Os Direitos de Personalidade Antes Do “Início” e Após o “Fim” Do Sujeito

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  • 7/25/2019 Os Direitos de Personalidade Antes Do Incio e Aps o Fim Do Sujeito

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    OS DIREITOS DE PERSONALIDADE ANTES DO INCIO E APS O FIM DO SUJEITO

    DE DIREITO

    Marcos Luiz Lovato - Mestrando em Direito pelo Programa de Ps-Graduao da Universidade

    do Vale dos Sinos, specialista em Direito P!"lico pela PU# $ %S&

    -mail' marcoslovato()a*oo&com&"r

    %esumo' +este tra"al*o procuramos analisar de ue orma os direitos de personalidade da

    pessoa *umana so tratados na cadeia normativa civil-constitucional "rasileira, colocando-se

    em pauta a crise de identiicao dos su.eitos de direito& Para tanto, a"ordaremos a

    possi"ilidade de recon*ecimento de direitos de personalidade do nascituro e do morto, entesestes ue necessitam ter seus direitos individuais de personalidade revistos rente /s

    aceleradas mudanas enomenolgicas e tecnolgicas de nossa sociedade&

    Sum0rio' 1& 2ntroduo3 4& Direitos de personalidade como direitos undamentais do *omem3 5&

    6s direitos de personalidade e o su.eito de direito no tradicional sistema .ur7dico3 8& 6s direitos

    de personalidade antes do 9in7cio: e aps o 9im: im do su.eito de direito3 ;& #oncluso

    Palavras #*ave' Direitos de Personalidade3 Su.eito de Direito3 +ascituro3 Morto3 Sociedade

    , ocusing on t*eidentiication crisis o t*e su".ect o rig*ts& =o ac*ieve t*is purpose, >e >ill anal)se t*epossi"ilities o ac?no>ledgement o t*e rig*ts o personalit) o t*e un"orn and t*e deceased,>*o need to *ave t*eir individual rig*ts o personalit) revi>ed in t*e ace o t*e rapidp*enomenological and tec*nological c*anges in our societ)&

    @e) >ords' @e) $ Aords' %ig*ts o Personalit)3 Su".ect o %ig*ts3 Un"orn #*ild3 Deceased3Societ)

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    1. INTRODUO:

    6s direitos de personalidade compBem um con.unto de "ens ue perazem o ser

    *umano, ormando e eCternando os valores ue caracterizam o seu ente em seu meio, se.a

    atravs de seus atri"utos 7sicos ou psicolgicos, como sua *onra e moral& Para o sistema

    .ur7dico, so o conte!do do su.eito de direito por ele recon*ecido& stariam os direitos de

    personalidade acompan*ando o *omem somente enuanto este recon*ecido pelo seu

    sistema normativo, ou ariam eles parte de um ser *umano antes mesmo de seu nascimento e

    depois de sua morteE

    6 sistema normativo "rasileiro "uscou guarnecer os direitos de personalidade do

    cidado de orma uma tanto uanto a"rangente& +o entanto, not0vel ue a previso

    normativa, por mais vasta ue tente ser, e as conceituaBes do Direito cl0ssico nem sempre

    conseguem acompan*ar o desenvolvimento da sociedade& =al cen0rio ica eCpl7cito,

    principalmente, uando se pBe em uesto os direitos de personalidade daueles ue no

    podem ser considerados su.eitos de direito por nosso sistema normativo atual' auele ue

    ainda no aduiriu personalidade .ur7dica segundo o cdigo civil Fo nascituro, e auele ue

    perdera sua caracter7stica de su.eito de direito Fo morto&

    +este tra"al*o procuramos analisar de ue orma os direitos de personalidade da

    pessoa *umana so tratada em nossa cadeia normativa civil-constitucional, colocando-se empauta a crise de identiicao dos su.eitos de direito ue podem eCercer a titularidade desses

    direitos& Mais do ue o"ter respostas, o".etivamos demonstrar ue a inleCi"ilidade da norma e

    a limitao dos conceitualismos cl0ssicos merecem ser revistos, uma vez ue os mesmos no

    comportam as aceleradas mudanas enomenolgicas ocorridas em nossa sociedade& Para

    tanto, a"ordaremos a possi"ilidade de recon*ecimento de direitos de personalidade de dois

    entes ue, por motivos uase ue meramente cronolgicos, se encontram eCclu7dos de

    proteo de sua individualidade em nosso atual sistema .ur7dico' 6 nascituro e o morto&

