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O S E CONOMISTAS

OS ECONOMISTAS - ie.ufrj.br · viajou para a Suécia com uma bolsa de estudos. No ano seguinte mu- ... (1961/65) de Cuba; os estudos teóricos se referem a problemas de de-semprego,

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OS ECONOMISTAS

MICHAL KALECKI

TEORIA DA DINÂMICA ECONÔMICA

ENSAIO SOBRE AS MUDANÇAS CÍCLICAS E ALONGO P RAZO DA ECONOMIA CAP ITALISTA

Apresentação de J orge MiglioliT radução de Pau lo de Almeida

FundadorVICTOR CIVITA

(1907 - 1990)

Editora Nova Cultura l Ltda .

Copyr igh t © desta edição 1977, Círcu lo do Livro Ltda .

Rua Paes Leme, 524 - 10º andarCEP 05424-010 - São Paulo - SP

Títu lo or igina l:T heory of Econom ic Dynam ics - An Essay on Ciclical and

Long-R un Changes in Capitalist Econom y

Texto publicado sob licença de George Allen & Unwin ,Londres (T eoria da Dinâm ica Econôm ica)

Direitos exclusivos sobre as Apresentações de au tor ia deJ orge Miglioli, Már io Luiz Possas e Tamás Szmrecsányi,

Editora Nova Cultura l Ltda .

Direitos exclusivos sobre as t raduções deste volume:Círcu lo do Livro Ltda .

Impressão e acabamento:DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA.

DIVISÃO CÍRCULO - FONE: (55 11) 4191-4633

ISBN 85-351-0918-8

AP RESENTAÇÃO

1) Adve rtê n c ia

A T eoria da Dinâm ica Econôm ica é a pr incipa l obra de Micha lKalecki a respeito das economias capita listas e const itu i leitu ra indis-pensável para quem deseja aprofundar seus conhecimentos sobre essaseconomias. Foi or igina lmente publicada em inglês em 1954 e, com a l-guns acréscimos e cor reções, em 1965. J á apareceu em vár ias ou t raslínguas: it a liano e espanhol (em 1956), polonês e japonês (1958), francêse a lemão (1966), grego (1980) e em sueco (1975) grande par te dela foiinclu ída numa seleção de textos de Kalecki. A t radução para a línguapor tuguesa foi publicada pela Abr il Cultura l, na sér ie “Os Pensadores”,em 1976.

Para o leitor que não conhece os t raba lhos de Kalecki e, folheandoo presen te livro, surpreenda-se com sua formulação matemát ica , t a lvezseja convenien te começar com o seguin te aviso dado pelo au tor , noPrefácio à edição japonesa da obra : “Este livro está cheio de equações,dados esta t íst icos, diagramas etc. Ao leitor isso pode provocar a er radaimpressão de que o tema cent ra l seja a aplicação da Matemát ica e daEsta t íst ica à pesquisa econômica . Mas não se t ra ta disso, absolu ta -mente. As equações matemát icas são usadas apenas para condensaro curso do raciocín io e dar -lhe maior precisão. Os dados esta t íst icosservem para demonst ra r que os resu ltados teór icos não cont radizemos fa tos e que, por tan to, esses resu ltados fornecem explicação fidedignados fenômenos pesquisados”.1

Em out ras pa lavras, o livro não const itu i um simples t ra tamentomatemát ico de concepções econômicas estabelecidas. E le compreende,

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1 Inclu ído em KALECKI, Micha l. Dziela. v. II, p. 214. Por in icia t iva da Academia Polonesade Ciências e com excelen te t raba lho editor ia l de J erzy Osia tynski, estão sendo publicadasem polonês as obras completas de Kalecki, sob o t ítu lo gera l de Dziela (Obras) e divididasem cinco volumes: 1) Capitalism o: Conjuntura e Em prego; 2) Capitalism o: Dinâm ica Eco-nôm ica; 3) S ocialism o; 4) Países em Desenvolvim ento; 5) Análises Econôm icas. Até 1981somente os dois pr imeiros volumes t inham sido publicados.

na verdade, um conjunto de pesquisas or igina is acerca da dinâmicadas economias capita listas, a í empregando-se a Matemát ica como lin -guagem e a Esta t íst ica como inst rumento de ver ificação empír ica dasconclusões teór icas.

Feita essa adver tência , vamos fa la r um pouco do au tor an tes deabordarmos o conteúdo do livro em questão.

2) Biografia e Obras 2

Micha l Kalecki nasceu em Lodz, em 22 de junho de 1899. Estudouna Escola Politécn ica de Varsóvia e depois na de Gdanski, mas nãochegou a graduar -se. Seu pr imeiro t ítu lo acadêmico ele o obteve aos57 anos de idade, quando, já in ternaciona lmente reconhecido, o governopolonês o nomeou professor un iversitá r io; e em 1964 a Universidadede Varsóvia lhe confer iu o t ítu lo de doutor honoris causa.

Foi um autodida ta . Em sua formação como economista , recebeuprofunda influência das obras de Marx e de ou t ros au tores marxistas.

Seu pr imeiro emprego como economista foi no Inst itu to de Pes-quisa de Conjuntura e Preços, de Varsóvia , em 1927. Em 1935, quandojá t inha publicado seu estudo inovador em teor ia dos ciclos econômicos,via jou para a Suécia com uma bolsa de estudos. No ano seguin te mu-dou-se para a Ingla ter ra , onde t raba lhou na Escola de Economia deLondres e depois na Universidade de Cambr idge (1937/39) e no Inst itu tode Esta t íst ica da Universidade de Oxford (1940/45).

Terminada a Segunda Guerra Mundia l, Kalecki prestou serviçosdurante a lgum tempo para a Organização In ternaciona l do Traba lhoe para o Governo polonês. Daí foi para o depar tamento econômico doSecreta r iado da ONU, onde ficou a té 1954.

Retornando à Polônia , ocupou diversos cargos: diretor de pesqui-sas no depar tamento de ciências econômicas da Academia Polonesa deCiências (1955/56), presidente da Comissão de P lanejamento de LongoPrazo (1957/60), vice-presidente do Conselho Econômico do Estado(1957/63), e t ambém, ao longo de todo esse tempo (isto é, de 1956 a1969), professor na Escola Cent ra l de P lan ificação e Esta t íst ica .

Kalecki morreu em Varsóvia no dia 17 de abr il de 1970.

Os t raba lhos de Kalecki podem ser separados em t rês grupos:sobre as economias capita listas desenvolvidas, sobre as economias sub-

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2 Para mais in formações sobre a biografia e as obras de Kalecki, os seguin tes t raba lhospodem ser consultados: MIGLIOLI, J orge (org.). Kaleck i. “Coleção Grandes Cien t istasSocia is”. S. Paulo. Editora Át ica , 1980; KOWALIK, Tadeus. “Biography of Micha l Kalecki”.In : Problem s of Econom ic Dynam ics and Planning — Essays in Honour of Michal Kaleck i.Varsóvia , Polish Scien t ific Publishers, 1964; FEIWEL, George. T he In telectual Capital ofMichal Kaleck i. Knoxville. The University of Tennessee Press, 1975; os vár ios a r t igos deOxford Bulletin of Econom ics and S tatistics, fevereiro de 1977, número especia l dedicadoa Kalecki. O livro de Feiwel contém a bibliografia completa de Kalecki.

desenvolvidas e sobre as economias socia listas. E le escreveu tambémacerca de ou t ros temas (por exemplo: questões de polít ica , esta t íst ica ,matemát ica teór ica , metodologia econômica etc.), mas suas pr incipa iscont r ibu ições in telectua is estão cont idas nos t raba lhos an ter iormenterefer idos.

Seus pr imeiros escr itos (1927/32) sobre as economias capita listasabordam problemas de produção e comercia lização (a í inclu indo o casode car téis in ternaciona is) de mercador ias específicas, e depois a lgumasquestões de cará ter mais gera l. A grande cr ise econômica de 1929/33exerceu uma influência decisiva sobre as preocupações teór icas de Ka-lecki. Em 1933 ele publicou “Esboço de uma Teor ia do Ciclo Econômico”,que se tornou um dos seus t raba lhos mais famosos, e dessa época a téo fim de sua vida ele se empenhou em estudar os problemas da dinâmica(flu tuações cíclicas e mudanças de longo prazo) das economias capita -listas. Depois volta remos a esse assunto.

Na pr imeira metade da década de 1950, ao t raba lhar no Secre-ta r iado da ONU, Kalecki passou a ter conta to com pa íses subdesen-volvidos e a in teressar -se por seus problemas econômicos. Como resu l-tado, elaborou vár ios estudos, t an to prá t icos como teór icos.3 Os pr i-meiros incluem rela tór io sobre os problemas econômicos de Israel, ob-servações sobre o terceiro plano econômico da Índia , plano qüinqüena l(1961/65) de Cuba; os estudos teór icos se referem a problemas de de-semprego, a juda econômica in ternaciona l, desenvolvimento econômico.Dent re esses ú lt imos estudos, o mais impor tan te se in t itu la “O Pro-blema do F inanciamento do Desenvolvimento Econômico”, publicadoor igina lmente no México em 1954 e que teve grande influência naformação do pensamento est ru tura lista da CEPAL.

Voltando para a Polônia em 1955, no ano seguin te Kalecki seviu no meio das manifestações polít icas que der rubaram o governosta lin ista de en tão e cr ia ram, no pa ís, um ambiente democrá t ico fa -vorável ao ressurgimento cu ltura l. Na á rea da Economia in iciou-se umgrande deba te que inclu ía desde os pr incípios básicos dessa ciênciaa té questões muito específicas do sistema produt ivo polonês. Nessemesmo ano, Kalecki apresen tou dois t raba lhos sobre economia socia -lista : no pr imeiro, procurava colocar nos devidos termos o papel doinvest imento no crescimento econômico; no segundo, defendia a idéiada necessidade de reforçar os conselhos operár ios dent ro das empresase de dar -lhes par t icipação no processo de planejamento.4 Nos anosseguin tes publicou muitos ou t ros estudos sobre as economias socia listasem gera l e a economia polonesa em par t icu la r . De todos eles, o mais

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3 Esses t raba lhos se encont ram reunidos em: KALECKI, Micha l. Essays on Developing Coun-tries. Sussex, The Harvester Press. 1976. Em por tuguês, vár ios deles estão inclu ídos em:1) KALECKI. Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas. S. Paulo. Editora Hucitec,1977; 2) MIGLIOLI, J orge (org.). Kaleck i. Op. cit.

4 Ambos os t raba lhos se encont ram em MIGLIOLI (org.). Kaleck i. Op. cit.

impor tan te é o livro In trodução à T eoria do Crescim ento em Econom iaS ocialista (pr imeira edição em 1963 e a segunda , ampliada , em 1968),que hoje se encont ra t raduzido para vár ios idiomas.5

3) A Obra de Kale cki n a His tória do P e n sam e n to Econ ôm ico

A grande cont r ibu ição de Kalecki para o en tendimento do modocomo funciona e se desenvolve a economia capita lista está em suaformulação e seu aprofundamento do pr incípio da demanda efet iva .Para compreender a grandeza de sua cont r ibu ição, é preciso observá-ladent ro da h istór ia do pensamento econômico.6

Em seu livro A R iqueza das N ações (1776), Adam Smith haviadefendido a impor tância da fruga lidade para o progresso econômico:quanto maior a poupança (dos capita listas), maior ser ia a acumulaçãode capita l e, por tan to, o refer ido progresso. E le condicionava a acumu-lação à existência de uma poupança prévia e estabelecia , ou pelo menossuger ia , o pr incípio de que toda produção ter ia de ser necessar iamentecomprada : a par te não consumida , isto é, poupada , ser ia adquir idapara acumulação.

Algumas décadas mais ta rde, den t ro dessa linha de raciocín io,J ames Mill na Ingla ter ra e J ean-Bapt iste Say na França vir iam aformular o que passou , poster iormente, a ser conhecido como “lei dosmercados de Say”, segundo a qua l toda produção cr iava uma demandanecessár ia para absorvê-la . De acordo com Mill (A Defesa do Com ércio,1808): “A produção de mercador ias cr ia , e é a ún ica e un iversa l causaque cr ia , um mercado para as mercador ias. (...) A demanda de umanação é sempre igua l à produção de uma nação”. Segundo Say (T ratadode Econom ia Política, 1814): “Um produto, t ão logo seja cr iado, nessemesmo instan te gera um mercado para ou t ros produtos em toda agrandeza de seu própr io va lor”.

Foi David Ricardo, porém (em seus Princípios de Econom ia Po-lítica e T ribu tação, 1817), quem deu consistência teór ica à “lei de Say”;mais ta rde, J ohn Stuar t Mill (Princípios de Econom ia Política , 1848)se encar regou de t ransformá-la em dogma, e como ta l ela foi incorporadapelos economistas neoclássicos.

Tendo adotado a “lei de Say”, Ricardo passou a aplicá -la coeren-temente à aná lise de diversos problemas econômicos e com isso con-t r ibu iu decisivamente para que economistas poster iores a aceitassemsem quest ionamento. Graças à in fluência de Ricardo, a “lei de Say”assumiu uma impor tância fundamenta l na in terpretação dos mais di-versos problemas: a acumulação de capita l e o desenvolvimento eco-

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5 Esse livro, t raduzido e prefaciado por Luiz L. Vasconcelos, foi publicado em Por tuga l pelaEditora Prelo, Lisboa , 1978, e no Brasil pela editora Brasiliense, S. Paulo, 1982.

6 Esse tema é t ra tado minuciosamente em MIGLIOLI, J orge. Acum ulação de Capital e De-m anda Efetiva . S. Paulo, T. A. Queiroz Editor , 1981.

nômico, a impossibilidade de cr ise de superprodução, a dist r ibu ição derenda en t re sa lá r ios e lucros, a insign ificância da expor tação e dosgastos públicos para o aumento da produção.

Se é a produção que cr ia a demanda , en tão esta ú lt ima tem umpapel passivo. A acumulação de capita l e o progresso econômico de-pendem apenas da produção, não encont rando nenhum obstácu lo porpar te da demanda . Na verdade, uma par te da renda gerada no processoprodut ivo deixa de ser gasta em consumo, ou seja , é poupada , e issopoder ia sign ifica r que essa par te gera r ia um excedente de produção,um volume invendável de mercador ias. Isso, porém, não acontece, deacordo com Ricardo e seus seguidores. A par te poupada da renda deum capita lista ser ia usada de dois modos: diretamente para acumulaçãode capita l (que const itu i uma compra de mercador ias) e/ou para em-prést imo a ou t ros capita listas, que a usar iam para acumulação; assim,toda poupança se t ransformar ia em acumulação de capita l (invest i-mento, na linguagem a tua l) e, por tan to, toda a produção esta r ia sendovendida : uma par te para consumo e ou t ra para acumulação.

Poder ia haver circunstancia lmente um excesso de produção emalguns setores específicos de a t ividade, mas isso ser ia logo cor r igido:os capita is estabelecidos neles se deslocar iam para os setores onde hádemanda .

Como a demanda não const itu i obstácu lo para a produção, porqueé cr iada por esta , en tão a acumulação de capita l e o desenvolvimentoeconômico passam a ser determinados apenas pelas condições da pro-dução. Ent re estas, a t axa de lucro tem um papel essencia l, porquequanto maior ela for , maior será a taxa de poupança e, conseqüente-mente, a t axa de acumulação. Considerando-se que o preço é dado(isto é, determinado pelas condições da concor rência ), o lucro passa adepender do sa lá r io: quanto maior este, menor aquele. A suposiçãofundamenta l dessa conclusão é a de que a renda tota l (composta desa lá r ios e lucros) é uma grandeza dada ; da í, o aumento na parcela dossa lá r ios dá como resu ltado uma redução de igua l magnitude na parcelados lucros. Logo, o pr incipa l empecilho à acumulação passa a ser oaumento dos sa lá r ios.

A suposição adotada nesse a rgumento tem vár ias ou t ras impli-cações e por isso deve ser melhor escla recida . Segundo a “lei de Say”,a produção cr ia sempre sua própr ia demanda , ou , em out ros termos,toda a renda gerada na produção é necessar iamente gasta na compradessa mesma produção. Por tan to, o poder de compra dessa renda nãoé a fetado pelo modo como ela se dist r ibu i (da í por que a “lei de Say”é às vezes chamada de “lei da preservação do poder de compra”). Sea renda for redist r ibu ída em benefício dos sa lá r ios, isso sign ifica ráapenas que os t raba lhadores (com seus maiores sa lá r ios) comprarãomais e os capita listas (com seus menores lucros) comprarão menos,mas o montan te tota l da produção e da renda não será modificado.

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De acordo com esse mesmo pr incípio, se os t r ibu tos forem aumentados,isso não a feta rá a produção, mas apenas t ransfer irá para o Estadouma par te do poder de compra dos indivíduos. Do mesmo modo, se asexpor tações forem incrementadas, a produção não será a lterada , porquea par te a ser expor tada , se permanecer no pa ís, será adquir ida pelopoder de compra naciona l gerado pela própr ia produção.

Ainda no tempo de Ricardo, a “lei de Say” e suas implicaçõesforam refu tadas por diversos au tores, en t re eles Thomas Rober t Mal-thus — o mesmo que se tornou conhecido por sua teor ia populaciona l.De acordo com Malthus (em seus Princípios de Econom ia Política , 1820),a demanda tende a ser in fer ior à produção. Isso porque, se os t raba-lhadores gastam toda sua renda , o mesmo não acontece com os capi-ta listas. Dos lucros tota is, os capita listas usam uma par te para con-sumir e ou t ra para acumular capita l, mas uma par te restan te não égasta em coisa nenhuma, porque, em vez de gasta r , os capita listasmanifestam uma “preferência pela indolência” (que, diga-se de passa-gem, é um conceito muito semelhante ao de “propensão a poupar”formulado por Keynes um século mais ta rde). Se a demanda não énecessar iamente igua l à produção, en tão o progresso econômico dependenão apenas do acréscimo da capacidade produt iva mas também dosdeterminantes do aumento da demanda efet iva , imprescindível parapôr em operação aquela acrescida capacidade. Ent re esses determi-nantes, Malthus menciona a redist r ibu ição da renda , a expansão dasexpor tações e dos gastos improdut ivos (en t re os qua is se incluem osgastos públicos).

Também Kar l Marx se opôs fron ta lmente à “lei de Say”. De acordocom ele, o processo de reprodução pode ser dividido em diferen tes mo-mentos. De posse de um dado montan te de dinheiro (D), os capita listasadquirem um determinado volume de mercador ias (M ), de dois t ipos:meios de produção (matér ias-pr imas, equipamentos etc.) e força de t ra -ba lho. Operando com os meios de produção, a força de t raba lho geranovas mercador ias (M ′), de maior va lor (isto é, M ′ > M ). A t ransformaçãode D em M e de M em M ′ const itu i o processo de cr iação de va lor , oude produção stricto sensu . Mas o processo de produção lato sensu nãofoi conclu ído, porque o va lor criado a inda não foi realizado; pa ra isso,é preciso que as mercador ias produzidas (M ′) sejam vendidas (conver -t idas em D′). Assim, o processo completo pode ser expresso comoD → M → M ′ → D′. Os momentos D → M e M → M ′ dependem das con -dições própr ias da produção (existência de matér ias-pr imas, equipa-mentos, força de t raba lho, o n ível de produt ividade etc.); a t ransfor -mação de M ′ em D′ depende das condições da rea lização, e nada garan teque o va lor cr iado (M ′) seja necessar iamente rea lizado, tornado realpara os capita listas.

Assim, para Marx, e cont ra r iamente à “lei de Say”, a demanda

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não é necessar iamente igua l à produção. Mais do que isso, a produçãoou ofer ta de mercador ias tende na tura lmente, no capita lismo, a sermaior do que sua demanda . Vejamos a razão disso. O va lor de todasas mercador ias lançadas no mercado se decompõe em t rês par tes: C,ou capita l constan te, compreendendo os insumos incorporados nas mer-cador ias e o desgaste (ou depreciação) dos equipamentos empregadosna produção; V , ou capita l var iável, cor respondente aos sa lá r ios pagos;S , a mais-va lia ou lucro que os capita listas esperam aufer ir . Em suma,o va lor tota l da ofer ta é igua l a W = C + V + S .

Para produzir esse va lor , os capita listas gasta ram um montan teigua l a C + V. Ou seja , para produzir mercador ias no va lor de W = C+ V + S , os capita listas demandaram mercador ias no va lor de C + Ve, por tan to, sua ofer ta é maior do que sua demanda . Para produzirW, os capita listas t iveram de comprar meios de produção no va lor deC; como são os própr ios capita listas que vendem essas mercador ias(uns vendem para os ou t ros), isso sign ifica que para produzir W oscapita listas au tomat icamente rea lizam o va lor de C. Tiveram tambémde comprar força de t raba lho no va lor de V . Supondo-se que os t raba-lhadores não poupam, en tão todo o montan te V de sa lá r ios é gastopor eles na compra de bens de consumo. Como são os capita listas quevendem esses bens, en tão, para produzir W, os capita listas au tomat i-camente rea lizam também o va lor de V . Em conclusão: para produzirW = C + V + S , os capita listas (diretamente, no caso de C, ou a t ravésdos t raba lhadores, no caso de V ) demandam, e vendem, mercador iasno va lor de C + V . Fa lta , contudo, rea liza r o va lor de S . Que sign ificaisso? Significa que se os capita listas rea liza ram apenas o va lor de C+ V , eles não obt iveram lucros, mas tão-somente t iveram custos.

Como é que os capita listas, considerados em conjunto, conseguemrea liza r a mais-va lia , aufer ir um lucro? A resposta é: comprando, unsdos ou t ros, mais mercador ias, a lém daquelas cor respondentes ao va lorde C + V . Que mercador ias são estas? Os capita listas, enquanto pessoas,precisam consumir ; logo, eles compram bens de consumo. Os capita -listas, enquanto agentes do capita l, preocupam-se em acumular ; logo,eles compram bens de invest imento (novos equipamentos etc.). Emconclusão: o montan te do lucro aufer ido pelos capita listas em conjuntova i depender do quanto eles mesmos gastam na compra de bens deconsumo e de invest imento. Assim, supondo-se que a capacidade pro-dut iva tota l da economia é dada , o lucro é determinado pelo invest i-mento e consumo dos capita listas. E esse lucro só por acaso será igua lao S da equação da ofer ta .

Essas conclusões, que mais ta rde ser iam cla ramente explicadaspor Kalecki, podem ser t iradas diretamente da teor ia de Marx (ver ,por exemplo, O Capital, v. II, p. I, cap. 4). Todavia , os pr imeiros se-guidores e estudiosos de Marx não en tenderam devidamente sua ex-plicação do problema da rea lização no processo de acumulação de ca-

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pita l. Alguns simplesmente ignoraram ou minimizaram a impor tânciado problema, e os ou t ros deram as mais diferen tes in terpretações. Maso deba te que se t ravou , se não levou a uma conclusão gera l, pelo menosserviu para assen ta r cer tos pontos específicos.

Por exemplo, Tugan-Baranovski (em seu livro sobre As CrisesIndustriais na Inglaterra, edição russa de 1894 e edição francesa , mo-dificada , de 1913) deixou bem cla ro duas questões básicas: 1) o desen-volvimento da economia capita lista depende não apenas da expansãodas forças produt ivas, mas também da ampliação dos mercados paraabsorver a produção; 2) cont ra r iamente à tese dos teór icos subconsu-mistas, o aumento do consumo (seja dos t raba lhadores ou dos capita -listas) não é imprescindível para rea liza r a crescente produção; estapode ser rea lizada apenas no setor produtor de equipamentos — porexemplo, são produzidas máquinas para produzir mais máquinas parafazer a inda mais máquinas. Também Rosa Luxemburg (em A Acum u-lação de Capital, 1913) acentuou o pr imeiro ponto. Mas não en tendeuo segundo; para ela , era necessár io haver um mercado externo (forado sistema capita lista ) para absorver a crescente produção e, assim,est imular a acumulação capita lista . Esta é uma fa lsa solução teór ica :apesar disso, ao propô-la , Rosa Luxemburg destacou uma questão re-levante para as economias capita listas: o papel das expor tações e dosgastos públicos (especia lmente com armamentos) no processo de rea-lização da produção.

Fora da cor ren te marxista , poucos foram os economistas, a té adécada de 1930, que se in teressaram pelo problema da demanda efet iva .Ent re esses poucos, destaca-se J . A. Hobson , cu ja pr incipa l obra sobreo assunto, A Econom ia do Desem prego, foi publicada em 1923. Hobsonera um teór ico do subconsumismo: segundo ele, a capacidade produt ivada economia crescia mais rapidamente do que a capacidade de consumoda sociedade, e isso acontecia devido à má dist r ibu ição de renda : deum lado, os t raba lhadores, com ba ixas rendas, não podiam aumentarseu consumo, e de ou t ro lado, os capita listas, com a ltas rendas, for -mavam grandes poupanças, acumulavam capita l, ampliando cada vezmais a capacidade produt iva .

A grande cr ise econômica in iciada em 1929 acabar ia por forçaro reconhecimento da impor tância da demanda efet iva no processo ca-pita lista de produção. É verdade que, apesar da dramat icidade comque o problema se apresen tava , a esmagadora maior ia dos economistasde formação or todoxa cont inuou a susten ta r opin iões apoiadas na “leide Say”.7 Mas uns poucos, menos apegados à or todoxia , começaram aver o problema. Isso aconteceu simultaneamente com dois grupos de

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7 Alguns exemplos dessas opin iões foram relacionados por HARROD, Roy. T he Life of J ohnMaynard Keynes. Londres, 1951; KLEIN, Lawrence. T he Keynesian R evolu tion . 2ª ed., Lon-dres, 1968; e LEKACHMAN, Rober t . T he Age of Keynes. Londres, 1968.

economistas europeus nos pr imeiros anos da década de 1930. De umlado, R. Fr isch , B. Ohlin e pr incipa lmente Gunnar Myrda l, mais in -fluenciados pela obra de Knut Wicksell, puseram em discussão as re-lações en t re poupança e invest imento. Na Ingla ter ra , J ohn MaynardKeynes (um decla rado admirador de Malthus) e a lguns discípu los —ent re os qua is J oan Robinson — preparavam uma revolução cont ra odomínio da “lei de Say”, o que aconteceu com a publicação, em 1936,da T eoria Geral do Em prego, do J uro e da Moeda de Keynes. Depoisdo aparecimento dessa obra , e graças também ao grande prest ígio deseu au tor nos meios polít icos acadêmicos ocidenta is, o pr incípio dademanda efet iva foi ganhando aceitação gera l.

Antes, contudo, de surgir a T eoria Geral de Keynes, Kalecki jáhavia publicado, em polonês, t rês estudos8 que const itu íram, em con-jun to, a pr imeira formulação precisa e sistemát ica do papel da demandaefet iva no processo de reprodução capita lista . Nesses estudos pode-seconsta ta r cla ramente a in fluência de Marx, Tugan-Baranovski e RosaLuxemburg, como o própr io Kalecki o reconhece.9 E a par t ir deles Ka-lecki foi ampliando e apr imorando suas concepções, que cu lminaramcom a publicação de sua T eoria da Dinâm ica Econôm ica em 1954 —da qua l fa la remos adian te.

Apesar de sua formação marxista e da or igina lidade de suas con-cepções, que precederam o aparecimento da T eoria Geral de Keynes,duran te muito tempo Kalecki foi iden t ificado como um “keynesiano”.Na verdade, aconteceu o cont rá r io: foi ele quem in t roduziu diversasidéias que depois foram adotadas pela chamada “Economia Keynesia -na”; como escreveu J oan Robinson: “Poucos da a tua l geração de ‘key-nesianos’ param para indagar quanto eles devem a Kalecki e quantorea lmente a Keynes”.10

A par t ir da segunda metade da década de 1950 — e graças àdivulgação feita , en t re ou t ros, por J oan Robinson , Paul Baran , PaulSweezy e Lawrence Klein — a or igina lidade das idéias de Kalecki esua formação marxista começaram a ser mais conhecidas. Muitos eco-nomistas marxistas passaram a perceber que a obra de Kalecki sobreas economias capita listas, embora desprovida do vocabulá r io marxistat radiciona l e com todo o est ilo formal e as expressões matemát icas,const itu ía um desenvolvimento do velho “problema da rea lização”.11

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8 Esses t rês estudos são: “Esboço de uma Teor ia do Ciclo Econômico” e “Comércio In ternaciona le ‘Expor tações In ternas’”, de 1933. e “O Mecanismo da Recuperação Econômica”, de 1935.O pr imeiro foi t ambém publicado, com versões diferen tes, em francês e inglês em 1935.Esses estudos estão inclu ídos em Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas. Op. cit.

9 A esse respeito, ver KALECKI. “As Equações Marxistas de Reprodução e a Economia Mo-derna” e “O Problema da Demanda Efet iva em Tugan-Baranovski e Rosa Luxemburg”. In :Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas .

10 ROBINSON, J oan . “Kalecki and Keynes”. In : Problem s of Econom ic Dynam ics and Planning.Op. cit.

11 Como mais ta rde escreveu Maur ice Dobb (T heories of Value and Distribu tion since Adam

4) A Te oria da Din âm ica Econ ôm ica

A respeito das economias capita listas, Micha l Kalecki elaborouapenas t rês livros: Ensaios em T eoria das Flu tuações Econôm icas(1939), Estudos de Dinâm ica Econôm ica (1943) e T eoria da Dinâm icaEconôm ica (1954);12 todos seus ou t ros livros acerca dessas economiasconst ituem coleções de a r t igos or igina lmente publicados em revistase/ou de capítu los específicos daqueles t rês livros.

Com o o a u t or escla rece no pr efá cio da T eoria da Dinâm icaE con ôm ica , est e livro subst it u i os dois a n ter iores. Ou seja , em borat r a t e dos m esm os t em a s dos ou t ros dois, con st it u i u m novo livro.E isso em t r ês sen t idos: pr im eiro, porque r epr esen ta um apr im ora -m en to; segun do, por qu e a borda a lgu m as n ova s quest ões; t er ceiro,porqu e se u t iliza de n ovos da dos est a t íst icos pa r a ver ificaçã o dosa r gu m en tos t eór icos. E m sum a , o ú lt im o livro const it u i a ver sãom ais com plet a das idéias de Ka leck i sobre o p roblem a da dinâ m icada s econ om ias capit a list a s.

Assim, os dois livros an ter iores represen tam versões precursoras.Mas não apenas eles: na verdade, quase todos os temas t ra tados naT eoria da Dinâm ica Econôm ica foram sendo apr imorados em sucessivost raba lhos, muitos dos qua is publicados como ar t igos de revistas. Porout ro lado, a lguns desses mesmos temas cont inuaram a ser estudadospor Kalecki depois da publicação da T eoria da Dinâm ica Econôm ica.Por tan to, para o leitor in teressado na evolução das idéias do au tor arespeito desses temas, relacionamos, mais adian te, os t raba lhos queprecederam e sucederam o refer ido livro.

