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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Segundo Luckesi (2007, p.15), “Uma escola é o que são os seus gestores, os seus educadores, os pais dos estudantes, os estudantes

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS

EDUCACIONAIS – DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL – PDE

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA E O PAPEL DO GESTOR

CASCAVEL- UNIOESTE

2013/2014

LUCIANA PAULISTA DA SILVA

GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA E O PAPEL DO GESTOR

Material Didático – Caderno Pedagógico apresentado à Secretaria Estadual da Educação, como requisito parcial à obtenção do título de Professora PDE, sob responsabilidade da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus Cascavel-Pr, para o período de 2013/2014, sob a orientação do Professor Adrian Alvarez Estrada.

CASCAVEL - UNIOESTE 2013/2014

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Ficha Catalográfica Produção-Didatico-Pedagógico Professora PDE /2013

Titulo Gestão Democrática na escola Pública e o Papel do Gestor

Autor Luciana Paulista da Silva

Escola de Atuação Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli

Município Cascavel

Núcleo Regional de Educação Cascavel

Orientador Adrian Alvarez Estrada

Instituição UNIOESTE

Área do conhecimento

Gestão Escolar

Produção Didático-Pedagógica Caderno Pedagógico

Público Alvo

Alunos, pais, professores, pedagogos e funcionários do Colégio Estadual

Marilis Faria Pirotelli.

Localização

Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli- Ensino Fundamental e Médio Rua: Minas Gerais - 1555

Apresentação: Justificativa, Objetivos e Metodologia utilizada

Justificativa- Possibilitar a ampliação dos

estudos sobre a concepção Gestão Escolar

Democrática, uma vez que a participação efetiva

de pais, alunos, funcionários, professores e

gestores é um dos requisitos para o processo de

tomada de efetivar que todos os segmentos

construam

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coletivamente com o gestor uma prática

democrática.

Objetivo - Promover o envolvimento e interesse

dos diferentes setores escolares, em uma gestão

escolar democrática e participativa de uma

escola de qualidade no Colégio Estadual Marilis

Faria Pirotelli, do município de Cascavel -

Paraná.

Metodologia - Grupos de estudos com leituras

de pressupostos teórico-metodológicos, vídeos e

documentários, objetivando discutir e construir

ações para conhecerem o conceito de gestão

escolar democrática, de forma que envolva toda

comunidade escolar, professores, pedagogos,

gestores, funcionários, pais, grêmio estudantil e

líder de turmas e membros interessados da

comunidade.

Palavras-Chaves

Gestão escolar democrática – gestor – participação

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SUMÁRIO

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ............................................................................... 6

TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE ......................................................... 6

TÍTULO................................................................................................................... 6

APRESENTAÇÃO .................................................................................................. .7

A CONSTRUÇÃO DA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA................................9

GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA..............................11

ROTEIRO DE DISCUSSÃO.....................................................................................17

A GESTÃO PARTICIPATIVA E A AUTONOMIA DA ESCOLA..................................18

DIFICULDADES AO TRABALHO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA......22

ROTEIRO DE DISCUSSÃO.....................................................................................28

A CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO NA GESTÃO

DEMOCRÁTICA.......................................................................................................29

ROTEIRO DE DISCUSSÃO.....................................................................................35

PAPEL DOS GESTORES ESCOLARES EM UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA.......36

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1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

NOME DO PROFESSOR PDE: Luciana Paulista da Silva

ÁREA/DISCIPLINA: Gestão Escolar

PROFESSOR ORIENTADOR IES: Adrian Alvarez Estrada

ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli

PÚBLICO ALVO: Alunos, pais, professores, pedagogos e funcionários do Colégio

Estadual Marilis Faria Pirotelli.

NRE: Cascavel - PR

MUNICÍPIO: Cascavel – PR

2. TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE:

Gestão Escolar Democrática: Fundamentos, Princípios e Processos.

3. TÍTULO:

Gestão Democrática na Escola Pública e o Papel do Gestor

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4. APRESENTAÇÃO

Este material didático contém unidades didáticas – Gestão Escolar

Democrática do Professor PDE 2013. Os textos e sugestões de atividades em

gestão escolar democrática é uma forma de se envolver na instituição de maneira

que possibilite a participação de cada sujeito e sendo fundamental o reconhecimento

de suas idéias, e sua contribuição deve ocorrer independentemente do nível

hierárquico.

A prática que vivenciamos, fez com que realizássemos o projeto de gestão

escolar democrática na rede pública e proporcionar um maior envolvimento dos

diferentes segmentos e pessoas, assim refletir sobre os conceitos de gestão

democrática, autonomia e cidadania, bem como seus desafios e as possibilidades

de alcance de uma escola de maior qualidade para todos, sendo democrática e

compartilhada.

Diante dessa realidade, é fundamental que a Gestão escolar democrática e o

papel do gestor na escola pública sejam estudado e debatido nas escolas públicas,

de forma a melhorar sua compreensão e envolvimento para ampliar sua

implementação. O diretor necessita estar junto com os interessados pela escola

pública e envolve-los para mudar essa realidade que a escola enfrenta por causa

das políticas públicas.

O material escolhido apresenta textos com abordagem da Gestão

democrática na escola pública e o papel do gestor que serão realizados no Colégio

Estadual Marilis Faria Pirotelli da cidade de Cascavel, no Estado do Paraná, que tem

como objetivo promover um maior envolvimento e interesse dos diferentes setores

escolares. Para tanto, por ser uma atividade para professores, diretores, pedagogos,

funcionários, pais, alunos e comunidade será realizada em forma de curso em

extensão com orientação do Professor Adrian Alvarez Estrada do Colegiado de

Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de

Cascavel.

A proposta é discutir vários aspectos fundamentados teoricamente em quatro

unidades, com textos que nortearão nos grupos de estudos com duração de quatro

horas cada encontro:

1º Unidade - A Construção da Gestão Escolar Democrática Gestão Escolar Democrática na Escola Pública

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2º Unidade - A Gestão participativa e a autonomia da escola. Dificuldades ao trabalho da Gestão Democrática na escola.

3º Unidade - A Construção do Projeto Político Pedagógico na Gestão Democrática

4º Unidade - Papel dos gestores escolares em uma Gestão Democrática

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UNIDADE 1

A Construção da Gestão Escolar Democrática

A democracia defende o direito de participação de todos em todas as

decisões que favoreçam a qualidade de vida em sociedade. Para que haja essa

verdadeira participação todos os indivíduos necessitam conhecer e viver desde sua

infância os princípios democráticos desenvolvendo assim sua autonomia

democrática.

O exemplo de “Educação não é privilegio”, de Anísio Teixeira, lançada em

1957, cujo trecho – em que se defende o fortalecimento do papel dos municípios, na

educação, e dos Conselhos, na administração das verbas e direção das escolas –

fazemos questão de destacar: Primeiro que tudo teremos criado com o novo plano cerca de 3 000 unidades administrativas escolares em todos os pais, que tanto são os municípios, com os seus conselhos de administração escolar, representativos da comunidade, paralelos aos conselhos municipais ou câmaras de vereadores, com poderes reais e não fictícios de gestão autônoma do fundo escolar municipal e direção das escolas locais. (TEIXEIRA, 1994, p. 69)

Para compreender a natureza do processo de gestão escolar democrática,

que se estabelece nos anos de 1980 com uma marcante luta pela sua instauração,

buscaremos os diferentes fatores que a influenciaram.

Iniciamos com uma importância e associado à mudança amplamente sofrida

pelo contexto sócio-político da sociedade brasileira durante o período da ditadura

militar (1964-1985), em que a ideia de práticas democráticas de gestão foi abafada,

uma vez que a administração pública do Brasil se dava de maneira autoritária, com

pouca participação popular e sem os mecanismos próprios da democracia

representativa. Conseqüentemente, a escola também sofreu uma gestão

centralizadora, sem um maior envolvimento da comunidade local. E a partir dos anos

80 que, de maneira marcante, certos segmentos da sociedade passam a contestar

essas características da gestão pública e a lutar por uma prática mais democrática e

inclusiva. Assim e que, no bojo do movimento de renovação política pelo qual o

Brasil passava, a escola começa a estruturar uma abertura a participação da

sociedade em sua administração.

