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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
PROTAGONISMO JUVENIL NO ENSINO MÉDIO E GESTÃO
DEMOCRÁTICA DA ESCOLA PÚBLICA: implicações e
possibilidades metodológicas para a prática escolar
Maria Juscélia Sabai Müller1
Nájela Tavares Ujiie2
Resumo. A articulação de uma proposta educacional no Ensino Médio, voltada ao Protagonismo Juvenil é considerada hoje essencial para a formação pessoal, social e política de jovens, seu desenvolvimento pode orientar, informar e estimular a criatividade, o envolvimento e a participação ativa, além de ser capaz de possibilitar a formação de lideranças, com sentido de pertencimento a escola e a comunidade, enquanto sujeitos de vez e de voz. Desta maneira, o presente artigo aborda a relevância do Protagonismo Juvenil enquanto prática pedagógica e gestora escolar, a partir de uma pesquisa-ação interventiva realizada junto a estudantes e professores do Ensino Médio, do Colégio Estadual do Campo Professor Estanislau Wrublewski, bem como junto a professores da Rede Pública de Ensino do Paraná, participantes do GTR- Grupo de Trabalho em Rede. O objetivo foi investigar como o Protagonismo Juvenil vem sendo estimulado na prática pedagógica e gestora escolar. E, em contrapartida discutir instrumentos que podem subsidiar o seu fortalecimento, enquanto prática pedagógica, democrática e instrumentalizadora da formação política e cidadã no cotidiano escolar.
Palavras-chave: Protagonismo juvenil; Ensino Médio; Gestão democrática; Prática pedagógica.
1. Introdução
A verificação da necessidade de articulação de uma proposta educacional no
Ensino Médio voltada ao Protagonismo Juvenil surge da observação de que os
jovens estudantes do Ensino Médio do Colégio Estadual do Campo Professor
Estanislau Wrublewski, dificilmente se integram ou são integrados ativamente as
questões da escola ou da comunidade, via compromisso social e político. Participam
somente quando são requisitados e ainda sim de forma tímida, não demonstrando e
nem defendendo seus interesses. A falta do sentimento de pertencimento e também
de atitude, assim como a existência de poucas lideranças ativas e criativas é um
1 Professora da Rede Estadual do Paraná. Graduada em Geografia pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências
e Letras de União da Vitória. Especialista em Geografia: Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional pela
mesma Instituição e em Educação do Campo pela Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco de Cornélio
Procópio. E-mail: [email protected] 2 Doutoranda em Ensino de Ciência e Tecnologia (UTFPR). Mestre em Educação (UEPG). Graduada em
Pedagogia (UNESP). Diretora do Centro de Ciências Humanas e Educação e Docente lotada no Colegiado de
Pedagogia, da Universidade Estadual do Paraná, Campus de União da Vitória (UNESPAR/UV). E-mail:
fator a ser observado no processo educativo com vistas à necessidade de
intervenção político-pedagógica escolar. O Colégio dispõe de mecanismos
democráticos para a participação estudantil, dentre estes, o Grêmio Estudantil e o
Conselho Escolar, mas assim como em muitas escolas, suas ações ainda
apresentam-se muito limitadas e dependentes das orientações e decisões de
professores ou mesmo da direção do estabelecimento. Também são poucos os
estudantes que se dispõe voluntariamente a exercer liderança nestas instâncias
colegiadas, assim como em outras situações do cotidiano escolar.
Motivada pelo questionamento de como fortalecer o protagonismo juvenil
através da educação escolar, esta pesquisa ação interventiva, buscou identificar e
incorporar, nas ações desta instituição, questões relevantes para discussão e
proposição de ações, junto aos professores, gestores e estudantes do Ensino Médio,
a fim de fortalecer o protagonismo juvenil tendo em vista a democratização e a
instrumentalização para a formação política e cidadã dos jovens estudantes do
Ensino Médio.
Para subsidiar esta pesquisa interventiva, foi produzido e aplicado na
realidade problematizada, um material didático-pedagógico que se constituiu de um
caderno pedagógico com três unidades. A primeira apresenta um referencial de
reflexão teórica; a segunda e a terceira contemplam o planejamento e o material a
ser trabalhado nas oficinas interventivas e formativas a serem aplicadas
respectivamente a professores e estudantes do Ensino Médio.
Este material foi implementado junto a dois grupos, um formado por
professores do Ensino Médio e Gestores com 57,69% de adesão, sendo que de um
total de vinte e um professores e cinco gestores participaram doze professores
(57,14% desta categoria) e três gestores (60% desta categoria). O outro grupo
formado por trinta e dois dos duzentos setenta e quatro alunos do Ensino Médio
Matutino (atendendo com representação todas as turmas de Ensino Médio diurno do
referido colégio), contemplando 11,67% de alunos inscritos voluntariamente e
realizadas no contraturno escolar, sendo doze horas de implementação realizada
com professores/gestores e vinte horas com estudantes, perfazendo o total de trinta
e duas horas.
Quanto aos procedimentos adotados na pesquisa, primou-se pela utilização
de estudos qualitativos, buscando garantir a íntegra das reflexões, análises e ações
realizadas com os participantes dos grupos público-alvo deste projeto de
implementação pedagógica.
