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OS DIFERENTES PARADIGMAS DA BIOÉTICA Autor 1: Kassius Otoni Vieira Faculdade Católica de Uberlândia Kassius [email protected] PIBIC/FAPEMIG/CATÓLICA Autor 2: Rodrigo Luciano Reis da Silva Faculdade Católica de Uberlândia [email protected] Orientador: Prof. Ms. Gilzane Silva Naves Faculdade Católica de Uberlândia [email protected] RESUMO Este trabalho será apresentado de forma oral no III Encontro de Iniciação Científica da Faculdade Católica. Nesta apresentação faremos uma introdução à Bioética, tendo como ponto de aprofundamento os atuais dez paradigmas que lançam uma análise teórica a respeito do tema. Estes paradigmas são identificados com maior evidencia nos Estados Unidos da América, onde de forma geral o grau de utilização e reflexão acerca deles é maior se comparados a outros países. Observamos que em todos os paradigmas existe uma preocupação com a ética voltada à vida, relacionando assim, o homem e a natureza com o avanço tecnológico nas ciências, sobretudo na medicina. Destacaremos o Paradigma Antropológico Personalista, pois este paradigma tem sua fundamentação na condição singular do indivíduo, considerando a unidade humana como pessoal. A vontade do indivíduo é considerada e as leis são ajustadas dentro de uma filosofia humanista que valoriza pontos como a unicidade do sujeito, um caráter relacional dos fenômenos individuais e subjetivos. Estes pontos são socialmente produzidos através do auto-reconhecimento de cada sujeito em cada um dos outros com quem ele se relaciona. Cria-se então varias identidades culturais e a comunicação e solidariedade entre a sociedade é respeitada visando o bem maior do individuo, priorizando o ser humano, sua autonomia e a vida. Palavras-Chave: Ética, Paradigma, Antropológico. 1

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OS DIFERENTES PARADIGMAS DA BIOÉTICA

Autor 1: Kassius Otoni VieiraFaculdade Católica de Uberlândia Kassius [email protected]/FAPEMIG/CATÓLICA

Autor 2: Rodrigo Luciano Reis da SilvaFaculdade Católica de Uberlândia [email protected]

Orientador: Prof. Ms. Gilzane Silva NavesFaculdade Católica de Uberlândia [email protected]

RESUMO

Este trabalho será apresentado de forma oral no III Encontro de Iniciação Científica da Faculdade Católica. Nesta apresentação faremos uma introdução à Bioética, tendo como ponto de aprofundamento os atuais dez paradigmas que lançam uma análise teórica a respeito do tema. Estes paradigmas são identificados com maior evidencia nos Estados Unidos da América, onde de forma geral o grau de utilização e reflexão acerca deles é maior se comparados a outros países. Observamos que em todos os paradigmas existe uma preocupação com a ética voltada à vida, relacionando assim, o homem e a natureza com o avanço tecnológico nas ciências, sobretudo na medicina. Destacaremos o Paradigma Antropológico Personalista, pois este paradigma tem sua fundamentação na condição singular do indivíduo, considerando a unidade humana como pessoal. A vontade do indivíduo é considerada e as leis são ajustadas dentro de uma filosofia humanista que valoriza pontos como a unicidade do sujeito, um caráter relacional dos fenômenos individuais e subjetivos. Estes pontos são socialmente produzidos através do auto-reconhecimento de cada sujeito em cada um dos outros com quem ele se relaciona. Cria-se então varias identidades culturais e a comunicação e solidariedade entre a sociedade é respeitada visando o bem maior do individuo, priorizando o ser humano, sua autonomia e a vida.

Palavras-Chave: Ética, Paradigma, Antropológico.

INTRODUÇÃO

A Bioética trabalhada por Leocir Pessini e Christian de Paul de Barchifontaine através da obra

“Problemas atuais de Bioética” não impõe sua perspectiva preferencial, mas abre espaço para uma

reflexão crítica sobre os valores humanos, e a relevância da abordagem dos paradigmas da Bioéticas,

dentro outros, concentra-se também nos próprios conflitos dos valores humanos. Após uma breve

fundamentação inicial para enquadramento da discussão, vamos aprofundar nas questões que envolvem

os paradigmas da Bioética, que confere a obra citada grande notoriedade.

