Os Dois Ou o Inges Maquinista

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  • 7/30/2019 Os Dois Ou o Inges Maquinista

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    [ TT00169 ]

    Os Dois, ou, o ingls maquinista

    Martins, Pena

    "Texto pertencente ao acervo de peas teatrais da biblioteca da Universidade Federal de Uberlndia

    (UFU), digitalizado para fins de preservao por meio do projeto Biblioteca Digital de Peas Teatrais

    (BDteatro). Este projeto financiado pela FAPEMIG (Convnio EDT-1870/02) e pela UFU. Para a

    montagem cnica, necessrio a autorizao dos autores, atravs da Sociedade Brasileira de

    Autores Teatrais - SBAT"

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    Prologo

    CLEMNCIA

    MARIQUINHA, sua filha

    JLIA, irm de Mariquinha (10 anos)FELCIO, sobrinho de Clemncia

    GAINER, ingls

    NEGREIRO, negociante de negros novos

    EUFRSIA

    CECLIA, sua filha

    JUCA, irmo de Ceclia

    JOO DO AMARAL, marido de Eufrsia

    ALBERTO, marido de Clemncia

    Moos e moas

    A cena se passa no Rio de Janeiro, no anos de 1842

    TRAJOS PARA AS PERSONAGENS

    CLEMNCIA: Vestido de chita rosa, leno de sda preto, sapatos pretos e penteado detranas.

    MARIQUINHA: Vestido branco de esccia, de mangas justas, sapatos prtos, penteado deband e uma rosa natural no cabelo.

    JLIA: Vestido banco de mangas compridas e afofado, avental verde e os cabelos cados emcachos pelas costas.

    NEGREIRO: Calas brancas sem presilhas, um pouco curtas, colte prto, casaca azul combotes amarelos lisos, chapu de castor branco, guarda-sol encarnado, cabelos arrepiados esuas pelas faces at junto dos olhos.

    FELCIO: Calas de casimira cr de flor de alecrim, colte branco, sobrecasaca, botinsenvernizados, chapu preto, luvas brancas, gravata de sda de cr, alfinete de peito, cabeloscompridos e suas inteiras

    GAINER: Calas de casimira de cr, casaca, colte, gravata preta, chapu branco de copabaixa e abas largas, luvas brancas, cabelos louros e suas ate o meio das faces.

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    Ato nico

    Cena 1

    O teatro representa um sala. No fundo, porta de entrada; esquerda, duas janelas de sacadas, e direita duas portas que do para o interior. Todas as portas e janelas tero cortinas de cassabranca. direita, entre as duas portas, um sof, cadeiras, uma mesa redonda com umcandeeiro francs aceso, duas jarras com flores naturais, alguns bonecos de porcelana; esquerda, entre as janelas, mesa pequena com castiais de mangas de vidro e jarras de flores.Cadeiras pelos valos vazios das paredes. Todos esses mveis devem ser ricos.

    CLEMNCIA, NEGREIRO, MARIQUINHA, FELCIO. Ao levantar o pano, ver-se-CLEMNCIA e MARIQUINHA sentadas no sof; em uma cadeira junto destas NEGREIRO,recostado sobre a mesa, FELCIO, que l o Jornal do Comrcio e levanta s vezes os olhos,

    como observando a NEGREIRO.CLEMNCIA - Muito custa viver-se no Rio de Janeiro! tudo to caro!

    NEGREIRO - Mas o quer a senhora em suma? Os direitos so to sobrecarregados! Veja sos gneros de primeira necessidade. Quanto pagam? O vinho, por exemplo, cinqenta porcento!

    CLEMNCIA - Boto as mos na cabea toda as vezes que recebo as contas do armazm e daloja de fazendas.

    NEGREIRO - Porem as mais puxadinhas so as mais modistas, no assim?

    CLEMNCIA - Nisso no se fala! Na ultima vez que recebi, vieram dois vestidos que j tinhapago, um que no tinha mandado fazer, e uma quantidade tal de linhas, colchetes, cadaros eretroses, que fazia horror.

    FELCIO - LARGANDO O JORNAL SBRE A MESA COM IMPACINCIA - Irra, jaborrece!

    CLEMNCIA - O que ?

    FELCIO - Todas as vezes que pego neste jornal, a primeira coisa que vejo : "Chapasmedicinais e Ungento Durand". Que embirrao!

    NEGREIRO - RINDO-SE Oh, oh, oh!

    CLEMNCIA - Tens razo, eu mesma j fiz este reparo.

    NEGREIRO - As plulas vegetais no fazem atrs, oh, oh, oh!

    CLEMNCIA - Por mim, se no fossem os folhetins, no lia o Jornal. O ltimo era bembonito; o senhor leu?

    NEGREIRO - Eu? Nada. No gasto o meu tempo com essas ninharias, que so s boas paraas moas.

    VOZ NA RUA - Manu quentinho! ENTRA JLIA PELA DIREITA, CORRENDO.

    CLEMNCIA - Aonde vai, aonde vai?

    JLIA - PARANDO NO MEIO DA SALA Vou chamar o preto dos manus.

    CLEMENCIA - E pra isso precisa correr? V mas no caia. JLIA VAI PARA A JANELA E

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    CHAMA PARA RUA DANDO PSIUS

    NEGREIRO - A pecurrucha gosta dos doces.

    JLIA - DA JANELA - Sim, ai mesmo. SAI DA JANELA E VAI PARA PORTA, ONDE

    MOMENTOS DEPOIS CHEGA UM PRTO COM UM TABULEIRO DE MANUS, EDESCANSANDO-O NO CHO, VENDE-OS A JLIA, OS DEMAIS CONTINUAM ACONVERSAR.

    FELCIO - Sr. Negreiro, a quem pertence o brigue Veloz Espadarte, aprisionado ontem juntoa Fortaleza de Santa Cruz pelo cruzeiro ingls, por ter ao seu bordo trezentos africanos?

    NEGREIRO - A um pobre diabo que est quase maluco... Mas bem feito, para no ser tolo.Quem que neste tempo manda entrar pela barra um navio com semelhante carregao? Sum pedao de asno. H por ai alem uma costa to longa e algumas autoridades tocondescendentes!...

    FELCIO - Condescendentes porque se esquecem de seu dever!

    NEGREIRO - Dever? Perdoe que lhe diga: ainda est muito moo... Ora, suponha que chegaum navio carregado de africanos e deriva em uma dessas praias, que o capito vai dar dissoparte ao juiz do local. O que h-de ste fazer, se for homem cordato e de juzo? Responder domodo seguinte: Sim senhor, Sr. Capito, pode contar com a minha proteo, contando queV.Sa. ... No sei se me entende? Suponha agora que ste juiz um homem esturrado, dessesque no sabem aonde tem a cara e vivem no mundo por ver os outros viverem, e que ouvindoo capito, responda-lhe com quatro pedras na mo: No senhor, no consinto! Isso umainfame infrao da lei e o senhor insulta-me fazendo semelhante proposta! - E que depoisdeste aranzel de asneiras pega na pena e oficie ao Govrno. O que lhe acontece? Responda.

    FELCIO - Acontece o ficar na conta de integro juiz e homem de bem.

    NEGREIRO - Engana-se; fica na conta de pobre, que menos que pouca coisa. E no entantovo os negrinhos para um deposito, a fim de serem depois distribudos por aqules de quemmais se depende, ou que tem maiores empenhos. Calemo-nos, porem isso vai longe.

    FELCIO - Tem razo! PASSEIA PELA SALA.

    NEGREIRO - PARA CLEMNCIA - Daqui a alguns anos mais falar de outro modo.

    CLEMNCIA - Deixe-o falar. A propsito, j lhe mostrei o meu meia-cara, que recebi ontemna Casa de Correo?

    NEGREIRO - Pois recebeu um?

    CLEMNCIA - Recebi, sim. Empenhei-me com minha comadre, minha comadre

    empenhou-se com a mulher do desembargador, a mulher do desembargador pediu ao marido,ste a um deputado, o deputado ao ministro e fui servida.

    NEGREIRO - Oh, oh, chama-se isso transao! Oh, oh!

    CLEMNCIA - Seja l o que for; agora que tenho em casa ningum mo arrancar.Morrendo-me algum outro escravo, digo que foi le.

    FELCIO - E minha tia precisava deste escravo, tendo j tantos?

    CLEMNCIA - Tantos? Quantos mais, melhor. Ainda eu tomei um s. E os que tomam aosvinte e aos trinta? Deixa-te disso, rapaz. Venha v-lo. Sr Negreiro. SAEM.

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    Cena 2

    FELCIO E MARIQUINHA

    FELCIO - Ouviste, prima, como pensa ste homem com quem tua me pretende casar-te?MARIQUINHA - Casar-me com le? Oh, no, morrerei antes!

