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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CLUBE DA LEITURA: AVENTURAS PELO SÍTIO DO PICAPAU AMARELO
PROFESSORA PDE: Rosângela Juliani de Lima1 PROFESSORA ORIENTADORA: Cleiser Schenatto Langaro2
RESUMO: As práticas pedagógicas que aguçam a curiosidade e o encantamento podem contribuir com o processo de ensino-aprendizagem e, de acordo com Geraldi (2002), com a formação de um leitor mais crítico e consciente de seu papel social. Também Zilberman e Silva (1999) explicam que é através da leitura que se realiza um importante processo de transmissão/aquisição da cultura. Sendo assim, o prazer pela leitura somente se efetivará quando for experiência estética, ou seja, quando levar o leitor a tomar certa atitude sobre a obra. Este artigo resulta do Projeto Clube da Leitura: Aventuras pelo Sítio Do Picapau Amarelo, desenvolvido na Implementação Pedagógica junto ao Programa PDE, turma 2013-2014. O mesmo proporcionou aos alunos a interação com práticas de leitura e de interpretação do texto literário. No intuito de estabelecer uma relação prazerosa com o ato da leitura literária, realizaram-se atividades como a contação de histórias para e com um grupo de alunos no período de contraturno em escola pública, a partir de diversas estratégias lúdicas. Monteiro Lobato, escritor escolhido para este projeto, foi o responsável pelas aventuras imaginárias, visto que ele primou pela narrativa que desperta a curiosidade, a imaginação e a independência pelo espírito crítico, conforme Lajolo (2002).
Palavras-chave: Leitura; Literatura; Narrativa de Aventura; Contação de Histórias. 1. INTRODUÇÃO
Este artigo resulta de reflexões sobre o projeto realizado junto ao Programa
PDE, 2013 – 2014, a partir da Sequência Didática implementada com estratégias de
incentivo à leitura. O Clube da Leitura: Aventuras pelo Sítio do Picapau Amarelo
privilegiou os contos de aventura de Monteiro Lobato e foi desenvolvido em uma
escola pública da cidade de Medianeira, Paraná.
A partir da análise sobre os processos inerentes à leitura e à formação do
leitor competente apresentam-se possíveis estratégias de leituras pela ludicidde,
mas mais do que isto, aplicar estratégias que transformem o próprio ato de ler numa
1 Professora de Língua Portuguesa e Literatura, Especialista em Aprendizagem da Literatura Luso-
Brasileira, Arte Educação e Terapia como também Educação Especial - Professora de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva – Medianeira, PR. 2 Orientadora da Pesquisa. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras,
nível de Doutorado – área de concentração em Linguagem e Sociedade da UNIOESTE – Campus de Cascavel. Professora na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, PR, Brasil.
brincadeira prazerosa e rica em contribuições cognitivas para o aluno.
Entende-se que a leitura da literatura em sala de aula e em ambientes
escolares a partir de estratégias lúdicas pode aguçar a curiosidade e o
encantamento dos educandos, ampliando sua leitura crítica do mundo e das
atividades sistematizadas no meio escolar (GERALDI, 2002). O projeto aqui
apresentado e analisado volta-se para tais reflexões tendo como subsídio as
narrativas de aventura do escritor Monteiro Lobato, aventuras de Pedrinho e
Narizinho Arrebitado. Conforme Foucambert (1994, p.17) “a escola é o espaço
formal destinado à apropriação da leitura, além de ser um momento de extrema
importância para formação do leitor”. Ensinar a ler e a escrever são tarefas da
escola, por isso um professor leitor pode transmitir e divulgar a leitura de forma
prazerosa.
De acordo com Foucambert (1994, p.17) não há idade específica para
estimular o prazer pela leitura:
aprende-se a ler em qualquer idade e continua-se sempre aprendendo. A escola é um momento da formação do leitor. Mas se essa formação for abandonada mais tarde, ou seja, se as instâncias educativas não se dedicarem sempre a ela, teremos pessoas que por motivos sociais e culturais, continuarão sendo leitores e progredirão em suas leituras, e outras que retrocederão e abandonarão qualquer processo de leitura.
