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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
TODOS BRINCANDO DE PRATICAR ESPORTES
HARA, José Ricardo de Lima1 SIMEONI, Maria Cristina2
RESUMO O foco deste artigo é o Conteúdo Estruturante, esportes; conteúdo básico, esportes coletivos, como favorecedores da participação de todos os alunos nas aulas de Educação Física. Para tanto, a criatividade e ludicidade foram selecionadas como elementos metodológicos de ensino. O objetivo principal foi demonstrar a importância dos benefícios que os esportes coletivos trazem para os alunos, colaborando para o processo de inclusão social. A pesquisa teve abordagem qualitativa para análise dos dados. O universo foi o Colégio Estadual Nóbrega da Cunha, município de Bandeirantes/PR. Os sujeitos foram os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, professores das diferentes disciplinas e professores participantes do Grupo de Trabalho em rede (GTR). Os instrumentos foram um questionário, com perguntas abertas, para os alunos e professores do colégio e as questões do GTR para seus participantes. Os resultados apontaram que o planejamento das aulas, com elementos da criatividade e ludicidade, favorece a inclusão social, sendo este o caminho para a transformação das aulas de Educação Física, contribuindo para o desenvolvimento de um aluno mais participativo nas aulas e, como consequência, na sociedade.
Palavras-chave: Conteúdo Estruturante Esporte. Inclusão Social. Criatividade e Ludicidade.
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se da importância do esporte e da Educação Física dentro do processo
educativo. Um dos fatores é a sua participação dentro dos momentos históricos que
passamos no Brasil, afinal o futebol é esporte nacional. Assim, é importante dar
ênfase ao professor de Educação Física, e ao o conteúdo esporte (e neste caso, os
esportes coletivos), para favorecer a inclusão social.
Entende-se que tal proposta possibilitará a transformação pela inclusão social,
usando a Educação Física e o conteúdo estruturante esporte, como meio para a
realização desse processo. É importante destacar que: "Se aceitarmos o esporte
como fenômeno social, tema da cultura corporal, precisamos questionar suas normas,
suas condições de adaptação à realidade social e cultural da comunidade que o
pratica, cria e recria” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 71).
O esporte coletivo poderá criar situações para o desenvolvimento da
socialização e interação entre os alunos participantes desse processo de inclusão, se
tornado um conteúdo cada vez mais importante no contexto escolar. E, para a
1 Professor PDE, Especialização em Ciências do Movimento Humano, [email protected] 2 Orientadora, Mestrado em Educação, [email protected]
participação dos alunos, na escola, segundo Assis (2001 apud DALMOLIN, 2008, p.6),
para além do simplesmente praticar esporte, “é preciso resgatar os valores que
verdadeiramente socializam, privilegiam o coletivo sobre o individual, garantem a
solidariedade e o respeito humano e levam a compreensão de que o jogo se faz com
o outro e não contra o outro”.
Quanto mais o aluno estiver motivado para a realização das atividades mais
fácil ele se adaptará a elas e tentará de forma correta realizá-las. Desta maneira,
acredita-se que ele se sentirá parte do grupo de alunos e a aula de Educação Física
proporcionará a socialização entre os eles e cada vez mais estimulará o ambiente
harmonioso e o desenvolvimento de suas qualidades físicas básicas.
Uma escola que propicia a inclusão social também propicia ao aluno uma
reflexão de sua prática escolar, favorece os determinantes de uma proposta que
estimula o processo de ensino e aprendizagem. Para tanto é preciso trabalhar de
maneira criativa e lúdica para colaborar significativamente no desenvolvimento pleno
do aluno. Como está expresso no Dicionário Priberam (2012, s/p), criatividade é:
“Capacidade de criar, de inventar. Qualidade de quem tem ideias originais, de quem
é criativo”. Torrance (apud ALENCAR, FLEITH 2003):
[...] define criatividade como um processo de se tornar sensível a problemas, deficiências e lacunas no conhecimento; identificar a dificuldade; buscar soluções, formulando hipóteses acerca das deficiências; testar e retestar essas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados.