De que t ra ta a T eoria da Dinâm ica Econôm ica? Embora seu sub-t ítu lo seja Ensaio S obre as Mudanças Cíclicas e a Longo Prazo daEconom ia Capitalista, o livro abrange também o problema da deter -minação do n ível da renda (ou da produção) a cur to prazo.

As economias capita listas em gera l se desenvolvem dent ro deum padrão cíclico: ou seja , elas se expandem, mas com flu tuações pe-r iódicas. Assim, a produção ao longo do tempo pode ser represen tadacomo um movimento ondula tór io, como a curva C na F igura 1. Mas,apesar das flu tuações, a produção cont inua a crescer ; isto é, o movi-mento ondula tór io se dá em torno de uma tendência crescente, expressapela reta T na F igura 1. Nesse compor tamento das economias capita -listas, é possível separar t rês t ipos de questões:

1) por que, num determinado ano, a renda a t ingiu um cer to n ível,

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Smith . Londres, 1973. p. 221): “Quanto a Kalecki (...) sua obra podia , rea lmente, ser con-siderada uma formalização do ‘problema da rea lização’; e, exceto por sua apresen taçãor igidamente formal e matemát ica , os marxistas podiam sent ir -se num mundo familia r”.

12 Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations. Londres, Allen & Unwin , 1939; S tudies inEconom ic Dynam ics. Londres, Allen & Unwin , 1943; T heory of Econom ic Dynam ics. Londres,Allen & Unwin , 1954.

e não out ro n ível qua lquer? Ou, por exemplo, para usar a F igura 1,por que, no ano ti , a renda a lcançou o n ível R i?;

2) por que a renda oscila ao longo do tempo? Ou, por que a rendaapresenta o movimento descr ito pela curva C?;

3) por qu e a r en da cr esce? Ou , com o explica r a t en dên ciacr escen t e T ?

É cla ro que essas t rês questões estão est reitamente relacionadas.Mais do que isso; a longo prazo t ra ta -se de um único problema: comoexplicar o compor tamento da produção no decor rer do tempo? A expli-cação gera l para essa pergunta responder ia simultaneamente as t rêsrefer idas questões: a t endência crescente da produção, seu movimentocíclico e o n ível a t ingido em cada ano, t endo em vista que, ao longodo tempo, o compor tamento da produção nada mais é do que umasucessão de produções anua is. Metodologicamente, contudo, é possívelseparar o problema gera l nas t rês questões específicas, e isso é o quetem sido feito na Ciência Econômica . A pr imeira questão é usua lmenteconhecida como “determinação do n ível da renda” (ou , em termos maisgera is, “da a t ividade econômica”) e const itu i um problema de “está t icaeconômica”, pois não envolve mudanças ao longo do tempo: t ra ta -sede explicar o n ível da renda num único momento (isto é, num ano).As duas ou t ras questões são de “dinâmica econômica”: em ambas oobjeto de estudo são exa tamente as var iações do n ível de renda aolongo do tempo. Mas essas duas questões se diferenciam pelo fa to deque o objeto de estudo, em uma delas, são as mudanças cíclicas e, naout ra , é o crescimento da renda .

Essas duas questões de dinâmica econômica têm sido estudadasseparadamente. A aná lise dos ciclos e a do crescimento econômico ra -ramente são in tegradas numa única teor ia . E las chegam mesmo a cons-t itu ir dois capítu los em separado da Ciência Econômica . Sua não-in-tegração se deve a duas razões básicas. A pr imeira decor re de in junçõeshistór icas e mesmo do modismo. Assim, por exemplo, duran te e a té

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muitos anos depois da grande cr ise econômica de 1929/33, surgiu umavasta lit era tura sobre os ciclos; depois, quando as economias capita listasen t ra ram num r itmo de firme expansão, a tôn ica se deslocou para ateor ia de crescimento (nessa época , a elaboração de “modelos de cres-cimento econômico” virou moda , e a lguns au tores chegaram a fa la r dofim dos ciclos); na década de 1970, quando as economias capita listasvolta ram a apresen ta r acentuadas flu tuações, as teor ias dos ciclos foramressuscitadas.

A segunda razão está na dificu ldade de in tegrar consisten tementenuma única formulação teór ica o problema dos ciclos e o do crescimento.Essa dificu ldade se torna maior quando, como no caso de Kalecki, aexplicação teór ica é apresen tada sob a forma de um modelo matemát ico.

O objet ivo da T eoria da Dinâm ica Econôm ica é o de explicarcomo, nas economias capita listas, sendo dadas suas condições própr iasde produção, a renda naciona l e cada um de seus componentes (lucrose sa lá r ios, pelo ângulo da renda , e consumo e invest imento, pelo pr ismada despesa) são determinados.

Determ inação de Lucros, S alários e R enda N acional. De acordocom Kalecki, o volume tota l de lucros num dado ano é determinadopelo invest imento, consumo dos capita listas, déficit orçamentár io doGoverno e sa ldo de expor tações (ver capítu lo 3). Se, para simplifica r ,exclu ímos estas duas ú lt imas grandezas, t emos: lucros = invest imentos+ consumo dos capita listas. Ou seja , como já havia sido indicado porMarx, os lucros rea lizados pelos capita listas como um todo são tan tomaiores quanto mais eles investem e consomem.

De que depende, por sua vez, o volume tota l de sa lá r ios? Se ataxa de sa lá r io (isto é, o sa lá r io por t raba lhador) não se a ltera , en tão,quanto maior a produção, maior o emprego de força de t raba lho e,por tan to, maior o montan te de sa lá r ios; logo, este ú lt imo depende daprodução. Esta pode ser dividida em t rês setores: o setor I produz bensde invest imento, o II produz bens de consumo para os capita listas, eo III produz bens de consumo para os t raba lhadores. A produção desteú lt imo setor va i depender do montan te de sa lá r ios; supondo-se que ost raba lhadores não poupam, en tão, quanto maior esse montan te, maiora compra e, assim, a produção de bens do setor III. Se o volume desa lá r ios depende da produção, mas, por ou t ro lado, a produção do setorIII depende daquele, isso sign ifica que ele é determinado pela produçãodos setores I e II: o aumento da produção nesses dois setores implicao crescimento de seu volume de emprego e de sa lá r ios; esse acréscimode sa lá r ios, por seu tu rno, va i provocar o aumento da produção, doemprego e do montan te de sa lá r ios no setor III. Assim, o volume tota lde sa lá r ios é determinado também pelo invest imento e consumo doscapita listas.

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Se essas duas grandezas determinam tan to os lucros como ossa lá r ios, e sendo a renda naciona l igua l à soma de lucros e sa lá r ios,en tão elas também determinam a renda naciona l. Mas, é preciso ob-servar , essa conclusão só é vá lida se supomos que a dist r ibu ição darenda en t re sa lá r ios e lucros não se a ltera . Para sermos mais exa tos:o montan te de sa lá r ios e a renda naciona l dependem não apenas doinvest imento e consumo dos capita listas, mas também da repar t içãoda renda en t re sa lá r ios e lucros na economia como um todo.

Consideremos um aumento no invest imento e no consumo doscapita listas, isto é, na produção dos setores I e II. Os lucros terão umigua l acréscimo. Mas o aumento no montan te de sa lá r ios va i dependerda dist r ibu ição da renda nos t rês setores. Se, ao crescer a produçãodos setores I e II, a repar t ição da renda não se a ltera r , en tão o montan tede sa lá r ios crescerá na mesma proporção dos lucros; se a repar t içãose modifica r em benefício destes ú lt imos, en tão o volume de sa lá r ioscrescerá menos. Enfim, o montan te de sa lá r ios depende não só do in-vest imento e do consumo dos capita listas, mas também da repar t içãoda renda . O mesmo acontece com a renda naciona l.

Distribu ição de R enda. Consta tada a impor tância da dist r ibu içãoda renda na determinação do produto naciona l, cabe explicar a própr iadist r ibu ição. É com a aná lise desse problema que Kalecki in icia seulivro. Na economia como um todo, a repar t ição da renda const itu i amédia ponderada da repar t ição nos diferen tes ramos produt ivos. E ,em cada ramo, a dist r ibu ição é função de dois fa tores: 1) o grau demonopólio e 2) a relação en t re o custo dos insumos mater ia is e ossa lá r ios. Quanto maior o grau de monopólio, maior é o preço (e, den t rodele, o lucro) que uma indúst r ia pode cobrar por sua mercador ia emrelação ao custo de sua produção (onde se incluem o custo dos insumose os sa lá r ios); logo, maiores são os lucros em relação aos sa lá r ios, istoé, maior é a par t icipação dos lucros na renda gerada . Em segundolugar , quanto maior o custo dos insumos em relação aos sa lá r ios, ecomo os lucros são aufer idos sobre a soma de insumos e sa lá r ios, en tãomaiores são os lucros em relação aos sa lá r ios (ver capítu lo 2).

Form ação de Preços. O ponto fundamenta l dessa explicação dadist r ibu ição da renda é o problema do grau de monopólio, o qua l implicatoda uma teor ia da formação dos preços. Por isso mesmo é que Kalecki,an tes de formular aquela explicação, t ra ta de estabelecer sua teor iada formação de preços (ver capítu lo 1).

Em seus pr imeiros t raba lhos de Economia , de 1928 a 1932, Ka-lecki estudou muitos casos rea is de produção e comercia lização de mer-cador ias e pôde observar a ação monopolista das empresas sobre osmercados. Por isso, ele jamais aceitou a teor ia neoclássica dos preços,apoiada no pr incípio da concor rência per feita , e viu-se obr igado a for -

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mular sua própr ia teor ia , no que foi in fluenciado pelas obras pioneirasde Sraffa , Chamber lin e J oan Robinson sobre o tema.13 Sua teor ia éa seguin te: excetuando a agr icu ltura (onde os produtos são pouco di-ferenciados e, a cur to prazo, a ofer ta é r ígida , e onde, por tan to, ospreços são determinados pela demanda), nos demais setores existe re-serva de capacidade produt iva , e as empresas — seja pela concent raçãoindust r ia l ou seja pela propaganda , diferenciação rea l ou fict ícia desuas mercador ias etc. — detêm poder sobre seus mercados para fixaremos preços de seus produtos. Para isso, cada empresa toma por baseseu custo médio de produção (insumos e sa lá r ios) e acrescenta suamargem de lucro, levando em conta o preço médio das ou t ras firmas.Quanto maior o domínio sobre o mercado — isto é, o “grau de monopólio”— por parte de uma empresa, maior será o preço por ela fixado para seuproduto em relação a seu custo médio e, portanto, maior será seu lucro.

A concepção de Kalecki sobre o processo de formação dos preçosfoi publicada pela pr imeira vez em 1938 e a par t ir da í, em sucessivost raba lhos, foi sendo apr imorada . Mas a té hoje cont inua sendo um dospontos mais discu t idos de toda sua obra sobre as economias capita listas— e nem poder ia deixar de ser assim, visto cont ra r ia r fron ta lmente ateor ia neoclássica dos preços, que é o mito mais sagrado dessa cor ren tedo pensamento econômico, dominante no mundo ocidenta l. De qua lquermodo, aceitando-a ou não, no todo ou em par te, um fa to tem de serreconhecido: ao relacionar est reitamente a determinação do produtonaciona l com a dist r ibu ição de renda e com o processo de formaçãodos preços, Kalecki conseguiu in tegrar numa só teor ia t rês problemasqu e na Ciên cia E conôm ica or t odoxa são u sua lm ente t r a t ados emsepara do (ha ja vist a a t r ad icion a l separa çã o da Macroeconom ia eda Microeconomia ).

Im portância Fundam ental do Investim ento. Podemos volta r agoraao problema da determinação do n ível da a t ividade econômica . J á dis-semos que os lucros dos capita listas como um todo num ano qua lquersão formados pelos gastos dos própr ios capita listas em invest imento econsumo nesse mesmo ano. Além disso, sendo dada a dist r ibu ição darenda en t re lucros e sa lá r ios, aquelas duas grandezas determinam tam-bém o montan te de sa lá r ios e o produto naciona l. Assim, o invest imentoe o consumo dos capita listas (jun tamente com o déficit orçamentár iodo Governo e o sa ldo de expor tações, que temos omit ido para simplifica ra exposição) const ituem as var iáveis fundamenta is na determinaçãodo n ível da a t ividade econômica .

Todavia , como most ra Kalecki no capítu lo 4, t ambém o consumo

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13 SRAFFA, P iero. “The Laws of Returns under Compet it ive Condit ions”. In : Econom ic J ournal.Dezembro de 1926; CHAMBERLIN, E . H. T he T heory of Monopolistic Com petition . 1932;ROBINSON, J oan . Econom ics of Im perfect Com petition. 1933.

dos capita listas num ano qua lquer depende dos invest imentos efetuadosem anos an ter iores. Logo, considerando a questão de modo dinâmico,isto é, ao longo do tempo, a var iável rea lmente est ra tégica é o inves-t imento. É essa var iável que determina o n ível da renda naciona l numdado ano e suas var iações (ciclos e crescimento) no decor rer do tempo.As relações en t re a renda naciona l (tan to seu n ível como sua var iação)e o invest imento são examinadas no capítu lo 5.

T axas de J uros. Estabelecido o papel est ra tégico do invest imento,cabe encont ra r seus determinantes. Antes, porém, de en t ra r nesse as-sunto, Kalecki faz uma parada para ana lisa r as taxas de ju ros de cur toprazo (capítu lo 6) e de longo prazo (capítu lo 7). Do modo como seencont ram, sem maiores explicações acerca de suas ligações com otema cent ra l (a não ser na ú lt ima página do capítu lo 7), esses doiscapítu los parecem esta r meio perdidos no livro. Mas não estão. Deacordo com muitos au tores (tan to clássicos como neoclássicos, e t ambémSchumpeter e Keynes, embora baseados em supostos diferen tes), ataxa de ju ros assume grande impor tância na determinação do inves-t imento: este var ia r ia em sen t ido cont rá r io ao da taxa de ju ros. O queKalecki se propõe nesses dois capítu los é refu ta r essa concepção. Paraisso, an tes de tudo, ele separa as taxas de ju ros de cur to prazo e asde longo prazo (o que ra ramente é feito pelos ou t ros au tores); e issodeve ser feito porque os emprést imos para invest imentos são efetuadosa taxas de longo prazo. A conclusão de Kalecki é a seguin te: as taxasde cur to prazo apresen tam grandes oscilações, mas as de longo prazo(as que efet ivamente impor tam no problema em pauta ) permanecemrela t iva m en te est áveis du ran t e per íodos de t em po ra zoavelm en telongos (por exem plo, n o decor r er de t odo u m ciclo econôm ico de oit oa dez an os) e, por t a n to, t êm m uito pou ca in fluência n o pr ocesso dein vest im en to.

Capital Em presarial com o Lim ite do Investim ento. Muitas teor iast ra tam o invest imento como se este fosse acessível a qua lquer indivíduodisposto a a r r iscar -se num empreendimento produt ivo, o que caracte-r iza r ia , nas pa lavras de Kalecki, “um estado de democracia econômicaonde qua lquer pessoa dotada de habilidade empresar ia l pode obtercapita l para in icia r um negócio”. A rea lidade, contudo, não é esta . Aquase tota lidade dos invest imentos é efetuada por pessoas (físicas oujur ídicas) que já são propr ietá r ias de capita l. Logo, ao t ra ta r dos de-terminantes do invest imento, é preciso levar em conta esse fa to, comoo faz Kalecki (ver capítu lo 8).

A propr iedade de capita l por par te de uma empresa — o capita lempresar ia l — é que limita o montan te de invest imento que a empresapode efetuar . E isso por dois mot ivos: 1) quanto maior for seu capita lprópr io, a empresa terá maior acesso ao mercado de crédito, isto é,

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poderá obter maiores emprést imos para invest imento; 2) dado o graude r isco assumido pela empresa , o montan te de emprést imos que elapode tomar para invest imento va i depender de seu capita l própr io.Tra ta -se, nesse segundo caso, da aplicação daquilo que Kalecki deno-minou (em estudo an ter ior ) de “pr incípio do r isco crescente”: ao tomaremprést imos para invest imento, o r isco assumido pela empresa , emcaso de fracasso, será tan to maior quanto maior for o va lor dos em-prést imos em relação ao va lor de seu capita l própr io. Assim, com ummesmo grau de r isco, as empresas maiores podem recor rer a maisemprést imos do que as empresas menores.

Determ in antes d o Investim ento. Deixem os de la do a acum u la -çã o de est oques qu e, pa ra Ka leck i, pode ser con sidera da um a fun çãoda va r iaçã o do volume de produção. Assim , o invest im ento se r efereapen as à a cum u la çã o de capit a l fixo. Seu m onta n t e, nu m da do m o-men to, depen de de t r ês “fa tores”: a dispon ibilida de de r ecur sos fi-na nceiros própr ios, a va r iação nos lucr os e a va r iação no estoquede capit a l fixo. Além dessas t r ês va r iáveis, na equ ação dos det er -m in an tes do in vest im en to é inclu ído um out ro fa tor , consider adorela t iva m en te con st a n t e a o lon go do t em po; a ssim , in depen den te-m en te da s t r ês va r iáveis, ha ver ia sem pr e um cer to m on ta n t e dein vest im en to decor r en t e desse fa tor , o qu a l r eflet ir ia a som a de ou -t r a s diver sa s in fluências — pr incipa lm ente da s in ovações t ecnoló-gica s — sobre o p rocesso de in vest im en to.

Os refer idos recursos financeiros são const itu ídos pela poupançabru ta das empresas (isto é, os lucros bru tos não dist r ibu ídos) e pelapoupança pessoa l dos propr ietá r ios que cont rolam as empresas. Essessão os recursos de que elas dispõem para invest imento sem precisa remrecor rer ao mercado de capita is. Quanto maior o volume desses recur -sos, maior deve ser o montan te do invest imento; pr imeiro, porque asempresas não podem deixá-los simplesmente ociosos e, por tan to, t en-dem a conver tê-los em invest imento; segundo, porque eles aumentamo capita l própr io das empresas (de que fa lamos an tes), e, assim, am-pliam o acesso ao mercado de capita is.

O invest imento efetuado pelas empresas num dado momento podeser menor , igua l ou maior do que o volume de seus recursos financeirosprópr ios, dependendo da a tuação dos ou t ros dois “fa tores” no momentoanter ior : a elevação dos lucros in fluencia posit ivamente, mas o aumentodo estoque de capita l fixo tem uma influência nega t iva . A simplesexpansão dos lucros não basta para just ifica r o invest imento; se, nomomento an ter ior , as empresas t inham capacidade ociosa mas, apesardisso, o estoque de capita l cresceu , en tão no momento presen te elasnão precisam invest ir apenas porque a produção e, com esta , o volumede lucros aumentaram: no momento presen te elas podem cont inuar aproduzir mais, sem amplia r seu capita l fixo (isto é, sem invest ir ), sim-

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plesmente aproveitando-se da capacidade ociosa existen te. Em suma,é preciso levar em conta a var iação tan to do lucro como do estoque decapita l fixo.

Essa teor ia apresen ta diversos pontos fracos, en t re os qua is doismerecem destaque: 1) a in fluência do progresso técn ico não é ressa ltada ,permanecendo embut ida numa constan te adicionada à equação dos de-terminantes do invest imento; 2) não se explica por que os capita listascont inuam a invest ir (a amplia r seu capita l fixo) apesar da existênciade considerável margem de capacidade produt iva ociosa . Kalecki estácien te das deficiências de sua teor ia , e por isso mesmo cont inuou aestudar o problema. Poucos anos an tes de sua mor te, publicou umtraba lho onde apresen tou uma nova explicação dos determinantes doinvest imento, eliminando aqueles dois pontos fracos. De acordo comessa explicação, o est ímulo ao invest imento decor re da concor rênciaen t re os capita listas: um capita lista é levado a in t roduzir inovaçõestecnológicas e, por tan to, a invest ir (visto que as inovações estão em-but idas nos novos equipamentos de capita l), apesar da existência decapacidade ociosa , para capta r lucros aufer idos por seus concor ren tes(ver o ensa io “Tendência e Ciclo Econômico” em Crescim ento e Ciclodas Econom ias Capitalistas).

Ciclos e Crescim ento. As duas ú lt imas par tes da T eoria da Di-nâm ica Econôm ica t ra tam separadamente dos ciclos (capítu lo 11 a 13)e do crescimento (capítu los 14 e 15). O problema dos ciclos, relacionadoao dos determinantes do invest imento, foi o que mais exigiu o esforçoin telectua l de Kalecki em toda sua vida . E le publicou um grande nú-mero de t raba lhos sobre o tema (relacionados mais adian te), t endoelaborado diversos modelos dos ciclos. Seu ú lt imo modelo está no ensa io“Tendência e Ciclo Econômico” acima citado; seu penúlt imo modelo éo que está inclu ído na T eoria da Dinâm ica Econôm ica.

Ao fazer e refazer seus modelos, a preocupação de Kalecki eraa de encont ra r uma explicação dos ciclos que fosse a mais rea listapossível. Assim, seus pr imeiros modelos adotavam a h ipótese dos “ciclospuros”, ou seja , ciclos desprovidos de tendência , como se as flu tuaçõesda produção se dessem ao longo de uma linha hor izonta l (por exemplo,na F igura 1 a reta T ser ia hor izonta l e não ascendente). J á em seulivro S tudies in Econom ic Dynam ics (1943), Kalecki leva em conta atendência , e essa nova forma de abordagem foi apr imorada na T eoriada Dinâm ica Econôm ica e em um ar t igo poster ior , mas Kalecki con-t inuou insa t isfeito por não ter in tegrado o ciclo e o crescimento eco-nômico num único modelo. Por isso mesmo, ele voltou a apresen ta ruma nova formulação, no já citado ensa io “Tendência e Ciclo Econômico”(1968), onde adver t iu : “Eu mesmo abordei esse problema em minhaT eoria da Dinâm ica Econôm ica e em minhas ‘Observações sobre aTeor ia do Crescimento’ de um modo que agora não considero in teira -

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m en te sa t isfa tór io: com ecei desenvolven do um a t eor ia do ‘ciclo eco-nôm ico pu ro’ nu m a econom ia est a cion ár ia e depois modifiqu ei a sr espect iva s equa ções pa ra in t roduzir a t en dên cia . Com essa sepa -ra ção das in flu ên cia s de cu r to e longo pra zos, deixei de leva r emconta cer t as r epercu ssões do progresso t écn ico que a fet am o processodinâ m ico com o u m todo. Ten ta rei a gora n ão d ivid ir m in ha an á lisenessas dua s et apas”.14

Ou seja , na T eoria da Dinâm ica Econôm ica, da equação dos de-terminantes do invest imento (da qua l constam os t rês fa tores an tesmencionados: a poupança in terna bru ta das empresas, o aumento doslucros e o aumento do estoque de capita l fixo), seu au tor der iva aequação do ciclo econômico; todavia , para obter a t endência , ele é obr i-gado a in t roduzir “de fora” um novo fa tor : as inovações tecnológicas.J á no refer ido ensa io, o progresso técn ico passa a ser o pr incipa l de-terminante do invest imento, e é da í que Kalecki obtém tan to a equaçãodo ciclo como a da tendência .

Apesar de Kalecki t er formulado diversos modelos de ciclos, seupr incípio básico é sempre o mesmo. A var iável est ra tégica na explicaçãodo n ível da a t ividade econômica , seja num ano ou seja ao longo dotempo, é o invest imento. É essa var iável que, a t ravés do seu efeitomult iplicador , determina o volume gera l dos gastos (isto é, da demandaefet iva) e, assim, a renda naciona l num dado ano. É essa var iável que,adicionada ao existen te estoque de capita l, amplia a capacidade pro-dut iva e permite o crescimento econômico de longo prazo. Por fim, éessa var iável que, com suas oscilações, gera os ciclos econômicos. Esuas oscilações decor rem do cará ter su i generis do invest imento; comoescreveu Kalecki em 1939. “Vemos que a pergunta ‘Que causa as cr isesper iódicas?’ poder ia ser respondida brevemente: é o fa to de que o in -vest imento não apenas é produzido mas também é produtor . O inves-t imento considerado como despesa é a fon te de prosper idade, e cadaaumento dele melhora os negócios e est imula uma poster ior elevaçãodo invest imento. Mas, ao mesmo tempo, cada invest imento é uma adiçãoao equipamento de capita l, e desde logo compete com a geração maisvelha desse equipamento. A t ragédia do invest imento é que ele causacr ise porque é ú t il. Sem dúvida , muitas pessoas considerarão paradoxa lessa teor ia . Mas não é a teor ia que é paradoxa l, e sim seu objeto: aeconomia capita lista”.15

5) Trabalh os Re lac ion ados com a Te oria daDin âm ica Econ ôm ica

Como dissemos an ter iormente, Kalecki publicou , an tes e depois

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14 KALECKI. Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capitalistas. p. 105 e 106.15 KALECKI. Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations. p. 148 e 149.

de sua T eoria da Dinâm ica Econôm ica, muitos t raba lhos que t ra tamdos mesmos temas cont idos neste livro, e a leitu ra de a lguns delespode a judar consideravelmente no en tendimento do livro.16

1. Grau de Monopólio e Distribu ição da R enda

Traba lhos an ter iores à T eoria da Dinâm ica Econôm ica, por ordemcronológica :

1.1. “The Determinants of Dist r ibu t ion of the Nat iona l Income”. In :Econom etrica. Abr il de 1938. p. 97-112;

1.2. “The Dist r ibu t ion of the Nat iona l Income”. Capítu lo dos Essays;

1.3. “Money and Rea l Wages”. Capítu lo dos Essays. Em por tuguês,“Sa lá r ios Nomina is e Rea is”. In : Kaleck i;

1.4. Place N om inalne e R ealne (Varsóvia , 1939), cu jo capítu lo teór ico,sob o t ítu lo de “Sa lá r ios Nomina is e Rea is”, se encont ra em Cres-cim ento e Ciclo;

1.5. “The Supply Curve of an Indust ry under Imperfect Compet it ion”.In : R eview of Econom ic S tudies. Fevereiro de 1940. p. 91-112;

1.6. “The Theory of Long-Run Dist r ibu t ion of the Product ion of Indus-t ry”. In : Oxford Econom ic Papers. J unho de 1941. p. 31-41;

Traba lho poster ior :

1.7. “Class St ruggle and the Dist r ibu t ion of Nat iona l Income”. In : Ky-k los. n º 1, 1971. p. 1-9. Em por tuguês: “Luta de Classe e Dist r i-bu ição da Renda Naciona l”. In : Crescim ento e Ciclo.

2. Determ inantes dos Lucros e da R enda N acional

Traba lhos an ter iores à T eoria da Dinâm ica Econôm ica:

2.1. “O Handlu Zagranicznym i ‘eksporcie wewnet rznym’”. In : Ekono-

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16 Em nossa relação desses t raba lhos, os t ítu los dos livros Essays in the T heory of Econom icFluctuations, S tud ies in Econom ic Dynam ics e Crescim ento e Ciclo das Econom ias Capita-listas, já citados, serão resumidos para Essays, S tud ies e Crescim ento e Ciclo, r espect iva-mente. O volume referen te a Kalecki na Coleção Grandes Cien t istas Socia is da EditoraÁt ica , t ambém já mencionado, será indicado como Kaleck i.

m ista. n º 3 de 1933. p. 27-35. Em por tuguês: “Comércio In terna -ciona l e ‘Expor tações In ternas’”. In : Crescim ento e Ciclo;

2.2. “Investment and Income”. Capítu lo dos Essays;

2.3. “A Theory of Profit s”. In : Econom ic J ournal. J unho-setembro de1942. p. 258-267.Poster ior :

2.4. “The Marxian Equat ions of Reproduct ion and Modern Economics”.In : S ocial S ciences In form ation , n º 6, 1968. p. 73-79. Em por tu-guês: “As Equações Marxistas de Reprodução e a Economia Mo-derna”. In : Crescim ento e Ciclo.

3. T axas de J uros

3.1. “The Long-Term Rate of In terest”. Capítu lo dos Essays;

3.2. “The Shor t -Term Rate and the Long-Term Rate”. In : Oxford Eco-nom ic Papers. Setembro de 1940. p. 15-22.

4. Determ inantes do Investim entoOs estudos sobre os determinantes do invest imento fazem par te

dos t raba lhos sobre os ciclos econômicos (aba ixo relacionados), comuma exceção:

4.1. “The Pr inciple of Increasing Risk”. In : Econom ica. Novembro de1937. p. 440-447; e uma nova versão nos Essays.

5. Ciclo e Crescim ento Econôm icoEstudos an ter iores à T eoria da Dinâm ica Econôm ica:

5.1. Próba-T eorii Koniu nk tu ry. Va r sóvia , 1933. A pa r t e t eór ica dessepequ en o livro foi post er iorm en te publicada em separ ado. Suat r a du ção, “E sboço de um a Teor ia do Ciclo E conôm ico”, se en -cont r a em Crescim ento e Ciclo. Dua s ver sões dessa pa r t e t eór icafor am pu blica da s, u m a em fr an cês e ou t r a em in glês: “E ssa id’u ne Th éor ie du Mou vem ent Cycliqu e des Affa ir es”. (In : R evu ed’Écon om ie Politique. n º 2, 1935. p. 285-305); e “A Ma crody-na m ic Theory of Bu sin ess Cycles”. In : E con om etrica . n º 3. 1935.p. 327-344;

5.2. “Istota Propawy Koniunktura lnej”. In : Polska Gospodarcza. n º 43,1935. p. 1320-1324. Em por tuguês: “O Mecanismo da RecuperaçãoEconômica”. In : Crescim ento e Ciclo e t ambém em Kaleck i;

OS ECONOMISTAS

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5.3. “A Theory of the Business Cycles”. In : R eview of Econom ic S tudies.Fevereiro de 1937. p. 77-97;

5.4. “A Theory of the Business Cycle”. Capítu lo dos Essays e que cor -responde a uma edição modificada do t raba lho an ter ior ;

5.5. “Business Cycle and Trend”. Segunda par te dos S tudies;

5.6. “A New Approach to the Problem of Business Cycles”. In : R eviewof Econom ic S tudies. n º 2, 1949. p. 57-64.

Traba lhos poster iores:

5.7. “Observa t ions on the Theory of Growth”. In : Econom ic J ournal.Março de 1962. p. 134-153;

5.8. “Trend and Business Cycles Reconsidered”. In : Econom ic J ournal.J unho de 1968. p. 263-276. Em por tuguês: “Tendência e CicloEconômico”. In : Crescim ento e Ciclo;

5.9. “Theor ies of Growth in Differen t Socia l Systems”. In : S cien tia.Maio-junho de 1970. p. 311-316. Em por tuguês: “Teor ias do Cres-cimento em Diferen tes Sistemas Socia is”. In : Crescim ento e Ciclo.

Fina lmente, um out ro t raba lho também deve ser mencionado,por apresen ta r uma abordagem in teiramente diversa das an ter iores.Nesse t raba lho, publicado em 1943, Kalecki prevê o cará ter polít icoque os ciclos econômicos ter iam depois da Segunda Guerra Mundia l:

5.10. “Polit ica l Aspects of Full Employment”. In : Political Quarterly.nº 4, 1943. p. 322-331. Em por tuguês: “Os Aspectos Polít icos doPleno Emprego”. In : Crescim ento e Ciclo.

