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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · ÁREA: GEOGRAFIA MARGARETE ZUBACZ Aproximando os conteúdos geográficos do Ensino Médio à concepção de Educação do Campo

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ – SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA – UEPG

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGOGICA

ÁREA: GEOGRAFIA

MARGARETE ZUBACZ

Aproximando os conteúdos geográficos do Ensino Médio à concepção

de Educação do Campo.

PONTA GROSSA 2013

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UNIDADE DIDATICA

Produção Didático- Pedagógica apresentada ao

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),

elaborada pela professora Margarete Zubacz, sob a

orientação da Professora Doutora Maria Antonia de

Souza, da Universidade Estadual de Ponta Grossa

(UEPG).

MARGARETE ZUBACZ

PDE – 2013

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Ficha para identificação da Produção Didático-Pedagógica – Turma 2013

Título:

Aproximando os conteúdos geográficos do Ensino Médio à concepção de Educação do Campo

Autor:

Margarete Zubacz

Disciplina/Área

Geografia

Escola de Implementação do Projeto e localização:

Colégio Estadual Sagrado Coração de Maria – São Roque

Município da Escola:

Ivaí

NRE:

Ponta Grossa

Professor Orientador:

Maria Antonia de Souza

IES:

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Resumo:

O objetivo do projeto é provocar o olhar para o livro didático, com o intuito de enfatizar a concepção da educação do campo, ou seja, valorizar trabalho, identidade e cultura. Justifica-se pela localização da escola em área rural do Município de Ivaí e presença de filhos de pequenos proprietários, trabalhadores rurais, quilombolas, vileiros, que residem no campo e retiram a sua subsistência. Muitos deles não têm motivação nem perspectiva de mudança, não vêem a importância da escola e dos conteúdos, estes, marcados por uma visão urbana desconectada da realidade do trabalho com a terra. A escola precisa valorizar os conhecimentos do aluno, para que ele se reconheça como parte integrante e atuante no meio em que vive. Serão analisados o livro didático de Geografia do Ensino Médio e a possibilidade de aproximar conteúdos geográficos com a realidade do campo. Os alunos farão pesquisas sobre a situação do campo no Município e posteriormente a produção de textos e exposição de fotos da sua realidade.

Palavras-chave: Educação do Campo; Geografia; realidade.

Formato do Material Didático:

Unidade Didática

Público:

Alunos da 2ª Série do Ensino Médio

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APRESENTAÇÃO

Esta Unidade Didática tem por finalidade orientar os trabalhos a serem

desenvolvidos na implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio

Estadual Sagrado Coração de Maria no ano de 2014. Neste, pretende-se relacionar

os conteúdos geográficos com a concepção de Educação do Campo que é a

realidade local, mesmo que a escola ainda não tenha esta denominação, buscando

formas de valorização dos saberes que o aluno traz a partir da sua realidade,

promovendo uma efetiva relação de ensino-aprendizagem.

É necessário repensar a prática, pois, os livros didáticos utilizados privilegiam

a visão urbana e muitos conteúdos, principalmente da Geografia não tem sentido

para este aluno, somente se reproduz e não se fazem relações com a realidade

local. Ao observarmos nas DCEs da Educação do Campo (2006) é necessário

pensar em formas alternativas de como encaminhar as práticas pedagógicas já

existentes nas escolas do campo como forma de rever e prever novas possibilidades

educacionais.

O Colégio Estadual Sagrado Coração de Maria está localizado na

Comunidade de São Roque – área rural no Município de Ivaí-PR fica a uma

distância de 18 quilômetros da sede urbana. Atende os estudantes da comunidade e

também de outras comunidades próximas, sendo único da área rural que oferece o

Ensino Fundamental e Médio na mesma escola; totalizando 202 alunos do

Fundamental e 125 alunos do Médio nos períodos da manhã e tarde. A grande

maioria dos alunos depende do transporte escolar que traz alunos de várias

comunidades e percorrendo longas distâncias até chegar à escola.