    2 Direit! "e #er!$%&i"%"e '( "ireit! )*$"%(e$t%i! " +(e(:

    < #onstituio Hederal Irasileira de 1JKK consagrou em seu teCto as garantias e

    direitos undamentais do cidado, visando perpetu0-los em nosso sistema .ur7dico& So direitos

    ue protegem o indiv7duo, para ue este no ten*a suas li"erdades suprimidas, l*e garantindo

    a assistncia do stado e a igualdade perante a lei, seu direito a voto, e ue preservam sua

    incolumidade 7sica e moral, como sua intimidade, *onra e imagem, entre outros "ens ue

    ormam o oro 7ntimo do ser *umano&

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    < doutrina moderna divide os direitos undamentais em trs geraBes, conorme a

    ordem *istrico-cronolgica ue estes comearam a ser a"rangidos pelos sistemas .ur7dicos&

    Hazendo um apan*ado geral, podemos deinir ue a primeira gerao dos direitos

    undamentais reala o princ7pio da li"erdade do *omem, garantindo-l*e direitos civis, pol7ticos e

    da personalidade do *omem& < segunda gerao traz a categoria dos direitos sociais,econmicos e culturais do cidado, onde se consagrou o direito do *omem em ter um stado

    ue l*e propicie uma assistncia adeuada F"em estar social& , por im, temos os direitos

    undamentais de terceiras gerao, ue visam a manuteno da paz, o progresso, um meio

    am"iente euili"rado, dentre outros direitos tam"m c*amados de direitos de solidariedade ou

    fraternidade, ue a"rangem de uma maneira geral interesses diusos, aca"ando por atingir

    cada cidado em particular&

    6s direitos undamentais de primeira gerao advieram do pensamento li"eral-"urgus

    do sculo NV222, de cun*o individualista, visando a proteo do *omem perante o stado,

    estando neles a"rangidos os c*amados direitos de personalidadedo cidado&1stes, segundo

    a scola do Direito +atural, seriam aueles direitos inerentes a cada ser *umano, eCistindo em

    seu Omago antes e independentemente ao direito positivo& les constituem o m7nimo

    eCistencial do *omem, sem os uais o mesmo no se realiza& =em tanto um car0ter relativo ao

    Om"ito corpreo Fdireito / vida, / integridade 7sica, uanto ps7uico e moral Fdireito / imagem,

    privacidade, / *onra do ser *umano&2

    nos direitos de personalidade ue reside a esera 7ntima e particular do su.eito de

    direito& particular, 7ntimo da pessoa *umana o seu corpo, a imagem so"re o mesmo, a sua

    *onra, privacidade, dentro outros "ens ue constituem sua individualidade& sta srie de "ens

    e valores aca"am por dar conte!do / personalidade do *omem, sendo imprescind7veis para a

    constituio do ente como ser *umano&,

    Mais do ue azer parte essencial da individualidade do su.eito de direito, os direitos de

    personalidade possuem uma coneCo direta com o conceito de dignidade da pessoa *umana'

    9< proteo / pessoa *umana atravs do recon*ecimento de umagama de direitos c*amados direitos da personalidade recente e

    1S

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    toma grande impulso aps as grandes guerras ds sculo& 6 pontomais importante do enrentamento desta uesto no vincula-seapenas / 9redesco"erta: da pessoa do direito, mas principalmente /ligao da proteo da pessoa *umana aos valores ue l*e soinerentes como garantia e undamento do seu devir&

    < pessoa *umana no , como dito antes, apenas um enteontolgico, mas traz encerrada em si uma srie de valores l*e soimanentes& < dignidade da pessoa *umana o centro dapersonalidade, e, portanto merece a maior proteo poss7vel&

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    +o caso dos direitos da personalidade, deve-se analisar, primeiramente, como nosso

    sistema .ur7dico trata o su.eito de direito ue eCerce Fou ue deveria eCercer a titularidade

    so"re os mesmos& < conceituao de direito de personalidade se encontrar0 apenas em seu

    Om"ito preliminar se no izermos uma an0lise so"re uem, segundo nosso sistema tradicional,

    pode ser o seu titular, em contraste com ue deveria poder eCercer este direito&

    < sociedade e as relaBes esta"elecidas entre seus entes se encontram em um

    processo de constante desenvolvimento, mutao, transormao&

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    constituem o conte!do da personalidade de uma pessoa ue no su.eito de direito, segundo

    as conceituaBes tradicionais do Direito,por certo no se perazem no mundo dos atos&

