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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · pode estar tanto em primeira ou em terceira pessoa, tanto ... proporcionando aos alunos uma breve reflexão sobre os diferentes

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

FORMANDO LEITORES LETRADOS: AS CRÔNICAS DOS ANOS 20 DE

RUBEM BRAGA EM FOCO

Olívia Sasso1 Sonia Merith Claras2

Resumo: Segundo as DCEs - Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica (PARANÁ, 2008, p. 48), “é tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interpretação”. A fim de atender tal objetivo, desenvolvemos o projeto de intervenção pedagógica “formando leitores letrados”, durante participação no programa de formação continuada - PDE o qual relatamos, sucintamente no artigo em pauta. O Projeto desenvolvido tinha como propósito central incentivar/desenvolver a leitura crítica dos alunos do Ensino Médio. Para tanto, abordou-se algumas crônicas, dos anos 20, de Rubem Braga, traçando intertextualidades com fatos recentes que permeiam a sociedade, como a vista do Papa ao Brasil. O desenvolvimento do projeto de intervenção possibilitou aos alunos explorar a língua em seus diversos aspectos, ampliando a visão de mundo e desenvolvendo, ainda, o senso crítico. A escola é um dos espaços privilegiados para a formação de leitores e, por isso, deve priorizar o conhecimento crítico e reflexivo sobre diversos temas, possibilitando transformar os educandos em leitores letrados, cidadãos autônomos. Nosso propósito, então, no trabalho em pauta, é fazer um relato de experiência acerca das atividades desenvolvidas durante a aplicação do projeto na escola.

Palavras chave: Leitura; letramento; intertextualidade; aprendizagem.

INTRODUÇÃO

O ensino da Língua Portuguesa tem gerado muitas discussões e

reflexões na educação brasileira, a causa são os baixos índices obtidos pelos

estudantes nas avaliações feitas em nível nacional e estadual, as quais visam

avaliar o grau de conhecimento. É nesse sentido, no rol das dificuldades

aparentes no ensino da língua materna, que o estudo realizado encontrou

motivação para desenvolver um projeto de leitura no Ensino Médio. Vale

ressaltar que índices do IDEB demonstram que um número elevado de

1 Professora de Língua Portuguesa da Secretaria de Estado da Educação, Pós- Graduada em Literatura

Brasileira. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE- 2013. 2 Professora Doutora do Departamento de Letras da Universidade do Centro-Oeste, Guarapuava.

estudantes apresenta sérios problemas na leitura, revelando dificuldades de

interpretação do que leem.

Segundo as DCEs- Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação

Básica (PARANÁ, 2008, p 48), “é tarefa de a escola possibilitar que seus

alunos participem de diferentes práticas que utilizem a leitura, a escrita e a

oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interpretação”.

Portanto, sabendo que a escola é um dos espaços para a formação de leitores

letrados, desenvolveu-se o projeto de intervenção pedagógica: “Formando

Leitores Letrados“, durante a participação de Formação Continuada – PDE

(Programa de Desenvolvimento Educacional), no Estado do Paraná. O trabalho

desenvolvido teve como propósito central incentivar e desenvolver a leitura

crítica dos alunos do Ensino Médio.

O presente material foi desenvolvido com alunos do 1º ano do Ensino

Médio noturno, no Colégio Estadual São João Bosco, município de Pato

Branco, com duração de 32 horas aulas, com alunos de faixa etária entre 14 a

17 anos, aproximadamente. Para tanto, abordou-se algumas crônicas dos anos

20, de Rubem Braga, traçando intertextualidades com fatos recentes que

permeiam a sociedade, como as manifestações nas ruas do país (Movimento

Passe Livre; Corrupção; Segurança; Saúde; Educação; Visita do Papa ao

Brasil, entre outros).

A transposição didática, aplicada no decorrer das atividades, confirmou o

interesse e a participação dos alunos, uma vez que foram trabalhados temas

interessantes da realidade na qual envolveu acontecimentos do cotidiano

brasileiro.

LEITURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

O ato de ler tem importância decisiva para o exercício da cidadania.

Neste contexto é que as pessoas devem estar envolvidas diariamente com

ações de leitura. Segundo as DCE’s – Diretrizes Curriculares Estaduais da

Educação Básica – Língua Portuguesa (2008, p. 48):

...é tarefa de a escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com

a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interpretação. Essa inserção permite ao aluno explorar a língua em seus diversos aspectos, ampliando sua visão de mundo, desenvolvendo o senso crítico e consequentemente, melhorando o meio em que está inserido.