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Delimitaremos nossa pesquisa e aprofundamento teórico nas questões relativas ao item IV do primeiro

capítulo da obra “Problemas atuais de Bioética”, e lançaremos o olhar também sobre outras obras e

autores que subsidiarão nossa reflexão. Daremos ênfase contudo ao décimo paradigma, “Paradigma

Antropológico Personalista”, que receberá maior dedicação por se tratar do paradigma referencia desse

trabalho.

A Bioética atualmente possui alguns modelos de análise teóricas, atualmente mais utilizados na Bioética

com maior ênfase nos Estados Unidos da América, onde o nível da sistematização da bioética é superior

quando comparado a outros países. Este trabalho pretende expor de maneira superficial os nove

primeiros paradigmas relacionados por Leocir Pessini, e depois aprofundar de maneira crítica no décimo

paradigma, buscando demonstrar a superioridade de valor e abrangência deste paradigma em relação aos

demais.

Nosso texto será organizado em duas partes distintas, sendo que a primeira parte contará com a exposição

dos nove subtítulos compostos pelos primeiros paradigmas, e a segunda parte dedicaremos ao último

paradigma, nos valendo de outras obras e outros autores a fim de gerar um arcabouço que sustente nossa

tese de escolha do “Paradigma Antropológico Personalista”. Concluiremos através de uma defesa

justificada da posição escolhida.

INTRODUÇÃO

Para adentrarmos na discussão da Bioética e, sobretudo na acepção dos dez paradigmas propostos por Leocir Pessini, parece-nos relevante qualificar de antemão a ética como uma área própria da filosofia. Como nos mostra Franklin M. Vilela, no diagrama abaixo. Portanto a bioética apresenta-se como um olhar filosófico reflexivo sobre o ser humano, a vida e todo ecossistema.

Esquema:

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Filosofia da Natureza Cosmologia Psicologia FILOSOFIA ESPECULATIVA

Filosofia Metafísica Crítica do Conhecimento Ontologia TeodicéiaFILOSOFIA Filosofia sobre o agir humano → Ética

FILOSOFIA PRÁTICA

Filosofia sobre o fazer humano → Estética

( VILELA, 2006 p.16)

Segue-se então, um resumo parafraseado dos dez “Diferentes Paradigmas1 da Bioética”, elencados por Pessini em sua obra citada acima nas páginas 47 a 49, com uma breve discussão e aprofundamento no décimo paradigma, nomeado “Paradigma Antropológico Personalista”, onde pretendemos problematizar a abrangência e aplicabilidade desse modelo.

1)- Paradigma2 Principialista.

Este paradigma tem como principais teóricos, Tom Beuchamp e James Childress, estes propõem quatros

princípios orientadores da ação nos seguintes termos: “beneficência, não-maleficência, justiça e

autonomia”. Esses princípios gozam de isonomia entre si, não possuindo nenhum tipo de hierarquia, e em

caso de conflito, o privilégio é garantido pelo princípio da precedência. Esse modelo tem ampla aplicação

na prática clínica, em todos os âmbitos em que a bioética se desenvolveu, com resultados bastante

1 Paradigma, segundo o Aurélio é 1. Modelo, padrão. 2. Termo com o qual Thomas Kuhn designou as realizações científicas que geram modelos que, por período mais ou menos longo e de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento das pesquisas exclusivamente na busca de soluções para os problemas por elas suscitados2 Paradigma, segundo o Aurélio é 1. Modelo, padrão. 2. Termo com o qual Thomas Kuhn designou as realizações científicas que

geram modelos que, por período mais ou menos longo e de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento das pesquisas exclusivamente na busca de soluções para os problemas por elas suscitados

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positivos em relação ao respeito pela dignidade da pessoa. Segundo Warren Reich as vantagens desse

paradigma na perspectiva estadunidense, fornece um sistema metódico para os problemas que são

complexos, oferecendo uma precisão de linguagem em um mundo científico que trata de objetividade e a

precisão como grandes valores, oferecendo uma língua comum a uma nação cosmopolita.

2) – Paradigma Libertário.