No mesmo dicionário, a palavra ludicidade é substantivo feminino e qualidade
de lúdico. Este se refere “[...] a jogo ou divertimento. Que serve para divertir ou dar
prazer”. Para Luckesi (2005, p. 6) a “ludicidade é um estado interno do sujeito que
vivencia situações lúdicas”, ou seja, um estado de espírito do sujeito que experimenta
esta ou aquela atividade ou brincadeira.
Vale ressaltar que o esporte é um fenômeno social e uma prática corporal. Um
dos maiores problemas em trabalhar com o conteúdo esporte, não é pelo conteúdo e
sim, pela forma engessada que alguns professores trabalham. É necessário realizar
atividades prazerosas, por meio da criatividade e ludicidade. Assim, todos devem
participar, sem que haja exclusão, seja do que tem maior facilidade de realizar as
atividades ou daqueles que tem menor facilidade.
Em relação a esses dois aspectos, entende-se que os alunos necessitam de
conviver em um ambiente descontraído, no qual poderão criar e brincar com os amigos
sem cobrança do que está certo ou errado. Tendo nos atos de criar e brincar a
liberdade de escolha, assim formulando conceitos a respeito do que eles observam
enquanto criam e se divertem nas aulas.
Dentro do processo de ensino e aprendizagem, cabe ao professor elaborar as
atividades de forma que o aluno goste de praticar. A diversão pode acontecer, não
saindo do objetivo da aula que foi proposta. O docente tem a responsabilidade de
planejar as atividades e reconhecer, nesse planejamento, se as atividades condizem
com a realidade do aluno. Ele deve buscar a inserção do aluno no processo de ensino
e aprendizagem, bem como a transformação nas aulas práticas de Educação Física.
De acordo com as observações de Palma; Oliveira; Palma (2010, p. 185).
Ao buscar entender o processo de ensino-aprendizagem, o docente deve considerar que a essência desse processo é a relação pedagógica. Esta, por conseguinte, deverá ser considerada como um processo interativo entre o aluno, o docente e o objeto de conhecimento. Essa relação é intencional, planejada e responsável, e por parte do professor e da professora, deve ser entendida como o ato de ensinar.
O esporte tem que ser tratado dentro das escolas o mais distante possível do
esporte de rendimento. Vale comentar que, não significa que se ensinado de maneira
criativa e lúdica, o aluno poderá realizar o movimento do jeito que quiser. O exercício
tem que ser proposto de forma criativa e lúdica e o aluno, por meio dessas atividades
de jogos realizam os exercícios de fundamentos com eficiência.
Assim, nesse processo de ensino aprendizagem, foca-se na participação de
todos os alunos. A preocupação do professor deve ser com o desenvolvimento do ser
humano em sua amplitude e complexidade. Para tanto, entende-se que, as atividades
criativas e lúdicas são as mais adequadas para uma prática esportiva includente.
2 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
A pesquisa teve abordagem qualitativa para análise dos dados. O universo foi
o Colégio Estadual Nóbrega da Cunha (CENC), Município de Bandeirantes, Estado
do Paraná. Os sujeitos foram todos os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental,
sendo N= 87 e n= 80; professores das diferentes disciplinas do mesmo colégio, que
participaram da Reunião Pedagógica do mês de fevereiro de 2014, sendo N= 28 e n=
17; professores participantes do Grupo de Trabalho em rede (GTR), sendo N= 17 e
n= 16. O instrumento foi questionário com perguntas abertas para os alunos e
professores do referido colégio e as questões do GTR para seus participantes.
Para os alunos foi elaborado um questionário com cinco perguntas voltadas
para o desenvolvimento das aulas de Educação Física, com o Conteúdo Estruturante
Esportes e Conteúdo Básico Esportes Coletivos, cada um dos alunos estão
identificados com a letra A (aluno), seguidos de números (ex: A3); os professores do
colégio, responderam cinco perguntas relativas ao Projeto de Implementação do PDE
e estão identificados com a letra P (professores), também seguidos de números; os
demais foram participantes do GTR, com as respostas das questões e comentários
no Fórum e identificados com a letra G (professor do GTR), seguidos de números.