    FELCIO - No entanto um casamento vantajoso. le imensamente rico... Atropelando asleis, verdade; mas que importa? Quando fores sua mulher...

    MARIQUINHA - E voc quem me diz isto? Quem me faz essa injustia? Assim so oshomens, sempre ingratos!

    FELCIO - Meu amor, perdoa. O temor de perder-te faz-me injusto. Bem sabes o quanto eu teadoro, mas tu s rica, e eu um pobre empregado publico; e tua me jamais consentir emnosso casamento, pois supe fazer-te feliz dando-te um marido rico.

    MARIQUINHA - Meu Deus!FELCIO - To bela e to sensvel com s, seres a esposa de um homem para quem o dinheiro tudo! Ah, no, le ter ainda que lutar comigo! Se supe que a fortuna que tem adquiridocom o contrabando de africanos h de tudo vencer, engana-se! A inteligncia e o ardil svezes podem mais que a riqueza.

    MARIQUINHA - O que voc pode fazer? Seremos sempre infelizes.

    FELCIO - Talvez que no. Sei que a empresa difcil. Se le te amasse, ser-me-ia mais fcilafast-lo de ti; porem le ama o seu dote, e desta qualidade de gente arrancar um vintm omesmo que arrancar a alma do corpo... Mas no importa.

    MARIQUINHA - No v voc fazer alguma coisa com que mame se zangue e fique malcom voc...

    FELCIO - No descansa. A luta h de ser longa, pois no ste o nico inimigo. Asassiduidades daqule maldito Gainer j tambm inquietam-me. Veremos... E se for preciso...Mas no; les se entredestruiro; o meu plano no pode falhar.

    MARIQUINHA - Veja o que faz.. Eu lhe amo, no envergonho de o dizer; porem se forpreciso para a nossa unio que voc faa alguma ao que... HESITA.

    FELCIO - Compreendo o que queres dizer... Tranqiliza-te.

    JLIA - ENTRANDO - Mana, mame chama.

    MARIQUINHA - J vou. Tuas palavras animaram-me.JLIA - Ande, mana.

    MARIQUINHA - Que impertinncia! PARA FELCIO, PARTE - Logo conversaremos...

    FELCIO - Sim, e no te aflijas mais, que tudo se arranjar. SAEM MARIQUINHA E JLIA

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    Cena 3

    FELCIO - Quanto eu a amo! Dois rivais! Um negociante de meia-cara e um especulador...

    Belo par, na verdade! nimo! Comecem-se hoje as hostilidades. Veremos, meus senhores,veremos! Um de vs sair corrido desta casa pelo outro, e um s ficar para mim ? se ficar...ENTRA MISTER GAINER

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    Cena 4

    FELCIO E GAINER.

    GAINER - Viva, senhor.FELCIO - Oh, um seu venerador...

    GAINER - Passa bem? Estima muito. Senhora Dona Clemncia foi passear?

    FELCIO - No senhor, est l dentro. Queria alguma coisa?

    GAINER - Coisa no; vem fazer minhas comprimentos.

    FELCIO - No pode tardar. PARTE. Principie-se. PARA GAINER: Sinto muito dizer-lheque... Mas chega minha tia. PARTE: Em outra ocasio.

    GAINER - Senhor, que sente?

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    Cena 5

    Entra D. CLEMNCIA, MARIQUINHA, JLIA e NEGREIRO.

    CLEMNCIA - entrando - Estou contente com ele. Oh, o Sr. Gainer por c!CUMPRIMENTAM-SE.

    GAINER - Vem fazer meu visita.

    CLEMNCIA - Muito obrigada. H dias que no o vejo.

    NEGREIRO - COM IRONIA - Sem dvida com algum projeto?

    GAINER - Sim. Estou redigindo um documento para as deputados.

    NEGREIRO e CLEMNCIA - Oh!

    FELCIO - Sem indiscrio: No podemos saber...

    GAINER - Pois no! Eu pea na requerimento um privilegio por trinta anos para acar deosso.

    TODOS - Acar de osso!

    NEGREIRO - Isso deve ser bom! Oh, oh, oh!

    CLEMNCIA - Mas como isso?

    FELCIO - parte - Velhaco!

    GAINER - Eu explica e mostra... At nesta tempo no se tem feito caso das osso,destruindo-se uma grande quantidade delas, e eu agora faz desses osso acar superfina...

    FELCIO - Desta vez desacreditam-se as canas.

    NEGREIRO - Continue, continue.

    GAINER - Nenhuma pessoa mais planta cana quando souberam de minha mtodo.

    CLEMNCIA - Mas os ossos plantam-se?

    GAINER - MEIO DESCONFIADO - No senhor.

    FELCIO - Ah, percebo! Espremem-se. GAINER FICA INDIGNADO

    JLIA - Quem que pode espremer osso? FELCIO E MARIQUINHA RIEM-SE.

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    Cena 6

    EUFRSIA - NA PORTA DO FUNDO - D licena, comadre?

    CLEMNCIA - Oh, comadre, pode entrar! CLEMNCIA E MARIQUINHAENCAMINHAM-SE PARA A PORTA, ASSIM COMO FELCIO; GAINER FICA NOMEIO DA SALA. ENTRAM EUFRSIA, CECLIA, JOO DO AMARAL, UM MENINODE DEZ ANOS, UMA NEGRA COM UMA CRIANA NO COLO E UM MOLEQUEVESTIDO DE CALA E JAQUETA E CHAPU DE OLEADO. CLEMNCIA,ABRAANDO EUFRSIA. Como tem passado?

    EUFRSIA - Assim, assim.

    CLEMNCIA - Ora esta, comadre!

    JOO DO AMARAL - Senhora D. Clemncia?

    CLEMNCIA - Sr. Joo, viva! Como est?MARIQUINHA - PARA CECLIA, ABRAANDO E DANDO BEIJO. - H quanto tempo!

    CECLIA - Voc passa bem? TODOS CUMPRIMENTAM-SE. FELCIO APERTA A MODE JOO DO AMARAL, CORTEJA AS SENHORAS. JOO DO AMARAL CORTEJAMARIQUINHA.

    CLEMNCIA - Venham se assentar.

    EUFRSIA - Ns nos demoraremos pouco.

    CLEMNCIA - que faltava.

    MARIQUINHA - PEGANDO NA CRIANA. - O Lulu como est bonito! COBRE-O DE

    BEIJO.CLEMNCIA - CHEGANDO-SE PARA VER. - Coitadinho, coitadinho! FAZENDO-LHEFESTAS: Psiu, psiu, negrinho! Como galante.

    EUFRSIA - Tem andado muito rabugento com a desenteria dos dentes.

    MARIQUINHA - Pobrezinho. Psiu, psiu, bonito! MARIQUINHA TOMA A CRIANA DANEGRA

    EUFRSIA - Olhe que no faa alguma desfeita!

    MARIQUINHA - No faz mal. MARIQUINHA LEVA A CRIANA PARA JUNTO DOCANDIEIRO E, MOSTRANDO-LHE A LUZ, BRINCA COM LE AD LIBITUM.

    CLEMNCIA - Descanse um pouco, comadre. PUXA-LHE PELA SAIA PARA JUNTO DOSOF

    JOO- No podemos ficar muito tempo.

    CLEMNCIA - J o senhor principia com suas impertinncias. Assentem-se. CLEMNCIAE EUFRSIA ASSENTAM-SE NO SOF; JOO DO AMARAL, FELCIO, GAINER E OMENINO, NAS CADEIRAS; CECLIA E JLIA FICAM EM P JUNTO AMARIQUINHA, QUE BRINCAM COM A CRIANA.

    EUFRSIA - ASSENTANDO-SE. - Ai, estou cansada de subir suas escadas!

    CLEMNCIA - Pois passe a noite comigo e faa a outra visita amanh.

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    JOO DO AMARAL - No pode ser.

    CLEMNCIA - Deixe-se disso. BATENDO PALMAS: l de dentro?

    EUFRSIA - No, comadre. CHEGA UM PAJEM PARDO PORTA

    CLEMNCIA - Aprontem o ch depressa. SAI O PAJEMJOO - No pode ser, muito obrigado.

    FELCIO - Aonde vai com tanta pressa, minha senhora?

    EUFRSIA - Ns?

    JOO - PARA FELCIO. - Um pequeno negocio.

    EUFRSIA - Vamos casa de D. Rita.

    CLEMNCIA - Deixe-se de D. Rita. Que vai l fazer?

    EUFRSIA - Vamos pedir a ela para falar mulher do Ministro.

    CLEMNCIA - Pra que?EUFRSIA - Ns ontem ouvimos dizer que se ia criar uma repartio nova e queria ver searranjvamos um lugar pra Joo.

    CLEMNCIA - J no ateimo.

    FELCIO - PARA JOO. - Estimarei muito que seja atendido; justia que lhe fazem.

    EUFRSIA - O senhor diz bem.