Este paradigma radicaliza no valor da autonomia e do indivíduo. Em sua obra “The foundation of

bioethics”, Tristam Engelhardt apresenta-se como o principal autor desse modelo, e baseia a sua obra na

tradição político-filosófica Estadunidense, na ideia da propriedade privada, assumindo o corpo como

propriedade do indivíduo, radicalizando ao ponto de defender a venda de sangue e de seus próprios

órgãos. Como descreve Leocir, “Justifica não só as ações decorrentes da expressão da vontade livre do

paciente, mas até outras mais polêmicas, como a que assume o corpo como propriedade do próprio...”

(PESSINI, 2007, p.46) Concebendo uma noção de pessoa da qual excluem embriões e fetos por não

terem consciência de si. Este paradigma foi bem recebido no meio secular para uma análise mais neutra.

3) – Paradigmas das Virtudes.

Este paradigma é um contra ponto aos anteriores, definido por Edmund Pellegrino e David Thomasma em

sua obra “For the patient’s good”, eles fundamentaram-se na tradição grega Aristotélica da ética das

virtudes. Eles colocam a tônica no agente, sobretudo nos profissionais da saúde, sendo que o paciente

torna-se participante do processo de decisão. A ação ética é desenvolvida pela educação dos profissionais

de saúde e pela prática clínica nos moldes helenista clássico, que naturalmente conduziria à prática do

bem. O ponto frágil dessa abordagem está em motivar os profissionais para o valor da virtude quando

estes estão inseridos em uma cultura avessa, individualista e capitalista.

4) – Paradigma “Casuístico”.

Este paradigma é defendido por Albert Jonsen e Stephen Toulmin, que trata de analisar caso a caso, num

plano analógico, sem um rigor de lógica que o norteie. Cada caso deve ser pensado de acordo com suas

particularidades relacionando-o com outros casos, através da análise direta de cada caso na medicina

clínica. A ética clínica, defende Toulmin, opera num nível pré-teórico que é mais básico que qualquer

axioma, teórico ou princípio. O eticísta apresenta-se como um casuísta médico, ao elencar casos

paradigmáticos, ele cria uma base comum para comparação e confronto. Essa acepção da bioética

fomenta a produção de informações de incontestável importância, porém essa abordagem casuísta tende a

ser institucional, ela situa-se no antagonismo máximo do paradigma Principialista.

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5) - Paradigma Fenomenológico e Hermenêutico.

Este paradigma coloca luz sobre a necessidade de reconhecer que toda experiência está sujeita a

interpretação. Existindo sempre a dimensão objetiva e a subjetiva em cada situação, o modelo

fenomenológico busca penetrar na situação em si, em detrimento da subjetividade. O modelo

Hermenêutico também não valoriza o caráter bipolar da experiência humana, tampouco a alteridade, essas

abordagens apontam para a superficialidade relativa do modelo Principialista. A experiência humana não

pode ser facilmente capturada e dirigida por predeterminações impostas através de regras e princípios

abstratos.

6) – Paradigma Narrativo.

Este paradigma fornece uma segunda via para a abordagem da experiência humana e as demandas morais

que lhe são próprias. Neste modelo é levado em consideração os laços afetivos que são formados nas

sociedades ao compartilharem suas histórias, e que a sociedade tem como estrutura de coesão suas

narrativas comuns. O poder da narrativa compartilhada que dá significado histórico a existência, vai além

dos meros fatos, pois, estabelece o modelo narrativo como um complemento poderoso da capacidade de

abstração dos princípios formais que norteiam uma sociedade.

7) – Paradigma do Cuidado.

Este paradigma tem como seu defensor Carol Giligan, seu ponto de partida é a psicologia evolutiva,

baseando sua reflexão na psicologia, em detrimento de uma fundamentação filosófica. Este estabelece um

contraponto entre o valor do cuidado, que possui uma característica mais feminina, ao da justiça, que é

caracterizado de forma masculina, como algo do homem, e propõe-no como fundamento da moral.

Segundo Giligan, as mulheres tem uma noção de moral diferente da maioria dos homens. As mulheres

são mais dadas à alteridade3 e são voltadas para o cuidado com o outro, em geral, contrariamente, os

homens possuem o olhar voltado para si mesmo em oposição aos outros. Este intercâmbio de

posicionamento moral distinguido por ordem de gênero leva esse modelo a ser muito valorizado para a

superação de uma perspectiva exclusivamente técnica da medicina.

