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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · trabalho apresenta como objetivo a realização de uma revisão teórica sobre a dislexia, ... do comportamento e uso de ... Zorzi

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

PARANÁ

GOVERNO DO ESTADO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

NRE: Cornélio Procópio Município: Itambaracá

Nome: Isabel Monteiro da Silva Outuki

Email: [email protected]

Escola: Colégio Estadual Marcílio Dias

Fone: 35431371

Disciplina: Educação Especial Série: 6° Ano

Conteúdo Estruturante: Transtorno de Aprendizagem

Conteúdo Específico: O atendimento da criança com dislexia

Orientador: Marilia Bazan Blanco

Caracterização do material didático: Unidade Temática

Relação interdisciplinar: História, Língua Portuguesa

Sinopse: Diante do contexto atual da educação, de acordo com a Lei 9.394 de 20 de

dezembro de 1996 - LDB em seu artigo 58, faz-se necessário uma reflexão e análise

de como a inclusão tem ocorrido no meio escolar, com foco nas dificuldades e

transtornos de aprendizagem, principalmente a Dislexia. O trabalho é centrado nos

teóricos de Psicologia Cognitiva, que buscam explicar como o indivíduo percebe,

interpreta e utiliza o conhecimento adquirido. A dislexia é tratada por Capellini

Germano e Padula (2010), como uma dificuldade de realizar a leitura e a escrita,

mesmo quando a inteligência está dentro dos padrões da normalidade e as

condições educacionais são adequadas. O presente trabalho tem o propósito de

orientar os professores do 6° Ano do Ensino Fundamental do Colégio Marcílio Dias a

buscar procedimentos didáticos adequados para o desenvolvimento do aluno

disléxico.

Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem; Transtornos de Aprendizagem;

Dislexia

APRESENTAÇÃO

O momento atual merece reflexão e análise de como a inclusão tem

ocorrido no meio escolar. Muitos não aprendem da forma esperada e em tempo

preestabelecido, não correspondendo às expectativas do professor, ora visto,

não estamos mais amparados pela exclusão e homogeneidade do passado,

que aos poucos abandonava os que não eram bem-sucedidos.

Querer uma educação de qualidade é admitir a heterogeneidade, o

educador deve se amparar em estratégias diferenciadas, isto requer

capacitação e conhecimento de como ensinar de forma adequada às

necessidades do aluno, atendendo suas características especificas.

Neste contexto, propõe-se a discutir os procedimentos utilizados pelo

professor para intervir nas dificuldades de aprendizagem, que provocam o alto

índice de repetência e evasão no Colégio Estadual Marcílio Dias. O Presente

trabalho apresenta como objetivo a realização de uma revisão teórica sobre a

dislexia, apresentando suas causas, características, procedimentos avaliativos

e interventivos, visando fornecer material teórico que possa servir de subsídios

para o trabalho de professor, ao deparar-se com um aluno disléxico.

UNIDADE TEMÁTICA

O ato de aprender

De acordo com Zorzi (2009) aprender depende da conexão dos

neurônios por meio de inúmeros dendritos, formando uma rede de associação.

O indivíduo aprende a cada nova experiência, portanto, as redes de neurônios

se rearranjam, tantas outras sinapses se reforçam e múltiplas possibilidades de

respostas tornam-se possíveis.

Plasticidade Cerebral é a capacidade do sistema nervoso central em

modificar sua organização estrutural própria e de funcionamento em

resposta a condições mutantes, aprendizados e a estímulos

repetidos. (FERREIRA, 2009 p.56).

Portanto decodificar é reconhecer um estímulo empregando a memória.

Por conseguinte aprende-se mais rápido quem possui maior nível de cultura,

mais experiências vivenciadas e conexões cerebrais que facilitam procurar em

algo desconhecido, algo familiar, como um “gancho”, para melhor fixação.

O sistema nervoso de uma criança já nasce sabendo sorrir, chorar e

pegar, é considerado atavismos, mas que para que a criança os use a fim de

manipular o meio em seu próprio benefício, terá que aprender a fazê-lo.