O segundo fator, decorrente do primeiro, foi a postulação, devido a

consolidação da abertura política, pelos segmentos da comunidade escolar como

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professores, funcionários, responsáveis e alunos, de uma modificação nas relações

sociais e políticas tecidas no interior da escola. Argumentava-se, para tanto, que a

instituição seria o local privilegiado da diversidade de opiniões e pensamentos e,

assim sendo, não seria coerente que a gestão ocorresse de modo a valorizar

apenas uma concepção de mundo. Dessa maneira, colocava-se a necessidade de

se criar meios para que outras vozes pudessem participar da execução e das

decisões a serem desenvolvidas no espaço escolar, surgindo, destarte, a demanda

por uma gestão escolar compartilhada (PARO, 1996).

O último fator a favorecer a adoção da gestão democrática, principalmente

nos anos 90, foi à disseminação das idéias de cunho neoliberal com ênfase na

diminuição do tamanho e das atribuições do Estado.

Sendo o receituário baseia fundamentalmente na idéia do mercado possuir

uma auto-capacidade de se regular e, em função disso, do Estado ter que

apequenar a sua participação na economia. Para tanto, o aparelho estatal deve

“diminuir”, com o fortalecimento de processos de privatização, as reformas

econômicas estruturais – que se alinham com as regulamentações de organismos

multilaterais (como FMI e Banco Mundial) –, e o oferecimento de serviços em

conjunto com a sociedade civil – que passam a ser exercidos em muitas ocasiões

pelas ONGs (Organizações não governamentais) (ANTUNES, 2001).

Com isso se fortalece, então, no país, a partir do final dos anos 80, como uma

resposta ao Estado “centralizador” que tinham durante a vigência do regime militar,

visto que, sobretudo a partir da Constituição de 1988, tivemos uma descentralização

das funções do Governo Federal com os municípios e estados oferecendo e

promovendo efetivamente os serviços públicos e, também, uma aproximação maior

do Estado com entidades civis, como as próprias ONGs (ABRANCHES, 2003).

Dentro da ótica neoliberal, a gestão democrática pode ser considerada muito

eficaz na fuga do controle majoritário da escola pelo Estado, já que seriam os

próprios usuários, oriundos da sociedade civil, que estabeleceriam como ocorreria a

administração da escola, e não o aparelho estatal, visto como refratário das

dinâmicas sociais positivas.

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Gestão Escolar Democrática na Escola Pública

Segundo Luckesi (2007, p.15), “Uma escola é o que são os seus gestores, os

seus educadores, os pais dos estudantes, os estudantes e a comunidade. A ‘cara da

escola’ decorre da ação conjunta de todos esses elementos”. Isto é, a escola é

administrada em função de sua comunidade e com sua comunidade com

participação efetiva de todos. Assim, ela é o espelho de seus gestores.

As políticas de gestão e regulação da educação no país passam por um

processo intenso de mudanças, originadas, substantivamente, pelo incremento das

relações sociais capitalistas traduzidas no final do século passado pelo expressivo

avanço tecnológico e pela globalização do capital e do trabalho. Essas

transformações societárias redimensionam o papel de educação e da escola e

encontram terreno fértil nas mudanças no campo das políticas educacionais

implementadas no país. Tais mudanças interferem na lógica organizativa da escola

e nos papéis dos diversos atores sociais que constroem o cotidiano escolar.

(DOURADO, 2002, p.149).

A Constituição de 1988 institucionalizou princípios pautados em conceitos

como participação e controle social. Constata-se no texto constitucional que exerceu

influência determinante no formato e conteúdo das políticas públicas que seguiram

no debate sobre participação e espaços público no Brasil. No texto constitucional

aprovado em 1988, podem-se identificar várias passagens referentes às normas de

institutos participativos na Administração Pública. Verifica-se um intenso processo

de transformação das necessidades sociais e econômicas, dos meios de produção

obrigando o Estado a modificar sua forma de exercício político. Essa constituição ao

mesmo tempo em que expressa de maneira mais clara à concepção liberal, não

rompe radicalmente com a inspiração autoritária.

É relevante compreender como se deu historicamente o processo de

reestruturação da gestão escolar. Dessa forma, esta unidade apresenta o processo

de mudança dos modelos tradicionais de administração e a implantação e

consolidação, a partir da Constituição Federal de 1988, da gestão democrática.

A educação é uma característica do ser humano e é acreditando na

capacidade criativa e de transformação desse ser humano que nós profissionais da

educação, procuramos levar, conduzir e impulsionar essa capacidade criativa.

Sabemos que as transformações ocorridas na sociedade em que estamos inseridos

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nessas últimas décadas têm atribuído à educação escolar que procure modificar,

redefinir, repensar e delinear suas práticas educacionais para melhor atender às

necessidades desta sociedade. Diante do fato de tornar as condições de trabalho

escolar e melhores, acompanhando a evolução tecnológica e transformações em

que a sociedade vive, devemos analisar como essa sociedade está organizada e

quais as políticas públicas que são direcionadas à gestão educacional.

Paro (2008) em seu texto faz compreender a trajetória do termo gestão nas

instituições escolares. Assim sendo gestão democrática, gestão compartilhada e

gestão participativa são termos que, embora não se restrinjam apenas ao campo

educacional, fazem parte da luta de educadores e movimentos sociais organizados

em defesa de um projeto de educação pública de qualidade, social e democrática. Aceitando-se que a gestão democrática deve implicar necessariamente a participação da comunidade parece faltar ainda uma maior precisão do conceito de participação. A esse respeito, quando uso esse termo, estou preocupado, no limite, com a participação nas decisões. Isto não elimina obviamente, a participação na execução; mas também não a tem como fim e sim como meio, quando necessário, para participação propriamente dita, que é a partilha do poder: a participação na tomada de decisões. É importante ter sempre presente este aspecto para que não se tome a participação na execução como fim em si mesmo, quer como sucedâneo da participação nas decisões quer como maneira de escamotear a ausência desta última no processo. Mas a participação da comunidade na gestão da escola pública encontra um sem número de obstáculos para concretizar-se, razão pela qual um dos requisitos básicos e preliminares para aquele que se disponha a promovê-la é estar convencido da relevância e da necessidade dessa participação, de modo a não desistir diante das primeiras dificuldades. A maior evidência da imprescindibilidade da participação popular nas instâncias onde se dá o oferecimento de serviço pelo Estado parece estar na constatação da fragilidade de nossa democracia liberal, que, restringindo a participação da grande maioria da população ao momento do voto priva-a de processos que, durante os quatro ou cinco anos de mandato, permitiriam controlar as ações dos governantes no sentido de atender aos interesses das camadas populares. Desta forma, em lugar de servir como instrumento para o atendimento das necessidades da maioria, o Estado se limita a servir aos interesses dos grupos minoritários, detentores do poder econômico e político na sociedade. Por isso, uma democracia efetiva exige controle democrático do Estado. Na situação atual, não há controle das grandes massas da população sobre as ações do Estado, tornando-se, pois, de extrema urgência buscar a maneira de viabilizar esse controle. No caso da escola mantida pelo Estado, somente o costume generalizado leva-nos a chamá-la pública, já que esta palavra constitui apenas um eufemismo para o termo “estatal”, ou a expressão de uma intenção cada vez mais difícil de ver concretizada. A escola estatal só será verdadeiramente pública no momento em que a população escolarizável tiver acesso geral e indiferenciado a uma boa educação escolar. E isso só se garante pelo controle democrático da escola, já que, por todas as evidências, conclui-se que o Estado não se tem interessado pela universalização de um ensino de boa qualidade. Há, pois, a necessidade permanente de se exercer pressão sobre o Estado, para que ele se disponha a cumprir esse dever. É neste contexto que ganha maior importância a participação da comunidade na escola, no sentido, anteriormente mencionado, de partilha do poder por parte daqueles que se

