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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · podem contribuir com o processo de ensino-aprendizagem e, ... 1 Professora de Língua Portuguesa e ... aquele prazer dos afetos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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CLUBE DA LEITURA: AVENTURAS PELO SÍTIO DO PICAPAU AMARELO

PROFESSORA PDE: Rosângela Juliani de Lima1 PROFESSORA ORIENTADORA: Cleiser Schenatto Langaro2

RESUMO: As práticas pedagógicas que aguçam a curiosidade e o encantamento podem contribuir com o processo de ensino-aprendizagem e, de acordo com Geraldi (2002), com a formação de um leitor mais crítico e consciente de seu papel social. Também Zilberman e Silva (1999) explicam que é através da leitura que se realiza um importante processo de transmissão/aquisição da cultura. Sendo assim, o prazer pela leitura somente se efetivará quando for experiência estética, ou seja, quando levar o leitor a tomar certa atitude sobre a obra. Este artigo resulta do Projeto Clube da Leitura: Aventuras pelo Sítio Do Picapau Amarelo, desenvolvido na Implementação Pedagógica junto ao Programa PDE, turma 2013-2014. O mesmo proporcionou aos alunos a interação com práticas de leitura e de interpretação do texto literário. No intuito de estabelecer uma relação prazerosa com o ato da leitura literária, realizaram-se atividades como a contação de histórias para e com um grupo de alunos no período de contraturno em escola pública, a partir de diversas estratégias lúdicas. Monteiro Lobato, escritor escolhido para este projeto, foi o responsável pelas aventuras imaginárias, visto que ele primou pela narrativa que desperta a curiosidade, a imaginação e a independência pelo espírito crítico, conforme Lajolo (2002).

Palavras-chave: Leitura; Literatura; Narrativa de Aventura; Contação de Histórias. 1. INTRODUÇÃO

Este artigo resulta de reflexões sobre o projeto realizado junto ao Programa

PDE, 2013 – 2014, a partir da Sequência Didática implementada com estratégias de

incentivo à leitura. O Clube da Leitura: Aventuras pelo Sítio do Picapau Amarelo

privilegiou os contos de aventura de Monteiro Lobato e foi desenvolvido em uma

escola pública da cidade de Medianeira, Paraná.

A partir da análise sobre os processos inerentes à leitura e à formação do

leitor competente apresentam-se possíveis estratégias de leituras pela ludicidde,

mas mais do que isto, aplicar estratégias que transformem o próprio ato de ler numa

1 Professora de Língua Portuguesa e Literatura, Especialista em Aprendizagem da Literatura Luso-

Brasileira, Arte Educação e Terapia como também Educação Especial - Professora de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva – Medianeira, PR. 2 Orientadora da Pesquisa. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras,

nível de Doutorado – área de concentração em Linguagem e Sociedade da UNIOESTE – Campus de Cascavel. Professora na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, PR, Brasil.

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brincadeira prazerosa e rica em contribuições cognitivas para o aluno.

Entende-se que a leitura da literatura em sala de aula e em ambientes

escolares a partir de estratégias lúdicas pode aguçar a curiosidade e o

encantamento dos educandos, ampliando sua leitura crítica do mundo e das

atividades sistematizadas no meio escolar (GERALDI, 2002). O projeto aqui

apresentado e analisado volta-se para tais reflexões tendo como subsídio as

narrativas de aventura do escritor Monteiro Lobato, aventuras de Pedrinho e

Narizinho Arrebitado. Conforme Foucambert (1994, p.17) “a escola é o espaço

formal destinado à apropriação da leitura, além de ser um momento de extrema

importância para formação do leitor”. Ensinar a ler e a escrever são tarefas da

escola, por isso um professor leitor pode transmitir e divulgar a leitura de forma

prazerosa.

De acordo com Foucambert (1994, p.17) não há idade específica para

estimular o prazer pela leitura:

aprende-se a ler em qualquer idade e continua-se sempre aprendendo. A escola é um momento da formação do leitor. Mas se essa formação for abandonada mais tarde, ou seja, se as instâncias educativas não se dedicarem sempre a ela, teremos pessoas que por motivos sociais e culturais, continuarão sendo leitores e progredirão em suas leituras, e outras que retrocederão e abandonarão qualquer processo de leitura.