J orge Miglioli

J orge Miglio li , nascido em 1935, élicenciado em Ciências Socia is pelaUniversidade Federa l do Rio de J a -neiro, doutor em Ciências Econômi-cas pela Escola Cent ra l de P lan ifi-cação e Esta t íst ica de Varsóvia (Po-lôn ia ) e livre-docente em Economiapela Universidade Estadua l de Cam-pinas, onde é Professor t itu la r do De-par tamento de Economia e P laneja -

KALECKI

25

mento Econômico. Publicou os se-guin tes livros: T écnicas Quantitati-vas de Planejam ento (1976); Acum u-lação de Capital e Dem anda Efetiva(1981); In trodução ao Planejam entoEconôm ico (1982). Além de ter edi-tado: Micha l Kalecki, Crescim ento eCiclo das Econom ias Capitalistas(1977); Kaleck i (Grandes Cien t istasSocia is, 1980).

OS ECONOMISTAS

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MICHAL KALECKI

TEORIA DA D INÂMICA ECONÔMICA*

ENSAIO SOBRE AS MUDANÇAS CÍCLICAS E ALONGO P RAZO DA ECONOMIA CAP ITALISTA

T radução de Pau lo de Almeida

* Traduzido do or igina l inglês: T heory of Econom ic Dynam ics — An Essay on Ciclical andLong-R un Changes in Capitalist Econom y. 2ª ed. revista . Londres. George Allen & Unwin ,1965.

P REFÁCIO

E ste livro está sendo publicado em lugar de uma segunda ediçãode meus Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations (Ensaios sobrea T eoria das Flu tuações Econôm icas) e de meus S tudies in Econom icDynam ics (Estudos de Dinâm ica Econôm ica). Tra ta -se, contudo, de umlivro essencia lmente novo. Apesar de cobr ir a mesma área que foi objetodos dois livros an ter iores e de as idéias básicas não terem sofr idomuitas modificações, a apresen tação e mesmo a a rgumentação passa-ram por a lterações substancia is. Ademais, em a lguns casos, pr incipa l-mente nos capítu los 13 e 14, foram incorporados novos elementos. Tam-bém o escopo das ilust rações de cará ter esta t íst ico foi bastan te am-pliado, t endo sido u t ilizados novos mater ia is esta t íst icos a que se teveacesso poster iormente à publicação de minhas obras an ter iores.

Convém também sa lien ta r que nas aná lises esta t íst icas foi em-pregado o método dos mín imos quadrados. Esse procedimento podeparecer a lgo grosseiro à luz dos desenvolvimentos mais recentes dastécn icas esta t íst icas. Deve-se observar , contudo, que o propósito daaná lise esta t íst ica aqui encetada é most ra r a plausibilidade das relaçõesent re var iáveis econômicas a que se chegou teor icamente e não obteros coeficien tes mais prováveis dessas relações. Espera-se que as pre-cauções tomadas na aplicação de nosso inst rumenta l esta t íst ico simples(pr incipa lmente na aná lise dos determinantes do invest imento) tenhamsido adequadas para obter uma pr imeira aproximação que sirva parafins ilust ra t ivos.

Faz-se aqui uso freqüente de fórmulas, mas, a par disso, foi rea -lizado um esforço — em a lguns casos mesmo em det r imento da precisão— no sen t ido de se aplica r apenas a matemát ica elementar .

Sou muito obr igado à Sra . Ting Kuan Shu-Chuang e ao Sr . ChangTse-Chun por suas va liosas sugestões com relação ao melhoramentoda apresen tação do livro e por sua a juda nas pesquisas esta t íst icas.

M. KaleckiFevereiro de 1952

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P ARTE P RIMEIRA

GRAU DE MONOP OLIZAÇÃO EDISTRIBUIÇÃO DA RENDA

1

Cu sto e P re ços

P re ços “de te rm in ados pe lo cu sto” e pre ços“de te rm in ados pe la de m an da”

As a lterações de preços a cur to prazo podem ser classificadasem dois grupos pr incipa is: as que são determinadas pr incipa lmentepor modificações do custo da produção e as que são determinadas pr in-cipa lmente por modificações da demanda . De modo gera l, as a lteraçõesde preço dos produtos acabados são “determinadas pelo custo”, enquantoas a lterações de preço das matér ias-pr imas, inclusive produtos a limen-t ícios pr imár ios, são “determinadas pela demanda”. Cla ro está que opreço dos produtos acabados é a fetado por qua isquer mudanças “de-terminadas pela demanda” ocor r idas nos preços das matér ias-pr imas,mas é a t ravés dos custos que essa in fluência é t ransmit ida .

É evidente que cada um desses dois t ipos de formação de preçossurge de condições diferentes de oferta. A produção de bens acabados éelást ica devido à existência de reservas de capacidade produtiva. Quandoa demanda aumenta, o acréscimo é atendido principalmente por umaelevação do volume de produção, enquanto os preços tendem a permanecerestáveis. As alterações de preços que porventura se verificarem resultarãoprincipalmente de modificações do custo de produção.

J á quanto às matér ias-pr imas, a situação é diferen te. É necessár ioum per íodo de tempo rela t ivamente grande para se conseguir um au-mento da ofer ta de produtos agr ícolas. O mesmo se pode dizer comrelação à mineração, embora a coisa aqui se dê em grau menor . Man-tendo-se a ofer ta inelást ica duran te um per íodo de tempo cur to, umaelevação da procura mot iva uma diminuição dos estoques e, conse-qüentemente, um aumento dos preços. O movimento in icia l dos preçospode ser in tensificado pela inclusão de um elemento especula t ivo. Asmercador ias em questão normalmente são padronizadas e se acham

33

su jeitas a cotação na bolsa de mercador ias. Um aumento pr imár io naprocura , mot ivando uma elevação dos preços, faz-se freqüentementeacompanhar por uma procura secundár ia de cará ter especula t ivo. Issotorna a inda mais difícil, a cur to prazo, que a produção se equilibrecom a demanda .

Este capítu lo t ra ta rá pr incipa lmente do estudo da formação dospreços “determinados pelo custo”.

Fixação do pre ço por u m a firm a

Consideremos uma firma com um dado capita l fixo. Supõe-se quea ofer ta seja elást ica , isto é, que a firma opere com capacidade ociosae que os custos diretos (custos de mater ia is e sa lá r ios — os ordenadosse incluem nos custos indiretos) por un idade produzida sejam estáveispara a amplitude relevante da produção.17 Dian te das incer tezas comque se defronta o processo de fixação de preços, não iremos supor quea firma recor ra a a lguma medida em par t icu la r na procura de maxi-mizar seus lucros. No en tan to, suporemos que o n ível efet ivo dos custosindiretos não influencia diretamente a determinação do preço, umavez que o tota l dos custos indiretos permanece mais ou menos estávelcom relação às var iações da produção. Assim sendo, o n ível de produçãoe de preços no qua l se supõe que a soma dos custos indiretos mais oslucros a lcance o ponto mais elevado é ao mesmo tempo o n ível quepode ser considerado o que mais favorece os lucros. (Contudo, t a rdeiremos ver que o n ível dos custos indiretos pode ter uma influênciaindireta sobre a formação dos preços.)

Para fixar os preços, a firma leva em consideração a média deseus custos diretos e os preços de ou t ras firmas que fabr icam produtossimila res. A firma tem que evita r que o preço se eleve demasiado comrelação aos preços das ou t ras firmas, já que se isso sucedesse as vendasse reduzir iam drast icamente. É preciso também, por ou t ro lado, evita rque o preço se torne demasiado ba ixo com relação à média dos custosdiretos, porquanto isso reduzir ia drast icamente a margem de lucro.Assim, quando o preço p é determinado pela firma com relação aocusto direto un itá r io u , é preciso tomar cu idado para que a razão en t rep e a média ponderada dos preços de todas as firmas, p

__18, não se torne

a lta demais. Se u aumenta , p pode ser aumentado proporciona lmentesomente se p

__ aumenta menos que u . Mas se p aumenta menos que u ,

OS ECONOMISTAS

34

17 Na verdade, os custos diretos un itá r ios caem um pouco, em muitos casos, à medida quea produção aumenta . F izemos abst ração dessa complicação, que não é de grande impor tânciano caso. A suposição, feita em 1939, em meus Essays in the T heory of Econom ic Fluctuations,de uma curva de custos diretos e cur to prazo quase hor izonta l, t em sido comprovada desdeentão por muitas pesquisas empír icas e tem desempenhado, explícita ou implicitamente,um papel impor tan te na pesquisa econômica . Cf., por exemplo, LEONTIEF, W. W. T heS tructure of Am erican Econom y. Harvard University Press, 1941.

18 Ponderado pelas respect ivas produções, inclusive pela da firma em questão.

proporcionalmente também.

o preço da firma p t ambém subirá menos do que u . Essas condiçõesse acham cla ramente expressas na fórmula

p = m u + np__

onde tan to m como n são coeficien tes posit ivos.Aceitamos que n < 1, pelo seguin te mot ivo: no caso onde o preço

p da firma foca lizada é igua l ao preço médio p__

t emos:

p = m u + np (1)

de onde se conclu i que n t em que ser menor que a un idade.Os coeficien tes m e n , que caracter izam a polít ica de fixação de

preços da firma , refletem aquilo que podemos chamar de grau de mo-nopólio da posição da firma . De fa to, fica cla ro que a equação (1) ret ra tauma formação de preços semimonopolíst ica . A elast icidade da ofer tae a estabilidade dos custos diretos un itá r ios sobre a amplitude relevanteda produção é incompat ível com a assim chamada concor rência per feita .Ora , se predominassem condições de concor rência per feita , o excedentedo preço p sobre os custos diretos un itá r ios u levar ia a firma a aumentara produção a té o ponto em que se eliminasse tota lmente a capacidadeociosa . Assim, qua lquer firma que ficasse no ramo chegar ia ao plenoemprego dos fa tores de produção, sendo que o preço subir ia a té o n ívelem que se equilibra r iam ofer ta e procura .

Será in teressan te apresen ta r um gráfico demonst rando as modi-ficações do grau de monopolização. Dividamos a equação (1) pelo custodireto un itá r io u :

pu

= m + n p__

u

E sta equ açã o se a ch a represen tada no gr á fico 1, onde p__

u é a

abscissa e

Gr á fico 1. Modificação no grau de m onopólio.

KALECKI

35

pu é a ordenada , pela reta AB . A inclinação de AB é menor do que 45º

porque n < 1. A posição dessa reta que é completamente determinadapor m e n indica o grau de monopolização. Quando, devido a umamodificação de m e n , a reta deslocar -se para cima, da posição ABpara a posição A ′B ′, en tão a um dado preço médio p

__ e custo direto

unitá r io u cor responderá um preço mais elevado p da firma sobre a

amplitude relevante de p__

u . Diremos nesse caso que o grau de monopo-

lização aumentou . Quando, por ou t ro lado, a reta deslocar -se para ba ixoa té a posição A ′′B ′′, diremos que o grau de monopolização diminuiu(supomos que m e n sempre se modificam de forma ta l que nenhumadas linhas cor respondentes a vár ias posições de AB cruza ou t ra sobre

a amplitude relevante de p__

u).

Podemos agora demonst ra r uma proposição que se reveste decer ta impor tância no que diz respeito a nossa a rgumentação fu tura .Consideremos os pontos de in terseção P, P′, P′′ das retas AB ,A ′B ′, A ′′B ′′ com a linha OK cor tando a or igem a 45º. É cla ro que quantomaior o grau de monopolização, mais longa será a abscissa t raçada apar t ir do respect ivo ponto de in terseção. Ora , esse ponto é determinadopelas equações:

pu = m + n p

__

u e pu = p__

u .

Conclu i-se que a abscissa do ponto de in terseção é igua l a m1 – n . Por

conseguin te, um aumento de m1 – n se reflet irá em um grau mais elevado

de monopólio e vice-versa .Neste tópico e no seguin te, a a rgumentação quanto à in fluência

do grau de monopolização sobre a formação de preços é de cará terbastan te formal. As razões que na prá t ica levam a modificações dograu de monopolização serão examinadas mais adian te.

Form ação de pre ços n u m ram o da in dú stria:u m caso e spe c ia l

Podemos in icia r o deba te da determinação do preço médio emum ramo da indúst r ia , tomando um caso em que os coeficien tes m en são os mesmos para todas as firmas, mas onde os custos diretosunitá r ios u são diferen tes. Temos, en tão, com base na equação (1):

p1 = m u1 + np__

p2 = m u2 + np__

OS ECONOMISTAS

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. . . . . . . . . .

pk = m u k + np__

(1′)

Se essas equa ções forem pondera da s por sua s r espect iva s produ ções(ist o é, ca da u m a dela s mult ip licada por su a r espect iva produ ção,todos os r esu lt ados som a dos e a som a d ivid ida pelo t ot a l da produ -çã o), obt erem os:

p__

= m u__

+ np__

de forma que (2)

p__

= m1 – n

u__

.

Recordemos que, de acordo com o tópico an ter ior , quanto mais elevado

o grau de monopolização, maior será m1 – n

. Podemos assim conclu ir :

O preço médio p__

é proporciona l ao custo direto un itá r io médio u__

se ograu de monopolização se mant iver constan te. Se aumentar o grau demonopolização, p

__ se elevará com relação a u

__.

Ainda é impor tan te ver de que forma um novo “equilíbr io depreços” é a lcançado quando os custos diretos un itá r ios mudam em con-seqüência de modificações nos preços das matér ias-pr imas ou da mão-de-obra . Representemos os “novos” custos diretos un itá r ios por u 1, u 2etc., e os preços “velhos” por p ′1, p ′2 etc. A média ponderada dessespreços é p

__′. A ela cor respondem os novos preços p ′′1, p′′2 etc., igua is a

m u 1 + np__′, m u 2 + np

__′ etc. Isso leva por sua vez a um novo preço médio

p__′′, e assim por diante, convergindo o processo afinal para um novo valor

de p__

, dado pela fórmula (2). Essa convergência do processo depende dacondição de ser n < 1. De fato, conforme as equações (1′) temos que:

p__′′ = m u

__ + np

__′

e para o novo p__

fina l:

p__

= m u__

+ np__

.

Subt ra indo a segunda equação da pr imeira , obtemos:

p__′′ – p

__ = n (p

__′ – p

__)

o que most ra que o desvio do va lor fina l de p__

diminui em progressãogeométr ica sempre, desde que n < 1.

Form ação de pre ços n u m ram o da in dú stria: o caso ge ral

Consideremos agora o caso genér ico em que os coeficien tes m e

KALECKI

37

n são diferen tes de firma para firma . Parece que, median te um pro-cedimento semelhante ao que foi aplicado no caso especia l, chega-seà fórmula :

p__

= m__

1 – n__ u

__(2′)

m__

e n__

são a média ponderada dos coeficien tes m e n .19

Agora imaginemos uma firma para a qua l os coeficien tes m e nsejam igua is a m

__ e n

__ pa ra o ramo de indúst r ia ao qua l essa firma

per tence. Podemos considerá-la como sendo uma firma represen ta t ivado ramo de indúst r ia a que per tence. Podemos a inda considerar queo grau de monopolização desse ramo de indúst r ia seja o mesmo dafirma escolh ida como represen ta t iva . Assim, o grau de monopolizaçãoserá determinado pela posição da reta cor respondente a :

pu = m

__ + n

__ p

__

u .

Um aumento do grau de monopolização irá reflet ir -se num desloca-mento para cima dessa reta (ver grá f. 1). Conclu i-se da a rgumentaçãocont ida na página 36, que quanto mais elevado o grau de monopolização,

de acordo com esta defin ição, maior será m__

1 – n__ .

A par t ir disso e da equação (2′), segue-se a genera lização dosresu ltados obt idos no tópico an ter ior para o caso especia l considerado.O preço médio p

__ é proporciona l ao custo direto un itá r io médio u

__ se o

grau de monopólio for constan te. Se o grau de monopolização aumentar ,p se eleva com relação a u

__.

A razão en t re preço médio e custo direto un itá r io é igua l à razãoent re o montan te dos rendimentos do ramo da indúst r ia e o montan tedos custos diretos do ramo da indúst r ia . Segue-se que a razão en t rerendimentos e custos diretos é estável, aumentando ou diminuindosomente conforme o que acontecer com o grau de monopolização.

Deve-se lembrar que todos os resultados aqui obtidos estão sujeitosà suposição de que a oferta seja elást ica. Quando as firmas não têm maiscapacidade ociosa, um aumento adicional da demanda irá provocar umaelevação do preço além do nível indicado pelas considerações acima. Con-tudo, esse nível poderia ser mantido por algum tempo, enquanto a firmapermit isse que os pedidos se acumulassem em carteira.

Cau sas de m odificação do grau de m on opolização

Limita r -nos-emos aqui a discu t ir os pr incipa is fa tores subjacentes

OS ECONOMISTAS

38

19 m é a média de m ponderada pelos custos diretos tota is de cada firma: n é a média de nponderada pelas respect ivas produções.

às modificações do grau de monopolização nas economias capita listasmodernas. Em pr imeiro lugar , há que considerar o processo de con-cent ração da indúst r ia , que leva à formação de corporações gigantescas.A influência do surgimento de firmas que represen tam uma parcelasubstancia l da produção de um ramo de indúst r ia pode ser facilmenteentendida à luz das considerações acima. Uma firma desse t ipo sabeque seu preço p in fluencia de forma apreciável o preço médio p

__ e que,

ademais, as ou t ras firmas do ramo se verão compelidas na mesmadireção, já que a formação de preços delas depende do preço médiop__

. Assim, a firma pode fixar seu preço num nível mais elevado do queser ia o caso se as coisas fossem diferen tes. Out ras firmas grandesfazem o mesmo jogo e assim o grau de monopólio se eleva de modosubstancia l. Esse estado de coisas pode ser reforçado por um acordotácito. (Ent re ou t ras coisas, esse acordo pode se dar median te a fixaçãode preços por uma firma grande, a firma “líder”, com as ou t ras firmasseguindo esses preços.) Um acordo tácito, por ou t ro lado, pode t rans-formar-se num acordo mais ou menos formal, ou seja , num car tel, oque equiva le ao monopólio completo, limitado apenas pelo medo daent rada de novos membros.

A influência que ocupa o segundo lugar em impor tância é o de-senvolvimento da promoção a t ravés da publicidade, vendedores etc.Assim, a concor rência de preços é subst itu ída pela concor rência a t ravésde campanhas de publicidade etc. Obviamente isso também irá provocaruma elevação do grau de monopolização.

Além dos fa tores apontados acima, dois ou t ros têm que ser levadosem consideração: (a) a in fluência das modificações no n ível dos custosindiretos com relação aos custos diretos sobre o grau de monopolização;(b) o poder io dos sindica tos.

Se o n ível dos custos indiretos se elevar muito com relação aoscustos diretos, haverá necessar iamente um “aper to dos lucros”, a menosque se permita um aumento da razão en t re o tota l dos rendimentose os custos diretos. Disso pode resu lta r um acordo tácito en t re as firmasde um ramo para “proteger” os lucros e conseqüentemente elevar ospreços com relação aos custos diretos un itá r ios. Por exemplo, a elevaçãoem custos de capita l por un idade produzida , resu ltan te da in t roduçãode técn icas que aumentam a capita l-in tensidade, pode, dessa maneira ,tender a elevar o grau de monopolização.

O fa tor represen tado pela “proteção” dos lucros aparece com fre-qüência duran te per íodos de depressão. A situação nessas ocasiões éa seguin te: o tota l dos rendimentos decresce na mesma proporção queos custos diretos se o grau de monopolização permanecer ina lterado.Ao mesmo tempo, o tota l dos custos indiretos ca i, nos per íodos dedepressão, menos que os custos diretos. Isso abre o caminho para oestabelecimento de acordos tácitos no sen t ido de não se reduzirem ospreços na mesma proporção dos custos diretos. Conseqüentemente, sur -

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39

ge uma tendência no sen t ido de o grau de monopolização subir nadepressão, t endência essa que opera em sen t ido inverso na fase deprosper idade.20

Apesar de as considerações acima apresenta rem um meio peloqua l os custos indiretos podem afeta r a formação dos preços, é cla roque sua in fluência sobre os preços em nossa teor ia é muito menosnít ida do que a que exercem os custos diretos. O grau de monopolizaçãopode aumentar — mas não se pode a firmar que aumente necessar ia -mente — em conseqüência de um aumento dos custos indiretos comrelação aos custos diretos. Isso e a ênfase dada à in fluência dos preçosde out ras firmas const ituem a diferença en t re a teor ia aqui exposta ea assim chamada teor ia dos custos tota is.

Foca lizemos agora o problema da in fluência do poder io dos sin-dica tos sobre o grau de monopolização. A existência de sindica tos po-derosos pode cr ia r uma tendência no sen t ido de se reduzir a margemde lucro, pelos seguin tes mot ivos. Ver ificando-se uma razão elevadaent re os lucros e os sa lá r ios, for ta lece-se o poder de barganha dossindica tos em suas a t ividades visando aumentos de sa lá r ios, uma vezque os sa lá r ios mais elevados serão en tão compat íveis com “lucros ra -zoáveis” aos n íveis de preços existen tes. Se após os aumentos seremconcedidos os preços fossem majorados, ser iam geradas novas deman-das de aumento de sa lá r ios. Daí se conclu i que uma razão elevadaent re lucros e sa lá r ios não pode ser mant ida sem cr ia r uma tendênciano sen t ido da elevação dos custos. Esse efeito adverso sobre a posiçãocompet it iva de uma firma ou de um ramo da indúst r ia est imula aadoção de uma polít ica de margens de lucro mais ba ixas. Assim, ograu de monopolização será em cer ta medida mant ido ba ixo graças àação dos sindica tos e quanto maior for a força dos sindica tos com maiorin tensidade isso se fa rá sen t ir .

As modificações do grau de monopolização são de impor tânciadecisiva não só para a dist r ibu ição de renda en t re t raba lhadores ecapita listas como também em a lguns casos para a dist r ibu ição de rendada classe capita lista . Assim, o aumento no grau de monopolização mo-t ivado pelo crescimento das grandes corporações resu lta em uma t rans-ferência rela t iva de renda das ou t ras indúst r ias para as dominadaspor ta is corporações. Dessa forma, a renda é redist r ibu ída , passandodas pequenas para as grandes empresas.

As re laçõe s cu sto-pre ço a lon go e a cu rto prazo

As relações custo-preço descr itas acima baseiam-se em um enfo-que da situação a cur to prazo. Contudo, os ún icos parâmet ros que

OS ECONOMISTAS

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20 Essa é a tendência básica ; contudo, em a lguns casos o processo oposto de ocor rência de-senfreada pode manifesta r -se numa depressão.

ent ram nas equações em questão são os coeficien tes m e n , que refletemo grau de monopolização. Esses coeficien tes podem — se bem que nãotenham que fazê-lo necessar iamente — mudar a longo prazo. Se m en perm anecem constan tes, as a lterações a longo prazo nos preços re-flet irão somente as a lterações a longo prazo dos custos diretos un itá r ios.O progresso tecnológico tenderá a reduzir o custo direto un itá r io u .Mas as relações en t re os preços e os custos diretos un itá r ios podemser a fetadas por modificações no campo da técn ica e dos equipamentossomente na medida em que elas in fluencia rem o grau de monopólio.21

Esta ú lt ima possibilidade havia sido indicada acima quando se men-cionou que o grau de monopolização poder ia ser in fluenciado pelo n íveldos custos indiretos com relação aos custos diretos.

Deve-se sa lien ta r que toda essa perspect iva cont ra r ia pontos devista gera lmente aceitos. Supõe-se em gera l que devido à crescentein tensidade de capita l, isto é, crescente dispêndio de capita l fixo porunidade de produção, há necessar iamente um cont ínuo aumento darazão en t re preço e custo direto un itá r io. Esse ponto de vista baseia -se,ao que parece, na suposição de que a soma dos custos indiretos maislucros var ia a longo prazo mais ou menos em proporção ao va lor docapita l. Assim, a elevação em capita l com relação à produção é t raduzidaem uma razão mais a lta en t re custos indiretos mais lucros e rendi-mentos, equiva lendo isso a um aumento da razão en t re preços e custosdiretos un itá r ios.

Ora , parece que lucros mais custos indiretos podem apresenta ruma queda a longo prazo com relação ao va lor do capita l e, conse-qüentemente, a razão en t re preço e custo direto un itá r io pode perma-necer constan te mesmo se o capita l aumentar com relação à produção.Isso se acha demonst rado pelo que aconteceu no ramo manufa tureiroda economia nor te-amer icana no per íodo compreendido en t re 1899 e1914. (Ver tabela 1.)

Como se poderá ver pela tabela , o capita l fixo subiu cont inua-mente com relação à produção duran te o per íodo foca lizado, enquantoa razão en t re rendimentos e custos diretos permaneceu mais ou menosestável. Isso é explicado por uma queda nos lucros mais custos indiretoscom relação ao va lor do capita l fixo (tan to com relação a seu va lornomina l como com relação a seu va lor aos preços cor ren tes).

Sempre existe, é cla ro, a possibilidade, indicada acima, de queo aumento dos custos indiretos com relação aos custos diretos, devidoao aumento da in tensidade do capita l, provoque uma elevação do graude monopolização, graças à tendência de se “protegerem” os lucros:

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21 Essa a firmação, contudo, é mat izada pela suposição subjacente a nossas equações custo-preço,a saber , que o custo direto un itá r io não depende do grau de u t ilização do equipamento eque o limite de capacidade prá t ica não é a t ingido. Ver pp. 35-6

essa tendência , contudo, não é de forma a lguma au tomát ica , podendonão preva lecer , conforme se demonst ra no exemplo dado.

TABELA 1. In tensidade de Capital e R azão Entre R endim entos e CustosDiretos no R am o Manufatureiro nos Estados Unidos, 1899-1914.

Abordamos acima cer tas questões que surgem ligadas à aplicaçãode nossa teor ia aos fenômenos a longo prazo. Quando sua teor ia éaplicada à aná lise da formação de preços no decurso de um ciclo eco-nômico, levanta -se o problema de saber se a nossa fórmula funcionana fase de prosper idade. De fa to, em ta is per íodos a u t ilização de equi-pamento pode a t ingir o ponto de eliminar a capacidade ociosa e assim,sob pressão da demanda , os preços podem exercer o n ível indicado poressas fórmulas. Parece, contudo, que, devido à disponibilidade de ca-pacidade ociosa e à possibilidade de aumentar o volume do equipamentosempre que ocor rem est rangulamentos, esse fenômeno não é encont radofreqüentemente mesmo em fases de prosper idade. Parece que em gera lele se rest r inge a situações de guer ra ou de pós-guer ra , quando a ca-rência de matér ia -pr ima ou de equipamento limita for temente a ofer tacom relação à procura . Esse t ipo de aumento de preços é que const itu io motivo básico do processo inflacionário que predomina nesses períodos.

Aplicação às m u dan ças a lon go prazo n o ram om an u fatu re iro dos EUA

Como a razão en t re preço e custo direto un itá r io é igua l à razãoent re o montan te dos rendimentos e o montan te dos custos diretos, asmodificações nessa relação podem ser ana lisadas empir icamente comreferência a vár ios ramos tomando-se por base o Censo dos Fabr ican tesNor te-Amer icanos (United S tates Census of Manufactures), onde en -cont ramos o va lor dos produtos, o custo das matér ias-pr imas e os custosde mão-de-obra de cada ramo. Contudo, as modificações da razão en t re

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rendimentos e custos diretos de um único ramo da indúst r ia que, deacordo com o que foi dito acima, são determinadas por modificaçõesno grau de monopolização, refletem mudanças das condições par t icu-la res daquele ramo da indúst r ia . Por exemplo, uma modificação napolít ica de preços de uma firma grande pode ocasionar uma mudançafundamenta l no grau de monopolização do ramo da indúst r ia ao qua lessa firma per tence. Por esse mot ivo, limitamos as considerações aquicont idas ao ramo manufa tureiro como um todo, podendo dessa formain terpreta r as modificações de relação en t re rendimentos e custo diretoem termos de mudanças impor tan tes das condições indust r ia is.

Tomamos assim a razão en t re o montan te dos rendimentos doramo manufa tureiro dos Estados Unidos e o montan te de seus custosdiretos. Surge contudo uma dificu ldade: essa relação não reflete sim-plesmente as modificações na relação en t re os rendimentos e os custosdiretos em ramos da indúst r ia em separado, mas também a lteraçõesde sua impor tância dent ro do setor manufa tureiro como um todo. Poresse mot ivo, na tabela 2 se acha indicada não só a razão en t re osrendimentos e os custos diretos do setor manufa tureiro dos EstadosUnidos, como também essa razão ca lcu lada com base na suposição deque a parcela rela t iva represen tada no va lor tota l dos rendimentospelos grupos pr incipa is seja estável.22 A diferença rea l en t re essas duassér ies parece, em gera l, não ser sign ifica t iva .

TABELA 2. R azão Entre R endim entos e Custos Diretos no S etor Ma-nufatureiro dos Estados Unidos, 1879-1937.

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22 Os deta lhes do cá lcu lo, bem como os a justes que foram feitos a fim de permit ir a comparaçãoem termos aproximados dos vár ios anos do Censo, o que havia sido prejudicado por modi-ficações de escopo e de métodos do Censo, encont ram-se descr itos no Apêndice Esta t íst ico.Notas 2 e 3.

Nota-se que houve um aumento substancial na razão entre rendi-mentos e custos diretos de 1879 a 1889. Sabe-se que esse foi um períodode mudança no capitalismo americano e que se caracterizou pela formaçãode gigantescas corporações industr iais. Não é pois surpresa alguma queo grau de monopolização tenha aumentado nesse período.

De 1889 a 1923 houve pouca modificação na razão en t re rendi-mentos e custos diretos. Contudo, aparece um aumento marcante noper íodo de 1923 a 1929. A elevação no grau de monopolização nesseper íodo pode ser explicada em par te por aquilo que poder ia ser chamadode “revolução comercia l” — a súbita en t rada em cena de promoção devendas a t ravés da publicidade, vendedores etc. Out ro fa tor a considerarfoi um aumento gera l dos custos indiretos com relação aos custos diretosocor r ido nesse per íodo.

Pode-se perguntar se o alto nível da razão entre rendimentos ecustos diretos em 1929 não se deveu, pelo menos em parte, a terem asfirmas at ingido sua capacidade total na fase de prosperidade. Há quesalientar, porém, que o grau de utilização de equipamento em 1929 nãoera maior que o de 1923. Um exame dos dados do Censo para 1925 e1927 também parece indicar que a elevação da razão entre rendimentose custos diretos durante o período 1923/29 foi de caráter gradual.

De 1929 a 1937 a razão en t re rendimentos e custos diretos apre-sen ta uma modesta redução. Provavelmente isso pode ser a t r ibu ídopr incipa lmente ao aumento do poder io dos sindica tos.