Para apresentação dos resultados desta pesquisa-ação interventiva, este
artigo estará subdividido, contemplando: os aportes teóricos que permeiam os
principais conceitos norteadores desta pesquisa; as narrativas e configurações da
implementação com ênfase na gestão democrática e no protagonismo juvenil; as
ações pedagógicas de implementação com professores e gestores e o protagonismo
juvenil em ação considerando a participação efetiva dos estudantes.
2. Protagonismo Juvenil e Gestão Democrática: aportes teóricos
Em uma análise do protagonismo na literatura especializada, internacional e
nacional, Ferreti, Zibas e Tartuce (2004) remetem o conceito a uma hibridade de
outros conceitos como “participação”, “responsabilidade social”, “identidade”,
“autonomia” “resiliência” e “cidadania” e a uma diversidade de interpretações onde
num mesmo contexto, um autor usa o termo “protagonismo” enquanto que outro usa
“participação” e em outras situações ainda, ambos os termos são usados como
sinônimos. Nesta análise apresentam o conceito sob a noção que partilham
diferentes autores:
(Costa, 2001; Barrientos, Lascano, 2000; Konterlinik, 2003) vinculam o protagonismo à formação para a cidadania. Ezcámez e Gil (2003) discutem a questão da responsabilidade em uma abordagem que permite a aproximação do conceito de protagonismo tal como usado pelos outros autores antes citados. Por sua vez, Novaes (2000), em artigo que relata e analisa uma experiência de ação social organizada de jovens, não usa o termo “protagonismo”, e sim, “participação social”, ou “intervenção social”, ou “ação solidária”, relacionando essas expressões à “socialização para a cidadania”. Assim, parece que a “ação cidadã” e/ou a “preparação para tal tipo de ação” constituem o cimento semântico que une as diferentes expressões que diversos estudiosos usam para nomear e discutir o envolvimento de jovens em seu contexto escolar, social e/ou político. (FERRETI, ZIBAS E TARTUCE, 2004, p. 413).
No Brasil, um dos poucos autores a tratar da relação protagonismo juvenil e
educação formal foi o pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa, responsável pelas
principais pesquisas e produções/construções teóricas relativas à proposta de
protagonismo juvenil quanto política pública e educacional aos jovens no Brasil.
Ferreti, Zibas e Tartuce (2004, p. 414) destacam que “o autor partilha da mesma
postura que os outros autores citados”, situando o aluno no centro do processo
educativo e atribuindo a ele, por um processo de mediação pedagógica, a condição
de protagonista desse processo. Assim,
utiliza o termo protagonismo para designar “a participação de adolescentes no enfrentamento de situações reais na escola, na comunidade e na vida social mais ampla” (grifo nosso), concebendo-o como um método de trabalho cooperativo fundamentado na pedagogia ativa „cujo foco é a criação de espaços e condições que propiciem ao adolescente empreender ele próprio a construção de seu ser em termos pessoais e sociais”
Quanto a origem etimológica do termo, Costa (2001, p. 20) destaca que “a
palavra “protagonismo” vem da junção de duas palavras gregas: Protos, que
significa o primeiro, o principal. Agon, que significa luta. Agoniste significa lutador.
Protagonista, portanto designava o lutador principal de um torneio”. Segundo ele a
palavra foi inicialmente incorporada pelo teatro e pela literatura para designar o ator
ou personagem principal. Neste sentido Ferretti, Zibas e Tartuce (2004, p. 413-414)
esclarecem que a restrição de alguns autores no uso ao termo Protagonismo juvenil
decorre desta origem que direciona uma interpretação de “protagonismo singular”
pois, “[...] protagnistés significava o ator principal do teatro grego, ou aquele que
ocupava o lugar principal em um acontecimento”. E, por defenderem “uma
abordagem mais democrática” optam por usar o termo “participação”.
Na educação, a expressão configurou o termo Protagonismo Juvenil e
constituiu um dos eixos fundamentais da reforma curricular para o Ensino Médio,
realizada a partir da década de 1990. De acordo com Costa (2001, p. 18- 21) passou
a ser usado pelos educadores para identificar “os processos, movimentos e
dinamismos sociais e educativos em que os jovens, ajudados ou não por seus
educadores, assumem o papel principal”. Para ele, “a expressão protagonismo
juvenil” vem a identificar o jovem como “solução e não problema”. Afirma assim que,
sustentado no “Paradigma do Desenvolvimento Humano” constitui-se de um
“método pedagógico”. Este tem como foco a criação de espaços e tempos escolares
que propiciem aos jovens estudantes a participação ativa, no enfrentamento a
situações reais na escola, na comunidade e da vida social, otimizando suas
potencialidades e permitindo “o seu crescimento constante como pessoa, como
cidadão e como trabalhador”. Ao referir-se a importância do protagonismo juvenil
destaca ainda que:
A importância estratégica do protagonismo vem do fato de ele contribuir de forma inegavelmente relevante para a formação de pessoas, cidadãos, trabalhadores de tipo novo, ou seja, dentro da visão ético-política contida no
Paradigma do Desenvolvimento Humano. Esses jovens tem uma possibilidade muito grande de, a médio e longo prazo, tornarem-se líderes de processos de mudança em seus respectivos âmbitos de atuação, contribuindo para que nosso país possa romper com as velhas culturas impeditivas de emancipação econômica, da promoção social e da libertação cultural de grande parte do nosso povo, que, neste início de um novo milênio, se encontra ainda imerso numa realidade marcada pela pobreza, ignorância e brutalidade. (COSTA, 2001, p. 102)
Em suas obras sobre Protagonismo, o autor supracitado, ao dirigir-se aos
estudantes do Ensino Médio, refere-se a eles, hora como adolescentes, hora como
jovens, mantendo a expressão Protagonismo Juvenil e assim esclarece que para
definir o conceito de utiliza-se do enfoque das Nações Unidas que define juventude
pela idade do indivíduo.