8) – Paradigma do Direito Natural.

Este paradigma, que é apresentado por John Finnis, constitui da ideia de alguns bens que são baseados em

si mesmos: o conhecimento, a vida, a vida estética, a racionalidade prática, a religiosidade e a amizade.

3 Alteridade (ou outridade) é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende sozinho. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo).

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Estes são bens em si mesmos, que estão dados como fins e não meios. Portanto, tudo o que contribuir

para o desenvolvimento desses valores, será admitido como moral. A moral nesta acepção é o meio a se

atingir os fins que se apresentam como bens que são baseados em si mesmos e que, entre si, não supõe

nenhum tipo de hierarquia. O reconhecimento desses valores como bem moral será consensual, pois leva

em conta o ser humano em sua totalidade e busca uma perspectiva global da integração do homem na

sociedade.

9) – Paradigma Contratualista.

Este paradigma apresentado por Robert Veatch defende a ideia da insuficiência de um modelo que se

baseia na medicina de Hipócrates4 (hipocrática), médico grego, nascido em 460 antes de Cristo, que

ditava uma postura ética do médico com o paciente. Doutra forma, este modelo se apresenta de forma

triangular, ou seja, um triplo contato. E os atores neste relacionamento parte da ação do médico com o

paciente e entre o médico e a sociedade, e um contato mais amplo com os princípios orientadores da

relação médico paciente. E para regular essa relação, faz-se necessário observar princípios fundamentais

como o da beneficência, o da proibição da matar, o de dizer a verdade e o de manter as promessas. Este

modelo sofre a crítica argumentada no desconhecimento da prática médica.

10) – Paradigma Antropológico Personalista.

Este paradigma se baseia na tradição personalista, e encara eticamente a individualidade da personalidade

impar do ser humano. Este modelo começa da percepção que o ser humano é, a priori, uma pessoa.

Noutros termos, o único ser que é capaz de refletir sobre a sua própria existência. Dentre todos os seres

conhecidos que realmente pode-se atribuir vida conceitualmente, o ser humano é o único capaz de abstrair

e discernir o sentido das coisas e o significado da vida, dando vazão e significado às suas expressões e à

sua linguagem consciente. Este modelo explicita a singularidade do indivíduo, e de sua totalidade em

relação ao mundo e aos demais seres vivente como afirma Franklin M. Vilela.

O modelo personalista (...). É o modelo que parte da visão de que em cada homem, em cada pessoa humana, o mundo inteiro se recapitula e toma sentido, mas o cosmo ao mesmo tempo é transposto e transcendido. Todo homem encerra o sentido do universo e todo o valor da humanidade: a pessoa humana é uma unidade, um todo, e não uma parte de um todo. A própria sociedade tem como fonte a pessoa e existe para a pessoa. Mesmo a reflexão racional laica tem como ponto de referência a pessoa. È por causa dela e para ela que existem a economia, o direito, a história e também a medicina e a bioética. Desde o momento da concepção até a morte, em cada situação de sofrimento e de saúde é a pessoa humana o ponto de referência ou de medida entre o lícito e o não-lícito.( VILELA, 2006 p.12)

4 Hipócrates é considerado por muitos uma das figuras mais importantes da história da saúde, frequentemente considerado "pai da medicina", apesar de ter desenvolvido tal ciência muito depois de Imhotep, do Egito antigo. É referido como uma das grandes figuras entre Sócrates, Aristóteles durante o florescimento intelectual ateniense . Hipócrates era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara os cuidados em saúde.

