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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
MAPAS CONCEITUAIS E PRODUÇÃO ESCRITA: POSSIBILIDADES PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE GRANDEZAS E MEDIDAS
Giselli Mocelin Martins1
Amauri Jersi Ceolim2
Resumo: Com o objetivo de investigar se o uso de Mapas Conceituais contribui para o ensino e aprendizagem do conteúdo Grandezas e Medidas no 6o ano, bem como a produção escrita relacionada aos mapas, foi realizado um trabalho utilizando mapas conceituais e produção escrita como recursos para o ensino e aprendizagem do referido conteúdo numa turma de 6o ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Dr. Osvaldo Cruz, município de Campo Mourão/PR. O trabalho consistiu na realização de atividades teóricas e práticas envolvendo os conceitos de grandeza e medidas de comprimento e superfície. Foram utilizados mapas conceituais para a sistematização dos conceitos estudados, assim como produções escritas com o objetivo de refletir sobre os assuntos tratados em sala. Para esta turma, não houve um resultado satisfatório quanto à elaboração dos mapas, uma vez que a maioria dos alunos não apresentava domínios de leitura e escrita suficientes para formular as proposições de forma autônoma, bem como organizar o diagrama de forma clara. Das reflexões finais, conclui-se que, apesar das dificuldades, torna-se cada vez mais necessário investir em novas metodologias, pois, como estratégia de ensino, os mapas contribuíram para o aprendizado dos alunos, assim como as elaboração das atividades escritas.
Palavras-chave: Mapas Conceituais. Escrita. Grandezas. Medidas.
Introdução
As discussões referentes à aprendizagem em Matemática têm se
intensificado nos últimos anos, principalmente devido ao baixo rendimento
apresentado pelos estudantes nas avaliações externas aplicadas na educação
básica. Dados da Prova Brasil3 de 2011 revelam que somente 14% dos alunos
avaliados apresentam um conhecimento adequado na competência de resolução de
problemas, no 9o ano na rede pública de ensino paranaense. Analisando o
percentual de acerto por descritores do SAEP4, identificamos menor número de
acertos nas questões relacionadas à resolução de problemas, o que atesta a
dificuldade de leitura e interpretação e o resultado apresentado na Prova Brasil.
Diante deste contexto, percebemos que estudar Matemática exige do
educando muito mais do que manipular números e realizar operações para se
chegar a um resultado. Para compreender a Matemática, o estudante precisa
mobilizar outras habilidades que são fundamentais para o desenvolvimento do
1 Professora PDE, especialista em Educação Matemática - UNESPAR – Campus de Campo Mourão e em Tecnologias na Educação - PUC-RJ, e-mail: [email protected].
2 Professor da UNESPAR – Campus de Campo Mourão, mestre em Métodos Numéricos em Engenharia – UFPR, e-mail: [email protected].
3 Dados disponíveis no portal: http://www.qedu.org.br/estado/116-parana/proficiencia4 Sistema de Avaliação da Educação Básica do Paraná, implantado em 2012.
pensamento matemático, como a leitura, a interpretação e a escrita.
Neste sentido, buscamos uma alternativa que possa contribuir para mudar
esta realidade, promovendo uma aprendizagem com maior significado para o aluno,
de modo que ele possa compreender os conceitos estudados e estabelecer relações
entre os mesmos, consolidando seus conhecimentos da disciplina. Para isso, por
meio de uma pesquisa de abordagem qualitativa, desenvolvida no âmbito do PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional) e realizada no Colégio Estadual Dr
Osvaldo Cruz – EFM, município de Campo Mourão/PR, analisamos o uso dos
mapas conceituais e da produção escrita como possibilidades para o ensino e
aprendizagem de grandezas e medidas no 6o ano do Ensino Fundamental.
Os mapas conceituais são ferramentas utilizadas para representar conceitos e
suas relações. Foram idealizados por Joseph Novak, tendo como princípio a teoria
da aprendizagem significativa de David Ausubel. Autores como Moreira (2006),
Marriott e Torres (2007) e Santos (2005) apresentam os mapas conceituais como
uma alternativa para promover o conhecimento do aluno. Os mapas podem ser
utilizados como recurso de estudo, estratégia de ensino ou instrumento de
avaliação.