2.1 O que pensam os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental
A primeira pergunta teve como foco o planejamento das aulas. Dos 80 alunos
68 responderam que as aulas foram bem planejadas, oito responderam de um forma
que não tinha nada relacionado com a pergunta, três responderam apenas sim e não
comentaram e um respondeu não, mas também não comentou. A maioria comentou
sobre a conversa que o professor teve com os alunos acerca da importância de
participarem das aulas de Educação Física, seus benefícios durante a aula e no
cotidiano e a metodologia que seria usada para selecionar e organizar as atividades
propostas. Segue abaixo o comentário do aluno identificado como A13:
Sim, as aulas foram planejadas, mais gostosas de fazer, várias coisas diferentes que todos gostam de fazer, as brincadeiras foram divertidas, pois não teve aquela regra rígida que nem em alguns esportes (que brincamos). As aulas foram diversificadas, proporcionada para todos de uma forma simples (sic).
Na segunda questão que tratava da inclusão social cinco alunos responderam
somente que sim; oito alunos deram respostas cujos dizeres não tinham a ver com a
pergunta que abordava a inclusão social; um aluno respondeu que o professor não
trabalhou de forma a incentivar a inclusão de todos os alunos nas aulas; 66 alunos
escreveram que o tema foi abordado nas aulas, que a inclusão social tinha sido ponto
primordial na realização das aulas práticas do projeto, o professor dava espaço para
a opinião de todos os alunos. Também revelaram que o projeto foi explicado e sempre
que haviam dúvidas, o professor esclarecia, sempre respeitando a individualidade dos
alunos e sua importância para a inclusão social. Comentaram a respeito das formas
diferentes que foram criadas para se montar as equipes, não tendo aquela questão
de ser escolhido por último, que tanto exclui os alunos menos favorecidos na prática
esportiva, levando o mesmo a desistir ou se excluir do processo, favorecendo a
exclusão.
A terceira questão perguntava acerca das aulas que foram trabalhadas de
forma lúdica e criativa. Um aluno colocou que não; cinco alunos escreveram que
algumas das atividades propostas foram lúdicas e criativas; três responderam apenas
sim; 73 alunos reponderam que as aulas foram lúdicas e criativas, dentro do que foi
proposto pelo professor no projeto apresentado, diversificando os conteúdos dentro
dos esportes coletivos. Chamou atenção a colocação do aluno A56 que
aparentemente é novo na escola, assim ele respondeu:
Sim. As aulas foram criativas e divertidas, a primeira vez que eu fiz aula de Educação Física nesse Colégio fiquei admirada porque as aulas daqui são muito diferentes das do Colégio onde eu estudava, não sou acostumada a fazer aula, mais gosto de alguns esportes a primeira aula que fiz gostei (sic).
A resposta anterior nos remete aquela velha discussão a respeito do que está
acontecendo nas aulas de Educação Física. Se o professor está desempenhando
corretamente a sua função ou está simplesmente deixando o aluno de lado, sem
realizar as atividades a seu gosto, sem exigir a participação efetiva do educando.
Na quarta questão que abordava se as atividades forma diversificadas, dois
alunos comentaram que não foram diversificadas as aulas; três alunos apenas
escreveram sim; quatorze alunos deram resposta que não tinha sentido em relação
ao que estava sendo perguntado; sessenta e um alunos aprovaram a forma que as
aulas foram trabalhadas dizendo que foram diversificadas e até mesmo citando
algumas modalidades esportivas coletivas que foram trabalhadas, como comenta o
aluno (a) A15 “... ele saiu daquela aula normal tipo o mesmo esporte sempre e
começou a fazer brincadeiras em que todos os alunos participassem e pudessem
interagir”. Então houve a diversificação e com isso os alunos participaram de forma
mais efetiva e só sabiam da modalidade esportiva que ia ser trabalhada na hora que
chegava à aula, sempre ficando na expectativa de qual seria a modalidade a ser
trabalhada e como seria a próxima aula.