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supões serem os mais diretamente interessados na qualidade do ensino. É bem verdade que a situação de calamidade sem paralelo na história do país em que se encontra hoje a escola pública exige movimento de pressão em todos os níveis e instâncias da sociedade civil. Por isso, quando se reivindica um espaço de participação na unidade escolar, está-se considerando apenas uma dessas instâncias ou níveis. Parece-me, todavia, imprescindível que a participação aí se dê. Sem ela, não se fará uma escola verdadeiramente universal e de boa qualidade no Brasil. Não pretendo trazer receitas ou fórmulas infalíveis que se aplicadas promoveriam a participação completa e inexorável da população na escola. Se essas fórmulas existissem, estou certo de que já teriam sido aplicadas por inúmeros educadores e administradores escolares bem-intencionados, que se vêem permanentemente às voltas com as enormes dificuldades que antepõem-se à participação no âmbito da prática escolar. A participação da comunidade na escola, como todo processo democrático, é um caminho que se faz ao caminhar, o que não elimina a necessidade de se refletir previamente a respeito dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta para a ação. É neste sentido que procurarei levantar alguns pontos com o propósito de contribuir para a discussão sobre o tema. O primeiro ponto a ser ressaltado e tão óbvio quanto lembrar que democratização se faz na prática. Não obstante guiada por alguma concepção teórica do real e de suas determinações e potencialidades, a democracia só se efetiva por atos e relações que se dão no nível da realidade concreta. Esta premissa, apesar de sua obviedade, parece permanentemente desconsiderada por educadores escolares que, a partir do contato com concepção teóricas que enfatizam a necessidade de uma prática social e escolar pautada por relações não-autoritárias, assimilam o discursos mas não exercitam a prática democrática correspondente. Esse fenômeno mostra-se particularmente sério quando atentamos para o comportamento de pessoas que, de uma forma ou de outra, se convenceram, um dia, da importância da democracia, mas, ao depararem com as dificuldades da prática, foram adotando paulatinamente atitudes cada vez mais distantes do discurso democrático, acomodando-se a elas, mas sem renunciar ao antigo discurso liberal, que acaba servindo tão somente como uma espécie de escudo a evitar que revejam criticamente seu comportamento. Esta constatação deveria levar a se repensar o caráter excessivamente livresco da formação e treinamento do educador, no sentido de propor a inclusão de atividade que ensejem maior contato com a realidade de nossas escolas e propiciem lidar mais concretamente com as atitudes do futuro educador, fazendo aflorar os comportamentos autoritários, que não aparecem no âmbito do discurso, e colocando no centro da discussão a necessidade de um repensar crítico das próprias atitudes pessoais, na direção de um relacionamento social cooperativo e democrático [...] (p. 16-18)

A dinâmica intensa da realidade e seus movimentos fazem com que os fatos

e fenômenos mudem de significado ao longo do tempo; as palavras usadas para

representá-los deixam de expressar toda a riqueza da nova significação. Daí porque

a mudança de denominação de Administração para Gestão Educacional. Como se

observa, a expressão gestão tem sido utilizada, de forma equivocada, como se fosse

simples substituição ao termo administração.

A Constituição Federal do Brasil, aprovada no ano de 1988, consolida a

gestão democrática nos sistemas públicos de ensino, estabelecendo, nos seus

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artigos 205 e 206, que a educação brasileira, direito de todos e dever do Estado e da

família, seria promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o

pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho sendo: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade.

Assim sendo, esta década de recessão econômica de um lado e, de outro de

fortalecimento da resistência ao trabalho pedagógico instituído, as políticas

educacionais em voga (portanto ideológicas) redefiniram, ou tentaram redefinir o

curso da escola pública, ampliando as possibilidades e debates em torno do

conceito e práticas democráticas de gestão da educação.

Para tanto, o ensino deve ser pautado nos seguintes princípios: igualdade de

condições para o acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar,

pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idéias e de

concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de

ensino; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; valorização dos

profissionais do ensino; gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

garantia de padrão de qualidade. (artigo 206 da Constituição Federal).

Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (nº 9394) regulamentou o

contido na Constituição Federal, acima citada, e amplia o rumo da democratização

prescrevendo, em seu inciso I art. 13, a participação dos profissionais e da

comunidade na elaboração da proposta pedagógica da escola e, no artigo 15 do

mesmo inciso, acena para uma progressiva conquista da autonomia pedagógica e

administrativa das unidades escolares.

Os sistemas educacionais e os estabelecimentos de ensino, como unidades

sociais, são organismos vivos e dinâmicos, e como tal devem ser entendidos. Assim,

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ao caracterizar-se por uma rede de relações entre os elementos que nelas

interferem, direta ou indiretamente, à sua direção demanda um novo enfoque de

organização. A gestão abrange, portanto, a dinâmica do seu trabalho como prática

social, que passa a ser o enfoque orientador da ação diretiva executada na

organização de ensino.

Quando falamos a respeito de uma gestão democrática da escola, estamos

falando da participação da sociedade nos espaços de decisão existentes na escola.

É pertinente registrar que apesar de todas as conquistas alcançadas pela

nossa rede de ensino no fortalecimento e efetivação da gestão democrática, são

muitos os desafios na superação de práticas patrimonialistas, centralizadoras e

autoritárias ainda presente nos espaços de gestão pública. Essas práticas estão

presentes não somente nas instituições escolares, mas em todos os níveis de

governo, responsáveis pela gestão das políticas educacionais neste país, resultantes

da cultura centralizadora e hierárquica que se herdou da ditadura.

Para que haja avanço na efetivação da gestão democrática escolar e na

construção de um projeto de educação inclusiva, transformadora e humana,

necessita-se perceber que as práticas ainda apresentam desigualdade no acesso, a

presença do autoritarismo, continuam na cultura escolar, promovendo uma ruptura

com essas tradições estabelecidas. Nesse sentido, a democratização da gestão

escolar implica na superação de processos centralizados de decisão e na vivência

da gestão colegiada, em que as decisões nasçam das discussões coletivas,

envolvendo todos os segmentos da escola num processo pedagógico atuante.

Consoante Paro afirma (2003,p11),

Não é possível falar das estratégias para se transformar o sistema de autoridade no interior da escola, em direção a uma efetiva participação de seus diversos setores, sem levar em conta a dupla contradição que vive o diretor de escola hoje. Esse diretor, por um lado, é considerada a autoridade máxima no interior da escola, e isso, pretensamente, lhe daria um grande poder e autonomia; mas por outro lado, ele acaba se constituindo, de fato, em virtude de sua condição de responsável último pelo cumprimento da Lei e da Ordem na escola, em mero preposto do Estado. Está é a primeira contradição. A segunda advém do fato de que, por um lado, ele deve deter uma competência técnica e um conhecimento dos princípios e métodos necessários a uma moderna e adequada administração dos recursos da escola, por outro lado, sua falta de autonomia em relação aos escalões superiores e a precariedade das condições concretas que se desenvolvem as atividades no interior da escola tornam uma quimera a utilização dos belos métodos e técnicas adquiridas (pelo menor supostamente) em formação de administrador escolar, já que o problema da escola pública no país, não é, na verdade, o da administração de recursos, mas da falta de

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recursos.

A escola pública avançou no processo de democratização da gestão, ao

implantar o Projeto Político Pedagógico, Conselhos Escolares, Regimento Escolar,

APMF, Grêmio Estudantil ampliando a participação dos pais, alunos, professores e

funcionários no acompanhamento e proposição de políticas públicas comprometidas

com objetivos democráticos e qualidade de ensino.

A gestão democrática precisa ser destacada, não como premissa básica do

novo paradigma, mas como um objetivo a ser alcançado e aprimorado na prática do

cotidiano escolar. Dessa forma, deve estar sempre envolvida com a participação da

comunidade escolar e considerando que cada pessoa tem seu modo de agir e

pensar.

É necessário e fundamental conhecer o Projeto Político Pedagógico da escola

em que se atua. No caso do projeto que será implementado no Colégio Estadual

Marilis Faria Pirotelli pesquisou no Projeto Político Pedagógico do colégio o que

contempla sobre a Gestão Escolar Democrática. Observamos que cita como

características compartilhar das decisões e informações; preocupação com a

qualidade da educação; a transparência na capacidade de esclarecer para a

comunidade como são usados os recursos da escola, inclusive os financeiros.

Compartilhar decisões significa envolver pais, alunos, professores, funcionários e

outras pessoas da comunidade na administração escolar. É uma prática cotidiana

que contém o princípio da reflexão, da compreensão e da transformação, que

envolve necessariamente a formulação de um Projeto Político Pedagógico, mas é

importante a necessidade de um maior aprofundamento e conhecimento por parte

da comunidade escolar, no que diz respeito à organização da gestão do trabalho

pedagógico na escola pública.

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1º ROTEIRO DE ENCONTRO E DISCUSSÃO

1º Atividade – Apresentação do Texto – A Construção da Gestão Escolar Democrática. Gestão Escolar Democrática na Escola Pública.