Segundo esse critério cronológico, jovem é a pessoa que está na faixa etária compreendida entre 15 e 24 anos. Essa definição, útil do ponto de vista demográfico, é complicada do ponto de vista jurídico, pois compreende pessoas que estão na menoridade e na maioridade, portanto detentoras de status legais inteiramente distintos. (COSTA, 2006, p. 67)
Nesta perspectiva a expressão Protagonismo Juvenil é passível de aplicação
aos estudantes do Ensino Médio visto estarem na faixa etária definida pelas Nações
Unidas como juventude e por reconhecê-los como sujeitos de um papel central nos
esforços por mudanças sociais.
Segundo Souza (2008, p. 103), no Brasil, o uso pioneiro do enunciado
Protagonismo Juvenil ocorreu na Fundação Odebrecht, onde provavelmente tenha
sido utilizado também pela primeira vez em uma publicação científica no artigo
“Protagonismo Juvenil: projetos estimulam adolescentes a atuarem como agentes de
ações voltadas para a comunidade”, publicado “num fascículo, datado de março/abril
de 1996, no periódico Odebrecht Informa.”
A partir daí o enunciado vai ganhando corpo e se consolidando enquanto
prática educativa, com a ideia de possibilitar ao jovem a atuação social. Para isto,
afirma Souza (2008, p. 106) que um dos seus elementos principais é “a ênfase à
atividade como estratégia pedagógica” destacando que para a Fundação
Odebrecht/Unicef “o protagonismo do aluno ‟ocorreria mediante sua participação
ativa”, retirando-o da posição de beneficiário passivo do sistema de ensino”.
A identidade do discurso do Protagonismo Juvenil enquanto proposta
educacional para os jovens, no Brasil, ocorre a partir do trabalho de sistematização e
construção teórica de um discurso de políticas para juventude, já consolidado em
nível internacional e nacional, realizado pelo Pedagogo Antônio Carlos Gomes da
Costa para a Fundação Odebrecht. O marco deste trabalho é a publicação, em abril
do ano de 2000, do livro: Protagonismo juvenil: adolescência, educação e
participação democrática, o qual apresenta “as bases que orientam toda sua linha de
ação”. (SOUZA, 2008, p.108).
Souza (2008, p 117) afirma ainda que mesmo sem ter se firmado quanto
“aglutinador e identificador de um discurso” e sem estar presente quanto “expressão
completa”, nas Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio estabelecidas em 1998,
o pesquisador Lopes Jr., no ano de 2000, “defende a possibilidade de protagonismo
juvenil na escola de nível médio”. Uma escola com educação pautada no “diálogo”,
na “argumentação” na “escuta” e na “contra-argumentação”. Uma escola com
possibilidade para que os jovens tornem-se sujeitos ativos de suas vidas e de suas
comunidades. Costa (2006, p.177) destaca que:
A escola, primeira etapa do ingresso dos seres humanos na vida pública, é o ponto de partida necessário e fundamental para o envolvimento dos adolescentes com questões que aparentemente -apenas aparentemente, reitero – não lhes dizem respeito.
A partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (2000), o protagonismo passa
a firmar-se quanto proposta pedagógica para o Ensino Médio, propõe a
contextualização ativa dos conteúdos e a “constituição de competências e
habilidades que permitam ao educando o protagonismo diante a situações novas,
problemas ou questões da vida pessoal, social, política econômica e cultural”.
(SOUZA, 2008, p. 119). Além deste, o Relatório de Delors (2003) para a Unesco da
Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, tem servido de base
para as políticas educacionais e orienta que:
A educação deve consistir no desenvolvimento do suposto “potencial” do educando e na aprendizagem de habilidades e competências, em contraposição a um suposto ensino, considerado defasado e nomeado “tradicional” baseado na memorização de conteúdos e no acúmulo de informações. (SOUZA, 2000, p.118)
Neste sentido, a proposta educacional voltada ao Protagonismo juvenil passa
a firmar-se quanto método pedagógico para o Ensino Médio, visto estar voltada a
preparação do jovem estudante para uma vida social mais autônoma e participativa.
Um contexto educativo que lhes permita desenvolver responsabilidade social,
solidariedade, agilidade, criatividade, soluções inovadoras, habilidades estas
necessárias tanto à vida pessoal quanto social. Costa (2001, p.18), ao apresentar a
pedagogia do Protagonismo Juvenil define que:
Trata-se de um método pedagógico que se baseia num conjunto de práticas e vivências que tem como foco a criação de espaços e condições que propiciem ao adolescente empreender ele próprio a construção de seu ser em termos pessoais e sociais
E cuja metodologia está pautada no
[...] trabalho cooperativo, no qual os adolescentes assessorados por seus educadores, vão atuar na construção e implementação de soluções para problemas reais com os quais se deparam no dia a dia de suas escolas, de suas comunidades ou da sociedade de que são parte. (COSTA, p.19)
Borba apud Park, Fernandes e Carnicel (2007, p.241) orienta ainda, que o
protagonismo como conceito e prática traz consigo a necessidade da reorientação
do olhar e da ação educativa. Apresenta a democracia como o único caminho para a
autonomia e esta como “objetivo fim das ações”. Destaca ainda que é preciso “sair
do plano das ideias, do papel, e passar para o plano da vivência, do acontecimento,
pois a aprendizagem ocorre justamente na experimentação, no fazer.” Desta forma
reforça a necessidade de tirar o aluno da condição de agente passivo tornando-o
agente ativo do sistema de ensino.