Na quinta questão os alunos apontam as atividades que mais ou menos
gostaram. Somente dois alunos não responderam a questão. Se fosse somado os
números das respostas de quem gostou de uma determinada modalidade ou de todas
ultrapassaria o número de alunos entrevistados, porque teve aluno que respondeu
mais de uma opção e foram computadas todas as opções de respostas. O que
surpreendeu foi o futsal ter dezessete marcas de mais gostaram e nove dos alunos
que menos gostaram. Antes da pesquisa acreditava-se que seria a o esporte coletivo
que os alguns mais citariam e não aconteceu (afinal o futebol é a paixão nacional). O
voleibol obteve maior aceitação, vinte e seis alunos disseram que as aulas desse
esporte foram as mais interessantes. Por outro lado teve a maior quantidade de votos
de atividade que menos gostaram: doze. O basquetebol vem em segundo nas duas
opções, com vinte e dois que mais gostaram e 10 dos que menos gostaram de realizar.
O handebol foi o esporte pouco lembrado, somente três alunos declararam que foi a
atividade que mais gostaram e dois que menos gostaram. Treze alunos escreveram
que gostaram de tudo, não teve nenhum aluno que disse não ter gostado de nada e
sete alunos declararam não teve atividade que não gostou. Houve boa diversificação
nas respostas e isso mostra que os alunos gostam de diversas atividades, basta
realizar um planejamento adequado tornando as aulas criativas e lúdicas. Desta
maneira o professor poderá trabalhar diversas modalidades esportivas que sempre
vai atingir um bom número de alunos. Essas aulas podem colaborar para que parem
as futsal sem orientação, ou seja, jogar a bola para o aluno e pronto. Uma declaração,
a do aluno A3, vem mostrar o quanto um projeto de inclusão social pode ajudar a a
participação nas aulas de Educação Física, assim ele escreveu: “Às vezes não faço
aula por vergonha. Não sei jogar.”.
2.2 O que pensam os professores das diferentes disciplinas.
Os 28 professores do CENC foram apresentados ao projeto relativo a esta
pesquisa no início do corrente ano letivo e, em seguida, desenvolveram algumas
práticas planejadas de atividades esportivas criativas e lúdicas, iguais aquelas que
seriam trabalhadas com os alunos. Assim, foram elaboradas cinco questões
referentes ao projeto. Dezessete professores responderam ao questionário.
Desta maneira, na questão de número um, a respeito do projeto, todos citaram
que a apresentação foi clara sendo de fácil compreensão e também de suma
importância para os alunos, conforme a citação do professor identificado como P2.
Sim o projeto veio de encontro com as necessidades contemporâneas dos alunos de se sentirem incluídos e participarem das aulas por meio de “brincadeiras” organizadas e criativas dirigidas pelo professor, percebi também por parte do mesmo, uma abordagem diferenciada que chama a atenção dos alunos para com a prática de esportes, sem aquela obrigatoriedade ou” cobrança” exigida pelo sistema. Foi à demonstração de uma aula leve, suave, alegre que deixam todos os participantes felizes e com gostinho de quero mais.
Na segunda questão foi tratado do objetivo do projeto: demonstrar a
importância dos benefícios que os esportes coletivos, com elementos criativos e
lúdicos, trazem para os alunos. Todos os docentes concordaram que a prática condiz
com o objetivo, também houve professores que comentaram que apesar de não
gostarem de esportes, conseguiram realizar as atividades como cita o professor
identificado como P9:
Sim, pois no meu caso particular eu uma pessoa que nunca gostei de esporte, participei das atividades propostas pelo professor e me diverti muito, não queria parar. Podemos concluir que, o esporte melhora a autoestima, propicia a amizade e dá a sensação de bem estar e
alegria.
É importante ressaltar que esse professor não estava acostumado a realizar
esses tipos de atividades, se interessou e ainda sentiu prazer na participação, serviu
como motivação para aplicação do projeto com os alunos e também pode transformar
a visão dos demais docentes de outras disciplinas sobre a Educação Física.