No Colégio, grande parte dos alunos encontra-se desmotivados para estudar

e também não vêem perspectivas de mudança porque a maioria continua morando e

trabalhando com os pais na lavoura, após a conclusão do Ensino Médio. Daí, a

necessidade de tornar esta escola mais atraente e que esta lhe ofereça as

informações que precisa para transformar este conhecimento escolar em algo útil

para o seu dia a dia.

Uma escola que proporcione aos seus alunos e alunas condições de optarem,

como cidadãos e cidadãs, sobre o lugar onde desejam viver. Isso significa, em

última análise, inverter a lógica de que apenas se estuda para sair do campo.

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(BRASIL, GPT. 2004.p. 39) A escola precisa valorizar os conhecimentos do aluno,

para que a partir desta valorização, ele se reconheça como parte integrante e

atuante no meio em que vive.

É na escola que o aluno busca compreender a realidade na qual se insere e

na maior parte dos conteúdos, se reproduz o conhecimento e não se dá

oportunidade de o aluno buscar e/ou produzir conhecimento a partir da sua vivência.

Como afirma Souza (2011, p.27) “Existem práticas que descrevem o que o aluno já

sabe ou até menos do que sabem. Existem práticas que apresentam um mundo

muito distante do aluno”.

O que se espera da escola é muito mais do que a menção à realidade do aluno. É preciso tirar o véu, a nuvem que encobre o discurso sobre a realidade e enfatizar o conhecimento da prática social e daqueles que a produzem coletivamente. Das aulas, espera-se que as provocações e os textos estudados pelos professores e alunos possam gerar inquietações e relações entre o que se vive (cotidiano) e o que se desconhece, além do que se busca conhecer. Esse é o maior desafio da escola. (SOUZA, 2011, p.27).

Na implementação do Projeto pretende-se aproximar os conteúdos da

Geografia com as questões do campo onde vivem, aprofundando alguns temas e

proporcionando a maior participação dos alunos para valorizar os seus

conhecimentos e o lugar onde vivem.

Nesta perspectiva podemos destacar ainda outro fator determinante para o trabalho do professor de Geografia: a vivência do aluno. Não aceitamos mais a ultrapassada concepção de educação que considera o educando como um ser desprovido de conhecimento, e que para a aquisição do mesmo o único lugar é a escola. Hoje, o conhecimento prévio do aluno é um importante aliado nas aulas. Assim, assuntos discutidos de forma teórica, como: segregação sócio-espacial, questão agrária, transformações no/do espaço, urbanização, industrialização, podem ser compreendidos pelos alunos de forma vinculada à sua realidade, uma vez que muitos sentem as conseqüências destes em sua vida cotidiana. ( NABARRO, 2009)

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INTRODUÇÃO

De acordo com Fernandes (2002, p. 92), “o campo é lugar de vida, onde as

pessoas podem morar, trabalhar, estudar com dignidade de quem tem o seu lugar, a

sua identidade cultural ...não é só lugar da agropecuária... sobretudo de educação”.

A Educação do Campo torna-se pauta de discussões e debates, a partir da

luta dos movimentos sociais e entidades que atuam em defesa da superação da

visão de que o campo era um lugar de atraso, do caipira, preservando a identidade

dos sujeitos que vivem no campo.

Conforme citado por Souza (2008), em 1997 ocorre o I Encontro de

Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (I Enera); em 1998 foi realizada a I

Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo; em 2002 o Conselho

Nacional de Educação, por meio da Câmara de Educação Básica, aprovou as

Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (Resolução

CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002). Em 2004, foi realizada a IIª Conferência

Nacional de Educação do Campo e foi criada a Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade (SECAD), atual SECADI. Já em 2007 foi criada a

Comissão Nacional de Educação do Campo, junto ao Ministério da Educação

(Portaria 1.258, 19 de dezembro de 2007), trata-se de um órgão colegiado, de

caráter consultivo, com a atribuição de assessorar o Ministério da Educação na

formulação de políticas públicas de Educação do Campo, todos citados por Souza

(2011).