Entende-se que quando uma criança lê uma história de forma lúdica ela vai
interagindo e se envolvendo com a mesma. Assim, a leitura de literatura enriquece a
prática docente, contribui com a formação cognitiva do aluno leitor, tanto em
questões de interpretação e compreensão quanto depois na produção escrita, dentre
outros fatores.
Portanto, para que a leitura seja um ato prazeroso faz-se necessário que
haja estímulo, é o que assevera Marques, (2001, p. 12), pois “ler é descortinar
muitas leituras possíveis, é dilatar os horizontes das próprias percepções, horizontes
dos muitos mundos abertos a inventividade e criatividade”.
Vincular a leitura com a realidade por meio da fantasia e da ficção é uma das
possibilidades para implementá-la. Considerando-se, que “a leitura da palavra
precede a leitura do mundo” como sentenciou Paulo Freire (1988, p.12) que afirma
que a educação deve ser vista “como prática concreta da libertação e mudanças”, os
educadores têm muito a contribuir com seus educandos.
2. LEITURA: AMPLIACAO DOS HORIZONTES DE EXPECTATIVAS
A Leitura Lúdica na sala de aula a partir das obras de aventura de Monteiro
Lobato consistiu numa proposição de leitura não como uma obrigação, mas como
uma atividade que instiga e provoca o leitor.
A expressão “Ler é viajar pelo mundo sem sair do lugar” de Denise
Servegnini traduz reflexões sobre a importância da leitura em busca de
conhecimento, cultura, história, pensamentos e emoções e concomitantemente a
interpretação crítica dos mesmos. A leitura é primordial na vida do professor e dos
alunos, pois permite uma melhor compreensão dos fatos sociais e da história,
ampliando a visão de mundo do leitor. Ela tem o papel de auxiliar de maneira
fundamental na formação do indivíduo, além de ampliar seus horizontes e
perspectivas, conforme Revista Salto para o Futuro (2002).
O estímulo à leitura, portanto, implica redimensionar as práticas e os
espaços escolares a fim de apresentar um ambiente propício para o ato de ler. Ainda
que os alunos tenham acesso a todos os avanços tecnológicos observados nas
áreas de comunicações, principalmente audiovisuais, é através da leitura que se
realiza um importante processo de transmissão/aquisição da cultura (ZILBERMAN;
SILVA, 1999) e da reflexão sobre aquilo que é lido.
Sendo assim, cabe abordar os pressupostos da Estética da Recepção
apresentados por Jauss (1994), os quais privilegiam a figura do leitor no processo da
leitura. Sua pesquisa apresenta importantes contribuições aos estudos literários, de
caráter estético e historiográfico, pois atribui ao leitor, enquanto entidade coletiva, a
tarefa de estabelecer os parâmetros de recepção de cada época, mas, sobretudo, do
leitor.
Nessa teoria são analisados três aspectos principais, sendo eles “o conceito
de leitor, a visão do texto literário e o alcance do trabalho. [...] Houve a reabilitação
do papel do leitor para a concepção social histórico e critica” (ZILBERMAN, 2004, p.
103). Percebe-se assim, a preocupação com o estímulo de leitura, enfatizando o
diálogo que ocorre entre o autor, obra e leitor. Pela leitura o leitor é mobilizado a
emitir um juízo de valor fruto de sua vivência de mundo e do conhecimento
acumulado. Ignorar a experiência do leitor equivale a negar a literatura enquanto
fator social, neutralizando tudo que ela tem condições de proporcionar.
O prazer pela leitura somente se efetivará quando for experiência estética,
ou seja, quando levar o leitor a tomar certa atitude sobre a obra. Segundo Jauss na
experiência estética é desenvolvida a hierarquia da natureza em três atividades
importantes, complementares e simultâneas sendo: “poíesis, aisthesis e katharsis.
Essas correspondem aos aspectos de produção e recepção da obra. Cada leitor
através da obra lida esclarece relações particulares de caráter “trasn-subjetivo”,
havendo uma interação entre o autor e leitor-receptor a qual provoca sentimentos,
emoções e reflexões, (IN: ZIBERMAN, 2004, p.34):
[...] aquele prazer dos afetos provocados pelo discurso ou pela poesia, capaz de conduzir o ouvinte e o expectador tanto à transformação de suas convicções, quanto à liberação de sua psique. Como experiência estética comunicativa básica, a Katharsis corresponde tanto à tarefa prática das artes como função social – i.e servir de mediadora, inauguradora e legitimadora de normas de ação –, quanto à determinação ideal de toda arte autônoma: libertar o expectador dos interesses práticos e das implicações de seu cotidiano, a fim de levá-lo, através do prazer de si no prazer do outro, para a liberdade estética de sua capacidade de julgar (JAUSS, 1979, p.80).