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O paradigma antropológico personalista possui vários autores que defendem a impossibilidade de se fazer

bioética de forma séria sem a estrutura de fundamentação antropológica, dentre eles podemos destacar:

Perico, E. Sgreccia, D. Tettamanzi, S. Leone, J. F. Malherbe, C. Viafora, S. Spinsanti . Este modelo é o

mais abrangente no senário europeu, e trata-se de uma antropologia filosófica, numa perspectiva

humanista integral, procurando compreender o homem de forma universal, considerando todas as suas

dimensões. Não se alinha com a ideia descritiva, que estabelece normas e diretrizes de atuação, ao

contrário dessa posição, este modelo busca uma ação de raciocínio deontológico5 que visa normatizar as

escolhas sobre o que deve ser feito, através de uma fundamentação teleológica 6 voltado para os fins,

noutros termos, de propósito, objetivo ou finalidade, que considera o ser humano, em sua dignidade

universal, ou seja, a importância soberana de atuar no mundo com liberdade e distinção.

Por fim, dentre os mais importantes paradigmas bioéticos, temos o antropológico personalista. (...)Trata-se de uma antropologia, filosófica, como conhecimento do homem enquanto sujeito na sua globalidade, e de uma filosofia humanista atenta em compreender o homem em todas as suas dimensões e, por isso, um humanismo mais integral possível. Não assume uma natureza descritiva, nem procura estabelecer normas de ação. Antes, desenvolve um raciocínio deontológico, de fundamentação teleológica, que considera o ser humano, na sua dignidade universal, como valor supremo do agir. (OMMATI, 1997, p. 1)

Este paradigma busca exprimir as características essenciais da pessoa como tal, baseados nos trabalhos de

Paul Schotsmans: Unicidade da subjetividade, que discorre sobre a singularidade e irrepetibilidade da

pessoa como ser impar e original, considerando a pessoa um ser intersubjetivo que se apresenta aberto aos

outros e ao mundo, também considerando a responsabilização de cada pessoa na construção do verdadeiro

humanismo primado pela igualdade e justiça.

Procura enunciar as características essenciais da pessoa enquanto tal, inspirada nos trabalhos de PAUL SCHOTSMANS: unicidade da subjetividade (caráter singular e irrepetível da pessoa como ser único e original), o caráter relacional da intersubjetividade (a pessoa é, por natureza e condição, um ser aberto aos outros e ao mundo) e a comunicação e solidariedade em sociedade (responsabilidade social de cada pessoa na construção do verdadeiro humanismo numa perspectiva de justiça eqüitativa). (OMMATI, 1997, p. 1)

A reflexão bioética antropológica de Pellegrino, afirma que a ênfase da humanidade está no âmbito

biológico, que por sua vez é importante, porém o viés antropológico tem se anulado e se tornado

coadjuvante em relação ao primeiro, e a resposta a questões do tipo: quem, o que, e porque o homem

existe, de certa forma tem se secundarizado. A problematização dessas questões deve nos momentos

5 Deontológico refere-se à Deontologia (do grego δέον, translit. deon "dever, obrigação" + λόγος, logos, "ciência"), na filosofia moral contemporânea, é uma das teorias normativas segundo as quais as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permitidas. Portanto inclui-se entre as teorias morais que orientam nossas escolhas sobre o que deve ser feito.6Teleológico refere-se à Teleologia (do grego τέλος, finalidade, e -logía, estudo) é o estudo filosófico dos fins, isto é, do propósito, objetivo ou finalidade. Embora o estudo dos objetivos pode ser entendido como se referindo aos objetivos que os homens se colocam em suas ações, em seu sentido filosófico, teleologia refere-se ao estudo das finalidades do universo e, por isso, a teleologia é inseparável da teologia.

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atuais, no âmbito da bioética, estar em voga, pois a amplitude e as implicações que a biologia levanta

como desafios requerem do ser humano mais humanidade no trato do destino da sua existência. Não há

mais espaço para negligencia moral, não é possível mais nos encontrarmos a deriva no mar revolto de

uma biologia sem alma.

Nossos comentários finais desta reflexão alinham-se com a reflexão bioética antropológica personalista de Pellegrino quando afirma que “no século XXI, nós estamos quase certos de saber muito mais sobre o homem como um ser biológico, mas provavelmente não muito mais sobre quem, o que, e porque ele existe. Mas não podemos mais especialmente em bioética, abandonar esta questão antropológica por ser demais ´problemática`. Hoje temos o poder de alterar nossa constituição biológica para o melhor ou para o pior, de maneira ainda inimaginável. Sem uma ideia mais clara sobre o ser humano, entraremos e permaneceremos na escuridão da floresta moral, sem uma bússola”. (PESSINI, 2008, p.1)

O pensamento do paradigma antropológico personalista serve como um atalaia que brada ao avistar o

perigo ao longe, e de certa forma conduz os seres humanos à discussão e questionamento que colocam em

questão a atual estrutura ética em vistas a um modelo de parâmetros que nos propõe um mundo melhor.