Neste “modelo pedagógico” o papel do educador, passa por um processo de
transformação, saindo da função de transmissor do conhecimento, para a função de
mediador/orientador do processo de aprendizagem e este com finalidade
previamente definida.
Souza (2008, p. 159) destaca que segundo o Relatório de Delors (2003) “O
trabalho do professor não consiste simplesmente em transmitir informações ou
conhecimentos, mas em apresenta-los sob a forma de problemas a resolver,
situando-os num contexto”, orienta que “à educação cabe, não a transmissão de
conhecimentos, mas a oferta de oportunidades para que ele próprio desenvolva
“competências e aptidões” necessárias aos intermináveis processos de
aprendizagem e de adaptação” possibilitando o desenvolvimento de uma autonomia
que será levada para toda a vida. Costa (2001, p. 117) destaca que “quando existe
um compromisso do educador com a participação efetiva do jovem, o terreno está
preparado para o exercício de ações protagonistas”.
Neste sentido Freire (2005, p. 45), refletindo a função social da escola,
destaca que é pela conscientização que se deve provocar a crítica, a reflexão e a
ação e, para que se alcance este objetivo:
[...] é preciso que a educação esteja - em seu conteúdo, em seus programas e em seus métodos - adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história
Costa (2001, p.116) enfatiza ainda, que o protagonismo juvenil, exige do
educador um “compromisso ético” para com os estudantes e uma “vontade política
clara”, “um envolvimento com a causa da dignidade do adolescente”, assumindo
uma postura de incentivo a participação juvenil e assim contribuindo com o seu
trabalho “para a construção de uma sociedade que respeite os direitos de cidadania
e aumente progressivamente os níveis de participação democrática de sua
população”.
Nesta perspectiva, de protagonismo juvenil, a escola tanto para Costa (2006)
quanto para Souza (2008) tem o papel de oportunizar aos jovens, o desenvolvimento
das “quatro aprendizagens fundamentais”, ou seja, dos “quatro pilares do
conhecimento” que sustentam a proposta do protagonismo juvenil e em torno dos
quais a educação para o século XXI, proposta no Relatório de Delors, deve estar
estruturada: Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a viver juntos;
Aprender a ser. Isto implica em oferecer dentro da escola oportunidades educativas
que enfatizem a participação ativa do aluno e lhe possibilitem desenvolver-se quanto
cidadão ativo e participativo, na escola e consequentemente na sociedade.
No que tange ao protagonismo juvenil quanto prática gestora, Costa (2007, p.
10) afirma no documento: Protagonismo Juvenil: o que é e como praticá-lo, que o
“cerne” do protagonismo é a participação ativa, e que esta “[...] só se torna genuína
quando se desenvolve num ambiente democrático. A participação sem democracia é
manipulação e, em vez de contribuir para o desenvolvimento pessoal e social do
jovem, pode prejudicar a sua formação”. Legalmente a gestão democrática está
assegurada pela Constituição de 1988, conforme dispõe o “Art. 206. O ensino será
ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VI- gestão democrática do ensino
público, na forma da lei;” (BRASIL, 2012, p. 121).
Neste sentido é importante destacar que a escola é um espaço privilegiado
para a democratização da sociedade, para o exercício da cidadania participativa e
comprometida com a transformação social e para a construção de projetos de vida.
Constitui-se, desta forma, para muitos jovens, o primeiro se não o único espaço de
vivência dessa prática. Neste sentido Costa (2006, p. 141-142) destaca que:
A democracia, elaboração coletiva e permanente, deve começar na família, mas é, sobretudo na escola que o seu exercício se torna uma exigência inarredável dos novos tempos. As relações entre educadores e educandos e destes com seu entorno sócio-comunitário são fundamentais para a incorporação das virtudes democráticas ao modo de ser dos nossos adolescentes em sua busca de identidade e de projeto de vida.
Educar para a democracia, vem sendo o desafio da escola no cumprimento
da sua dimensão social. Diante a uma sociedade considerada democrática com
inúmeros problemas de ordem social, política, econômica que vem se agravando
com o decorrer do tempo, o fortalecimento da participação ativa dos cidadãos agindo
coletivamente na busca de soluções torna-se o viés mais urgente e necessário. Paro
(2007, p.18) nos faz pensar sobre a função social da escola quando afirma “[...] sem
dúvida nenhuma, hoje a principal falha da escola com relação a sua dimensão social
parece ser sua omissão na função de educar para a democracia.” O autor reafirma a
necessidade da interpelação entre educação para a cidadania e vivência
democrática quando questiona que:
[...] não deixa de ser paradoxal que a escola pública lugar supostamente privilegiado do diálogo e do desenvolvimento crítico das consciências ainda resista tão fortemente a proporcionar, no ensino fundamental, uma formação democrática que, ao proporcionar valores e conhecimentos, capacite e encoraje seus alunos a exercer de maneira ativa sua cidadania na construção de uma sociedade melhor. (PARO, 2007, p.19)
Pensando ainda a função social da escola, o Educador Paulo Freire contribui
destacando que a sua função primordial é formar pessoas, constituí-las de valores,
atitudes e conhecimentos capacitando-os para o exercício da cidadania crítica, ética
e participativa. Uma educação que liberte que permita a formação de sujeitos
políticos que saibam questionar e participar com engajamento da sua realidade
social. Nesta perspectiva, Freire (2004, p. 98), afirma que:
A função da educação é auxiliar os homens na produção de sua própria realidade material e de sua consciência sobre ela. A formação para o trabalho, a qualificação para o mercado, embora seja uma função importante, não pode se constituir em única, nem mesmo em principal, função da educação: como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo.