Portanto, através deste processo o leitor interage com a estrutura do texto
literário e além de sofrer seus efeitos age sobre eles tornando-se participativo.
Segundo Jauss (1994) cada obra apresenta sua estrutura apelativa, com
determinados códigos linguísticos que fazem parte de seu contexto físico e
conceitual, propiciando o diálogo entre obra, leitor e contexto (apud LIMA,1979).
Outra teoria importante é a Teoria do Efeito elaborada por Iser (1996) na
qual o teórico apresenta contribuições relevantes aos estudos literários, pois entende
que a leitura é um processo de comunicação, um diálogo de vozes que se
entrecruzam: a do autor, a do texto e a do leitor. Assim, os escritores Jauss e Iser,
partem da ideia de que o texto só existe a partir da atuação do leitor. Jauss (1994)
explica que o texto está ancorado no momento histórico, a historicidade literária. Iser
(1996) analisa que o texto apresenta uma estrutura de apelo que colabora para o
efeito e a reação do leitor frente à obra.
Diante desses argumentos, além de ressaltar a importância do leitor nas
leituras e interpretações, defende-se que para encontrar a identidade de uma
comunidade e de um povo, é imprescindível que as vozes dos seus sujeitos sejam
levadas em conta. Assim o leitor estará mais preparado para entender as
informações com as quais tem e terá contato. Como assevera Martha, (2008, p. 36)
saberá utilizá-las sendo crítico “tendo capacidade de comparar informações e fazer
escolhas”, pois o mercado de trabalho e a sociedade exigem um leitor flexível, capaz
de selecionar, distinguir, inclusive suspeitar do texto e ter “novas leituras”.
Percebe-se que para a maioria das pessoas o contato com o livro se dá na
escola e é de fundamental importância que o professor, como mediador desse
contato, incentive e oriente o aluno a aprender a ler, formando um indivíduo letrado
para a sociedade, mas que, sobretudo, conduza o leitor a estabelecer relações de
significado e sentido a partir das vivências experimentadas em decorrência da
leitura (ISER apud LIMA,1979).
Esta concepção também é propagada por Solé (1998, p.32):
a leitura é um dos múltiplos desafios a ser enfrentado pela escola fazendo com que os alunos aprendam a ler corretamente. Isto é lógico, pois a aquisição da leitura é imprescindível para agir com autonomia nas sociedades letradas, e ela provoca uma desvantagem profunda nas pessoas que não conseguiram realizar essa aprendizagem.
Ler, portanto, é interagir, buscar informações, interagir com a busca
incessante de conhecimentos despertando o prazer através da fantasia, do
encantamento e da imaginação. Havendo entre a pessoa que lê e o texto uma
espécie de comunhão, um prazer, uma identificação, além da liberdade de
interpretação conforme Souza (2004).
A observação dos temas que interessam ao público infantil e juvenil é
fundamental, pois os leitores desse público “inconscientemente ou não buscam seu
autoconhecimento e sua identidade; tem sentimentos e razão; sonham e se
apaixonam; têm dúvidas, medos e prazeres [...]” (SOUZA, 2004, p. 42). Temas
voltados ao interesse do leitor podem garantir um espaço imaginário que lhes
permite extravasar seus medos, seus sonhos e vivenciar pela ficção as suas
fantasias.
