado do outro.

Considerando que “a interpretação está presente em toda e qualquer manifestação da

linguagem [...]” e que “não há sentido sem interpretação” (Orlandi, 2004, p. 9), objetivou-se,

com este trabalho, contribuir para uma postura crítica em relação à leitura e compreensão dos

discursos que circulam socialmente, desmistificando alguns conceitos enraizados do aluno em

relação ao ato de leitura.

O ponto de partida deste estudo buscou a análise de propagandas impressas descre-

vendo as principais características deste gênero, com ênfase na articulação entre as linguagens

verbais e visuais, sempre de forma articulada as condições de produção, circulação e recepção

de textos. O corpus escolhido constitui- se em propostas de leitura do gênero discursivo pro-

paganda impressa e televisiva a partir das temáticas sociais: Meio Ambiente; Doação de San-

gue e Preconceito. O estudo e análise dessas propagandas se faz necessário para sensibilizar e

informar os alunos, jovens e adolescentes que – em um futuro próximo – serão os responsá-

veis pelas questões sociais. Para tanto, procuramos organizar as atividades sob três aspectos:

leitura e análise linguística para a interpretação da propaganda; pesquisa de aprofundamento

do tema; e produção de propaganda social.

É nessa perspectiva que trabalho a ideologia nesta proposta, analisando a formação

ideológica e a formação discursiva de modo heterogêneo, pois as duas se completam e se en-

trelaçam. Os sentidos de um texto só podem ser interpretados quando se recuperam as diver-

sas vozes presentes nele, uma vez que os sujeitos produzem um determinado discurso em um

determinado momento histórico. Produzir sentidos do texto propagandístico a partir dessa

perspectiva é analisar como os participantes envolvidos na construção do significado agem no

mundo por meio da linguagem e constroem a sua realidade social e a si mesmos.

Diante do poder discursivo da mídia, Cardoso (2005, p.107) afirma que a escola é um

importante aparelho ideológico, um lugar privilegiado para a constituição e alteração de cons-

ciências políticas, deste modo, exerce um grande papel na formação desses indivíduos e o

olhar crítico para os anúncios publicitários. Conforme a autora, o discurso da propaganda pos-

sui um material privilegiado para a prática escolar de ensino, pois este gênero aborda a impor-

tância das diferentes formas de leitura como meio de ascensão cultural, social e econômica.

A análise da propaganda social está diretamente ligada à leitura, à interpretação, à

criticidade, à formação de valores e à produção escrita, leva os alunos a interagir, trocar expe-

riências e compreender a realidade em que estão inseridos, bem como perceber a sua impor-

6

tância e responsabilidade como cidadão, além de despertar sua atenção para um dos aspectos

essenciais do gênero discursivo em questão, a conscientização sobre temas sociais. Na socie-

dade, circulam diferentes discursos reveladores de valores sociais e, por isso, se torna perti-

nente um estudo que aborde a dimensão histórico-enunciativa desses discursos.

Partindo desse estudo, o professor pode desenvolver em sala de aula o trabalho com

o gênero propaganda social, a fim de sensibilizar e informar os alunos, jovens e adolescentes

que – em um futuro próximo – serão os responsáveis pelas questões sociais. É função da esco-

la abrir as portas para que o leitor possa fazer uma leitura crítica e reflexiva, questionar o que

está posto, na tentativa de não aceitar ideias impostas e/ou cristalizadas sem que questionem o

que sempre foi dito, pois o sentido do texto não se dá apenas pelos elementos linguísticos,

mas também pela interação entre os interlocutores, a interação entre os locutores e o referente,

o sentido do texto se dá ainda na relação dele com outros textos e também na sua interdiscur-

sividade.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A importância da leitura e a formação do Leitor

Sabe-se que a leitura assume um papel importante na atual sociedade, marcada pelos

avanços tecnológicos e pelas desigualdades sociais. Sua função básica é a formação do sujeito

consciente e reflexivo, capaz de transformar a si, o outro e a própria sociedade a qual está

inserido.

Carvalho e Chartier, (1999: p. 8) afirmam que “a leitura não é apenas uma operação

intelectual abstrata: ela é uso do corpo, inscrição dentro de um espaço, relação consigo mes-

mo ou com os outros”. Conforme os autores, a atividade leitora compreende transformação,

seja do indivíduo consigo mesmo, do indivíduo com o outro, ou do indivíduo com a socieda-

de. Assim, a leitura não é apenas deleite, meio para aguçar a imaginação e, dessa forma “via-

jar por lugares desconhecidos”, é também uma maneira de conhecer, um instrumento que pro-

voca o pensamento crítico e contribui para ações que trazem transformações. A leitura modi-

fica o comportamento do leitor e assim, liberta-o da alienação, da condição de sujeito passivo

e o transforma em sujeito ativo, protagonista de sua própria história.