    JOO - Sou empregado de repartio extinta; assim, justo que me empreguem. At mesmo economia.

    GAINER - Economia sim.

    JOO - PARA GAINER. - H muito tempo que me deviam ter empregado, mas enfim...

    CLEMNCIA - No se v seno injustias.

    EUFRSIA - Comadre, passando de uma coisa para outra: a costureira estve c hoje?

    CLEMNCIA - Estve e me trouxe os vestidos novos.

    EUFRSIA - Mande buscar.

    CECLIA - Sim, sim, mande-os buscar, madrinha.

    CLEMNCIA - BATENDO PALMAS. - Pulquria? DENTRO UMA VOZ - Senhora?

    CLEMNCIA - Vem c.CECLIA - PARA MARIQUINHA - Quantos vestidos novos voc mandou fazer?

    MARIQUINHA e CLEMNCIA- Dois. ENTRA UMA RAPARIGA

    CLEMNCIA- V la dentro do meu quarto de vestir, dentro do meu guarda-fato direita, tiraos vestidos novos que vieram hoje. Olha, no machuque os outros. Vai anda. SAI ARAPARIGA

    CECLIA - PARA MARIQUINHA - De que moda mandou fazer os vestidos?

    MARIQUINHA - Diferentes e... Ora, ora Lulu, que lgro!

    EUFRSIA e Ceclia - O que foi?

    MARIQUINHA - Mijou-se tda!

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    EUFRSIA - No lhe disse? OS MAIS RIEM-SE

    MARIQUINHA - Marotinho!

    EUFRSIA - Rosa, pega o menino.

    CECLIA - Eu j no gosto de pegar nle por isso. A PRETA TOMA O MENINO EMARIQUINHA FICA SACUDINDO O VESTIDO

    JOO - Foi boa pea!

    MARIQUINHA - No faz mal. ENTRA A RAPARIGA COM QUATRO VESTIDOS EENTREGA A CLEMENCIA.

    JOO - PARA FELCIO - Temos maada!

    FELCIO - Esto as senhoras no seu geral.

    CLEMNCIA - MOSTRANDO OS VESTIDOS - Olhe. AS QUATRO SENHORASAJUNTAM-SE RODA DOS VESTIDOS E EXAMINAM ORA UM, ORA OUTRO; A

    RAPARIGA FICA EM P NA PORTA; O MENINO BOLE EM TUDO QUANTO ACHA ETREPA NAS CADEIRAS PARA BULIR COM OS VIDROS; FELCIO E GAINERLEVANTAM-SE E PASSEIAM DE BRAOS DADOS PELA SALA, CONVERSANDO.AS QUATRO SENHORAS QUASE QUE FALAM AO MESMO TEMPO.

    CECLIA - Esta chita bonita.

    EUFRSIA - Olhe esse riscadinho, menina!

    CLEMNCIA- Pois custou bem barato; comprei porta.

    CECLIA - Que feitio to elegante! ste seu, no ?

    MARIQUINHA - , eu mesmo que dei o molde.

    CLEMNCIA- So todos diferentes. ste de costa lisa, e ste no.

    CECLIA - ste h-de ficar bem.

    CLEMNCIA- Muito bem. uma luva.

    MARIQUINHA - J viu o feitio desta manga?

    CECLIA - verdade como bonita! Olhe, minha me.

    EUFRSIA - So de pregas enviesadas. PARA O MENINO Menino fique quieto.

    MARIQUINHA - ste cabeo fica muito bem.

    CECLIA - Tenho um assim.

    EUFRSIA - Que roda!

    MARIQUINHA - Assim que eu gosto.

    CLEMNCIA- E no levou muito caro.

    EUFRSIA - Quanto? PARA O MENINO Juca, desce da.

    CLEMNCIA- A trs mil-ris.

    EUFRSIA - No caro.

    CECLIA - Parece seda essa chita. PARA O MENINO Juquinha, mame j disse que fiquequieto

    CLEMNCIA- A Merenciana est cortando muito bem.

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    EUFRSIA - assim.

    CECLIA - J no mandam fazer mais na casa das francesas?

    MARIQUINHA - Mandam s os de seda.

    CLEMNCIA- No vale a pena mandar fazer vestidos de chita pelas francesas; pedemsempre tanto dinheiro! ESSA CENA DEVE SER TDA MUITO VIVA. OUVE-SEDENTRO BULHA DE LOUA QUE SE QUEBRA. O que isso la dentro?

    VOZ L DE DENTRO - No nada senhora.

    CLEMNCIA- Nada? O que que se quebrou l dentro? Negras!...

    VOZ L DE DENTRO - Foi o cachorro.

    CLEMNCIA - Estas minhas negras!... Com licena. CLEMNCIA SAI

    EUFRSIA - to descuidada esta nossa gente!

    JOO DO AMARAL - preciso ter pacincia. OUVE-SE DENTRO BULHA COMO DEBOFETADAS E CHICOTADAS Aquela pagou caro..EUFRSIA - GRITANDO - Comadre, no se aflija.

    JOO DO AMARAL - Se assim no fizer nada tem.

    EUFRSIA - Basta, comadre perdoe por esta . CESSAM AS CHICOTADAS stes nossosescravos fazem-nos criar cabelos brancos. ENTRA CLEMNCIA ARRANJANDO OLENO DO PESCOO E MUITO ESFOGUEADA.

    CLEMNCIA - Os senhores desculpem, mas no se pode... ASSENTA-SE E TOMARESPIRAO Ora veja s! Foram aquelas desavergonhadas deixar mesmo na beira da mesaa salva com os copos pra o cachorro dar com todo no cho! Mas pagou-me!

    EUFRSIA - L por casa a mesma coisa. Ainda ontem a pamonha da minha Joana quebrouduas xcaras.

    CLEMNCIA - Fazem perder a pacincia. Ao menos as duas no so to mandrionas.

    EUFRSIA - No so? Xi! Se eu lhe contar no h de crer. Ontem, todo o santo dia a Mnicalevou a ensaboar quatro camisas do Joo.

    CLEMNCIA - E porque no as esfrega.

    EUFRSIA - o que a comadre pensa.

    CLEMNCIA - Eu no gosto de dar pancadas. Porem, deixemo-nos disso agora. A comadreainda no viu o meu africano?

    EUFRSIA - No. Pois teve um?

    CLEMNCIA - Tive; venham ver. LEVANTA-SE Deixe os vestidos ai que a rapariga vembuscar. Felcio, dize ao senhor Mister que se quiser entrar no faa cerimnia.

    GAINER - Muito obrigada.

    CLEMNCIA- Ento, com sua licena.

    EUFRSIA - PARA A PRETA - Traz o menino. SAEM CLEMNCIA, EUFRSIA,MARIQUINHA, CECLIA, JOO DO AMARAL, JLIA, O MENINO, A PRETA E OMOLEQUE.

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    cena 7

    FELCIO O GAINER

    FELCIO - Estou admirado! Excelente idia! Bela e admirvel mquina!GAINER - CONTENTE - Admirvel, sim.

    FELCIO - Deve dar muito intersse.

    GAINER - Muita intersse o fabricante. Quanto ste mquina estiver acabada, no precisamais de cuzinheiro, de sapateira e de outras muitas ofcias.

    FELCIO - Ento a mquina supre tdos esses ofcios?

    GAINER - Oh, sim! Eu bota a mquina ai no meio da sala, manda vir um boi, bota a boi naburaco da maquine e meia hora sai por outra banda da mquina tudo j feita.

    FELCIO - Mas explique-me bem isso.

    GAINER - Olha. A carne do boi sai feita em beef, em roast-beef, fricand e outras muitas; docouro sai sapatos, botas...

    FELCIO - COM MUITA SERIEDADE - Envernizadas?

    GAINER - Sim, tambm pode ser. Das chifres sai bocetas, pentes e cabos de facas; das ossossai marcas...

    FELCIO - NO MESMO - Boa ocasio para aproveitar os ossos para o seu acar.

    GAINER - Sim, sim, tambm sai acar, balas da Prto e amndoas.

    FELCIO - Que prodgio! Estou maravilhado! Quando pretende fazer trabalhar a mquina?

    GAINER - Conforme; falta ainda alguma dinheira. Eu queria fazer uma esprestima. Se osenhor quer fazer seu capital render cinqenta por cento d a mim para acabar a maquine, quetrabalha depois por nossa conta.

    FELCIO - PARTE - Assim era eu tolo... PARA GAINER No sabe quanto sinto no terdinheiro disponvel. Que bela ocasio de triplicar, quadruplicar, quintuplicar, que digo,centuplicar o meu capital em pouco! Ah!

    GAINER - PARTE - Dstes tlas eu quero muito.

    FELCIO - Mas veja como os homens so maus. Chamara, o senhor, que o homem o maisfilantrpico e desinteressado e amicssimo do Brasil, especulador de dinheiros alheios eoutros nomes mais.

