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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ... · Como afirma Libâneo, no Livro de Metodologia do Ensino de Arte, de Ferraz e Fusari (1995): Não é suficiente dizer

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

ANDRÉIA CRISTINA DE SOUZA

ARTIGO FINAL

AS IMAGENS DA ARTE CONSTROEM O PENSAMENTO CRÍTICO

REFLEXIVO DE ALUNOS DO FUNDAMENTAL.

Artigo Final apresentado ao Programa

de Desenvolvimento Educacional –

PDE - da Secretaria de Educação do

Paraná – SEED, sob orientação da

Professora doutora Roberta Puccetti,

em cumprimento às atividades

pertinentes ao professor PDE.

LONDRINA 2014

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ARTIGO FINAL

TURMA PDE 2014

Título: AS IMAGENS DA ARTE CONSTROEM O PENSAMENTO CRÍTICO REFLEXIVO DE ALUNOS DO FUNDAMENTAL.

Autor Andréia Cristina de Souza

Disciplina/Área (ingresso no PDE)

ARTE

Escola de atuação

Colégio Estadual Júlia Wanderley-

EFM

Município da escola

Jaboti

Núcleo Regional de Educação

Ibaiti

Professor Orientador

Roberta Puccetti

Instituição de Ensino Superior

UEL

Relação Interdisciplinar

Palavras Chaves

Ensino da Arte, Leitura de Imagem,

Cultura Local.

Produção Artigo

Público Alvo

Alunos do 9º ano

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AS IMAGENS DA ARTE CONSTROEM O PENSAMENTO CRÍTICO

REFLEXIVO DE ALUNOS DO FUNDAMENTAL1

Andréia Cristina de Souza2

Roberta Puccetti3

Resumo: O presente artigo faz parte das atividades do PDE- Programa de Desenvolvimento

Educacional – da Secretaria da Educação do Paraná e busca relatar os resultados do projeto

de intervenção pedagógica desenvolvido durante o primeiro semestre de 2014 com os alunos

do 9º ano do Colégio Estadual “Júlia Wanderley”, na cidade de Jaboti, Paraná. O principal

objetivo foi desenvolver a sensibilidade e o olhar crítico na leitura de imagens, nos alunos e na

comunidade, resgatando a cultura local como caminho para descobrir, valorizar e ressignificar

a arte em suas vidas. O ensino sistematizado de Arte, nessa cidade, ocorre somente a partir do

6º ano do ensino fundamental, prejudicando significativamente a aprendizagem nos anos

subsequentes, pois os alunos apresentam dificuldades em apreciar uma obra de arte, não

valorizam e não apresentam hábitos de produção ou apreciação artística. O encontro com as

obras do artista da região e a arte contemporânea, possibilitou que se estabelecessem

relações de conhecimento, de afeto e enriquecimento, revelando a importância da Arte, além

de, por meio de conexões entre a arte, o artista, a obra e o público, contribuir para a melhoria

da qualidade do ensino de Arte na comunidade como um todo.

Palavras- chave: Ensino de Arte. Leitura de Imagem. Cultura Local.

INTRODUÇÃO

A escola deve ser um ambiente no qual os alunos e os professores

tenham oportunidade para aprender, perceber e vivenciar o mundo de maneira

a interferir no mesmo. Contudo, no Colégio Estadual “Júlia Wanderley” do

município de Jaboti, PR, as aulas de Arte, mesmo tendo sua obrigatoriedade

1O presente artigo é conclusão, ou melhor, é uma reflexão sobre o projeto de intervenção na

escola, parte obrigatória do Programa de Desenvolvimento Educacional.

2 Professora PDE 2013, atuante no município de Jaboti. 3 Mestre e doutora em Educação. Professora do Departamento de Arte Visual da UEL e orientadora deste artigo.

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legalizada pela lei 9394/96, ocorrem somente a partir do 6º ano do ensino

fundamental. Neste contexto, os alunos apresentam muitas dificuldades em

apreciar criações ou trabalhos artísticos e reconhecer o importante papel que a

arte tem na história da humanidade.

O olhar dos alunos, bem como desta comunidade, é limitado. Não

apresentam hábitos de apreciação, não valorizam a arte e, muito menos, a

produção artística. A escola é a única referência cultural e artística para a

maioria dos alunos, porém, sozinha, não consegue suprir ou mudar os

conceitos ou preconceitos enraizados no pensamento da sociedade local.