Pensar em leitura enquanto prática social pressupõe pensar nas múltiplas relações

que o sujeito-leitor exerce na interação com o universo sociocultural a sua volta; é pensar em

um leitor apto a usar a leitura como fonte de informação e disseminação de cultura, pois,

7

Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa certas respostas

podem ser encontradas na escrita, significa construir uma resposta que integra partes das no-

vas informações ao que já se é (FOUCAMBERT, 1994, p.5).

Nesta perspectiva, Foucambert (1994) afirma que a leitura é um instrumento de po-

der, porque dá ao sujeito a capacidade de ampliar seus conhecimentos e as suas possibilidades

comunicativas, propiciando-lhe acesso à cultura, enriquecendo-o e permitindo que exerça o

papel de sujeito de sua própria história, ao buscar se transformar para transformar a realidade

em que está inserido.

Para MAGNANI (1989 p.52), ler é preciso não só para fazer exercícios de interpreta-

ção, para estudar itens de conteúdos, para adquirir modelos de escrita, mas também para gos-

tar e se habituar, para conscientizar e politizar.

Conforme autor, um leitor é alguém que por iniciativa própria é capaz de selecionar

dentre os textos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua.

A leitura vai além do texto e começa antes do contato com ele, a noção do texto é aplicada,

abre-se para englobar diferentes linguagens. A partir da leitura o leitor realiza um diálogo com

o objeto lido, seja escrita, sonora, uma imagem, uma situação envolvida nas expectativas do

prazer, das descobertas e do reconhecimento de suas vivências. Aprender a ler significa

aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós mesmos.

A escola pode ser a oportunidade dos alunos interagirem significativamente com tex-

tos cuja finalidade não seja apenas a resolução de pequenos problemas do cotidiano. É preci-

so, portanto, oferecer-lhes os textos do mundo, o que requer um trabalho com a diversidade

textual.

É de suma importância que o professor saiba como utilizar, de maneira adequada

uma diversidade textual e atividades que levam os alunos a defrontarem-se com situações

significativas de aprendizagem relacionadas ao desenvolvimento da linguagem despertando

assim o gosto e o interesse de ir em busca de mais conhecimentos e da valorização da leitura e

da escrita.

No que diz respeito ao ensino de Língua Portuguesa, as concepções de linguagem

abordadas, ainda que de forma resumida por diversos autores inclui a linguagem como ex-

pressão do pensamento; como instrumento de comunicação e como forma de interação. No

contexto proposto pelas DCEs de Língua Portuguesa (DCE Língua Portuguesa, 2008), o leitor

(aluno) [...] tem um papel ativo no processo da leitura, e para se efetivar como coprodutor,

procura pistas formais, formula e reformula hipóteses, aceita e rejeita conclusões, usa estraté-

8

gias baseadas no seu conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência socio-

cultural (PARANÁ, 2008, p. 28).

A linguagem é elemento de mediação necessária entre o homem e sua realidade, uma

forma de engajá-lo na própria realidade, por isso a linguagem é lugar de conflito, de confronto

ideológico, não podendo ser estudada fora da sociedade, uma vez que os processos que a

constituem são histórico-sociais. (BRANDÃO, 2001, p.12).

Assim sendo, é função da escola abrir as portas para que o leitor possa fazer uma lei-

tura crítica e reflexiva, questionar o que está posto, na tentativa de não aceitar ideias impostas

e/ou cristalizadas sem que questionem o que sempre foi dito, pois o sentido do texto não se dá

apenas pelos elementos linguísticos, mas também pela interação entre os interlocutores, a in-

teração entre os locutores e o referente, o sentido do texto se dá ainda na relação dele com

outros textos e também na sua interdiscursividade.

2.2 Análise Crítica do Discurso

A Análise Crítica do Discurso (doravante ACD) é uma abordagem teórico metodoló-

gica que tem o linguista Norman Fairclough como um dos instituidores que atribui grande

relevância à compreensão da linguagem na condução da vida social.

Etimologicamente a palavra discurso contém em si a ideia de percurso, de correr por,

de movimento. O objeto da Análise do Discurso é o discurso, ou seja, ela se interessa por es-

tudar a “língua funcionando para a produção de sentidos”. Isto permite analisar unidades além

da frase, ou seja, o texto. (Orlandi, 1999, p.17)

Na proposta deste trabalho, tomo, como embasamento teórico, os princípios postula-

dos pela Análise do Discurso de linha francesa (doravante AD), fundada por Michel Pêcheux,

e como corpus textual o discurso publicitário, a ser utilizado em aulas de língua materna. O

surgimento dessa teoria se deu em decorrência dos debates e estudos provocados pelas limita-

ções da linguística estrutural, especialmente no aspecto semântico. Dessa forma, a AD Inter-

roga a Linguística pela historicidade que ela deixa de lado, questiona o materialismo pergun-

tando pelo simbólico e se demarca da Psicanálise pelo modo como, considerando a historici-

dade, trabalha a ideologia como materialmente relacionada ao inconsciente sem ser absorvida

por ele (Orlandi, 2001, p. 20).