    GAINER - A mim chamaram especuladora? A mim? By God! Quem a atrevido que me dessa nome?

    FELCIO - preciso, na verdade, muita pacincia. Dizerem que o senhor est rico comespertezas!

    GAINER - Eu rica! Que calnia! Eu rica? Eu est pobre com minhas projetos pra bem doBrasil.

    FELCIO - PARTE - O bem do brasileiro o estribilho dstes malandros... (PARAGAINER) Pois no isso que dizem. Muitos crem que o senhor tem um grosso capital noBanco de Londres; e alm disto, chamam-lhe de velhaco.

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    GAINER - DESESPERADO - Velhaca, velhaca! Eu quero mete bala nas miolos dste patifa.Quem ste que me chama velhaca?

    FELCIO - Quem? Eu lho digo: ainda no h muito o Negreiro assim disse.

    GAINER - Negreira disse? Oh, que patife de meia-cara... Vai ensina le... le me paga.Goddam!

    FELCIO - Se lhe dissesse tudo quanto le tem dito...

    GAINER - No precisa dize; basta chama velhaca a mim pra eu mata le. Oh, que patife demeia-cara! Eu vai dize a commander do brigue Wizart que ste patife meia-cara; pra seguranos navios dle. Velhaca! Velhaca! Goddam! Eu vai mata le! Oh! SAI DESESPERADO

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  • 7/30/2019 Os Dois Ou o Inges Maquinista

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    Cena 8

    FELCIO - S - L vai le como um raio! Se encontra o Negreiro, temos salsada. Que furor

    mostrou por lhe dizer eu que o chamavam de velhaco! Dei-lhe na balda! Vejamos no que dtodo isto. Segu-lo-ei de longe at que se encontre com o Negreiro; deve ser famoso oencontro. Ah, ah, ah! TOMA O CHAPU E SAI.

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    Cena 9

    ENTRA CECLIA E MARIQUINHA

    MARIQUINHA - ENTRANDO - como eu lhe digo.CECLIA - Tu no gostas nada dle?

    MARIQUINHA - Aborreo-o.

    CECLIA - Ora, deixa-te disso. le no rico?

    MARIQUINHA - Dizem que muito.

    CECLIA - Pois ento? Casa-te com le, tla.

    MARIQUINHA - Mas, Ceclia, tu sabes que eu amo o meu primo.

    CECLIA - E o que tem isso? Estou eu que amo a mais de um, e no perderia um to bom

    casamento como o que agora tens. E to belo Ter um marido que nos d carruagens, chcara,vestidos novos pra todos os bailes... Oh, que fortuna! J ia sendo feliz uma ocasio. Umnegociante dstes p-de-boi, quis casar comigo, a ponto de escrever-me uma carta, fazendo apromessa; porem logo que soube que eu no tinha dote como le pensava, sumiu-se e nuncamais o vi.

    MARIQUINHA - E nesse tempo amavas a algum?

    CECLIA - Oh, se amava! No fao outra coisa todos os dias. Olha, amava ao filho de D.Joana, aqule tenente, amava aqule que passava sempre por l, de casaca verde; amava...

    MARIQUINHA - Com efeito! E amava a todos?

    CECLIA - Pois ento?MARIQUINHA - Tens belo corao de estalagem!

    CECLIA - Ora, isto no nada.

    MARIQUINHA - No nada?

    CECLIA - No. Agora tenho mais namorados que nunca; tenho dois militares, umempregado do Tesouro, o cavalo rabo...

    MARIQUINHA - Cavalo rabo?

    CECLIA - Sim, um que anda num cavalo rabo.

    MARIQUINHA - Ah!

    CECLIA - Tenho mais outros dois que eu no conheo.

    MARIQUINHA - Pois tambm namoras a quem no conheces?

    CECLIA - Pra namorar no preciso conhecer. Voc quer ver a carta que um dstes doismandou-me mesmo quando estava-me vestindo para sair?

    MARIQUINHA - Sim quero.

    CECLIA - PROCURANDO NO SEIO A CARTA No tive tempo de deix-la na gaveta;minha me estava no meu quarto. ABRINDO A CARTA QUE ESTAVA MUITODOBRADA Foi o moleque que me entregou. Escute. LENDO "Minha adorada e crepitante

    estrla..." DEIXANDO DE LER Hem?

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    MARIQUINHA - Continua.

    CECLIA - LENDO - "Os astros que brilham nas chamejantes esferas de teus sedutores eatrativos olhos, ofuscaram em to sbito e sublimado ponto o meu amatrio discernimento,que por ti me enlouqueceu. Sim meu bem, um general quando vence uma batalha no mais

    feliz do que eu! Se receberes os meus sinceros sofrimentos, sereis ditoso; se no, ficarei loucoe irei viver na Hircnia, no Japo, nos sertes de Minas, enfim, em toda parte aonde possaencontrar desumanas feras, e l morrerei. Adeus dste que jura ser teu, apesar da negra e friamorte. O mesmo". DEIXANDO DE LER No est to bem escrita? Que estilo! Que paixo,hem? Como estas, ou melhores ainda, tenho l em casa muitas!

    MARIQUINHA - Que te faa muito bom proveito, pois eu no tenho nem uma.

    CECLIA - Ora veja s! Qual a moa que nunca recebe sua cartinha? Sim, tambm noadmira; vocs dois moram em casa.

    MARIQUINHA - Mas dize-me, Ceclia, para que voc tem tantos namorados?

    CECLIA - Para que? Eu te digo; para duas coisas: primeira, para divertir-me; segunda, paraver se de tantos, algum cai.

    MARIQUINHA - Mau calculo. Quando se sabe que uma moa d corda a todos, todosbrincam, todos...

    CECLIA - Acaba.

    MARIQUINHA - E todos a desprezam.

    CECLIA - Desprezam! Pois no. S se se alguma tla que d logo a perceber que temmuitos namorados. Cada um dos meus supe-se nico na minha afeio.

    MARIQUINHA - Tens habilidade.

    CECLIA - to bom estar-se janela, vendo-os passar um atrs do outro como os soldadosque passam em continncia. Um aceno para um, uma tossezinha para outro, um sorriso, umescrnio, e vo les to contentezinhos...

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    Cena 10

    ENTRA FELCIO

    FELCIO - ENTRANDO - Perdi-o de vista.CECLIA - ASSUSTANDO-SE - Ai que susto me meteu o Sr. Felcio!

    FELCIO - Muito sinto que...

    CECLIA - No faz mal. COM TERNURA Se todos os meus sustos fssem como ste, no seme dava de estar sempre assustada.

    FELCIO - E eu no me daria de causar, no digo susto, mas surprsa a pessoas to amveis ebelas como a Senhora Dona Ceclia.

    CECLIA - No mangue comigo; ora veja!

    MARIQUINHA - PARTE - J ela esta a namorar o primo. insuportvel. Primo?

    FELCIO - Priminha.

    MARIQUINHA - Aquilo?

    FELCIO - Vai bem.

    CECLIA - O que .

    MARIQUINHA - Uma coisa.

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  • 7/30/2019 Os Dois Ou o Inges Maquinista

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    Cena 11

    ENTRAM CLEMNCIA, EUFRSIA, JOO, JLIA , O MENINO, A PRETA COM A

    CRIANA E O MOLEQUE.CLEMNCIA - Mostra que tem habilidade.

    EUFRSIA - Assim bom, pois o meu nem por isso. Quem tambm j vai adiantado oJuca; ainda (ontem(?)) o Joo comprou-lhe um livro de fabula.

    CLEMNCIA - As mestras da Jlia esto muito contentes com ela. Esta muito adiantada.Fala francs e daqui a dois dias no sabe mais falar portugus.

    FELCIO - PARTE - Belo adiantamento.

    CLEMNCIA - muito bom colgio. Jlia, comprimenta aqui o senhor em francs.

    JLIA - Ora, mam.

    CLEMNCIA - Faa-se de tla!JLIA - Bom jour, Monsieur, comment vous portez-vous? Je suis votre serviteur.

    JOO - Oui. Est muito adiantada.

    EUFRSIA - verdade.

    CLEMNCIA - PARA JLIA - Como mesa em francs?

    JLIA - Table.

    CLEMNCIA - Brao?

    JLIA - Bras.

    CLEMNCIA - Pescoo?

    JLIA - Cou.

    CLEMNCIA - Menina!

    JLIA - cou mesmo, mam; no primo? No cou que significa?

    CLEMNCIA - Est bom, basta.

    EUFRSIA - stes franceses so to porcos. Ora veja, chamar o pescoo, que est ao p dacara, com ste nome to feio.

    JOO - PARA EUFRSIA - Senhora, so horas de ns irmos.

    CLEMNCIA - J?JOO - tarde.