Mesmo abrigando um artista local, que produz arte popular de qualidade, a

comunidade não o valoriza, pois muitos até desconhecem sua produção.

As aulas de Arte precisam interferir significativamente na formação dos

alunos, para que haja neles, uma mudança de paradigmas quanto à forma de

pensar, sentir, agir e olhar a arte. Em uma comunidade, onde não há acesso às

manifestações artísticas e culturais, utilizar-se de um artista local e de suas

obras para esta construção/reconstrução na forma de olhar a arte, pode

contribuir para que se efetive uma mudança real e significativa.

O Colégio Estadual Júlia Wanderley EFM está localizado na cidade de

Jaboti, pequeno município do norte pioneiro do Paraná, com população de

4.902 (quatro mil, novecentos e dois) habitantes, que sobrevivem basicamente

da agricultura, alvo dos investimentos do governo local, juntamente com outros

que suprem apenas as necessidades mais básicas da população. Valorizar e

investir em cultura e arte não faz parte das prioridades do município, cujos

moradores não têm acesso aos grandes centros produtores de arte e muito

menos tradição na apreciação e produção artísticas.

O município conta com uma Biblioteca Cidadã, cuja fachada apresenta

uma pintura mural feita por pintores locais. Há também um Parque Ecológico,

Fazenda Ásia Menor, de propriedade do Senhor Luiz Ribeiro Castro de

Carvalho, o Luizão, que construiu a praticamente sozinho. Também a igreja

matriz apresenta entalhes em madeira deste mesmo artista. Contudo, apesar

desta riqueza artística e ecológica praticamente no centro da cidade, a maioria

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da comunidade desconhece sua história e sua origem, o que traz como

consequência a não valorização como patrimônio natural, artístico e cultural.

Portanto, as aulas de Arte, diante de sua função também social, vem

resgatar a cultura local para que os alunos possam descobrir, valorizar e

ressignificar a arte em suas vidas.

SIGNIFICADO DA ARTE DENTRO DAS ESCOLAS

A experiência de leitura de imagem nas escolas precisa acontecer desde

os primeiros anos da educação infantil:

Deste modo, é necessário começar a educar o olhar da criança desde a educação infantil, possibilitando atividades de leitura para que, além do fascínio das cores, das formas, dos ritmos, ela possa compreender o modo como a gramática visual se estrutura e pensar criticamente sobre as imagens. (PILLAR,2003, p.81)

O encontro com a obra de arte constrói relações de conhecimento, de

afeto e enriquecimento, sendo fundamental desde o início da vida escolar. De

acordo com Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº9394/96:

O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos

diversos níveis da educação básica, de forma a promover o

desenvolvimento cultural dos alunos. A Arte é um patrimônio cultural

da humanidade, e todo ser humano tem direito ao acesso a esse

saber. https://pt.wikipedia.org./wiki/ensino-de-arte. Acessado em

25/06/2013

Será que todas as escolas cumprem a LDB nº9394/96, os Parâmetros

Curriculares Nacionais e a resolução nº009/2006 que preveem a oferta de

aulas de Arte na Educação Básica nas suas cidades? É a escola a responsável

pelo acesso à arte e à cultura, e mesmo ofertando aulas de Arte, estas estão

realmente cumprindo o papel de alfabetizar visualmente e com qualidade seus

alunos?

As atividades artísticas resultam de sistemas de discursos e

significações inerentes a toda a sociedade. Segundo Tourinho (2003, p.28),

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tanto política quanto conceitualmente, os arte-educadores estão mais

organizados e preparados.

Para Martins (2003, p.52), nós, professores desta disciplina, temos de

conhecer desde os conceitos fundamentais da linguagem de Arte, até os

meandros da linguagem artística com a qual se trabalha, conhecendo um modo

específico para estabelecer um contato mais sensível que seja capaz de

construir um olhar crítico, além de aprimorar o ouvido e o corpo. Portanto, é

importante fazer com que o aluno interaja e reflita sobre suas escolhas,

sensações e pela possibilidade da leitura de uma imagem, construindo um

contexto rico, cheio de ideias organizadas para que se revele um olhar

diferente.