É certo que o desenvolvimento das capacidades de sorrir, falar e chorar

se desenvolvem com o intuito de comunicação e interação, se houver feedback

positivo, portanto a criança aprende a falar e escrever quando lhe dão o retorno

da adequação social.

Há de se saber que nosso cérebro é mais apto para o aprendizado em

certos períodos, denominados Janelas de Oportunidades. Daí a importância do

grau, da precocidade e da profundidade da estimulação dada à criança, ou

seja, o retorno da adequação social. Assim sendo a aprendizagem inicia bem

antes de sua entrada na escola.

O aprendizado da leitura e da escrita corresponde a uma das

habilidades básicas para todo o sucesso escolar. Porém, apesar de toda a sua

importância, ensinar a ler e escrever continua sendo um dos grandes desafios

encontrados pelos educadores. Muitas são as crianças que não conseguem

chegar a um nível alfabético da escrita e outras tantas que, embora tenham

chegado lá, não ultrapassam os níveis elementares de aprendizagem. (ZORZI

& CAPELLINI, 2009).

O que é dificuldade de aprendizagem?

Porque alguns alunos aprendem com facilidade e outros não? Esta é

uma inquietação do cotidiano de muitos educadores.

Quando se diz que o aluno não aprendeu porque não tinha pré-requisito

(conhecimento anterior) para a aprendizagem posterior, recorre-se ao processo

de equilibração de Piaget (1975), que compreende a aprendizagem como

resultado do desenvolvimento do sujeito. Nesta concepção o aprendiz não

parte do zero, mas de esquemas anteriores, sendo que o indivíduo compensa

ativamente as dificuldades e obstáculos que o objeto (conhecimento) lhe

provocam.

Portanto, a formação da memória é mais efetiva quando a nova

informação é associada a um conhecimento prévio, considerando que a

emoção interfere no processo de retenção de informação e é necessária a

motivação. Nosso cérebro modifica-se em contato com o meio durante toda a

nossa vida, ideia atualmente defendida pela Neurociência, já citada

anteriormente pelos grandes teóricos da Psicologia Cognitiva: Piaget, Vygotsky

e Ausubel.

A Neurociência compreende a aprendizagem por meio de experimentos

do comportamento e uso de aparelhos de ressonância magnética e de

tomografia, que permite observar as alterações do cérebro durante o

funcionamento. A Psicologia Cognitiva, não desconsidera o papel do cérebro,

mas foca nos significados, pautando-se em evidências indiretas para explicar

como o indivíduo percebe, interpreta e utiliza o conhecimento adquirido.

Nestas evidências neurocientíficas compreendemos que há uma

correlação entre um ambiente rico e o aumento das sinapses (conexões entre

as células cerebrais).

Para o desenvolvimento do cérebro é preciso que o educador

potencialize a integração entre o corpo e o meio social, através do uso da

Pedagogia, por meio da didática.

Em seu livro “O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos

Superiores”, Lev Vygotsky (1896-1934), elucida que o educador deve ter

estratégias diferenciadas para atender os alunos, já que nem todos detêm os

mesmos conhecimentos e nem aprendem da mesma maneira.

Muitos questionamentos permeiam o cotidiano do professor em como

lidar com as dificuldades de aprendizagem na prática a fim de aprimorar os

critérios didáticos para enfrentar os problemas. Como trabalhar um novo

conteúdo quando alguns alunos ainda não aprenderam o que era previsto?

Como garantir o aprendizado de todos?

Neste contexto é importante não confundir deficiência intelectual com

dificuldade de aprendizagem, ambas são distintas e precisam de avaliações

adequadas que promovam intervenções educacionais específicas, o mesmo

cabe ao que seja transtorno de aprendizagem.

Cabe ao professor identificar as dificuldades de aprendizagem de seu

aluno, considerando a necessidade de contribuir com o direcionamento

pedagógico e sistematização das atividades educacionais e situações que

requer recursos especiais para atender e superar as dificuldades de

aprendizagem.

Sabe-se que no contexto escolar muitas vezes se confunde dificuldade

de aprendizagem ou transtorno de aprendizagem e na maioria das vezes o

educando fica sendo o responsável pelo fracasso escolar.