2º Atividade - Vídeo - Gestão Escolar Democrática – Professor- Vitor Henrique Paro

3º Atividade – Para Refletir:

1) Qual o seu conceito da história de gestão democrática?

2) Com o conhecimento adquirido com a pratica em seu ambiente escolar, qual o conceito em gestão

escolar democrática?

3) Qual a sua definição de Administração e Gestão Democrática Escolar?

4) A escola em que está atuando a gestão escolar participam os seguimentos nas decisões

pedagógicas e financeiras?

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UNIDADE 2

A gestão participativa e a autonomia da escola

O conceito de gestão participativa envolve, além dos professores e outros

funcionários, os pais, os alunos e quaisquer outros representantes da comunidade

que estejam interessados na escola e na melhoria do processo pedagógico.

O processo administrativo compartilhado entre gestores e comunidade

escolar, a gestão democrática é ainda um desafio às escolas, uma vez que a

democracia no processo educativo tem uma história bem recente, assim como o

processo de democratização política em geral, que tem no Brasil, o seu processo de

desenvolvimento marcado por contradições e conflitos.

É necessário que os mecanismos de democratização da gestão da educação

alcancem todos os níveis do sistema de ensino. Devem existir instâncias de

participação popular junto às secretarias, junto a escolas e, onde for o caso, em

nível regional. Também é possível imaginar instâncias de participação

especializadas, correspondentes aos diferentes serviços de educação oferecidos

(creches, ensino básico e ensino médio, alfabetização de adultos, ensino

profissionalizante). Em qualquer instância, os mecanismos institucionais criados

devem garantir a participação do mais amplo leque de interessados possível.

Quanto mais representatividade houver, maior será a capacidade de intervenção e

fiscalização da sociedade civil.

Embora não haja uma única maneira de implantar um sistema de gestão

participativa, é possível identificar alguns princípios, valores e prioridades, na

construção efetiva dessa gestão. Libâneo (2004, p.79), afirma que: A participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Alem disso, proporciona um melhor conhecimento dos objetivos e metas, da estrutura organizacional e de sua dinâmica, das relações da escola com a comunidade, e favorecem uma aproximação maior entre professores, alunos, pais.

Para o autor, o conceito de participação fundamenta-se no de autonomia, que

significa a capacidade das pessoas e dos grupos de conduzirem a sua própria vida.

A autonomia opõe-se às formas autoritárias de tomada de decisão e, dessa forma,

um modelo de gestão democrática participativa tem na autonomia um dos seus mais

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importantes princípios, implicando a livre escolha de objetivos e processos de

trabalho e a construção conjunta do ambiente de trabalho.

Na filosofia a autonomia é concebida como a faculdade que uma pessoa ou

uma organização tem de autogovernar-se, ou seja, de funcionar regida por suas

próprias regras.

Gadotti (2001, p.47), afirma que a autonomia se refere à criação de novas

relações sociais, que se opõem às relações autoritárias existentes.

Sendo o oposto da uniformização, ela admite a diferença e supõe a parceria.

Por esse motivo, uma escola autônoma não atua de forma isolada, mas em

constante intercâmbio com a sociedade.

A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte da própria

natureza do ato pedagógico e representa tomada de decisão sobre seus objetivos e

sua forma de organização, possibilitando uma relativa independência do poder

central para traçar seu próprio caminho, com a participação dos professores, alunos,

funcionários, pais e da comunidade próxima, que se tornam co-responsáveis pelo

êxito da mesma. O Projeto Político Pedagógico é o instrumento que orienta e

possibilita operacionalizar a autonomia na escola e está diretamente ligado à

autonomia da escola.

Com a autonomia, as relações devem ser marcadas pelos princípios de

responsabilidade partilhada e subsidiária, tendo sempre por finalidade a educação

de qualidade, reforçando o elo entre cidadão e escola como instituição pública e

assegurando a comunidade a transparência, o acesso à informação e o direito de

avaliação.

A escola pública tem a sua autonomia demarcada e caracterizada pelo

respeito às proposições legais nacionais, estaduais e municipais, assim como pelas

normas, regulamentos, resoluções e planos globais de gestão do sistema de ensino

ao qual pertence.

Desse modo, autonomia para elaborar o projeto pedagógico, como propõe a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pressupõe autonomia

administrativa e financeira.

O ensino público no Brasil está regulamentado pela Seção I – Da Educação –

Capítulo III da Constituição Federal de 1988, pela Lei nº 9.394/96 – Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, Emendas Constitucionais nº 11/96 e 14/96, pelas

Resoluções do Conselho Nacional de Educação e pela Lei nº 9425/96, no seu Artigo

20

15. Os sistemas de ensino assegurarão, às unidades escolares públicas de educação básica que os integram, progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira observada às normas gerais de direito financeiro público dos Estados.

Sendo assim os estados e municípios, com base nessa legislação federal,

ajustam os seus respectivos sistemas, promulgando legislação específica definindo

as políticas públicas da educação. Nessa perspectiva, autonomia não representa um

direito de agir com liberdade absoluta.

A autonomia da gestão escolar da rede pública realiza-se em três importantes

áreas de atuação da escola: pedagógica, administrativa e financeira. A autonomia

pedagógica está garantida na possibilidade de cada unidade formular e programar

sua Proposta Político Pedagógica, em conformidade com as políticas vigentes e as

normas do sistema de ensino aplicava.

Já a autonomia administrativa está assegurada pela eleição dos Gestores

Escolares, constituição dos Conselhos Escolares, organizações associativas de pais

e de alunos, e pela formulação, aprovação e implementação do Plano de

Desenvolvimento da Escola – PDE, do Regimento Escolar, do Plano de Gestão da

Escola e Avaliação de Desempenho dos Servidores, nos termos da legislação em

vigor. A autonomia financeira está afirmada pela administração dos recursos

financeiros nela alocados, em consonância com a legislação vigente, tais como o

Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE.

As escolas públicas têm sido representadas no contexto atual educacional, de

forma gradual, significativo grau de autonomia e/ou de posicionamentos frente às

determinações do Estado, princípio de gestão então considerado imprescindível

para tomar iniciativas, ser criativo ou assumir compromissos e responsabilidades.

Não há como negar que o diretor atualmente passou do cargo que ocupava há anos

atrás de gerente preocupado só com questões burocráticas transformando-se em

gestor escolar, o que exige outras competências de quem ocupa este cargo,

ampliando a responsabilidade sobre as questões pedagógicas e a gestão em

equipe. Para isso, é iminente que aconteça a efetivação de uma estrutura com

regras e normas em função de objetivos. (MEC, PCNs, 1997).

A autonomia da escola é um tema cuja importância vem se destacando,

refletindo uma tendência mundial encontrada na dinâmica das modernas

organizações públicas ou privada.

21

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 94) a autonomia é tomada

ao mesmo tempo como capacidade a ser desenvolvido pelos alunos e como

princípio didático geral, orientador das práticas pedagógicas.

Sua prática impõe um novo padrão de política, planejamento e gestão

educacionais, tanto do ponto de vista da escola como dos sistemas de ensino. Este

é o sentido da autonomia como princípio didático geral proposto nos Parâmetros

Curriculares Nacionais: (...) uma opção metodológica que considera a atuação do aluno na construção de seus próprios conhecimentos, valoriza suas experiências, seus conhecimentos prévios e a interação professor-aluno e aluno-aluno, buscando essencialmente a passagem progressiva de situações em que o aluno é dirigido por outrem a situações dirigidas pelo próprio aluno. (PCN, 1997, p. 94).

Também sua aceitação implica uma ruptura no modo tradicional de

compreender e atuar na realidade. A autonomia não é um valor absoluto, fechado

em si mesmo, mas um valor que se define na interação social, já que o homem,

como ser social que é, tem sua liberdade e autonomia que passam a ter relação com

a liberdade e autonomia dos outros seres humanos, livres e também autônomos.

A autonomia na escola é relativa e não absoluta; não pode ser interpretada

como soberania da escola para decidir e fazer o que quiser. Representa uma divisão

de responsabilidades entre os sistemas de ensino e as escolas no que diz respeito

aos resultados alcançados, à transparência e à prestação de contas dos recursos

públicos aplicados na educação. É importante sempre lembrar, que autonomia é um

processo de conquista e não de delegação.

Dificuldades ao trabalho da gestão democrática na escola

A construção de uma escola democrática envolve apropriação dos espaços

da educação numa gestão participativa no âmbito local, desenvolvendo uma

interação entre os profissionais da educação e da população.