Na mesma linha, a utilização da produção escrita nas aulas de matemática é
apresentada por Powell e Bairral (2006) e Santos (2005) como uma atividade de
grande potencial para a melhoria do aprendizado matemático dos alunos,
considerando a interação destes com a escrita um momento crucial para a
organização do seu pensamento e do conteúdo estudado. Apresentamos a seguir
uma breve exposição teórica sobre estes dois campos utilizados no presente
trabalho.
Mapas Conceituais
O mapeamento conceitual é uma técnica de ensino e aprendizagem criada
por Joseph Novak em 1972 e como base, utiliza-se da Teoria da Aprendizagem
Significativa de David Ausubel. Segundo Aragão (1976, p. 11), Ausubel “preocupa-se
[...] com a construção de um modelo teórico de aprendizagem que explica como os
alunos adquirem conceitos e generalizações que são ensinados na escola, e como
resolvem problemas inerentes às tarefas escolares”. Para Ausubel, aprender
significativamente é ampliar e reconfigurar ideias já existentes na estrutura mental e,
com isso, ser capaz de relacionar e acessar novos conteúdos.
Os Mapas Conceituais podem ser entendidos como “diagramas
bidimensionais que procuram mostrar relações hierárquicas entre conceitos de um
corpo de conhecimento e que derivam sua existência da própria estrutura conceitual
desse corpo de conhecimento” (MOREIRA, 2006, p. 10). Os Mapas Conceituais são
formados por conceitos conectados entre si por frases de ligação (expressas por
verbos) a esse conjunto: Conceito 1 – frase de ligação – Conceito 2, dá-se o nome
de proposição (Peña, 2005). A figura 1 sintetiza uma definição de Mapas
Conceituais.
Figura 1 – Mapa Conceitual sobre Mapas Conceituais.Fonte: Peña, 2005, p.48.
Existem várias formas de construir um Mapa Conceitual. Um modelo bastante
utilizado é o baseado no princípio ausubeliano da diferenciação conceitual
progressiva. Nesta estrutura, os conceitos mais gerais se encontram na parte
superior do mapa, e os menos inclusivos, na parte inferior (MARRIOTT e TORRES,
2007, PEÑA, 2005). Este modelo propõe uma hierarquia vertical, contudo,
ressaltamos que não existem regras fixas a serem observadas na construção de um
Mapa Conceitual. Para Moreira (2006, p. 11), “[...] esse modelo se presta a
confusões, pois facilmente leva à ideia, errada, de que mapas conceituais são
quadros sinóticos ou organogramas conceituais”. O exercício de criação do mapa
não deve restringir-se a um ou outro modelo, seja ele hierárquico ou não, o que
importa é o processo de construção e a validade das proposições estabelecidas.
Um mapa conceitual é como um retrato instantâneo de um aluno num determinado momento, ou seja, é a imagem mental que o aluno tem sobre um assunto naquele instante. Esta imagem pode e deve evoluir com as aulas de Matemática. Por isso o professor pode e deve utilizar esta estratégia de uma forma sistemática e continuada para que os alunos possam beneficiar-se do uso deste instrumento de ensino (SANTOS, 1997 apud SANTOS, 2005, p. 133).
O Mapa Conceitual pode ser utilizado de várias maneiras no processo de
ensino e aprendizagem: como instrumento de avaliação, como recurso para
apresentação de um conteúdo, como atividade individual/grupo e como estratégia de
estudo. O objetivo do trabalho, com este recurso, é proporcionar ao estudante uma
reflexão sobre o seu conhecimento de forma que consiga compreender os conceitos
estudados e estabelecer relações com outros conceitos em diferentes contextos.
A escrita e as aulas de Matemática
Estudos como o de Soares e Maciel (2000, p. 7) afirmam que “não há como
não reconhecer, hoje, na alfabetização, o problema básico do sistema educacional
brasileiro”, ou seja, os domínios básicos de leitura e escrita se configuram como o
principal entrave das condições de aprendizagem dos estudantes. Pesquisas
anteriores, como a de Silva (1994), já apontavam esta realidade, a autora reitera que
“a escrita expressa não só o próprio desenvolvimento da criança, mas também os
diversos fatores que interferem na interação com o adulto, com as outras crianças,
além do conteúdo da tarefa e o interesse e a motivação da criança” (SILVA, 1994, p.
