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OS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA CADEIA DE INOVAÇÃO EM CÉLULAS FOTOVOLTAICAS NO BRASIL Luciana Pereira (UFABC ) [email protected] Rubens da Silva Milare (UFABC ) [email protected] O objetivo do artigo é traçar um panorama das potencialidades da energia solar utilizando células fotovoltaicas e suas implicações para o desenvolvimento dessa indústria no Brasil. A sua base metodloógica é um estudo de caso construído a paartir de fontes secundárias, tais como os relatórios dos Ministérios de Minas e Energia (MME) e Ciência e Tecnologia (MCT), Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do potencial, a análise dos dados nos mostrou que, quando comparados com outros países, as iniciativas brasileiras, tanto públicas quanto privadas, estão longe de causar algum impacto significativo. Podemos observar tal fato tanto em termos de geração de energia como da própria viabilidade da criação de uma base industrial que venha fomentar o setor com inovações em dispositivos e equipamentos ou processos. Palavras-chaves: Indústria energética, Células fotovoltaicas, Inovação, Brasil XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

OS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA CADEIA DE … · matéria semicondutora surge o aparecimento de uma diferença de potencial elétrico, ... De acordo com o relatório ... bemestabelecidos

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OS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO

DE UMA CADEIA DE INOVAÇÃO EM

CÉLULAS FOTOVOLTAICAS NO

BRASIL

Luciana Pereira (UFABC )

[email protected]

Rubens da Silva Milare (UFABC )

[email protected]

O objetivo do artigo é traçar um panorama das potencialidades da

energia solar utilizando células fotovoltaicas e suas implicações para o

desenvolvimento dessa indústria no Brasil. A sua base metodloógica é

um estudo de caso construído a paartir de fontes secundárias, tais

como os relatórios dos Ministérios de Minas e Energia (MME) e

Ciência e Tecnologia (MCT), Agência Nacional de Energia Elétrica

(ANEEL) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar do potencial, a análise dos dados nos mostrou que, quando

comparados com outros países, as iniciativas brasileiras, tanto

públicas quanto privadas, estão longe de causar algum impacto

significativo. Podemos observar tal fato tanto em termos de geração de

energia como da própria viabilidade da criação de uma base industrial

que venha fomentar o setor com inovações em dispositivos e

equipamentos ou processos.

Palavras-chaves: Indústria energética, Células fotovoltaicas,

Inovação, Brasil

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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1. Introdução

A energia gerada pelo Sol – na forma de calor e luz – é uma das alternativas energéticas mais

promissoras uma vez que, hoje, os combustíveis fósseis – petróleo, carvão mineral e gás

natural - são os principais recursos utilizados. Esses, por sua vez, são fontes esgotáveis para a

geração de energia. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi estudar o setor de células

fotovoltaicas para que se tenha um parâmetro das tecnologias e empresas envolvidas na sua

produção a fim de comparar com as capacitações necessárias para sua implementação no país.

O desenvolvimento da tecnologia para a energia solar fotovoltaica se apoiou, inicialmente, no

setor de telecomunicações como fonte de energia para sistemas montados em locais remotos.

A necessidade de se fornecer energia para o funcionamento de satélites impulsionou o

desenvolvimento de células solares por ser esse o meio mais adequado- em termos de custo e

peso – para geração de energia no espaço. (CRESESB, 1999).

A aplicação de células fotovoltaicas no Brasil ainda ocorre por meio de sistemas isolados das

redes de distribuição convencional de eletricidade. Ou seja, os sistemas não estão conectados

às rede capazes de gerar eletricidade para abastecer cargas em regiões remotas. Ainda assim.

é possível se observar a utilização de células em telhados de edificações, que basicamente

utilizam duas fontes de energia – a fotovoltaica e o sistema convencional de distribuição –

assim, se o consumo total for menor que aquele que as células fotovoltaicas podem fornecer, o

excedente pode ser injetado na rede de distribuição (ZILLES, FERREIRA, 2002).