    6 autor argentino %icardo Luis Lorenzetti traa um parecer deste cen0rio de maneira

    muito oportuna, demonstrando ue, por "vio, as diiculdades ue o desenvolvimento dasociedade impBe so"re o direito no privilegio do sistema .ur7dico privado "rasileiro'

    Durante a vida da pessoa, o Direito Privado ocupou-setradicionalmente de regular o ue ela d0 / sociedade, comoprodutora de "ens& #ontrariamente, agora preocupa o ue elarece"e da sociedade, como receptor de "ens e servios, eprotegendo suas decisBes pessoais& Tuando estas decisBes atingemo prprio corpo ou a vida surgem pro"lemas de grandecompleCidade para deinir os limites&K

    Muito em"ora a detal*ada eCplicitao legislativa se.a um grande passo em avor dorecon*ecimento de direitos e relaBes .ur7dicas, ela no pode resolver todas as pro"lem0ticas

    advindas da compleCa evoluo da sociedade& st0 nem sua principal uno, diga-se&

    +o ue concerne aos direitos de personalidade, a constante evoluo das tecnologias

    e o crescimento dos meios de comunicao az com ue atos, otos, ilmagens, enim,

    inormaBes a respeito de determinada pessoa circulem sem sua autorizao, ocasionando

    danos / sua imagem, *onra, ou ao seu direito / intimidade& De outra ponta, o direito /

    integridade 7sica se depara com a acelerada evoluo das tecnologias mdicas, alm de

    polmicas uestBes como a"orto, manipulao gentica e eutan0sia&

    Se, conorme eCposto, acilmente constat0veis so os pro"lemas relativos /s violaBes

    dos direitos de personalidade daueles su.eitos de direito previamente recon*ecidos em nosso

    ordenamento .ur7dico, ainda pior a situao cu.a relevOncia eCistencial ainda pouco relete

    nos moldes das tradicionais conceituaBes do Direito&

    O! "ireit! "e #er!$%&i"%"e %$te! " i$0'i e %#5! )i( )i( " !*/eit "e

    "ireit:

    +osso cdigo civil dispBe, em seu artigo 4X, ue a 9personalidade civil da pessoa

    comea do nascimento com vida3 mas a lei pBe a salvo, desde a concepo, os direitos do

    nascituro:& sta ressalva dos direitos dauele ue ainda no nasceu, no entanto, tam"m se

    encontra envolta na concepo patrimonialista de nosso sistema normativo& 2sto porue as

    posteriores normas vieram a prever, "asicamente, os direitos sucessrios do nascituro Fart&

    8L6%+Y==2, %icardo Luis& F*$"%(e$t! " "ireit #ri%"& So Paulo' ditora %evistados =ri"unais, 1JJK, p& 8QK&

    6

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    1WJK do ##J& +o entanto, rasa a a"ordagem, se.a pela lei, .urisprudncia ou doutrina, dos

    direitos ue perazem a personalidade dauele ue ainda no nasceu&

    < primeira uesto relativa ao tema ue provavelmente nos vem / mente o direito /

    integridade 7sica do nascituro& < engen*aria gentica, eCperincias com clulas tronco deetos, "em como os danos 7sicos ocorridos a um eto por uso de medicamento pre.udicial, so

    apenas algumas das compleCas polmicas ue dizem respeito ao corpo dauele ue oi

    conce"ido, mas ue ainda no completou o processo natalista ue nosso sistema eCige para

    ue o mesmo aduira uma personalidade civil plena&

    Se permeada de d!vidas a tutela da propriedade 7sica do nascituro, o ue dizer,

    ento, da sua personalidade su".etivaE < *onra, imagem, moral de um eto, eCisteE

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    +o caso em tela, os danos causados / me se deram pelo uso da tortura, ao ue

    causa no apenas sorimento 7sico, mas ue molesta o ps7uico de uem o sore& +o *ouve

    uma ao eCterna diretamente direcionada ao eto, como por eCemplo, ministrar su"stOncia ue

    l*e causasse alguma alterao& Porm, no resta duvida ue auele ente ue se encontrava

    no interior desta me passou por situaBes de eCtremo a"alo ps7uico e moral& #omo, ento,no recon*ecer esses direitos somente porue as tradicionais concepBes do Direito no

