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OS DESAFIOS DA OLERICULTURA Manejo de doenças foliares do tomateiro Alice M. Quezado Duval Valdir Lourenço [unior Por ser uma planta hospedeira de um número elevado de fitopatógenos, a ocorrência de doenças é um dos principais fatores limitantes na produção de tomate, tanto para o segmento do consumo "in natura", quanto para a produção de ato matados industrializados. Destacam-se as doenças causadas por bactérias (mancha e pinta bacteriana), oomicetos (requeima) e fungos (septoriose), que atacam a parte aérea das plantas e provocam lesões necróticas, afetando grande parte da área foliar fotossintética e, assim, a produtividade das lavouras. Para combater essas doenças, os produtores chegam a realizar aplicações frequentes de produtos de proteção fitossanitária, que são componentes significativos do custo de produção. No entanto, muitas vezes, o que se observa na prática é que, apesar do uso intensivo de fungicidas, os alvos não são mantidos em nível econômico de controle, levando a prejuízos. Produtores e técnicos devem ter um conhecimento amplo sobre a natureza dos patógenos causadores das doenças, suas relações com o ambiente e as ferramentas disponíveis no mercado que possam ser economicamente aplicáveis em cada sistema produtivo. A origem de doenças foliares e o papel das condições ambientais Sempre que uma doença é observada na lavoura, é importante analisar a origem dos primeiros propágulos de fitopatógenos (inóculo primário) que chegam às plantas ou às mudas porque eles podem já estar instalados na área de cultivo ou serem advindos de 2 fontes externas. No caso da mancha bacteriana e da pinta bacteriana, seus agentes causadores são quatro espécies do gênero Xanthomonas ea Pseudomonas syringae pv. toma to, passíveis de transmissão por sementes. Por isso, esses patógenos podem ser introduzidos por mudas ou plantas voluntárias doentes que surgem a partir de sementes de frutos remanescentes de lavouras anteriores. Esse fato é comum em tomate para processamento industrial, devido à colheita mecânica. As fontes de inóculo primário podem também ser tecidos infectados de restos culturais não totalmente decompostos ou plantas mais velhas em plantios escalonados. No caso de requeima, causada pelo oomiceto Phytophthora infestans, os esporos produzidos em planta doentes são dispersos pelo vento a curtas ou longas distâncias. O oomiceto pode sobreviver em restos de cultura por curto período de tempo o ••• -- eu ...., ra E O ...., O "CI '" eu ••• ra -- - O •••• '" ra y.. C eu O "CI '" -- ra Q. -- u C -- ••• Q. Requeima Causada pelo oomiceto Phytophthora iniesums, os esporos produzidos em planta doentes são dispersos pelo vento a curtas ou longas distãncias. Septoriose Causada pelo fungo Septoria lycopersici os esporos produzidos são dispersos a curtas distâncias pelo respingo de ãgua da chuva ou de irrigação. Mancha bacteriana Causada por espécies de bactéria do gênero Xanthomonas e pelo Pseudomonas syringae pv. tomato. passíveis de transmissão por sementes.

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• OS DESAFIOS DA OLERICULTURA

Manejo de doenças foliaresdo tomateiroAlice M. Quezado DuvalValdir Lourenço [unior

Por ser uma planta hospedeira de umnúmero elevado de fitopatógenos, a ocorrênciade doenças é um dos principais fatoreslimitantes na produção de tomate, tanto para osegmento do consumo "in natura", quanto paraa produção de ato matados industrializados.Destacam-se as doenças causadas por bactérias(mancha e pinta bacteriana), oomicetos(requeima) e fungos (septoriose), que atacama parte aérea das plantas e provocam lesõesnecróticas, afetando grande parte da área foliarfotossintética e, assim, a produtividade daslavouras.

Para combater essas doenças, os produtoreschegam a realizar aplicações frequentes de produtosde proteção fitossanitária, que são componentessignificativos do custo de produção. No entanto,muitas vezes, o que se observa na prática é que,apesar do uso intensivo de fungicidas, os alvosnão são mantidos em níveleconômico de controle, levandoa prejuízos. Produtores e técnicosdevem ter um conhecimentoamplo sobre a natureza dospatógenos causadores dasdoenças, suas relações como ambiente e as ferramentasdisponíveis no mercado quepossam ser economicamenteaplicáveis em cada sistemaprodutivo.

Aorigem de doenças foliares e opapel das condições ambientais

Sempre que uma doençaé observada na lavoura, éimportante analisar a origemdos primeiros propágulos defitopatógenos (inóculo primário)que chegam às plantas ou àsmudas porque eles podemjá estar instalados na área decultivo ou serem advindos de

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fontes externas. No caso da mancha bacterianae da pinta bacteriana, seus agentes causadoressão quatro espécies do gênero Xanthomonase a Pseudomonas syringae pv. toma to, passíveisde transmissão por sementes. Por isso, essespatógenos podem ser introduzidos por mudasou plantas voluntárias doentes que surgem apartir de sementes de frutos remanescentesde lavouras anteriores. Esse fato é comum emtomate para processamento industrial, devido àcolheita mecânica. As fontes de inóculo primáriopodem também ser tecidos infectados de restosculturais não totalmente decompostos ou plantasmais velhas em plantios escalonados.