As explicações aqui cont idas são de cará ter provisór io e esque-mát ico. De fa to a in terpretação do movimento da razão en t re rendi-mentos e custos diretos em termos de modificações do grau de monopóliocompete aos especia listas em h istór ia econômica , que podem cont r ibu irpara esse estudo com conhecimento mais aprofundado das condiçõesindust r ia is em mudança .

Aplicação ao ram o m an u fatu re iro e ao do com é rcio vare jis tados EUA du ran te a Gran de De pre ssão

Na tabela 3 aparece a razão en t re rendimentos e custos diretosdo setor manufa tureiro dos Estados Unidos nos anos de 1929, 1931,1933, 1935 e 1937. Mais uma vez, a lém da razão or igina l en t re ren-dimentos e custos diretos, dá-se também a razão a justada em funçãodas modificações na composição do va lor dos produtos.23 Como na tabelaan ter ior , não há diferença sign ifica t iva en t re as duas sér ies. A tabelaindica também a razão en t re o tota l das vendas a varejo de bens deconsumo nos Estados Unidos e o seu custo para os varejistas duran teo mesmo per íodo. Isso cor responde, grosso m odo, à razão en t re rendi-

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23 Como na tabela an ter ior , os dados foram a justados em função de modificações no escopoe nos métodos do Censo (ver Apêndice Esta t íst ico, Notas 2 e 3).

mentos e custos diretos do ramo varejista . (Não foi feito o cá lcu lo deuma sér ie a justada para a composição das vendas.)

TABELA 3. R azão Entre R endim entos e Custos Diretos no S etorManufatureiro e no Com ércio Varejista nos Estados Unidos, 1929/ 37.

Vê-se que a r a zã o en t re r en dim ent os e cust os dir etos t en deua au m en ta r dura n t e a depr essã o; leva ndo em conta o a lca nce dadepressão n a déca da de 30, con tudo, a mudan ça foi de ca r á t er ba s-t a n t e modera do. O au men to da r azã o pode ser a t r ibu ído a u m a ele-vaçã o dos cu stos in dir etos com r elaçã o a os cu stos dir etos, o queest im u lou o est abelecim ento de a cor dos t ácit os pa ra “prot eger” oslu cros e por t an to pa ra au m en ta r o gra u de m onopoliza ção. Vê-sequ e du ran t e o per íodo de r ecupera ção de 1933 a 1937 h ou ve u mm ovim en to no sen t ido inver so. P a ra o set or m a nu fa t ureir o, con t udo,a r azão en t re r endim en tos e cu sto dir eto ca iu a u m n ível sign ifica -t iva m en te in fer ior ao de 1929. Con for m e foi su ger ido an t er iorm ente,isso provavelm en te r esu lt ou de u m con siderá vel for t a lecim en to dossin dica t os n o per íodo de 1933/37.

Flu tu açõe s dos pre ços de m até rias-prim as

Conforme dissemos no in ício deste capítu lo, as modificações acur to prazo nos preços dos produtos pr imár ios refletem pr incipa lmenteas a lterações da demanda . Dessa forma, esses preços caem bastan tecom a cont ração da a t ividade econômica e sobem bastan te com suaexpansão.

É sa bido qu e os preços das m atér ias-pr im a s sofr em flu t ua çõescíclica s m a iores do qu e os n íveis sa la r ia is. As cau sas desse fen ôm enopodem ser exp licadas da segu in t e form a : m esm o com os sa lá r iosm an t idos con st a n t es, os preços da s m atér ias-pr im a s ca ir iam du ra n te

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u m a depressão, devido à queda da dem an da “rea l”. Or a , os cor t esde sa lá r ios du ran t e u m a depressão nu nca podem “a lca nçar” o pr eçoda s m atér ia s-pr im a s em su a queda , porque os cor t es sa la r ia is porsua vez provocam um a qu eda n a dem a nda e por t an to um a novaqu eda n os preços dos produt os pr imá r ios. Im aginem os que os pr eçosda s m atér ia s-pr im a s ca iam em 20% devido à dim in u ição da dem a ndarea l. Im agin em os a inda qu e em seguida a t axa de sa lá r ios seja cor -t a da t a m bém em 20%. A t eor ia da for m açã o de pr eços desenvolvidaacim a in dica qu e o n ível ger a l de preços ir á conseqü en tem en te ca irt a m bém em cerca de 20%. (O gra u de m onopólio t ende a au m en ta rum pou co, m a s nã o m u it o.) Ma s isso oca siona rá u m a qu eda cor res-pondent e das r enda s, de dema nda , e, por t an to, dos pr eços da s m a -t ér ia s-pr im as.

Na tabela 4, aba ixo, é feita uma comparação dos índices de preçosde matér ias-pr imas e sa lá r ios/hora nos Estados Unidos, no per íodo de1929/41. (Ver p. 47)

A razão en t re preços de matér ias-pr imas e sa lá r ios/hora most rauma tendência a decrescer a longo prazo que em par te reflete a elevaçãoda produt ividade do t raba lho. Isso, contudo, não esconde o padrão cíclicoque se acha manifesto em par t icu la r na queda marcante ver ificadatan to na depressão de 1929/33, como na de 1937/38.

Form ação de pre ços de produ tos acabados

De acordo com a teor ia acima, a formação de preços de produtosacabados resu lta da formação de preços em cada etapa da produção,com base na fórmula

p__

= m__

1 – n__ u

__ .

Dado um grau de monopólio, os preços a cada etapa são propor-ciona is aos custos diretos un itá r ios. Na pr imeira etapa da produção,os custos diretos consistem de sa lá r ios e do custo de produtos pr imár ios.Na etapa seguin te, os preços são formados com base nos preços daetapa an ter ior e nos sa lá r ios da etapa a tua l, e assim por dian te. Éfácil de ver , por tan to, que, dado um grau de monopólio, os preços deprodutos acabados são funções lineares homogêneas dos preços dasmatér ias-pr imas de um lado e, de ou t ro, dos custos de mão-de-obraem todas as etapas da produção.

Um a vez qu e as flu tu ações dos sa lá r ios n o decur so do cicloecon ôm ico sã o m uito m enores que a s dos p reços das m at ér ias-pr im a s(ver t ópico a n t er ior ), conclu i-se qu e os pr eços dos pr odu tos acabadost a m bém t endem a flu tu a r bem m enos qu e os p reços das m a tér ia s-pr im as.

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TABELA 4. Índ ices de Preços de Matérias-Prim as e de S alários/ Horanos R am os Manufatureiro, de Mineração, de Construção e Ferroviárionos Estados Unidos, 1929/ 41.

Quanto às diferen tes ca tegor ias de preços de produtos acabados,supõe-se freqüentemente que os preços dos bens de capita l duran teum per íodo de depressão caem mais que os preços dos bens de consumo.Dent ro da teor ia aqui exposta , contudo, não há fundamento para essasuposição. Pode-se a té mesmo pressupor uma cer ta queda dos preçosde bens de consumo com relação aos preços dos bens de capita l. Opeso dos produtos pr imár ios, inclusive produtos a liment ícios, prova-velmente será maior no montan te dos bens de consumo que no casodos bens de capita l e os preços dos produtos pr imár ios caem mais queos sa lá r ios duran te a depressão.

Na tabela 5 aparecem os índices de preços de matér ias-pr imas,preços ao consumidor (no n ível de varejo) e preços de bens acabadosde capita l nos Estados Unidos no per íodo de 1929 a 1941. Vê-se queos preços das matér ias-pr imas apresen ta ram uma flu tuação muitomaior que os preços de bens de consumo acabados ou bens de capita lacabados.

A razão en t re os preços de bens de capita l e os preços de bensde consumo demonst ra uma cla ra tendência ascendente. Contudo,t ransparece da curva tempora l dessa relação no grá fico 2 que houveuma elevação mais pronunciada duran te as cont r ações de 1929/33 e

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TABELA 5. Índ ice de Preços de Matérias-Prim as, Bens de Consum o eBens de Capital nos Estados Unidos, 1929/ 41.

1Os índices de preços implícitos na deflação do consumo e o invest imento de capita l fixo foramclaculados a par t ir do Suplemento Sobre a Renda Naciona l de Survey of Curren te Business,1951. F ica cla ro que esses índices são do t ipo de Paasche.

1937/3824 que no per íodo tomando como um todo. Parece, por ou t rolado, que essas flu tuações cíclicas da razão en t re os preços dos bensde capita l e os preços dos bens de consumo, embora sejam n it idamentemarcadas, são bastan te pequenas em termos de amplitude.

Gr á fico 2. R elação en tre os preços dos bens de capital e os preços dosbens de consum o para os Estados Unidos, 1929/ 41.

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24 No ú lt imo caso, contudo, o fenômeno parece ter sido exagerado por fa tores específicos.

2

Distribu ição da Re n da Nacion al

Os de te rm in an te s da parce la re lativa dos sa lários n a re n da

Iremos agora ligar a razão en t re rendimentos e custos diretosnum ramo da indúst r ia , que estudamos no capítu lo an ter ior , e a parcelarela t iva dos sa lá r ios no va lor agregado daquele ramo da indúst r ia . Ovalor agregado, isto é, o va lor dos produtos menos o custo das maté-r ias-pr imas, é igua l à soma de sa lá r ios, custos indiretos e lucros. Seindicarmos o tota l dos sa lá r ios por W, o tota l do custo das matér ias-pr imas por M e a razão en t re o tota l dos rendimentos e o tota l doscustos diretos por k , t emos:

custos indiretos + lucros = (k – 1) (W + M )

onde a razão en t re rendimentos e custos diretos k é determinada , con-forme acima, pelo grau de monopólio. A parcela rela t iva dos sa lá r iosno va lor agregado de um ramo da indúst r ia pode ser represen tadacomo

w = WW + (k – 1) (W + M )

.

Se indicarmos a razão en t re o montan te dos custos de matér ias-pr imase o custo de mão-de-obra por j, t eremos:

w = 11 + (k – 1) (j + 1)

.

Conclu i-se que a parcela rela t iva dos sa lá r ios no va lor agregado é de-terminada pelo grau de monopólio e pela razão en t re os custos dematér ias-pr imas e os custos de mão-de-obra .

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Pode-se empregar para o ramo manufa tureiro da indúst r ia comoum todo uma fórmula semelhante à que foi estabelecida para um de-terminado ramo de indúst r ia . Contudo, aqui a razão en t re rendimentose custos diretos e a razão en t re custo de matér ias-pr imas e sa lá r iosdependem também da impor tância dos vár ios ramos da indúst r ia nosetor manufa tureiro tomado como um todo. A fim de separar esse ele-mento, podemos proceder do seguin te modo: na fórmula (3), em lugarde k , que é a razão en t re rendimentos e custos diretos, e em lugar dej, que é a razão en t re custos de matér ias-pr imas e custos de mão-de-obra , colocamos as razões k ′ e j′, a justadas de forma ta l que fica eli-minado o efeito de a lterações da impor tância dos diversos ramos daindúst r ia . Assim, obtemos:

w ′ = 11 + (k ′ − 1) (j′ + 1)

(3′)

A parcela rela t iva dos sa lá r ios no va lor agregado, w ′, obt ida dessaforma, apresen ta rá um desvio em comparação com a parcela rela t ivarea l dos sa lá r ios, w , na medida de uma quant ia que será devida amodificações na composição indust r ia l do va lor agregado.

Dos parâmet ros da fórmula (3′), k ′ é determinado pelo grau demonopólio nos ramos da indúst r ia manufa tureira . O problema dos de-terminantes de j′ é um pouco mais complicado. Os preços das maté-r ias-pr imas são determinados pelos preços dos produtos pr imár ios, pelocusto dos sa lá r ios nas pr imeiras etapas da produção e pelo grau demonopólio presen te nessas etapas. Assim, grosso m odo, j′, que equiva leà razão en t re os custos de matér ias-pr imas por un idade e os custosde sa lá r ios por un idade, é determinado pela razão en t re os preços dosprodutos pr imár ios e os custos dos sa lá r ios por un idade e também pelograu de monopólio do ramo.25 Em resumo: a parcela rela t iva dos sa lá r iosno va lor agregado da indúst r ia manufa tureira é determinada , não sópela composição indust r ia l do va lor agregado, como pelo grau de mo-nopólio e pela razão en t re os preços das matér ias-pr imas e os custosde sa lá r ios por u n ida de. U m a eleva çã o do gr au de m on opólio ou dospreços da s m at ér ias-pr im a s com rela ção aos cu stos de sa lá r ios porun idade provoca um a qu eda da pa r cela r ela t iva dos sa lá r ios no va loragregado.

Cumpre lembrar a esse respeito que, ao cont rá r io do que sucedecom os preços de produtos acabados, os preços de matér ias-pr imas são“determinados pela demanda”. A razão en t re os preços de matér ias-

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25 Essa genera lização esquemát ica se baseia em duas suposições simplificadoras: (a) que oscustos un itá r ios de mater ia is se modificam proporciona lmente aos preços dos mater ia is,isto é, as modificações ocor r idas na eficiência da u t ilização dos mater ia is não são levadasem conta ; e (b) que os custos de sa lá r ios por un idade nas pr imeiras etapas da produçãovar iam proporciona lmente aos custos de sa lá r ios por un idade nas etapas mais avançadas.

pr imas e os custos de sa lá r ios por un idade depende da demanda dematér ias-pr imas (determinada pelo n ível de a t ividade econômica) emrelação à sua ofer ta — que é inelást ica a cur to prazo.

Podemos agora , usando o mesmo enfoque, volta r -nos para umgrupo de ramos da indúst r ia de âmbito maior que a manufa tureira eonde o padrão de formação de preços possa ser t ido como semelhante,a saber , o grupo formado pela indúst r ia manufa tureira , pela da cons-t rução civil, pela dos t ranspor tes e pela dos serviços. Para esse grupocomo um todo a parcela rela t iva dos sa lá r ios no tota l do va lor agregadodiminuirá em conseqüência de um aumento do grau de monopólio oude um aumento da razão en t re os preços dos produtos pr imár ios e oscustos de sa lá r ios por un idade. O resu ltado também será a fetado, écla ro, por modificações da composição indust r ia l do va lor agregado dogrupo.

Pode-se agora demonst ra r que esse teorema pode ser genera lizadode forma a cobr ir a parcela rela t iva dos sa lá r ios na renda bru ta naciona ldo setor pr ivado (isto é, a renda naciona l an tes da depreciação e seminclu ir a renda dos funcionár ios do governo). Além dos setores da eco-nomia mencionados acima, t emos a inda que levar em consideração aagr icu ltura e a mineração, as comunicações e empresas de prestaçãode serviços ao público (elet r icidade, gás, t elefone, esgotos etc.), o co-mércio, as empresas imobiliá r ias e do setor financeiro. Na agr icu lturae na mineração os produtos são matér ias-pr imas e a parcela rela t ivados sa lá r ios no va lor agregado depende pr incipa lmente da razão en t reos preços das matér ias-pr imas produzidas e seu custo de sa lá r ios porunidade. Nos demais setores, a parcela rela t iva dos sa lá r ios no va loragregado é insign ifican te. Veremos assim que, em termos gera is, ograu de m onopoliza ção, a r azão en t r e os p reços de m at ér ias-pr im a se cust os de sa lá r ios por un ida de e a com posição in dust r ia l26 sã o osdet er m in an tes da pa rcela r ela t iva dos sa lá r ios n a r enda bru t a doset or pr iva do.

Mu dan ças a lon go e a cu rto prazo n a d is tribu ição da re n da

As mudanças a longo prazo na parcela rela t iva dos sa lá r ios, querno va lor agregado de um grupo indust r ia l como o setor manufa tureiroou na renda bru ta de todo o setor pr ivado, são, de acordo com o quefoi visto acima, determinadas pelas tendências a longo prazo do graude monopolização e dos preços das matér ias-pr imas com relação aoscustos de sa lá r ios por un idade, bem como da composição indust r ia l. Ograu de monopólio apresen ta uma tendência gera l a aumentar a longo

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26 Deve-se sa lien ta r que, por composição indust r ia l, queremos dizer a composição do valor darenda bru ta do setor pr ivado. Assim, as modificações da composição dependem não só demodificações do volum e dos componentes indust r ia is como também do movimento rela t ivodos preços respect ivos.

prazo e assim a depr imir a parcela rela t iva dos sa lá r ios na renda ,apesar de, como vimos acima, essa tendência ser muito mais for te emalguns per íodos que em out ros. É difícil, contudo, genera liza r a respeitoda relação en t re os preços de matér ias-pr imas e os custos de sa lá r iospor un idade (relação essa que depende das mudanças a longo prazoda posição das matér ias-pr imas no que diz respeito à ofer ta e à procura)ou a respeito da composição indust r ia l. Nenhuma afirmação a prioriser ia por tan to possível quanto às tendências a longo prazo da parcelarela t iva dos sa lá r ios na renda . Como iremos ver na par te seguin te, aparcela rela t iva dos sa lá r ios no va lor agregado do setor manufa tureirodos Estados Unidos declinou consideravelmente após 1880, enquantono Reino Unido27 os sa lá r ios mant iveram sua parcela na renda naciona ldesde a década de 1880 a té 1924, apresen tando a ltos e ba ixos a longoprazo no decor rer do per íodo.

É possível dizer a lgo mais específico quanto a mudanças na par -cela rela t iva dos sa lá r ios na renda no decurso do ciclo econômico. Ve-r ificamos que o grau de monopólio tende a aumentar um pouco duran teas depressões (cf. p. 39). Nessa fase, os preços das matér ias-pr imascaem com relação aos sa lá r ios (cf. p. 45). A pr imeira in fluência apontadatende a reduzir a parcela rela t iva dos sa lá r ios na renda , enquanto asegunda tende a aumentá-la . F ina lmente, as modificações da compo-sição indust r ia l duran te uma depressão a fetam de maneira adversa aparcela rela t iva dos sa lá r ios. De fa to, essas mudanças são dominadaspor uma redução do invest imento com relação às ou t ras a t ividades ea parcela rela t iva dos sa lá r ios na renda das indúst r ias de bens decapita l é em gera l mais elevada que nas ou t ras indúst r ias. (Em co-municações, empresas de prestação de serviços ao público, no comércio,empresas imobiliá r ias e do setor financeiro, par t icu la rmente, o paga-mento de sa lá r ios é rela t ivamente desprovido de impor tância .)

Os efeitos líqu idos das modificações desses t rês fa tores sobre aparcela rela t iva dos sa lá r ios na renda — o pr imeiro e o terceiro dosqua is são nega t ivos, enquanto o segundo é posit ivo — parecem serpequenos. Assim, a parcela rela t iva dos sa lá r ios, quer no va lor agregadode um grupo indust r ia l, quer na renda bru ta do setor pr ivado comoum todo, parece não apresen ta r flu tuações cíclicas sign ifica t ivas.

O que foi dito acima pode ser demonst rado: (a) por uma aná lisedas mudanças a longo prazo da parcela rela t iva dos sa lá r ios no va loragregado do setor manufa tureiro dos Estados Unidos e na renda na-ciona l do Reino Unido; (b) por uma aná lise das mudanças na parcelarela t iva dos sa lá r ios no va lor adiciona l do setor manufa tureiro dosEstados Unidos duran te a Grande Depressão; e (c) por uma aná lisedas mudanças duran te o mesmo per íodo na parcela rela t iva dos sa lá r iosna renda naciona l dos Estados Unidos e do Reino Unido.

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27 Ingla ter ra , Escócia , Pa ís de Gales e Ir landa do Nor te. (N. do T.)

Mu dan ças a lon go prazo n a parce la re lativa dos sa lários n ovalor agre gado do se tor m an u fatu re iro dos Estados Un idos e

n a re n da n ac ion al do Re in o Un ido

As modificações a longo prazo na parcela rela t iva dos sa lá r iosno va lor agregado do setor manufa tureiro dos Estados Unidos são ana-lisadas na tabela 6:

TABELA 6. Parcela R elativa dos S alários no Valor Agregado no S etorManufatureiro dos Estados Unidos, 1879-1937.

Fonte: United S tates Censu of Manufactures.

Nas duas pr imeiras colunas aparecem k ′ e j′, isto é, a razão“a justada” en t re rendimentos e custos diretos e a razão “a justada” en t reos custos de matér ias-pr imas e custos de mão-de-obra .28 A par t ir dessasduas sér ies, t emos, median te o emprego da fórmula (3′), w ′, a parcelarela t iva rea l dos sa lá r ios no va lor agregado. F ina lmente, a parcelarela t iva rea l dos sa lá r ios no va lor agregado aparece na ú lt ima coluna .As modificações da diferença w – w ′ indicam a in fluência de modifica -ções na composição indust r ia l do va lor agregado.

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28 A razão “a justada” en t re rendimentos e custos diretos, k’, é a mesma sér ie da tabela 3,acima. Quanto aos va lores or igina is da razão en t re custos de matér ia -pr ima e custos demão-de-obra quanto à descr ição do cá lcu lo da sér ie j’ “a justada” dada na tabela 6, ver oApêndice Esta t íst ico, Notas 2 e 3. Os a justes rea lizados em função de modificações noescopo e nos métodos do Censo são descr itos a li.

Parece que w , a parcela rela t iva rea l dos sa lá r ios no va lor agre-gado, sofreu uma queda considerável — embora não cont ínua — nodecor rer do per íodo enfocado. Essa queda resu ltou pr incipa lmente doaumento da razão “a justada” en t re rendimentos e custos diretos, w ′,que na nossa in terpretação reflete um aumento do grau de monopoli-zação. A razão “a justada” en t re os custos de matér ias-pr imas e custosde mão-de-obra , j, t endeu a ca ir e não a subir , de modo que em gera las modificações sofr idas por ela amenizaram o declín io de w . F ina l-mente os efeitos das modificações da composição indust r ia l se deramno sen t ido de reduzir a parcela rela t iva rea l dos sa lá r ios no va loragregado w : de fa to, ca iu mais que o va lor a justado w ′.

Não existem dados com respeito à parcela rela t iva dos sa lá r iosna renda naciona l dos Estados Unidos duran te um per íodo de tempolongo. J á para o Reino Unido, contudo, t a is dados se acham disponíveis.

TABELA 7. Parcela R elativa dos S alários na R enda Produzida In ter-nam ente no R eino Unido, 1881-1924.

Fontes: PR ES T . A. R . “N ational Incom e of the United Kingdom ”. In: Economic J ourna l. Marçode 1948; Estim ativas não publicadas da renda de u ltram ar do R eino Unido, com piladas por F.Hilgendt; S tatist; BOWLEY , A. L . Wages and Income in the United Kingdom Since 1860. T abela1, p. 6, índ ice da taxa salarial de Woods.

Na tabela 7, aparece a parcela rela t iva dos sa lá r ios na rendanaciona l produzida in ternamente29 no Reino Unido. Além disso, a t abela

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29 Ren da n acion a l produ zida in t er n am en t e é a r en da n a cion a l exclu sive a ren da proven ien t ede in vest imen t os est r an geir os, qu e é ir releva n t e par a o pr oblem a da dist r ibu içã o a qu icon sidera do. Deve-se sa lien t ar qu e mesm o depois desse a ju st e os dados n ão cor r espon demcomplet a men t e a n ossos con ceit os porqu e se r elacion am com a ren da n acion a l líqu idae n ã o com a bru t a , e por qu e a r en da n a cion a l in clu i a ren da dos em prega dos do Govern o,en qu an t o n ós t r a t a mos a cim a com a par cela rela t iva dos sa lá r ios n a r en da do set orpr ivado. Contudo, parece provável que esses fa tores não possam afeta r ser iamente a ten-dência da parcela rela t iva dos sa lá r ios na renda naciona l.

dá a razão en t re o índice de Sauerbeck dos preços no a tacado e oíndice da taxa sa la r ia l, o que pode ser tomado como um indicadoraproximado das modificações na razão en t re preços de matér ias-pr imase custos de sa lá r ios por un idade. Apesar de o índice de Sauerbeck serum índice gera l de preços de a tacado, baseia -se pr incipa lmente nospreços de matér ias-pr imas e semimanufa turados. É verdade que o ín -dice da taxa de sa lá r ios se eleva mais rapidamente (ou ca i mais len-tamente) que o índice de custos de sa lá r ios, devido à elevação secula rda produt ividade, de modo que uma tendência decrescente se achapresente em nosso indicador da razão en t re os preços das matér ias-pr imas e os custos de sa lá r ios por un idade. Essa tendência , contudo,tem uma propensão a ser len ta , mormente porque o índice da taxa desa lá r ios se baseia parcia lmente em taxas de sa lá r ios por produção.Por tan to, é muito provável que a razão en t re os preços de matér ias-pr imas e custos de sa lá r ios tenha ca ído de 1881/85 a 1891/95, comoaconteceu com o indicador . Cer tamente aumentou de 1896-1913; e ca iude novo de 1911/13 a 1924.

O movimento da parcela rela t iva da remuneração do fa tor t ra -ba lho na renda naciona l pode ser in terpretado de forma plausível doseguin te modo: embora tenha havido uma elevação a longo prazo dograu de monopolização, sua in fluência foi em grande par te cont raba-lançada pela queda da razão en t re os preços das matér ias-pr imas eos custos de sa lá r ios por un idade de 1881/85 a 1891/95. A influênciado grau de monopólio foi reforçada pela elevação da razão en t re ospreços das matér ias-pr imas e os custos de sa lá r ios por un idade noper íodo de 1896-1900 a 1911/13, e fina lmente mais que cont raba lançadapor uma queda nessa razão de 1911/13 a 1924. Assim, o fa to de quea parcela rela t iva dos sa lá r ios na renda naciona l em 1924 foi a mesmaque t inha sido no per íodo 1881/85, resu lta r ia , segundo essa in terpre-tação, do equilíbr io acidenta l da in fluência de mudanças no grau demonopólio e mudanças na razão en t re os preços das matér ias-pr imase os custos de sa lá r ios por un idade. Infelizmente, essa in terpretaçãonão pode ser tomada como defin it iva , devido à possibilidade da in -fluência de modificações da composição indust r ia l da renda naciona l.

Mu dan ças n a parce la re lativa dos sa lários n o valor agre gadodo se tor m an u fatu re iro dos Estados Un idos du ran te a

Gran de De pre ssão

A tabela 8 apresen ta uma aná lise das mudanças da parcela re-la t iva dos sa lá r ios no va lor agregado do setor manufa tureiro dos Es-tados Unidos duran te a Grande Depressão, fundada no mesmo métodoempregado para a aná lise das modificações a longo prazo. (Cf. t abela6.) A tabela apresen ta a razão “a justada” en t re rendimentos e custosdiretos k ′, bem como a razão “a justada” en t re os custos de matér ias-pr imas e os custos de mão-de-obra j′.

A par t ir de k ′ e j′ ca lcu lamos w ′ — a parcela rela t iva “a justada”

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dos sa lá r ios no va lor agregado — empregando a fórmula (3′). F ina l-mente aparece a parcela rela t iva rea l dos sa lá r ios no va lor agregado,w . As modificações da diferença w − w ′ r efletem o efeito das mudançasda composição indust r ia l.

Se abst ra irmos provisor iamente a in fluência das modificações dacomposição indust r ia l, levando em conta assim só k ′, j′ e w ′, t emos oseguin te: de 1929 a 1933 a razão en t re os rendimentos e os custosdiretos, k ′, aumenta , reflet indo a elevação do grau de monopólio duran tea depressão (cf. p. 45).

Contudo, ao mesmo tempo, a razão en t re os custos de matér ias-pr imas e custos de mão-de-obra declina , devido à queda , t ípica da fasede depressão, dos preços das matér ias-pr imas com relação aos sa lá r ios.A influência desses dois fa tores sobre a parcela rela t iva dos sa lá r iosno va lor a gr egado, w ′, se m an ifest a em d ir eções opost as. Com o w ′perm an eceu est á vel de 1929 a 1933, pa rece qu e esses dois fa t oresm an t ivera m -se em equ ilíbr io. De 1933 a 1937, a pa rcela r ela t iva“a ju st a da” dos sa lá r ios no va lor a grega do, w ′, au m en tou , devido àqu eda da r azã o “a just ada ” en t r e os r en dim ent os e os cu stos dir etos,k ′, qu e não foi con trabalançada pela elevação d a razão “aju stada”en tre os custos d e m atérias-prim as e os cu stos d e m ão-de-obra, j′.E st a sit ua ção r eflet e a r edu çã o rela t ivam ent e gr an de no grau dem on opólio na fa se de r ecu peração, r esu lt an t e do acr éscim o de poder io

TABELA 8. Parcela R elativa dos S alários no valor Agregado do S etorManufatureiro dos Estados Unidos, 1929/ 37.

dos sindica tos. A tendência a longo prazo dos preços das matér ias-pr i-mas no sen t ido de decrescer com relação aos custos dos sa lá r ios, quese reflete no fa to de que j′ não recobrou em 1937 seu n ível de 1929,foi um dos fa tores que cont r ibu íram para isso.

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Qua nto à difer ença en t re a pa rcela r ela t iva r ea l e “a just a da ”dos sa lá r ios n o va lor agregado, w — w ′, pa rece que ca iu na depressão(w ca iu u m pouco de 1929 a 1933, en qu an to w ′ perm a neceu m aisou m en os est ável; de 1933 a 1937 w au m en tou pou co m a is qu e w ′).Isso se deve pr incipa lm ent e a u m maior declín io na produ ção debens de ca pit a l, do qu e na pr odu çã o do set or m an ufa tu r eiro com oum t odo du ran t e a depressão. De fa to, a pa r cela r ela t iva dos sa lá r iosno va lor agregado é m ais elevada pa ra esses p rodu tos que pa ra osbens m an ufa tur ados com o um t odo e assim a r edução da im por t ân ciada produ ção dos ben s de cap it a l dura n t e a depressã o t en de a r eduzira pa rcela r ela t iva dos sa lá r ios n o va lor a gr egado do setor m an ufa -tu reiro com o u m todo.

Ser ia de a lgum in t er esse est abelecer o peso dos t r ês fa t oresconsider ados a cim a na det erm in ação do movimen to da pa r cela r e-la t iva dos sa lá r ios n o va lor agregado no decor rer do ciclo. P a r a essefim , podemos ca lcu la r a pa r t ir da fór m ula (3′) qua l ser ia o va lor dew ′ em 1933, ca so se a lt er a sse apen as a r azã o en t r e os r end im entose os custos dir etos, en qu an to a r azão en t r e custos de m at ér ias-pr im a se cu stos de m ão-de-obr a per m an ecesse no n ível de 1929. O resu lt adoé 34,6%. Esse va lor , ju n t a m en te com o de w de 1929 e de 1933 ecom o de w ′ em 1933 (cf. t a bela 8), nos perm it e con st ru ir a t a bela9. (ver p . 58).

A diferença en t re a segunda coluna e a pr imeira nos dá o efeitoda modificação da razão en t re os rendimentos e os custos diretos; adiferença en t re a terceira e a segunda coluna , o efeito da modificaçãona razão en t re custos de matér ias-pr imas e custos de mão-de-obra ; ea diferença en t re a quar ta e a terceira , o efeito da modificação nacomposição indust r ia l.