31), em outras palavras, a elaboração da escrita se dá no contexto da interação
social e, por este motivo, é importante explorá-la em todas as áreas do currículo
escolar.
Nesta mesma linha, autores como Santos (2005) e Powell e Bairral (2006),
ressaltam a importância das atividades de escrita nas aulas de Matemática. Estas
atividades podem ser potencializadas sempre que o aluno for estimulado a produzir
textos para explicar seu raciocínio, descrever e interpretar dados apresentados em
tabelas e gráficos, formular situações-problema, elaborar sínteses ou descrever
processos. Além destas, a elaboração de relatórios, justificativas, argumentos e
respostas também são situações em que a escrita pode ser mobilizada.
Santos (2005) cita a utilização de mapas conceituais complementados por
textos para o acompanhamento e verificação da aprendizagem. Essa
complementação dos mapas conceituais com textos explicativos colabora para a
reflexão sobre o que foi representado e reforça a validade das ligações e
proposições.
Ainda segundo a autora, “[...] a linguagem escrita nas aulas de Matemática
atua como mediadora, integrando as experiências individuais e coletivas na busca
da construção e apropriação dos conceitos abstratos estudados” (SANTOS, 2005, p.
129). O uso da escrita, seja textual ou em forma de mapas e diagramas, pode
colaborar para ampliar a aprendizagem, pois favorece a capacidade de se
estabelecer vínculos a partir da descoberta dos conhecimentos.
A escrita é uma ferramenta potencial no desenvolvimento do pensamento
matemático e pode ser utilizada em diferentes momentos e séries. Powell e Bairral
(2006) afirmam que a utilização de instrumentos como diários, portfólios, relatórios e
outros gêneros deve ser constante na prática docente. De acordo com os autores, a
escrita permite a alunos e professores examinarem o desenvolvimento do
pensamento matemático, pois oportuniza o trabalho com conceitos e termos e, a
reflexão sobre o que estão aprendendo, promove confiança e motivação para fazer e
entender matemática.
Contextualização e procedimentos metodológicos
A pesquisa teve como cenário o Colégio Estadual Dr. Osvaldo Cruz – EFM,
situado no município de Campo Mourão. O colégio atende cerca de 500 alunos
oriundos tanto da região central como da periférica, nos períodos matutino,
vespertino e noturno. Os sujeitos envolvidos na pesquisa foram 23 alunos do 6o ano
do Ensino Fundamental, aqui denominados por A1, A2... (aluno 1, 2...), a
implementação do projeto ocorreu no primeiro semestre do ano letivo de 2014,
foram ministradas aulas expositivas e práticas com realização de atividades
individuais e em grupo.
Como metodologia, optamos pela abordagem qualitativa. Nesta modalidade, o
pesquisador é o principal instrumento de investigação, utilizando o ambiente natural
como fonte direta para a obtenção dos dados (PRÉCOMA, SALOMÃO e PERIM
2000). A pesquisa qualitativa prioriza procedimentos descritivos e o processo de
análise dos dados é orientado pelo referencial teórico que está sendo utilizado.
Para a coleta de dados, utilizamos como instrumentos a observação, as
produções escritas dos alunos (mapas e textos) e a aplicação de um questionário ao
término da atividade implementada.
O trabalho foi divido em quatro partes: a primeira foi uma introdução ao uso
dos mapas conceituais, em que utilizamos um vídeo e um texto que serviram de
base para a elaboração de mapas conceituais com os alunos; na segunda,
abordamos os conteúdos de grandezas e medidas por meio de atividades
envolvendo instrumentos de medida, produtos do dia a dia (embalagens de bolacha,
leite, água, entre outros) e unidades de medida; na terceira parte, exploramos as
medidas de comprimento, com texto, vídeo e atividades sobre as medidas
padronizadas e não padronizadas e o sistema métrico decimal; na última parte,
trabalhamos com as medidas de área, perímetro e medidas agrárias. Selecionamos
as atividades sobre perímetro e área para realizarmos as análises, pois, devido à
quantidade de atividades desenvolvidas durante o trabalho, não conseguiríamos
fazer a exposição completa das mesmas dentro dos limites de extensão deste texto.