Conforme Orlandi (2001: p.16), a AD trabalha com a língua no mundo, além disso,

considera os processos e as condições de produção da linguagem, tendo em vista o relaciona-

mento entre a língua e os seus falantes e as circunstâncias em que o dizer é produzido.

9

A Análise do Discurso busca não “o que” o texto quer dizer, mas sim “como” ele

significa, não separando conteúdo de forma, buscando explicar a língua para além de sua es-

trutura, trabalha com o discurso, articulando o linguístico com o social e retomando a noção

de sujeito descentrado e heterogêneo, vendo o discurso como mediador das relações entre

língua e ideologia, pelo qual as interpretações são determinadas ideológica e historicamente,

ou seja, levando em conta a relação do texto com sua exterioridade.

O discurso é uma ferramenta poderosa na transmissão e perpetuação de ideologias, ele

se torna de tal maneira poderoso que acreditamos neles e os recebemos como verdade absolu-

ta, inquestionável. Estudar o discurso nos remete a estudar a língua em movimento, o sujeito,

o contexto de produção tem grande importância na compreensão dos gestos de interpretação,

por serem itens essenciais para a construção de sentidos. “o discurso é a materialidade especí-

fica da ideologia e a língua é a materialidade específica do discurso. Desse modo, temos a

relação entre língua e ideologia afetando a constituição do sujeito e do sentido” (Orlandi,

2006, p.17).

A linguagem enquanto discurso é interação, é um modo de produção social; ela não é

neutra, inocente e nem natural, por isso o lugar privilegiado de manifestação da ideologia (...)

a linguagem é o lugar de conflito, de confronto ideológico, não podendo ser estudada fora da

sociedade, uma vez que os processos que a constituem são histórico-sociais. Seu estudo não

pode estar desvinculado de suas condições de produção. (BRANDÃO, 2004, p.11)

Outro elemento caro a AD é a noção de ideologia, pois se entende que um indivíduo

torna-se sujeito quando é afetado pela ideologia, ainda suscitando Brandão (2004) nos aponta

que a ideologia tem um papel determinante na sociedade, sendo muito mais que um conjunto

de crenças, principalmente no que se refere às questões de poder (BRANDÃO, 2004, p. 21).

A AD vê o discurso como mediador da relação entre língua e ideologia, e Orlandi

(2003) define-o como “efeito de sentido entre interlocutores”, prática de linguagem através da

qual o homem se constitui como sujeito, e “lugar” no qual o sujeito e sentido se constituem ao

mesmo tempo.

Assim, de acordo com essa teoria, a linguagem não deve ser considerada apenas no

seu aspecto formal, linguístico, mas vinculada a formações sociais, históricas e ideológicas. A

língua é, portanto, o lugar onde se materializa o discurso, objeto de estudo da AD, e onde se

realiza a produção de sentidos. A seguir, objetivo abordar alguns conceitos-chave dessa teoria

que considero úteis para pensar numa proposta de trabalho didático-pedagógico das aulas de

LP, tomando o texto publicitário como objeto de leitura e análise.

10

O Discurso - O objetivo de estudo da Análise do Discurso é o “discurso”, onde o discurso

não é a língua, não é o texto, nem a fala, mas necessita de elementos linguísticos para ter exis-

tência material. Daí o discurso ser entendido como “efeito de sentidos entre locutores” (Or-

landi, 2001, p. 21), ou seja, processo constitutivo da atividade comunicativa produtora de efei-

tos de sentidos, os quais são determinados por uma exterioridade sócio-histórico-ideológica.

O Sentido - À noção de discurso integra-se a de sentido, o qual se produz em função dos dife-

rentes lugares sócio-históricos e ideológicos, ocupados pelos sujeitos no processo discursivo.

Diante disso, Pêcheux (1997, p. 161) salienta o seguinte: “O sentido de um enunciado se

constitui nas relações que suas palavras, expressões ou proposições mantêm com outras pala-

vras, expressões ou proposições de outra formação discursiva”. Para a AD, é inconcebível a

ideia de imanência do sentido. Ou seja, a palavra não traz consigo um núcleo de significância

inerente, não há uma essência da palavra, um significado primeiro, original, imaculado, capaz

de ser localizado no interior do significante, pois a linguagem, da qual o signo linguístico faz

parte, é polissêmica e heteróclita.

O Sujeito - O sujeito, nessa teoria, é marcado como (re) produtor do discurso, pelo desejo da

completude e pelo desejo de ver o novo. O sujeito é visto ainda como representante de em

uma estrutura social, de onde fala, e pela qual é envolvido e determinado ideologicamente em

um jogo discursivo [...] “o seu dizer nasce em outros discursos” (Orlandi, 1996, p. 158). Nes-

sa perspectiva, o sujeito discursivo deve ser visto como um ser social, apreendido em um es-

paço coletivo.