Estes são alguns dos eventos e realizações que tem como objetivo discutir e

aprimorar as ações já efetivadas e cobrar ações mais efetivas do poder público para

a Educação do Campo.

Em seu artigo 28, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

estabelece as seguintes normas para a educação do campo:

Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino proverão as adaptações necessárias à sua adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. (BRASIL, 1996).

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Assim como na LDB, as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas

Escolas do Campo dispõem sobre a possibilidade de adaptações necessárias ao

calendário escolar de acordo com a realidade da escola, as peculiaridades locais em

relação às variações climáticas e das condições de trabalho (períodos de safra) e

das características de cada região, desde que se cumpra o estabelecido de carga

horária mínima anual de oitocentas horas e 200 dias letivos. Assim dispõem as

Diretrizes Operacionais:

Art. 7º É de responsabilidade dos respectivos sistemas de ensino, através

de seus órgãos normativos, regulamentar as estratégias específicas de

atendimento escolar do campo e a flexibilização da organização do

calendário escolar, salvaguardando, nos diversos espaços pedagógicos e

tempos de aprendizagem, os princípios da política de igualdade.

§ 1° - O ano letivo, observado o disposto nos artigos 23, 24 e 28 da LDB,

poderá ser estruturado independente do ano civil.

§ 2° - As atividades constantes das propostas pedagógicas das escolas,

preservadas as finalidades de cada etapa da educação básica e da

modalidade de ensino prevista, poderão ser organizadas e desenvolvidas

em diferentes espaços pedagógicos, sempre que o exercício do direito à

educação escolar e o desenvolvimento da capacidade dos alunos de

aprender e de continuar aprendendo assim o exigirem. (BRASIL, 2002)

No Paraná, em 2000, criou-se a Articulação Paranaense por uma Educação

do Campo, concomitante à realização da II Conferência Paranaense: Por uma

Educação Básica do Campo. Em 2003, foi criada na SEED a Coordenação Estadual

de Educação Do Campo, cuja denominação revista na gestão governamental

iniciada em 2011, passou a ser Coordenação Escolar da Educação do Campo,

citado por Souza (2011).

Em 2006 com a instituição das Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação

do Campo podemos observar as diferenças que caracterizam os povos do campo e

os povos da cidade:

O que caracteriza os povos do campo é o jeito peculiar de se relacionarem com a natureza, o trabalho na terra, a organização das atividades produtivas, mediante mão-de-obra dos membros da família, cultura e valores que enfatizam as relações familiares e de vizinhança, que valorizam as festas comunitárias e de celebração da colheita, o vínculo com uma rotina de trabalho que nem sempre segue o relógio mecânico. (PARANA, 2006)

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Ainda nas Diretrizes Estaduais, aparecem alguns conteúdos que deveriam ser

trabalhados e/ou discutidos em várias disciplinas, os quais são fundamentais para o

dia a dia dos educandos e podem contribuir na formação da identidade dos sujeitos

do campo:

Na educação do campo, devem emergir conteúdos e debates, entre outros, sobre: - a diversificação de produtos relativos à agricultura e o uso de recursos naturais; - a agroecologia e o uso das sementes crioulas; - a questão agrária e as demandas históricas por reforma agrária; - os trabalhadores assalariados rurais e suas demandas por melhores condições de trabalho; - a pesca ecologicamente sustentável; - o preparo do solo. (PARANA, 2006.)

Entre as características da educação do campo que se pretende construir,

está a concepção de escola: os aspectos da realidade podem ser pontos de partida

do processo pedagógico (PARANA, 2006). Mas de acordo com as mesmas diretrizes

(2006, p.29) “Estratégias metodológicas dialógicas, nas quais a indagação seja

freqüente, exigem do professor muito estudo, preparo das aulas e possibilitam

relacionar os conteúdos científicos aos do mundo da vida que os educandos trazem

para a sala de aula”.