A barreira econômica é uma desvantagem para o setor, pois o alto custo de processamento do

silício, que é utilizado para a fabricação das células, corresponde a 45% do preço final de uma

célula solar (ABINEE, 2012). Uma vez que os custos de instalação de um sistema

fotovoltaico conectado à rede são da ordem de US$ 700/m² ao se considerar toda energia

anual fornecida por este sistema, obtêm-se custos muito mais altos que o cobrado atualmente

para um consumidor residencial.

Portanto, as demandas por inovações tecnológicas em produtos e processos são fatores

importantes para a obtenção de novas fontes alternativas de energia. Dentre essas fontes, a

célula fotovoltaica é uma solução que causa menos impacto ao meio-ambiente. Entretanto,

sua viabilidade econômica, em virtude da necessidade de um refinado processo produtivo, é

uma barreira para sua implementação e difusão.

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Este relatório está dividido em cinco seções. Na parte seguinte à introdução, tem-se uma

retomada da bibliografia existente na literatura através de uma visão panorâmica sobre a

inovação tecnológica e as células fotovoltaicas. Em seguida, será mostrada a metodologia

utilizada, com informações sobre a coleta e o processamento de dados, consequentemente,

atrelada aos resultados onde é apresentada a construção do perfil da indústria. Por fim, são

apresentadas as conclusões.

2. A energia fotovoltaica

A energia fotovoltaica é uma tecnologia de geração de energia de corrente contínua a partir de

semicondutores quando eles são iluminados por fótons. Edmond Becquerel relatou o efeito

fotogalvânico em eletrólitos líquidos em 1839, quando nos extremos de uma estrutura de

matéria semicondutora surge o aparecimento de uma diferença de potencial elétrico, devido à

incidência de luz. No processo de conversão da energia radiante em energia elétrica a célula é

a unidade principal. (NASCIMENTO, 2004)

Os elétrons são bombeados da banda de valência para a banda de condução por fótons. Assim,

os elétrons são extraídos por um contato seletivo para a banda de condução (semicondutor

dopado-n) a uma energia mais alta e entregue a uma carga externa para realizar algum

trabalho útil, e então, são devolvidas à banda de valência em uma energia mais baixa por um

contato seletivo (semicondutor tipo-p).

Figura 2.1 Representação de uma célula solar

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Fonte: NASCIMENTO, 2004

A luz solar é um espectro de fótons distribuídos em uma faixa de energia. Os fótons, cuja

energia é maior que a energia limiar, pode excitar os elétrons para a banda de condução onde

existe o dispositivo e gera energia elétrica que atravessa a célula solar e é absorvida na parte

de trás na forma de calor. (HEGEDUS, 2003)

De acordo com o relatório do CRESESB (1999), um sistema solar fotovoltaico é composto

pelo agrupamento de módulos em painéis e de uma combinação de outros equipamentos

convencionais, que transformam ou armazenam a energia elétrica. Normalmente o sistema é

composto por três partes básicas:

i) Disposição dos módulos – onde se encontra as células solares responsáveis pela

conversão de energia solar em energia elétrica,

ii) Subsistema de condicionamento de potência, o qual transforma a saída do arranjo em

potência útil,

iii) Baterias, que têm o papel de armazenar a energia elétrica.