    prevem o resguardo da personalidade do mesmoE

    6 a"andono da teoria natalista ue se encontra incrustada em nossas normas, em "oa

    parte da doutrina, e ue se relete na .urisprudncia "rasileira no mera uesto de a"raar

    esta ou auela ideologia ou concepo terica& 0, sim, uma necessidade de recon*ecer a

    necessidade de uma proteo /uele ue .0 pertence, sim, ao 9nosso: mundo, pois sore as

    consencias de atos de terceiros& %econ*ecer estes direitos admitir tam"m a

    responsa"ilidade daueles ue o violam das mais variadas ormas, como o marido ue maltrata

    a mul*er ainda gr0vida, a prpria me ue negligente em seu per7odo de gravidez, ou do

    stado ue um dia torturou e manteve presa uma gestante por uestBes pol7ticas& m todos os

    casos, o ue temos em comum so atos ue atingem um direito de personalidade de algum

    ue ainda est0 para eCercer esta personalidade, ue .0 a detm, e ue apenas no pode

    eCtern0-la, ainda& +o entanto, os danos aos seus direitos de personalidade .0 podem ocorrer&

    2sto serve para ualuer ue se.a a natureza deste "em, se.a 7sica ou ps7uica&

    m posio cronolgica eCtrema ao do nascituro, temos os direitos de personalidade

    dauele ue oi su.eito de direito, mas ue, segundo algumas concepBes normativas, no

    mais o , ou se.a, o morto& Mais do ue gerar curiosidade, as uestBes relativas ao tema so

    de grande signiicado para a preponderOncia desses direitos essenciais ao ser& 2mportante a

    ponto de ter *avido uma grande evoluo em nosso ordenamento normativo civil& 6 cap7tulo 22

    do t7tulo das pessoas naturais do atual cdigo civil oi inteiramente dedicado aos direitos de

    personalidade, tendo o mesmo assegurado ao morto a proteo desses direitos&11+o entanto,

    esta a"rangente positivao, em"ora de eCtrema validade para a concretizao de direitos, no

    co"re todas as pro"lem0ticas ue o tema nos apresenta&

    11

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    < tutela so"re os direitos de personalidade da pessoa aps seu "ito relete esta

    situao paradigm0tica& Um eCemplo estaria na voluntariedade da doao de rgos e tecidos

    post mortem& Vale lem"rar, aui, da Lei nX J&858, de 1JJW, e rustrada sua tentativa

    regulamentar so"re o assunto, ao dispor ue, na alta de maniestao em contr0rio, presumir-

    se-ia autorizada a doao de tecidos, rgos ou partes do corpo *umano, para inalidade detransplantes ou teraputica post mortem14& 6corre ue a precoce positivao do tema resultou

    na revogao deste dispositivo, numa clara demonstrao ue a eCplicitao legislativa no

    tem o poder de pr im na compleCidade ue envolve os pro"lemas resultantes da r0pida e

    luida evoluo da sociedade&

    De mesma maneira, em"ora eCpressamente vedada pela legislao "rasileira15, outra

    uesto relativa aos direitos de personalidade da pessoa a ual veio constatar o seu "ito a

    comercializao dos rgos *umanos& Se algum tempo isto osse veross7mil apenas aos ol*os

    da ico cient7ica, atualmente .0 podemos encarar o ato como parte da realidade& 6 atual

    cen0rio mundial das cincias mdicas vem demonstrando o nascimento de algumas poucas,

    mas eCistentes, visBes direcionadas a tornar o mercado de rgos *umanos um ato

    legalmente eCistente e eticamente aceit0vel em nossa sociedade& 18

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    esta clausura se relete nos direitos de personalidade& 2sto ica aparente ao

    conrontarmos as possi"ilidades de eCistncia desses direitos para aueles entes cu.as

    concepBes cl0ssicas do direito no recon*ecem como dotados de personalidade .ur7dica por

    critrios meramente cronolgicos& 6u se.a, aueles su.eitos antes do nascimento com vida, e

    aps a sua morte, como nos eCemplos trazidos em tela& So casos ue demonstram,eCplicitamente, como o sistema .ur7dico no comporta o desenvolvimento e novas desco"ertas

    de nossa sociedade& %epensar como, e a partir de uando a cincia .ur7dica recon*ece o

    su.eito como sendo de direito, como se nota, se az mais do ue necess0rio e urgente&

    C$'&*!

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