O aluno precisa saber que a leitura deve ser tomada como uma prática

social a ser devidamente inserida na vida cotidiana, e este aprendizado tem

início na escola, mas que não deve terminar nas experiências acadêmicas. O

desafio a ser enfrentado pela escola é o de fazer com que os estudantes

aprendam a gostar de ler. Para Solé (1998, p. 36):

A partir do Ensino Médio, a leitura é um dos meios mais importantes na escola para a consecução de novas aprendizagens. Isto não significa que não se considere mais necessário insistir em seu ensino, de fato, durante toda a etapa do Ensino Fundamental e às vezes também no Médio, continua-se reservando um tempo para a leitura.

A leitura abre o leque em duas esferas: uma de que adolescentes e

jovens melhorem suas habilidades e, progressivamente, adquiram o hábito da

leitura; na outra, eles devem utilizá-la para ter acesso a novos conteúdos nas

diversas áreas que formam o currículo escolar.

Solé (1998) e Soares (2012) relatam sobre os problemas relacionados à

escola e à linguagem. Esses problemas dizem respeito à leitura, produção de

textos e a oralidade.

No contexto atual a leitura tornou-se um problema ao trabalho

pedagógico e os professores ficam vulneráveis, pois os estudantes geralmente

demonstram desinteresse à prática pedagógica da leitura.

De acordo com as DCE´s (2008, p.31) “ler é familiarizar-se com

diferentes textos produzidos em diferentes práticas sociais:- notícias, crônicas,

piadas, poemas, artigos científicos, ensaios, reportagens, propagandas,

informações, charges, romances, contos etc”.

Nesta perspectiva, é possível dizer que a leitura é uma ação contínua e

permanente que tem como objetivo enriquecer o aprendizado na medida em

que os alunos dentro do cotidiano escolar entram em contato com diferentes

leituras e dominam adequadamente a compreensão e interpretação de textos

escritos, que deverão cada vez ser mais complexos na vida acadêmica.

De acordo com Freire (1998, p.24): “os alunos precisam ser

conscientizados da sua condição de vida e de trabalho na sociedade em que

estão inseridos, pois esse ato é um dos meios pelos quais lhes será

possibilitado à participação na luta pela melhoria de vida”.

É visível que a escola precisa preparar e orientar o aluno para uma

formação básica para o trabalho e para a cidadania, para que ele possa

continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar a novas condições

de ocupação ou aperfeiçoamentos posteriores, bem como, aprimorá-lo como

pessoa autônoma, intelectual, crítica, ética e responsável pelos seus atos.

Um fator importante é levar o aluno a identificar o tema ou a ideia

central do texto, sua finalidade, sua orientação ideológica, a discernir entre seu

argumento ou informação principal e seus argumentos secundários. O ideal é

que o aluno consiga perceber que nenhum texto é neutro, que por trás das

palavras mais simples, existe uma visão de mundo.

Segundo Antunes (2003, p.67):

A atividade de leitura completa a atividade da produção escrita. É, por

isso, uma atividade de interação entre sujeitos e supõe muito mais

que a simples decodificação dos sinais gráficos. O leitor, como um

dos sujeitos da interação, atua participativamente, buscando

recuperar, buscando interpretar e compreender o conteúdo e as

intenções pretendidas pelo autor.

GÊNERO NO CONTEXTO ESCOLAR

O pensador russo Mikhail Bakhtin, que no início do século XX se dedicou

aos estudos da linguagem e da literatura, foi o primeiro a fazer uso da palavra

gêneros num sentido mais amplo, referindo-se também aos textos que usamos

nas ações cotidianas de comunicação.

Segundo as DCE’s, (2008):

Bakhtin dividiu os gêneros discursivos em primários e secundários. Os primários referem-se às situações cotidianas; já os secundários acontecem em circunstâncias mais complexas de comunicação (como nas áreas acadêmicas, jurídicas, artísticas, etc.). As duas

esferas são interdependentes, (p. 52).

Os gêneros do discurso são caracterizados por três aspectos: o tema, o

modo composicional e o estilo.

Numa situação de interação verbal a escolha do gênero não é

completamente espontânea, pois leva em conta um conjunto de coerções

dadas pela própria situação de comunicação: quem fala; sobre o que fala; com

quem fala; com qual finalidade. Todos esses elementos condicionam as

escolhas do locutor, que tendo ou não consciência acaba por fazer uso do

gênero mais apropriado à situação.