Muitos conteúdos a serem trabalhados devem partir do que o aluno já sabe,

problematizando a sua realidade para discutir e aprofundar com conceitos mais

elaborados.

Os movimentos sociais reivindicam que nos programas de formação de educadoras e educadores do campo sejam incluídos o conhecimento do campo, as questões relativas ao equacionamento da terra ao longo de nossa história, as tensões no campo entre o latifúndio, a monocultura, o agronegócio e a agricultura familiar; conhecer os problemas da reforma agrária, a expulsão da terra, os movimentos de luta pela terra e pela agricultura camponesa, pelos territórios dos quilombos e dos povos indígenas. Conhecer a centralidade da terra e do território na produção da vida, da cultura, das identidades, da tradição, dos conhecimentos... Um projeto educativo, curricular, descolado desses processos de produção da vida, da cultura e do conhecimento estará fora do lugar. Daí a centralidade desses saberes para a formação específica de educadoras e educadores do campo. (ARROYO, 2007, pg. 167)

Para que os professores possam fazer “ponte” entre o saber científico e o

conhecimento do aluno, são necessários mais programas de formação específicos

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para os professores que atuam em escolas do campo, a fim de que não continuem

reproduzindo o currículo elaborado a partir da visão urbana, desconectado da

realidade, assim como reformulação do Projeto Político Pedagógico das escolas que

deveria contemplar na parte diversificada dos currículos, disciplinas que orientem e

atendam a diversidade econômica e cultural do entorno da escola.

A Lei 9394/96 dispõe sobre o currículo de ensino fundamental e médio, como

segue:

Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (BRASIL, 1996).

Nas escolas estaduais, a partir deste ano de 2013, houve aumento da carga

horária das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática para melhorar os índices

educacionais, em detrimento de outras disciplinas que também são interessantes e

produtivas. Não é o aumento de horas/aula, mas a forma como se trabalha e o

despertar do “gosto” e a importância da disciplina que mudarão os números.

Paraná (2006) aponta que a pesquisa é um dos caminhos na elaboração de

encaminhamentos metodológicos na educação do campo, mediante o diálogo,

indagação, registro e sistematização das informações obtidas. O aluno precisa

pesquisar a realidade do campo onde vive e conhecer o seu município, buscar

informações a respeito de previsão do tempo, variação dos preços dos produtos

agrícolas, modernização do campo, dentre outros. Ainda de acordo com Paraná

(2006, p. 48) “a pesquisa é essencial para que se desvelem as relações sociais de

produção, os saberes que estão presentes no cotidiano do trabalho, da organização

política, da negociação econômica dos produtos”.

De acordo com Fischer, Fogaça e Roesler (2008, pg. 134):

Relacionar a realidade à construção do conhecimento significa o educando estabelecer relações possíveis, concretas; ou seja, se é no campo que ele vive, precisa compreender a realidade do campo e saber quais as influências e relações que esse espaço estabelece com os demais espaços sociais, econômicos, políticos e culturais que existem no conjunto da sociedade e no território político.

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No processo ensino-aprendizagem é fundamental o estudo e compreensão

das relações que marcam o espaço local, bem como as relações com os outros

lugares.

Nos fundamentos teórico-metodológicos das Diretrizes Curriculares de

Geografia para a Educação Básica, (2006, pg. 28), quando descreve o conceito de

lugar: “O lugar é o espaço onde o particular, o histórico, o cultural e a identidade

permanecem presentes. Ele revela especificidades, subjetividades, racionalidades

próprias do local.” É nesse lugar que nós criamos afetividade, laços de parentesco,

vizinhança, costumes, que o tornam único e que guarda a cultura de um povo,

portanto, o campo é o lugar de vivência do aluno, para manter a identidade deve ser

valorizado o sujeito que ocupa este lugar.

AÇÕES

1. Análise do livro didático do Ensino Médio – GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL

– ESPAÇO GEOGRAFICO E GLOBALIZAÇÃO – Vol. 3 – Eustáquio de Sene e

João Carlos Moreira.