Cabe, neste momento, explicitar que a intenção inicial do trabalho era que os
alunos produzissem seus mapas conceituais a partir das atividades realizadas.
Contudo, logo na primeira atividade, observamos que grande parte da turma possuía
muita dificuldade de leitura e organização da escrita. Dos 23 alunos, 11
apresentavam grande dificuldade de leitura e, nos textos, apresentavam ideias
desorganizadas, falta de pontuação e acentuação, erros de ortografia, palavras
faltando sílabas e caligrafia ruim. Os textos abaixo exemplificam o quadro
apresentado por estes alunos. O restante da turma possuía os domínios básicos de
leitura e escrita.
A3:A6:
Figura 2 – Textos produzidos pelos alunos A3 e A6.Fonte: Arquivo pessoal.
Devido a esta situação, a maioria não conseguiu organizar as proposições do
mapa conceitual, bem como o mapa conceitual de forma clara em seus cadernos,
gerando diagramas confusos e de difícil leitura. Além disso, todos apresentavam a
mesma estrutura, dependente da organização de “esqueletos” feitos pela professora,
como pode ser observado nos mapas a seguir, produzidos pelos alunos no
laboratório de informática. Utilizamos o editor de slides Impress para fazer os mapas
procurando facilitar a organização das proposições, contudo, a dificuldade maior
continuou sendo a elaboração das frases, pois os alunos não apresentavam
autonomia na criação das mesmas, mesmo após as atividades realizadas em sala
com a professora.
Figura 3 – Mapas sobre medidas produzidos pelos alunos.Fonte: Arquivo pessoal.
Por este motivo, optamos por mudar o encaminhamento do trabalho e
utilizamos os mapas conceituais como estratégia de ensino, para sistematizar o
conteúdo explicado e retomar os conceitos, pois, conforme apontado por Peña
(2005, p. 83), “pode-se elaborar um mapa conceitual que resuma os pontos básicos
ou principais da discussão e que sirva para avaliar a prática realizada”.
Esta mudança não prejudicou o desenvolvimento do trabalho uma vez que, ao
final das atividades, pudemos perceber que os alunos estavam mais familiarizados
com o recurso e, com mais algumas práticas, poderiam produzir seus primeiros
mapas. Segundo Marriott e Torres (2007, p. 163), “a construção de mapas
conceituais promove uma mudança na maneira de estudar, e é natural que alguns
alunos se sintam desconfortáveis a princípio”, para as autoras, quando os mapas
são gerados a partir da leitura de um texto, por exemplo, essa leitura passa a ser
uma atividade diferente da que o aluno está acostumado. Transpondo essa relação
para as aulas de matemática, a estranheza torna-se ainda maior, pois,
tradicionalmente, escreve-se muito pouco nas aulas desta disciplina, logo, as
dificuldades acentuam-se um pouco mais.
Análise das atividades
Realizamos várias atividades sobre medição de perímetro e área e utilizamos
os mapas conceituais (figura 4) para sistematizar o conteúdo, finalizando com as
atividades escritas (figuras 5 a 8).
Figura 4 – Mapas conceituais sobre perímetro e área.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 5 – Texto sobre perímetro, aluno A23.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 6 – Texto sobre perímetro, aluno A5.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 7 – Texto sobre área, aluno A10.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 8 – Texto sobre área, aluno A2.Fonte: Arquivo pessoal.
Observando os textos sobre perímetro e área produzidos pelos alunos, alguns
ilustrados acima (figuras 5 a 8), podemos perceber que a maioria deles conseguiu
relatar como foram realizadas as atividades práticas, bem como expressar o que era
o perímetro e área. Este fato reforça a afirmação de Powell e Bairral (2006, p. 26): “a
escrita força os interlocutores a refletir, diferentemente, sobre sua experiência
matemática”. Ou seja, a maioria dos alunos teve confiança para reproduzir seu
entendimento dos mapas estudados nas aulas e relacioná-los com a atividade
prática realizada.