Veremos que os efeitos dos t rês fa tores considerados são rela t i-vamente pequenos. Assim, o seu sa ldo também é pequeno e isso explicaa estabilidade aproximada da parcela rela t iva dos sa lá r ios no va loragregado duran te a depressão.

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TABELA 9. Análise das Alterações da Parcela R elativa dos S aláriosno Valor Agregado do S etor Manufatureiro dos Estados Unidos,1929/ 33.

Modificaçõe s n a parce la re lativa dos sa lários n a re n dan acion al n os Estados Un idos e n o Re in o Un ido du ran te

a Gran de De pre ssão

Infelizmente, não existem dados exa tos sobre o assunto, quantoaos Estados Unidos, já que as esta t íst icas da renda naciona l não fazemseparação en t re sa lá r ios e ordenados. É possível, contudo, formar umaidéia aproximada das modificações na parcela rela t iva dos sa lá r ios narenda do setor pr ivado para o per íodo 1929/37. Os dados sobre os sa -lá r ios do setor manufa tureiro da indúst r ia existem.30 Conforme foi men-cionado acima, os sa lá r ios pagos são insign ifican tes em a lguns gruposindust r ia is, a saber , no comércio (os ba lconistas são classificados comofuncionár ios que recebem ordenados), no setor financeiro e no imobi-liá r io, no de comunicações e no de empresas de prestação de serviçosao público. Quanto às indúst r ias restan tes, isto é, a da agr icu ltura ,da mineração, da const rução civil, do t ranspor te e a de serviços, só sedispõe de dados englobando sa lá r ios e ordenados. Se ca lcu la rmos umíndice ponderado dos sa lá r ios do setor manufa tureiro de um lado edos sa lá r ios e ordenados da agr icu ltura , da mineração, da const rução,do t ranspor te e de serviços do out ro, obteremos uma aproximação doíndice do tota l dos sa lá r ios. (De fa to, os sa lá r ios no setor manufa tureiroconst ituem cerca da metade do tota l dos sa lá r ios, enquanto os ordenadosdos demais ramos da indúst r ia que estamos considerando se mantêmem cer ta medida para lelos aos sa lá r ios.) Prosseguimos dividindo esse

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30 Existem as sér ies referen tes às folhas de pagamento de todos os anos e estão de acordocom o Censo dos Fabricantes no que diz respeito aos anos que foram objeto do Censo.

índice pelo da renda bru ta do setor pr ivado e desse modo obtemos umíndice aproximado da parcela rela t iva dos sa lá r ios nessa renda .

Essa sér ie demonst ra uma len ta tendência ascendente, a longoprazo, que pode ser a t r ibu ída pr incipa lmente a uma queda no graude monopólio resu ltan te do for ta lecimento dos sindica tos depois de1933 e em a lguma medida a um declín io dos preços de matér ias-pr imascom relação aos custos dos sa lá r ios. As flu tuações cíclicas são obvia -mente pequenas. (Se os ordenados na agr icu ltura , na mineração, naconst rução civil, nos t ranspor tes e nos serviços fossem eliminados, oíndice ser ia ligeiramente mais ba ixo duran te a depressão, porque osordenados em gera l caem ligeiramente menos que os sa lá r ios; mastambém não há dúvida de que as flu tuações cíclicas permanecer iampequenas.) Esse resu ltado é ext remamente provável devido à in teraçãodos mesmos fa tores que emergiram da aná lise da parcela rela t iva dossa lá r ios no va lor agregado das indúst r ias do ramo manufa tureiro.

TABELA 10. Índ ice Aproxim ado da Parcela R elativa dos S alários naR enda Bruta do S etor Privado dos Estados Unidos, 1929/ 37.

Fontes: United S tates Census of Manufactures; Departam ento de Com ério dos Estados Unidos.Suplemento Sobre a Renda Naciona l de Survey of Curren t Business, 1951. Para m ais detalhes,ver o Apêndice Estátistico, N ota 4.

Durante a depressão houve provavelmente uma elevação do grau demonopolização nas indústrias “que pagam salários”, mas uma queda nospreços das matérias-primas com relação aos salários. As modificações nacomposição industr ial do setor privado durante a depressão tenderam areduzir a parcela relat iva dos salários. De fato, houve um deslocamentorelativo na distr ibuição da renda nacional, das indústrias “que pagam

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salários” para os outros ramos: e também no interior do grupo “que pagasalários”, dos ramos com uma parcela relat iva mais elevada para os comuma parcela relat iva de salários mais baixa na renda bruta. Esses des-locamentos deveram-se mormente à redução — relat ivamente maior du-rante a depressão — do invest imento. Assim, da mesma forma que nossetores manufatureiros da indústria, o efeito adverso da elevação do graude monopólio e da mudança da composição industr ial durante a depressãoparece ter sido aproximadamente contrabalançado pela influência da que-da dos preços das matérias-primas com relação aos salários.

Podemos agora considerar a relação en t re sa lá r ios e renda na-ciona l produzida in ternamente no Reino Unido no per íodo de 1929/38.31

Existem duas sér ies de renda naciona l para o per íodo em questão:uma est imada pelo Professor A. L. Bowley e ou t ra por J . R. S. Stone.Contudo, existe apenas a est imat iva de Bowley para os sa lá r ios. Fe-lizmente, contudo, os índices de ambas as versões da renda naciona lsão em gera l bastan te semelhantes para o per íodo em questão, apesarde seus va lores absolu tos divergirem.

A tabela 11 dá índices das razões en t re os sa lá r ios (est imat ivade Bowley) e as duas var ian tes da renda naciona l. Pode-se ver que asduas sér ies não apresen tam flu tuações cíclicas marcantes.

TABELA 11. Índ ices da Parcela R elativa dos S alários na R enda N a-cional no R eino Unido. 1929/ 38.

Fontes: BOWLEY , A.L . Studies in the Nat iona l Income; PR ES T , A. R . “N ational Incom e of theUnited Kingdom ”. In: Economic J ourna l. Março de 1948; Board of Trade J ourna l.

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31 Conforme foi dito acima (ver nota 29), a sér ie de renda naciona l produzida in ternamenteno Reino Unido não cor responde exa tamente ao conceito de renda bru ta do setor pr ivadousado por nós, uma vez que a renda naciona l se en tende depois da depreciação e nela seincluem os ordenados de funcionár ios do Governo. Parece, contudo, que no per íodo consi-derado as modificações na parcela rela t iva dos sa lá r ios na renda naciona l assim defin idasão indica t ivas de mudanças cor respondentes ao nosso conceito.

Mu dan ças c íc licas n a parce la re lativa dos sa lários eorde n ados n a re n da bru ta do se tor privado

Tra tamos a té agora somente de mudanças na parcela rela t ivados sa lá r ios no tota l da renda . Tra ta remos agora rapidamente do pro-blema da parcela rela t iva da remuneração do fa tor t raba lho como umtodo na renda bru ta do setor pr ivado, levando em consideração não sóos sa lá r ios, mas também os ordenados. A aplicação da teor ia da dis-t r ibu ição de renda à aná lise das modificações a longo prazo da parcelarela t iva dos sa lá r ios e ordenados na renda ser ia difícil devido à cres-cente impor tância dos ordenados na soma de custos indiretos e lucros,mot ivada pela crescente concent ração econômica . Contudo, podem-seexaminar as flu tuações cíclicas na parcela rela t iva dos sa lá r ios e or -denados na renda bru ta do setor pr ivado, que são de bastan te in teresse.

Vimos acima que a parcela rela t iva dos sa lá r ios na renda bru tado setor pr ivado tende a ser razoavelmente estável no decurso do ciclo.O mesmo não é de se esperar , contudo, quanto à parcela rela t iva dossa lá r ios e ordenados em conjunto. Os ordenados, por const itu írem cus-tos indiretos, t endem a ca ir menos duran te a depressão e a elevar -semais duran te a fase de prosper idade do que os sa lá r ios. Assim, pode-seesperar que sa lá r ios e ordenados “rea is” V flu tuem menos no decursodo ciclo do que a renda bru ta “rea l” do setor pr ivado, Y .32 Conseqüen-temente, podemos escrever :

V = αY + B

onde B é um va lor posit ivo constan te a cur to prazo, embora su jeito amodificações a longo prazo. O coeficien te α é menor do que 1 porqueV < Y e B > 0. Se agora dividirmos os dois termos dessa equação pelarenda “rea l” Y , obteremos

VY = α + BY (4)

onde VY

é a parcela rela t iva dos sa lá r ios e ordenados na renda bru ta

do setor pr ivado. VY

aumenta , é cla ro, quando a renda “rea l” Y declina .

Podemos nota r que a equação (4) apresen ta um elo na teor ia do cicloeconômico desenvolvida adian te.

Aplicaremos agora a equação (4) aos dados dos Estados Unidospara o per íodo 1929/41. A parcela rela t iva dos sa lá r ios e ordenados33

na renda bru ta do setor pr ivado e o va lor dessa renda aos preços de

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32 Imaginamos que tan to sa lá r ios e ordenados como renda bru ta do setor pr ivado sejam de-flacionados pelo mesmo índice de preço.

33 Deve-se sa lientar que nos ordenados se encontram incluídos ordenados dos executivos queocupam cargos mais elevados nas empresas e que se acham mais per to, por tanto, dos lucros.

menos

1939 aparecem na tabela 12.34 De acordo com a equação (4), cor rela -cionamos a parcela rela t iva dos sa lá r ios e ordenados na renda V

Y com

a recíproca da renda “rea l” 1Y

e t ambém com o tempo t, a fim de in -corporar à aná lise uma possível t endência secu la r . (t é contado emanos a par t ir de 1935, que é o ponto médio do per íodo considerado.)Obtemos a seguin te equação de regressão:

VY ⋅ 100 = 42,5 + 707

Y + 0,11 t .

O coeficien te de cor relação dupla é 0,926. O va lor de VY

ca lcu lado apar t ir da equação de regressão também aparece na tabela 12. A ten-dência posit iva provavelmente reflete a in fluência da queda do graude monopolização e dos preços de matér ias-pr imas com relação aoscustos de sa lá r ios por un idade.

TABELA 12. Parcela R elativa dos S alários e Ordenados na R endaBruta do S etor Privado dos Estados Unidos, 1929/ 41.

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34 Como defla tor foi empregado o índice implícito na deflação do produto bru to rea l do setorpr ivado pelo Depar tamento do Comércio dos Estados Unidos. Para maiores deta lhes, vero Apêndice Esta t íst ico, Notas 5 e 6.

P ARTE S EGUNDA

A De te rm in ação dos Lu cros e daRe n da Nacion al

3

Os De te rm in an te s dos Lu cros

A te oria dos lu cros e m u m m ode lo s im plificado35

P odemos considerar em pr imeiro lugar os determinantes dos lu -cros em um modelo fechado, no qua l t an to os gastos do setor públicocomo a t r ibu tação sejam desprezíveis. O produto naciona l bru to, por -tan to, será igua l à soma do invest imento bru to (em capita l fixo e es-toques) e o consumo. O va lor do produto naciona l bru to será divididoent re t raba lhadores e capita listas e nada , pra t icamente, será pago comoimpostos. A renda dos t raba lhadores consiste em sa lá r ios e em orde-nados. A renda dos capita listas (ou lucros bru tos) engloba a depreciaçãoe lucros não dist r ibu ídos, dividendos e saques não operaciona is, a lu-guéis e ju ros. Temos assim o seguin te ba lanço do produto naciona lbru to, no qua l fazemos a dist inção en t re o consumo dos capita listas eo consumo dos t raba lhadores:

Lucros bru tos Invest imento bru toSa lá r ios e Ordenados Consumo dos Capita listas

Consumo dos Traba lhadoresP rodu to Nacion al Bru to P rodu to Nacion al Bru to

Se supusermos a inda que os t raba lhadores não fazem poupança ,o consumo dos t raba lhadores será en tão igua l à sua renda . Daí seconclu i diretamente en tão que

Lucros bru tos = Invest imento bru to + consumo dos capita listas

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35 A teor ia dos lucros aqui exposta foi desenvolvida já em 1935 em meu “Essa i d’une Théor iede Mouvement Cyclique des Affa ires”. In : R evue d’Econom ie Politique. Março-abr il de 1935;e em meu “A Macrodynamic Theory of Business Cycles”. In : Econom etrica. J u lho de 1935.

O que sign ifica essa equação? Quer dizer que os lucros em umdado per íodo determinam o consumo e o invest imento dos capita listas?Ou o cont rá r io? A resposta depende de qua l dos it ens est iver direta -mente su jeito às decisões dos capita listas. Ora , é cla ro que os capita -listas podem decidir consumir e invest ir mais num dado per íodo queno procedente, mas não podem decidir ganhar mais. Por tan to, são suasdecisões quanto a invest imento e consumo que determinam os lucrose não vice-versa .

Se tomarmos um período curto, podemos dizer que o invest imentoe o consumo dos capitalistas são determinados por decisões que tomaramforma no passado. É que leva um certo tempo para se pôr em prát icaum invest imento e é somente com uma certa demora que o consumo doscapitalistas responde a mudanças nos fatores que o influenciam.

Se os capita listas sempre decidissem consumir ou invest ir numdado per íodo o que ganharam no per íodo an ter ior , os lucros desse pe-r íodo dado ser iam igua is aos do an ter ior . Num caso desses, os lucrospermanecer iam estacionár ios e o problema da in terpretação da equaçãoacima perder ia sua impor tância . Mas não é isso que acontece. Apesarde os lucros do per íodo an ter ior serem um dos determinantes impor-tan tes do consumo e do invest imento dos capita listas, os capita listasem gera l não decidem consumir e invest ir num dado per íodo precisa -mente o que ganharam no an ter ior . Isso explica por que os lucros nãopermanecem estacionár ios, mas flu tuam com o tempo.

A argumentação acima necessita ser mat izada um pouco. As de-cisões com base no invest imento passado podem não determinar com-pletamente o volume de invest imento em um dado per íodo, devido auma inesperada acumulação ou esgotamento de estoques. A impor tân-cia desse fa tor , contudo, parece ter sido muitas vezes exagerada .

Há a inda que considerar o fa to de que as decisões quanto a con-sumo e invest imento em gera l são tomadas em termos rea is e en t re-mentes os preços podem mudar . Por exemplo, uma peça de equipamentoencomendada pode custa r mais ca ro agora que quando foi emit ido opedido. Para superar essa dificu ldade, suponhamos que os dois mem-bros da equação sejam ca lcu lados a preços constan tes.

Podemos agora conclu ir que os lucros bru tos rea is em um dadoper íodo cur to de tempo são determinados por decisões dos capita listas,com respeito a seu consumo e invest imento, tomadas no passado esu jeitas a cor reções dian te de modificações inesperadas no volume dosestoques.

Ser ia ú t il, pa ra a compreensão dos problemas colocados, apre-sen ta r as coisas de um ângulo um pouco diferen te. Imaginemos que,seguindo os “esquemas de reprodução” marxistas, subdividimos todaa economia em t rês depar tamentos: o Depar tamento I, que produzbens de capita l; o Depar tamento II, que produz bens de consumo paraos capita listas; e o Depar tamento III, que produz bens de consumo

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para os t raba lhadores. Os capita listas do Depar tamento III, depois deterem vendido aos t raba lhadores a quant ia de bens de consumo cor -respondente a seus sa lá r ios, a inda terão um excedente de bens deconsumo equiva len te a seus lucros. Esses bens serão vendidos aos t ra -ba lhadores do Depar tamento I e do Depar tamento II, e, como os t ra -ba lhadores não poupam, isso absorverá toda a sua renda . Assim, otota l dos lucros será igua l à soma dos lucros do Depar tamento I, maisos lucros do Depar tamento II e os sa lá r ios desses dois Depar tamentos:ou en tão, o tota l dos lucros será igua l ao va lor da produção dessesdois Depar tamentos — em out ras pa lavras, ao va lor da produção debens de capita l e de consumo para os capita listas.

A produção do Depar tamento I e do Depar tamento II t ambémirá determinar a produção do Depar tamento III, se a dist r ibu ição en t relucros e sa lá r ios em todos os Depar tamentos for fixa . A produção doDepar tamento III se deslocará para cima a té o ponto em que os lucrosaufer idos a par t ir dessa produção forem igua is aos sa lá r ios dos De-par tamentos I e II. Em outras palavras, o emprego e a produção doDepartamento III se deslocarão para cima até o ponto onde o excedentedessa produção sobre o que os t rabalhadores desse Departamento compramcom seus salários for igual aos salários dos Departamentos I e II.

O que foi dito acima escla rece o papel dos “fa tores de dist r ibu ição”,isto é, os fa tores que determinam a dist r ibu ição da renda (como o graude monopólio) na teor ia dos lucros. Dado que os lucros são determinadospelo consumo e invest imento dos capita listas, é a renda dos t raba lha-dores (igua l aqui ao consumo dos t raba lhadores) que é determinadapelos “fa tores de dist r ibu ição”. Dessa forma, o consumo e o invest imentodos capita listas, em conjunto com os “fa tores de dist r ibu ição”, deter -minam o consumo dos t raba lhadores e, conseqüentemente, a produçãoe o emprego em esca la naciona l. A produção naciona l se deslocará paracima a té o ponto em que os lucros dela aufer idos de acordo com os“fa tores de dist r ibu ição” forem igua is à soma do consumo e do inves-t imento dos capita listas.36

O caso ge n é rico

Agora podemos passar de nosso modelo simplificado para a si-tuação rea l onde a economia não é um sistema fechado e onde osgastos públicos e a dist r ibu ição não são desprezíveis. O produto naciona l

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36 A argumentação acima se baseia na suposição de ofer ta elást ica que foi feita na Pr imeiraPar te. Contudo, se a produção de bens de consumo para os t raba lhadores se processa semcapacidade ociosa , qua lquer aumento no consumo ou no invest imento dos capita listas irásimplesmente provocar uma elevação dos preços desses bens. Nesse caso, é a elevação dospreços dos bens de consumo dos t raba lhadores que aumentará os lucros no Depar tamentoIII a té o ponto em que eles forem igua is ao va lor elevado dos sa lá r ios dos depar tamentosI e II. Os sa lá r ios rea is irão ca ir , reflet indo o fa to de que os sa lá r ios aumentados se defrontamcom uma ofer ta de bens de consumo sem a lterações.

bru to en tão é igua l à soma do invest imento bru to, consumo, gastos doGoverno com bens e serviços, e o sa ldo da ba lança comercia l (expor taçãomenos impor tação). ("Invest imento" aqui quer dizer invest imento pr i-vado, sendo que os invest imentos públicos se enquadram no item “gas-tos do Governo com bens e serviços”.) Uma vez que o va lor tota l daprodução é dividido en t re capita listas e t raba lhadores ou pago em im-postos, o va lor do produto naciona l bru to do lado da renda será igua laos lucros bru tos depois de deduzidos os impostos, sa lá r ios e ordenadosdepois de deduzidos os impostos, mais todos os impostos, t an to diretoscomo indiretos. Dessa forma, temos o seguin te ba lanço do produto na-ciona l bru to:

Lucros bru tos Invest imento bru to deduzidos os impostos (diretos) Sa ldo da ba lança comercia l

Sa lá r ios e ordenados Gastos do Governo em deduzidos os impostos (diretos) bens e serviços

Impostos (diretos e indiretos)Consumo dos capita listasConsumo dos t raba lhadores

P rodu to Nacion al Bru to P rodu to Nacion al Bru to

Uma par te dos impostos é empregada em t ransferências ta is comogastos socia is, enquanto a par te restan te serve para financia r os gastosdo setor público em bens e serviços. Subt ra iamos de ambos os ladosdo ba lanço os impostos menos as despesas de t ransferência . Do ladoda renda , o it em “impostos” irá desaparecer e somaremos as t ransfe-rências aos sa lá r ios e ordenados. Do out ro lado, a diferença en t re osgastos do Governo em bens e serviços e os impostos menos as t rans-ferências será igua l ao déficit orçamentár io. Dessa forma o ba lançoserá assim:

Lucros bru tos Invest imento bru to deduzidos os impostos Sa ldo da ba lança comercia l

Sa lá r ios, ordenados e despesas Déficit orçamentár io de t ransferência deduzidos os Consumo dos capita listas

impostos Consumo dos t raba lhadores

P roduto Nacional Bruto m enos P rodu to Nacion al Bru to im postos , m ais de spe sas de m e n os im postos , m ais

tran sfe rê n cia de spe sas de tran sfe rê n cia

Agora , subt ra indo de ambos os lados os sa lá r ios, ordenados et ransferências, deduzidos os impostos, t eremos a seguin te equação:

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Invest im ento bru to Lucro bruto + Saldo da ba lança com ercia l

deduzidos os = + Déficit orçamentá rioim postos – Poupança dos tr aba lhadores

+ Consumo dos capita listas

Dessa forma, essa equação difere da equação do modelo simpli-ficado, na medida em que, em vez do invest imento, t emos agora oinvest imento mais o sa ldo da ba lança comercia l, mais o déficit orça-mentár io, menos a poupança dos t raba lhadores. É cla ro, contudo, quenossa relação an ter ior a inda preva lece se supusermos que tan to o or -çamento como o comércio externo são equilibrados e que os t raba lha-dores não poupam, isto é:

Lucros bru tos depois da = Invest imento bru to + consumo dedução dos impostos dos capita listas

Mesmo fazendo essas suposições, o sistema é muito mais rea listado que era com o pr imeiro modelo simplificado e de qua lquer formatoda a a rgumentação da par te an ter ior a inda se aplica . Temos quenos lembrar , contudo, de que agora estamos t ra tando com os lucrosdepois da dedução dos impostos, enquanto, no pr imeiro modelo sim-plificado, o problema não era considerado, uma vez que se supunhaque os impostos eram desprezíveis.

P ou pan ça e in ve stim e n to

Subt ra iamos o consumo dos capita listas de ambos os membrosda equação gera l dos lucros (ver acima) e somemos a poupança dost raba lhadores. Obteremos:

Poupança bru ta dos capita listas Invest imento bru toPoupança dos t raba lhadores Sa ldo de ba lança

comercialDéficit orçamentár io

Total da pou pan ça bru ta Total da pou pan ça bru ta

Assim, o tota l da poupança é igua l à soma de invest imento pr i-vado, sa ldo da ba lança comercia l e déficit orçamentár io, enquanto apoupança dos capita listas é igua l, é cla ro, a essa soma menos a pou-pança dos t raba lhadores.

Se supusermos que tan to o comércio externo como o orçamentodo Governo são equilibrados, t eremos que:

Poupança bru ta = Invest imento bru to

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Se supusermos, ademais, que os t raba lhadores não poupam, te-remos que:

Poupança bru ta dos capita listas = Invest imento bru to

Essa equação é equiva len te a :

Lucros líquidos = Investimento bruto + Consum o dos capit a list a s

porque pode ser obt ida a par t ir da equação an ter ior , deduzindo-se oconsumo dos capita listas de ambos os membros.

Devemos sa lien ta r que a igua ldade en t re poupança e invest imentomais sa ldo da ba lança comercia l, mais déficit orçamentár io no casogera l — ou só invest imento no caso especia l — será vá lida em todasas circunstâncias. Par t icu la rmente, ela será independente do n ível dataxa de ju ros, que a teor ia econômica costumava considerar o fa tor deequilíbr io en t re a procura e a ofer ta de capita l novo. Dent ro da con-cepção presen te, o invest imento, uma vez rea lizado, au tomat icamentefornece poupança necessár ia para financiá -lo. De fa to, em nosso modelosimplificado, os lucros em um dado per íodo const ituem o resu ltadodireto do consumo dos capita listas e do invest imento naquele per íodo.Se o invest imento aumenta em um cer to va lor , a poupança a par t irdos lucros é pro tan to maior .

Coloquem os a coisa de form a m ais con cret a : se a lgu ns capit a -list a s a um enta m seu in vest im en to u san do pa ra esse fim sua r eser valíqu ida , os lucr os dos ou t r os cap it a list a s se eleva r ã o pro tan to edessa form a a s r eser va s líqu idas in vest idas passa rã o à s m ã os dest esú lt im os. Se o invest im ent o a diciona l for fin an ciado por crédito ban -cá r io, o dispên dio da s qua nt ia s em qu est ã o fa rá com qu e idên t ica squ an t ias de lucros poupados se acum u lem sob a form a de depósitosba ncár ios. Os cap it a list a s invest idores poderã o, dessa m a neir a , em i-t ir t ít u los de cr édito no m esm o va lor e dessa for m a sa lda r os em -prést im os ban cá r ios a ssum idos.

Uma conseqüência impor tan te do que se acha exposto acima éque a taxa de ju ros não pode ser determinada pela demanda e pelaofer ta de capita l novo porque o invest imento é “au tofinanciado”. Osfa tores que determinam o n ível da taxa de ju ros são expostos na Par teTerceira .

O e fe ito do sa ldo da balan ça com e rcia l e dodé fic it orçam e n tário

No raciocín io que se segue, iremos freqüentemente supor o equi-líbr io tan to do orçamento governamenta l como do comércio externo,a lém de uma poupança dos t raba lhadores igua l a zero. Isso nos pos-sibilit a rá basear nossa a rgumentação na igua ldade en t re lucros depois

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da dedução dos impostos e a soma do invest imento bru to e o consumodos capita listas. Ser ia ú t il, contudo, dizer a lguma coisa agora sobre osign ificado da in fluência do sa ldo da ba lança comercia l e do déficitorçamentár io sobre os lucros.

De acordo com a fórmula estabelecida acima, os lucros são igua isao invest imento mais o sa ldo da ba lança comercia l, mais o déficit or -çamentár io, menos a poupança dos t raba lhadores, mais o consumo doscapita listas. Conclu i-se diretamente da í que um acréscimo do sa ldo daba lança comercia l elevará os lucros pro tan to, desde que os demaiscomponentes não se a lterem. (O mecanismo a í operan te é o mesmoque foi descr ito na página 66). O va lor de um incremento da produçãodo setor de expor tações será explicado pelo aumento dos lucros e sa -lá r ios daquele setor . Os sa lá r ios, contudo, serão gastos na compra debens de consumo. Desse modo, a produção de bens de consumo paraos t raba lhadores se expandirá a té o ponto em que os lucros aufer idosdessa produção aumentarem na medida dos sa lá r ios adiciona is do setorde expor tação.37

Conclu i-se diretamente do que foi dito acima que o sa ldo da ba-lança comercia l permite o aumento dos lucros acima do n ível que ser iadeterminado pelo invest imento e pelo consumo dos capita listas. É desseponto de vista que se poder ia considerar a lu ta pelos mercados externos.Os capita listas de um pa ís que conseguem dominar os mercados ex-ternos a té en tão det idos por ou t ros pa íses conseguem aumentar seuslucros às expensas dos capita listas dos ou t ros pa íses, que perderamesses mercados. Da mesma forma, uma met rópole colonia lista podeconseguir um sa ldo posit ivo em sua ba lança comercia l a t ravés de in -vest imentos em seus ter r itór ios dependentes.38

Um déficit orçamentár io tem efeito semelhante ao de um sa ldoposit ivo na ba lança comercia l. E le também permite um aumento doslucros acima do n ível determinado pelo invest imento pr ivado e peloconsumo dos capita listas. Em um cer to sen t ido, o déficit orçamentár iopode ser considerado um sa ldo posit ivo da ba lança comercia l a r t ificia l.Apresentando sa ldo posit ivo em sua ba lança comercia l, um pa ís recebemais por suas expor tações do que paga por suas impor tações. No casodo déficit orçamentár io, o setor pr ivado da economia recebe mais a t ravés

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37 Se a produção de bens de consumo para os t raba lhadores não dispõe de capacidade ociosa ,os preços desses bens irão subir a té o ponto em que os lucros aufer idos dessa produçãoaumentem na medida dos sa lá r ios adiciona is do setor de expor tação (ver nota 36 destecapítu lo).

38 Os emprést imos ao exter ior de dado pa ís não têm que ser ligados à expor tação de bensdesse pa ís. Se um pa ís A empresta a ou t ro pa ís B , este ú lt imo pode gasta r o dinheiro doemprést imo no pa ís C, que poderá aumentar pro tan to seu estoque de ouro e sua reservade divisas. Nesse caso, o emprést imo ao exter ior feito pelo pa ís A irá provocar um sa ldoposit ivo na ba lança comercia l do pa ís C acompanhado de um acúmulo de ouro ou de divisasnaquele pa ís. No caso de dependência colonia l, isso é difícil acontecer , isto é, a quant iainvest ida será normalmente gasta na met rópole.

dos gastos do Governo do que paga em impostos. A existência de umsaldo posit ivo na ba lança comercia l sign ifica um aumento do va lordevido pelos pa íses est rangeiros ao pa ís considerado. A existência deum déficit orçamentár io sign ifica um aumento do va lor devido pelosetor público ao setor pr ivado da economia . Esses dois excedentes dareceita sobre as despesas geram lucros da mesma forma.

O que foi dito acima demonst ra cla ramente a sign ificância dosmercados “externos” (inclusive os que são cr iados pelos déficit s orça-mentár ios) para uma economia capita lista . Sem esses mercados, oslucros são condicionados pela capacidade dos capita listas de consumirou de empreender o invest imento de capita l. O sa ldo da ba lança co-mercia l e o déficit orçamentár io é que permitem aos capita listas aufer irlucros sobre e acima de suas própr ias compras de bens de serviços.

A ligaçã o en t re os lu cros “ext ern os” e o im per ia lism o é óbvia .A lu t a pela divisão dos m ercados ext er nos exist en t es e a expan sãodos im pér ios colon ia is, que prop icia novas opor tu n ida des pa ra a ex-por t a ção de ca pit a l ligada à expor t a çã o de bens, pode ser vist a comoum esforço pa ra se obt er u m sa ldo posit ivo na ba la nça com ercia l,a fon t e clá ssica de lu cros “ext er nos”. Os a rm a m en tos e a s guer ra s,em gera l fin an ciados pelos déficit s or çam ent á r ios, são t a m bém um afon te dessa espécie de lucr os.

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4

Os Lu cros e o In ve stim e n to

Os lu cros e o in ve stim e n to de n tro de su pos içõe ss im plificadoras

Apontamos acima (p. 66) que o invest imento e o consumo doscapita listas são determinados por decisões or igina is no passado. Osdeterminantes das decisões quanto a invest imento, que são de cará terbastan te complexo, são t ra tados no capítu lo 9. Aqui iremos t ra ta r dadeterminação do consumo dos capita listas.