Quais os pontos positivos e negativos;

Se os dados são atualizados;

Se o livro apresenta coerência nos conceitos e conteúdos geográficos;

Os textos permitem relacionar o conteúdo com a realidade, onde o aluno

torna-se um sujeito ativo no processo de ensino e aprendizagem;

Verificar se o livro aponta a diversidade regional e a desigualdade

socioeconômica;

Se o livro se apresenta inovador: capaz de romper com as abordagens

consideradas tradicionais;

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Se apresenta possibilidades de promover interrogações e questionamentos

sobre o conteúdo estudado e interação com outras disciplinas;

De que forma o livro apresenta as atividades que facilitam a fixação e melhor

compreensão do tema estudado.

Objetivos:

Relacionar conteúdos com a Educação do Campo;

Verificar se está adequado ao aluno a que se destina o conhecimento;

Compreender a relação teoria e realidade vivenciada pelo aluno;

Buscar a aproximação entre os conteúdos abordados no livro

problematizando as especificidades do lugar.

Metodologia:

Analisar o livro didático do Ensino Médio de Geografia – especificamente o da 2ª

Série – Volume 3 (o professor de Geografia individualmente ou se tiver mais um

professor da área será desenvolvido em conjunto) para verificar as diferentes formas

de abordagem dos conteúdos neste livro.

1. Trabalhar o Perfil da Realidade Agrícola do Município com os alunos da 2ª Série

do Ensino Médio para melhor compreensão da realidade:

Área plantada;

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Ocupação do solo;

Lavouras com os principais produtos;

Criações;

Agroindústrias (dados fornecidos pela EMATER)

Produção do município: quantidade e valores (dados fornecidos pela

Secretaria Municipal de Agricultura/Receita Federal)

Objetivos:

Conhecer a realidade agrícola do município;

Possibilitar a compreensão da diversidade da produção agropecuária e os

recursos gerados (renda);

Destacar a importância da diversidade agropecuária para incrementar a renda

das famílias;

Relacionar os dados agropecuários locais com os conteúdos do livro didático

analisado.

Metodologia:

Sistematização dos dados: número total de produtores, quantidade e valor da

produção por produto;

Apresentação dos dados sistematizados fornecidos pela EMATER e

Secretaria Municipal de Agricultura/Receita Federal;

Questionar com os alunos quais produtos são mais cultivados, os valores, o

capital para investimento em máquinas e insumos, tamanho das propriedades

que interfere na produção.

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1. Análise da lógica dos preços dos produtos agrícolas e insumos.

Aprofundar o tema com textos explicativos e o mecanismo de funcionamento;

Fatores que interferem nas cotações dos produtos;

Análise das variações de preços a partir de jornais, revistas e dados da

Internet e procurar relações.

Esclarecer como são definidas as cotações do preço do fumo – um dos

principais produtos das pequenas propriedades.

Objetivos:

Compreender a lógica das variações de preços;

Estabelecer relações do nacional com a realidade local;

Aprofundar o conhecimento sobre o tema e relacioná-lo com os textos do livro

didático.

Metodologia:

Leitura de textos e artigos com os alunos;

Discussão e questionamentos sobre comercialização e preços.

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1. Desenvolvimento Sustentável:

Uso intensivo de agrotóxicos e a necessidade de redução para proteção da

saúde e qualidade da água;

Importância da preservação ambiental e a necessidade de desenvolvimento

agrícola;

Restauração da mata ciliar; proteção das nascentes; legislação ambiental e

responsabilidade do proprietário;

Verificar possibilidades de relação entre os aspectos da realidade e os

conteúdos do livro de Geografia.

Objetivos:

Relacionar a forma de apropriação da natureza e as conseqüências

ambientais;

Proporcionar o diálogo e a discussão com os alunos sobre a questão

ambiental, partindo da vivência deles;

Diferenciar quais setores/propriedades agrícolas são os maiores responsáveis

pela destruição da vegetação e consequentemente das nascentes;

Discutir sobre a degradação e a necessidade de preservação ambiental.