Formação Discursiva e Formação Ideológica - O lugar do sujeito no discurso é governado

por regras anônimas que definem o que pode e deve ser dito. É nesse lugar que o discurso vai

ter um dado efeito de sentido. Por isso que, para a AD, todo discurso é dominado por uma

formação discursiva que é “o que pode e deve ser dito a partir de um lugar social e historica-

mente determinado” (Brandão, 2004, p. 48). Desta forma, o sentido não existe por si, mas é

determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico, em

que as palavras são produzidas, ou seja, “as formações discursivas (...) representam no discur-

so as formações ideológicas. Desse modo, os sentidos são determinados ideologicamente”

(Orlandi, 2001, p. 43).

É nessa perspectiva que trabalho a ideologia nesta proposta, analisando a formação

ideológica e a formação discursiva de modo heterogêneo, pois as duas se completam e se en-

trelaçam. Os sentidos de um texto só podem ser interpretados quando se recuperam as diver-

sas vozes presentes em um texto, uma vez que os sujeitos produzem um determinado discurso

em um determinado momento histórico.

11

De acordo com Orlandi (2007, p.63), as “escolhas” e a construção do corpus de aná-

lise estão ligadas às suas propriedades discursivas, optamos pelo gênero propaganda pelo fato

deste proporcionar a oportunidade de compreender o funcionamento do discurso midiático em

suas variadas formas de representação, aparecimento, desdobramentos, enfim, enquanto traba-

lho histórico e ideológico que atravessam ao sujeito em sua materialidade.

2.3 Os gêneros discursivos

O trabalho com gêneros textuais na Educação Básica enriquece e amplia o conheci-

mento de Língua Portuguesa porque seu processo é interativo, não segue modelos prontos e

acabados e, portanto, o aluno tem a possibilidade de aprimorar a sua competência linguística.

Ao propor um ensino de Língua Portuguesa amparado nos gênero, o que se espera é que o

aluno, ao escrever, não o faça como mero mecanismo de aprendizagem, mas sim que interaja

com o meio, que ele escreva para um suposto leitor e espere que este seja seu interlocutor.

Assim, estabelece-se uma interconexão da linguagem, pois, como afirma Bakhtin (...) ela

constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de

expressão a um em relação ao outro. (BAKHTIN, 2006, p.117).

Vários estudiosos apontam a importância da exploração de gêneros textuais no ensi-

no de Língua Portuguesa. Nesse sentido, Marcuschi (2002, p.29) sustenta que quando domi-

namos um gênero textual, dominamos ―uma forma de realizar linguisticamente objetivos

específicos em situações sociais particulares. Para Bronckart (2003, p.103) ―a apropriação

dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades

comunicativas humanas Em outras palavras, quanto maior for o conhecimento de gêneros

diversos, mais possibilidades os aprendizes terão de agir adequadamente com a linguagem em

diferentes situações.

Marcuschi (2008, p. 155) ensina que gênero textual ―refere os textos materializados

em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos

em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos

por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na in-

tegração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. (...) Alguns exemplos de gêne-

ros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, re-

portagem, aula expositiva, (...) e assim por “diante”.

Para Lopes - Rossi (2005) (...) um dos méritos do trabalho pedagógico com gêneros

discursivos é o fato de proporcionar o desenvolvimento da autonomia do aluno no processo de

12

leitura e produção como uma consequência do domínio do funcionamento da linguagem em

situações de comunicação (LOPES - ROSSI, 2005, p.80).

Segundo Bakhtin (2003, p.279), “Todas as esferas da atividade humana, por mais va-

riadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua.” Os tipos relativa-

mente estáveis de enunciados utilizados em cada esfera da atividade humana são denomina-

dos pelo autor de gêneros discursivos, a propaganda social, por esse conceito, é um gênero

discursivo.

Na visão Dell‘Isola (2009, p. 100) os gêneros textuais são ― manifestações sociais

constituídas de elementos verbais e/ou não verbais intencionalmente selecionados e organiza-

dos para exercer uma atividade sociointerativa, de modo a permitir aos interlocutores, a de-

preensão do sentido, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordem cogniti-

va, e a ação de acordo com a situação e as práticas socioculturais de uso.

Desse modo, os professores ao explorarem o trabalho com os gêneros textuais devem

proporcionar ao aluno o contato com os diversos gêneros que circulam na sociedade servindo

de suporte que venha a contribuir para o enfrentamento de situações diversas de comunicação,

pois, [...] o estudo dos gêneros é uma área produtiva para o funcionamento da língua e para as

atividades culturais e sociais [...] (MARCUSCHI, 1995, p 19).

Nesta perspectiva, o gênero textual é a língua em uso. Segundo Marcuschi, os gêne-

ros são línguas vivas, pois são instrumentos de comunicação indispensável a todas as pessoas.

Neste contexto, para que o professor possa proporcionar ao aluno uma leitura crítica do mun-

do, dos fatos vivenciados é necessário que ele procure conhecer profundamente teorias que

permitem trabalhar de forma adequada os gêneros.