Na tabela 2.1 listamos algumas vantagens e desvantagens da energia fotovoltaica – abordando

questões técnicas e não-técnicas – que, geralmente, são opostas às usinas convencionais de

combustíveis fósseis. (HEGEDUS, 2003)

Tabela 2.1. Vantagens e desvantagens da energia fotovoltaica

Vantagens Desvantagens

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Fonte de combustível imensa e essencialmente infinita Fonte de combustível difusa (a luz solar é uma energia

relativamente de baixa densidade)

Sem emissões, sem combustão ou combustível

radioativo para eliminação

Baixo custo de operação (sem combustível) Alto custo de instalação

Sem partes móveis, sem desgaste

Operação em temperatura ambiente (sem corrosão de

alta temperatura)

Alta confiança nos módulos (maior que 20 anos) Baixa confiança dos elementos auxiliares, incluindo

armazenamento

Pequenos ou grandes incrementos modulares

Instalação rápida

Podem ser instalados em edifícios novos ou já

existentes

Podem ser instalados em qualquer ponto de uso Falta de integração dos sistemas comerciais disponíveis

Pico de produção diária pode corresponder à demanda

local Carência de armazenamento econômico e eficiente de energia

Fonte: HEGEDUS, 2003

2.1 A célula fotovoltaica O elemento transformador para que haja a conversão de energia solar em energia elétrica é a

utilização de um material semicondutor. Por certo, os materiais mais apropriados são aqueles

que originam o maior produto corrente-tensão para a luz visível, uma vez que grande parcela

da energia fornecida pelos raios solares se encontra na faixa visível do espectro.

De um modo geral, o semicondutor deve passar por um processo de purificação e uma etapa

de dopagem – introdução exata de impurezas. De fato, os principais tipos de células

fotovoltaicas são de silício monocristalino, silício multicristalino, filmes finos, silício amorfo

e células concentradas. (CRESESB, 1999).

2.2 Mitos da energia fotovoltaica

Apesar de todos os benefícios dessa fonte energética há alguns mitos sobre a energia

fotovoltaica, referentes à produção e difusão como fonte alternativa de energia.

Segundo os estudos de Eduardo Lorenzo (2003), ao considerar um valor médio de

por dia – valor considerado conservador – e um típico painel solar fotovoltaico

com eficiência aproximada de 10% para converter a luz solar em eletricidade, tem-se

para substituir o equivalente a .

Em um país industrializado, tem-se a média de por ano. Desde que uma

pessoa passe um terço do dia em casa, tem-se por ano, dividindo por 365

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dias, obtém-se por dia, ou então, , em uma família com quatro

pessoas. Assim, será preciso de módulos solares para prover a energia

elétrica necessária, ou seja, uma área retangular de 10m por 5m.

Comparativamente, uma usina nuclear ou a carvão, operando 24h por dia, para produzir os

mesmos , seriam necessários ou seja, ,

aproximadamente um quadrado com 8 km de lado, para produção da mesma quantidade de

eletricidade em mineração superficial de carvão, ou três vezes a área de uma usina nuclear

com sua respectiva área de mineração. (MERIDIAN, 1989).

1. A energia fotovoltaica pode atender toda a demanda mundial apenas aprovando

leis que rejeitem as usinas fósseis e nucleares.

Além das dificuldades na esfera política, o primeiro problema técnico seria a natureza

intermitente da radiação solar, disponível apenas durante o dia e bem reduzida em dias

nublados. No entanto, com redes elétricas bem desenvolvidas e gerenciadas podem se aceitar

grandes quantidades de eletricidade vinda da energia solar, desligando algumas usinas

convencionais de energia elétrica. (KELLY, 1993)

2. A energia fotovoltaica polui assim como todas as outras indústrias de alta

tecnologia apenas com diferentes emissões tóxicas.

Uma das mais valiosas características da energia fotovoltaica é a bem merecida imagem dada

à tecnologia ambientalmente correta. Essa imagem saudável resulta em uma produção limpa

de eletricidade comparada à produção pela queima de combustíveis fósseis.

A indústria fotovoltaica é consciente desse valor e concentra-se em pesquisa e

desenvolvimento para estabilizar e manter o alto padrão de responsabilidade ambiental.

(MAYCOCK, 2000).

Procedimentos seguros de manuseio de alguns dosmateriais e processosestão

bemestabelecidos a partirde um circuito integrado entre asindústriasde revestimentode vidro.