Essa reflexão deverá partir dos cientistas, pesquisadores, profissionais de saúde e filósofos. Estes atores

estão implicados na reflexão bioética, e devem buscar diuturnamente e com intensidade a defesa da vida

humana, a preservação da estrutura cósmico-ecológica e a defesa da dignidade essencial do indivíduo,

levando em conta a totalidade corporal, espiritual, social e psíquica. A demanda apresentada é refletir e

aprofundar na discussão, com a totalidade das áreas profissionais atuantes e afetadas pela estrutura da

ética vigente, a fim de elaborar um modelo ético que privilegie e respeite a individualidade humana,

noutros termos, que seja personalista, que seja includente, garantindo a promoção da vida, sobretudo da

mais indefesa, levantando a bandeira da dignidade humana. Assim como afirma Pessini.

Esta perspectiva de pensamento, não deixa de ser uma profunda provocação e questionamento para todos os seres humanos que lutam na construção de um mundo melhor, profissionais da saúde, cientistas, pesquisadores, os que se dedicam à reflexão bioética, na árdua tarefa de promover e defender a vida humana e cósmico-ecológica, no reconhecimento da dignidade intrínseca da pessoa e sua integralidade corporal, psíquica, social e espiritual. Que antropologia embasa a visão e convicção de nosso modelo de bioética? Temos como um enorme desafio, refletir e aprofundar a elaboração de um modelo bioético personalista, que seja promotor de inclusão e não de exclusão e que garanta a promoção e defesa da vida humana, principalmente da mais vulnerabilizada , enfim, um futuro digno para toda a humanidade. (PESSINI, 2008, p.1)

Conclui-se, portanto que o paradigma antropológico personalista percebe no indivíduo a sua completude,

uma persona composta por corpo e espírito, com uma expressão objetiva e ao mesmo tempo subjetiva,

noutros termos, um tipo de unitotalidade. “Que representa, de um lado, o seu valor objetivo, do qual a

subjetividade se faz responsável, seja com relação a ela mesma seja com relação à pessoa dos outros.”

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(VILELA, 2006 p.12) Para o personalismo, precisará ser avaliado sob a ótica subjetiva da intenção, o

valor ético de uma ação, porém deve-se considerar de igual modo o seu teor objetivo e suas

consequências verificáveis no campo do concreto. O personalismo propõe com essa base, no domínio da

bioética o desenvolvimento dos seguintes temas: o princípio de sociabilidade-subsidiariedade, o valor

personalístico da corporeidade, o princípio terapêutico, o valor fundamental da vida física e o princípio de

liberdade-responsabilidade. Esse paradigma deve, sem dúvida, ser considerado na discussão e

problematização da bioética, pois neste modelo condensado os dois pontos essenciais da questão bioética,

a vida e o ser humano são respeitados na sua totalidade.

REFERÊNCIA

LADUSÃNS, Stanislavs. Questões atuais de Bioética. São Paulo, Edições Loyola, 1990.

OMMATI, José Emílio Medauar. Paradigmas bioéticos: relações com os grandes paradigmas de Direito Constitucional. Jus Navigandi, Teresina, ano 2, n. 22, 28 dez. 1997. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/1840>. Acesso em: 5 set. 2011.

PESSINI, Leocir e BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de – Problemas atuais de Bioética. 8ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

PESSINI, Leo. Qual antropologia para fundamentar a bioética no âmbito tecnocien Revista Minas Faz Ciência Edição Especial Bioética (Nov de 2008). Disponível em: http://revista.fapemig.br/materia.php?id=551- Acesso em: 5 set. 2011.

VILELA, Franklin M. Noções de Bioética. Universidade Guarulhos - 2006 www. filofranklin.pro.br/textos/14-nocoes-de-bioetica.doc. Acesso em: 5 set. 2011.

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