PREPARAR O ALUNO PARA AMPLIAR O OLHAR E O SEU REPERTÓRIO

PARA A ANÁLISE DE OBRAS

Nas escolas, a experiência com a leitura de imagens, com a apreciação

e com a produção artística, muitas vezes é limitada pelas condições de

trabalho deficientes, pela burocracia que o próprio sistema impõe, pela

formação insuficiente e limitada do professor. Mas mesmo diante das

dificuldades encontradas, o ensino das artes visuais pode ser significativo e de

qualidade, como apontam as autoras Ferraz e Fusari:

O trabalho com a arte na escola tem uma amplitude limitada, mas

ainda assim há possibilidades dessa ação educativa ser quantitativa e

qualitativamente bem-feita. Para isso, seu professor precisa encontrar

condições de aperfeiçoar-se continuadamente, tanto em saberes

artístico e sua história, quanto em saberes sobre a organização e o

desenvolvimento do trabalho de educação escolar em Arte. (FERRAZ

e FUSARI. 1993,p.19)

Desde cedo, a criança percebe as coisas que estão à sua volta.

Infinidades de experiências sonoras e visuais tomam conta de sua vida

cotidiana, levando-a a olhar e perceber a beleza de uma paisagem, dos

animais, das flores, entre tantas outras. Tais experiências se transformam em

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pensamentos e emoções sempre compartilhados com outras pessoas na forma

de diversas linguagens verbais ou não verbais.

Como afirma Libâneo, no Livro de Metodologia do Ensino de Arte, de

Ferraz e Fusari (1995):

Não é suficiente dizer que os alunos precisam dominar os

conhecimentos, é necessário dizer como fazê-lo, isto é, investigar

objetivos e métodos seguros e eficazes para a assimilação dos

conhecimentos. [...] O ensino somente é bem-sucedido quando os

objetivos do professor coincidem com os objetivos de estudo do aluno

e é praticado tendo em vista o desenvolvimento das suas ações

intelectuais. [...] Quando mencionamos que a finalidade do projeto de

ensino é proporcionar aos alunos os meios para que assimilem

ativamente os conhecimentos é porque a natureza do trabalho

docente é a mediação da relação cognoscitiva entre o aluno e as

matérias de ensino. (Apud Libâneo, 1991, pp.54-5.).

Na escola, esta mesma criança encontra oportunidades de expressar

suas experiências sensoriais pessoais, cabendo, principalmente ao professor

de Arte, saber lidar com esta bagagem pessoal, sistematizando conceitos,

ampliando o repertório imagético dos alunos e principalmente construindo o

olhar, a forma de olhar. Utilizar destes fatos na elaboração da sua metodologia

de trabalho auxiliará no desenvolvimento da criança e suas percepções ao

analisar as formas, as imagens, os símbolos e as ideias presentes em uma

obra de arte.

Hoje, as imagens visuais são um centro de informações e são

apresentadas a todo o momento num apanhado crítico. A autora Lúcia Gouvêa

Pimentel “diz que à velocidade com que vemos as imagens, nem sempre

podemos pensar sobre elas e selecionar as que devem fazer parte do nosso

repertório imagético, isto é, da referência visual que gostaríamos de deixar

registrada em nossa memória”. (2003, p.113)

Assim, segundo Ronaldo Entler (1998), para detalhar uma imagem é

preciso olhar atentamente todos os seus elementos, buscar suas referências.

Mas como mostrar uma obra de arte para essas crianças, como explicar e ler

uma imagem?

Comentado [R1]: idem

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Afinal, o que é imagem? Pillar (2003, p.75), “há múltiplas definições de

imagem. A imagem é, hoje, um componente central da comunicação. Com sua

multiplicação e ampla difusão, com sua repetitividade infinita, estes dispositivos

fazem com que, por um intermédio das suas materialidades, uma imagem

prolongue sua existência no tempo”.

Assim, optou-se neste trabalho, pela leitura da imagem baseada nas

categorias: “Descrevendo, Analisando, Interpretando, Fundamentando e

Revelando” apresentada por Ott (1997), respeitando a individualidade de cada

aluno, suas necessidades, a exploração da forma verbal e não verbal,

apresentando a linguagem da arte. Através das cinco categorias acima citadas,

os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual “Júlia

Wanderley” fizeram a leitura de imagens tanto das obras contemporâneas de

Farnese, como das obras do artista popular local Luizão. O processo de

criação foi vivenciado na construção de um oratório. A visita ao ateliê do artista

e a organização de uma exposição conjunta com as obras do artista e a

produção dos alunos, oportunizou tanto a produção como a apreciação

artísticas, ambos ignorados pela comunidade local, contribuindo assim, para

uma mudança de hábitos e atitudes em relação à arte.

PRODUÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO E REFLEXIVO ATRAVÉS DA

LEITURA DE IMAGEM – IMPLEMENTAÇÃO

A implementação do projeto: “As Imagens Constroem o Pensamento

Crítico Reflexivo de Alunos do Ensino Fundamental” foi apresentada aos

professores, funcionários, equipe pedagógica e direção do Colégio Estadual

“Júlia Wanderley”, tendo como objetivo mostrar a importância do tema no

processo educacional e na mudança da realidade local.

Os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio foram também

apresentados ao projeto e convidados a participarem de sua implementação.

Primeiramente, foi realizada uma pesquisa, trazendo de casa imagens

de revistas e jornais, fotos, calendários, selos, roupas, livros, capas de CDs e

objetos, onde pudessem identificar alguma imagem artística, procurando

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identificar o máximo de informações possíveis sobre artistas e obras, como

autor, gênero, técnica, se a imagem era arte contemporânea ou popular.

Em um primeiro momento relutaram, pois não sabiam o que escolher,

teriam que apreciar a figura e descrevê-la verbalmente, perceber os elementos,

texturas, dimensões, materiais e técnicas, fazendo comparações com as linhas,

formas e cores, de maneira contextualizada em seus cadernos mesmo. Uns

foram trazendo e mostrando os seus trabalhos e, logo assim, outros foram

compartilhando a ideia, criando um registro das imagens com as informações,

com um repertório cultural e artístico pessoal. Por meio dessas informações

puderam elaborar as suas definições de arte e as socializaram entre os

colegas. Uma das leituras propostas foi com a imagem da Santa Ceia, do

artista Leonardo da Vinci, através da descrição, como pessoas eram, chão,

teto, a luz, se era dia ou noite, quem era o artista, bem como, uma análise de

como foram feitas as linhas, as formas, as cores, texturas e composições.

Todavia, quando se pediu para que se falasse sobre o que estavam

sentindo a partir da imagem, surgiram muitas dificuldades, pela timidez de se

expressarem. No entanto, com as explanações e questionamentos feitos pela

professora a respeito da obra, se despertavam sentimentos e sensações de

melancolia ou alegria, serenidade ou agitação, entre outros, instalou-se um

clima de camaradagem e confiança, o que permitiu aos poucos conseguissem

falar, se soltarem, pois acontecia ali a fundamentação e o conhecimento da

obra, o que fez com que eles, depois de ultrapassarem as primeiras barreiras,

já falassem certos, confiantes, quase sem dúvidas. Foi então que houve a

revelação da obra, era o momento da criação, quase sem bloqueios. E o

resultado foi uma escultura viva, construída com seus próprios corpos.

Diferentes imagens foram então apresentadas aos alunos para que se

fizesse a leitura das mesmas, tanto das obras Contemporâneas de Farnese de

Andrade, como das do artista local Luizão. Esta proposta de trabalho baseou-

se nas categorias apresentadas por Ott, respeitando-se a individualidade de

cada aluno, suas necessidades, incluindo a exploração da forma verbal e não

verbal, envolvidas pela linguagem da arte.

Na observação da obra de Farnese, “Autorretrato” (1982-95), surgiram

muitas perguntas, como: se aquilo era considerado Arte (aluno N., 9ºA), por

exemplo. A turma foi sendo envolvida numa reflexão a respeito do mundo em

que vivemos, o que proporcionou um clima mais descontraído na sala de aula.

Construiu-se, então, uma lista descritiva de tudo o que se via em “Autorretrato”:

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a técnica usada, o material, forma e elementos. A atividade ocorreu num clima

muito agradável e, por vezes, até engraçado, como quando o aluno M. disse

que aquilo parecia o portal do inferno; outra aluna, L., lembrou-se da cena de

um filme com o que via, pois parecia o guarda-roupa de “As crônicas de

Nárnia”. e foram muitas risadas. Também houve questionamentos se eles

gostaram e entenderam sobre a arte contemporânea, disseram que nunca

tinham visto e não gostaram.