Com relação à problematização relacionada à nota, fruto da avaliação
bimestral, abordada na questão de número três, o resultado foi o de que quinze
professores concordaram que a preocupação de atribuição de notas, pode se associar
à realização das atividades pelos alunos. Ela não deveria ser o fator determinante da
prática das aulas de Educação Física, todos teriam que realizar as atividades por
prazer. Um dos docentes afirmou que é muito difícil o aluno participar das aulas, se
não for obrigatório a mensuração das notas. Outro professor argumentou que não
deveria ser obrigatório à participação do aluno nas aulas de Educação Física.
Sobre a questão de número quatro, que aborda se as aulas tiveram caráter
lúdico, todos os professores concordaram que sim e comentaram a vontade de
continuar a “brincar, rir, e o gostinho que ficou de quero mais”, sem o compromisso de
acertar, mais sim uma atividade prazerosa, na qual todos os participantes tentavam
superar a si próprio, os seus limites, ou seja, competir consigo mesmo e não com o
outro. Todos juntos fazendo parte de uma ideia que é, se divertir durante as aulas,
resgatando memórias construídas ao longo do processo educacional que estavam
esquecidas, de como é gostoso se divertir através de atividades criativas e lúdicas.
Na última questão, foi abordada a criatividade nas aulas, todos os professores
enfatizaram a criatividade e a organização, levando em conta a individualidade do
aluno e as atividades sendo realizadas do mais fácil para o mais difícil. Também
destacaram que, tanto as atividades realizadas, quanto as que foram somente
explicadas, vem ao encontro desta pesquisa. Relataram ainda a importância das aulas
trabalhadas de forma criativa e lúdica. Sendo muito importante a abordagem que se
foi dada ao conteúdo como cita o professor identificado por P1:
Houve criatividade principalmente no tocante aos mecanismos de realização das atividades. Importante ressaltar que os novos critérios foram apresentados e os próprios alunos instigavam o professor sobre a forma convencional da atividade esportiva realizada. Ou seja, o aluno aprende
despertado pelo próprio interesse.
Essas respostas foram relevantes, na medida em que, também informaram aos
demais professores, acerca de uma proposta diferente de trabalhar os conteúdos de
Educação Física para poder atingir a todos os alunos.
2.3 O que pensam os professores de Educação Física participantes de GTR
A discussão com outros professores de Educação Física, se deu através do
Grupo de Trabalho em Rede (GTR)3, no qual foram inscritos dezessete professores e
dezesseis participaram das atividades. No GTR são ofertadas três maneira de
participação, nas quais todos devem se posicionar: fóruns (sala de discussão com
tema determinado e com intervenção do pesquisador), diários (espaço para relatar as
impressões relacionadas ao tema discutido) e tarefas (atividades de pesquisas ou
3 Ambiente virtual de Educação à Distância, que faz uso da Plataforma Moodle, o qual compõe as
atividades do Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE), do Estado do Paraná.
respostas à determinada questão). O tema de discussão foi a inclusão social dos
alunos, nas aulas de Educação Física, por meio dos esportes coletivos: uma proposta
criativa e lúdica
Primeiro foi colocado para os participantes o projeto para ser lido e analisado.
A maioria dos professores fizeram elogios e demonstraram interesse no assunto sobre
a inclusão social de forma lúdica e criativa. Dois deles confundiram a inclusão social
com inclusão de alunos com necessidades especiais, que não é o foco do trabalho.
Nesta pesquisa focou-se a inclusão de todos os alunos nas aulas de Educação Física,
se na turma que for trabalhar tiver algum aluno portador de necessidades
educacionais especial, ele faz parte do processo, porque a inclusão social atinge a
todos. Todos os professores demonstraram interesse em aplicar a proposta nas suas
aulas, no decorrer do bimestre, para que no final do GTR trocássemos experiências e
atividades desenvolvidas nas turmas.
No segundo trabalho que foi proposto aos professores participantes que
descrevessem o seu entendimento a respeito de ludicidade e criatividade. As
respostas foram bem diversificadas, alguns professores recorreram a autores outros
colocaram com suas próprias convicções, mas sempre enfatizando que a ludicidade
ou o lúdico é a atividade realizada com prazer, a diversão, saindo da obrigatoriedade
e da imposição. Para eles, realizar atividades de forma lúdica é aprender brincando,
sendo uma ferramenta pedagógica que motiva os nossos alunos a cada vez mais
participarem e conseguirem aprender.