Graças ao letramento ocorre as oportunidades comunicativas culturais dos gêneros

textuais, mediadas pela linguagem, ou seja, uma enunciação-discursiva que considera o dis-

curso uma prática social e uma forma de interação. A relação interpessoal, o contexto de pro-

dução dos textos, as diferentes situações de comunicação, os gêneros, a interpretação e a in-

tenção de quem os produz, passaram a ser peças-chave para o entendimento dos enunciados

que não são mais dissociados do contexto referencial de elocução,

Nesse sentido, o texto passa a ser, numa concepção de interação, o espaço de concre-

tização do discurso. É uma manifestação individual, do modo como um sujeito escolhe orga-

nizar os elementos de expressão de que dispõe para veicular o discurso do grupo a que perten-

ce, ou seja, é uma instituição consciente, reflexo de um indivíduo que não apenas decodifica

signos, mas que interage com os enunciados, evidenciando elementos de uma cultura letrada,

13

Os gêneros dentro da proposta do letramento, ou seja, da função social dos eventos

de linguagem, dentre eles a leitura e a escrita são elementos textuais dinâmicos, autônomos e

transmutáveis. Esses suportes surgem devido à necessidade sociocultural de um povo, de suas

evoluções e inovações tecnológicas.

Para isso o professor precisa adotar uma concepção de gênero e a partir dela delinear

meios de como introduzi-lo adequadamente em sala de aula. A relação dos gêneros com suas

respectivas situações comunicativa apresenta-se de extrema importância para o contexto de

ensino, principalmente, porque envolve um contexto específico no qual se verifica uma dada

situação concretizada por um indivíduo que constitui e representa o discurso. Sendo assim, o

gênero constitui-se em uma ferramenta de aquisição de conhecimentos discursivos para pro-

fessores e alunos em sala de aula.

2.4 Gênero Propaganda Social

Amparado à Análise de Discurso de linha francesa, consideramos o discurso publici-

tário uma forma de discurso muito importante na atual conjectura do espaço público contem-

porâneo, pois nos permite compreender efeitos de sentidos explicitando assim o trabalho da

ideologia, da história e da linguagem no sujeito.

Ao propor adentrar neste mundo da propaganda, nos deparamos com diferentes defi-

nições, em especial entre os termos propaganda e publicidade. A Propaganda refere-se a “coi-

sas que devem ser propagadas”. Assim, propaganda é entendida como ato de propagar, de

divulgar princípios, ideias, conhecimentos, teorias, conceitos e valores. Para isso, ela lança

mão dos meios de comunicação disponíveis na comunidade, tais como: televisão, rádio, cine-

ma, jornais, revistas, outdoors, internet, dentre outras mídias e está presente em todos os seto-

res da vida moderna e, de acordo com sua natureza, pode ser classificada como ideológica,

política, eleitoral, governamental, institucional, corporativa, legal e religiosa. Publicidade é a

qualidade do que é público, do que é destinado ao povo, à coletividade. É definida como a

arte de despertar no público o desejo de compra, levando-o à ação. A Publicidade é um con-

junto de técnicas de ação coletiva, utilizadas no sentido de promover o lucro de uma atividade

comercial, conquistando, aumentando ou mantendo clientes. Está relacionada à promoção de

produtos e serviços, estimulando a compra, cultivando a preferência pela marca do produto e

neutralizando o avanço dos concorrentes. Engloba todas as formas de comunica-

ção: merchandising, Marketing Direto, dentre outras.

14

O texto publicitário ou propaganda é um dos gêneros mais usados no ensino de leitu-

ra e produção de textos. Está presente por meio de inúmeros portadores, seja na mídia impres-

sa (jornais, revistas, cartazes, prospectos, folhetos), seja na eletrônica (cinema, televisão, in-

ternet). Se examinarmos os manuais de ensino de línguas e mesmo os materiais elaborados

pelo próprio professor, veremos que esse gênero normalmente aparece já nas primeiras aulas

dos cursos de leitura.

Assim, ao trabalhar com o gênero propaganda social o professor tem como meta pro-

vocar no aluno reflexões a respeito de como a propaganda pode influenciar no comportamento

do indivíduo e, por isso, a importância de se estudar esse gênero. Para o sucesso do trabalho

leitura com este gênero textual o aluno precisa diferenciar uma propaganda de marketing da

propaganda social, e tomo como base os conceitos de Pinho (1990, p. 22-23), que define pro-

paganda como “o conjunto de técnicas e atividades de informação e persuasão destinadas a

influenciar, num determinado sentido, as opiniões, os sentimentos e as atitudes do público

receptor”, e propaganda social como “todas as campanhas voltadas para as causas sociais:

desemprego, adoção de menor, desidratação, tóxicos, entre outras. São programas que procu-

ram aumentar a aceitação de uma ideia ou prática social em um grupo-alvo”.

Ao trabalhar com as propagandas sob o viés do letramento crítico e da ACD propo-

mos confrontar o cotidiano social do aluno leitor a avaliar melhor o que está sendo oferecido e

possivelmente às ideologias que subjazem as propostas feitas pela instituição, produto ou ser-

viço anunciado.