Como as assemblagens de Farnese causaram muito deslumbramento e

certa desaprovação, por não fazer parte do repertório de conhecimentos dos

alunos, foi exibido o vídeo “Farnese de Saudade”, fragmento do espetáculo

sobre a vida do artista, e também uma entrevista com o ator que fez o

monólogo, Wandré Silveira. Todo esse trabalho sobre arte contemporânea

causou neles um estranhamento, externado com questionamentos e caras de

quem não aprovava aquilo que acabara de conhecer. Alguns ficaram mais

chocados, já outros queriam até imitar, fazer uma apresentação que imitasse o

vídeo. Em outra atividade proposta, seguiu-se os mesmos passos com outra

imagem, o oratório “3 Pensamentos” (1973-81), para que, em seguida,

experimentassem fazer seus próprios oratórios.” Como?” perguntavam, então

as dúvidas foram elucidadas através de um texto, com o qual se esclarecia que

não seria um oratório comum, desses que expressam a fé e são colocados em

capelas ou modestas caixas para abrigar um santo de devoção.

A criação de um oratório teria como objetivo selecionar objetos

significativos, organizados dentro de caixas, colando, amarrando, preparando a

superfície com tinta ou colagem, escolhendo um título para a sua obra e,

juntamente com os colegas, organizar uma exposição na sala de aula. Os

alunos foram levados, em contra turno, ao laboratório de informática, para que

acessassem a internet e assistissem aos vídeos, pesquisando e buscando

mais informações sobre a arte contemporânea e as assemblagens de Farnese

de Andrade. Brotaram-se, consequentemente, ótimas ideias e muita inspiração

para construírem os oratórios contemporâneos, como se observa a seguir.

Figura 1 – oratório aluna x 9ºA (aberto)

Figura 2 – oratório aluna x 9ºA (fechado)

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Fonte: a própria autora

Fonte: a própria autora

Após vivenciar tal experiência

com a arte contemporânea, um link foi

disponibilizado

(http://www.popular.art.br/htdocs/defTexto.asp?artigo=286) sobre a arte popular. Na

oportunidade comentou-se que esses artistas, geralmente, não frequentaram

escolas especializadas e suas obras são criadas e produzidas para decorar e

enfeitar. A turma demonstrou gostar muito, visto que amplia seus

conhecimentos.

Era chegado, então, o momento de se mostrar a imagem de uma

escultura feita pelo artista local, um oratório gigantesco, esculpido em peroba,

uma madeira nobre, que fora levada para ele na sua oficina, depois de ser

recolhida num rio da região, onde havia caído. Ao ver as imagens na TV

pendrive, foi reconhecida por alguns componentes da turma, como sendo uma

escultura do “Seu” Luiz. Outros quiseram saber quem era o “Seu” Luiz, e a

resposta surgiu rapidamente, seguida de comentário: “É o Luizão da Fábrica de

polvilho, ele gosta muito da natureza e dos animais!”

Figura 3: Oratório em madeira Figura 4: Oratório em madeira

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Fonte: a própria autora

À turma foi também perguntado se em suas famílias havia pessoas que

faziam artesanato ou alguma atividade artística, ao que alguns responderam,

falando de algumas técnicas: “a minha avó é bordadeira”, “a minha mãe

também e ela aprendeu com a minha avó”, outros disseram haver alguém na

família que fazem esculturas de madeira e entalhes.

Nessa etapa de observação e apreciação da imagem do oratório do

“Seu” Luiz, quando foram seguidas e utilizadas as categorias de Ott, os alunos:

descreveram através do registro das sensações pessoais e emocionais em

relação à obra; analisaram e interpretaram com base na observação de como

foi elaborada a obra de arte, com quais materiais, identificando os elementos

da composição, a técnica usada e as características de uma obra

tridimensional; fundamentaram conforme pesquisa de diversos exemplos de

oratórios domésticos; e sistematizaram as informações em textos poéticos ou

não.

Os textos poéticos foram produzidos por eles em da sala de aula,

principalmente em homenagem ao artista “Seu” Luiz. Aqueles que

apresentaram maior dificuldade para a elaboração e criação terminaram em

casa e trouxeram na próxima aula. Com o auxílio dos professores de Língua

Portuguesa, foram feitas as revisões ortográficas e as produções, então, foram

transcritas em cartolinas. As homenagens ao Luizão foram expostas para a

apreciação de todo o colégio e também da comunidade.

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Figura 5: Texto poético alunos 9º A e B Figura 6: Texto poético alunos 9º A e B

Fonte: a própria autora Fonte: a própria autora

Foi então organizada uma visita ao Parque Ecológico de propriedade de

“Seu” Luiz, na Fazenda Ásia Menor, em Jaboti – PR, e ao ateliê do artista. A

atividade aconteceu no dia 21 de junho , ocasião em que foi organizada uma

caça ao tesouro, quando os alunos se dividiram em dois grupos e percorreram

o parque procurando e desvendando pistas, solucionando charadas e

respondendo perguntas sobre o artista local, com o tempo cronometrado.