No caso de requeima, causada pelo oomicetoPhytophthora infestans, os esporos produzidos emplanta doentes são dispersos pelo vento a curtasou longas distâncias. O oomiceto pode sobreviverem restos de cultura por curto período de tempo

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RequeimaCausada pelo oomiceto Phytophthorainiesums, os esporos produzidos emplanta doentes são dispersos pelo ventoa curtas ou longas distãncias.

SeptorioseCausada pelo fungo Septoria lycopersici •os esporos produzidos são dispersos acurtas distâncias pelo respingo de ãguada chuva ou de irrigação.

Mancha bacterianaCausada por espécies de bactéria dogênero Xanthomonas e pelo Pseudomonassyringae pv. tomato. passíveis detransmissão por sementes.

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ou em plantas voluntárias. Já para o fungoSeptoria Iycopersici, agente causal da septoriose,há necessidade de estudos sobre a dispersão e asobrevivência desse patógeno. O fungo produzesporos que são dispersos a curtas distânciaspelo respingo de água de chuva ou irrigação.A dispersão do fungo a longas distânciasaparentemente ocorre por mudas e sementes.No entanto, não há informação consistente se ofungo pode sobreviver em sementes ou como elesobrevive na ausência de plantas hospedeiras.

Mesmo que introduzidos na lavoura, osfitopatógenos da parte aérea só vão expressartodo seu potencial explosivo e destrutivo seas condições ambientais forem propícias àsua entrada, como alta umidade relativa etemperatura, uma vez que cada patógeno tem aamplitude térmica ideal para seu ciclo de vida elou para desenvolver sua patogenicidade.

Influência de fatores climáticosOs fungicidas são os principais produtos

fitossanitários utilizados pelos produtores detomate em sistemas convencionais de cultivo.No entanto, sistemas de previsão e alertafitossanitário têm sido desenvolvidos e aplicadoscomo ferramenta auxiliar para a tomada dedecisão acerca do momento adequado para aaplicação. Desse modo, obtém-se mais eficiênciae até redução do emprego de fungicidas. Isso épossível devido ao conhecimento da influênciade fatores climáticos no desenvolvimentodos patógenos, como temperatura, umidaderelativa e período de molhamento foliar; quesão monitorados por estações meteoro lógicas.Um exemplo é o sistema de alerta fitossanitáriopara requeima, septoriose e mancha bacterianada Epagri/CIRAM,em uso em Santa Catarina. Aexperimentação faz-se ainda necessária paraque o sistema seja validado nas diferentesregiões e também na geração de conhecimentoepidemiológico de doenças emergentes para quenovos modelos sejam desenvolvidos.

Produtos de proteção fitossanitáriaA eficiência do emprego de produtos

de proteção fitossanitária no controle dasdoenças foliares do tomateiro, seja químico(origem sintética ou biológica) ou biológico(microorganismos antagonistas), depende devários fatores: (i) ser efetivo quanto ao alvo; (ii)ter estabilidade compatível com as condiçõesambientais; e (iii) usar uma tecnologia de

aplicação adequada às características específicasdas formulações, expressas nas bulas.

Assim, a diagnose correta é o primeiro passopara a escolha exata do princípio ativo. Oconhecimento dos efeitos de fatores ambientaispode auxiliar também nessa escolha, mas émandatório que se saiba o quanto as formulaçõespermanecem ativas em função desses fatores.A melhor tecnologia de aplicação disponíveldeve ser sempre buscada pelos agricultores.Nesse contexto, a tecnologia de pulverizaçãoeletrostática vem sendo desenvolvida com grandepotencial para aumentar a eficiência da aplicaçãofitossanitária. O processo consiste em eletrificaras gotas da calda do produto, que são atraídasàs superfícies foliares da planta, proporcionandoa utilização de pequenas gotas com redução daperda esperada por evaporação.

A realização de estudos que levem em contao binômio "produtos-patógenos" e estabeleçamequipamentos, dosagens e programas adequadospara a cultura do tomateiro precisam serrealizados, dando subsídios às empresas detentorasdas formulações, mas também a todos os atoresda cadeia produtiva. Em resumo, acredita-se que apartir dessas noções, será possível planejar melhora rotação de culturas, a escolha da variedade, dandopreferência às que apresentem melhores níveisde resistência, e antecipar a tomada de decisãoquanto ao emprego de produtos de proteçãofitossanitária. A pesquisa e a validação em manejodevem ser constantes para desenvolver e fazerchegar às lavouras bases tecnológicas que levem àprodução agricola social e ambientalmente seguracom ganhos econômicos aos produtores.

Alice M. Quezado Duval

Engenheira Agrônoma

Fitopatologia

Pesquisadora da Embrapa Hortaliças

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Valdir Lourenço Junior

Engenheiro Agrônomo

Fitopatologia

Pesquisador da Embrapa Hortaliças