Podemos fazer a seguin te suposição, que é plausível enquantopr imeira aproximação, sobre o consumo “rea l” dos capita listas em umano dado, Ct: de que ele consiste em uma par te A e uma par te pro-porciona l a Pt – λ, o lucro rea l depois da dedução dos impostos de a lgumtempo a t rás, isto é:

Ct = qPt – λ + A (5)

onde λ: indica a demora da reação do consumo dos capita listas à mu -dança de sua renda cor ren te, q é posit ivo e <1 porque os capita listastendem a consumir apenas uma par te do incremento da renda . Defa to, esta par te tende a ser bastan te pequena , de forma que é provávelque q seja consideravelmente menor que 1. F ina lmente, A é constan tea cur to prazo, apesar de su jeito a modificações a longo prazo. Supore-mos, por enquanto, que tan to a ba lança comercia l como o orçamentodo Governo são equilibrados e que os t raba lhadores não poupam. Nessecaso, os lucros depois da dedução dos impostos P são igua is à somado invest imento I mais o consumo dos capita listas C:

P = I + C . (6)

Subst itu indo o va lor de C pela equação (5), obtemos:

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Pt = I t + qPt – λ + A . (7)

Conclu i-se que os lucros “rea is” ao tempo t são determinados peloinvest imento cor ren te e pelos lucros no tempo t – λ. Os lucros ao tempot – λ por sua vez serão determinados pelo invest imento àquele tempoe pelos lucros ao tempo t – 2λ, e assim por dian te. F ica cla ro assimque os lucros ao tempo t são função linear do invest imento ao tempot – λ, t – 2λ etc. e que os coeficien tes de invest imento,It, It – λ, It – 2λ etc., nessa relação, serão 1, q, q2 etc. respect ivamente.Ora , q, conforme foi dito acima, é menor que 1, e é provável que sejaconsideravelmente menor que 1. Dessa forma, a sér ie de coeficien tes1, q, q2, ... será rapidamente decrescente e conseqüentemente, en t reIt, It – λ, It – 2λ..., somente os coeficien tes rela t ivamente per to no tempocontarão na determinação dos lucros Pt . Os lucros desse modo serãofunção tan to do invest imento cor ren te como do invest imento do passadorecente; ou , fa lando em termos aproximados, os lucros seguem o in-vest imento com um hia to tempora l. Dessa forma, podemos escrevercomo equação aproximada:

Pt = f (It – ω) (8)

onde w é o h ia to tempora l envolvido.A forma da função f pode ser determinada da seguin te maneira :

voltemos um pouco à equação (7) e coloquemos em lugar de P seuva lor dado pela equação (8):

f (I t – ω) = I t + qf (It – ω – λ) + A .

Essa equação deverá ser vá lida qua lquer que seja o decurso notempo do invest imento It . Assim, deverá dar cober tura in ter alia aocaso onde o invest imento é mant ido por a lgum tempo num nível estável,de forma que tenhamos It = It – ω = It – ω – λ. Da í,

f (It) = It + qf (I t) + A

ou

f (It) = It + A1 – q .

Como essa igua ldade é vá lida para qua lquer n ível de I t, ela nosdá a forma da função f. Podemos en tão escrever a equação (8) como:

Pt = It – ω + A

1 – q(8′)

A significância da equação (8′) é que reduz o número de deter -

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min an tes dos lu cros de dois pa r a u m , devido a leva r em con sidera çãoa dependência do consu m o dos capit a list a s pa r a com os lucr os pa s-sados, con for m e nos dá a equ ação (5). Os lucros, de acordo com aequa çã o (8′), sã o det er m in ados com plet am ent e pelo invest im ento,acha ndo-se en volvido u m cer to h ia to t em por a l. Adem a is, o in vest i-men to depen de de decisões de invest ir a inda m ais r em ota s no pa s-sado. Con clu i-se que os lucros são determinados pelas decisões passa-das de invest ir .

A in terpretação da equação (8′) pode suscita r cer tas dificu ldades.Dent ro das suposições dadas de que a ba lança comercia l e o orçamentodo Governo são equilibrados e de que os t raba lhadores não poupam,o invest imento é igua l à poupança dos capita listas (ver p. 69). Conclu i-seentão diretamente da equação (8′) que a poupança dos capita listas“antecede” os lucros. Esse resu ltado pode parecer um paradoxo. O “sensocomum” suger ir ia a seqüência cont rá r ia — isto é, que a poupança édeterminada pelos lucros. Contudo, não é esse o caso. O consumo doscapita listas em um cer to per íodo resu lta de suas decisões baseadasnos lucros do passado. Uma vez que en t rementes os lucros mudam, apoupança rea l não cor responde à disposição de renda pretendida . Naverdade, a poupança rea l que é igua l ao invest imento irá “preceder”os lucros, conforme demonst ra a equação (8′). Pode-se apresen ta r oseguin te exemplo para ilust ra r como isso acontece. Imaginemos quetan to o invest imento como por tan to a poupança e também os lucrosse apresen tem constan tes por a lgum tempo. Imaginemos que ha ja en tãouma súbita mudança no invest imento. A poupança aumentará imedia-tamente jun to com o invest imento e os lucros também subirão na mes-ma proporção. Contudo, o consumo dos capita listas subirá somentedepois de a lgum tempo, como resu ltado desse aumento pr imár io doslucros. Dessa forma, os lucros a inda esta rão aumentando depois de jáse ter det ido o aumento do invest imento e da poupança .

O caso ge n é rico

De que forma a equação (8’) irá se modifica r se não aceita rmoso equilíbr io da ba lança comercia l e do orçamento do Governo nem quea poupança dos t raba lhadores é igua l a zero? Se indicarmos a somado invest imento pr ivado, do sa ldo da ba lança comercia l e do déficitorçamentár io por I’, a poupança dos t raba lhadores por s e o consumodos capita listas conforme acima por C, t emos, quanto aos lucros, aequação (ver p. 69-70):

P = I′ – s + C .

Veremos que para esse caso genér ico a equação (8′) será modi-ficada para :

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Pt = I′t – ω – st – ω + A

1 – q . (8′′)

De fa to, a fórmula (8′) foi obt ida a par t ir da relação en t re o consumodos capita listas e os lucros (equação 5) e da suposição de que o inves-t imento I é igua l à diferença en t re os lucros e o consumo dos capita listas.Assim, quando essa diferença for igua l a I′ – s, esse it em é que deveráentão subst itu ir I na fórmula (8′).

A equa ção (8′′) pode ser subst it u ída por u m a fór m ula m aissim ples, em bora a proxim a t iva . Devem os lem brar que o t ot a l da pou -pa nça é igua l à som a do invest im ent o, sa ldo da ba lan ça com ercia le do déficit orça m en tá r io, I ′ (ver p. 69). Além disso, a pesa r de emgera l a pou pan ça dos t r a ba lh adores, s, nã o ser igua l a zer o, seun ível e su as m odifica ções absolu t as sã o pequ en os em com pa ra çãocom o tot a l da poupa nça . Adem ais, n o decu r so do ciclo econôm ico,s deve apr esen t a r um eleva do gra u de cor relação com o tot a l dapoupa nça . (Isso é o que se con clu i das considerações qu e a presen -t a m os n o ca pítu lo segu in t e, on de est a belecem os u m a r ela çã o en t r eos lu cros e a r en da na ciona l.) Dessa form a , t em qu e a presen t a releva do grau de cor rela çã o com I ′. Con seqüent em ente, t em os com oum a boa aproxim açã o:

Pt = I′t – ω + A ′

1 – q′ (8′′′)

onde a mudança de parâmet ros de q pa ra q′ e de A pa ra A ′ r eflete asubst itu ição de I ′t – ω – st – ω pela função linear de I′t – ω. Devemos lem -brar que q é um coeficien te indicando que par te de um incrementonos lucros será a locada para o consumo, enquanto a constan te A é apar te do consumo dos capita listas que permanece estável a cur to prazoapesar de se achar su jeita a modificações a longo prazo. q′ e A ′ r efletem,a lém disso, a relação da poupança dos t raba lhadores com o tota l dapoupança , que é igua l a I′.

A fórmula (8′′′) é super ior à fórmula (8′′) no sen t ido de que podeser ilust rada por meios esta t íst icos. Isso é vir tua lmente impossível noque diz respeito a (8′′), já que não há dados esta t íst icos disponíveisquanto à poupança dos t raba lhadores, s.

Ilu stração e s tatís tica

Aplicaremos a equação (8′′′) aos dados dos Estados Unidos parao per íodo de 1929/40. Os va lores “rea is” dos lucros bru tos depois dadedução dos impostos, P,39 e de I′ aparecem na tabela 13. O sign ificado

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39 P é obt ido deduzindo-se todos os impostos diretos dos lucros bru tos. Os impostos diretossobre sa lá r ios e ordenados foram muito pequenos no per íodo considerado.

de I ′ é ligeiramente modificado em comparação com seu conceito básico.Além do invest imento bru to, do sa ldo da ba lança comercia l e do déficitorçamentár io, aqui se acham inclu ídas as comissões de cor retores. Nasesta t íst icas dos Estados Unidos essas despesas se encont ram inclu ídasno consumo. Contudo, como se t ra ta de um dispêndio t ípico de capita lque não se acha ligado in t imamente à renda , é procedente que aquio consideremos no mesmo pé que o invest imento. O índice de preçosimplícito na deflação do produto naciona l bru to do setor pr ivado éempregado como defla tor para ambas as sér ies.40

Antes de est abelecer a cor r elaçã o en t r e P e I′, foi n ecessá r iodet er m in ar o h ia to t em pora l, w , o qu e foi complica do pelo fa to dequ e pa recia ach ar -se presen te a lgu m a t endência n a rela çã o en t r eP e I′. A fim de con tor na r essa dificu ldade, a t en dên cia foi elim in adaaproxim ada m en te t om an do-se em con sidera çã o as p r im eir as d ife-r ença s ∆P e ∆I′. A cor r elaçã o en t r e essas difer en ças pa rece indica rqu e o m elh or a justa m en to será obt ido pa r a um h ia to de t empo decerca de t r ês m eses.

Em vista disso, P foi cor relacionado com I′t – 14, isto é, com I ′

deslocado para t rês meses a t rás por meio de uma in terpolação. Assim,I′t – 1

4 foi obt ido tomando-se 3/4 de I ′ num dado ano e 1/4 de I′ no ano

anter ior . A fim de se levar a tendência em consideração, foi estabelecidauma cor relação dupla de P′ com I′t – 1

4 e o tempo t (contado em anos

a par t ir do meio do per íodo 1929/40, isto é, de pr incípios de 1935). Aequação de regressão é:

Pt = 1,34I ′t – 1

4 + 13,4 – 0,13t .

O va lor dos lu cros, ca lcu lado a pa r t ir dessa equa ção, é dadona t a bela 13 pa r a efeit o de com pa ração com os lucr os r ea is. O graude cor rela çã o é bast a n t e elevado. O coeficien t e de cor relação du plaé 0,986.

Se não houvesse poupança a par t ir dos sa lá r ios e ordenados, o

coeficien te de I′t – 14 ser ia igua l a 1

1 – q na equação (8′). Nesse caso

dever íamos ter para q, que é o coeficien te indicando qua l par te de umincremento dos lucros será dir igida ao consumo:

11 – q

= 1,34; q = 0,25 .

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40 Para os deta lhes de cá lcu lo de P e de I’, ver o Apêndice Esta t íst ico, Notas 7 e 8.

TABELA 13. Determ inação dos Lucros nos Estados Unidos, 1929/ 40.

Isso sign ifica r ia que somente 25% dos lucros adiciona is ser iam dir igidosao consumo e 75% para a poupança . Na verdade, o coeficien te q serámaior porque uma par te da poupança vem da renda do t raba lho. Con-tudo, é improvável que q exceda muito 30%.

O coeficien te da tendência é nega t ivo, o que provavelmente seexplica em grande par te pelo fa to de que, devido à Grande Depressão,os lucros na década de 30 foram muito mais ba ixos que na décadaanter ior e porque essa queda dos lucros a longo prazo poder ia tercausado um declín io da constan te, A , duran te o per íodo considerado.Em out ras pa lavras, o padrão de vida dos capita listas estava declinandodevido à depressão dos lucros a longo prazo.

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5

De te rm in ação da Re n da Nacion al e do Con su m o

In trodu ção

No capítu lo 2 invest igamos a parcela rela t iva dos sa lá r ios e or -denados na renda naciona l e nos dois ú lt imos capítu los vimos a relaçãoent re os lucros e I ′, a soma do invest imento, do sa ldo da ba lança co-mercia l e do déficit orçamentár io. A combinação dos resu ltados dessasduas invest igações nos permit irá estabelecer uma relação en t re a rendanaciona l e I′. Assim, no caso especia l onde a ba lança comercia l e oorçamento governamenta l são equilibrados, a renda naciona l será re-lacionada ao invest imento I.

A fórmula para a parcela rela t iva dos sa lá r ios e ordenados narenda bru ta do setor pr ivado estabelecida no capítu lo 2 (p. 61) é:

VY

= α + BY

(4)

onde V é o va lor “rea l” dos sa lá r ios e ordenados e Y é a renda bru ta“rea l” do setor pr ivado. O coeficien te α é posit ivo e < 1 e a constan teB , que está su jeita a modificações a longo prazo, t ambém é posit iva .A diferença en t re Y e V é π, os lucros líqu idos an tes da dedução dosimpostos. (No capítu lo an ter ior , P r epresen tava os lucros líqu idos depoisda dedução dos impostos.) Temos por tan to:

Y – πY = α + BY

ou:

Y = π + B1 – α

(9)

79

Para melhor compreensão do que se segue, devem ser ditas a l-gumas pa lavras a respeito da diferença en t re o produto nacional bru toe a renda bru ta do setor privado, Y . A diferença en t re o produto nacionalbru to e o produto privado bru to consiste no produto do Governo e émedida pelos pagamentos aos empregados do setor público. A diferençaent re o va lor do produto pr ivado bru to e a renda bru ta do setor pr ivado,Y , consiste nos impostos indiretos que se acham inclu ídos no va lor doproduto pr ivado.41 Assim, a diferença en t re o produto naciona l bru toe a renda bru ta do setor pr ivado consiste nos pagamentos aos empre-gados do Governo e dos impostos indiretos.

P rodu to n ac ion al, lu cros e in ve stim e n to e mu m m ode lo s im plificado

Discutiremos o problema da determinação do produto ou da rendanacional primeiramente com respeito ao modelo simplificado ut ilizado noinício do capítulo 3. Supúnhamos ali um sistema fechado de rendimentose gastos governamentais desprezíveis. Conseqüentemente, o produto na-cional bruto é igual à soma do invest imento privado e do consumo. F izemostambém abstração da poupança dos trabalhadores. Para esse modelo, comovimos, a fórmula (8′), que relaciona os lucros depois da dedução dos im-postos, P, ao investimento, I (ver p. 75), é válida:

Pt = It – ω + A

1 – q (8′)

onde 1 > q > 0 e A > 0. Uma vez que o rendimento dos impostos édesprezível, podemos tomar como idênt icos os lucros an tes e depois dadedução dos impostos. O produto naciona l bru to e a renda pr ivadabru ta do setor pr ivado, Y , t ambém podem ser tomados como idênt icos,uma vez que tan to o pagamento dos empregados do Governo como osimpostos indiretos são desprezíveis. Temos por tan to as seguin tes e-quações para a determinação do produto naciona l bru to:

Y t = Pt

+ B1 – α

(9′)

Pt = It – ω + A

1 – q(8′)

É cla ro que a renda bru ta ou produto bru to, Y t ′, é completamente de-

terminada pelo invest imento, It – ω.

OS ECONOMISTAS

80

41 Uma vez que a renda bru ta do setor pr ivado, Y , é tomada aqui an tes dos impostos diretos,Y inclu i os impostos diretos.

Uma vez que a equação (9′) r eflete os fa tores que determinama dist r ibu ição da renda naciona l, t ambém podemos dizer : a renda bru ta ,Y t , se desloca a té um ponto em que os lucros sobre ela , determinadospelos “fa tores de dist r ibu ição”, cor respondem ao n ível de invest imentoIt – ω. O papel dos “fa tores de dist r ibu ição” é assim o de determinar arenda ou o produto com base nos lucros, que por sua vez são deter -minados pelo invest imento. O mecanismo dessa determinação da rendajá foi descr ito no cap. 3 (ver p. 66).

Daí se conclu i diretamente que as modificações na dist r ibu içãoda renda ocor rem não por meio de uma modificação dos lucros, P, masa t ravés de uma mudança na renda bru ta ou produto, Y . Imaginemos,por exemplo, que, devido à elevação do grau de monopólio, a parcelarela t iva dos lucros na renda bru ta aumente. Os lucros permanecerãosem a lteração, já que cont inuarão a ser determinados pelo invest imento,que depende das decisões de invest ir or iginadas no passado, mas ossa lá r ios e ordenados rea is e a renda bru ta ou produto irão ca ir . Onível de renda ou produto irá declinar a té o ponto em que a parcelarela t iva dos lucros mais elevada permit ir aufer ir o mesmo n ível absolu tode lucros. Nas nossas equações, a situação será reflet ida da seguin temaneira : o aumento do grau de monopólio provocará uma queda docoeficien te, α (de acordo com a equação (4), α é a par te da parcelarela t iva dos sa lá r ios e ordenados na renda Y que é independente do

nível de Y ; a ou t ra par te BY r epresen ta a in fluência do elemento de

custo indireto presen te nos ordenados). Em conseqüência , um n ívelmais ba ixo da renda ou produto, Y t , cor responderá a um dado n ívelde invest imento, It – ω .

Modificaçõe s n o in ve stim e n to e n o con su m o e mu m m ode lo s im plificado

Dadas as relações en t re os lucros e o invest imento e a rendabru ta e os lucros, conforme expressas nas equações (8′) e (9′), qua lquermodificação do invest imento provoca uma n ít ida modificação da renda .Uma elevação do invest imento em ∆It – ω provoca , com um hia to tem-pora l, uma elevação dos lucros em

∆Pt = ∆It – ω1 – q .

Ademais, uma elevação dos lucros em ∆P provoca uma elevação darenda bru ta ou produto em

KALECKI

81

∆Y t = ∆Pt

1 – α

ou

∆Y t = ∆lt – ω

(1 – α) (1 – q)

Deve-se lembrar que q é o coeficien te que indica a par te de ∆P, oincremento dos lucros, que será dedicada ao consumo; e que α é ocoeficien te que indica a par te de ∆Y , o incremento da renda bru ta ,que va i para sa lá r ios e ordenados. Tanto 1 – q como 1 – α são < 1, demodo que ∆Y t > ∆It – ω. Em out ras pa lavras, a renda bru ta ou produtoaumenta mais que o invest imento, devido ao efeito da elevação doinvest imento sobre o consumo dos capita listas (fa tor 1

1 – q) e sobre a

renda dos t raba lhadores (fa tor 11 – α ). Uma vez que aqui se supõe que

o consumo dos t raba lhadores seja igua l à sua renda , isso quer dizerque a renda aumenta mais que o invest imento, devido à in fluência doaumento do invest imento sobre o consumo dos capita listas e dos t ra -ba lhadores.42 Durante a depressão, a queda do invest imento tambémmot iva uma redução do consumo, de modo que a queda do n ível deemprego é maior do que a que se or igina diretamente da cont raçãoda a t ividade invest idora .

Para situar bem a na tureza desse processo na economia capita -lista , ser ia in teressan te considerarmos qua l ser ia o efeito de uma re-dução no invest imento num sistema socia lista . Os t raba lhadores libe-rados pela produção de bens de capita l ser iam empregados nas indús-t r ias de bens de consumo. O acréscimo da ofer ta desses bens ser iaabsorvido por meio de uma redução de seus preços. Uma vez que oslucros das indúst r ias socia listas ser iam igua is ao invest imento, os pre-ços ter iam que ser reduzidos ao ponto em que o declín io dos lucrosfosse igua l à queda do va lor do invest imento. Em out ras pa lavras, opleno emprego ser ia mant ido a t ravés da redução dos preços com relaçãoaos custos. No sistema capita lista , contudo, é mant ida a relação cus-to-preço, conforme se acha reflet ida na equação (9′), e os lucros caemno mesmo va lor que os invest imentos mais o consumo dos capita listasa t ravés da redução da produção e do n ível de emprego. É paradoxa l,

OS ECONOMISTAS

82

42 Deve-se sa lien ta r que a equação (9′), que reflete a relação preço-custo, se baseia na condiçãode elast icidade da ofer ta postu lada na Pr imeira Par te. Se a ofer ta de bens de consumo éinelást ica , um aumento do invest imento não resu lta rá em um aumento do volume de con-sumo, mas simplesmente em um aumento dos preços de bens de consumo (ver nota 36 docap. 3). Na a rgumentação seguin te, cont inuamos a supor , na mesma linha da Par te Pr imeira ,a condição de elast icidade da ofer ta .

rea lmente, que enquanto os apologistas do capita lismo gera lmente con-sideram o “mecanismo dos preços” a grande vantagem do sistema ca-pita lista , a flexibilidade dos preços demonst ra ser uma caracter íst icaprópr ia da economia socia lista .43

Até aqui vínhamos considerando a relação en t re as modificaçõesabsolu tas do invest imento, I, dos lucros, P, e da renda bru ta ou produto,Y . Será também in teressan te comparar suas modificações proporcio-nais. Para isso, voltemos às equações (8′) e (9′). Devemos lembrar quea constan te A , a par te estável do consumo dos capita listas, e a constan teB , a par te estável dos sa lá r ios, são posit ivas. Segue-se que os lucros,P, mudam proporciona lmente menos no decurso do ciclo econômico queo invest imento, I, e que o mesmo se aplica à renda bru ta , Y , comrelação aos lucros, P. Conseqüentemente, as modificações rela t ivas darenda bru ta , Y , são menores que as do invest imento, I.

Uma vez que no nosso modelo a renda bru ta ou produto, Y , éigua l à soma do invest imento e do consumo, as modificações rela t ivasdo consumo são menores que as da renda bru ta . Ora , se um componente(invest imento) var ia proporciona lmente mais do que a soma (rendabru ta ou produto), o ou t ro componente (consumo) tem que var ia r pro-porciona lmente menos do que a soma. Daí se conclu i diretamente queo invest imento var ia proporciona lmente mais do que o consumo, ou ,em out ras pa lavras, que ele ca i com relação ao consumo durante afase de depressão e que se eleva duran te a fase de prosper idade.

O caso ge n é rico

Abandonemos agora a suposição de que os gastos e os rendimentosdo setor público são desprezíveis. Por ora podemos cont inuar supondoque a ba lança comercia l e o orçamento do Governo são equilibrados eque os t raba lhadores não poupam. Assim, a equação (8′)

Pt = It – ω + A

1 – q (8′)

a inda se aplica , mas os lucros an tes da dedução dos impostos, π, nãosão mais idên t icos aos lucros depois da dedução dos impostos, P. Su-ponhamos, ou t rossim, que o sistema t r ibu tá r io seja dado e que a relaçãoent re os lucros “rea is” an tes dos impostos, π, e os lucros “rea is” depoisdos impostos, P, possa ser expressa aproximadamente por uma funçãolinear . Poderemos en tão subst itu ir a fórmula (9′) pela equação

KALECKI

83

43 Deve-se sa lien ta r que numa economia socia lista em expansão uma redução na razão pre-ço-custo reflet irá um deslocamento rela t ivo — e não absolu to — do invest imento para oconsumo.

Y t = Pt + B ′1 – α′

(9′)

onde as constan tes α e B não dependem simplesmente dos fa toressubjacentes à dist r ibu ição da renda naciona l, mas são influenciadastambém pelo efeito do sistema t r ibu tá r io sobre os lucros. A par t ir dessasduas equações fica aparen te que a renda bru ta do setor pr ivado Y énovamente determinada — com um hia to tempora l — pelo invest imentoI. A um incremento no invest imento ∆It – ω cor responde um incrementona renda bru ta :

∆Y t = ∆It – ω

(1 – α′) (1 – q)

∆Y aqui é mais uma vez maior que ∆I . Isso, contudo, é explicado nãosó pelo aumento do consumo dos capita listas e dos t raba lhadores sub-seqüente ao acréscimo do invest imento, mas também pelo maior volumede impostos diretos que pagam sobre a renda acrescida .

P assa ndo a gora a o ca so genér ico on de a ba lan ça com ercia l eo orça m en to do Governo nã o são necessa r iam ente equ ilibra dos eon de a poupan ça dos t r aba lha dor es nã o é n ecessa r ia m en te zero,t em os (ver p. 75)

Pt = I′t – ω + A ′

1 – q′(8′′′)

onde I′ é a soma do invest imento, do sa ldo da ba lança comercia l e dodéficit orçamentár io, e onde q′ e A ′ diferem de q e A na equação (8′)na medida em que refletem a poupança dos t raba lhadores. A formada equação (9′′) permanece ina lterada :

Y t = Pt + B ′1 – α′

(9′′)

Essas duas equações determinam Y , em termos de I′t – ω . O incrementoem Y t cor respondente ao incremento de I ′t – ω é

∆Y t = ∆I′t – ω

(1 – α′) (1 – q′)

A determinação do consumo é muito mais complicada do que nonosso modelo simplificado onde o consumo era a diferença en t re Y eI. No caso genér ico, o consumo é a diferença en t re o tota l da rendadepois dos impostos e a poupança . Agora a poupança é igua l a I ′, asoma do invest imento, do sa ldo da ba lança comercia l e do déficit or -çamentár io. O montan te da renda depois dos impostos aqui não é igua l

OS ECONOMISTAS

84

a Y . De fa to, este ú lt imo va lor é a renda bru ta do setor pr ivado, quenão engloba a renda dos empregados do Governo ou as despesas det ransferência do Governo e é antes dos impostos diretos. O montan teda renda depois dos impostos é igua l a Y , mais a renda dos empregadosdo Governo e as despesas de t ransferências do Governo e menos todosos impostos diretos. Segue-se que o consumo é igua l a Y – I′ menos osimpostos diretos, mais a renda dos empregados do Governo mais asdespesas de t ransferência . É óbvio que o consumo não pode ser com-pletamente determinado em termos de I′ pelas equações acima, quepermitem a determinação somente de Y – I′.

Ilu stração e s tatís tica

Tratemos agora de estimar os coeficientes da relação entre Y e I ′para os Estados Unidos no período 1929/41. Na página 62 estabelecemospara aquele período a seguinte equação para a parcela relat iva dos saláriose ordenados, V, na renda bruta do setor privado, Y :

VY ⋅ 100 = 42,5 + 707

Y + 0,11t

onde o tempo, t, é contado a par t ir de 1935.Levando em consideração que os lucros an tes dos impostos

π = Y – V , obtemos

Y – πY = 0,425 + 7,07

Y + 0,0011t .

A pa r t ir dessa equ ação, Y pode ser ca lcu la do com ba se em π. Ata bela 14 dá os va lores “r ea is” verda deiros de Y e π5 44 e o va lorca lcu la do de Y. O grau de cor rela çã o en t r e o va lor ver dadeiro e oca lcu la do de Y é ext r em am ente elevado. O coeficien t e de cor rela çãoé 0,995.

Se abandonarmos a tendência na equação acima, obtemos:

Y = 1,74 π + 12,2

qu e vem a se r a equ iva len t e da equ a çã o (9). N ecessi t a m os a in dacon s ide r a r os im pos t os sobr e os lu cr os se qu ise r m os obt er a r e -la çã o de Y com os lu cr os depois dos im pos t os , P . P a r a is so, cor -r ela cion a m os os lu cr os “r ea is” a n t es e depois dos im pos t os (P foi

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85

44 Como defla tor foi empregado novamente o índice implícito na deflação do produto bru to dosetor pr ivado pelo Depar tamento do Comércio dos Estados Unidos.

TABELA 14. R enda Bruta do S etor Privado e Lucros nos Estados Uni-dos, 1929/ 41.

dado acima na tabela 13) e obtemos uma equação de regressão que,podemos supor , ca racter iza o sistema t r ibu tá r io vigente naquele pe-r íodo.45 Essa relação en t re π e P nos permite expr imir Y em termosde lucros depois dos impostos, P. Temos por tan to como equiva len te daequação (9′′):

Y t = 2,03 Pt + 10,4 .

A r e la çã o en t r e P e I ’ p a r a o m es m o p er íod o foi e s t a be lecid aa cim a (p . 76). Desp r eza n d o a t en d ên cia , t em os com o equ iva -len t e d a equ a çã o (8 ’’’):

Pt = 1,34I ′ t – 14 + 13,4

Dessas duas equações obtemos:

OS ECONOMISTAS

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45 Tomamos em consideração aqui o per íodo 1929/40, em vez de 1929/41. A equação de regressãoé: P = 0,86π + 0,9. O grau de cor relação é bastan te elevado, o que resu lta do fa to de queo sistema de impostos diretos permaneceu razoavelmente estável duran te o per íodo consi-derado. Os impostos, contudo, sofreram elevação substancia l em 1941. (Para os deta lhes,ver o Apêndice Esta t íst ico, Nota 9.)

Y t = 2,72I ′ t – 14 + 37,7 .

O incremento de Y t que cor responde, com um hia to tempora l, a umincremento de I ′t – 1

4 é:

∆Y t = 2,72∆I′ t – 14 .

As s im , a s m od ifica ções a bsolu ta s d e Y s ã o con s id er a ve l-m en t e m a ior es qu e a s d e I ′. S im u lt a n ea m en t e , de a cor d o coma equ a çã o a n t e r ior , a s m od ifica ções prop orcion a is d e Y s ã o m e-n or es qu e a s d e I ′.

P rodu to bru to do se tor privado

Como dissemos acima (p. 80), a renda bru ta do setor pr ivado, Y ,não é igua l ao produto bru to daquele setor . A fim de passar de umapara ou t ra , é preciso adicionar os impostos indiretos de todas as es-pécies, t a is como o imposto de consumo, taxas aduaneiras ou a con-t r ibu ição dos empregadores à previdência socia l. Se designarmos o pro-duto ou produção bru ta “rea l” do setor pr ivado por O e o va lor “rea l”do tota l dos impostos indiretos por E , t eremos:46

O = Y + E .

Com o foi dem onst r ado acima , Y é det erminado — com um h ia to t em -pora l — pela soma do invest imento, do sa ldo da ba lança com ercia l edo déficit orçamentá r io I ′ ou pelo invest im ento I se a ba lança comercia le o orçam ento forem equ ilibrados. A fim de determ inar o produ tobru to do setor pr ivado, é necessá r io fazer a lgumas suposições comrelação a E . As flu tuações r ela t ivas de E no decurso do ciclo econômicosão gera lm ente m uito m enores que as da r enda bru t a , Y , pelas se-gu in t es r azões: (a) os im postos indiretos são freqüen tem ente aplicadosa gêneros de pr imeira necessidade ou quase de pr imeira necessidade,cu jo consum o flu tua muito m enos que Y ; (b) a s taxas são muita s vezesfixadas em dinheiro e não ad valorem , de forma que o va lor r ea ldessas t axas aumenta quando os preços caem. Ten tando sim plifica r ,vam os supor na teor ia dos ciclos econôm icos expost a a segu ir que Eseja um a const an te.

Para a determinação da produção do setor pr ivado, O, em termosda soma do invest imento, sa ldo da ba lança comercia l e déficit orça-mentár io, I′, t emos agora :

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46 Imaginamos Y e E submet idos ao mesmo defla tor , que é o índice de preços, de O, isto é,pelo índice dos preços do m ercado.