O ensino dos diversos gêneros que socialmente circula entre nós, além

de ampliar a competência linguística e discursiva do aluno, também ele toma

consciência de que pode como cidadão manifestar seu ponto de vista, opinar e

interferir nos fatos do mundo. Ou, ainda no campo mais criativo e emotivo, no

qual pode criar com as palavras e com os gêneros, objetos de arte para fruição

estética e reflexão crítica, como o poema, o conto, a crônica e as narrativas de

ficção em geral.

A crônica é uma narrativa curta que focaliza um acontecimento do dia a

dia, vinculada em jornais e revistas, e a cidade costuma ser o espaço em que

se desenvolve o enredo.

Há vários tipos de crônicas, a humorística, a reflexiva e a lírica. Nas

crônicas humorísticas predominam as séries narrativas, nesses casos, a ação

costuma ser rápida e sintética. Nas crônicas reflexivas predominam as séries

argumentativas. Nas crônicas líricas se dá ênfase na linguagem figurada,

conotativa.

Nas crônicas que seguem as sequências narrativas, o foco narrativo

pode estar tanto em primeira ou em terceira pessoa, tanto na crônica

humorística quanto na reflexiva, o narrador em primeira pessoa, parece

conversar com o seu leitor.

O gênero conto é difícil de definir. É um texto breve, nele se observa um

único conflito. O espaço e o tempo são limitados. Há poucos personagens.

O conto não tem compromisso ou relação com a realidade, como a

crônica. Ele é uma espécie de flagrante de um fato peculiar da vida dos

personagens. Diferencia-se da crônica pela densidade com que é construído o

enredo, é carregado de tensão e termina no clímax.

INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

As atividades com os alunos tiveram início com uma pesquisa

bibliográfica visando formar conceitos e ideias sobre diversas crônicas de

Rubem Braga.

Despertando para a leitura, propusemos um vídeo3 de incentivo à leitura,

proporcionando aos alunos uma breve reflexão sobre os diferentes olhares e

significados que a literatura produz em nossa vida. Refletir sobre o quanto ela

possibilita entendermos melhor, e com criticidade o mundo que nos cerca.

Histórico do autor Rubem Braga

Rubem Braga nunca deixou de escrever regularmente crônicas para

jornais e revistas, vindo a constituir um verdadeiro fenômeno: o de ser o único

escritor a conquistar um lugar definitivo na nossa literatura exclusivamente

como cronista. Abordando sempre assuntos do dia a dia, falando de si mesmo,

da sua infância, mocidade, primeiros amores, empregava tudo o que escrevia

de um grande amor à vida - a vida simples, não sofisticada, dos humildes e

sofredores. Tinha predileção pelas coisas da natureza, tomando

frequentemente como tema o mar, os animais e as árvores. Não apenas as

suas crônicas de amor, exaltação à mulher, mas também as que dedicaram a

passarinhos, borboletas, cajueiros, amendoeiras e pescarias. São das mais

belas páginas da nossa literatura.

Duzentas crônicas escolhidas é uma reunião dos melhores textos

produzidos por Rubem Braga, entre 1935 a 1977. A escolha das crônicas foi

feita pelo próprio autor, com base na seleção original do amigo Fernando

Sabino. Os alunos foram participativos, demonstraram interesse na biografia do

cronista Rubem Braga, pois até o presente momento não tinham conhecimento

da sua existência, fizeram muitas perguntas, se mostraram curiosos em saber

mais a respeito da vida particular e sobre as obras do autor. O que mais

chamou atenção foi a primeira redação do cronista com o tema Lágrima, escrita

3 Vídeo disponível em : http://youtu.be/yFtdZ5J8yJA. A importância da leitura_mpeg1video.mpg

por solicitação do professor de Língua Portuguesa (12/1926), com apenas 14

anos incompletos.

Na sequência, exploramos a crônica do autor “O CONDE E O

PASSARINHO”. Muito boa à participação e o debate sobre o tema tratado na

crônica. Os alunos pediram para ler o texto duas vezes para entendê-lo melhor.

As questões de interpretação foram respondidas com muito interesse e

criticidade. Foram duas aulas que todos se surpreenderam quando bateu o

sinal porque o tempo passou tão rápido que ninguém percebeu.