    EUFRSIA - Adeus, comadre, qualquer dstes dias c virei. D. Mariquinha, adeus. D UMABRAO E UM BEIJO

    MARIQUINHA - Passe bem. Ceclia, at quando.

    CECLIA - At nos encontrarmos. Adeus. D ABRAOS E MUITOS BEIJOS

    EUFRSIA - PARA CLEMNCIA - No se esquea daquilo.

    CLEMNCIA - No.

    JOO - PARA CLEMNCIA - Comadre, boas noites.

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    CLEMNCIA - Boas noites, compadre.

    EUFRSIA E CECLIA - Adeus, adeus! At sempre. OS DA CASAACOMPANHAM-NOS.

    EUFRSIA - PARANDO NO MEIO DA CASA - Mande o vestido pela Joana.CLEMNCIA - Sim. Mas quer um s, ou todos os dois?

    EUFRSIA - Basta um.

    CLEMNCIA - Pois sim.

    CECLIA - PARA MARIQUINHA - Voc tambm mande-me o molde das mangas. Mam,no era melhor fazer o vestido de mangas justas?

    EUFRSIA - Faze como quiseres.

    JOO - Deixe isto para outra ocasio e vamos, que tarde.

    EUFRSIA - J vamos, j vamos. Adeus, minha gente, adeus. BEIJOS E ABRAOS

    CECLIA - PARA MARIQUINHA - O livro que te prometi mando amanh.

    MARIQUINHA - Sim.

    CECLIA - Adeus. Boas noites, senhor Felcio.

    EUFRSIA - PARANDO QUASE JUNTO DA PORTA - Voc sabe? Nenhuma dassementes pegou.

    CLEMNCIA - que no soube plantar.

    EUFRSIA - Qual!

    MARIQUINHA - Adeus, Lulu.

    EUFRSIA - No eram boas.

    CLEMNCIA - Eu mesmo as colhi.

    MARIQUINHA - Marotinho!

    CECLIA - Se voc ver D. Luiza, d lembranas.

    EUFRSIA - Mande outras.

    MARIQUINHA - Mam, olhe Lulu que est lhe estendendo os braos.

    CLEMNCIA - Um beijinho.

    CECLIA - Talvez possa vir amanh.

    CLEMNCIA - Eu mando outras, comadre.

    JOO - Ento vamos ou no vamos?

    EUFRASIA - Voc sabe? Nenhuma das sementes pegou. FALAM TODOS AO MESMOTEMPO, COM ALGAZARRA.

    CLEMNCIA - J vo, j vo.

    EUFRSIA - Espere um bocadinho.

    JOO - PARA FELICIO - No se pode aturar senhoras.

    EUFRSIA - Adeus, comadre, o Joo quer-se ir embora. Talvez venham c os Reis.

    CECLIA - verdade e...

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    JOO - Ainda no basta?

    EUFRSIA - Que impertinncia! Adeus, adeus!

    CLEMNCIA E MARIQUINHA - Adeus , adeus.

    EUFRSIA - CHEGA PORTA E PRA - Quando quiser, mande a abbora para fazer odoce.

    CLEMNCIA - Pois sim, quando estiver madura l mando, e....

    JOO - PARTE - Ainda no vai desta, irra!

    CECLIA - PARA MARIQUINHA - Esqueci-me de te mostrar o meu chapu.

    CLEMNCIA - No bota cravo.

    CECLIA - Manda buscar?

    EUFRSIA - Pois sim, tenho uma receita.

    MARIQUINHA - No teu pai est zangado.CLEMNCIA - Com flor de laranja.

    EUFRSIA - Sim.

    JOO - PARTE, BATENDO COM O P - de mais!

    CECLIA - Mande para eu ver.

    MARIQUINHA - Sim.

    EUFRSIA - Que o acar seja bom.

    CECLIA - E outras coisas novas.

    CLEMNCIA - muito bom.EUFRSIA - Est bem, adeus. No se esquea.

    CLEMNCIA - No.

    CECLIA - Enquanto a Vitoriana est l em casa

    MARIQUINHA - Conta bem.

    CECLIA - Adeus Jlia.

    JLIA - Adeus.

    CECLIA - Sim.

    JLIA - Lulu, adeus, bem, adeus!MARIQUINHA - No faa le cair!

    JLIA - No.

    JOO - Eu vou saindo. Boas noites. PARTE - Irra, irra!

    CLEMNCIA - Boas noites s Joo.

    EUFRSIA - Anda, menina, Juca, vem.

    TODOS - Adeus, adeus, adeus! TDA ESTA CENA DEVE SER COMO A OUTRAFALADA AO MESMO TEMPO.

    JOO - Enfim! SAEM EUFRSIA, CECLIA, JOO, O MENIMO E A PRETA;

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  • 7/30/2019 Os Dois Ou o Inges Maquinista

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    CLEMNCIA , MARIQUINHA FICAM PORTA; FELCIO ACOMPANHA ASVISITAS.

    EUFRSIA - DE DENTRO - Toma sentido nos Reis pra me contar.

    CLEMNCIA - DA PORTA - Hei-de tomar bem sentido.CECLIA - DE DENTRO - Adeus, bem! MARIQUINHA?

    MARIQUINHA - Adeus.

    CLEMNCIA - DA PORTA - comadre, manda o Juca amanh, que Domingo.

    EUFRSIA - DE DENTRO - Pode ser. Adeus.

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    Cena 12

    CLEMNCIA, MARIQUINHA E FELCIO

    CLEMNCIA- Menina, so horas se mandar arranjar a mesa pra ceia dos Reis.MARIQUINHA - Sim mam.

    CLEMNCIA- Viste a Ceclia como vinha? No sei aquela comadre aonde quer ir parar.Tanto luxo e o marido ganha to pouco! So milagres que estas gentes sabem fazer.

    MARIQUINHA - Mas elas cosem pra fora.

    CLEMNCIA- Ora, o que d a costura? No sei, no sei! H coisas que no se podemexplicar... Donde lhes vem o dinheiro no posso dizer. Elas que o digam. ENTRA FELCIOFelcio, voc tambm no acompanha os Reis?

    FELCIO - Hei-de acompanhar, minha tia.

    CLEMNCIA- E ainda cedo?FELCIO - TIRANDO O RELGIO Ainda; apenas so nove horas.

    CLEMNCIA- Ai meu tempo!

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  • 7/30/2019 Os Dois Ou o Inges Maquinista

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    Cena 13

    ENTRA NEGREIRO ACOMPANHADO DE UM PRETO DE GANHO COM UM CESTO

    CABEA COBERTO COM UM COBERTOR DE BEATA ENCARNADA.NEGREIRO - Boas noites!

    CLEMNCIA- Oh, pois voltou? O que traz com ste prto?

    NEGREIRO - Um presente que lhe ofereo.

    CLEMNCIA- Vejamos o que .

    NEGREIRO - Uma insignificncia... Arreia, pai. NEGREIRO AJUDA AO PRETO ABOTAR O CESTO NO CHO. CLEMENCIA, MARIQUINHA CHEGAM-SE PARAJUNTO DO CESTO, DE MODO QUE STE FICA A VISTA DOS ESPECTADORES.

    CLEMNCIA- Descubra. NEGREIRO DESCOBRE O CESTO E DLE LEVANTA-SE UM

    MOLEQUE DE TANGA E CARAPUA ENCARNADA, O QUAL FICA EM PE DENTRODO CESTO. gentes!

    MARIQUINHA - AO MESMO TEMPO Oh!

    FELCIO - AO MESMO TEMPO Um meia-cara.

    NEGREIRO - Ento, hem? PARA O MOLEQUE - Quenda, quenda! PUXA O MOLEQUEPARA FORA

    CLEMNCIA- Como bonitinho.

    NEGREIRO - Ah, ah!

    CLEMNCIA- Pra que o trouxe no csto?

    NEGREIRO - Por causa dos malsins...

    CLEMNCIA- Boa lembrana. EXAMINANDO O MOLEQUE: Est gordinho... bonsdentes...

    NEGREIRO - PARTE, PARA CLEMNCIA dos desembarcados ontem no Botafogo...

    CLEMNCIA- Ah! Fico-lhe muito obrigada.

    NEGREIRO - PARA MARIQUINHA H de ser seu pajem.

    MARIQUINHA - No preciso de pajem.

    CLEMNCIA- Ento, Mariquinha?

    NEGREIRO - Est bom, trar-lhe-ei uma mocamba.

    CLEMNCIA- Tantos obsquios... D licena que o leve para dentro?

    NEGREIRO - Pois no, seu.

    CLEMNCIA- Mariquinha, vem c. J volto. SAI CLEMENCIA, LEVANDO PELA MOO MOLEQUE, E MARIQUINHA.

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    Cena 14

    NEGREIRO - PARA O PRTO DE GANHO Toma l. D LHE DINHEIRO; O PRETO

    TOMA O DINHEIRO E FICA ALGUM TEMPO OLHANDO PARA LE. Ento, achapouco?