“a dificuldade de aprendizagem engloba um número heterogêneo de

transtornos, manifestando-se por meio de atrasos ou dificuldades de

leitura, escrita, soletração, cálculo, em crianças com inteligência

potencialmente normal e superior e sem deficiências visuais,

auditivas, motoras ou desvantagem culturais” (SISTO, 2001, p.193

apud GIMENEZ 2005).

As crianças com baixo desempenho podem atribuir a si próprias seu

fracasso, apresentam sentimentos de vergonha, autoestima baixa, não se

envolvem nas demandas de aprendizagem, quando atribuem ao outro a causa

de seu insucesso são hostis. Não conseguindo avançar se sentem

desmotivadas. Muitos fatores podem intensificar este quadro: quando o método

não condiz com o raciocínio deste aluno, o professor é inábil e há a falta de

atendimento neurológico e psiquiátrico.

Exemplificando, Zorzi em seu livro “Aprendizagem e distúrbios da

linguagem e escrita” (2003), apresenta o texto do aluno William (que assina

“Wilhiam)”, que levam a avaliações negativas quando não se analisa o histórico

deste aluno: filho de família pobre de agricultores, analfabetos, que viveu até

aos seis anos em uma região do interior do Nordeste, tendo sua primeira

experiência escolar aos sete anos, quando seus pais vão para a cidade.

Marcado pelo modelo de linguagem e gramática da oralidade, sem influência

da escrita, dada a condição de falta de acesso ao letramento, e que em muitos

casos gera preconceito em relação à variação linguística por não pertencer à

“norma culta”. Vale ressaltar que este aluno fez todos os exames: avaliação

neuropediátrica, psicológica (com avaliação de seu QI e de certas

características de personalidade), psicopedagógica e fonoaudiológica, os

resultados mostraram que era uma criança sem nenhum déficit e com

condições cognitivas, afetivas e com habilidades neuropsicomotoras.

Elucidando, abaixo o texto do aluno William, transcrito literalmente, sem

correções.

Quadro 1.

O minino pesdido

O minino ele gosta de avestura um dia

ele foinomato com seus colega e daí

E ele falou: vamos lanalgou (lagoa) eu não eu não

todos disse não e o minino pespido

e pesdeudinovo eai ele disse que nusca mai

eu vou numa avestura.

Fonte: Jaime Luiz Zorzi, 2003 pag. 14

Questões como:

Podemos esperar o mesmo perfil de aprendizagem para todos os

alunos?

Podemos exigir que todos realizem um mesmo programa? Com um

mesmo método determinando o tempo e o ritmo para que aprenda?

A interpretação incorreta do processo de aprendizagem do aluno pode

prejudicá-lo para a vida toda, até mesmo pelos profissionais quando restringem

sua avaliação somente dentro dos aspectos clínicos ou de desempenho, não

considerando as condições sociais, culturais, econômicas e educacionais

vivenciadas pela criança.

As dificuldades mais recorrentes estão relacionadas à Leitura e a

Escrita, fato comprovado nas avaliações de aprendizagem em âmbito nacional:

alunos do Ensino Fundamental e Médio apresentam dificuldades e falta de

domínio da ortografia e gramática, de interpretação e também raciocínio lógico.

Identificando a causa, pode-se caracterizar o problema e planejar as

intervenções, juntamente com os pais, a criança e a escola.

Cabe salientar as diferenças entre distúrbios de aprendizagem e

dificuldade de aprendizagem, como define as autoras Ciasca e Rossini (2002),

sendo esta como “qualquer tipo de dificuldade apresentada durante o processo

de aprender, em decorrência de fatores variados que vão desde causas

endógenas e exógenas”. Já os distúrbios implicariam em uma perturbação na

aquisição, utilização ou na habilidade para solução de problemas, envolvendo

uma disfunção específica, geralmente neurológica e/ou neuropsicológica,

características estas, orgânicas e biológicas.

Portanto, a disfunção neurológica é o que diferencia uma criança com

distúrbios de aprendizagem de outra que apresenta problemas de inteligência

ou dificuldade de aprendizagem.