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste tópico será colocado em discussão os resultados obtidos com a Implementação

da Unidade Didática Gênero Textual – Propaganda social com os alunos do 9º Ano do Colé-

gio Estadual Talita Bresolin do município de Califórnia –PR. A implementação da Produção

Didático Pedagógica sinaliza para os objetivos apontados visando à formação do leitor crítico.

As discussões suscitadas na implementação desta proposta foram extremamente rele-

vantes uma vez que os alunos já na Oficina I mostraram-se interessados a aprender sobre o

gênero em estudo. Inicialmente foi preciso esclarecer a diferença entre Propaganda X Publici-

dade, visto que a maioria dos alunos apresentou inversão nos termos/significado. Como houve

contradições foi proposta uma pesquisa sobre o assunto no laboratório de informática. Na

analise do poema de Carlos Drummond de Andrade: ‘‘Eu Etiqueta”, os alunos por meio do

debate refletiram sobre o consumismo. Essa etapa foi importante para que os alunos pudessem

15

compreender a influência que o gênero propaganda exerce no comportamento das pessoas,

conduzindo-os a refletir sobre o TER e o SER, onde por meio do gênero propaganda foi di-

vulgado campanhas que tinham fins comerciais e sociais. Desta forma, os alunos souberam

que o foco do projeto estava direcionado as questões sociais que a mídia veicula, a fim de

alertar a população sobre seu papel de cidadão atuante. Após as atividades iniciais os alunos

realizaram uma pequena produção relatando sobre: O ser e não o ter.

Na Oficina II o tema proposto foi Preservação do meio Ambiente. Foram apresenta-

das várias propagandas que exploravam a partir da utilização da linguagem verbal e não ver-

bal a conscientização sobre as questões ambientais e os cuidados para com o meio ambiente.

A partir deste estudo os alunos puderam refletir de forma critica sobre essa e sua relação com

a vida saudável. Todas as atividades propostas nesta oficina abordaram atividades de leitura,

interpretações, gramática e escrita que foram mediadas durante a aplicação das mesmas. Os

resultados foram satisfatórios, pois eles entenderam a importância da prática social na forma-

ção de cidadãos conscientes e atuantes.

Na Oficina III foi explorado o tema Doação de Sangue e Órgãos por meio da propa-

ganda impressa e televisiva conscientizando os alunos sobre a importância desta atitude soli-

dária que ajuda a salvar vidas. Nesta atividade foi proposta a leitura e interpretação crítica das

propagandas evidenciando a presença do uso da linguagem verbal e não verbal e também o

estudo da gramática onde foi trabalhado com as figuras de linguagens e a polissemia. Esta

atividade foi muito produtiva, pois durante o debate e interpretação dos textos os alunos pude-

ram refletir e argumentar em relação ao tema estimulando esta atitude.

Na Oficina IV o tema em estudo foi o Preconceito no ambiente escolar, que trouxe

inicialmente a definição da palavra Preconceito onde os alunos realizaram pesquisa sobre a

forma mais comum de preconceito (social, racial e sexual). Esta atividade foi relevante, pois

os alunos perceberam a diferença entre estes preconceitos. Em sala analisaram a propaganda

com linguagem verbal e não verbal onde a linguagem verbal mostrava as diferenças (sociais e

sexuais) e a imagem não verbal trouxe algo inusitado a figura do esqueleto humano represen-

tando todas essas diferenças. Ao analisar este texto alguns alunos ficaram sensibilizados ao

perceber que a prática do preconceito pode também exclui-los e que para entendermos a di-

versidade temos que nos colocar no lugar do outro para ser respeitados.

Na atividade final os alunos realizaram um trabalho coletivo confeccionando cartazes

a cerca das temáticas trabalhadas em sala e posteriormente montamos um mural para expor a

toda comunidade escolar os temas trabalhados conscientizando a todos sobre a importância da

Preservação do Meio Ambiente, Doação de Sangue e Órgãos e o Preconceito. Após a exposi-

16

ção dos trabalhos pude perceber que este projeto foi muito importante, pois além dos alunos

do 9 º Ano o trabalho de conscientização se estendeu a toda comunidade escolar que parou

para apreciar o mural e assim puderam refletir que em um futuro próximo serão os responsá-

veis pelas questões sociais.

4. Grupo de Trabalho em Rede – GTR

O Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE é uma política de Formação

Continuada de Professores desenvolvida pela SEED-PR que proporciona aos participantes

subsídios teórico-metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematiza-

das, objetivando o aperfeiçoamento do professor.

Os Grupos de Trabalho em Rede - GTR constituem uma das atividades da Turma

PDE/2013 e caracterizam-se pela interação a distância entre o Professor PDE e os demais

professores da Rede Pública Estadual, cujo objetivo é a socialização e discussão do Projeto de

Intervenção Pedagógica na Escola, da Produção Didático-Pedagógica e da Implementação do

Projeto de Intervenção na Escola.