Alguns buscaram na literatura autores que tratam do assunto, como o G15, que
apresentou uma citação de Pinto e Silveira (2001), na qual esses autores:
[...] apontam o lúdico como uma das características mais importante da vida em geral e do movimento humano. Os autores caracterizam o lúdico como a expressão do desafio, da curiosidade do novo, do inusitado, do envolvimento e do prazer, seja para aprender, para ensinar ou para viver.
Ainda complementou que, “tendo em vista esta definição fica claro por que
aprendemos de maneira realmente através do lúdico” (sic).
O nosso trabalho vem ao encontro do que é colocado pelos autores, acredita-
se que o esporte coletivo, trabalhado de forma criativa e lúdica é o ponto inicial para
a transformação de nossas aulas de Educação Física. Desta forma, se mostra que
todos os conteúdos estruturantes da Educação Física tem seu espaço, não
precisando tratar nenhum deles como o vilão da disciplina, como acontece com a
Educação Física quando é trabalhado o conteúdo esporte.
Por meio da criatividade e ludicidade o aluno pode melhorar a sua prática,
vivenciando uma experiência de forma alegre e acreditando no que está fazendo e da
forma que está realizando as atividades.
Outro comentário que se destacou foi do G13, que se remeteu a Luckesi (2005),
quando o autor afirma que:
[...] o ser humano quando age ludicamente, vivencia uma experiência plena,
ou seja, o ser humano está pleno e inteiro nesse momento não havendo lugar durante a realização dessa experiência, para qualquer outra coisa além da atividade que está sendo realizada. Isto é bem verdade basta lembrarmos quando estamos vivenciando o jogo lúdico o envolvimento é tão grande que não pensamos em mais nada, apenas no jogo.
Essa concepção é o que se propõe desde o início do trabalho, que os alunos
se entreguem à aula de Educação Física de forma plena, sem querer ficar parando
para se ater a outras questões como celulares ou conversas paralelas, que estejam
sentido prazer de estarem fazendo a atividade proposta e organizada pelo professor.
Quando foi abordado o assunto sobre criatividade o GTR apresentou respostas
parecidas, a arte de recriar de transformar, de inovar, ferramentas que vem de
encontro a uma nova proposta pedagógica focado em aulas diferenciadas. Nelas o
aluno não tem o conteúdo trabalhado sempre da mesma forma, engessados em filas
e colunas com movimentos repetidos, de forma mecanizada, sem respeitar a
individualidade e suas experiências de vida de cada sujeito. Nas aulas propostas o
aluno tem que realizar de forma correta os fundamentos de modalidade esportiva que
está sendo trabalhada, mas de forma a respeitar o seu conhecimento para ter a
criatividade de solucionar os problemas ou atender uma situação inesperada, com
ações novas e que possibilite realmente o seu aprendizado. O professor tem que ser
criativo na hora de planejar as suas aulas, mas o aluno também tem de ser criativo
para solucionar problemas que possam acontecer dentro do processo educativo e
ensino aprendizagem.
Outro assunto abordado nas discussões como os professores do grupo de
trabalho em rede (GTR) foi à questão do planejamento. Para que as aulas sejam
trabalhadas de forma lúdica e criativa, não é concebível que o professor vá para a
aula sem um planejamento prévio, sem ter pensado e repensado está aula, se sair
algo errado vai ter a criatividade para transformar com sua experiência de trabalho.
Não se pode chegar à aula, por mais experiente que seja, e tentar fazer uma aula nos
moldes que estamos pensando, sem um planejamento prévio. É necessário entender
que o primeiro passo para se realizar aulas criativas e lúdicas para a inclusão social,
é o planejamento realizado pelo professor. Os participantes deixaram isso bem claro
em suas respostas, como nos traz o G12:
Dentro de um planejamento para tornar as aulas mais lúdicas e criativas, é preciso adotar uma metodologia bem elaborada, articulada com saberes teórico-prático bem definidos, com objetivos claros e conteúdos significativos. É necessário que o professor esteja sempre bem preparado, e que em seu plano de aula, conste sempre conteúdos e atividades diversificadas, voltados para a aprendizagem compreensiva, sem se preocupar com performances desportivas e sim com o prazer da prática.