“Distúrbios de Aprendizagem é um termo genérico que se refere a um

grupo heterogêneo de desordens, manifestadas por dificuldades na

aquisição e no uso da audição, fala, escrita e raciocínio matemático.

Essas desordens são intrínsecas ao indivíduo e presume-se serem

uma disfunção do sistema central nervoso. Entretanto, o distúrbio de

aprendizagem pode ocorrer concomitantemente com outras

desordens como distúrbio sensorial, retardo mental, distúrbio

emocional e social ou sofrer influências ambientais como diferenças

culturais, instrucionais inapropriadas ou insuficientes, ou fatores

psicogênicos. Porém, não são resultado direto destas condições e

influências.”(HAMMILL 1990, apud GIMENEZ,2005,p.80)

Concluí-se que a disfunção neurológica é característica fundamental

presente em uma criança com distúrbios de aprendizagem.

Evidencia-se que dos 40% da população indicada com dificuldade de

aprendizagem, somente 3% e 5% têm distúrbio de aprendizagem. (CAMPOS,

1997 apud GIMENEZ, 2005)

A imprecisão do uso dos termos: dificuldade de aprendizagem,

dificuldade na aprendizagem, dificuldades escolares, problemas na

aprendizagem, distúrbio de aprendizagem, transtorno de aprendizagem

favorece com que se rotule e se responsabilize o aluno pelo seu fracasso

diante da aprendizagem formal. (CAMPOS, 1997, apud GIMENEZ, p.79).

Transtorno de Aprendizagem

De acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de

Comportamento da Classificação Internacional de Doenças – CID 10,

constituído pela Organização Mundial da Saúde os Transtornos de

Aprendizagem são chamados de Transtornos específicos do desenvolvimento

das habilidades escolares (F81), sendo identificado quando:

Os padrões normais de aquisição de habilidades são perturbados

desde os estágios iniciais do desenvolvimento. Eles não são

simplesmente uma consequência de uma falta de oportunidade de

aprender, nem são decorrentes de qualquer forma de traumatismo ou

de doença cerebral adquirida. Ao contrário, pensa-se que os

transtornos originam-se de anormalidades no processo cognitivo, que

derivam em grande parte de algum tipo de disfunção biológica (OMS,

1992:236).

Embora os Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades

escolares estejam relacionados ao processo de aprendizagem e do

desenvolvimento de habilidades escolares, não quer dizer que há uma

existência de uma deficiência intelectual, problemas visuais e auditivos ou

perturbações emocionais, mas em alguns casos pode acontecer

simultaneamente.

Os transtornos mais presentes no contexto escolar são: Transtorno de

Matemática, de Expressão Escrita, de Leitura, de Déficit de Atenção e

Hiperatividade.

A Discalculia, refere-se a dificuldade para realizar cálculos aritméticos e

raciocínio matemático inferior a média esperada para a idade cronológica,

intelecto e nível escolar, prejudicando o estudante quanto as habilidades

linguísticas, percentuais, de atenção.

Os transtornos de matemática na maioria dos casos estão associados

aos da leitura e escrita, sendo os dois transtornos relacionados a escrita a

Disgrafia e a Distorgrafia. A primeira refere-se ao desenho da escrita, a grafia,

que pode ter causa psicomotora ou viso motora, a segunda à dificuldade de

escrita ligada aos processos ortográficos, a criança escreve da mesma forma

que lê ou fala (CIASCA, 2005).

Transtorno de Leitura: Dislexia

Dislexia, etimologicamente de origem grega, formada pela contração de

DIS – distúrbio e LEXIS - palavra, é uma dificuldade na área da leitura, escrita

e soletração.

Segundo Rotta e Pedroso (2006), o termo dislexia foi apresentado pela

primeira vez em 1872 pelo oftalmologista Rudolf Berlin, na Alemanha. Em

1917, James Hinshelwood, também oftalmologista, na Escócia ao constatar em

um paciente com inteligência normal, mas com dificuldade na escrita e leitura,

concluiu que a causa do problema era em consequência a um defeito

congênito no cérebro. Estudando os transtornos de aprendizagem em 1925, o

neurologista Samuel Torrey Orton observou que algumas crianças invertiam as

letras e escreviam de forma espelhada; estudou suas famílias e percebeu que

a dislexia teria causa genética (ROTTA; PEDROSO, 2006).