Uma escola democrática pressupõe relações em que os gestores se

constituem como autoridade perante os que participam da comunidade escolar, mas,

a partir do que foi discutindo anteriormente, podemos entender que essa autoridade

deve ser fundada no respeito mútuo, no prestígio e na competência profissional ao

bem comum, não em relações autoritárias e de respeito unilateral.

22

De acordo com Paro (2008, p. 130) O gestor escolar tem de se conscientizar de que ele, sozinho, não pode administrar todos os problemas da escola. O caminho é a descentralização, isto é, o compartilhamento de responsabilidades com alunos, pais, professores e funcionários. Isso na maioria das vezes, decorre do fato de o gestor centralizar tudo, não compartilhar as responsabilidades com os diversos atores da comunidade escolar. Na prática, entretanto, o que se dá é a mera rotinização e burocratização das atividades no interior da escola, e que nada contribui para a busca de maior eficiência na realização de seu fim educativo.

A gestão colegiada na escola implica a participação de todos os segmentos

da comunidade escolar em todos os âmbitos da gestão: planejar, executar,

acompanhar e avaliar as atividades que exigem a participação plena de todos.

Avançar na direção de um projeto coletivamente produzido implica considerar que

esse será um processo em permanente construção, dinâmico, marcado pela

diversidade e pelos distintos modos de compreender a escola, suas finalidades, a

organização do trabalho pedagógico, os currículos e as metodologias, enfim, cada

escola tem sua cultura.

A relação entre gestores, alunos e o corpo docente é essencial para o bom

andamento da escola, dependendo de como estar à situação da escola, com

problemas pedagógicos ou financeiros, por exemplo, se ela estiver amparada pelo

bom relacionamento entre as pessoas que participam, esses problemas podem ser

bem encarados e ainda ser resolvidos com ajuda do conjunto, ou seja, a escola

adota conduta democrática. Essa interação é ocorrida no cotidiano, entre

professores e gestores através de reuniões e encontro casuais, e entre professores

e alunos na hora da aula e até mesmo no momento do intervalo. Todos esses tipos

de envolvimento fazem com que a escola ganhe. Pois a instituição precisa de todos

para funcionar, mas é claro que esse trabalho tem que ser feito com empenho por

parte de todos.

A cultura de escola, ou esse modo particular de ser de cada escola, revela

correlações de força, dinâmicas interpessoais, representações e crenças nas quais é

ancorado seu trabalho pedagógico, concepções e valores a partir dos quais se

estabelecem as prioridades pedagógicas e administrativas; a esses determinantes

associam-se as condições concretas em que os estudantes aprendem e os

professores trabalham. Discutindo as dificuldades que podem ser enfrentadas pelos dirigentes

escolares, especialmente as concernentes à participação, condição necessária à

23

gestão democrática, Paro (2003)classifica-as de acordo com a origem dos fatores

que as determinam: teríamos, então, dificuldades ou obstáculos decorrentes de

determinantes internos à própria escola; e dificuldades produzidas por determinantes

externos à mesma: Determinantes internas Determinantes externos Condicionantes materiais Condicionantes econômico-sociais

Condicionantes institucionais Condicionantes culturais

Condicionantes político-sociais Condicionantes institucionais

Condicionantes ideológicos

O que é comum com todos esses determinantes é o envolvimento da

comunidade escolar, que poderá ser potencializado ou minimizado, dependendo das

articulações, das mobilizações, ou seja, da sua capacidade interna de construir seu

próprio projeto de mudança. Essa capacidade interna precisa ser construída e,

nesse processo, o papel de coordenador, de articulador, desempenhado pelo diretor

da unidade escolar, pode fazer a diferença.

É preciso, então, lembrar que todo e qualquer processo de mudança gera

ansiedades, temores, insatisfações e resistências. As mudanças, para serem

efetivas, precisam ser assimiladas pelas pessoas, pelos grupos que criam e recriam

o cotidiano da escola. Por isso, antes de qualquer iniciativa de mudança, é preciso

ter uma escuta, ou seja, ouvir de modo qualificado todas as vozes da escola: pais,

professores, estudantes, funcionários.

Sem esse processo partilhado, as mudanças tendem a se tornar difíceis;

aterrissam na escola e, dado seu caráter impositivo, tornam-se estranhas ao

coletivo, negando a esse a possibilidade política de construir uma escola justa e

democrática para todos.

Como já discutimos anteriormente, trabalhar em grupo, coletivamente, não é

tarefa fácil.

Por isso, uma das queixas mais freqüentes dos diretores escolares diz

respeito à articulação entre os interesses pessoais, particulares e aqueles de cunho

coletivo; nesse terreno, manifestam-se diferentes expectativas que podem se

expressar como conflitos.

Esses conflitos, todavia, não devem ser ignorados ou reprimidos; ao contrário,

devem ser reconhecidos como expressão das contradições que constituem a

24

realidade escolar. Nessa perspectiva, as diferenças podem ser discutidas e

negociadas em favor de um projeto coletivo.

Escola pública é uma designação que encerra dois termos amplamente

discriminados, tanto no plano governamental, via políticas públicas agressivas e de

ataque à qualidade sociocultural, quanto no plano do imaginário coletivo que por

parca visão crítica ou por uma influência de interesses e ideais burgueses, são

incapazes de ver os fatos além do palpável e reproduzem o modo de pensar e de

agir de determinada liderança política.

A comunidade escolar é ampla e por isso não se resolve os problemas

pedagógicos e administrativos de uma escola esperando apenas por uma ação

unilateral. Todos têm a sua contribuição a dar, desde que se pense e respire o poder

de maneira participativa e compartilhada, claro que em sua efetividade. Neste

contexto, a gestão escolar tem um lugar real em determinada concepção e atuação

na escola.

A gestão democrática requer a qualidade social da educação. Seus princípios

estão na sociedade democrática na qual, respeitando diversidades humanas, cultura

e comprometendo-se, a formação humana e cidadã é a sua principal finalidade.

Concebe-se que uma gestão escolar está intrinsecamente vinculada aos

projetos, políticas públicas e tendências metodológicas e epistemológicas que se

construíram no bojo das condições históricas e Paro (2008, p. 13) identifica essa

condição, ao conceber que: A administração escolar está, assim, organicamente ligada à totalidade social, onde ela se realiza e exerce sua ação e onde, ao mesmo tempo, encontra as fontes de seus condicionantes. Para um tratamento objetivo da atividade administrativa escolar é preciso, portanto, que a análise dos elementos mais especificamente relacionados à administração e à escola seja feita em íntima relação com o exame da maneira como está à sociedade organizada e das forças econômicas, políticas e sociais aí presentes.

As atividades sejam administrativas, sejam pedagógicas, carecem de um

exame minucioso do ponto de vista ético-político, no sentido de verificar qual perfil e

cosmo visão está presente na formulação, operacionalização e avaliação de

projetos, programas e políticas educacionais.

Quando se fala em educação deve estar intimamente ligada aos conceitos de

liberdade, democracia e cidadania. A educação não pode preparar para a

democracia ou formar para uma sociedade democrática se ela não for também

25

democrática. Não se consegue, como educando ou educador, fazer democracia sem

um enfrentamento do próprio autoritarismo, isto é, sem a coordenação de uma

autoridade de um educador. Quando se instala a gestão democrática, as respostas

adequadas para lidar com pessoas diferentes e idéias divergentes surgem no

cotidiano. Só se aprende a participar, participando.

É constatado que os processos sociais participativos promovidos na escola

constituem-se em campo fértil e rico de construção de conhecimento social. É a

oportunidade de se desenvolver, de maneira integrada, conhecimentos sobre o

processo humano socialmente organizado de maneira significativa para explicar as

práticas escolares e orientar seus processos de maneira mais fundamentada.

A natureza humana, em sua condição básica, tem necessidade de ser ativa

em associação com seus semelhantes, de maneira a desenvolver seu potencial.

Então, o ser humano torna-se uma pessoa e desenvolve sua humanidade na medida

em que, pela atuação social, coletivamente compartilhada, canaliza e desenvolve

seu potencial, da mesma maneira que contribui para o desenvolvimento da cultura

do grupo em que vivem com o qual interage e depende para construir sua identidade

pessoal.