A seguir a análise das imagens na TV pendrive das manifestações de

greves no Brasil. As pessoas protestavam contra os preços das passagens de

ônibus. Os alunos se manifestaram criticamente contextualizando a

administração do governo Estadual e Federal, com postura consciente,

seriedade. O senso crítico fundamentado na realidade social, de segurança

pública, de educação, da saúde e de moradia, entre outros fatores negativos

que norteiam a população brasileira.

Segundo professora4 participante do grupo de formação em rede (PDE),

B. S. B., “o projeto proposto visa aprimorar ainda mais a leitura do universo do

aluno. Com certeza a multiplicidade de textos reforça a dinâmica do processo

cultural, a leitura dialoga com outras artes e linguagens, às vezes tomando a

dianteira do caminho das mudanças para libertar o olhar do estudante-leitor

através da sensibilidade e do interesse que o mesmo irá construir subsídios

para a realização criteriosa ampliando seu conhecimento cultural e social”.

Analisamos as imagens (jovens em Copacabana, R. J. - visita do Papa

Francisco ao Brasil na Jornada Mundial da Juventude). O debate sobre o

comportamento dos jovens organizados com postura de respeito, de educação,

fé, de paz. A confiança que o Papa demonstrou ao público nas caminhadas

em carro aberto, as bênçãos, as pessoas e o carinho com as crianças. Através

da interpretação da homilia do Papa em texto impresso, leitura oral, crítica e

comparações dos gestos e ações com as altas autoridades do país. Discutiram

a sua postura sempre expressada com palavras de humildade, confiança,

respeito, amor, justiça, igualdade, defesa dos direitos humanos. Nas diversas

4 GTR- Grupo de Trabalho em Rede desenvolvido pelos professores da Rede Estadual de

Educação do Estado do Paraná, atividade em que o professor PDE apresenta sua temática de estudo, desenvolveu-se no primeiro semestre de 2014.

situações relacionadas às autoridades definiram atitudes de corrupção violenta

contra o povo brasileiro, desrespeito aos direitos dos cidadãos de bem, as

agressões praticadas pelos agentes da segurança pública, desvio do dinheiro

arrecadado nos impostos, (só quem paga são os mais humildes, os grandes

empresários sonegam). Buscamos mais informações sobre a visita da

Santidade ao Brasil. (laboratório de informática), através de reportagens e

imagens de revistas. Para a professora do GTR, R.O.P. considerou: “muito

legal sua ideia de colocar para os alunos a homilia do Papa, pois com certeza

muitos deles nunca ouviu uma homilia ou qualquer coisa que se refira à igreja.

Seu projeto é muito importante em todos os aspectos, pois abre um leque de

oportunidades para o despertar da criticidade dentro da sociedade em que

vivemos”.

Segundo a professora do GTR, R.N.T.K., “o ato de ler muitas vezes

exige disciplina, luta e sacrifício feito dia a dia durante todo o existir, pois além

de ler muito todos os dias, o aluno precisa, também, praticar muito, ou seja,

precisa falar mais, escrever mais, interpretar mais. Aqui a regra de ouro é esta:

quanto mais quantidade tanto mais qualidade, porque é a leitura que dá a

garantia de êxito na carreira da vida e da profissão, pois estudantes de todos e

quaisquer níveis e escolas, até mesmo de Universidades e pós, precisam dela.

Vale a pena, e grande honra é para o aluno, principalmente para aquele hoje

estudante e amanhã profissional bem sucedido, engajado inclusive na

construção de uma pessoa e do bem falar, o bem escrever e o bem

interpretar”.

A crônica Louvação com áudio na voz de Edson Celulari foi ouvida e

apreciada por todos os alunos, pois se refere a uma atividade diferente do

cotidiano de sala de aula. Na sequência fizemos a interpretação oral, debate e

feedback com os temas anteriores. O que mais chamou atenção dos alunos foi

como o cronista tratou o tema falsidade. O mesmo assunto levantou polêmica

em relação às falsificações de produtos industrializados no Brasil. O exemplo

mais comentado foi a falsificação na composição do leite industrializado e o

caso mais recente a mistura de antibiótico no vinho no Rio Grande do Sul.