Apresentaram algumas dificuldades em algumas pistas, mas conseguiram

transpô-las. O primeiro grupo terminou em 19 (dezenove) minutos e o segundo

grupo em 17 (dezessete) minutos. Foi uma festa e muito perceptível a alegria

das equipes ao encontrarem o tesouro, dentro de um baú, feito por “Seu” Luiz,

que continha uma cesta de chocolate.

Figura 7: aluno procurando pistas (1) Figura 8: aluno procurando pistas (2)

Fonte: a própria autora

Depois do jogo, foi feita uma confraternização, um piquenique, com

muitas guloseimas e uma prazerosa conversa com o artista Luizão, durante

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uma visita ao seu ateliê (oficina), quando foram tiradas muitas fotos para

registrar o momento tão importante e muito alegre, cheio de risos. A turma

toda gostou muito e comentou que assim se aprende muito mais do que só na

sala de aula.

Fonte: a própria autora Fonte: a própria autora

Fonte: a própria autora

Já dentro de volta à sala de aula, as mesmas equipes que participaram

da caça ao tesouro, foram convidadas a elaborar trabalhos com objetos e

elementos que fizessem referência à obra do artista local. Os materiais

Figura 10 – Procurando pistas na

gruta do parque

Figura 11- Artista local “Seu” Luiz,

explicando sobre a árvore incenso.

Figura 9 – Artista local “Luizão” e a

Professora Andréia

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escolhidos foram aqueles elementos da natureza encontrados no próprio

parque.

Voltaram, então, ao parque ecológico de “Seu” Luiz para coletar os

materiais: foram recolhidos galhos e folhas secas, sementes, troncos, areia e

pedras, enfim, elementos encontrados no chão do próprio parque, colocados

em sacos e guardados para o próximo encontro.

Na sala de aula desenharam em cartolinas e papelão Paraná,

ambientes, cantos e recantos do parque como o bebedouro com água da mina,

e até mesmo as próprias esculturas do “Seu” Luiz. Alguns alunos, porém, não

conseguiram produzir, pois não queriam participar. Notou-se, então, a falta de

sensibilidade e/ou interesse para a leitura de imagem.

Figura 12: o bebedouro com água de mina e a reprodução em desenho com texturas

Fonte: a própria autora

Figura 13: o bebedouro com água de mina

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Fonte: a própria autora

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Buscar a sensibilização e o olhar imagético dos alunos e da comunidade

foi o grande desafio desta pesquisa-ação que deve ter continuidade.

Oportunizou-se, através de atividades bem planejadas e estruturadas, a

abertura para a leitura de imagem atingindo e favorecendo a autoconfiança, o

autoconhecimento, a imaginação criadora e, claro, despertando o interesse

pela apreciação da manifestação cultural na maioria da turma e na comunidade

que visitou a exposição dos trabalhos.

Alguns alunos não tiveram dificuldades em desenvolver o pensamento

reflexivo, pois não alcançaram ainda uma sensibilidade para a leitura de

imagens, já que não foram preparados para tal empenho, consequência da

ausência de contato com a manifestação artística, provocando o desinteresse

pelos conteúdos nas aulas de arte.

Com uma boa parte dos alunos não consegui amadurecer o modo de ver

o mundo, não teve a troca de informações que permite a socialização, mas

teve compartilhamentos de experiências e assim objetivando oportunidades

para um esclarecimento da leitura de imagem, construindo discursos

interpretativos e favorecendo a aprendizagem na Arte.

Com a finalização do projeto de implementação foi realizado uma

exposição dos trabalhos dos alunos junto com o artista local, com a

participação da comunidade Jabotiense. Assim, o resultado da implementação

teve seu objetivo alcançado, as diferentes formas de expressão foram

respeitadas e valorizadas pelo processo cultural e de construção do indivíduo

na sociedade.

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Para que haja mudanças neste cenário, é necessária a continuidade

deste trabalho para que o professor possa educar seus alunos para a

apreciação e leitura de imagens, desenvolvendo esse hábito nas aulas de Arte,

mas sempre atento à construção do pensamento crítico, porque este enriquece

o repertório cultural dos alunos, que passam a conhecer os artistas e as

mensagens em suas obras. Ensinar a ver é o que faz toda a diferença e

permite o diálogo com as obras além de possibilitar a produção de sua própria

arte.

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