Por certo, a absorção humanaacidental de algum material tóxico não é provável, como já

estudado, emcaso deum incêndio em casa, os módulosfotovoltaicosnão

liberammateriaispotencialmenteperigosos. (MOSKOWITZ, 1990).

3. Os módulos fotovoltaicos nunca recuperam toda energia necessária para fazê-

los e, assim, representam uma perda líquida de energia.

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O foco dos módulos fotovoltaicos é gerar energia elétrica. Calcula-se que a energia solar tem

um papel cada vez maior na produção de eletricidade com a consciência de que os módulos

produzam muito mais energia do que o necessário para construir todo o sistema fotovoltaico.

Caso contrário, seria uma perda de energia líquida e não uma fonte de energia líquida.

3. Arcabouço metodológico

Este artigo apresenta um estudo setorial da inovação em células fotovoltaicas. A coleta de

dados visou à construção do perfil da indústria a partir do levantamento e busca de

informações e análise crítica do ema. A amostra estudada é formada pelo Brasil e a China.

Para a coleta e análise de dados foram utilizadas fontes secundárias, tais como os relatórios

dos ministérios de Minas e Energia (MME) e Ciência e Tecnologia (MCT), Agência Nacional

de Energia Elétrica (ANEEL), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, incluem-se dados do

Banco Central do Brasil ea Agência Internacional de Energia que permitirá uma visão da

questão energética no mundo.

4. Análise do desenvolvimento de células fotovoltaicas

Para a análise do desenvolvimento de um setor foram feitas análise sobre: 1) dimensões

geográficas; 2) composição da indústria fotovoltaica brasileira; 3) concepção do produto e as

novas tecnologias envolvidas.

4.1. Dimensões geográficas

A fim de justificar o desenvolvimento e implantação de células fotovoltaicas, buscaram-se

dados sobre a radiação solar no Brasil, através do Atlas Solarimétrico do Brasil elaborado em

2000. Por certo, as regiões desérticas são as melhores em recurso solar, assim é feita uma

comparação da radiação solar de certas localidades brasileiras com outras localidades do

mundo. (TIBA, 2000).

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Tabela 4.1 Dados de radiação solar diária, média anual para diversas localidades do mundo

Localidade

Rad. Solar

Máxima

Rad. Solar

Mínima

Rad. Solar

Anual

Rad. Máxima/

Rad. Mínima

Dongola - Sudão 27,7(Mai) 19,1(Dez) 23,8 1,4

Dagget – USA 31,3(Jun) 7,8(Dez) 20,9 4,0

Belém – PA 19,9(Ago) 14,2(Fev) 17,5 1,4

Floriano – PI 22,5(Set) 17,0(Fev) 19,7 1,3

Petrolina – PE 22,7(Out) 16,2(Jun) 19,7 1,4

B. J. da Lapa -BA 21,1(Out) 15,9(Jun) 19,7 1,3

Cuiabá - MT 20,2(Out) 14,7(Jun) 18,0 1,4

B. Horizonte - MG 18,6(Out) 13,8(Jun) 16,4 1,3

Curitiba – PR 19,4(Jan) 9,7(Jun) 14,2 2,0

P. Alegre – RS 19,4(Jan) 8,3(Jun) 15,0 2,7

Fonte: TIBA, 2000

A tabela 4.1 mostra algumas localidades do Brasil comparadas à região da cidade de Dongola,

localizada no Deserto Arábico, no Sudão, e a região de Dagget, no Deserto de Mojave,

Califórnia, Estados Unidos, exemplos de radiação solar excelente.

Assim, nota-se que as áreas localizadas no Nordeste do Brasil têm radiação solar diária e

média anual comparada às melhores regiões do mundo nesse quesito. Para uma análise

mais profunda sobre o potencial solar brasileiro foi preciso analisar dois tipos de mapas de

grande importância; a constar, o mapa de isolinhas de radiação solar, e o mapa de isolinhas de

insolação.