Ot = Y t + E (10)

Y t = Pt + B ′1 – α′

(9′′)

Pt = I′t – ω + A ′

1 – q′ . (8′′′)

Conclu i-se diretamente que um incremento de I ′t – ω determinaum incremento de Ot:

∆Ot = ∆I′t – ω

(1 – α′) (1 – q′) .

Su pon do-se qu e E seja um a const an t e, O dem onst r a r á m odi-ficações pr oporcion a is m en ores qu e Y . Com o a s m odificações r ela t i-vas de Y n o decu r so do ciclo sã o m enores que a s de I′, segue-se queisso é a inda m a is ver dadeiro com rela çã o a O. Assim , se a ba la nçacom ercia l e o orça m en to est ã o equ ilibrados, de for m a que I′ = I ,pode-se dizer que o pr odu to bru to do setor pr iva do O flu tu a m enosqu e o invest im ent o I .

Modificaçõe s a lon go prazo n o in ve stim e n to e n a re n da

Demonst rou-se acima que as modificações rela t ivas do invest i-mento I (melhor dizendo, da soma do invest imento, do sa ldo da ba lançacomercia l e do déficit orçamentár io, I′, que é igua l à poupança) nodecurso do ciclo econômico são maiores que as da renda bru ta ou pro-dução do setor pr ivado. Contudo, não é isso necessar iamente o quesucede a longo prazo.

A discrepância nas flu tuações de I′ e Y ou O no decurso do cicloeconômico depende pr incipa lmente de dois fa tores: (a) que o consumodos capita listas flu tue menos que os lucros; e (b) que os sa lá r ios maisordenados flu tuem menos que a renda bru ta , Y . Contudo, o consumodos capita listas não tem que aumentar mais len tamente que os lucrosno decurso do crescimento a longo prazo de uma economia . Na verdade,a par te estável do consumo dos capita listas, A (ver p. 73), pode, alongo prazo, subir proporciona lmente aos lucros, P. Da mesma maneira ,a par te estável dos sa lá r ios e ordenados, B , que reflete o elemento decustos indiretos presen te na composição dos sa lá r ios (ver p. 61), podetambém elevar -se a longo prazo proporciona lmente à renda , Y . Assim,a longo prazo, o invest imento e a renda podem não demonst ra r modi-

OS ECONOMISTAS

88

TABELA 15. R azão Entre “Form ação Bruta de Capital” e “R enda BrutaN acional” nos Estados Unidos, 1869-1913.

ficações desproporciona is como as que apresen tam no decor rer do cicloeconômico.

Parece que nos Estados Unidos, no período de 1870-1914, as mo-dificações a longo prazo no invest imento e na renda foram de fato maisou menos proporcionais. A tabela 15 apresenta a razão entre “formaçãobruta de capital” e “renda bruta nacional” para esse período, por décadas,segundo Kuznets. Essa razão permaneceu bastante estável.

Apesar de tan to o numerador como o denominador difer irem emtermos de conceito de I′ e de Y ,47 é pra t icamente cer to que no per íodoconsiderado I ′ e Y moveram-se mais ou menos proporciona lmente à“formação bru ta de capita l” e à “renda bru ta naciona l” respect ivamente.A estabilidade da razão en t re I′ e Y não quer dizer necessar iamenteque tan to a dist r ibu ição da renda como a proporção do consumo sobreos lucros tenham permanecido constan tes, porquanto poder ia ter havidomodificações que funcionassem como compensação sobre esses fa tores.De qua lquer forma, não se pretende que a a rgumentação acima tenhasido exposta para suger ir que a estabilidade a longo prazo da razãoent re poupança e renda seja uma lei econômica , mas simplesmentepara most ra r que existe a possibilidade da ocor rência dessa relação.

KALECKI

89

47 I′ = “formação bru ta do capita l” menos invest imento público mais déficit orçamentár io.Y = “renda bru ta naciona l” menos invest imento público mais déficit menos renda dos em-pregados do Governo.As diferenças em questão são pequenas no per íodo considerado e, por tan to, pode-se suporuma proporciona lidade nas modificações en t re I′ e a “formação do capita l” e en t re Y e a“renda bru ta naciona l”.

P ARTE TERCEIRA

A Taxa de J u ros

6

A Taxa de J u ros a Cu rto P razo

In trodu ção

Afirmamos acima que a taxa de ju ros não pode ser determinadapela demanda e pela ofer ta de capita l, porque o invest imento au toma-t icamente cr ia uma poupança de idênt ico va lor . Assim, o invest imentose “au tofinancia” qua lquer que seja o n ível da taxa de ju ros (ver p.70). A taxa de ju ros, por tan to, resu lta da in teração de ou t ros fa tores.Iremos t ra ta r de demonst ra r que a taxa de ju ros a cur to prazo é de-terminada pelo va lor das t ransações e pela ofer ta monetá r ia por par tedos bancos; e que a taxa a longo prazo é determinada por previsõesda taxa a cur to prazo baseadas na exper iência passada e por est imat ivasdo r isco envolvido na possível depreciação do a t ivo rea lizável, a longoprazo (ver capítu lo 7).

Ve loc idade de c ircu lação e a taxa a cu rto prazo

Indiquem os por M a massa m onetá r ia , isto é, a s notas de bancoem mãos do público e os depósitos bancár ios a vist a , e por T o volum etota l dos negócios, isto é, o montan t e do va lor das tr ansações em umcerto per íodo; T / M en t ão é a velocidade de cir cu lação da moeda , V .F reqüen temente se t em suposto que V é constan te; e esse de fa to éo a licerce da t eor ia quan t it a t iva da moeda . Mas pa rece bastan te óbvioque a velocidade de cir cu lação de fa to depende da t axa de ju ros acurto prazo.

De fa to, qu an to m ais a lt a a t a xa a cur t o pr azo, m a ior será oin cen t ivo a in vest ir dinh eiro por per íodos cur t os ao in vés de m a ntê-locom o r eserva em ca ixa . Ou , de form a m ais precisa : a s t r a nsa çõespodem ser r ea liza das com u m a qua nt ida de de dinh eiro ma ior oum en or ; con t udo, o a um ent o dos m eios de pa ga m en to com rela çãoao volum e de n egócios sign ifica em m édia u m a r ea lizaçã o m ais sua ve

93

e m a is con ven ien t e das t r a nsa ções. Por ou t ro la do, qu an to m aisa lt a a t a xa de ju ros a cur t o pra zo, m a is ca r a ser á essa opção emcom par açã o com a a lt er na t iva de se invest ir em a t ivos r ea lizáveisa cur to pra zo.48

P ode-se pergun ta r por que foca lizamos a qu i a t axa de ju ros acu r to pra zo e nã o a t axa de ju ros em gera l. E scolh em os a t axa acu r to pra zo porque ela é a r em u neração da r en ún cia à liqu idez.49

Se com pa ra rm os a posse de u m enca ixe m onet á r io com a de let r a sa vist a , a ú n ica difer en ça é que as let r a s nã o são dir et a m en te u t i-lizáveis pa ra r ea liza r t r an sações e qu e rendem juros.50 Qu an do, con -tu do, compa ra m os a posse de din heir o com a de t ít u los de r endafixa , t em os que leva r em con sidera çã o t am bém o r isco de u m a qu edano pr eço dos t ít u los.51

Chegamos à conclusão acima de que a velocidade de circu laçãoV é função crescente da taxa de ju ros a cur to prazo ρ ou

TM

= V (ρ) . (11)

Dessa equação conclu i-se diretamente que, dada a função V , ataxa de ju ros a cur to prazo, ρ, é determinada pelo va lor das t ransações,T , e pela ofer ta monetá r ia , M , que, por sua vez, é determinada pelapolít ica bancár ia .

OS ECONOMISTAS

94

48 Aqui surge o problema de saber se, neste contexto, a t axa de ju ros a cur to prazo deve seren tendida bru ta ou líqu ida com relação ao imposto sobre a renda . Se o empresár io considerarque o inconvenien te da redução da quant ia de dinheiro líqu ido que tem em seu poder iráse reflet ir a fina l numa redução cor respondente dos lucros, en tão serão os ju ros an tes dosimpostos que deverão ser considerados. Parece que, provavelmente, assim acontece. Contudo,os resu ltados do estudo empír ico subseqüente, com relação ao Reino Unido no per íodo1930/38, não são a fetados por essa dificu ldade, uma vez que a taxa de imposto sobre arenda foi bastan te estável duran te o per íodo.

49 Há que mat izar a colocação, já que a taxa a cur to prazo cobre, a lém disso, a lguns custose inconvenien tes t razidos pelas operações de invest imento enquanto ta is, ou “custos deinvest imento”.

50 As “let ras” aqui t ipificam os a t ivos rea lizáveis a cur to prazo em gera l, en t re os qua is seincluem também os depósitos a prazo fixo.

51 Não se deve conclu ir disso, contudo, que qua lquer acréscimo ao dinheiro líqu ido à disposiçãode uma firma irá tender a ser invest ido em let ras. Imaginemos que uma firma tenha emseu poder numerár io, let ras e t ítu los. Imaginemos a inda que enquanto seu volume denegócios permanece ina lterado e suas taxas de ju ros a cur to e a longo prazos permanecemtambém sem a lteração a firma recebe mais dinheiro. Ora , se a firma invest isse todo odinheiro adiciona l em let ras, isso ser ia consisten te com a relação en t re a preferência pelaliqu idez e a taxa de ju ros a cur to prazo dada , mas ser ia desnecessár io reduzir a proporçãodos a t ivos (t ítu los) rela t ivamente mais “a r r iscados” mas mais compensadores do ponto devista da remuneração. Assim, a firma tenderá a invest ir par te do numerár io adiciona l emt ítu los.

Gr á fico 3. R elação en tre a velocidade de circu lação, V, e a taxa dejuros a curto prazo, ρ.

A relação en t re a taxa de ju ros a cur to prazo, ρ, e a velocidadede circu lação, V , pode ser represen tada por uma curva com a format raçada no grá fico 3. Quando V for a lto, isto é, a retenção de dinheirolíqu ido for bem pequena com relação ao volume dos negócios, serápreciso um aumento bastan te grande da taxa de ju ros a cur to prazopara mot ivar uma redução adiciona l do enca ixe monetá r io. Dessa forma,nesse ponto será necessár io um aumento bastan te grande da taxa dejuros a cur to prazo para mot ivar um dado incremento da velocidadede circu lação, ∆V . Por ou t ro lado, quando a moeda manual é abundantecom relação ao volume dos negócios, é fácil conseguir economias emdinheiro líqu ido, e a elevação da taxa de ju ros necessár ia para possi-bilit a r um aumento da velocidade de circu lação ∆V é pequena .

Ilu stração e s tatís tica

Aplicaremos o raciocín io acima a uma aná lise das modificaçõesna taxa de ju ros a cur to prazo no Reino Unido no per íodo 1930/38,para o qua l se dispõe de dados sobre o volume dos negócios (lançamentosnos débitos das contas cor ren tes) da car teira de compensação de Lon-dres. Apesar de a razão en t re esses dados e o n ível das contas cor ren tespoder parecer à pr imeira vista suficien te para nos dar a velocidade decircu lação, in felizmente a coisa não é tão simples assim.

O volume de negócios consiste em duas par tes de cará ter bastan tedist in to: operações financeiras e não financeiras. Ca lcu la -se que noano de 1930 as operações financeiras tenham representado cerca de85%52 do volume tota l dos negócios. Por ou t ro lado, as contas cor ren tesfinanceiras dificilmente represen ta rão mais que um terço desse tota l.53

Essa desproporção obviamente reflete a velocidade de circu lação muito

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52 BROWN, E. H. Phelps e SHACKLE, G. L. S. S tatistics of Monetary Circu lation in Englandand Wales . 1919-1937. Royal Economic Society, Memorando nº 74. p. 28.

53 Ibid ., p. 3.

maior das contas financeiras em comparação com as não financeiras.Conseqüentemente, uma modificação na proporção das contas finan-ceiras em comparação com as não financeiras provocará uma modifi-cação considerável na razão en t re o volume dos negócios e as contascor ren tes, apesar de ambas as velocidades de circu lação permaneceremina lteradas. Esse defeito pode ser remediado da seguin te maneira : re-du zim os o peso das opera ções fin an ceira s m u lt iplica ndo-a s pelo fa torqu e leva a r azão en t r e a s opera ções fina nceir as e a s nã o fin an ceir a sno a no-ba se de 1930 ao n ível da r a zã o en t r e a s con ta s cor ren t esfin an ceir a s e a s n ão fina nceir as n aquele a no. Em segu ida , som am osas “opera ções fina nceir as r edu zida s” à s opera ções nã o fina nceir as edividim os a som a pelo t ot a l das con ta s cor r en t es. Essa r a zã o podeser consider ada u m ín dice apr oxima do da s modificações da veloci-da de de cir cu la çã o. Esse cá lcu lo é det a lha do em m eu a r t igo sobre“A t axa de ju ros a cur to pra zo e a velocidade de cir cu la ção”.54 Osresu lt ados a li obt idos a pa r ecem na t a bela 16 e, em form a de grá fico,no grá fico 4.55

TABELA 16. Índ ice da Velocidade de Circu lação e T axa de J uros aCurto Prazo no R eino Unido, 1930/ 38.

Como se pode observar, exceto no que se refere a 1931, os pontosde relação entre ρ e V situam-se em torno de uma curva cuja forma havíamos

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54 Review of Economic Sta t ist ics. Maio de 1941.55 Os resu ltados passaram por ligeira revisão, t endo sido incorporadas (1) uma modificação

no procedimento de t raba lho da Car teira de Compensação em novembro de 1932, queaumentou o volume tota l de suas operações em cerca de 2%, (2) uma modificação no escopodas contas cor ren tes em janeiro de 1938, que provocou um aumento de cerca de 2%.

Gr á fico 4. Velocidade de circu lação e taxa sobre letras do T esouro,R eino Unido, 1930/ 38.

deduzido a priori na parte anterior . O ano de 1931 está bem acima dacurva, o que pode ser explicado pela crise financeira ocorrida no segundosemestre daquele ano, que provocou um deslocamento da curva para cima,isto é, aumentou a quantidade de dinheiro líquido necessária para umdado volume de negócios a uma dada taxa de juros a curto prazo.56

I. N. Behrman rea lizou , na mesma linha , uma aná lise da relaçãoent re a taxa de ju ros a cur to prazo e a velocidade de circu lação dossa ldos de ca ixa de grandes empresas manufa tureiras dos Estados Uni-dos para o per íodo de 1919/40,57 obtendo resu ltados semelhantes.

Modificaçõe s n a ofe rta m on e tária por parte dos ban cos

Conclu i-se da equação (11) que

MV (ρ) = T

Sob essa forma, essa equação é na rea lidade a equação da quan-t idade de moeda .58 Seu sign ificado aqui, contudo, é muito diferen te doda teor ia quant ita t iva da moeda . E la demonst ra que, com um dadovalor de t ransações, T , um aumento na ofer ta de moeda , M , por par tedo sistema bancár io, provoca uma queda na taxa de ju ros a cur toprazo.

O processo por meio do qua l os bancos elevam a ofer ta monetá r iamerece ser t ra tado em deta lhe. Para simplifica r , vamos supor que osdepósitos bancár ios consistam apenas em contas cor ren tes. Imaginemos

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56 O ponto referen te ao ano de 1938 também foi levemente deslocado para cima pelo aumentoda taxa a cur to prazo no outono, em vista de cer tos acontecimentos polít icos.

57 "The Shor t -Term In terest Ra te and the Velocity of Circu la t ion". In : Econom etrica. Abr il de1948.

58 T é o montan te do valor das t ransações e, por tan to, equiva le a PT na equação F isher .

que os bancos decidam reduzir sua razão de ca ixa (isto é, a razão en t rea quant ia de notas e contas no Banco Cent ra l e os depósitos) e comprarlet ras. O preço das let ras irá aumentar e assim a taxa de ju ros a cur toprazo irá ca ir ao n ível em que o “público” esta rá pronto a somar àssuas contas cor ren tes a quant ia que os bancos gastam em let ras.

É in teressan te nota r que a compra de t ítu los de crédito pelosbancos terá repercussões semelhantes. É verdade que in icia lmente opreço dos t ítu los se elevará e o rendimento dos t ítu los irá ca ir a umnível que levará o “público” a abandonar os a t ivos rea lizáveis a longoprazo e prefer ir a t ivos rea lizáveis a cur to prazo e dinheiro líqu ido.Mas haverá também uma tendência por par te do “público” a invest irem let ras o dinheiro adiciona l recebido pela venda dos t ítu los aos ban-cos; desse modo, o preço dos t ítu los irá subir e a t axa a cur to prazoirá ca ir a té o n ível em que o “público” est iver disposto a reter o dinheiroadiciona l ao invés de invest i-lo na compra de let ras.

Modificaçõe s c íc licas n a taxa de ju ros a cu rto prazo

De acordo com o que se disse acima, as flu tuações cíclicas nataxa de ju ros a cur to prazo podem ser explicadas em termos da ofer tade dinheiro por par te dos bancos refer ida às flu tuações do va lor dast ransações, T. Parece que em gera l essa ofer ta de dinheiro flu tua menosque o va lor das t ransações, de forma que a velocidade de circu lação ea taxa de ju ros a cur to prazo aumentam na fase de prosper idade ecaem na depressão.

TABELA 17. T axa de J uros a Curto Prazo no R eino Unido e nos EstadosUnidos, 1929/ 40.

*Anos de Guer ra .

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É preciso acrescenta r que os movimentos da taxa de ju ros a cur toprazo na década de 1930 tan to no Reino Unido como nos EstadosUnidos não represen tam propr iamente um padrão t ípico.

Tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos há uma quedaabrupta nos anos de depressão (com uma reversão temporár ia em 1931no Reino Unido e em 1932 nos Estados Unidos, como reflexo do pânicofinanceiro). Contudo, nos anos de recuperação, a t axa a cur to prazocont inua a ca ir , reflet indo assim uma tendência básica da polít ica ban-cár ia , voltada para o “dinheiro fácil”.

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7

A Taxa de J u ros a Lon go P razo

A taxa a cu rto prazo e a taxa a lon go prazo

O capítu lo precedente demonst rou que a taxa de ju ros a cur toprazo é determinada pelo volume de negócios e pela ofer ta de moedapor par te do sistema bancár io. Agora examinaremos o problema dadeterminação da taxa de ju ros a longo prazo.

A fim de estabelecer uma ligação en t re a taxa de ju ros a cur toe a longo prazos, examinaremos o problema da subst itu ição en t re umat ivo rea lizável a cur to prazo que seja represen ta t ivo, digamos umalet ra de câmbio, e um a t ivo rea lizável a longo prazo que seja tambémrepresenta t ivo, digamos uma Obr igação do Tesouro.59 Imaginemos umapessoa ou uma empresa pensando em como invest ir suas reservas. Oinvest idor tenderá a comparar os resu ltados obt idos a par t ir do inves-t imento nos diversos t ipos de t ítu los no decor rer de a lguns anos. Assim,ao fazer a comparação dos rendimentos obt idos, ele leva em conside-ração a média da taxa de desconto esperada para esse per íodo, queindicaremos por ρe , e a t axa a tua l de ju ros a longo prazo (rendimentodas Obr igações), r. Podemos agora examinar as vantagens e desvan-tagens de ambos os t ipos de t ítu los, cu jo resu ltado líqu ido explica adiferença r – ρe .

Podemos em pr imeiro lugar considerar a possibilidade de umaperda de capita l. A posse de let ras garan te a in tegr idade do pr incipa l.Por ou t ro lado, t ítu los de renda fixa podem sofrer uma depreciação deseu va lor duran te o per íodo considerado. O invest idor pode desprezar

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59 O autor aqui se refere a CONSOLS, nome abreviado de GOVER N MEN T CON S OLIDAT EDS T OCK. Tra ta -se de t ítu los não resga táveis que o Governo br itân ico tem emit ido em diversasocasiões, desde meados do século XVIII, a preço var iável em função da taxa de ju ros emvigor na época . (N. do T.)

flu tu ações a cu r to pra zo do va lor dos t ít u los que possu i, m as se aperda de capit a l a presen t a u m ca rá t er m a is perm a nent e, t em queser con sidera da com o t a l.60 P or t an to, dever á ser feit a um a previsãopa ra o r isco de depreciaçã o no va lor , γ, qua ndo se com pa ra rem osrendim en tos r e ρ.

Por ou t ro lado, há cer tas vantagens que a posse de t ítu los derenda fixa t raz sobre a de let ras. A taxa de desconto esperada , ρe ,está su jeita a incer tezas, enquanto a taxa de ju ros dos t ítu los, r, nãoestá . Ademais, a posse de let ras que têm que ser recompradas cadat r imest re acar reta vár ios inconvenien tes e custos. Contudo, essas con-siderações não são de grande impor tância e as vantagens, ε, da possede t ítu los desse ponto de vista provavelmente não serão ava liadas acimade, digamos, 1%.

Se considerarmos o efeito líqu ido das desvantagens, γ, e das van-tagens, ε, em se possu ir um t ítu lo, t emos:

r – ρe = γ – ε . (12)

Podemos considerar em mais deta lhe o va lor de γ. Se o preçoa tua l das obr igações é p e o propr ietá r io tem uma cer ta idéia , maisou menos defin ida , baseada em sua exper iência an ter ior a respeito domínimo que o preço pode a t ingir em sua queda Pm in , será plausível

supor que γ seja aproximadamente proporciona l a p – Pm in

p , isto é, à

porcentagem máxima em que se ca lcu la provável que o preço das obr i-gações ca ia . Temos, en tão,

γ = g p – pm in

p = g (1 –

pm in

p) . (13)

Se o per íodo para o qua l foi feito o cá lcu lo for de um ano e adepreciação do va lor do capita l for considerada cer ta , g será igua l a100. Mas, uma vez que o per íodo é normalmente maior e que a de-preciação máxima não é muito provável, pode-se esperar que g sejamuito menor que 100.

Como o preço das obr igações se acha em proporção inversa aosseus rendimentos, a expressão (13) pode ser escr ita :

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60 Deve-se sa lien ta r que a perda se deve à depreciação do t ítu lo per se e não à necessidadede conver tê-lo em dinheiro líqu ido numa ocasião em que a posição do mercado seja desfa -vorável. O dinheiro líqu ido necessár io em uma emergência sempre pode ser obt ido pormeio de crédito bancár io concedido cont ra a garan t ia de t ítu los a té uma elevada porcentagemde seu va lor .

γ = g (1 – rrm ax

) (13′)

onde rm ax é o rendimento cor respondente ao “preço mín imo”, pm in. Subs-t itu indo γ por essa expressão na equação (12), obteremos, depois det ransformações simples:

r = ρe

1 + grm ax

+ g – ε

1 + grm ax

. (14)

Se os coeficien tes g, ε e rm ax forem estáveis, essa equação expr i-mirá a taxa a longo prazo, r, como função linear da taxa a cur to prazoesperada , ρe. Poderá parecer que (g, ε e rm ax sendo estáveis) r semprese modifica em proporção menor que ρe, uma vez que

1 + grm ax

> 1.

Isso decor re de nossa suposição de que quando r aumenta , o r isco dadepreciação das Obr igações decresce (equação 13′).

Temos pois dois fa tores que explicam a estabilidade da taxa alongo prazo em comparação com a taxa a cur to prazo. (1) As modifi-cações de cur ta duração na taxa de ju ros, a cur to prazo, ρ, r efletem-seapenas em par te na est imat iva de ρe . (2) A taxa a longo prazo, r ,modifica -se em proporção menor que ρe , que é a taxa média a cur toprazo esperada para os próximos anos.

É importante salientar que o “coeficiente de risco” pode aumentarnão só quando a depreciação dos títulos for considerada mais provável,mas também quando se eleva a proporção da posse de at ivos realizáveisa longo prazo em comparação com a posse de ativos realizáveis a curtoprazo mais numerário. É que, então, com igual probabilidade de depre-ciação no valor dos títulos, uma queda real significará uma perda maiorrelativamente ao valor de todos os ativos disponíveis. Esse “risco crescente”é explicado por um valor mais elevado de g. Assim, coeteris paribus, seo valor dos at ivos realizáveis a longo prazo relativamente a todos os ativosdisponíveis em posse do público se eleva, g tende a aumentar .

Ademais, o coeficien te g t ambém depende da taxa de impostossobre a renda (da qua l fizemos abst ração a té aqui). De fa to, a diferençaent re os rendimentos a longo prazo e os rendimentos a cur to prazoestá su jeita a t r ibu tação, mas a depreciação no va lor dos t ítu los emgera l não é computada — ou pelo menos não é computada in tegra lmente— quando se faz o cá lcu lo dos impostos. Isso apresen ta uma desvan-tagem adiciona l para a posse de t ítu los em comparação com a de let ras,de forma que o coeficien te g sofre um aumento cor respondente.

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Aplicação aos re n dim e n tos de Obrigaçõe s doTe sou ro Britân ico , 1849-1938

Aplicaremos agora os resultados obtidos na parte anterior à análisedos rendimentos das Obrigações no período 1849-1938. O gráfico 5 apre-senta uma curva de tempo representando os rendimentos das Obrigações.Veremos que é possível subdividir-se esse período em dez intervalos bas-tante desiguais e que dentro de cada um deles a taxa a longo prazo sofreflutuações relativamente pequenas em torno da média em comparaçãocom as modificações de um intervalo para o outro: 1849/80, 1881/87,1888/93, 1894/1900, 1901/09, 1910/14, 1915/18, 1919/21, 1922/31, 1932/38.Isso pode ser explicado pela hipótese de que dentro de cada um dessesintervalos a taxa a curto prazo esperada, ρe e os coeficientes g, rm ax e εflutuaram bem pouco em torno de certos valores, enquanto sofreram mo-dificações de caráter mais básico de intervalo para intervalo.

Gr á fico 5. R endim entos de Obrigações do T esouro, R eino Unido, 1849-1938.

Voltemos nossa a tenção para essas modificações na taxa de des-conto média esperada , ρe . Dent ro de cada um de nossos in terva los, ataxa de desconto ρ de fa to sofreu flu tuações dist in tas, as qua is, contudo,não provocaram flu tuações impor tan tes em ρe . Isso pode ser explicadopela seguin te h ipótese: os invest idores, em sua est imat iva de ρe , emgrande par te deixaram de levar em consideração os n íveis “a ltos” e“ba ixos” da taxa de desconto dent ro dos in terva los, tomando-os comotemporár ios, e baseando sua expecta t iva pr incipa lmente na posição“média” mais recente; esses “va lores médios” se achavam dist r ibu ídosdent ro de uma fa ixa muito est reita no in ter ior de cada per íodo. Se

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essa h ipótese for cor reta , segue-se que a média ρe em cada per íodonão difere muito da média da taxa de desconto rea l ρ naquele per íodo.A par t ir dessa suposição, podemos tomar a taxa de desconto média decada per íodo como nossa pr imeira aproximação de média ρe , podendodessa forma cor relacionar os rendimentos médios das Obr igações e astaxas de desconto médias dent ro dos per íodos selecionados e ana lisa ras equações de regressão por meio da fórmula (14).

O rendimento médio das Obrigações e a taxa média de descontopara os períodos selecionados entre 1849 e 1938 aparecem na tabela 18.

Os mesmos dados aparecem no grá fico 6, num diagrama de dis-persão. Pode-se nota r que a maior par te dos pontos ca i bem próximode duas retas, AB e A1B 1. Os pontos cor respondentes aos in terva losanter iores à Pr imeira Guer ra Mundia l caem per to da linha AB menosos que represen tam 1881/87 e 1910/14. Os pontos cor respondentes aosper íodos do pós-guer ra caem per to da linha A 1B 1, que fica considera-velmente acima de AB . F ina lmente, o per íodo de guer ra (1915/18) érepresen tado por um ponto situado en t re AB e A 1B 1. Deve-se sa lien ta rque a posição do ponto 1881/87 acima de AB é explicada pelo fa to deque os rendimentos das Obr igações nesse per íodo não refletem o n ívelda “taxa pura a longo prazo”, mas estavam “a lto demais”, devido auma conversão esperada .61

TABELA 18. R endim ento Médio das Obrigações do Governo Britân icoe T axa Média de Desconto, Períodos S elecionados, 1849-1938.

Fontes: WILLIAMS , T . T . “T he R ate of Discount and the Price of Consols”. In: J ourna l of TheRoyal Sta t ist ica l Society. Fevereiro de 1912; R eino Unido. Sumár io Esta t íst ico Anual; Banco daInglaterra. Sumár io Esta t íst ico.

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61 Ver HEWTREY, R. G. A Century of Bank R ate. Londres, 1938.

Os resu ltados obt idos podem ser in terpretados de forma plausívelem termos da fórmula (14). No per íodo 1849/1909, os coeficien tes g,rm ax e ε permaneceram mais ou menos estáveis, e por tan to temos umarelação funciona l linear en t re r e ρe , r epresen tada por AB . Depoisdesse per íodo, esses coeficien tes sofreram uma mudança radica l, pr in-cipa lmente duran te a Pr imeira Guer ra Mundia l, tornando-se estáveisde novo no pós-guer ra , de forma que os pontos ρe e r desse per íodocaem sobre a reta A 1B 1.

Gr á fico 6. T axa de descontos e rendim entos de Obrigações do T esouro,R eino Unido, 1849-1938.

Os pontos de 1910/14 e 1915/18, caindo entre AB e A1B 1, representamo período durante o qual se deu o deslocamento de AB para A 1B 1.

A pa r t ir da s equ ações das r et a s AB e A1B 1, podem os a goraobter os coeficien t es g e ε pa ra os per íodos de 1849/1909 e 1919/1938,respect iva m en te.

A equação de AB (1849/1909) é

r = 0,550 ρe + 1,17 .

Se a compararmos com a fórmula (14),

r = ρe

1 + grm ax

+ g – ε

1 + grm ax

obtemos duas equações

OS ECONOMISTAS

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1

1 + grm ax

= 0,550 e g – ε

1 + grm ax

= 1,17 .

Com relação à taxa máxima esperada a longo prazo, podemos suporque seja aproximadamente de 3,4, porque essa era a taxa máxima noper íodo em questão e o n ível de r no in ício do per íodo não era muitoinfer ior . Então, será possível determinar , a par t ir das ú lt imas equações,os coeficien tes g e ε. Obtemos: g = 2,78, ε = 0,65.

A equação para o per íodo 1919/38 é

r = 0,425 ρe + 2,90

e conseqüentemente

1

1 + grm ax

= 0,425 e g – ε

1 + grm ax

= 2,90 .

Podemos supor aqui que rm ax seja igua l a 5,1, sendo este o n ível a l-cançado no in ício do per íodo e que nunca foi superado poster iormente.Assim, obtemos: g = 6,9, ε = 0,07.