Pode ressaltar que: a participação democrática promove a superação da simples necessidade de associação humana, que pode ser orientada por um sentido individualista e oportunista, mediante distorção ou incompletude da formação humana para uma necessidade de integração do ser humano na sociedade, de se sentir parte dela e por ela responsável, de harmonizar e coordenar esforços do grupo, com a finalidade de realizar um trabalho mais efetivo, contribuindo para o bem de todos” (LUCK, 2008, p. 62).

A participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da

escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e de toda a comunidade

escolar. Contudo este assunto possui altos e baixos por não ser reconhecido e dado

o devido valor, já que o diálogo e a participação seriam meios possíveis para edificar

uma escola democrática.

26

2º ROTEIRO DE ENCONTRO E DISCUSSÃO 1º Atividade – Apresentação do Texto:

A Gestão participativa e a autonomia da escola.

Dificuldades ao trabalho da Gestão Democrática na escola.

2º Atividade – Texto – Gestão democrática da escola e participação – Silvana Aparecida de Souza

3º Atividade – Para Refletir:

1) O que você entende por autonomia?

2) Na escola pública a autonomia se relaciona a que aspecto?

3) Qual é a maior dificuldade na escola pública?

4) Na sua concepção quais são os envolvidos na gestão escolar democrática?

27

UNIDADE 3 A Construção do Projeto Político Pedagógico na Gestão Democrática

Partindo do princípio de que o gestor é um dos profissionais de fundamental

importância na escola, entende-se que cabe a ele de forma democrática articular

ações empreendedoras para a melhoria da qualidade da educação.

A prática da escola e do gestor escolar ultrapassa os muros escolares e vai

diretamente ao encontro dos anseios sociais, uma vez que a proposta pedagógica

precisa contemplar a realidade vivenciada na prática. A proposta da escola tende a

ser crítica e participativa, envolvendo alunos, professores, funcionários, pais e

comunidade local na efetivação de uma escola destinada a formar pessoas capazes

de construir seu próprio caminho, compreender a realidade e lutar por seus direitos.

A função do gestor não é que seja menos importante em outras tarefas, mas

por ser esta uma questão crucial no trabalho junto a todos os segmentos escolares.

Mas, para entendermos o gestor frente à elaboração do Projeto Político Pedagógico

é de suma importância que entendamos o conceito de Gestão Escolar. Ora este

tema vem aos poucos evoluindo, porém esta pouca evolução já permite a

comunidade pensar em gestão no sentindo de conduzir a instituição procurando

repensar, desenvolver estratégias com intenção de uma democratização da gestão

educacional. Em uma linguagem pedagógica, pode-se dizer que o ponto mais importante

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96, é sem dúvida a

previsão que os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as de

seu sistema de ensino terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta

pedagógica (artigo 128) que irá nortear o processo pedagógico das escolas e de

todos os sistemas de ensino.

A elaboração da Proposta Pedagógica, segundo artigos 13 e 149, contempla

a necessidade da participação dos profissionais da educação, que deverão ainda

definir e cumprir plano de trabalho para concretizá-la. A elaboração e execução

desta pela própria escola é o que dará a dimensão da sua autonomia, orientando

todo o projeto administrativo e burocrático da escola, além de um maior

comprometimento com o pedagógico. Dessa forma, a proposta pedagógica dará

origem ao regimento escolar, que é um verdadeiro estatuto da escola; é a identidade

28

da escola.

Com tais dispositivo presente, a LDB, quis reforçar ainda mais quão

importante é o papel da escola bem como dos educadores na construção de

projetos educativos articulados com as políticas nacionais, dos Estados e

Municípios, considerando a realidade específica de cada instituição de ensino. Isto

também resultará num vínculo estreito entre o administrativo e o pedagógico,

demonstrando que, mesmo diante de tantas realidades o pedagógico deve

prevalecer para obtenção do sucesso dessa iniciativa.

A participação de todos para a construção do projeto político pedagógico, em

especial de seus docentes, é condição essencial, pois assim todos terão acesso às

informações e lhe é garantido o direito de participar das decisões, com condições de

compreender melhor o funcionamento da escola e de se organizar para assegurar

que os interesses da maioria dos envolvidos sejam atendidos. É uma das maneiras

de melhorar a qualidade do ensino e fazer funcionar a escola de maneira mais

organizada.

O projeto político pedagógico (PPP) é a alma de uma escola, é um

documento construído de forma coletiva no qual são expressos objetivos e metas

para a busca de uma educação de qualidade. Este processo é bastante complexo e

delicado, e precisa ser guiada com competência, sobriedade e principalmente

paciência. O PPP é diferente de planejamento pedagógico. É um conjunto de

princípios que norteiam a elaboração e a execução dos planejamentos, por isso,

envolve diretrizes mais permanentes, que abarcam conceitos subjacentes à

educação: Conceitos Antropológicos: (relativos à existência humana); Conceitos

Epistemológicos: aquisição do conhecimento; Conceitos sobre Valores: pessoais,

morais, étnicos; Conceitos Políticos: direcionamento hierárquico, regras. Dessa

forma a construção do PPP tem como seu principal mediador o diretor da escola, e o

posto de gestor asseguram que a escola realize sua missão de ser um local de

educação, entendida como elaboração do conhecimento, aquisição de habilidades e

formação de valores. A Gestão para ser democrática requer o envolvimento de todos e necessário

antes é elaborar o Projeto Político Pedagógico Escolar que é um ato de participação

coletiva.

Neste sentido se faz necessário a envoltura de toda a comunidade, visando a

intervenções responsáveis e conscientes em benefício dos educandos. O projeto

29

político pedagógico da escola está voltado para proposta com ações educativas e

características necessárias de acordo com a comunidade em que a escola está

inserida.

Pensar em escola e educação é pensar em qualidade de ensino e de serviços

prestados à sociedade em constante transformação. A elaboração de um projeto

político-pedagógico, portanto, torna-se de extrema importância para a instituição

escolar, considerando-se que deve envolver toda a sua comunidade – interna e

externa. Nesse sentido, entende-se que o projeto faz parte de uma construção

coletiva e deve buscar consolidar os ideais de uma escola democrática, inclusiva e

abrangente.

Demo (1998, p. 248) se refere assim a essa questão: Existindo projeto pedagógico próprio, torna-se bem mais fácil planejar o ano letivo ou rever e aperfeiçoar a oferta curricular, aprimorar expedientes avaliativos, demonstrando a capacidade de evolução positiva crescente. É possível lançar desafios estratégicos como: diminuir a repetência, introduzir índices crescentes de melhoria qualitativa, experimentar didáticas alternativas, atingir posição de excelência.

É preciso ressaltar que todos, trazendo sua parcela de contribuição,

refletindo, agindo, desenvolvendo e aproveitando potencialidades podem colaborar

com soluções coerentes para dificuldades encontradas, tornando possível efetivar

um processo de ensino-aprendizagem de qualidade, em que todos estejam

dispostos a cooperar e se emancipar para um mundo cada vez mais exigente. O

projeto político-pedagógico é um processo de discussão e reflexão permanente da

escola – lugar de concepção, realização e avaliação.

Segundo Libâneo (2001), a escola que consegue elaborar e executar, num

trabalho cooperativo, seu projeto político-pedagógico dá mostras de maturidade de

sua equipe, de bom desenvolvimento profissional de seus professores, da

capacidade de liderança da direção e de envolvimento de toda comunidade escolar.

O eixo central do projeto político-pedagógico é ser um instrumento de luta

contra a seletividade, a discriminação, a exclusão e o rebaixamento do ensino das

camadas populares (SAVIANI,1998) Neste sentido, construírem, executar e avaliar o

projeto político-pedagógico significa preocupar-se com a qualidade da escola, ou

seja, uma escola que garanta as condições de trabalho necessárias para o

desenvolvimento do processo pedagógico.

No entanto, a escola sozinha, gestor, professores, funcionários e alunos –

podem muito pouco, não tem respaldo frente aos governos, pois, o que faz a

30

máquina andar, é a pressão social. Por isso, a comunidade escolar precisa

encontrar seu espaço na escola e lutar com ela para solução de problemas. Desse

modo, o grande trunfo dessa parceria é proporcionar uma educação de qualidade.

Mas, para isso, segundo Lück (2006, p. 71) é preciso que professores, pais e alunos,

cabe perceber que eles constroem a realidade escolar desde a elaboração de seu

projeto pedagógico até a efetivação de sua vivência e ulterior promoção de

transformações significativas. Não se trata de concorrer, doar ou impor participação,

mas sim de estimulá-lo, de modo que se integre nesse processo contínuo.