De acordo com Capellini, Germano e Padula a dislexia foi definida pela a

World Federation of Neurology, em 1968, como sendo o transtorno de

aprendizagem da leitura que ocorre apesar de inteligência normal, de ausência

de problemas sensoriais ou neurológicos, de instrução escolar adequada de

oportunidades socioculturais suficientes, além disso, depende da existência de

perturbação de aptidões cognitivas fundamentais, frequentemente de origem

constitucional (Capellini, Germano e Padula, 2010, p.10).

A dislexia é considerada um transtorno específico de aprendizagem de

origem genética neurológica, contando também com a história familial positiva:

entre 23% e 65% das crianças com pais disléxicos desenvolvem o transtorno.

Os genes candidatos estão localizados nos cromossomos 2, 3, 6,15 e 18, com

uma herança poligênica, sendo expressos por quatro genes, denominados

KIAA0319, DCDC2, ROBO1 e DIX1C1. (Brambati et al, 2006, Fisher & Francks,

2006, Gibson & Gruen, 2008, p.18 apud Capellinni et al 2010, p.11).

Segundo Capellini et al (2010) uma das maiores contribuições dos

estudos realizados na perspectiva neuropsicológica e das neurociências foi o

entendimento de que a dislexia do desenvolvimento tem sua origem durante o

período embrionário, significando que não se trata da consequência de um

problema ambiental ou social, mas decorrente de um dano neurológico que

ocorre no período de desenvolvimento fetal.

A dislexia é o mais comum dos transtornos de aprendizagem,

chegando a afetar cerca de 80% dos indivíduos com esse transtorno.

O quadro se caracteriza por uma inesperada dificuldade na leitura ou

em sua aquisição, apresentando complicações no reconhecimento de

palavras de modo acurado e fluente, além de reduzidas habilidades

de decodificações que, de modo geral, são destoantes em relação a

outras habilidades cognitivas e acadêmicas. Considera-se que,

subjacente ao transtorno, há um déficit no componente fonológico da

linguagem (SHAYWITZ, MORRIS & SHAYWITZ, apud DIAS, p.357,

2008).

Como se percebe, a dislexia não se trata de um problema de

inteligência, nem de deficiência visual ou auditiva, ou problemas afetivo-

emocionais. Trata-se de uma dificuldade especifica nos processamentos da

linguagem para reconhecer, reproduzir, identificar, associar e ordenar os sons

e as formas das letras; um modo característico de funcionamento dos centros

neurológicos de linguagem.

Os disléxicos apresentam um grande déficit no processamento

fonológico, caracterizado principalmente pela pouca inabilidade em fazer

correspondências entre as letras e os sons que as representam corretamente

(ARAUJO e SILVA apud CAPOVILLA, 2008; PEDROSO; ROTTA, 2006).

Objetivando diferenciar as atividades metabólicas cerebrais entre indivíduos

disléxicos e não disléxicos, os Pedroso e Rotta (2006) realizaram um estudo de

neuroimagem, que destaca as seguintes alterações no cérebro dos indivíduos

disléxicos:

Redução do fluxo sanguíneo na região perissilviana;

Falha na ativação do córtex temporopariental esquerdo durante uma

tarefa rítmica;

Deficiência de funcionamento integrado as áreas de Broca e o córtex

temporopariental esquerdo;

Alterações na recognição e no processamento fonológico;

Falha funcional do córtex posterior, afetando as áreas da visão,

linguagem;

Alteração no plano temporal e localização de disfunção na junção

temporopariental, confirmando déficit fonológico na dislexia.

A soletração e a leitura são os sintomas predominantes da dislexia, por

mais simples e pequena que seja a palavra, não conseguem realizar a leitura

em voz alta devido à aprendizagem fônica, codificação fonológica e limitação

da pronúncia de sequências verbais. (PENNINGTON, 1997 apud CAPOVILLA,

2008).