É importante ressaltar que as isolinhas de insolação diária têm um caráter totalmente diferente

das isolinhas de radiação solar. Ou seja, os mapas de distribuição espacial de radiação solar

diária, média mensal concebem somente uma primeira aproximação da energia solar

disponível à superfície. Para situações locais é preciso recorrer às médias numéricas das

estações solarimétricas. (TIBA, 2000).

A obra analisada com a síntese das pesquisas, estudos e levantamentos é realizada pelo IBGE

e demais órgãos que compõem o Sistema Estatístico Nacional, com as principais observações

meteorológicas de diversos municípios, contendo dados de insolação total mensal. (IBGE,

1994)

Figura 4.1. Carta anual de radiação solar global diária, média anual em

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Fonte: TIBA, 2000

A partir dos resultados obtidos foi possível analisar e evidenciar que a radiação solar no Brasil

varia entre 8 e 22 onde a tendência mínima evidencia-se no sul do estado do Rio

Grande do Sul e valores de tendência máxima em uma relativa extensa região do Nordeste

brasileiro.

Pode-se notar, também, que o nordeste brasileiro apresenta um menor índice de nebulosidade,

ou seja, um maior índice de radiação Solar que se concentra na parte central da região.

4.2 Composição da Indústria

Como ainda não há indústrias brasileiras que produzem sistemas fotovoltaicos

comercialmente, discute-se a viabilidade do estabelecimento de indústrias de células e

módulos fotovoltaicos. Países como Índia e México já possuem fábricas de células e/ou

módulos fotovoltaicos. Por sua vez, a China através do estabelecimento dessas indústrias, se

inseriu no mercado mundial com a empresa Suntech, maior produtora mundial.

Figura 1.2 Produção mundial de módulos fotovoltaicos (1999-2010)

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Fonte: Photon International, 3, 2011; Cell production survey 2010. Março 2011

Segundo a figura 4.2, de 2009 a 2010 houve um crescimento de 118% na produção de

módulos fotovoltaicos em todo mundo, justificando o crescimento acentuado desse setor.

Considerando que o Brasil possui uma das maiores reservas de quartzo para produção de

silício grau solar e grau eletrônico – matéria prima para as células –a proposta de estabelecer

indústrias voltadas para esse ramo, coloca em pauta a possibilidade de exportação de células

solares uma vez que há um crescimento acelerado do mercado internacional, garantindo um

índice de nacionalização, gerando empregos e riqueza. (CGEE, 2010)

4.3 Concepção do produto

Este tópico descreve os sistemas fotovoltaicos segundo o Manual de Engenharia para

Sistemas Fotovoltaicos (1999). Considerando que o produto seja o sistema fotovoltaico como

um todo, a análise dele se faz através da elaboração de um projeto. De fato, o critério para o

dimensionamento pode ser: o custo da energia gerada, confiabilidade, eficiência ou uma

combinação desses fatores.

A concepção do sistema pode ser dividida em geração fotovoltaica, armazenamento de

energia e unidades de controle e condicionamento de potência ilustrados no diagrama abaixo.

Figura 2.3 Diagrama de blocos de um sistema fotovoltaico

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Fonte: Manual de Sistemas fotovoltaicos (1999)

Os dados de radiação solar exemplificados na figura 4.3 podem ser relacionados com o valor

acumulado de energia solar ao longo de um dia através do número de horas de Sol Pleno. Esta

grandeza mostra o número de horas em que a radiação solar deve ser constante e igual a

de modo que a energia resultante seja igual à energia acumulada para o dia e lugar

específico.

Figura 4.4. Perfis de radiação solar diária com valores equivalentes

Fonte: Manual de Sistemas fotovoltaicos (1999)

Considerando agora que o produto em questão seja as células, é importante considerar a

geometria das células uma vez que elas devem ocupar a maior área possível do módulo. O

formato quadrado garante que ocupem um espaço melhor, porém, as células de formato

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redondo apresentam a vantagem de não perder material devido à forma cilíndrica do silício

monocristalino.