Discutiram também as propagandas enganosas, as ofertas, as promoções

milagrosas que certos comerciantes prometem para os clientes. Os alunos

ressaltaram o acontecimento em nossa cidade (Pato Branco- PR), que foi o

caso da imobiliária que enganou várias pessoas com vendas de casas e

terrenos, causando o roubo de mais de um milhão e meio de reais. Os alunos

debateram também sobre a paralisação dos policiais em Pernambuco e no

Recife, onde ocorreram saqueamento e quebra-quebra nas ruas, nos

estabelecimentos comerciais das duas cidades. Classificaram as ações do

povo como selvageria e ignorância sem controle.

A leitura e interpretação da crônica "Uma lembrança" de Rubem Braga

ofereceu momentos gostosos de recordação, os alunos voltaram à infância,

foram além, porque levantaram hipóteses sobre a adolescência dos pais, dos

avós e das bisavós. Muitas comparações interessantes que fizeram refletir

sobre os valores do passado com os valores atuais. Muitos não acreditaram

quando um dos colegas disse que o namoro era vigiado pelos pais da moça,

pois os casais de namorados em nenhum momento podiam ficar a sós. Esse

aluno falou também que a bisavó contou que eram os pais que negociavam o

casamento entre eles (pais da moça e pais do moço), que os noivos só iam se

conhecer no dia do casamento.

Na sequência, trabalhamos com a crônica “LUTO DA FAMÍLIA SILVA”.

Nesta crônica possibilitamos a construção dos campos lexicais.

Os campos lexicais se referem à uma proposta metodológica que

permite possibilidades de segmentação textual, segmentar é recortar um todo

em unidades menores.

Para MERITH-CLARAS (2011):

Os critérios utilizados na segmentação são vários e pertencentes a

diferentes níveis de descrição textual. Pode-se, por exemplo, dividir

um texto, levando-se em consideração a sua disposição gráfica em

parágrafos, ou ainda, por tópico ou assunto. Neste trabalho, optamos

por segmentar o texto em campos lexicais, para que, a partir desses

agrupamentos, “dessas partes”, os alunos, na ocasião da nossa

intervenção, percebessem os sentidos do todo, ou seja, o sentido

global do texto. (TESE; SEMIÓTICA, LEITURA, ANÁLISE

LINGUÍSTICA).

Os campos lexicais consistem no agrupamento de um conjunto de

lexemas de um texto, desde que nesse grupo haja pelo menos um traço, um

sema comum. “Esse mesmo traço mínimo de significação, ou sema, deve

servir de dominação ou hiperônimo para o conjunto, cujos elementos serão

chamados de hipônimos”, (LIMOLI, 1997, p.25. Apud CLARAS, 2011).

Para a professora participante do GTR, E.S., “ O homem, em suas

experiências orais, escritas, de interação e de construção de sentidos, os quais

se dão pelas práticas da oralidade ou intermediada por textos escritos que

envolvem açõe simbólicas, (isto é, medidas por signos) que são

exclusivamente linguísticas, pois há um conjunto de conhecimentos que

contribui para sua elaboração. Os conhecimentos, relativos à própria língua

como os referentes a outros sistemas semióticos envolvidos no texto, que são

decorrentes do desenvolvimento das tecnologias, fruto de mudanças também

sistêmicas nos grupos sociais, são construídos e apropriados pelos sujeitos.

Por saber que o mundo culturamente está organizado por múltiplos sistemas

semióticos (linguagem verbal e não verbal, as línguas naturais: português,

francês, inglês, alemão, etc.), há outros tantos sistemas semióticos construídos

pelos homens para responder a demanda da sociedade.

Então, quando nós recorremos às atividades do sistema semiótico, há

grandes chances do aluno entender e apreender a intenção do texto. “Entender

como um sistema semiótico funciona é conhecer, a um só tempo, a função que

seus elementos desempenham e como eles se articulam entre si”.

Com base na crônica “Luto da Família Silva”, e através das ideias

abordadas e agrupadas em tabelas utilizando os hipônimos e hiperônimos ali

sugeridos. Conceituamos com os alunos a palavra polissemia, facilitou o

desenvolvimento e a compreensão de todo o trabalho previsto.

Na análise do texto, visando à montagem dos campos lexicais, com

destaque no enquadramento situacional (actorialidade, temporalidade,

espacialidade, visual, gustativo, auditivo, vida x morte, belo x feio, negação,

entre outros). Os alunos executaram uma prática de releitura, de reconstrução

e figuração da crônica estudada, fazendo leituras contextualizadas priorizadas

na elaboração das atividades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento deste projeto de intervenção trouxe para os

estudantes uma relação com a leitura muito diferente do que costumamos

desenvolver em sala de aula, atendendo as expectativas esperadas.