Os trabalhos foram divididos em módulos com atividades de leitura, reflexão, debate

e construção de conhecimento entre professores, numa relação dialógica, cujo objetivo é tra-

zer mudanças qualitativas para o ensino-aprendizagem de leitura na prática escolar, uma vez

que a proposta possibilitava o diálogo entre os professores da Educação Básica, por meio de

atividades teórico-práticas, orientadas por meio de estudos à distância.

Nos momentos de interação, pude constatar que os professores que participavam do

GRT apresentaram uma grande expectativa com o curso e contribuíram de forma significativa

para a realização do mesmo. O tema trouxe para o estudo o Gênero Textual – Propaganda

Social.

Na temática 1 foi realizado um processo de aprofundamento teórico, promovendo

discussões entre os participantes do GTR sobre a proposta apresentada no Projeto de Inter-

venção Pedagógica que tinha como objetivo apresentar o uso do gênero discursivo propagan-

da social nas aulas de leitura, preparando o educando para uma análise mais detalhada das

propagandas sociais, distinguindo suas mais diversas finalidades, tornando-o mais cuidadoso

como leitor e também um cidadão consciente sobre as questões sociais e atento a sua realida-

de. Durante a socialização da Temática 1 foi possível constatar que todos os educadores afir-

maram a importância de se trabalhar com o gênero textual propaganda nas aulas de Língua

17

Portuguesa, por oferecer uma amplitude de oportunidades para serem contextualizadas no

ambiente escolar.

A Temática 2 apresentou a Produção Didático-pedagógica, elaborada enquanto estra-

tégia metodológica do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, resultado de uma pes-

quisa iniciada em 2013, coordenado pela Profª Drª Mariângela P. Galli Joanilho, a fim de pro-

piciar a analise, discussões e gerar contribuições entre os professores. Ao socializar o Projeto

de Intervenção Pedagógica com os participantes do GTR foi constatado a relevância do mes-

mo a realidade da escola pública. Os temas propostos na Unidade abordaram questões sociais

a cerca da Preservação do Meio Ambiente, Doação de Órgãos e Sangue e Preconceito.

A Temática 3 apresentou a previsão das ações da implementação do projeto de Inter-

venção Pedagógica na Escola, cujo o objetivo era apresentar uma proposta pedagógica de

leitura crítica da propaganda social impressa, a fim de contribuir com a formação de um leitor

ativo, crítico e atento à sua realidade. Nesta etapa os participantes do GTR implementaram

uma das ações em sua escola/local de trabalho e enriqueceram o debate relatando uma prática

já vivenciada na escola. Para dar início as discussões relatei aos participantes as experiências

e os resultados parciais observados no desenvolvimento da proposta na escola que sinaliza-

vam para os objetivos apontados visando à formação do leitor crítico. Os resultados foram

satisfatórios, pois eles entenderam a importância da prática social na formação de cidadãos

conscientes e atuantes. Após refletirem e analisarem sobre os resultados apresentados os cur-

sistas contribuíram durante o debate enaltecendo a relevância desta proposta para a educação

e acrescentaram tópicos importantes acerca do tema em estudo, afirmando que a Unidade Di-

dática apresentou conteúdos significativos para o ensino da Língua Portuguesa destacando a

importância de desenvolver atividades que provoquem mudanças no comportamento de nos-

sos alunos visando à formação de cidadãos participativos e conscientes de seu papel social.

As contribuições apresentadas pelos professores participantes do GTR no Fórum Vi-

venciando a Prática foram muito significativas e relevantes onde ocorreu troca de experiên-

cias entre os profissionais da área da educação. O PDE é uma política pública de Estado regu-

lamentado pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010 que estabelece o diálogo

entre os professores do ensino superior e os da educação básica, por meio de atividades teóri-

co-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças quali-

tativas na prática escolar da escola pública paranaense.

18

5. CONCLUSÃO

Este artigo reúne os resultados e reflexões suscitadas durante a participação do Pro-

grama de Desenvolvimento Educacional (PDE) que apresenta subsídios teórico-

metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, objetivando o

aperfeiçoamento do professor e melhorias na educação paranaense.

O tema sugerido neste estudo propôs refletir sobre a aplicação do Projeto de Inter-

venção Pedagógica na Escola, a partir das atividades sugeridas na Unidade Didática Gênero

Textual Propaganda - A leitura e os modos de ascensão cultural, social e econômica, utilizan-

do como aporte teórico, os princípios postulados pela Análise do Discurso de linha francesa

(doravante AD), fundada por Michel Pêcheux, e como corpus textual o discurso publicitário, a

ser utilizado em aulas de língua materna com alunos do 9º Ano do Colégio Estadual Talita

Bresolin, a fim de contribuir com a formação de um leitor ativo, crítico e a tento à sua reali-

dade.