Entende-se que quando uma criança lê uma história de forma lúdica ela vai

interagindo e se envolvendo com a mesma. Assim, a leitura de literatura enriquece a

prática docente, contribui com a formação cognitiva do aluno leitor, tanto em

questões de interpretação e compreensão quanto depois na produção escrita, dentre

outros fatores.

Portanto, para que a leitura seja um ato prazeroso faz-se necessário que

haja estímulo, é o que assevera Marques, (2001, p. 12), pois “ler é descortinar

muitas leituras possíveis, é dilatar os horizontes das próprias percepções, horizontes

dos muitos mundos abertos a inventividade e criatividade”.

Vincular a leitura com a realidade por meio da fantasia e da ficção é uma das

possibilidades para implementá-la. Considerando-se, que “a leitura da palavra

precede a leitura do mundo” como sentenciou Paulo Freire (1988, p.12) que afirma

que a educação deve ser vista “como prática concreta da libertação e mudanças”, os

educadores têm muito a contribuir com seus educandos.

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2. LEITURA: AMPLIACAO DOS HORIZONTES DE EXPECTATIVAS

A Leitura Lúdica na sala de aula a partir das obras de aventura de Monteiro

Lobato consistiu numa proposição de leitura não como uma obrigação, mas como

uma atividade que instiga e provoca o leitor.

A expressão “Ler é viajar pelo mundo sem sair do lugar” de Denise

Servegnini traduz reflexões sobre a importância da leitura em busca de

conhecimento, cultura, história, pensamentos e emoções e concomitantemente a

interpretação crítica dos mesmos. A leitura é primordial na vida do professor e dos

alunos, pois permite uma melhor compreensão dos fatos sociais e da história,

ampliando a visão de mundo do leitor. Ela tem o papel de auxiliar de maneira

fundamental na formação do indivíduo, além de ampliar seus horizontes e

perspectivas, conforme Revista Salto para o Futuro (2002).

O estímulo à leitura, portanto, implica redimensionar as práticas e os

espaços escolares a fim de apresentar um ambiente propício para o ato de ler. Ainda

que os alunos tenham acesso a todos os avanços tecnológicos observados nas

áreas de comunicações, principalmente audiovisuais, é através da leitura que se

realiza um importante processo de transmissão/aquisição da cultura (ZILBERMAN;

SILVA, 1999) e da reflexão sobre aquilo que é lido.

Sendo assim, cabe abordar os pressupostos da Estética da Recepção

apresentados por Jauss (1994), os quais privilegiam a figura do leitor no processo da

leitura. Sua pesquisa apresenta importantes contribuições aos estudos literários, de

caráter estético e historiográfico, pois atribui ao leitor, enquanto entidade coletiva, a

tarefa de estabelecer os parâmetros de recepção de cada época, mas, sobretudo, do

leitor.

Nessa teoria são analisados três aspectos principais, sendo eles “o conceito

de leitor, a visão do texto literário e o alcance do trabalho. [...] Houve a reabilitação

do papel do leitor para a concepção social histórico e critica” (ZILBERMAN, 2004, p.

103). Percebe-se assim, a preocupação com o estímulo de leitura, enfatizando o

diálogo que ocorre entre o autor, obra e leitor. Pela leitura o leitor é mobilizado a

emitir um juízo de valor fruto de sua vivência de mundo e do conhecimento

acumulado. Ignorar a experiência do leitor equivale a negar a literatura enquanto

fator social, neutralizando tudo que ela tem condições de proporcionar.

O prazer pela leitura somente se efetivará quando for experiência estética,

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ou seja, quando levar o leitor a tomar certa atitude sobre a obra. Segundo Jauss na

experiência estética é desenvolvida a hierarquia da natureza em três atividades

importantes, complementares e simultâneas sendo: “poíesis, aisthesis e katharsis.

Essas correspondem aos aspectos de produção e recepção da obra. Cada leitor

através da obra lida esclarece relações particulares de caráter “trasn-subjetivo”,

havendo uma interação entre o autor e leitor-receptor a qual provoca sentimentos,

emoções e reflexões, (IN: ZIBERMAN, 2004, p.34):

[...] aquele prazer dos afetos provocados pelo discurso ou pela poesia, capaz de conduzir o ouvinte e o expectador tanto à transformação de suas convicções, quanto à liberação de sua psique. Como experiência estética comunicativa básica, a Katharsis corresponde tanto à tarefa prática das artes como função social – i.e servir de mediadora, inauguradora e legitimadora de normas de ação –, quanto à determinação ideal de toda arte autônoma: libertar o expectador dos interesses práticos e das implicações de seu cotidiano, a fim de levá-lo, através do prazer de si no prazer do outro, para a liberdade estética de sua capacidade de julgar (JAUSS, 1979, p.80).