Percebendo que o hábito de leitura passou por grandes transformações ao

longo do tempo e suas práticas também. O abandono do hábito de ler

diariamente está presente no cotidiano dos nossos alunos, e também dos

familiares.

Incentivar o desejo pela leitura é muito trabalhoso, e requer do professor

um planejamento bem estratégico para conseguir despertar neles a curiosidade

pela leitura, principalmente a crônica. Para Rangel, 1990, p. 9,

“nada - equipamento algum - substitui a leitura. Mesmo numa época em que proliferam os recursos audiovisuais e as “máquinas” ou “mecanismos” de ensinar (embora estejam ao alcance de poucas, bem poucas escolas), mesmo numa época que a informática se impõe com todo seu poder econômico e processual, pode-se (re) afirmar: nada – equipamento – algum substitui a leitura”.

Com esse propósito buscamos ao longo deste artigo construir

mecanismos para a formação de leitores letrados. Para a professora do GTR,

A. G, “O jovem pede este tipo de intervenção, de professores comprometidos

com o conteúdo e o preparo de suas aulas. Que venha para o espaço de

ensino-aprendizagem motivados ambos, educador e educando, transformando

o espaço da sala de aula para um ambiente de interação. E a interação só

acontece quando há comprometimento e planejamento, pensado e repensado

para atrair o aluno para o campo do conhecimento, e não saturá-lo com velhos

temas já rotos de tão usados sem uma releitura”.

Ler é compreender e que compreender é um processo de construção

de significados sobre o texto que se pretende entender. Esse processo que

envolve ativamente o aluno leitor, à medida que a compreensão se realiza não

deriva da recitação do conteúdo em questão. Por isso, é importante que o

aluno encontre sentido no fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupõe a

leitura, e para isso deve conhecer o quê vai ler e para que lê. Quando o

educando compreende o quê lê, está aprendendo; à medida que sua leitura o

informa, permite que ele se aproxime do mundo, de significados de um autor e

lhe oferece novas perspectivas, ou opiniões sobre determinados sentidos,

sempre é uma contribuição essencial para a cultura própria do leitor.

Nós somos aquilo que criamos. Partimos dessa convicção, amadurecida

durante o tempo que estou professor de Língua Portuguesa. A leitura, nas suas

mais variadas fontes, além de ser considerada profundamente importante na

vida do cidadão, é o fluir de novos rumos sem manipulação de influências

corruptas. Vivemos em tempos de tantos questionamentos sobre ética,

honestidade, dignidade, nada mais valioso que uma boa leitura para fazer- nos

repensar esses valores e tantos outros que estão se perdendo na sociedade

capitalista que vivemos. As atividades pedagógicas elaboradas a partir das

crônicas de Rubem Braga fazem pensar que poucas pessoas têm poder

socioeconômico, muitas são injustiçadas, oferecem dados que podemos

associá-los a toda e qualquer realidade, pois o ser humano hoje está cada vez

mais distante de si e do outro. Afastando-se, tem procurado reencontrar-se nos

bens materiais, esquecendo-se dos valores morais e éticos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. 7ª Edição. São Paulo, Paz e Terra, 1998.

RANGEL, Mary. Dinâmica de leitura para a sala de aula. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1990.

SARMENTO, Leila Laura,TUFANO, Douglas. PORTUGUÊS: Literatura, gramática, produção de texto - 1. ed - São Paulo: Moderna, 2010.

SOLÉ, I. Estratégias de Leitura. Tradução: Cláudia Schilling. 6ª Edição. Porto Alegre. ArtMed, 1998.

SOARES, M. Letramento um tema em três gêneros. 3ª Edição, 1ª reimpressão. Belo Horizonte. Autêntica Editora, 2012.

Sites consultados e sugeridos:

Sobre a vinda do Papa.http://youtu.be/G-JzPTdO0Ck http://www.youtube.com/watch?v=WtAYpM35NAk http://blogs.estadao.com.br/radar-tecnologico/files/2013/07/papa-francisco-foto-2013-estadao-marcos-de-paula1.jpg

http://3.bp.blogspot.com/-

http://rubem.wordpress.com/grandes-cronicas-brasileiras/ http://oitavoanocp2.blogspot.com.br/2012/03/rubem-braga-luto-da-familia-silva.html

http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/o-sol-dos-incas-o-senhor-rubem-braga-es-1913-rj-1990

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