Podemos observar também, que esses alunos fizeram os registros de forma
simples, no entanto, se utilizaram de palavras e proposições dos mapas conceituais,
apresentados nas aulas anteriores (figura 4), o que reforça a afirmação de Powell e
Bairral (2006) de que a escrita ajuda os alunos não só a adquirirem um vocabulário
rico como também a usarem-no no contexto da sua compreensão matemática.
Diferenciando perímetro e área - Iniciamos esta aula pelo mapa conceitual,
pois se tratava de uma retomada dos conteúdos vistos anteriormente. Moreira
(1997) e Peña (2005), reiteram que um mapa conceitual pode ser utilizado tanto
para apresentar um conteúdo novo quanto para retomar um assunto já estudado.
Retomamos os conteúdos estudados nas últimas aulas, assim como as
atividades práticas realizadas utilizando o mapa conceitual (figura 9). Ressaltamos a
importância de o professor sempre explicar o mapa para os alunos, independente se
no início ou término da atividade, pois é preciso deixar claras as relações entre os
conceitos presentes no mapa, como afirma Moreira (1997, p. 5), “diferentemente de
outros materiais didáticos, mapas conceituais não são auto-instrutivos [...]”.
Após este momento, propusemos atividades para calcular perímetro e área
na malha pontilhada, conforme ilustra a figura 10. Nesta atividade, muitos se
confundiram no cálculo da área das figuras em que era preciso juntar as partes dos
quadradinhos para formar uma unidade inteira (triângulos e seta), quanto ao
perímetro não tiveram dificuldade.
Figura 9 – Mapa Conceitual: Diferença entre perímetro e área.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 10 – Figuras para calcular perímetro e área.Fonte: Arquivo pessoal.
Fizemos as relações entre figuras com mesmo perímetro e área diferentes e
vice-versa. Além das atividades planejadas, propusemos um problema em que era
preciso descobrir as medidas dos lados de um retângulo de modo a obter a maior
área possível. O alunos “debateram-se” muito até entender a lógica e encontrar o
resultado. Então, solicitamos a produção escrita em que deveriam explicar a
diferença e fazer um desenho identificando o perímetro e a área, conforme se
observa nas figuras a seguir:
Figura 11 – Texto do aluno A4.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 12 – Texto do aluno A10.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 13 – Texto do aluno A3.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 14 – Texto do aluno A19.Fonte: Arquivo pessoal.
Em relação à diferença entre perímetro e área (figuras 11 a 14), percebemos
que os alunos se utilizaram de diferentes termos para referirem-se ao perímetro,
como: contorno, linha, por volta, o mesmo aconteceu em relação à área: espaço do
objeto, parte interna, por dentro, este fato mostra como os alunos estabeleceram
relações entre o conceito apresentado e sua visão particular do mesmo, fazendo
uma aproximação/aplicação em outro contexto.
Importante comentar a generalização exposta pelo aluno A19 (figura 14),
relacionando a diferença entre perímetro e área à forma como os mesmos foram
calculados na última atividade: perímetro é a soma dos lados e área é a
multiplicação dos lados, ilustrando a afirmação com um retângulo. Isto sinaliza um
entendimento do enunciado da atividade não experimentado pelos outros alunos.
Bairral (2001, apud Powell e Bairral, 2005) classifica os textos produzidos
pelos alunos em três tipos: relato (sem reflexão conceitual), misto (com parte
descritiva maior que a conceitual) e texto mais esperado (texto descritivo menor que
a parte conceitual). Analisando os textos produzidos pelos alunos nas atividades
aplicadas, percebemos que a grande maioria deles encontra-se na categoria misto,
pois apresentam uma descrição das atividades realizadas e breves reflexões
explicitando aspectos da aprendizagem sobre perímetro e área, como exemplificam
as figuras 5, 6, 8, 11 a 14. A figura 7, representa um caso de relato, em que não
houve referência aos conceitos, mas sim ao desenvolvimento das atividades. A partir
deste momento, a intenção será ampliar o entendimento destes conceitos por parte
dos alunos, levando-os a refletir sobre a aplicação destes conteúdos em outras
situações de modo que consigam transpor os limites teóricos dos mesmos.