3. A NARRATIVA DE AVENTURA E A FORMAÇÃO DO LEITOR
O escritor Monteiro Lobato é considerado o pai da literatura infantil a partir
da obra A Menina do Narizinho Arrebitado publicada em 1920 inaugurando a
primeira série de histórias que formariam uma geração de leitores. Ele levou a
pedagogização da leitura a sério, utilizando-se de vários artifícios para promover o
contato das crianças com livros de qualidade, apostando na fantasia, conforme
estudo de Lajolo (2OO2). Primou pela narrativa que desperta a curiosidade,
estabelecendo um chamado para a “[...] imaginação, pela independência, pelo
espírito crítico, pelo humor” (LAJOLO, 2002, p. 60). Escrevia para que o seu leitor
não ficasse entediado, suas obras estão povoadas de leitores, escritores, narradores
e são ambientadas no do Sítio do Picapau Amarelo, lugar propício às aventuras
narradas por Dona Benta que traz para as suas histórias os grandes clássicos da
literatura universal com suas lendas, mitos e folclore. Além de Dona Benta, Tia
Anastácia e Tio Barnabé têm histórias para contar, eles são responsáveis por trazer
os contos populares da literatura oral.
Justifica-se a escolha das obras de Monteiro Lobato para a realização deste
estudo devido o interesse da pesquisadora pelas obras do escritor, além da
presença da aventura e do mundo maravilhoso que as histórias apresentam. No
“sítio o maravilhoso invade os limites da realidade porque a imaginação infantil
ultrapassa o interior das personagens e passa a fazer parte da paisagem” (LOBATO,
2008, p.125). Dessa forma oportunizam-se descobertas, idealizações e reflexões,
despertando, assim, o exercício da consciência critica e vivencia de emoções.
Monteiro Lobato soube entender o imaginário infantil e juvenil a ponto de
surpreender a todos com a sua maior criação, Emília, a boneca de pano. Além dela,
viviam no sítio outras duas crianças Pedrinho e Narizinho e também o Visconde
“imprimindo dimensão fantástica ao cenário do sítio”. (LAJOLO, 2002, p.60).
Observa-se, ainda, que as obras desse escritor foram e são responsáveis por
proporcionar uma infância e juventude de crianças e jovens mais resolvidos e
independentes porque lêem o mundo de forma crítica. Segundo Lajolo (2001, p. 7)
na obra Do mundo da leitura a leitura do mundo, a leitura é “fonte de prazer e de
sabedoria, a leitura não esgota seu poder de sedução nos estreitos círculos da
escola”. Ela confirma que é o professor que contribui de forma decisiva para que a
leitura ultrapasse os muros da escola.
O universo lobatiano retratou aspectos da brasilidade e do nacionalismo,
como também, nas ilustrações de suas obras infantis o mundo do faz de conta, pois
seus leitores moravam no Sítio do Picapau Amarelo (COELHO, 1991, p.228-237).
Estimulou leitores para uma imaginação criadora a partir de obras originais que pelo
lúdico e linguagem inovadora instauram ambientes propícios a imaginação, além de
apresentar o humor como recurso na elaboração da linguagem que compõem suas
histórias. Ele tinha uma “maneira envolvente de contar as histórias e transportava as
crianças para outros mundos” (MARTHA, 2008, p.79). Em meio à diversão suas
obras ensinavam aritmética, gramática, ciências e outros temas.
Ceccanti observa que os personagens do sítio até os dias de hoje interagem
com o “imaginário dos leitores, sejam eles crianças ou adultos” (CECCANTI, 2008,
p.11). Sítio do Picapau Amarelo é um lugar mágico onde tudo pode acontecer, a
personagem Emília diz tudo o que pensa (é considerada a própria voz do escritor
Monteiro Lobato), o Visconde faz críticas aos sábios, a dona Benta acredita nas
imaginações das crianças e é uma grande leitora dos clássicos. Ela reconta essas
obras utilizando a linguagem que as crianças entendem. Já a tia Nastácia tem seu
lado místico. Narizinho e Pedrinho são crianças do ontem, do hoje e do amanhã,
junto com o pó do pirlimpimpim cuja liberdade e a criatividade de seus habitantes
são o segredo deste sucesso, tornando assim o Sítio como um “refúgio secreto
procurado e almejado por toda a criança”, conforme Abramivich (apud LOBATO,
2008, p.10).
Lobato concede a literatura nacional e aos leitores de suas obras
características nacionais. Mas ele também povoa o Brasil tropical e folclórico com
personagens da literatura universal, conforme Abramivich (apud LOBATO, 2008).
Dentre muitas obras escritas em Reinações de Narizinho ele aborda a dificuldade
que os adultos têm para participar do reino do faz de conta. “Que bicho bobo é gente
grande! Morrem de lidar com as maravilhas e não aprendem nada. Não aprendem
essa coisa tão simples que é o “faz-de-conta” (LOBATO, 1988, p. 13).