Para Costa (2006, p. 139):
O propósito do Protagonismo Juvenil, enquanto educação para a participação democrática, é criar condições para que o educando possa exercitar, de forma criativa e crítica, essas faculdades na construção gradativa de sua autonomia. Autonomia essa que ele será chamado a exercitar de forma plena no mundo adulto.
Neste sentido a presente implementação procurou intervir na realidade
escolar, discutindo questões relevantes à práticas e metodologias de estímulo ao
Protagonismo Juvenil buscando mudanças na ação pedagógica e gestora escolar.
E, o fortalecimento da participação democrática estudantil, ativa e criativa nas
questões da escola e da comunidade, tanto pelas instâncias formais quanto pela
ação informal nestes espaços.
3. Implementação da Pesquisa-Ação: narrativas e configurações com ênfase
na Gestão Democrática e no Protagonismo Juvenil
A sessão que se evidencia apresenta uma análise da implementação do
projeto de pesquisa e intervenção pedagógica, avaliando em que medida as ações
previstas neste estudo foram aplicáveis na realidade do Colégio Estadual do Campo
Professor Estanislau Wrublewski, do município de Cruz Machado, no interior do
Estado do Paraná.
A implementação desta pesquisa-ação foi realizada através de oficinas
interventivas e formativas direcionada aos sujeitos da pesquisa:
professores/gestores e estudantes. Inicialmente estavam previstas três oficinas de 4
horas (totalizando 12 horas), para professores do Ensino Médio e equipe gestora, no
entanto em função do acúmulo de atividades com as reposições da greve, o grupo
de professores participantes optou por realizar seis encontros de 2 horas, ou seja,
dois encontros para cada oficina programada no caderno pedagógico elaborado.
Para os estudantes do Ensino Médio diurno garantindo-se representatividade para
todas as turmas conforme já apresentado na introdução deste artigo, programou-se
cinco oficinas de 4 horas cada (totalizando 20 horas). Estas oficinas oferecidas à
noite para os professores e à tarde para os estudantes. E, um terceiro momento foi
planejado, reunindo o coletivo escolar (representações de professores, equipe
gestora, APMF, Conselho Escolar, Grêmio Estudantil e o grupo de estudantes
participantes das oficinas), para divulgação do projeto e estudo realizado.
O projeto de intervenção pedagógica foi também submetido à análise e
reflexão de Professores da Rede Pública Estadual do Paraná, através do GTR-
Grupo de Trabalho em Rede, do qual participaram dezoito professores de diferentes
áreas de atuação (filosofia, sociologia, história, pedagogia, geografia, matemática e
ciências) e de distintos municípios do Estado.
O foco da pesquisa desenvolvida foi discutir e delinear instrumentos
interventivos que possam contribuir para o fortalecimento do Protagonismo Juvenil,
enquanto prática pedagógica e gestora escolar, tendo em vista a democratização e a
instrumentalização para a formação política e cidadã, com afinco de evidenciar quais
os espaços e tempos de participação democrática das representações estudantis na
escola e, identificar e propor nas ações da instituição escolar, questões relevantes
para discussão, a fim de fortalecer o Protagonismo Juvenil.
3.1. Ação Pedagógica de Implementação com Professores e Gestores
No que tange a efetivação da pesquisa e ação formadora com professores e
equipe gestora, cabe destacar, alguns dos pontos de análise, discussão e
proposição realizados.
Nos dois encontros da primeira oficina, refletiu-se sobre a intencionalidade
educativa para a juventude do século XXI e a implicação de uma proposta pautada
no fortalecimento do protagonismo juvenil na formação dos estudantes do Ensino
Médio.
A partir da dinâmica “Qual é a sua bandeira”, verificou-se inicialmente, junto
ao grupo, quais as suas intencionalidade educativa para a formação dos jovens
estudantes do Ensino Médio e mesmo que com termos distintos, observou-se que
nas colocações de todos os participantes existe a preocupação com a formação
para o desenvolvimento da cidadania crítica, ativa, participativa e transformadora
conforme apontam algumas das colocações:
Professor A: “Formar cidadãos críticos, participantes e atuantes na sociedade”
Professora B: “Permitir que o estudante aproprie-se do conhecimento de tal forma que reconheça aplicações no cotidiano e contribuições para o crescimento social, político e econômico.”
Professor C: “Despertar interesse e permitir a construção do conhecimento buscando formar cidadãos críticos e conscientes, preparando-os para a vida em sociedade.”
Professora D: “Abrir caminhos para a sua vida em sociedade como sujeito em possibilidade de transformá-la.”
Professora E: Promover ao aluno a construção do conhecimento que o prepare para a diversidade do mundo e que o leve a alterar a sua realidade.”