Portanto, através deste processo o leitor interage com a estrutura do texto

literário e além de sofrer seus efeitos age sobre eles tornando-se participativo.

Segundo Jauss (1994) cada obra apresenta sua estrutura apelativa, com

determinados códigos linguísticos que fazem parte de seu contexto físico e

conceitual, propiciando o diálogo entre obra, leitor e contexto (apud LIMA,1979).

Outra teoria importante é a Teoria do Efeito elaborada por Iser (1996) na

qual o teórico apresenta contribuições relevantes aos estudos literários, pois entende

que a leitura é um processo de comunicação, um diálogo de vozes que se

entrecruzam: a do autor, a do texto e a do leitor. Assim, os escritores Jauss e Iser,

partem da ideia de que o texto só existe a partir da atuação do leitor. Jauss (1994)

explica que o texto está ancorado no momento histórico, a historicidade literária. Iser

(1996) analisa que o texto apresenta uma estrutura de apelo que colabora para o

efeito e a reação do leitor frente à obra.

Diante desses argumentos, além de ressaltar a importância do leitor nas

leituras e interpretações, defende-se que para encontrar a identidade de uma

comunidade e de um povo, é imprescindível que as vozes dos seus sujeitos sejam

levadas em conta. Assim o leitor estará mais preparado para entender as

informações com as quais tem e terá contato. Como assevera Martha, (2008, p. 36)

saberá utilizá-las sendo crítico “tendo capacidade de comparar informações e fazer

escolhas”, pois o mercado de trabalho e a sociedade exigem um leitor flexível, capaz

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de selecionar, distinguir, inclusive suspeitar do texto e ter “novas leituras”.

Percebe-se que para a maioria das pessoas o contato com o livro se dá na

escola e é de fundamental importância que o professor, como mediador desse

contato, incentive e oriente o aluno a aprender a ler, formando um indivíduo letrado

para a sociedade, mas que, sobretudo, conduza o leitor a estabelecer relações de

significado e sentido a partir das vivências experimentadas em decorrência da

leitura (ISER apud LIMA,1979).

Esta concepção também é propagada por Solé (1998, p.32):

a leitura é um dos múltiplos desafios a ser enfrentado pela escola fazendo com que os alunos aprendam a ler corretamente. Isto é lógico, pois a aquisição da leitura é imprescindível para agir com autonomia nas sociedades letradas, e ela provoca uma desvantagem profunda nas pessoas que não conseguiram realizar essa aprendizagem.

Ler, portanto, é interagir, buscar informações, interagir com a busca

incessante de conhecimentos despertando o prazer através da fantasia, do

encantamento e da imaginação. Havendo entre a pessoa que lê e o texto uma

espécie de comunhão, um prazer, uma identificação, além da liberdade de

interpretação conforme Souza (2004).

A observação dos temas que interessam ao público infantil e juvenil é

fundamental, pois os leitores desse público “inconscientemente ou não buscam seu

autoconhecimento e sua identidade; tem sentimentos e razão; sonham e se

apaixonam; têm dúvidas, medos e prazeres [...]” (SOUZA, 2004, p. 42). Temas

voltados ao interesse do leitor podem garantir um espaço imaginário que lhes

permite extravasar seus medos, seus sonhos e vivenciar pela ficção as suas

fantasias.

3. A NARRATIVA DE AVENTURA E A FORMAÇÃO DO LEITOR

O escritor Monteiro Lobato é considerado o pai da literatura infantil a partir

da obra A Menina do Narizinho Arrebitado publicada em 1920 inaugurando a

primeira série de histórias que formariam uma geração de leitores. Ele levou a

pedagogização da leitura a sério, utilizando-se de vários artifícios para promover o

contato das crianças com livros de qualidade, apostando na fantasia, conforme

estudo de Lajolo (2OO2). Primou pela narrativa que desperta a curiosidade,

estabelecendo um chamado para a “[...] imaginação, pela independência, pelo

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espírito crítico, pelo humor” (LAJOLO, 2002, p. 60). Escrevia para que o seu leitor

não ficasse entediado, suas obras estão povoadas de leitores, escritores, narradores

e são ambientadas no do Sítio do Picapau Amarelo, lugar propício às aventuras

narradas por Dona Benta que traz para as suas histórias os grandes clássicos da

literatura universal com suas lendas, mitos e folclore. Além de Dona Benta, Tia

Anastácia e Tio Barnabé têm histórias para contar, eles são responsáveis por trazer

os contos populares da literatura oral.