Bragato Filho (1995) defende a importância da relação entre leitor/texto e
escritor, enfatizando principalmente a importância dos diálogos nos níveis sensorial,
emocional e racional. Para o escritor o ideal seria o livre acesso aos livros, que
deveriam circular pela escola adequando-se a faixa etária do leitor. O autor também
destaca a importância do professor abordar em classe assuntos de interesses dos
alunos, envolvendo-os para a leitura e para o debate, além da contação de histórias
e conversação entre colegas, transformando a sala de aula num ambiente agradável
com leituras que encantam, envolvem e cativam o leitor.
4. ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO METODOLÓGICA
O projeto foi desenvolvido com os alunos da Escola Estadual Marechal
Arthur da Costa e Silva, sob a orientação da professora Cleiser Schenatto Langaro e
sob coordenação da professora Rosangela Juliani de Lima.
A partir do embasamento teórico bibliográfico foram elaboradas e
desenvolvidas estratégias lúdicas de leitura para um grupo de 20 alunos, no período
de contraturno, formando um Clube de Leitura na escola. A principal atividade
proposta solicitou leituras de narrativas de aventura do escritor Monteiro Lobato.
Semanalmente as crianças apresentavam suas leituras através da contação de
história (oralmente), usando diversas dinâmicas como o uso do fantoche, peça
teatral, varetas ou maquetes. Esta sequência contemplou outras atividades, tais
como a leitura na biblioteca, passeio na propriedade do Sítio do Seu Beto e
exposições dos trabalhos realizados por eles, além da apresentação artística do
músico e Professor Valdir e do contador de histórias Zé Alves. O encerramento deu-
se numa tarde de apresentações para os colegas da escola e a noite para os pais.
Durante a apresentação houve contação de histórias, apresentações teatrais com os
personagens do Sítio do Picapau Amarelo, slides que evidenciaram as atividades
realizadas e os participantes do projeto na propriedade do Sítio do Beto, assim como
poesia e paródia elaboradas sobre o escritor e sobre os personagens das Aventuras
pelo Sítio do Picapau Amarelo.
Compreende-se que o leitor forma-se desde cedo, o ideal seria que iniciasse
suas vivências de leitura em casa, com a família e evoluísse no período escolar para
seguir por toda a vida como leitores de mundo que saibam argumentar e que
possam participar como agentes da própria história, conforme orientações de Geraldi
(2002).
Nesse sentido, destaca-se a importância de estudos que têm como propósito
investigar experiências com leituras. Entende-se, com base em Marques (2001, p.
12), que “ler é descortinar muitas leituras possíveis, é dilatar os horizontes das
próprias percepções, horizontes dos muitos mundos abertos a inventividade e
criatividade”. E considerando-se que “a leitura da palavra precede a leitura do
mundo”, como sentenciou Paulo Freire (1988, p.12), a educação deve ser vista como
prática concreta da libertação e mudanças, os educadores devem sempre vincular a
leitura com a realidade.
Abramovich (1993) também analisa que ao ouvir histórias o leitor vive as
emoções que elas provocam. Nesse sentido, escutar histórias é o início, o ponto-
chave para tornar-se um leitor, um inventor, um criador.
5. ESTRATÉGIAS E AÇÕES
O Projeto Clube da Leitura: Aventuras pelo Sítio do Picapau Amarelo foi
apresentado a direção da escola e aos professores durante a semana pedagógica.
No mês de fevereiro foram convidados os alunos para participar do projeto no
contraturno, duas vezes por semana.
O grupo iniciou com 16 alunos, sendo que 14 participantes realizaram as
atividades até o final. Havia alunos de sextos, sétimos, oitavos e nonos anos do
período vespertino. No primeiro encontro realizou-se a apresentação do projeto aos
alunos através de uma conversação sobre os objetivos, os horários, a proposta do
mesmo, o gênero conto de aventura do escritor Monteiro Lobato.
Iniciou-se com a biografia do escritor, contato com suas obras na biblioteca,
vídeos, dentre outros textos de contextualização histórica. Na sequência tiveram
contato e analisaram letras das músicas acerca do Sítio do Picapau Amarelo, como
também confeccionaram painéis com desenhos dos personagens do sítio, colorido-
os em TNT para expor no ambiente escolar.