Alguns apontamentos após a realização das atividades
Ao final do trabalho, aplicamos aos alunos um questionário sobre a utilização
dos mapas conceituais e produção escrita nas aulas de matemática, composto pelas
seguintes perguntas: 1) Você entendeu o que é um mapa conceitual? Explique. 2)
Para você é fácil utilizá-lo para estudar ou recordar um assunto? Por quê? 3) Quais
as vantagens ou benefícios que os mapas trazem para você? 4) Você gosta que o
professor utilize mapas para recordar melhor um assunto? Por quê? 5) Você acha
fácil criar um mapa conceitual? Por quê? 6) As atividades escritas feitas em sala te
ajudaram a refletir sobre os conteúdos estudados?
Devido à quantidade de questões, para fins de análise, selecionamos as
perguntas 2, 5 e 6. Reproduzimos, a seguir, algumas respostas dadas à questão 2:
A2:
A5:
A23:
Figura 15 – Respostas da questão 2, alunos: A2, A5 e A23.Fonte: Arquivo pessoal.
Selecionamos apenas 3 respostas, porém, o restante da turma apresentou
opiniões bastante semelhantes. Observamos que os alunos gostaram de utilizar os
mapas e, de forma geral, disseram que facilita o entendimento, ajuda resumir a
matéria e é mais fácil de visualizar. Este posicionamento reforça a afirmação de
Peña (2005, p. 120): “como resumo ou esquema visual de conteúdos, o mapa
conceitual melhora a compreensão, assim como o conhecimento estruturado e
profundo de leituras, trabalhos, práticas educativas, projetos ou qualquer outro tipo
de pesquisa”. Com relação às primeiras aulas, em que a maioria não conseguia
perceber a utilidade dos mapas conceituais na matemática, nesse momento os
alunos já estavam bem mais à vontade, conseguindo fazer sua leitura de forma
rápida, além de identificarem os tópicos principais neles representados.
Na questão 5, o posicionamento dos alunos ficou bastante dividido, 12 deles
disseram ser fácil produzir um mapa conceitual, enquanto 11 acharam difícil. As
figuras a seguir ilustram, de forma geral, as respostas dadas pela turma:
A7:
A9:
A10:
A11:
A23:
Figura 16 – Respostas da questão 5, alunos: A7, A9, A10, A11 e A23.Fonte: Arquivo pessoal.
A opinião dos demais alunos foi semelhante aos textos acima, muitos
disseram que era fácil criar um mapa conceitual, que era só por as palavras nos
quadradinhos e ligar, que já tinham estudado bastante os mapas então era fácil, mas
outros apontaram que não sabiam como ligar as palavras, que era muito
complicado, tinham que entender tudo para fazer o mapa e que era cansativo.
Essa situação é mencionada por Marriott e Torres, segundo as autoras, para
alguns alunos, estabelecer uma relação significativa entre os conceitos é algo difícil,
complicado e leva muito tempo: “essa inicial dificuldade e 'duro' reconhecimento de
ter provavelmente apenas lido e entendido o texto superficialmente leva alguns
alunos a experienciarem um sentimento de frustração e a oporem-se à construção
do mapa conceitual” (MARRIOTT e TORRES, 2007, p. 160). Ou seja, a construção
de um mapa conceitual exige uma leitura atenta e o uso da criatividade e do
conhecimento para a ligação dos conceitos, por este ter sido o primeiro contato dos
alunos com os mapas conceituais, a dificuldade apresentada é considerada normal.
Interessante notar que, mesmo não conseguindo criar os mapas sozinhos, alguns
alunos afirmaram ser fácil construí-lo, ou seja, há uma contradição, no entanto, o
questionário foi aplicado após várias atividades utilizando os mapas, logo, essa
contradição pode indicar uma nova compreensão dos alunos quanto à maneira de
se fazer um mapa conceitual.
Na última questão, perguntamos se as atividades escritas feitas em sala de
aula ajudaram a refletir sobre os conteúdos estudados, tivemos como respostas
vários “sim”, entre outras afirmações como:
A2:
A18:
A23:
Figura 17 – Respostas da questão 6, alunos: A2, A18 e A23.Fonte: Arquivo pessoal.