Geralmente, o disléxico apresenta bom desempenho na matemática,

mas são lentos e cometem muitos erros na leitura, inversão de números e

letras, falta de articulação da memória a curto e longo prazo, como a

memorização de meses do ano, de endereços e números de telefones,

dificuldade em aprender o nome das letras e das cores, a sequência das

sílabas de forma correta, cometem inversão e/ou omissão de letras na escrita e

tem baixa autoestima (PENNINGTON, 1997). Os erros mais comuns de

pessoas disléxica, de acordo com Ciasca (2003), Pennington (1997), Rotta;

Pedroso (2006), Snowling; Stackhouse (2004), Zorzi (2003; 2009) apud Araujo

e Silva(2012), são:

Segmentar palavras e frases;

Dificuldade com ortografia e produção textual;

Pular linhas e acompanhar a leitura com o dedo;

Omissão de sílabas e fonemas como: caçador > cacasado, bombeiro >

bopero, macaco > macacaco, churrasco > curaco, enxugar > nigucha,

quatrocentos > catuceto, soltou > coto, presente > pezti;

Inversões e grande dificuldade em aprender o nome específico de cada

letra, principalmente as que têm posições trocadas, como: p, q, b, d, u,

n, escrevendo cedola (cebola); tradalhar (trabalhar);

Lentidão na leitura e no desenvolvimento de habilidades da fala;

Dificuldades nas tarefas que envolvem habilidades fonológicas como

dividir uma palavra em partes e brincar com as rimas;

Trocas surdo-sonoras, fazendo uso de letras que tem os mesmos traços

de sonoridade: estuda > ituta, machucado > majuchato;

Confusão entre esquerda e direita e dificuldade na percepção espacial;

Dificuldade para aprender uma segunda língua;

Problemas de timidez ou depressão.

A escrita é uma das formas mais complexas e elevadas da linguagem

que o ser humano conhece, pois além da decodificação gráfica, fazem-se

associações entre os sinais visuais e seus valores simbólicos. Alguns

apresentam dificuldades de escrita e de aprendizagem. Muitas vezes, a dislexia

foi associada à hiperatividade. Hoje, não são analisadas somente as

características internas da aprendizagem do indivíduo, como acompanhar uma

aula, mas também as condições externas como a quantidade de estímulos que

recebe.

Alunos com dislexia podem apresentar insegurança, baixa autoestima e

até se sentirem tristes e culpados. Alguns até se recusam a realizar as

atividades, com medo de que seus erros apareçam novamente ou que sejam

ridicularizados. Formam assim um vínculo negativo com a aprendizagem,

podendo apresentar atitudes um pouco mais agressiva com os professores ou

colegas.

Em 2006, Moojen e França apud Araujo e Silva (2012) apresentam

determinadas propostas de ações pedagógicas e avaliação para alunos

disléxicos que favorecem a aprendizagem e desempenho, como:

evitar leituras em voz alta em público, quando for realmente

necessário, permitir que ela prepare a leitura anteriormente;

permitir o uso de corretores ortográficos e equipamentos

informatizados; evitar cópias muito extensas do quadro,

fornecer-lhe cópia impressa da atividade;

realizar provas orais ou fornecer mais tempo para a realização das

avaliações escritas;

avaliar seu trabalho pelo conteúdo, e não pelos erros de escrita

destacar os aspectos positivos de suas atividades;

encorajar o aluno a fazer perguntas,

colocar o aluno sentado mais próximo do professor;

fornecer apoio, demonstrando que reconhece suas dificuldades e

que está disposto a ajudá-lo no que for possível.

Para os autores Aimard (1908); Ardila (1991); Smith e Strick (2001),

Capellini (2007) apud Capellini et al (2007), os escolares necessitam

de mudanças realizadas pelo professor em sala de aula para melhor

desempenho e adaptação do aluno no contexto escolar.

Ajudar o aluno a pronunciar corretamente.

Não cobrar o mesmo desempenho da criança dislexia ou seja o

mesmo nível de leitura.