A escola precisa trabalhar todos esses aspectos e ao mesmo tempo

aproximá-los da sua própria realidade e dos alunos, pois, segundo Paro (1996,p.

48), “Na sociedade dominada pelo capital, as regras capitalistas vigentes na

estrutura econômica tendem a se propagar por toda a sociedade, perpassando as

diversas instâncias do corpo social”.

Assim, as instituições escolares devem ser espaços socialmente construídos,

coletivamente transformados e democraticamente consolidados, uma vez que esses

elementos são fundamentais para uma educação de qualidade pautada pela

formação de pessoas capazes de fazer a diferença em qualquer profissão.

Compreende-se que, enquanto cada um não assumir um compromisso e

responsabilidades no trabalho desempenhado, há necessidade de gestor com pulso

forte, para fazer com que as atividades sejam desenvolvidas com qualidade e de

forma organizada, devido a ser um processo de transformação que deverá ser

trabalhado de forma gradual para a conscientização dos educadores, em geral, na

escola, bem como a reflexão dos pais e da comunidade na participação e no

comprometimento com a escola

Na visão de VEIGA (2001, p. 157) exalta na seguinte expressão: “... ao se

constituir como processo, o projeto político pedagógico reforça o trabalho integrado

e organizado pela equipe escolar, enaltecendo a sua função primordial de coordenar

a ação educativa da escola para que ela atinja o seu objetivo político pedagógico”.

Esse trabalho integrado é um importante papel que a escola deve idear, pois,

se conseguir colocar em prática o plano de ação do estabelecimento, poderá

possibilitar a integração de todos os membros escolares, ao desenvolver projetos

onde execute as tarefas de forma mais participativa, em que ressalta um grande

desafio que é atrair os pais e a comunidade em geral a se envolver em atividades

escolares, com mais freqüência, disponibilizar e colaborar nas soluções de

31

problemas, participarem na tomada de decisões, com objetivo de integrá-los com o

ambiente escolar.

A Escola é um lugar de concepção, realização e avaliação do projeto

educativo, uma vez que necessita organizar o trabalho pedagógico com base na

necessidade dos alunos. É fundamental que ela assuma suas responsabilidades,

sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas

de condições necessárias para levá-las adiante. Para tanto, é importante que se

fortaleçam as relações entre Escola e comunidades escolares e locais. Este

instrumento teórico metodológico busca uma nova organização para a Escola como

um todo, e, em particular a sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social.

O ponto que interessa reforçar é que a Escola não tem mais possibilidade de ser,

dirigida verticalmente e na ótica do poder centralizador que dita às normas. A luta é

pela busca de autonomia e qualidade, descentralizando o controle técnico e

burocrático, compartilhando responsabilidades entre os diversos segmentos a fim de

acompanhar os avanços da sociedade brasileira. Entretanto pelas práticas

evidenciadas, observa-se que a comunidade local apresenta-se tímida, na

construção deste instrumento tão significativo e são atribuídas à Escola as funções

paternalistas, que por sua vez acaba por se desvincular de seu ofício imprescindível

de educadora.

A comunidade escolar por sua vez luta para libertar-se das amarras da

educação tradicionalista, do conformismo. Busca uma educação interdisciplinar

preocupada com o avanço tecnológico, e com a formação de seres humanos mais

críticos, que valorizem o ser acima do ter e o compromisso social.

O projeto político-pedagógico assim entendido é um instrumento formativo e

auxilia a desenvolver uma ação coletiva, porque não se constroem projetos por

decretos ou intervenções externas à escola. O projeto edifica-se com o próprio grupo

de professores, alunos, pais, funcionários, representantes da comunidade no âmbito

da prática pedagógica.

A escola em seu dia-a-dia é um espaço de inúmeras e diversificadas práticas

que estão em permanente processo de construção e reconstrução. As práticas de

gestão fazem parte da vida da escola contribuindo para o desenvolvimento

democrático e a participação. Entretanto, a concretização do projeto político-

pedagógico, no âmbito da concepção de gestão democrática, não significa unir

todas as pessoas envolvidas de maneira permanente para tomar cada uma às

32

decisões que requer a caminhada, mas acima de tudo comprometimento de todos. .

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/1990, em seus

artigos 15 e 16 dispõem especificamente sobre o direito da criança e do adolescente

à liberdade de opinião e expressão e de participar de toda a política na forma da lei

(BRASIL, 1990), assim como Estatuto do Conselho Escolar (BRASIL, 2005), que

legitima a participação da comunidade escolar na escola. Desse modo, a legislação

vem ao encontro dos anseios de um novo país que, ao retornar a era democrática,

está reaprendendo a corroborar coletivamente e exercer a sua cidadania, e isso só

se aprende praticando, ou melhor, participando da eleição de diretor de escola, líder

de turma, grêmio estudantil. Por essa razão, a escola é peça chave para a formação

do sujeito, pois é o espaço onde ele aprende a dar os primeiros passos dessa longa

jornada, que é a vida em sociedade.

Assim, as instituições escolares devem ser espaços socialmente construídos,

coletivamente transformados e democraticamente consolidados, uma vez que esses

elementos são fundamentais para uma educação de qualidade pautada pela

formação de pessoas capazes de fazer a diferença em qualquer profissão.

33

3º ROTEIRO DE ENCONTRO E DISCUSSÃO 1º Atividade - Apresentação do Texto:

A Construção do Projeto Político Pedagógico na Gestão Democrática 2º Atividade -Texto: A articulação da gestão democrática com o Projeto Político Pedagógico Da escola – Nadir Azevedo de Jesus Santos 3º Para Refletir: 1) Qual foi seu envolvimento na construção do PPP da escola que atua? 2) O que você entende de ser um documento PPP? 3) Você sempre está realizando a leitura e implementando do PPP com seus pares, equipe pedagógica e Direção da escola de uma forma democrática de participação? 4) Todos os segmentos da escola participa ativamente na realização da proposta escrita no PPP?

34

Unidade 4 Papel dos gestores escolares em uma Gestão Democrática

A escola é responsável pela transmissão do conhecimento, porém, no mundo

globalizado, exige-se que a escola tenha uma nova concepção e uma forma

diferenciada de se trabalhar, ou seja, uma constante renovação na sua postura, para

transmitir um conhecimento de nível elevado para preparar o aluno a serem criativo

e pensante, com objetivo de formar cidadãos críticos e que se comprometam a uma

participação mais efetiva, para obter resultados com eficácia, favoráveis ao

desenvolvimento do estabelecimento.

Partindo deste princípio, surge a figura do gestor escolar, como sendo o

indivíduo que irá propagar idéias para que ocorra a transformação, aquele que irá

articular essas idéias junto à comunidade escolar. Trata-se de: repensar a escola como um espaço democrático de troca e produção de conhecimento que é o grande desafio que os profissionais da educação, especificamente o Gestor Escolar, deverão enfrentar neste novo contexto educacional, pois o Gestor Escolar é o maior articulador deste processo e possui um papel fundamental na organização do processo de democratização escolar. (ALONSO, 1988, p. 11)

A gestão escolar foi implantada para substituir à administração escolar o que

representa uma mudança radical de postura que originou um novo enfoque de

organização, um novo paradigma de encaminhamento das questões escolares,

ancorados nos princípios de participação, de autonomia, de autocontrole e de

responsabilidade (ANDRADE, 2004).

Assim o papel do gestor, que é o Diretor de escola, para atuar numa visão

democrática deve estar ligado ao conhecimento e interação de toda a comunidade

escolar. Deve proporcionar ações em que todos participem e compartilhem e ainda

garantir a formação continuada aos seus profissionais para contribuir na qualificação

da prática pedagógica.