Partindo da problematização que abre as discussões do projeto de Intervenção Peda-

gógica esta proposta se torna relevante uma vez que ao analisar o ultimo Índice de Desenvol-

vimento da Educação Básica (IDEB) do Colégio Talita Bresolin, verificou-se a necessidade

de expandir o trabalho com gêneros em nossa escola, a fim de promover e desenvolver ativi-

dades diferenciadas nas aulas de Língua Portuguesa direcionadas ao estudo do gênero discur-

sivo propaganda. A análise da propaganda social esta diretamente ligada à leitura, à interpre-

tação, a criticidade, a formação de valores e à produção escrita, levando os alunos a interagir,

trocar experiências e compreender a realidade em que estão inseridos, bem como perceber a

sua importância e responsabilidade como cidadão, além de despertar sua atenção para um dos

aspectos essenciais do gênero discursivo em questão, a conscientização sobre temas sociais.

Desta forma, o ensino da Língua Portuguesa, conforme a concepção Bakhtiniana, re-

quer que se considerem os aspectos sociais e históricos em que o sujeito está inserido, bem

como o contexto de produção do enunciado, uma vez que os seus significados são sociais e

historicamente construídos. Sob essa perspectiva, as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008,

p.50) reporta que o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa visa aprimorar os conheci-

mentos linguísticos e discursivos dos alunos, para que eles possam compreender os discursos

que os cercam e terem condições de interagir com esses discursos. Para isso, é relevante que a

língua seja percebida como uma arena em que diversas vozes sociais se defrontam, manifes-

tando diferentes opiniões (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p. 66).

19

Nessa perspectiva, é necessário que a escola seja um espaço que promova, por meio

de uma gama de textos com diferentes funções sociais, o letramento do aluno, para que ele se

envolva nas práticas de uso da língua – sejam de leitura, oralidade e escrita (DCEs, 2008,

p.50).

De modo geral, os objetivos apresentados neste PDE foram atingidos na medida em

que evidencia-se a importância da aplicação do gênero textual propaganda em sala de aula

para desenvolver a consciência crítica do aluno e a leitura crítica da mídia, levando - os a ob-

servar e compreender o poder de persuasão que a propaganda exerce sobre as pessoas, direci-

onando-os a analisar propagandas que enaltecem valores na sociedade contribuindo para que

sejamos cidadãos mais participativos e atuantes.

Considera-se relevante também, a contribuição desta pesquisa junto aos professores

da Rede Publica do Estado do Paraná, uma vez que as analises realizadas, apresentam-se co-

mo sugestões para o trabalho com a leitura, numa perspectiva discursiva em sala de aula, com

o gênero discursivo propaganda social.

Amparada nos pressupostos teóricos da Analise do Discurso, busquei na prática pe-

dagógica estratégias por meio do gênero discursivo propaganda preparar o jovem no sentido

de fazê-lo crescer para o mundo, para a vida. Explorar a função da escola com conteúdos fo-

cados no cotidiano social para despertar maior interesse aos estudantes de Língua Portuguesa

e fazê-los pensar como cidadãos participativos do meio em que vivem, ampliando sua cultura,

a fim de transformar informações em conhecimentos significativos e relevantes para modifi-

car o mundo que o cerca.

20

6. REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail (1953). Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Trad.

Paulo Bezerra. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

_______. Gêneros do discurso In: Estética da Criação. Verbal. São Paulo: Martins Fontes,

2003.

BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 8. ed. Campinas:

UNICAMP, 2001.

_______. Introdução à análise do discurso. 2ª ed. rev. Campinas: Unicamp, 2004.

BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, textos e discurso: Por um interacionismo

sócio-discursivo. EDUC – São Paulo: PUC, 2003.

CHARTIER, Roger. “Leitura e leitores ‘populares’ da Renascença ao Período Clássico”.

In.: CARVALHO, Guglielmo; CHARTIER, Roger (Org.). História da leitura no mundo oci-

dental. São Pulo: Ática, 1999. V.2.

CARDOSO, Sílvia Helena Barbi. Discurso e ensino. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

DELL´ISOLA, R.l. p. Intergenericidade e agência: quando um gênero é mais que um gêne-

ro. 2007

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

LOPES-ROSSI, Maria A. G. a formação do leitor proficiente e crítico a partir das carac-

terísticas especificas dos gêneros discursivos. Comunicação apresentada no 4º InPLA, São

Paulo. PUC. SP, 2004.

MAGNANI, Maria Aparecida Ceravolo. Formação de Leitores: um salto necessário para a

escola pública. Série Idéias n.13. São Paulo: FDE, 1989. p. 13-14.

MARCUSCHI, L.A. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. IN: DIONÍSIO, A. P et.

al. (Orgs.) Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

ORLANDI, Eni P. Introdução às ciências da linguagem: discurso e textualidade. São Pau-

lo: Pontes, 2006.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa

Para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio: Língua Portuguesa. Curitiba:

SEED, 2008.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de

Eni Pulcinelli Orlandi et al. 2ª ed. Campinas: Unicamp, 1997

PINHO, J.B. Propaganda Institucional, usos e funções da propaganda em relações públi-

cas. São Paulo: Summus, 1990.