4.4 Principais processos de produção

Tomando como parâmetro as empresas de fabricação de células solares de tecnologia chinesa

tais como: Hanwha SolarOne, Yingli Green Energy e Suntech, é possível analisar os

processos de fabricação de células monocristalinas e policristalinas.

Porém, há uma divisão histórica quanto aos tipos de painéis solares existentes. Assim, os

módulos podem ser separados em três gerações. A primeira, são os módulos de silício

policristalinos e monocristalinos amplamente comercializados. Em seguida, os painéis de

filme finos, como CIS e CdTe. E, por fim, os módulos orgânicos.

Figura 4.5 Módulos Fotovoltaicos mais comuns

Fonte: ABINEE, 2012

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A figura 4.4 apresenta os módulos mais produzidos pelas empresas selecionadas para a coleta

de dados. Em seguida é feita uma comparação entre os diversos produtores e processos de

produção.

a. Hanwha SolarOne

A produção de células solares da Hanwha SolarOne envolve testes que agrupam as células em

24 classes de desempenho com precisão rigorosa de 1% permitindo maior confiabilidade e

eficiência através da metodologia 5S Lean.

Ambas as células mono e policristalinas apresentam certificados de gestão da qualidade ISO

9001 e gestão do ciclo de vida ambiental 14001;entretanto, as células monocristalinas têm a

superfície alcalina enquanto que as células policristalinas possuem a superfície ácida, ambas

uniformes e com texturização superficial.

Os módulos por sua vez, são construídos em liga de alumínio e tratados com revestimentos de

oxidação resistentes à corrosão, além de serem revestidos com Etileno-vinil-acetato (EVA)

para encapsular as células dentro dos módulos.

Cada módulo também passa por testes adicionais através de um simulador solar calibrado para

garantir um mínimo de energia precisa, tensão e corrente nominal.(SOLARONE, 2012).

b. Yingli Green Energy

A produção dos sistemas fotovoltaicos da Yingli passa desde o silício policristalino, lingotes,

pastilhas, células solares, e módulos, de forma automática; evitando custos ambientais de

transporte, quebra e embalagem – a produção vertical integralizada.

Os painéis monocristalinos usam silício dopante n ao contrário do habitual na indústria, o tipo

p. A série PANDA tem eficiência média de 19% voltadas para projetos comerciais e

residenciais.

Os módulos policristalinos apresentam eficiência média de 14,5% e possuem um controle de

potência pela TÜV Rheinland, porém, disponíveis apenas na Europa e na Ásia no momento –

trata-se de uma tecnologia que elimina a verificação externa custosa de potência da placa de

identificação. De fato, a estrutura de alumínio dos módulos, resistentes à corrosão, suportam

carga de pressão de até 5400 Pa. (SOLAR, 2012).

c. Suntech

A empresa Suntech oferece módulos de eficiência média de até 15,7%. Além dos produtos

mono e policristalinos, apresenta células de filmes finos. Os vidros que revestem os módulos

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são equipados com uma camada especial que permite uma limpeza mais rápida, equivalente

ao efeito lótus.

As células passam por um processo químico de tratamento da superfície com microtexturas

que aumentam a capacidade de captar luz. Para tanto, os módulos apresentam características

elétricas de modo a diminuir as perdas de eficiência, e contam com paredes laminadas contra

a corrosão, com certificados de gestão da qualidade ISO 9001 e gestão do ciclo de vida

ambiental 14001.

Por certo, a produção apresenta um controle de qualidade com 52 ensaios e verificações em

toda a célula e nos processos de fabricação de módulos, onde são produzidos, localizados na

China, Japão e Estados Unidos. (SUNTECH, 2012).

4.5 Novas tecnologias

As tecnologias utilizadas para produção de células em laboratórios empregam processos

complexos e, primeiramente, difíceis de serem reproduzidos em larga escala a um custo

razoável para produção comercial.