    O NEGRO - Eh, ah, pouco... carga pesado....

    NEGREIRO - GRITANDO Salta j daqui, tratante! EMPURRANDO-O Pouco, pouco! Salta!

    FELCIO - PARTE - Sim, empurra o pobre preto, que eu tambm te empurrarei sobrealgum ...

    NEGREIRO - VOLTANDO Acha um vintm pouco!

    FELCIO - Sr. Negreiro...

    NEGREIRO - Meu caro senhor?

    FELCIO - Tenho uma coisa que lhe comunicar com a condio porem que o senhor se noh-de alterar.

    NEGREIRO - Vejamos.

    FELCIO - A simpatia que pelo senhor sinto que me faz falar...

    NEGREIRO - Adiante, adiante...

    FELCIO - PARTE Espera, que eu te ensino, grosseiro. PARA NEGREIRO O Sr. Gainer,que a pouco saiu, disse-me que ia ao juiz de paz denunciar os meias-caras que o senhor temem casa e ao comandante do brigue ingls Wizard os seus navios que espera todos os dias.

    NEGREIRO - Qu? Denunciar-me, aqule patife? Velhaco mor! Denunciar-me? Oh, no queeu me importe com a denuncia ao juiz de paz; com ste eu ca me entendo; mas patifaria,desaforo!

    FELCIO - No sei por que le tem tanta raiva do senhor.

    NEGREIRO - Por qu? Porque eu digo em toda a parte que le um especulador velhaco evelhaco! Oh, ingls do diabo, se eu te pilho! Ingls de um dardo!

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    Cena 15

    ENTRA GAINER APRESSADO

    GAINER - ENTRANDO - Darda tu, patife!NEGREIRO - Oh!

    GAINER - TIRANDO APRESSADO A CASACA . Agora me pega!

    FELCIO - PARTE, RINDO-SE - Temos touros!

    NEGREIRO - INDO SBRE GAINER - Espera goddam dos quinhentos!

    GAINER - INDO SBRE NEGREIRO Meia-cara GAINER E NEGREIRO BRIGAM AOSSOCOS. GAINER GRITANDO CONTINUADAMENTE : Patifa! Goddmam!

    NEGREIRO - Velhaco! Tratante!

    FELCIO - RI-SE, DE MODO POREM QUE OS DOIS NO PRESSINTAM. OS DOISCAEM E ROLAM BRIGANDO SEMPRE.

    FELCIO - PARTE, VENDO A BRIGA Bravo os campees! Belo sco! Assim,inglesinho! Bravo o Negreiro! L caem... Como esto zangados.

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    Cena 16

    ENTRA CLEMNCIA E MARIQUINHA

    FELCIO - VENDO-AS ENTRAR - Senhores, acomodem-se. PROCURA APART-LOSCLEMNCIA- Ento o que isso, senhores? Contendas em minha casa?

    FELCIO - Sr. Negreiro, acomode-se. OS DOIS LEVANTAM-SE E FALAM AO MESMOTEMPO.

    NEGREIRO - ste yes do diabo...

    GAINER - Negreira atrevida...

    NEGREIRO - ... teve a pouca vergonha...

    GAINER - ... chama a mim...

    NEGREIRO - ... de denunciar-me...GAINER - ... velhaca...

    FELCIO - Senhores!

    CLEMNCIA- Pelo amor de Deus sosseguem!

    NEGREIRO - ANIMANDO-SE Ainda no estou em mim...

    GAINER - ANIMANDO-SE Ingls no sofre...

    NEGREIRO - Quase que o mato!

    GAINER - Goddam. QUER IR CONTRA NEGREIRO, MAS CLEMNCIA E FELCIOAPARTAM.

    CLEMNCIA- Sr. Mister! Sr. Negreiro!

    NEGREIRO - Se no fosse a senhora, havia de ensinar-te, yes do diabo.

    CLEMNCIA- Basta, basta!

    GAINER - Eu vai-se embora, no quer mais ver nas minhas olhos ste homem. SAIARREBATADAMENTE VESTINDO A CASACA.

    NEGREIRO - PARA CLEMNCIA Faz-me o favor. LEVA-A -PARA UM LADO A senhorasabe quais so minhas intenes nesta casa a respeito de sua filha, mas como creio que stemaldito tem as mesmas intenes...

    CLEMNCIA- As mesmas intenes?NEGREIRO - Sim senhora, pois julgo que pretendia tambm casar com sua filha

    CLEMNCIA- Pois de Mariquinha que le gosta?

    NEGREIRO - Pois no nota a sua assiduidade?

    CLEMNCIA- PARTE - E eu que pensava que era por mim!

    NEGREIRO - tempo de decidir: ou eu ou le.

    CLEMNCIA- le casar-se com Mariquinha? o que faltava!

    NEGREIRO - quanto pretendia saber. Conceda que v mudar de roupa, e j volto para

    acertarmos o negocio. Eu volto. SAI

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    CLEMNCIA- PARTE - Era dela que le gostava! E eu ento? PARA MARIQUINHA Oque esto vocs a bisbilhotando? As filhas nste tempo no fazem caso das mes! Pra dentro,pra dentro!

    MARIQUINHA - ESPANTADA - Mas, mam...

    CLEMNCIA- MAIS ZANGADA - Ainda em cima respondona! Pra dentro! CLEMNCIAEMPURRA MARIQUINHA PRA DENTRO, QUE VAI CHORANDO.

    FELCIO - Que diabo quer isto dizer? O que diria le a minha tia para indispo-la dste modocontra a prima? O que ser? Ela me dir. SAI ATRS DE CLEMNCIA

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    Cena 17

    ENTRA NEGREIRO NO MOMENTO QUE FELCIO SAI

    NEGREIRO - Psiu! No ouve-me... Esperarei. Quero que me d informaes mais midas arespeito da denuncia que o tal patife deu ao cruzeiro ingls dos navios que espero. Isto... No,que os tais meninos andam com o olho vivo pelo que bem o sei eu, e todos, em suma. Seriabem bom se eu pudesse arranjar ste casamento o mais breve possvel. L com a moa, emsuma, no importa; o que eu quero o dote. Faz-me certo arranjo... E o ingls tambm queria,como tolo! J ando meio desconfiado... Algum vem! Se eu me escondesse, talvez pudesseouvir... Dizem que feio... Que importa? Primeiro o meu dinheiro, em suma. ESCONDE-SEPOR TRS DA CORTINA DA PRIMEIRA JANELA.

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    Cena 18

    ENTRA CLEMNCIA

    CLEMNCIA- preciso que isso se decida. l de dentro! Jos?UMA VOZ - DENTRO - Senhora!

    CLEMNCIA- Vem c. A quanto esto as mulheres sujeitas! Vai a casa do Sr. Gainer, aquleingls, e entrega-lhe esta carta. SAI O PAJEM. NEGREIRO, DURANTE TODA ESTACENA E A SEGUINTE, OBSERVA, ESPIANDO.

    NEGREIRO - PARTE - Uma carta para o ingls!

    CLEMNCIA- PASSEANDO - Ou com le ou com nenhum mais.

    NEGREIRO - Ah, o caso ste!

    CLEMNCIA- NO MESMO - Estou bem certa que le far a felicidade de uma mulher.

    NEGREIRO - PARTE - Muito bom, muito bom!

    CLEMNCIA- NO MESMO - O mau foi le brigar com o Negreiro.

    NEGREIRO - PARTE - E o pior no lhe quebrar eu a cara...

    CLEMNCIA- Mas no devo hesitar: se for necessrio, fecharei minha porta ao Negreiro.

    NEGREIRO - Muito obrigado.

    CLEMNCIA- le se h-de zangar.

    NEGREIRO - Pudera no! E depois de dar um moleque que podia vender por duzentosmil-ris...

    CLEMNCIA- NO MESMO - Mas que importa? preciso por meus negcios em ordem, es ele capaz de os arranjar depois de se casar comigo.

    NEGREIRO - PARTE - Hem? Como l isso? Ah!

    CLEMNCIA- H dois anos que o meu marido foi morto no Rio Grande pelos rebeldes, indola liquidar umas contas. Deus tenha sua alma em glria; tem-me feito uma falta que s eu sei. preciso casar-me; ainda estou moa. Todas as vezes que me lembro do defunto vem-me aslagrimas aos olhos... Mas se le no quiser.

    NEGREIRO - PARTE - Se o defunto no quiser?