Após foram apresentados os conceitos e as bases legais da proposta pautada
no protagonismo Juvenil, através da análise e discussão do projeto, de parte do
documentário La Educación Prohibida (A Educação Proibida) e do texto O
protagonismo juvenil enquanto prática pedagógica e educativa escolar, foram
discutidas as implicações desta proposta como uma das possibilidades educativas
que a escola poderá desenvolver para cumprir os objetivos, finalidades e princípios
educativos de formação humana para os jovens estudantes do Ensino Médio neste
século XXI. E, neste sentido as discussões voltaram-se para a necessidade de
rompimento do modelo tradicional ainda presente na educação escolar e uma maior
democratização dos processos educativos escolares.
Na segunda oficina: O Protagonismo Juvenil como educação para a
participação e a cidadania: sugestões metodológicas para a prática escolar, a partir
dos textos (Gente que incomoda, de Luciana Ribeiro Pinheiro; O adolescente como
ator protagonista, de Antônio Carlos Gomes da Costa) e vídeo (Protagonismo
Juvenil), discutiu-se a importância do papel do educador no desenvolvimento de
uma educação pautada na formação humana para a cidadania ativa e participativa.
Também a necessidade de busca e implementação de estratégias didático-
metodológicas que fortaleçam e desenvolvam o protagonismo juvenil, a partir da
sala de aula. Foram construídos, em grupos divididos por áreas do conhecimento,
planos de trabalho docente utilizando-se das estratégias metodológicas de
fortalecimento do protagonismo juvenil sugeridas no Caderno Pedagógico, pois,
como orienta, Ferreti, Zibas e Tartuce (2004, p.414) o trabalho pedagógico, neste
método,
[...] atribui ao professor basicamente as funções de orientador, mais do que divulgador de conteúdos disciplinares, e situa o aluno, no centro do processo educativo, deslocando o eixo desse processo para a aprendizagem, de modo a minimizar, assim, a dimensão do ensino. Nesse sentido atribui ao aluno a condição de protagonista desse processo e, por essa razão, considera-o
como fonte de iniciativa (ação), liberdade (opção) e compromisso (responsabilidade).
Durante as discussões o grupo observou que a limitação na aplicação mais
frequente de estratégias que permitam o fortalecimento do Protagonismo Juvenil a
partir da sala de aula, está na fragmentação da matriz curricular do Ensino Médio
que contempla a grande maioria das disciplinas com apenas duas aulas semanais e
que tais estratégias, demandam de uma carga horária mais prolongada.
Na terceira oficina: Gestão escolar: uma discussão sobre os espaços e
tempos escolares para o Protagonismo Juvenil, o foco foi a reflexão sobre a gestão
escolar e a implementação de espaços e tempos escolares de protagonismo juvenil
para além da sala de aula. Foi assistida a parte 2 do programa Nós da Educação:
Gestão escolar e as várias facetas do espaço escolar, com Vitor Henrique Paro e
realizado o estudo do texto: O protagonismo juvenil enquanto prática gestora
escolar, discutindo o papel da gestão escolar democrática e participativa no
fortalecimento do protagonismo juvenil.
Na sequência, a partir de uma atividade de preenchimento de um quadro
referente a espaços e tempos escolares de protagonismo juvenil para além da sala
de aula foi realizada uma análise destes espaços e tempos, institucionais ou não, de
atuação estudantil, presentes na escola. Foram discutidos, para o plano de ação da
escola, a otimizações e a criações destes mecanismos de fortalecimento do
protagonismo juvenil, principalmente na perspectiva política (Grêmio Estudantil e
Conselho Escolar), mas também artística, cultural e esportiva incentivando maior
participação estudantil em projetos e atividades extraclasse. Pois, como propõe
Costa (2007, p.6):
Para criar os espaços necessários a eclosão das práticas e vivências capazes de permitir aos jovens exercitarem-se como fonte de iniciativa, liberdade e compromisso são necessários recursos pedagógicos de natureza distinta da aula. São necessários acontecimentos em que o jovem possa desempenhar um papel protagônico.
Com as análises, discussões, e proposições apresentadas foi possível
estabelecer alguns mecanismos para o fortalecimento do Protagonismo Juvenil no
colégio alvo da implementação, mesmo que, observado entre os educadores, a
existência de uma distância entre teoria e prática, pois, mesmo tendo a colaboração
de todos nas proposições, alguns se propõem em aderir ativamente e com maior
envolvimento na realização das propostas enquanto outros impõem obstáculos,
demostrando que seu envolvimento será mais limitado.
3.2. Protagonismo Juvenil em Ação: os alunos e sua participação
Com os estudantes foi implementado o Projeto: Sou Jovem, Sou
Protagonista? Participação estudantil no cotidiano escolar. Num primeiro momento
foi realizada a apresentação do projeto de intervenção pedagógica em cada uma
das oito turmas de Ensino Médio do Colégio realizando a sensibilização para a
participação. Foi apresentada a proposta de trabalho destacando que esta seria
realizada através de oficinas formativas buscando fortalecer e articular a
participação dos estudantes quanto sujeitos ativos e participativos no espaço escolar
através da instrumentalização de alguns seus representantes. Formou-se então,
com alunos de todas as turmas de Ensino Médio diurno, um grupo de 32 estudantes
para a participação da implementação, superando a expectativa e por interesse e
insistência na participação ampliando o número de vagas proposto inicialmente. Este
já é um fato que demostra que os estudantes tem interesse, vontade, disposição e
até disponibilidade para participar, para buscar informação e formação, reforçando o
indicativo de que, se a escola lhes oferece mecanismos de formação estes estão
dispostos em acolhê-los.