Justifica-se a escolha das obras de Monteiro Lobato para a realização deste

estudo devido o interesse da pesquisadora pelas obras do escritor, além da

presença da aventura e do mundo maravilhoso que as histórias apresentam. No

“sítio o maravilhoso invade os limites da realidade porque a imaginação infantil

ultrapassa o interior das personagens e passa a fazer parte da paisagem” (LOBATO,

2008, p.125). Dessa forma oportunizam-se descobertas, idealizações e reflexões,

despertando, assim, o exercício da consciência critica e vivencia de emoções.

Monteiro Lobato soube entender o imaginário infantil e juvenil a ponto de

surpreender a todos com a sua maior criação, Emília, a boneca de pano. Além dela,

viviam no sítio outras duas crianças Pedrinho e Narizinho e também o Visconde

“imprimindo dimensão fantástica ao cenário do sítio”. (LAJOLO, 2002, p.60).

Observa-se, ainda, que as obras desse escritor foram e são responsáveis por

proporcionar uma infância e juventude de crianças e jovens mais resolvidos e

independentes porque lêem o mundo de forma crítica. Segundo Lajolo (2001, p. 7)

na obra Do mundo da leitura a leitura do mundo, a leitura é “fonte de prazer e de

sabedoria, a leitura não esgota seu poder de sedução nos estreitos círculos da

escola”. Ela confirma que é o professor que contribui de forma decisiva para que a

leitura ultrapasse os muros da escola.

O universo lobatiano retratou aspectos da brasilidade e do nacionalismo,

como também, nas ilustrações de suas obras infantis o mundo do faz de conta, pois

seus leitores moravam no Sítio do Picapau Amarelo (COELHO, 1991, p.228-237).

Estimulou leitores para uma imaginação criadora a partir de obras originais que pelo

lúdico e linguagem inovadora instauram ambientes propícios a imaginação, além de

apresentar o humor como recurso na elaboração da linguagem que compõem suas

histórias. Ele tinha uma “maneira envolvente de contar as histórias e transportava as

crianças para outros mundos” (MARTHA, 2008, p.79). Em meio à diversão suas

obras ensinavam aritmética, gramática, ciências e outros temas.

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Ceccanti observa que os personagens do sítio até os dias de hoje interagem

com o “imaginário dos leitores, sejam eles crianças ou adultos” (CECCANTI, 2008,

p.11). Sítio do Picapau Amarelo é um lugar mágico onde tudo pode acontecer, a

personagem Emília diz tudo o que pensa (é considerada a própria voz do escritor

Monteiro Lobato), o Visconde faz críticas aos sábios, a dona Benta acredita nas

imaginações das crianças e é uma grande leitora dos clássicos. Ela reconta essas

obras utilizando a linguagem que as crianças entendem. Já a tia Nastácia tem seu

lado místico. Narizinho e Pedrinho são crianças do ontem, do hoje e do amanhã,

junto com o pó do pirlimpimpim cuja liberdade e a criatividade de seus habitantes

são o segredo deste sucesso, tornando assim o Sítio como um “refúgio secreto

procurado e almejado por toda a criança”, conforme Abramivich (apud LOBATO,

2008, p.10).

Lobato concede a literatura nacional e aos leitores de suas obras

características nacionais. Mas ele também povoa o Brasil tropical e folclórico com

personagens da literatura universal, conforme Abramivich (apud LOBATO, 2008).

Dentre muitas obras escritas em Reinações de Narizinho ele aborda a dificuldade

que os adultos têm para participar do reino do faz de conta. “Que bicho bobo é gente

grande! Morrem de lidar com as maravilhas e não aprendem nada. Não aprendem

essa coisa tão simples que é o “faz-de-conta” (LOBATO, 1988, p. 13).