Tabela 4.2 Desenvolvimento de Células Solares de Silício em Laboratório

Tecnologia Desenvolvimento Eficiência

Célula Negra 1974 – 1983 17,0%

Célula MIS (Metal Insulator Semicondutor) 1983 – 1984 18,0%

Célula PESC (PassivatedEmitter Solar Cell) 1984 – 1986 20,0%

Célula de Contato Pontual 1987 – 1988 21,6%

Célula PERL (Passivated Emitter and Rear Locally Difused) 1989 – 1993 22,3%

Célula PERF (Passivated Emitter and Rear Floating Junction) A partir de 1994 24,0%

Fonte: WENHAM, 1996

A evolução da eficiência baseado na inovação do processo de fabricação de células tem

aumentado. Porém um desafio paralelo para a indústria fotovoltaica é o desenvolvimento de

acessórios e equipamentos complementares para os sistemas fotovoltaicos, com qualidade e

vida útil, comparáveis às dos módulos. De fato, os sistemas de armazenamento e de

condicionamento de potência se aperfeiçoaram e reduziram os custos. (CRESESB, 1999).

Assim, as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento devem se concentrar em aperfeiçoar a

eficiência e fabricação de equipamentos e sistemas fotovoltaicos, ou seja, tanto a fabricação

de células solares de multi – ou mono – silício cristalino quanto de origem orgânica como os

polímeros. (IEA, 2007).

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5 Conclusão

Embora o Brasil apresente grandes entraves, como a infraestrutura precária, o déficit de

recursos humanos especializados, trata-se de um potencial mercado produtor e consumidor.

Com a alta radiação solar no nordeste e centro do país, ascendente eficiência dos painéis e a

diminuição dos preços, juntamente com a disponibilidade de matéria-prima – reservas de

quartzo – em abundância e a contração do mercado na Europa, o Brasil tem uma capacidade

de energia solar duas vezes maior que a Europa, uma vez que a oferta de energia solar entre

1990 e 2005 cresceu 5,6% e superou a oferta da energia hidrelétrica.

Para tanto, os custos das células solares que ainda se mostravam como um entrave para a

difusão de sistemas fotovoltaicos estão cada vez mais competitivos, já que os custos se

reduzem à medida que novas tecnologias são implementadas. De fato, a produção de módulos

fotovoltaicos cresceu vertiginosamente, com claro potencial para o estabelecimento de

indústrias de células e módulos fotovoltaicos.

As empresas apresentaram módulos com qualidade que comprovam a eficiência prometida,

porém as novas tecnologias juntamente com os setores produtivos e de Pesquisa e

Desenvolvimento buscam chegar a um sistema de custo razoável para a produção comercial.

Considerando que todas as barreiras existentes possam ser superadas, o potencial realizável de

geração solar para o Brasil até 2020 corresponde a quinta parte do potencial dos Estados

Unidos e é quatro vezes maior do que o potencial realizável pelo Canadá.

Há um grande esforço público para a nacionalização da tecnologia e o desenvolvimento de

toda a cadeia como incentivos fiscais para um menor custo de produção local e até 80% de

redução em algumas tarifas sobre empreendimentos até 30 MW, além de fomentar o acesso a

micro e mini geração distribuídas juntamente com a compensação de energia uma vez que um

dos maiores consumidores de energia é o próprio governo.

Portanto, é preciso diversificar a matriz energética existente e incentivar toda a cadeia de

fornecedores de valor agregado elevado, como também criar um ambiente regulatório e

comercial favoráveis ao desenvolvimento sustentável; consequentemente promovendo a

inovação tecnológica para a produção nacional a fim de tornar o país competitivo

internacionalmente.

REFERÊNCIAS

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ABINEE, Grupo Setorial de Sistemas Fotovoltaicos. Propostas para Inserção da Energia

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