Durante a implementação que foi investigativa, formativa e propositiva as
questões que nortearam a pesquisa-ação com estes jovens foram: Os estudantes do
Ensino Médio sabem do seu direito a participação democrática na escola?
Conhecem os mecanismos de participação e atuação bem como sua importância?
Sabem que por meio destes espaços podem realizar proposições e influir nas
decisões de sua instituição de ensino? A escola lhes oferece, momentos formativos
para que compreendam o seu papel de representação política e atuação cidadã?
Além destes espaços legalmente constituídos que outros espaços a escola oferece
aos estudantes, como possibilidade de protagonismo?
Na primeira oficina, Protagonismo Juvenil: Uma aproximação com o tema,
inicialmente através de exposição dialogada, buscou-se permitir aos estudantes a
compreensão do conceito de Protagonismo Juvenil enquanto educação para a
participação ativa e democrática, identificando os mecanismos de gestão
democrática participativa presentes no espaço escolar bem como a atuação
estudantil nestes espaços. Na sequência, foi proposta a análise leitora da música
Cálice, da poesia Analfabeto Político e da pesquisa sobre o movimento estudantil no
Brasil com o objetivo de permitir ao grupo a compreensão da história do movimento
estudantil e da origem dos grêmios escolares. Debateu-se sobre a escola quanto
espaço das primeiras experiências democráticas e de exercício da cidadania ativa e
participativa dos jovens.
Na segunda Oficina foi realizado o estudo do texto Gente que incomoda, do
vídeo Liderança e Motivação, buscando incentivar a formação de lideranças para a
mobilização dos estudantes em ações protagonistas no cotidiano escolar. Após foi
proposta e realizada pesquisa de campo (entrevistas), em grupos, buscando
identificar as potencialidades e fragilidades dos espaços de protagonismo existentes,
e ainda, através de pesquisa em laboratório de informática, os estudantes buscaram
experiências ou informações para potencializar estes espaços. Ao final cada grupo
apresentou seu trabalho em forma de seminário.
Nesta oficina verificou-se que os estudantes sabem do seu direito
democrático de participação, mas sentem uma distância entre o direito e a prática.
Quanto aos espaços e tempos escolares afirmam que desconheciam as reais
funções das instâncias colegiadas e o papel que deveriam exercer dentro das
mesmas. Observam que isso se dá pela falta de informações e até aqueles que são
integrantes destas instâncias (Grêmio Estudantil, Conselho Escolar), afirmaram que
não tem clareza das funções que devem exercer.
No caso do Conselho Escolar, citam que sentem-se intimidados na presença
de professores, gestores, membros da comunidade, mas que também não há
articulação estudantil para apresentar e defender demandas dos estudantes. Zibas,
Ferreti e Tartuce (2006, p.75-76) afirmam que o “Conselho escolar é o principal
canal previsto na LDB para a expressão dos interesses dos alunos” garantindo a
democratização da gestão escolar. No entanto, mesmo estando legalmente
constituído, seu funcionamento apresenta-se precário, e “sua função deliberativa”
acaba por transformar-se em “ratificação de decisões” anteriormente “tomadas pelo
grupo gestor”. Neste sentido, Martelli apud Meneses (2004, p.230) ao abordar a
participação dos estudantes membros do Conselho Escolar, cita a falta de preparo
para a participação, como o um dos fatores que tem impedido o êxito da
representação estudantil.
Quanto ao Grêmio, 100% dos estudantes nunca pensaram em constituir
livremente, chapa para concorrer a eleição, os que são integrantes, afirmam terem
recebido convite para integra-lo através de professores. Verificam que as ações
desenvolvidas pelo Grêmio são bastante significativas na escola e analisando-as,
que estas estão restritas ao campo cultural e social e ainda muito dependentes da
orientações de Professores, mas afirmam que sem essa orientação dificilmente as
ações seriam realizadas.
Afirmam que sabem que têm direito em atuar realizando proposições
ajudando nas tomadas de decisões, mas que não se sentem convidados a
participar, possuem receio de fazê-lo, tem medo de sansões, e por isso se mantém a
margem. Sobre essa relação “conflituosa” Ferreti e Tartuce (2008, p. 78-79)
apontam que:
Essa dificuldade manifestada por professores e gestores de aceitar uma relação democrática com as organizações estudantis parece apoiar-se em diversos fatores: a cultura escolar tradicional, que supõe a submissão dos alunos à hierarquia; a insegurança profissional dos docentes, que não estão preparados para questionamentos de sua atuação; o desconhecimento da cultura juvenil e portanto, o preconceito quanto a possibilidade responsável dos jovens.
Quanto a outros espaços e tempos escolares de participação estudantil como
projetos, programas, atividades culturais, esportivas observa-se que os estudantes
tem interesse e que sempre que possível procuram integrar-se a estas atividades e
indicam que o que falta é maior orientação técnica.
Pela pesquisa realizada observaram que, com informação, conhecimento e
orientação, é possível participar ativamente.