O diretor da escola tem uma importância fundamental na organização e

funcionamento da instituição escolar, em todos os seus aspectos: físico, sócio-

político, relacional, material, financeiro e pedagógico. Cabe aos profissionais da educação fazerem valer o seu papel de educador, dando ênfase a um ensino mais democrático, com diálogos abertos, com informações que provoquem reflexões a respeito dos fatos

35

sociais existentes. É importante que se trabalhe sempre com o concreto, assim o educando se sentirá estimulado a criar situações como todo o processo democrático, que é um caminho que se faz ao caminhar, o que não elimina a necessidade de refletir previamente a respeito dos obstáculos e potencialidades que a realidade apresenta para a ação. (PARO, 1997, p.17)

Quando se fala em gestão democrática implica primeiramente o repensar da

estrutura de poder da escola, tendo em vista sua socialização. A socialização do

poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo da

reciprocidade, que supera a expressão da autonomia, que anula a dependência, de

órgão intermediário que elaboram políticas educacionais tais qual a escola é mera

executadora. (VEIGA, 2001, p. 18)

Ao assumir esse papel o gestor deve, necessariamente buscar a articulação

dos diferentes segmentos em torno de uma educação de qualidade, o que implica

uma liderança democrática, capaz de interagir com todos os segmentos da

comunidade escolar. A liderança do gestor requer uma formação pedagógica crítica

e autônoma dos ideais neoliberais. Nesse sentido,o objetivo é construir uma

verdadeira educação com sensibilidade e também com destrezas para que se possa

obter o máximo de contribuição e participação dos membros da comunidade.

Conforme Libâneo (2001,p.102): A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Além disso, proporcionar um melhor conhecimento dos objetivos e metas, da estrutura organizacional e de sua dinâmica das relações da escola com a comunidade, e favorece uma aproximação maior entre professores, alunos e pais.

Sendo assim o autor, pode-se observar que a escola precisa ter liderança de

um gestor comprometido com a qualidade da educação e com as transformações

sociais que possibilite avançar o aluno nos mais variados aspectos: social, político,

intelectual e humano. Organizar o trabalho pedagógico requer enfrentar contradições

das diversas realidades que se encontram numa escola pública, daí a necessidade

da escola educar para a democracia, e essa tendência pedagógica e deverá ser

observada ao longo dessa gestão. Há pouco tempo, o modelo de gestão escolar se

configurava num diretor autoritário e submisso aos órgãos centrais e sua função se

restringia a de administrador de determinações estabelecidas pelas instâncias

superiores. O processo de autonomia da escola se deu a partir da década de oitenta

quando tomou posse os primeiros governantes eleitos pelo voto direto.A partir daí a

36

discursam por uma educação democrática ganhou amplitude e vários movimentos

começaram a incentivar a luta por uma escola participativa, autônoma e de

qualidade.

No que diz respeito ao papel do diretor, este deixa de ser alguém que tem a

função de fiscalizar e controlar, que centraliza em si as decisões, para ser, segundo

Luck (2008): [...] um gestor da dinâmica social, um mobilizador, um orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar unidade e consistência, na construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos.

Libâneo (2004) caracteriza algumas das funções da Direção na gestão

democrática escolar: - dirigir e coordenar o andamento do trabalho pedagógico da escolar, de acordo com sua função social - assegurar o processo participativo na tomada de decisão na sua implementação; - assegurar a implementação de todas as ações planejadas coletivamente; - articular e criar momentos para relações entre escola e comunidade escolar - dar suporte às atividades de planejamento e discussão do currículo, juntamente com a equipe pedagógica, bem como fazer o acompanhamento e avaliação da prática pedagógica.

O gestor precisa ser dinâmico e ter flexibilidade junto ao corpo docente.

Dourado (2002,p76) relata a eficácia entre líder e os seus lideres para a criação da

confiança entre eles.

A atuação do diretor e da equipe gestora na mobilização de pessoas e no

desenvolvimento de liderança participativa é fundamental. Uma liderança

mobilizadora está sempre a compartilhar com os outros a solução de problemas, a

elaboração de planejamento e a implementação de ações pedagógicas na escola.

Sem negar os problemas, uma liderança mobilizadora procura programar ações e

consolidar mecanismos visando garantir a participação de todos.

Dialogar sobre as práticas de gestão, em particular na ação do diretor de

escola, buscando construir compreensões acerca do administrativo e do pedagógico

não constitui tarefa fácil.

Geralmente, o administrativo é compreendido no âmbito das atividades mais

próximas do burocrático, das delegações políticas do Estado a serem desenvolvidas

pelo diretor. O pedagógico diz respeitos às ações que envolvem o processo de

ensino e aprendizagem, portanto, são, na maioria das vezes, atribuições dos

coordenadores pedagógicos e dos professores.

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O processo de democratização da escolha de diretores tem contribuído para

se repensar a gestão escolar e o papel do diretor. Há uma tendência crescente de

entender o diretor como líder da comunidade e como gestor público da educação, e

não como mero representante ou preposto de um determinado governo. Refletindo

sobre os diretores eleitos, Paro ( 2001, p 69) afirma: parece que o diretor consegue perceber melhor, agora, sua situação contraditória, pelo fato de ser mais cobrado pelos que o elegeram. Esse é um fato novo que não pode ser menosprezado. À sua condição de responsável último pela escola e de preposto do Estado no que tange ao cumprimento da lei e da ordem na instituição escolar, soma-se agora seu novo papel de líder da escola, legitimado democraticamente pelo voto de seus comandados, que exige dele maior apego aos interesses do pessoal escolar e dos usuários, em contraposição ao poder do Estado. Isto serviu para introduzir mudanças na conduta dos diretores eleitos, que passaram a ver com as solicitações de professores, funcionários, estudantes e pais.

Esse processo de mudança, que amplia o estabelecimento de ações

compartilhadas na escola e fortalece a forma de organização coletiva, com a

estrutura de equipe gestora e a criação e a atuação dos conselhos escolares, tem-se

mostrado um dos caminhos para se avançar na democratização da gestão escolar.

Nessa direção, definir claramente as atribuições e o papel político da equipe gestora

e do conselho escolar é fundamental. De igual modo, é necessário destacar as

atribuições comuns das duas instâncias e suas formas de articulação político-

pedagógica.

A esse respeito, Paro (2001, p. 81-82) afirma que: inteirado o conselho numa política mais ampla da gestão escolar, parece que outra importante questão a ser enfrentada refere-se à necessidade de uma definição mais precisa de suas funções, dotando-o de atribuições e competências que o tornem co-responsável pela direção da escola, sem provocar choque de competências com o diretor [...]. Uma solução que se poderia imaginar para essa questão é a de dotar o conselho de escola de funções diretivas, semelhantes às que tem hoje o diretor. Dessa forma, o responsável último pela escola deixaria de ser o diretor, passando a ser o próprio conselho, em co-responsabilidade com o diretor, que dele também faz parte. A vantagem desse tipo de solução é que o conselho, na condição de entidade coletiva, fica menos vulnerável, podendo tomar medidas mais ousadas, sem que uma pessoa, sozinha, corra o risco de ser punida pelos escalões superiores. Supõe-se que, assim, o dirigente da escola (o conselho) detenha maior legitimidade e maior força política, posto que represente todos os setores da escola. Seu poder de barganha e sua capacidade de pressão, para reivindicar benefícios para a escola, seriam, também, superiores aos do diretor isolado.

A democratização da gestão por meio do fortalecimento dos mecanismos de

participação na escola, em especial do conselho escolar, pode-se apresentar como

uma alternativa criativa para envolver os diferentes segmentos das comunidades

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locais e escolares nas questões e problemas vivenciados pela escola. Esse

processo, certamente, possibilitaria um aprendizado coletivo, cujo resultado poderia

ser o fortalecimento da gestão democrática na escola.

O diretor tem de dar conta da qualidade de ensino em sua escola e tudo o

que for condição para alcançá-la. Manter um diálogo aberto com professores,

funcionários, alunos e pais, garantir o direcionamento do projeto pedagógico na

escola, a homogeneidade de conteúdos programáticos entre as turmas, ter bom

trânsito nas regionais e secretaria da Educação Estadual.

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4º ROTEIRO DE ENCONTRO E DISCUSSÃO

1º Atividade - Apresentação do Texto:

Papel dos gestores escolares em uma Gestão Democrática

2º Atividade –Texto: O Diretor Escolar: Administrador ou gestor? Qual o seu papel? Texto da Profª MS Maria Cristina Munhoz Araújo 3º Para Refletir: 1) De que forma o gestor conduz as decisões pedagógicas e financeiras da escola? 2) Todos os segmentos tem voz e vez na gestão escolar democrática? 3) Você cumpri com todos os deveres de sua função? 4) Gestor e Equipe pedagógica atuam diretamente com os demais segmentos orientando e decidem ações coletivamente para melhor qualidade de ensino? 5)Qual seu conceito de Gestor na escola pública?

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