Incentivar a participação do aluno disléxico nas aulas.

Permitir o uso de recurso áudio visual e tecnológico.

Ensinar o aluno a fazer esquema de síntese.

Realizar estudo em dupla e grupo.

Permitir avaliação oral.

Ler as questões para os alunos.

Utilizar textos digitados, evitar copias.

Destacar as partes mais importantes do texto.

Não diminuir nota pelos erros ortográficos.

Compreender que a distração da criança na leitura e escrita é

normal.

Um diagnóstico formal pode ajudar o professor a fazer uma sondagem

inicial para verificar se há problemas que impedem a estimulação necessária

para a aprendizagem do aluno e em seguida uma avaliação por uma equipe

multidisciplinar: neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo; e

entrevistas com a família são necessários para evitar julgamentos errôneos.

(ZORZI, 2003; SNOWLING, STACKHOUSE, 2004).

Segundo Smith e Strick (2001), os pais devem ajudar os filhos a

desenvolver estratégias que os auxiliem a socializar melhor, e preparar seu

tempo de estudo:

Explicar para a criança que entende seu problema e que ira ajuda-

la.

Oportunizar a integração social de seu filho com os alunos de sala.

Verificar caderno de anotações.

Acompanhar as datas de entrega de trabalho em um calendário.

Reservar um tempo adicional para estudar com seu filho os

conteúdos que ele apresente dificuldade.

Os autores esclarecem, ainda, a importância da interação dos pais com

seus filhos, pois estes precisam muito de sua compreensão para superar as

suas dificuldades ao longo de suas vidas. Quanto mais positivos forem os pais,

mais orgulhosos os escolares com dislexia serão em relação as suas

conquistas.

A dislexia ainda é causa desconhecida do fracasso escolar tanto para a

comunidade escolar como para os pais, infelizmente percebe que os

educadores ainda ignoram e desconhecem a dislexia, como também os pais

que muitas vezes não compreende o que acontece e o que fazer quando seu

filho apresenta dificuldade na leitura e na escrita.

Educação Especial no Brasil

Estudiosos recomendam para que os alunos com dislexia permaneça na

classe de ensino regular, mas é necessário intervenções ambientais estrutural,

modificação de currículo e adequações de estratégias no contexto educacional,

também uma serie de intervenções clinicas e educacionais para que se tenha

bons resultados.

De acordo com a Lei 9.394 de 20 de dezembro- Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, em seu artigo 58, entende-se por educação

especial a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na

rede regular de ensino, para educandos com necessidades especiais.

Em seu parágrafo 1º dispõe que haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. Em seguida em seu artigo 2º relata que o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições especificas dos alunos, se não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. (BRASIL, Lei 9.394 – LDB, 1996)

A modalidade educação especial esta cada vez mais presente nas

escolas de ensino regular e de ensino fundamental anos iniciais como também

finais.

De acordo com a INSTRUÇÃO Nº015\2008-SUED\SEED, que

regulamenta a sala de recursos para os anos iniciais do ensino fundamental:

“4.4 O processo de avaliação do contexto escolar, para identificação

de alunos com indicativos de Transtornos Funcionais Específicos

(Distúrbios de Aprendizagem_ dislexia, disortografia, à aquisição da

língua oral e escrita, interpretação, produção disgrafia e discaculia),

deverá enfocar aspectos pedagógicas relativos, cálculos, sistema de

numeração, medidas, medidas, entre outras, acrescidas de parecer

psicológico e complementada com parecer fonoaudiólogo e\ou de

especialista em psicopedagogia e\ou de outros que se fizerem

necessário” (INSTRUÇÃO Nº015\2008-SUED\SEED p.2).

Mesmo havendo demanda para Salas de Recursos e professores

concursados na Rede Estadual na modalidade de Educação Especial, há

grande dificuldade na avaliação e encaminhamento para a Sala de Recursos

ou multifuncionais em se tratando dos profissionais responsáveis pela

avaliação, ficando assim o aluno disléxico sem acesso a avaliação, tanto no

ensino regular como especializado.

REFERÊNCIAS

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