    CLEMNCIA- Mas, no, a fortuna que tenho e mesmo alguns atrativos que possuo, seja dito

    sem vaidade, podem vencer maiores impossveis. Meu pobre defunto marido! CHORA Voufazer a minha toilette. SAI

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    Cena 19

    NEGREIRO SAI DA JANELA

    NEGREIRO - E ento? Que tal a viuva? ARREMEDANDO A VOS DE CLEMNCIA Meupobre defunto marido... Vou fazer minha toilette. No m! Chora por um e enfeita-se paraoutro. Essas viuvas! Bem diz o ditado que viuva rica por um olho chora, e por outro repica.Vem gente... ser o ingls? ESCONDENDO-SE

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    Cena 20

    ENTRA ALBERTO VAGAROSO E PENSATIVO; OLHA AO REDOR DE SI,

    EXAMINANDO TUDO COM ATENO. VIRA VESTIDO POBREMENTE, MAS COMDECNCIA. NEGREIRO, QUE DA JANELA ESPIANDO O OBSERVA, MOSTRA-SEATERRADO DURANTE TODA A SEGUINTE CENA.

    ALBERTO - Eis-me depois de dois anos de privaes e misrias restitudo ao seio de minhafamlia!

    NEGREIRO - PARTE - O defunto!

    ALBERTO - Minha mulher e minha filha ainda se lembraro de mim? Sero elas felizes, oucomo eu experimentaro os rigores do infortnio? H apenas duas horas que desembarquei,chegando dessas malfadada provncia aonde dois anos estive prisioneiro. L os rebeldes medetiveram, porque julgavam que eu era um espio; minhas cartas para minha famlia foram

    interceptadas e minha mulher talvez me julgue morto... Dois anos, que mudanas terotrazidos consigo? Cruel ansiedade! Nada indaguei, quis tudo ver com os meus prprios olhos... esta a minha casa, mas stes moveis no conheo... Mais ricos e suntuosos so do queaqules que deixei. Oh, ter tambm minha mulher mudado? Sinto passos... Ocultemo-nos...Sinto-me ansioso de temos e alegria... meu Deus! ENCAMINHA-SE PARA JANELAAONDE ESTA ESCONDIDO NEGREIRO.

    NEGREIRO - PARTE - Oh, diabo! Hei-lo comigo. ALBERTO, QUERENDOESCONDER-SE NA JANELA, D COM NEGREIRO E RECUA ESPANTADO

    ALBERTO - Um homem! Um homem escondido em minha casa!

    NEGREIRO - SAINDO DA JANELA - Senhor!

    ALBERTO - Quem es tu? Responde! AGARRA-O

    NEGREIRO - Eu, pois no me conheces, Sr. Alberto? Sou Negreiro, seu amigo... No meconheces?

    ALBERTO - Negreiro... sim... Mas meu amigo, e escondido em casa de minha mulher!

    NEGREIRO - Sim senhor, sim senhor, por ser seu amigo que estava escondido em casa desua mulher.

    ALBERTO - AGARRANDO NEGREIRO PELO PESCOO - Infame!

    NEGREIRO - No me afogue! Olhe que eu grito!

    ALBERTO - Dize, por que te escondia?NEGREIRO - J lhe disse que por ser seu verdadeiro amigo... No aperte que no posso, eento tambm dou como um cego, em suma.

    ALBERTO - DEIXANDO-O - Desculpa-te se podes, ou treme...

    NEGREIRO - Agora sim, v ouvindo. PARTE Assim safo-me da arriosca e vingo-me, emsuma do inglesinho. PARA ALBERTO Sua mulher uma traidora!

    ALBERTO - Traidora?

    NEGREIRO - Traidora, sim, pois no tendo certeza da sua morte, j tratava de casar-se.

    ALBERTO - Ela casar-se, tu mentes! AGARRA-O COM FORA

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    NEGREIRO - Olhe que porco a pacincia... Que diabo! Por ser seu amigo e vigiar sua mulheragarra-me desse modo? Tenha propsito ou eu... Cuida que mentira? Pois esconda-se uminstante comigo e ver. ALBERTO ESCONDE O ROSTO NAS MOS E FICAPENSATIVO. NEGREIRO PARTE: No est m a ressurreio! Que surpresa para a

    mulher! Ah inglesinho, agora me pagars!ALBERTO - TOMANDO-O PELO BRAO - Vinde... Tremei porem, se sois um caluniador.Vinde! ESCONDEM-SE AMBOS NA JANELA E OBSERVAM DURANTE TODA ACENA SEGUINTE.

    NEGREIRO - NA JANELA - A tempo nos escondemos, que algum se aproxima!

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    Cena 21

    ENTRA FELCIO E MARIQUINHA

    FELCIO - preciso que te resolvas o quanto antes.ALBERTO - DA JANELA - Minha filha!

    MARIQUINHA - Mas...

    FELCIO - Que irresoluo a tua? A desavena entre os dois far com que a tia apresse o teucasamento - com qual dles no sei. O certo que de um estamos livre; resta-nos outro. Scom a coragem e resoluo nos podemos tirar dste passo. O que disse o Negreiro tua meno sei, porem, o que quer que seja, a tem perturbado muito, e meu plano vai-sedesarranjando.

    MARIQUINHA - Oh, verdade, a mame tem ralhado comigo depois desse momento, e me

    tem dito que eu seria a causa da sua morte...FELCIO - Se tivesse coragem de dizer a tua me que nunca te casars com o Gainer ou como NEGREIRO...

    NEGREIRO - DA JANELA - Obrigado!

    MARIQUINHA - Jamais o ousarei!

    FELCIO - Pois bem, se no ousas dizer, fujamos.

    MARIQUINHA - Oh, no, no!

    CLEMNCIA - DENTRO - Mariquinha?

    MARIQUINHA - Adeus! Nunca pensei que voc me fizesse semelhante proposio!

    FELCIO - SEGURANDO-A PELA MO - Perdoa, perdoa ao meu amor! Ests mal comigo?Pois bem, j no falarei em fugida, em planos, em entregas; aparea s a fora e a coragem.Aqule que sobre ti lanar vistas de amor ou de cobia comigo se ver. Que me importa avida sem ti? E um homem que despreza a vida...

    MARIQUINHA - SUPLICANTE - Felcio!

    CLEMNCIA - DENTRO - Mariquinha?

    MARIQUINHA - Senhora? Eu te rogo, no me faas mais desgraadas!

    CLEMNCIA - DENTRO - Mariquinha, no ouves?

    MARIQUINHA - J vou, minha me. No verdade que estavas brincando?FELCIO - Sim, sim, estava; vai descansada.

    MARIQUINHA - Eu creio em tua palavra. SAI APRESSADA

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    Cena 22

    FELCIO - S - Cr na minha palavra, porque eu disse que sers minha. Com aqule dos dois

    que te ficar pertencendo irei ter, e ser o teu esposo aqule que a morte poupar. So dez horas,os amigos me esperam. Amanh se decidir, minha sorte. TOMA O CHAPU QUE ESTASBRE A MESA E SAI.

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    Cena 23

    ALBERTO E NEGREIRO, SEMPRE NA JANELA

    ALBERTO - Oh, minha ausncia, minha ausncia!NEGREIRO - A mim no me matar! Safa, em suma.

    ALBERTO - A que cenas vim eu assistir em minha casa!

    NEGREIRO - E que direi eu? Que tal o menino?

    ALBERTO - Clemncia, Clemncia, assim conservavas tu a honra da nossa famlia? Mas osenhor pretendia casar-se com minha filha?

    NEGREIRO - Sim senhor, e creio que no sou um mau partido; porem j desisti, em suma,e... Caluda, caluda!

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    Cena 24

    ENTRA CLEMNCIA MUITO BEM VESTIDA

    ALBERTO - NA JANELA - Minha mulher Clemncia!NEGREIRO - NA JANELA - Fique quieto.

    CLEMNCIA- ASSENTANDO-SE - Ai, j tarda... ste vestido me vai bem... Estou commeus receios... Tenho a cabea ardendo de alguns cabelos brancos que arranquei... No sei oque sinto; tenho assim umas lembranas do meu defunto... verdade que j estava velho.

    NEGREIRO - NA JANELA - Olhe, chama-o de defunto e velho!

    CLEMNCIA- Sobem as escadas! LEVANTA-SE

    NEGREIRO - Que petisco para o marido! E casai-vos!

    CLEMNCIA- le!

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    Cena 25

    ENTRA GAINER

    GAINER - ENTRANDO - D licena? Sua criado... Muito obrigada.NEGREIRO - NA JANELA - No h de que.

    CLEMNCIA- CONFUSA - O senhor... eu supunha... porem...eu. No quer se assentar?ASSENTAM-SE

    GAINER - Eu recebe uma carta para vir tratar de uma negocia.

    CLEMNCIA- Fiada em sua bondade...

    GAINER - Oh, meu bondade... obrigada.

    CLEMNCIA- O Sr. Mister bem sabe que... PARTE No sei o que lhe diga.

    GAINER - O que que eu sabe?CLEMNCIA- Talvez que no ignore que pela sentida morte de meu defunto... FINGE QUECHORA fiquei senhora de uma boa fortuna.

    GAINER - Boa fortuna bom.