Bragato Filho (1995) defende a importância da relação entre leitor/texto e

escritor, enfatizando principalmente a importância dos diálogos nos níveis sensorial,

emocional e racional. Para o escritor o ideal seria o livre acesso aos livros, que

deveriam circular pela escola adequando-se a faixa etária do leitor. O autor também

destaca a importância do professor abordar em classe assuntos de interesses dos

alunos, envolvendo-os para a leitura e para o debate, além da contação de histórias

e conversação entre colegas, transformando a sala de aula num ambiente agradável

com leituras que encantam, envolvem e cativam o leitor.

4. ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO METODOLÓGICA

O projeto foi desenvolvido com os alunos da Escola Estadual Marechal

Arthur da Costa e Silva, sob a orientação da professora Cleiser Schenatto Langaro e

sob coordenação da professora Rosangela Juliani de Lima.

A partir do embasamento teórico bibliográfico foram elaboradas e

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desenvolvidas estratégias lúdicas de leitura para um grupo de 20 alunos, no período

de contraturno, formando um Clube de Leitura na escola. A principal atividade

proposta solicitou leituras de narrativas de aventura do escritor Monteiro Lobato.

Semanalmente as crianças apresentavam suas leituras através da contação de

história (oralmente), usando diversas dinâmicas como o uso do fantoche, peça

teatral, varetas ou maquetes. Esta sequência contemplou outras atividades, tais

como a leitura na biblioteca, passeio na propriedade do Sítio do Seu Beto e

exposições dos trabalhos realizados por eles, além da apresentação artística do

músico e Professor Valdir e do contador de histórias Zé Alves. O encerramento deu-

se numa tarde de apresentações para os colegas da escola e a noite para os pais.

Durante a apresentação houve contação de histórias, apresentações teatrais com os

personagens do Sítio do Picapau Amarelo, slides que evidenciaram as atividades

realizadas e os participantes do projeto na propriedade do Sítio do Beto, assim como

poesia e paródia elaboradas sobre o escritor e sobre os personagens das Aventuras

pelo Sítio do Picapau Amarelo.

Compreende-se que o leitor forma-se desde cedo, o ideal seria que iniciasse

suas vivências de leitura em casa, com a família e evoluísse no período escolar para

seguir por toda a vida como leitores de mundo que saibam argumentar e que

possam participar como agentes da própria história, conforme orientações de Geraldi

(2002).

Nesse sentido, destaca-se a importância de estudos que têm como propósito

investigar experiências com leituras. Entende-se, com base em Marques (2001, p.

12), que “ler é descortinar muitas leituras possíveis, é dilatar os horizontes das

próprias percepções, horizontes dos muitos mundos abertos a inventividade e

criatividade”. E considerando-se que “a leitura da palavra precede a leitura do

mundo”, como sentenciou Paulo Freire (1988, p.12), a educação deve ser vista como

prática concreta da libertação e mudanças, os educadores devem sempre vincular a

leitura com a realidade.

Abramovich (1993) também analisa que ao ouvir histórias o leitor vive as

emoções que elas provocam. Nesse sentido, escutar histórias é o início, o ponto-

chave para tornar-se um leitor, um inventor, um criador.

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5. ESTRATÉGIAS E AÇÕES

O Projeto Clube da Leitura: Aventuras pelo Sítio do Picapau Amarelo foi

apresentado a direção da escola e aos professores durante a semana pedagógica.

No mês de fevereiro foram convidados os alunos para participar do projeto no

contraturno, duas vezes por semana.

O grupo iniciou com 16 alunos, sendo que 14 participantes realizaram as

atividades até o final. Havia alunos de sextos, sétimos, oitavos e nonos anos do

período vespertino. No primeiro encontro realizou-se a apresentação do projeto aos

alunos através de uma conversação sobre os objetivos, os horários, a proposta do

mesmo, o gênero conto de aventura do escritor Monteiro Lobato.

Iniciou-se com a biografia do escritor, contato com suas obras na biblioteca,

vídeos, dentre outros textos de contextualização histórica. Na sequência tiveram

contato e analisaram letras das músicas acerca do Sítio do Picapau Amarelo, como

também confeccionaram painéis com desenhos dos personagens do sítio, colorido-

os em TNT para expor no ambiente escolar.