É importante considerar a realização dos questionamentos sobre os
conhecimentos prévios dos alunos quanto ao gênero da narrativa de aventura e
realizaram-se atividades para o reconhecimento do mesmo. A partir de trabalho em
grupos realizaram-se análises sobre gênero narrativo a partir dos textos A
modorra; O saci; Exame e Pontuação - Emília no País da Gramática; Caçadas de
Pedrinho e Pedrinho pega um saci de Monteiro Lobato, além da confecção de
maquetes.
As relações possíveis pela intertextualidade também contribuíram, as músicas
como a de Gilberto Gil Sítio do Sítio do Picapau Amarelo estiveram sempre
presentes nos encontros, além de vídeos e ilustrações. Os pais participaram do
projeto confeccionando as roupas dos personagens para as atividades teatrais. Em
um dos encontros, conforme o cronograma houve a visita do contador de histórias
“Zé”, que interpretou uma das aventuras de Pedrinho.
Em outro momento foi realizada a visita ao Sítio do Beto, o grupo adorou o
passeio, o cenário encantador, muitos não conheciam um sítio, nem tinham tido
contato com animais e principalmente com a natureza sitiante. Enfim, todo o cenário
identificou-se com o Sítio de Monteiro Lobato em suas obras na imaginação e nesse
sítio na realidade.
Os pais comentaram que seus filhos estavam lendo mais, outros que não liam
passaram a apreciar a leitura, outro que era tímido e se desenvolveu na oralidade,
como também alguns alunos gostaram de fazer teatro e disseram que pretendem
continuar. A direção da escola foi procurada pelos pais e crianças para solicitar que o
projeto tivesse continuidade. Durante o encerramento havia um clima de tarefa
concluída pelos participantes do clube, mas também de tristeza porque esse grupo
tornou-se especial, além de ser um clube de leitores que contavam histórias que
liam, ocorreu a interação e a amizade entre amigos leitores.
6. TRABALHO EM REDE - GTR
O grupo de professores GTR- 2014 contribuiu com sugestões, as quais foram
excelentes sendo que algumas fizeram parte da prática didática. Percebeu-se,
assim, que muitos colegas apreciam as obras do Monteiro Lobato, tendo como
ideais afins em relação ao despertar o gosto de ler.
Além de outras, a sugestão da "Sacola da Leitura: a Leitura que eu Quero" e
"O Canto da Leitura" também foram propostas debatidas no grupo.
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Percebeu-se que com os encontros no Clube da Leitura os participantes
sentiram-se estimulados a ler. Durante a avaliação/conversação realizada com os
integrantes do grupo, os mesmos afirmaram que as atividades diferentes foram
fundamentais para que permanecessem no projeto, citando que gostaram de
conhecer mais sobre o escritor Monteiro Lobato, suas obras e seus personagens.
Para alguns foi como se realizassem uma viagem ao mundo fantástico, de aventuras
e imaginação. Todas essas informações e atividades do projeto ficaram registradas
em arquivo áudio visual, fotografias, maquetes, painéis decorativos, entrevistas e
escritas.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ressalta-se a importância do papel do professor mediador, planejando e
orientando estratégias de leitura. Faz-se necessário também o apoio pedagógico, a
conscientização dos pais, o envolvimento da sociedade de uma maneira geral.
A obra de Monteiro Lobato deixou marcas na cultura brasileira e muitas
influenciaram e influenciam leitores de diferentes gerações, seus modos de ser e de
estar no mundo. A leitura de suas obras na escola de hoje pode promover encontros
com as novas gerações, não apenas garantir a elas o acesso a bens culturais, mas
promover o diálogo que preserva o passado, contribuindo para que os novos leitores
possam perceber e avaliar o próprio presente e projetar o futuro, formando-se e
transformando-se constantemente.
Retomando a celebre frase de Monteiro Lobato “Um país se faz com homens
e livros” conclui-se sobre a necessidade de estimular a leitura e que os objetivos
desse trabalho foram alcançados com êxito, pois as atividades propostas
despertaram a motivação e a cultura da leitura e desenvolveram a criatividade e a
capacidade de expressão oral e escrita.
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