    CLEMNCIA- Logo que estive certa de sua morte, fiz inventario, porque ficaram duas filhasmenores; assim me aconselhou um doutor S. Paulo. Continuei por minha conta com o negociodo defunto; porem o Sr. Mister bem sabe que numa casa sem homem tudo vai para trs. Oscaixeiros mangam, os corretores roubam; enfim, se isto durar mais tempo, dou-me porquebrada.

    GAINER - ste mau, quebrada mau.

    CLEMNCIA- Se eu porem tivesse porem uma pessoa hbil e diligente que se pusesse a testade minha casa, estou bem certa que ela tomaria outro rumo.

    GAINER - It is true.

    CLEMNCIA- Eu podia, como muitas pessoas me tem aconselhado, tomar um administrador,mas temo muito dar esse passo; o mundo havia ter logo que dizer, e minha reputao antes detudo.

    GAINER - Reputation, yes.

    CLEMNCIA- E alem disso tenho uma filha j mulher. Assim, o nico remdio que me resta casar.

    GAINER - Oh, yes! Casar Miss Mariquinha, depois tem uma genra para toma conta na casa.

    CLEMNCIA- No isso o que eu lhe digo!

    GAINER - Ento mi no entende portugus.

    CLEMNCIA- Assim me parece. Digo que preciso que eu, eu me case.

    GAINER - LEVANTANDO-SE - Oh, by, GOD! By god!

    CLEMNCIA- LEVANTANDO-SE - De que se espanta? Eu estou to velha que no possacasar?

    GAINER - Mi no diz isso... Eu pensa na home que ser sua marido.

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    CLEMNCIA- ( PARTE) - Bom... (PARA GAINER:) A nica coisa que me embaraa aescolha. Eu... ( PARTE) No sei como dizer-lhe... (PARA GAINER) As boas qualidades...GAINER J ENTENDEU A INTENO DE CLEMENCIA, ESFREGA, A PARTE ASMOS DE CONTENTE. CLEMENCIA, CONTINUANDO: H muito tempo que o conheo,

    e eu... sim... no pode... o estado deve ser considerado, e... ora... Por que hei-de eu Tervergonha de o dizer?... Sr Gainer, eu o tenha escolhido para meu marido; se o h-de ser deminha filha, seja meu...

    GAINER - Mim aceita, mim aceita!

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    Cena 26

    ABERTO SAI DA JANELA COM NEGREIRO E AGARRA GAINER PELA GARGANTA

    CLEMNCIA- O defunto, o defunto! VAI CAIR DESMAIADA NO SOF, AFASTANDOAS CADEIRAS QUE ACHA NO CAMINHO.

    GAINER - Goddam! Assassina!

    ALBERTO - LUTANDO - Tu que me assassinas!

    GAINER - Ladro!

    NEGREIRO - Toma l inglesinho! D-LHE POR TRS

    ALBERTO - LUTANDO - Tu e aqule infame...

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    Cena 27

    ENTRA MARIQUINHA E JLIA

    MARIQUINHA - O que isto? Meu pai! Minha me! CORRE PARA JUNTO DECLEMNCIA Minha me! ALBERTO AJUDADO POR NEGREIRO, QUE TRANA APERNA EM GAINER E LANA-O NO CHO. NEGREIRO FICA A CAVALO EMGAINER, DANDO E DESCOMPONDO; ALBERTO VAI PARA CLEMENCIA.

    ALBERTO - Mulher infiel! Em dois anos de tudo te esqueceste! Ainda no tinhas certeza deminha morte e j te entregavas a outrem? Adeus e nunca mais te verei. QUER SAIR,MARIQUINHA LANA-SE A SEUS PS

    MARIQUINHA - Meu pai, meu pai!

    ALBERTO - Deixe-me, deixe-me! Adeus! VAI SAIR ARREBATADAMENTE;CLEMNCIA LEVANTA A CABEA E IMPLORA A ALBERTO, QUE AO CHEGAR A

    PORTA ENCONTRA-SE COM FELCIO, NEGREIRO E GAINER NSTE TEMPOLEVANTAM-SE.

    FELCIO - Que vejo! Meu tio! Sois vs? TRAVANDO PELO BRAO O CONDUZ PARAA FRENTE DO TEATRO.

    ALBERTO - Sim, teu tio, que veio encontrar sua casa perdida e sua mulher infiel!

    GAINER - Seu mulher! Tudo est perdida!

    ALBERTO - Fujamos desta casa! VAI A SAIR APRESSADO

    FELCIO - INDO ATRS - Senhor! Meu tio! QUANDO ALBERTO CHEGA A PORTAOUVE-SE CANTAR DENTRO.

    UMA VOZ - DENTRO, CANTANDO

    de casa, nobre gente,

    Escutai e ouvireis,

    Que da parte do Oriente

    So chegados os trs Reis.

    ALBERTO - PARA PORTA - Oh, N.B.: CONTINUAM A REPRESENAR ENQUANTODENTRO CANTAM.

    FELCIO - SEGURANDO-O - Assim quereis abandonar-nos, meu tio?MARIQUINHA - INDO PARA ALBERTO - Meu pai!...

    FELCIO - CONDUZINDO-O PARA FRENTE - Que ser de vossa mulher e de vossasfilhas? Abandonadas por vs, todos as desprezaro... Que horrvel futuro para vossasinocentes filhas! Esta gente que no tarda a entrar espalhar por toda a cidade a noticia do seudesamparo.

    MARIQUINHA - Assim nos desprezais?

    JLIA - ABRINDO OS BRAOS COMO PARA ABRAA-LO - Pap, pap!

    FELCIO - Vde-as, vde-as!

    ALBERTO - COMOVIDO - Minhas filhas! ABRAA-AS COM TRANSPORTE

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    GAINER - Mim perde muito com ste... E vai embora!

    NEGREIRO - Aonde vai? QUER SEGURA-LO; GAINER D-LHE UM SOCO QUE OLANA NO CHO, DEIXANDO A ABA DA CASACA NA MO DE NEGREIRO.CLEMENCIA, VENDO ALBERTO ABRAAR AS FILHAS, LEVANTA-SE E CAMINHA

    PARA LE.CLEMNCIA - HUMILDE - Alberto!

    ALBERTO - Mulher, agradece s tuas filhas... ests perdoada... Longe de minha vista steinfame. Onde est le?

    NEGREIRO - Foi-se, mas, em suma, deixou penhor.

    ALBERTO - Que nunca mais aparea! PARA MARIQUINHA E FELCIO: Tudo ouvi juntocom aqule senhor, APONTA PARA NEGREIRO e vossa honra exige que de hoje a oito diasestejais casados.

    FELCIO - Feliz de mim!

    NEGREIRO - Em suma, fiquei mamado e sem o dote...

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    Cena 28

    ENTRAM OS MOOS VESTIDOS DE JAQUETA E CALAS BRANCAS

    UM DOS MOOS - Em nome de meus companheiros pedimos Senhora Dona Clemncia apermisso de cantarmos os Reis em sua casa.

    CLEMNCIA- Pois no, com muito gsto.

    O MOO - A comisso agradece. SAEM OS DOIS

    FELCIO - PARA ALBERTO - Morro de impacincia por saber como pode meu tio escapardas mos dos rebeldes para nos fazer to felizes.

    ALBERTO - Satisfarei com vagar a tua impacincia.

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    Cena 29

    ENTRAM OS MOOS E AS MOAS QUE VEM CANTAR OS REIS; ALGUNS DLES,

    TOCANDO DIFERENTES INSTRUMENTOS, PRECEDEM O RANCHO.CUMPRIMENTAM QUANDO ENTRAM.

    O MOO - Vamos a esta, rapaziada!

    UM MOO E UMA MOA - CANTANDO -

    (solo)

    No cu brilhava uma estrela,

    Que a trs magos conduzia

    Para o bero onde nascera

    Nosso Conforto e Alegria.(Cro)

    de casa, nobre gente,

    Escutai e ouvireis,

    Que da parte do Oriente

    So chegados os trs Reis.

    (RITORNELO)

    (Solo)

    Puros votos de amizade,Boas-festas e bons Reis

    Em nome do Rei nascido

    Vos pedimos que aceiteis

    (Cro)

    de casa, nobre gente,

    Escutai e ouvireis,

    Que da parte do Oriente

    So chegados os trs Reis.

    TODOS DA CASA - Muito bem!

    CLEMNCIA- Felcio convida as senhoras e senhores para tomarem algum refresco.

    FELCIO - Queiram ter a bondade de entrar, que muito nos obsequiaro.

    OS DO RANCHO - Pois no, pois no! Com muito gosto.

    CLEMNCIA- Queiram entrar CLEMNCIA E OS DE CASA CAMINHAM PARADENTRO E O RANCHO OS SEGUEM TOCANDO UMA ALEGRE MARCHA, EDESCEM O PANO.

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