É importante considerar a realização dos questionamentos sobre os

conhecimentos prévios dos alunos quanto ao gênero da narrativa de aventura e

realizaram-se atividades para o reconhecimento do mesmo. A partir de trabalho em

grupos realizaram-se análises sobre gênero narrativo a partir dos textos A

modorra; O saci; Exame e Pontuação - Emília no País da Gramática; Caçadas de

Pedrinho e Pedrinho pega um saci de Monteiro Lobato, além da confecção de

maquetes.

As relações possíveis pela intertextualidade também contribuíram, as músicas

como a de Gilberto Gil Sítio do Sítio do Picapau Amarelo estiveram sempre

presentes nos encontros, além de vídeos e ilustrações. Os pais participaram do

projeto confeccionando as roupas dos personagens para as atividades teatrais. Em

um dos encontros, conforme o cronograma houve a visita do contador de histórias

“Zé”, que interpretou uma das aventuras de Pedrinho.

Em outro momento foi realizada a visita ao Sítio do Beto, o grupo adorou o

passeio, o cenário encantador, muitos não conheciam um sítio, nem tinham tido

contato com animais e principalmente com a natureza sitiante. Enfim, todo o cenário

identificou-se com o Sítio de Monteiro Lobato em suas obras na imaginação e nesse

sítio na realidade.

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Os pais comentaram que seus filhos estavam lendo mais, outros que não liam

passaram a apreciar a leitura, outro que era tímido e se desenvolveu na oralidade,

como também alguns alunos gostaram de fazer teatro e disseram que pretendem

continuar. A direção da escola foi procurada pelos pais e crianças para solicitar que o

projeto tivesse continuidade. Durante o encerramento havia um clima de tarefa

concluída pelos participantes do clube, mas também de tristeza porque esse grupo

tornou-se especial, além de ser um clube de leitores que contavam histórias que

liam, ocorreu a interação e a amizade entre amigos leitores.

6. TRABALHO EM REDE - GTR

O grupo de professores GTR- 2014 contribuiu com sugestões, as quais foram

excelentes sendo que algumas fizeram parte da prática didática. Percebeu-se,

assim, que muitos colegas apreciam as obras do Monteiro Lobato, tendo como

ideais afins em relação ao despertar o gosto de ler.

Além de outras, a sugestão da "Sacola da Leitura: a Leitura que eu Quero" e

"O Canto da Leitura" também foram propostas debatidas no grupo.

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Percebeu-se que com os encontros no Clube da Leitura os participantes

sentiram-se estimulados a ler. Durante a avaliação/conversação realizada com os

integrantes do grupo, os mesmos afirmaram que as atividades diferentes foram

fundamentais para que permanecessem no projeto, citando que gostaram de

conhecer mais sobre o escritor Monteiro Lobato, suas obras e seus personagens.

Para alguns foi como se realizassem uma viagem ao mundo fantástico, de aventuras

e imaginação. Todas essas informações e atividades do projeto ficaram registradas

em arquivo áudio visual, fotografias, maquetes, painéis decorativos, entrevistas e

escritas.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ressalta-se a importância do papel do professor mediador, planejando e

orientando estratégias de leitura. Faz-se necessário também o apoio pedagógico, a

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conscientização dos pais, o envolvimento da sociedade de uma maneira geral.

A obra de Monteiro Lobato deixou marcas na cultura brasileira e muitas

influenciaram e influenciam leitores de diferentes gerações, seus modos de ser e de

estar no mundo. A leitura de suas obras na escola de hoje pode promover encontros

com as novas gerações, não apenas garantir a elas o acesso a bens culturais, mas

promover o diálogo que preserva o passado, contribuindo para que os novos leitores

possam perceber e avaliar o próprio presente e projetar o futuro, formando-se e

transformando-se constantemente.

Retomando a celebre frase de Monteiro Lobato “Um país se faz com homens

e livros” conclui-se sobre a necessidade de estimular a leitura e que os objetivos

desse trabalho foram alcançados com êxito, pois as atividades propostas

despertaram a motivação e a cultura da leitura e desenvolveram a criatividade e a

capacidade de expressão oral e escrita.

9. REFERÊNCIAS BOLETIM O SALTO PARA O FUTURO, Ler e Escrever: Compromisso da Escola, Agosto 2002,TV ESCOLA.

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FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

GERALDI, João W. (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 2002.

LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura para a Leitura do Mundo. 6. ed. São Paulo: Ática, 2001.

________. Monteiro Lobato, um brasileiro sob medida. São Paulo: Editora

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_______. O saci. São Paulo: Globo.

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