Dentro do que foi discutido no grupo, essa visão é mesma dos demais
professores. No fórum desse tema (planejamento) todos do grupo apresentaram a
visão da importância do planejar as aulas e, para isso, deve-se respeitar o
conhecimento prévio dos alunos, através de diagnósticos e avaliações para poder
traçar os objetivos e modificar o percurso das aulas durante o processo de
aprendizagem. Para tanto é preciso adaptar os conteúdos trabalhos, de acordo com
a turma na qual será aplicado, pois é sabido da diferença existente entre turmas do
mesmo ano e do mesmo período na forma de se trabalhar.
Também foram abordados e argumentados várias situações que leva o aluno
a não querer participar das aulas de Educação Física e foram elencados diversos
problemas nas escolas para a prática efetiva nas aulas. Dentre outros fatores foram
os principais: a diminuição da carga horária; violência e bullying; alunos menos
motivados e o uso incorreto pelos alunos das novas tecnologias; situações que levam
à exclusão do processo de ensino aprendizagem, como as aulas de Educação Física
em que alguns professores acabam por oportunizar apenas os mais habilidosos ou
que já praticam a modalidade esportiva; dentro da escola deve ser criado espaços
para atender os alunos atletas, que treinam para competições representam a escola
ou até mesmo o estado; a educação tem de ser o foco principal e que não pode
acontecer é querer cobrar a performance dentro das aulas de Educação Física
transformando-a em treinamento; combater a aula de jogar a bola e deixar o aluno
fazer o que ele quiser. Tratando a respeito de alguns desses assuntos Finck (2011 p.
90-91), faz a seguinte observação:
Sabemos que o esporte não é o conteúdo único a ser tratado nas aulas de Educação Física, bem como seus objetivos não podem ser direcionados ao rendimento, e sim à integração e à inclusão dos alunos no desenvolvimento das atividades esportivas, pois todos têm o direito a ter acesso à vivência e ao conhecimento do esporte. Em relação aos encaminhamentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento do esporte, observamos muitos professores deixaram não só o rendimento e a técnica de lado, mas também outros aspectos em relação ao seu conhecimento, pois há, muitas vezes, falta de comprometimento educacional com seu ensino.
Vale registrar que, após a discussão acima alguns pediram desculpa pelo
desabafo das situações que postaram e da falta de respeito como é tratada a
Educação Física em várias escolas, sendo o ponto negativo dessa temática.
2.4 Algumas considerações
Nas discussões dos três instrumentos de pesquisa, o que ficou evidente é que
todos corroboram com a mesma ideia, a de que o professor é a parte principal no
processo de inclusão dos alunos nas aulas, sendo responsabilidade do professor
planejar, pensar e repensar a sua prática docente. Ainda que, através de aulas
criativas e lúdicas se pode melhorar a nossa prática pedagógica e com isso diminuir
a exclusão e propiciar o favorecimento de atitudes de respeito, valorizando a
individualidade e o tempo que cada qual leva para aprender.
O aspecto que chamou atenção é que pode-se continuar respeitando o esporte
como fenômeno social e o poder de transformação do mesmo na sociedade, e não
querendo que o Conteúdo Estruturante Esporte, seja o vilão do processo de ensino
aprendizagem, sendo competitivo e excludente. Observou-se que ele pode ser
trabalhado de maneira que os alunos participem das atividades criativas e lúdicas,
favorecendo o processo de inclusão de todos nas aulas de Educação de Física.
As questões abordadas, bem como suas discussões, incentivam a sempre
procurar novas formas de se trabalhar a Educação Física, mas nada como na prática
verificar a vontade e a disposição de alunos que sempre foram excluídos do processo
ou até mesmo marginalizados. Realizar as atividades com aquele ar de satisfação por
ter conseguido fazer a aula junto com os demais, de ter participado efetivamente, não
como coadjuvante do processo de ensino aprendizagem, significa muito na vida
escolar e por que não na vivência em sociedade.