Na terceira oficina: A escola que temos e a escola que queremos: de
problemas a soluções, inicialmente, foi apresentado o vídeo Grêmio Estudantil e o
Protagonismo Juvenil enfocando esta instância colegiada como o eixo central do
processo de participação política e democrática efetiva dos estudantes nas questões
escolares. Na sequência foi realizada a dinâmica do Megafone pela qual cada
estudante definiu um grito em busca de uma escola melhor. Após, em grupos de
quatro ou cinco alunos, foi realizada a atividade: Nossos gritos, nossas escolhas,
nossas lutas pela qual os estudantes realizaram a escolha de um dos gritos a ser
defendido pelo grupo. Feita a escolha, foi proposta a atividade: De problemas à
soluções: elaborando projetos de protagonismo juvenil em defesa dos nossos gritos.
Esta atividade foi realizada a partir de um roteiro Adaptado do livro Protagonismo
Juvenil: adolescência, educação e participação democrática de autoria de Antonio
Carlos Gomes da Costa e Maria Adenil Vieira (2006, p.117-120) disponível no
Caderno Pedagógico produzido para a execução da pesquisa.
Para a realização desta atividade, o tempo programado não foi suficiente, no
entanto, como o próprio caderno previa a realização da Assembleia entre 15
(quinze) e 21 (vinte e um) dias após esta última oficina então, foi agendado mais um
horário, após a orientação necessária, para que os mesmos concluíssem os
projetos, digitando-os e preparando as apresentações.
Na última etapa da implementação foi oportunizado aos estudantes a
possibilidade de participação política no espaço escolar através da realização de
uma Assembleia com o coletivo escolar. Nesta foi realizada a integração das
propostas ou projetos elaborados pelos estudantes junto ao coletivo escolar.
Observa-se que mesmo enviando convites individuais a participação das instâncias
colegiadas (APMF e Conselho Escolar) foi limitada, compareceram, um integrante de
cada. Os professores ficaram impossibilitados de participar, em função do horário,
enviando um representante. O NRE justificou a ausência.
A realização da Assembleia trouxe a possibilidade de articulação da
participação democrática dentro do espaço escolar. As situações foram debatidas e
em ordem de prioridade e possibilidade de realização e, acolhidas ao Plano de Ação
da Escola.
Nesta proposta verifica-se o papel fundamental do gestor escolar, ao qual
cabe, conforme Pinheiro apud Veiga e Resende (1998, p.79-80) organizar a
dinâmica escolar, propor e promover alternativas, dinamizando os espaços e tempos
escolares para a efetivação de uma prática democrática de gestão onde o
planejamento participativo possa garantir a representação das aspirações coletivas.
Dinamizando os mecanismos de gestão escolar democrática e fazendo destes
verdadeiros espaços de exercício da democracia.
Ao abordar a relevância da proposta de fortalecimento do Protagonismo
Juvenil enquanto prática pedagógica e gestora escolar junto aos professores (as) da
Rede Pública de Ensino do Paraná, participantes do GTR- Grupo de Trabalho em
Rede, cabe destacar que nas discussões, afirmam que para se atingir os objetivos
propostos na formação dos estudantes do Ensino Médio, é preciso inserir cada vez
mais, procedimentos metodológicos que permitam o desenvolvimento do
protagonismo juvenil e busquem garantir uma articulação mais democrática e
dinâmica do processo de construção do conhecimento em vista dos objetivos
visados. A Professora GTR V. L. D. L. (2015) enfatiza que a gestão democrática
requer atitudes rotineiras democráticas, e que para isso precisamos estar numa
constante busca de crescimento intelectual das teorias sobre democracia e sua
aplicação prática. Destaca que “é preciso construir coletivamente uma ética para a
democracia e aplicá-la em todos os espaços escolares, principalmente a sala de
aula”. Neste sentido reforçam a importância da Gestão Escolar Democrática como
via promissora no Fortalecimento do Protagonismo Juvenil.
4. Considerações Finais
A realização deste trabalho de pesquisa-ação demostra a emergência de
ações que atendam as necessidades educativas para século XXI. Necessidades
pensadas e planejadas para os jovens da chamada sociedade da informação, com
mudanças constantes e aceleradas nos modos de vida exigindo uma reconstrução
permanente do conhecimento. Para tanto, conclui-se que para atender esta
demanda é preciso uma educação escolar que informe, desenvolva a criticidade,
fundamental na compreensão e atuação neste mundo, mas também permita em
seus processos a preparação para a cidadania, desenvolvendo sua personalidade,
autonomia, politização para, mais tarde, quando adulto, conforme afirma Costa
(2001, p.19) “viver e trabalhar nesta sociedade cada vez mais complexa, competitiva
e exigente”.
Estes jovens com expressões e expectativas diversas podem e precisam ser
inseridos nos processos de construção e reconstrução dos seus espaços
participando de forma ativa, criativa e crítica. Atuando, opinando e propondo
alternativas sobre as questões de sua realidade escolar, comunitária ou social.
A Escola é o espaço das primeiras experiências políticas, democráticas, de
atuação social, portanto de exercício de cidadania para a formação humana destes
jovens. Portanto, é preciso perceber estes jovens estudantes não como problema,
mas como parte das soluções e oferecer a eles ações educativas, mecanismos de
formação e de participação efetiva, possibilitando-lhes o exercício de atuação e de
expressão desde o espaço escolar. Pela sua importância e amplitude, este tema
deixa ainda, um leque bastante promissor ao desenvolvimento de novas pesquisas e
intervenções sejam elas neste espaço escolar, alvo deste trabalho, ou em outros
espaços educativos.
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