Com base nas afirmações dos alunos e no posicionamento dos mesmos
durante as aulas, podemos dizer que as produções escritas contribuíram para o
processo de reflexão sobre os conteúdos e aprimoramento da escrita dos alunos. A
maioria não estava acostumada com essas atividades nas aulas de matemática e
resistiram um pouco no início, mas todos disseram que elas ajudaram a entender
melhor os conteúdos, porque reforçavam o que haviam estudado e
complementavam a tarefa. Powell e Bairral (2006, p. 27) afirmam que “ao propiciar
aos estudantes oportunidades para trabalharem com conceitos e termos
matemáticos, a escrita ajuda-os também a tornarem-se mais confiantes na
matemática […]”, e isso foi percebido na melhoria da participação dos alunos
durante as aulas.
A resistência às atividades de leitura e escrita diminuíram, se comparadas ao
início do trabalho, acreditamos que esta resistência inicial possa ser creditada tanto
à falta de costume com atividades escritas em matemática quanto à própria
dificuldade de escrita apresentada pela maioria dos alunos. Com o desenvolvimento
das atividades, elaboração de mapas enfatizando a leitura, textos de apoio e vídeos
apresentados, foram criados espaços para que os alunos expressassem o seu
entendimento dos temas. Segundo Powell e Bairral (2006, p. 28), “a reflexão sobre a
matemática que estão aprendendo leva os discentes a importantes avanços
cognitivos e afetivos”. Para os autores, a capacidade de controlar o processo de
aprendizado causa sentimentos de realização, confiança e motivação para fazer e
entender matemática.
Considerações Finais
O presente trabalho teve por objetivo inicial investigar se os mapas
conceituais e a produção escrita contribuem para o ensino e aprendizagem do
conteúdo Grandezas e Medidas no 6o ano. Com base nos resultados apresentados,
verificamos que torna-se cada vez mais necessário investir em novas metodologias
de ensino e que, com a prática constante, podemos atingir bons resultados. Nesta
turma, a leitura, a escrita e os mapas conceituais contribuíram para que os
estudantes percebessem as diferentes conexões entre os conceitos estudados e
conseguissem ampliar e expressar o seu entendimento sobre o conteúdo.
Como apresentado nas análises, os alunos desse 6o ano não conseguiram
produzir os mapas conceituais de forma autônoma, devido às dificuldades relatadas.
Porém, constatamos que, quando utilizados pelo professor, como estratégia de
ensino, os mapas contribuíram para o entendimento do conteúdo e aprendizado dos
alunos, sendo esta estratégia aprovada pelos mesmos. Acreditamos que, com a
continuidade do trabalho, propondo novas atividades de elaboração de mapas
conceituais, obteremos um aproveitamento mais significativo deste recurso.
Todavia, professores participantes do GTR 20145 aplicaram atividades
semelhantes de construção de mapas conceituais com alunos do Ensino Médio e
relataram que os resultados foram positivos. Segundo eles, os alunos não haviam
utilizado este recurso antes e tiveram um pouco de receio, no entanto, tiveram
facilidade no entendimento e descobriram uma nova forma de ver e estudar
matemática.
As produções escritas contribuíram para que os alunos tivessem maior
clareza em relação aos conteúdos estudados. Por meio dos textos escritos, eles
5 Os Grupos de Trabalho em Rede – GTR constituem uma atividade do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, que se caracteriza pela interação virtual entre os Professores PDE e os demais professores da Rede Pública Estadual do Paraná.
puderam registrar o seu entendimento das atividades, mostrando sua compreensão
do assunto, fazendo representações em forma de figuras e relacionando-as com os
cálculos e a teoria estudada.
Consideramos que o trabalho teve resultado positivo, desta forma, os mapas
conceituais e as produções escritas podem e devem ser utilizados como estratégia
de ensino e aprendizagem desde o sexto ano, pois só têm a contribuir,
proporcionando ao aluno um momento de reflexão sobre o conteúdo matemático e
exigindo dele uma outra forma de expressão, que não só a numérica.
Referências
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