Metodologia:

Uso da Cartilha: Nascentes protegidas e recuperadas (SEMA/PR – 2010)

Citando artigos da Lei Federal nº 4771/65 – Código Florestal, alterada pela

Lei Federal n° 7803/89 e da Lei de Crimes Ambientais 9.605, de 12 de

fevereiro de 1998, para RESTAURAÇÃO DA MATA CILIAR e AÇÕES PARA

PROTEGER A ÁGUA.

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Trabalhos em grupos como; produção de cartazes e paródias sobre a questão

ambiental.

Elaborar painel de fotos da paisagem local.

1. Aprofundar os conteúdos: Questão agrária brasileira; problemas fundiários;

problemas da agricultura brasileira e Reforma Agrária:

Estudar a estrutura fundiária brasileira;

Analisar tabelas, mapas e gráficos atualizados;

Objetivos:

Relacionar a estrutura fundiária brasileira com a realidade local;

Possibilitar que o aluno estabeleça relações entre os problemas da agricultura

local e nacional;

Entender o que é Reforma Agrária;

Compreender a origem dos problemas e a distribuição das propriedades.

Metodologia:

Trabalhar com dados de gráficos, imagens que permitam uma melhor

compreensão do tema;

Análise, leitura e discussão de textos.

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1. Modernização agrícola:

Pontos positivos e negativos;

Quais propriedades se modernizaram;

Impactos da modernização.

Objetivos:

Analisar as transformações ocorridas na agricultura brasileira;

Verificar os contrastes espaciais/regionais a partir da modernização;

Compreender a lógica entre modernização e êxodo rural;

Perceber a modernização e suas inter-relações com o local onde vive;

Metodologia:

Propor aos alunos uma pesquisa sobre modernização agrícola: pode ser em

livros, revistas, Internet, jornais (recortes, textos, imagens);

Apresentação e análise dos dados obtidos;

Discussão e relação com o livro didático e com a realidade.

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1. Análise de músicas que retratem a realidade no campo;

2. Elaboração de Paródias.

Objetivos:

Analisar os conceitos presentes na música;

Utilizar a música como instrumento de ensino para análise do espaço

geográfico local;

Despertar no aluno a buscar um paralelo entre a música, o conteúdo ensinado

e o conhecimento necessário para a vida;

Despertar no aluno a participação e expressão de suas idéias a partir da

releitura de músicas.

Metodologia:

Ouvir a musica proposta;

Analisar a letra;

Buscar relações da música com a realidade do campo;

Em grupos propor a construção de paródias retratando o local, o trabalho no

campo, sua vivência e costumes, entre outros.

1. Apresentação do Projeto de Intervenção a Comunidade Escolar

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Relatar o processo de construção e implementação do Projeto a Comunidade

Escolar.

Apresentação dos painéis e cartazes dos alunos;

Apresentação das paródias produzidas.

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REFERENCIAS

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Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Resolução nº 1

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BRASIL. Congresso Nacional. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, 9394/96.

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FISCHER, C. W.; FOGAÇA J.; ROESLER. V. L. Práticas Educativas no Ensino Médio. In. Machado, C. L. B.; Campos, C. S. S.; Paludo. C. organizadoras. Teoria e prática da educação do campo: análises de experiências /Brasília: MDA, 2008. (NEAD Experiências), p. 128 -138.

NABARRO, S. A. e TSUKAMOTO, R. Y. Questão Agrária e Livro Didático de

Geografia: Uma análise do conteúdo apresentado nos livros didáticos

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PR, XIX Encontro Nacional de Geografia Agrária , São Paulo, 2009, pp.1-26

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.

Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Curitiba, 2006.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.

Diretrizes Curriculares de Geografia para a Educação Básica. Curitiba, 2006

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SOUZA, M. A. Práticas educativas do/no campo. Ponta Grossa: Editora UEPG,

2011.

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