Todas essas situações trazidas à tona nas discussões, são determinantes no
processo de ensino aprendizagem, não é possível realizar a inclusão social, sem aulas
bem planejadas de forma lúdica e criativa. A transformação social para a vida do
aluno, que está inserido nesse processo, dependerá da transformação de nossas
aulas.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No trabalho docente sempre veio a preocupação com os menos favorecidos,
no que se refere ao respeito à coordenação motora, habilidade e desenvolvimento nas
aulas de Educação Física. Observava-se os alunos, que nas escolhas das equipes
para prática de esportes coletivo, quase imploravam para serem escolhidos, não
ficando por último, que é uma forma de humilhação e a evidência de que era o pior da
sala. Não concordava-se com essa forma de organizar equipes e assim, ao longo dos
anos, se desenvolveram estratégias para que isso não ocorresse mais nas aulas. Aos
poucos percebeu-se que era uma forma de inclusão e a importância de pequenos
gestos para alguns alunos, os quais melhoravam a participação e desenvolviam a
autoestima.
Levando em consideração a inclusão social procurou-se desenvolver esta
pesquisa, tendo como elemento principal, a participação efetiva de todos os alunos.
No processo de construção do conhecimento buscou-se o aperfeiçoamento e
qualificação para que a educação desse um salto na qualidade, na busca por esse
aperfeiçoamento das aulas de Educação Física, com o Conteúdo Estruturante Esporte
Coletivo.
O objetivo geral desse projeto foi demonstrar a importância dos benefícios que
os esportes coletivos, com elementos criativos e lúdicos, trazem para os alunos. Não
foi uma utopia e sim um projeto baseado em literaturas que defendem essas situações
dentro das aulas de Educação Física, demonstrando a sua importância no processo
de ensino e aprendizagem. Essa meta foi cumprida com a aplicação das nos 9º Anos
do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Nóbrega da Cunha, e seus resultados.
As atividades propostas incentivaram a participação da maioria dos alunos,
demonstrando assim, que por meio de elementos criativos e lúdicos é possível
transformar as aulas com conteúdo esportivo, obtendo grande aceitação dos alunos.
De acordo com as respostas dos instrumentos, o prazer de participação nas aulas
também se destacou, possibilitando maior alegria no desenvolvimento das aulas.
Conclui-se que a pesquisa foi relevante para a melhoria das aulas de Educação
Física e da participação dos alunos que eram excluídos do processo de ensino
aprendizagem, anteriormente. Assim, acredita-se na importância da continuidade
desse tipo de pesquisa que relaciona o ensino escolar com a criatividade e a
ludicidade. Também é desejo que professores que acreditam no trabalho com o
esporte educacional, como uma forma de transformação social na vida do educando,
sempre se dediquem a organização e planejamento das aulas.
Vale lembrar que se está em constante construção do saber, interferindo na
vida dos alunos de forma positiva ou negativa. Da mesma forma que este artigo
defende a inclusão social, se não for bem planejado e dirigido, pode acabar levando
os alunos a se excluírem do processo. Para isso é preciso estar atentos às atitudes
de respeito mútuo e abordar os alunos que não queiram realizar a atividade de forma
convincente dos benefícios que a Educação Física propicia. Neste caso, em
específico, o esporte coletivo traz de benefícios, mas trabalhado criativa e
ludicamente, porque assim favorece todo um processo de inclusão e transformação
social.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Eunice Soriano de; FLEITH, Denise de Souza. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3. ed. Brasília: UnB, 2003. 220 p. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 2005. FINCK, Silvia Christina Madrid, A Educação Física e o esporte na escola: cotidiano, saberes e formação, 2. Ed. Ver – Curitiba: Ibpex, 2011. PALMA, Angela Pereira Teixeira Victória; OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bassoli; PALMA, José Augusto Victória. Educação Física e Organização Curricular: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio. 2. ed. Londrina: Eduel, 2010. DALMOLIN, Marcio Luiz. As contradições que envolvem o ensino do esporte na escola, 2008. Disponível em: <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/.../2008_ufpr_edfis_md_marcio_luiz_ dalmolin.pdf> Acesso em: 25 Abr. 2013.
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