Podemos agora jun ta r os resu ltados de nossos cá lcu los:

Período g rm ax ε

1849/1909 2,78 3,40 0,651919/1938 6,90 5,10 0,07

Do ponto de vista da confirmação de nossa teor ia , o resu ltadomais impor tan te é que ε (a vantagem, abst ra indo o r isco de depreciação,dos t ítu los em comparação com as let ras) é pequeno, conforme espe-rávamos a par t ir de razões a priori. Se o coeficien te de ρe

no per íododo pós-guer ra t ivesse sido não 0,425, mas, digamos, 0,25, dever íamoscoeteris paribus t er obt ido o va lor 3,7 para ε, o que obviamente ser iaabsurdo e por tan to negar ia nossa teor ia .62

O coeficien te g é pequeno em comparação com 100, t an to no pe-r íodo que an tecedeu a guer ra como no que lhe sucedeu — novamentede acordo com nossa a rgumentação a priori. A elevação considerávelde g (cerca de duas vezes e meia) en t re esses dois per íodos é explicada

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62 A teor ia não ser ia negada , contudo, se ε fosse pequeno e nega t ivo, apesar de que de acordocom nossa teor ia dever ia ser posit ivo. A pesquisa empír ica aqui esboçada é necessar iamentede cará ter aproximat ivo, de forma que pode facilmente apresen ta r um va lor pequeno enega t ivo de ε ao invés de um va lor pequeno e posit ivo.

pelas flu tuações muito maiores de r depois de 1914 e pela elevação doimposto de renda e de sobretaxas. A pronunciada elevação de g, emconjunto com o aumento de rm ax, explica o deslocamento da reta ABpara a posição A1B 1.

Estabilidade da taxa de ju ros a lon go prazo du ran teo c ic lo e con ôm ico

Uma olhada no grá fico 5 revela rá que as modificações mais im-por tan tes da taxa a longo prazo não seguem um padrão cíclico de seisa dez anos. Fora flu tuações menores, há como que uma onda de 1849a 1914. Esse per íodo é seguido pelo da guer ra e pela in flação do pós-guer ra . Depois da queda a par t ir do ponto máximo a lcançado no in ícioda década de 1920, a t axa a longo prazo se estabiliza a té a GrandeDepressão, quando surge uma tendência decrescente que cont inua a tédent ro da segunda metade da década de 1930. A reversão dessa ten-dência nos dois ú lt imos anos an tes da Segunda Guerra Mundia l sedeve à situação polít ica .

A tabela 19 dá o rendimento das Obr igações do Governo br itân icopara o per íodo 1929/38 e os rendimentos das Obr igações do Tesourodos Estados Unidos para 1929/40.

E m am bos os pa íses, a ca ract er íst ica p r in cipa l é a t endên ciadecrescen te qu e r esu lt a da queda — a lon go pr azo — da t axa acu r to pra zo. Contu do, a sér ie a m er ica na difere em dois pon tos: (a)há um a um ent o sign ifica t ivo na t axa a longo pr azo dos Est adosUn idos em 1932, r eflet in do a in t ensidade do pâ n ico fin an ceiro; (b)nã o h á elevaçã o em 1937 e 1938, em cont r ast e com o Rein o Un ido,on de a t a xa a lon go pra zo foi a fet ada pela sit u açã o polít ica m u ndia l.Nenh um a da s du as sér ies a presen t a um pa drã o cíclico defin ido. P a r -t icu la r m en te n ão há um a qu eda sign ifica t iva com o a da t a xa a cu r topra zo a t é 1934.

O fa to de que a taxa a longo prazo não apresen ta flu tuaçõescíclicas marcantes só serve para confirmar a teor ia acima exposta . Ataxa a cur to prazo normalmente ca i num per íodo de depressão e sobenum de prosper idade, porque a ofer ta monetá r ia sofre flu tuações me-nores que as do va lor das t ransações. Mas a taxa a longo prazo refleteessas flu tuações apenas em cer ta medida . De fa to, a t axa a longo prazose baseia na taxa média a cur to prazo esperada para os próximos anos,e não na taxa a cur to prazo cor ren te; ademais, a t axa a longo prazose modifica bem menos que a taxa a cur to prazo esperada , porquantosua elevação, isto é, a queda nos preços dos t ítu los, torna menos pro-vável o r isco de uma sua depreciação adiciona l (ver p. 103).

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TABELA 19. A T axa de J uros a Longo Prazo no R eino Unido e nosEstados Unidos Durante a Grande Depressão.

Fontes: Banco da Inglaterra. Sumár io Esta t íst ico; Conselho de Governadores do S istem a de R eservaFederal. Esta t íst icas Bancár ias e Monetá r ias.

*Anos de guer ra

Alguns autores têm atr ibuído um papel importante à taxa de jurosentre as forças subjacentes às flutuações econômicas. Como é a taxa alongo prazo que é relevante no que diz respeito à determinação do inves-timento e portanto ao mecanismo do processo cíclico, os resultados acimaobtidos são bastante significativos. Efetivamente, em vista do fato de quea taxa de juros a longo prazo, pelas razões acima expostas, não apresentaflutuações cíclicas pronunciadas, dificilmente poderia ser considerada umelemento importante no mecanismo do ciclo econômico.63

KALECKI

109

63 Cf. p. 120 et seq.

P ARTE QUARTA

A De te rm in ação do In ve stim e n to

8

O Capita l da Em pre sa e o In ve stim e n to

O tam an h o da firm a e o capita l da e m pre sa

Qu a n do se fa la da lim it a çã o do t a m a n h o de u m a fir m a ,dois fa t or es em ger a l sã o a pon t a dos: (1 ) a s desecon om ia s de gr a n -de esca la ; (2 ) a s lim it a ções do m er ca do, cu ja expa n sã o exigir ia ar edu çã o dos p r eços a n íve is qu e n ã o ser ia m lu cr a t ivos ou en t ã oa eleva çã o dos cu s t os de ven da s. O pr im eir o desses fa t or es n ã opa r ece m u it o r ea l, s en do despr ovido de fu n da m en t a çã o t ecn oló-gica , por qu e, a pesa r de t oda fá br ica t e r u m t a m a n h o ót im o, a in daé poss ível t e r -se du a s , t r ê s ou m a is fá br ica s. O a r gu m en t o r ela t ivoà s d ificu lda des a dm in is t r a t iva s t r a zida s por u m a em pr esa degr a n de esca la t a m bém pa r ece du vidoso, já qu e sem pr e se podet r a t a r de r esolver es se p r oblem a r ecor r en do à descen t r a l iza çã o.A l im it a çã o do t a m a n h o da fir m a pelo m er ca do pa r a seu s p r odu t osé bem r ea l, m a s a in da a s sim n ã o exp lica a exist ên cia de fir m a sgr a n des e pequ en a s den t r o do m esm o r a m o.

H á , con t udo, um out ro fa tor de im por t â ncia decisiva n a lim i-t a ção do t am a nh o de u m a firm a: o capit a l da em presa , ist o é, aqu an t idade de ca pit a l que a fir m a possu i. O a cesso de u m a firm aao mer cado de ca pit a is, ou , em out r as pa la vr as, o volume de ca pit a lqu e pode esper a r obter de in vest idor es, é det erm ina do em gra ndepa r t e pelo volum e do ca pit a l dessa em presa . Ser ia im possível um afir m a tom a r em pr est a do ca pit a l a cim a de um cer to lim it e det erm i-na do pelo volu me de seu ca pit a l de em presa . Se, por exem plo, um afir m a t en t asse r ecor r er à em issão de t ít u los, sendo essa em issãodespropor ciona l a o capit a l da em presa , nã o conseguir ia subscr içãotot a l. Mesm o qu e a fir m a procu rasse em it ir os t ít u los a u m a t a xade ju ros a cim a do n orm a l, a ven da dos t ít u los poder ia se beneficia r

113

com isso, uma vez que a própr ia taxa mais elevada poder ia levanta rdúvidas quanto à solvência da firma no fu turo.

Além d isso, m u it as fir m as nã o se dispõem a r ecor rer a o usode t odas a s pot en cia lida des do mer cado de capit a is, devido a o “r iscocrescen te” qu e a expan são en volve. Na ver dade, a lgu m as firm a s po-derão m esm o m an ter seu invest im ent o a u m n ível aba ixo do queser ia permit ido pelo capit a l da em presa , pa r t e do qu a l poder á est a rsob a for m a de t ít u los. Um a fir m a que pen se em expa ndir -se deveen ca ra r o fa to de qu e, da do o volume do capit a l da em presa , o r iscoau m en ta com a qu an t ia invest ida . Qua nt o m a ior o invest im ento comrela ção ao ca pit a l da em presa , ma ior será a r edução da r en da doem prést im o em ca so de fr a casso n os n egócios. Su ponh am os, porexem plo, que um em pr esá r io deixe de t er qua lquer lucr o n os n egó-cios. Ora , se só um a pa r t e de seu capit a l est iver in vest ida nos ne-gócios e um a pa r t e est iver r et ida sob form a de t ít u los de boa qua -lida de, ele a in da obt erá a lgu m a renda líqu ida de seu ca pit a l. Setodo o seu ca pit a l est iver invest ido, en t ã o seu r en dim en to será igu a la zero e se ele t iver r ecor r ido a em prést im os fica rá em débito —se essa sit u açã o con t in ua r por u m cer to t em po, a firm a t erá quefecha r a s por t as. É cla ro que, qua n t o m aior o volum e dos em prés-t im os t om a dos, m a ior será o r isco de um a con t ingência dessa s.

O tamanho de uma firma por tan to parece achar -se circunscr itopelo volume do capita l da empresa tan to a t ravés de sua in fluência nacapacidade de conseguir capita l emprestado como a t ravés de seu efeitono grau de r isco. A var iedade de tamanho das empresas de um mesmoramo em uma dada ocasião pode ser facilmente explicada em termosdo capita l das empresas. Se for elevado, facilit a rá a obtenção de fundospara um invest imento de vu lto, o que não será conseguido por umnível ba ixo do capita l da empresa . As diferenças na posição rela t ivadas firmas determinadas pelo capita l das empresas são aprofundadaspelo fa to de que as firmas aba ixo de um cer to tamanho simplesmentenão têm acesso ao mercado de capita is.

Decor re do a cim a exposto que a expan são de um a firm a de-pende de sua acu m ulação de ca pit a l a pa r t ir dos lucr os cor r en t es.Isso perm it ir á à firm a r ea liza r novo in vest im en to sem defron t a r -secom os obst ácu los r epr esen t a dos por um merca do de ca pit a is lim it adoou pelo “r isco crescen te”. Não só a poupan ça feit a a pa r t ir dos lu croscor r en t es poderá ser invest ida dir et am ent e n os n egócios, com o t a m -bém esse a um ent o do capit a l da fir m a ir á possibilit a r -lh e con t r a irnovos em prést im os.

O proble m a das soc ie dade s an ôn im as

P oderem os t er dú vida s ju st ifica das qu an to a sa ber se a s lim i-t a ções acim a se aplicam n o caso de socieda des an ôn im a s. Se um acom pan hia em it ir t ít u los ou debên tu res, a sit ua çã o n ão se a lt er a rá

OS ECONOMISTAS

114

de modo sign ifica t ivo. Quanto maior a emissão, mais os dividendosserão prejudicados na eventua lidade de os negócios fracassarem. Aposição será semelhante no caso de uma emissão de ações preferencia is(cu jos dividendos são pagos do lucro an tes do pagamento de dividendosaos por tadores de ações ordinár ias). Mas se se t ra ta r de uma emissãode ações ordinár ias? Prim a facie, pa rece que n ão ha ver ia lim it esest abelecidos pa ra a em issã o, m as na ver dade há diver sa s lim it a ções.

(a) É preciso em pr imeiro lugar dizer que uma sociedade anônimanão é uma “irmandade de acionistas”, mas que é cont rolada por umgrupo de grandes acion istas, enquanto os demais em nada diferem depor tadores de t ítu los com taxa de ju ros flexível. Ora , esse grupo, a fimde cont inuar a exercer o cont role da sociedade, não pode vender umnúmero ilimitado de ações ao “público”. É verdade que essa “dificu ldade”pode ser resolvida em par te, por exemplo, pelo sistema de hold ings.64

Não obstan te, o problema da manutenção do cont role pelos acion istasmajor itá r ios exerce algum a in fluência no sen t ido da limitação de emis-sões ao “público”.

(b) Há um r isco de que o invest imento financiado por uma emissãode ações não aumente os lucros da companhia proporciona lmente tan toquanto a emissão aumentou o capita l acionár io e de reserva . Se a taxade rendimento do novo invest imento não igua la r , pelo menos, à an t igataxa de lucros, en tão os dividendos dos an t igos acion istas em gera l edo grupo cont rolador em par t icu la r irão se “espremer”. É cla ro que,quanto maior for a nova emissão, maior também será o r isco desset ipo. É mais um caso, por tan to, de “r isco crescente”.

(c) As em issões de a ções sã o r est r in gida s pe lo m er ca do li -m it a do qu e exis t e pa r a a s a ções de u m a da da com pa n h ia . O “pú -blico” t en de a d is t r ibu ir seu r isco com pr a n do a ções de d iver sa scom pa n h ia s d ifer en t es. Ser á im poss ível, por t a n t o, coloca r m a isqu e u m a qu a n t ida de lim it a da de n ova s a ções a u m pr eço qu eser ia r a zoá vel do pon t o de vis t a dos velh os a cion is t a s . P a r a es t esú l t im os , o p r eço a o qu a l a s n ova s a ções sã o ven did a s é de ex-t r em a im por t â n cia . D e fa t o, s e o p r eço for “ba ixo d em a is ” comr e la çã o a os lu cr os e sp e r a dos , s u r gir á u m a s i t u a çã o s em elh a n t eà qu e d es cr evem os em (b). E ssa n ova em issã o n ã o ir á a u m en t a ra ca pa cida de de ga n h o da com pa n h ia p r opor cion a lm en t e t a n t o

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115

64 Um grupo que possu i 51% das ações de uma companhia forma out ra companhia , que seráa hold ing. O grupo fica com 51% das ações da nova companhia e vende 49% ao “público”.Dessa forma, o grupo passa a cont rola r a companhia hold ing e a t ravés dela a companhiavelha apenas com 26% do capita l desta ú lt ima , ficando com cerca de 25% desse capita l emdinheiro líqu ido, que pode ser invest ido em uma nova emissão de ações da companhiavelha .

quanto o seu capita l acionár io e de reserva e isso fa r á com que osdividendos dos a n t igos a cion ist a s seja m “esprem idos”.

Tudo isso aponta para o fa to de que uma sociedade anônimatambém tem limitações exa tas à sua expansão. Essa expansão depende,da mesma forma que ocor r ia com uma empresa familia r , da acumulaçãode capita l a par t ir dos lucros cor ren tes. Esse aumento do capita l deempresa , contudo, não se limita aos lucros não dist r ibu ídos da com-panhia . A subscr ição de ações pelo grupo cont rolador , est r it amenteligada à poupança “pessoa l” do grupo, deve ser considerada out ra formade acumulação de capita l da empresa .

A a cu m u la çã o “in t e r n a ” de ca pit a l for n ece r ecu r sos qu e po-dem ser ca n a liza dos de volt a pa r a os n egócios . Adem a is, es saa cu m u la çã o fa cili t a n ova s em issões de a ções a o “pú blico”, por qu ea ju da a su per a r os obs t á cu los qu e h á pou co en u m er a m os . (a )Qu a n do a a cu m u la çã o t om a a for m a de su bscr içã o de em issõesde a ções por pa r t e do gr u po con t r ola dor , per m it e a cir cu la çã o deu m a ce r t a qu a n t ida de de a ções a o “pú blico” sem pr e ju d ica r o con -t r ole do gr u po sobr e a m a ior ia da s a ções. (b) O cr escim en t o dot a m a n h o da fir m a a t r a vés da a cu m u la çã o “in t er n a ” do ca p it a ld im in u i o r isco en volvido n a em issã o de u m a da da qu a n t ida dede a ções a o “pú blico” pa r a fin a n cia r n ovos in ves t im en t os . (c) U ma u m en t o do ca pit a l da com pa n h ia sem r ecu r so a o “pú blico” t en -der á a a m plia r o m er ca do de ca p it a is pa r a a s a ções da qu ela com -pa n h ia , u m a vez qu e, em ger a l, qu a n t o m a ior for a com pa n h ia ,m a is im por t a n t e ser á seu pa pel n o m er ca do de a ções .

Con clu são

A limitação do tamanho da firma pela disponibilidade de capita lda empresa chega ao âmago do sistema capita lista . Muitos economistassupõem, pelo menos em suas teor ias abst ra tas, um estado de demo-cracia econômica onde qua lquer pessoa com o dom da habilidade em-presar ia l pode obter capita l para in icia r um negócio. Esse quadro dasa t ividades do empresár io “puro” não é, para pôr a coisa em termosmodestos, rea lista . O pré-requisito mais impor tan te para a lguém setornar empresár io é a propriedade de capita l.

As considerações acima são de grande impor tância para a teor iada determinação do invest imento. Um dos fa tores impor tan tes comrelação às decisões de invest ir é a acumulação do capita l das firmasa par t ir dos lucros cor ren tes. Tra ta remos desse assunto em deta lheno próximo capítu lo.65

OS ECONOMISTAS

116

65 Os problemas aqui discu t idos são também de bastan te impor tância para a teor ia da con-cent ração do capita l. Cf. STEINDL, J . “A Empresa Capita lista e o Risco”. In : Oxford Eco-nom ic Papers. Março de 1945.

9

Os De te rm in an te s do In ve stim e n to

Os de te rm in an te s das de c isõe s de in ve stir e m capita l fixo

O nosso problema aqui consiste em achar os determinantes dataxa de decisões de invest ir , isto é, a quant idade de decisões de invest irpor unidade de tem po. Às decisões de invest ir em um dado per íodo detempo, determinadas por cer tos fa tores que operam durante esse mesmoper íodo, seguem-se, com um hia to tempora l, invest imentos efet ivos. Ohia to tempora l é devido em grande par te ao per íodo de const rução,mas também reflete fa tores como decisões empresar ia is reta rdadas.Se indicarmos a quant idade de decisões de invest imento em capita lfixo por un idade de tempo por D, e o invest imento em capita l fixo porF, t eremos a relação:

Ft + τ = Dt

onde o h ia to, τ, é a distância hor izonta l en t re a curva tempora l dasdecisões de invest imento por un idade de tempo, D, e a curva tempora ldo invest imento em capita l fixo, F.66

Abordaremos o problema dos determinantes das decisões de in -vest ir em capita l fixo da seguin te forma: se considerarmos a taxa dedecisões de invest ir em um per íodo cur to de tempo, poderemos suporque no in ício desse per íodo as firmas tenham elevado seus planos deinvest imento a um ponto ta l em que deixam de ser lucra t ivas, querpor mot ivo das limitações do mercado para os produtos da firma , querdevido ao “r isco crescente” e à limitação do mercado de capita is. As

117

66 Deve-se sa lien ta r que as decisões de invest imento não são est r it amente ir revogáveis. Ocancelamento de ordens de invest imento, apesar de provocar perdas consideráveis, podeocor rer e de fa to ocor re. Contudo, t ra ta -se de um fa tor que per turba a relação en t re decisõesde invest ir e o invest imento conforme descr ito pela equação (15).

decisões de novos invest imentos, por tan to, só serão tomadas se no pe-r íodo considerado ocor rerem modificações na situação econômica quea la rguem as fron teiras delimitadas para os planos de invest imento poresses fa tores. Tomaremos em consideração t rês ca tegor ias amplas demodificações dessa espécie no per íodo dado: (a) acumulação bru ta decapita l pelas firmas a par t ir dos lucros cor ren tes, isto é, sua poupançabru ta cor ren te; e (b) modificações nos lucros e modificações no estoquede capita l fixo, os qua is, conjuntamente, determinam modificações nataxa de lucros. Examinemos mais deta lhadamente esses fa tores.

O pr imeiro fa tor foi t ra tado de maneira genér ica no capítu lo an-ter ior . As decisões de invest imento acham-se in t imamente ligadas àacumulação in terna de capita l, isto é, à poupança bru ta das firmas.Haverá uma tendência a empregar essa poupança em invest imentos,e, a lém disso, o invest imento pode ser financiado por dinheiro vindode fora , a t ra ído pela acumulação do capita l da empresa . A poupançabru ta das firmas por tan to expande os limites impostos aos planos deinvest imento pelas rest r ições do mercado de capita is e pelo fa tor do“r isco crescente”.

Em sent ido rest r ito, a poupança bru ta das firmas consiste nadepreciação e nos lucros não dist r ibu ídos. J un ta remos mais um item,contudo, a “poupança pessoa l” que os grupos cont roladores invest iramnas suas companhias por meio da subscr ição de ações. Esse conceitode poupança bru ta das firmas fica por tan to um pouco vago. Contor -naremos essa dificu ldade supondo que a poupança bru ta das firmasconforme acima defin ida se relaciona com o tota l da poupança pr ivadabru ta (in ter alia como resu ltado da cor relação en t re os lucros e a rendaraciona l, ver p. 79). Seguindo essa suposição, a t axa de decisões deinvest ir em capita l, D, é função crescente do tota l da poupança bru ta ,S . (Imaginemos que as decisões de invest ir e os invest imentos se apre-sen tem em termos rea is — isto é, a seus va lores foi aplicado o defla torconst itu ído pelo índice dos preços dos bens de capita l. Assim, conclu i-sediretamente que a poupança bru ta também tem que ser deflacionadapelo índice de preços dos bens de capita l.)

Out ro fa tor que in fluencia a taxa de decisões de invest imento éa elevação dos lucros por un idade de tempo. Um aumento dos lucrosdo começo ao fim do per íodo considerado torna a t raen tes cer tos projetosanter iormente considerados não lucra t ivos, permit indo dessa forma aampliação dos limites dos planos de invest imento no decurso do per íodo.O va lor das decisões de rea liza r novos invest imentos resu ltan tes divi-dido pela extensão do per íodo nos dá a medida da cont r ibu ição damodificação dos lucros por un idade de tempo à taxa de decisões deinvest imentos no per íodo considerado.

Quando se pesa a lucra t ividade dos novos projetos de invest i-mento, os lucros esperados são considerados com relação ao va lor donovo capita l em equipamento. Assim, os lucros são tomados com relação

OS ECONOMISTAS

118

aos preços cor ren tes dos bens de capita l. Podemos levar em conta essefa tor aplicando aos lucros um defla tor const itu ído pelo índice de preçosdos bens de capita l. Em out ras pa lavras, se indicarmos o montan tedos lucros bru tos depois dos impostos, deflacionado pelos preços dosbens de invest imento, por P,67 podemos dizer que coeteris paribus ataxa de decisões de invest imento, D, é função crescente de ∆K

∆t .

F ina lmente, o incremento líqu ido de capita l em equipamento porunidade de tempo afeta de modo adverso a taxa de decisões de inves-t imento, isto é, sem esse efeito a taxa de decisões de invest imentoser ia maior . De fa to, um aumento no volume de capita l em equipamento— se os lucros, P, se mant iverem constan tes — significa uma reduçãoda taxa de lucros. Da mesma forma que uma elevação dos lucros dent rodo per íodo considerado torna convida t ivos projetos de invest imento adi-ciona l, a acumulação de capita l em equipamento tende a rest r ingir oslimites dos planos de invest imento. Esse efeito pode ser visto com maisfacilidade quando novas empresas en t ram no ramo e dessa forma fazemcom que os planos de invest imento das firmas estabelecidas há maistempo fiquem menos a t raen tes. Se indicarmos o va lor do estoque decapita l em equipamento deflacionado pelos preços apropr iados por K ,poderemos dizer que a taxa de decisões de invest imento, D, é coeterisparibus função decrescente de ∆K

∆t .

Em resumo: a taxa de decisões de invest imento, D, é, como pr i-meira aproximação, função crescente da poupança bru ta , S , e da taxade modificação do montan te dos lucros, ∆P

∆t , e função decrescente da

taxa de modificação do estoque de capita l em equipamento, ∆K∆t

. Su-pondo, ademais, uma relação linear , t eremos:

D = aS + b ∆P∆t – c ∆K

∆t + d (16)

onde d é uma constan te su jeita a modificações a longo prazo.Como, de acordo com a equação (15):

Ft + τ = Dt

t emos, t ambém para o invest imento em capita l fixo ao tempo t – τ:

Ft + τ = aS t + b ∆Pt

∆t – c ∆Kt

∆t + d (16′)

KALECKI

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67 O conceito de lucros bru tos “rea is”, P, u t ilizado nos caps. 3, 4 e 5, difere do que ora em-pregamos, na medida em que lá o índice de preço implícito na deflação do produto bru todo setor pr ivado foi empregado como defla tor .

P

Fatore s n ão le vados e m con s ide ração

Pode-se pergunta r por que as modificações na taxa de ju ros, quetêm efeito oposto ao das modificações dos lucros, não foram consideradascodeterminantes das decisões de invest ir . Essa simplificação baseou-seno fa to de que, de acordo com o que foi dito acima (ver p. 109), a t axade juros a longo prazo (tomando como medida os rendimentos dos t ítu losdo Governo) não apresen ta flu tuações cíclicas n ít idas.

É verdade que os rendimentos de debêntures às vezes aumentamapreciavelmente duran te uma fase de depressão, devido a cr ises deconfiança . A omissão desse fa tor não inva lida a teor ia acima, uma vezque a elevação nos rendimentos dos t ítu los em questão labora no mesmosent ido da queda dos lucros (apesar de ser muito menos sign ifica t iva).Assim, esse efeito pode ser computado de forma aproximada na dis-cussão do ciclo econômico por meio de um coeficien te b ligeiramentemais elevado na equação (16).

Ain da é necessá r io, con tu do, a t en ta rm os pa ra o problem a le-van tado pelas flu tu ações dos r end im entos das ações, ist o é, pelara zã o en t r e os dividendos cor r en tes e os preços da s a ções. O m ovi-m en to dos r en dim ent os das ações preferencia is a presen ta um padrãobem sem elh an te a o dos r en dim ent os de debên tur es e pode ser levadoem cont a da m esm a form a . Nã o é isso, con tudo, ou pelo m enos n ãoé isso com plet a m en te, que sucede com as a ções or din á r ia s. Apesa rde, em gera l, pa recer t r a t a r -se de u m fa tor de im por t ân cia lim it ada ,nã o se n ega que possa vicia r em cer t a m edida a ap licação da t eor iaacim a .

Veremos agora rapidamente um fa tor completamente diferen tee que não havia sido levado em conta na formulação da equação (16),a saber , as inovações. Suponhamos que as inovações, en tendidas nosent ido de a justes gradua is do equipamento de uma firma ao estadoa tua l da tecnologia , compõem uma par te necessár ia do invest imentode reposição “normal” conforme determinado por essa fórmula . O efeitoimedia to de uma nova invenção é assunto t ra tado no capítu lo 15 emconjunção com a teor ia do desenvolvimento econômico. Iremos ver a lique esses efeitos se refletem ao n ível de d . O mesmo se pode dizerdas modificações a longo prazo na taxa de ju ros ou nos rendimentosdas ações.

Dois casos e spe c ia is da te oria

Pode-se demonst ra r que a equação (16) engloba , como casos es-pecia is, a lgumas das teor ias existen tes sobre decisões de invest imento.

Vamos supor em pr imeiro lugar que os coeficien tes a e c sãoigua is a zero, de modo que a equação fica reduzida a

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D = b ∆P∆t + d

Vamos supor, além disso, que d é igual à depreciação. Segue-se queos novos invest imentos são determinados pela taxa de modificação doslucros “reais”. Esse caso corresponde aproximadamente ao assim chamadoprincípio de aceleração. É verdade que esse princípio estabelece uma re-lação entre o invest imento líquido e a taxa de modificação da produçãoe não dos lucros e que sua fundamentação teórica é diversa da que demosacima, mas os resultados finais são os mesmos devido ao inter-relaciona-mento entre lucros “reais” e o montante da produção (ver capítulo 5).

Com respeito ao problema teór ico, parecer ia mais rea lista fundaro “pr incípio de aceleração” nas bases suger idas acima (ver p. 118) doque deduzi-lo, a par t ir da necessidade de capacidade de expansão paraaumentar a produção. É bem sabido que existe capacidade ociosa emelevado grau , pelo menos duran te boa par te do ciclo, e que a produção,por tan to, pode aumentar sem um aumento rea l da capacidade existen te.Mas, qua lquer que seja a base do “pr incípio de aceleração”, é insufi-cien te, não só porque não leva em consideração as ou t ras determinantesdas decisões de invest imento examinadas acima, como também porquenão se coaduna com os fa tos. No decurso do ciclo econômico, a maiortaxa de elevação da produção esta rá a lgo per to da posição mediana(ver grá fico 7). Conclu ir íamos a par t ir do “pr incípio de aceleração” queo n ível mais elevado de decisões de invest imento aparecer ia nessa oca-sião. Isso, contudo, va i cont ra a rea lidade. De fa to, isso sign ifica r iaque o h ia to tempora l en t re as decisões de invest ir e o montan te daprodução ser ia de cerca de 1/4 do ciclo econômico, ou de 1,5 a 2,5 anos.

Gr á fico 7. Decisões de investir em capital fixo, D, e m ontante da pro-dução O (reduzidos à m esm a am plitude) de acordo com o “princípiode aceleração”.

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Como é difícil supor que o h ia to tempora l en t re as decisões de invest ire o invest imento na prá t ica seja super ior a um ano,68 isso sign ifica r iaque o invest imento rea l em capita l fixo “preceder ia” a produção em0,5 a 1,5 anos. Os dados disponíveis não cor roboram esse h ia to. Issopode ser visto, por exemplo, no grá fico 8, onde aparecem as curvastempora is do invest imento em capita l fixo e da produção (produto bru todo setor pr ivado) para os Estados Unidos no per íodo 1929/40.69

Gr á fico 8. Flu tuações nos investim entos em capital fixo e no produtobruto do setor privado (reduzidos à m esm a am plitude e depois da eli-m inação da tendência in tervenien te), Estados Unidos, 1929/ 40.

Parece que não se pode perceber um h ia to tempora l discern ível. Aequação de regressão, baseada em nossa equação (16′), que obtemosmais adian te (ver p. 132) para o invest imento em capita l fixo nos Es-tados Unidos nesse per íodo, t ambém não se coaduna com o “pr incípiode aceleração”.

Obtemos o segundo caso especia l de nossa teor ia supondo queuma dada quant idade de poupança nova a feta as decisões de invest irna mesma medida , isto é, supondo que a é igua l a 1. Supomos tambémque a constan te d seja igua l a 0. Assim, temos:

D = S + b ∆P∆t – c ∆K

∆t .

OS ECONOMISTAS

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68 Cf. p. 129, adian te.69 As curvas de tempo acham-se reduzidas à mesma amplitude e a t endência in tervenien te

foi eliminada . (Para mais deta lhes, ver o Apêndice Esta t íst ico, Nota 10.)

Se, a lém d isso, su pu ser m os qu e os es t oqu es pe r m a n ecem es t á veisdu r a n t e t odo o ciclo e qu e o sa ldo da ba la n ça com er cia l e o dé ficitor ça m en t á r io sã o a m bos igu a is a 0 , s egu e-se qu e a pou pa n ça , S ,é igu a l a o in ves t im en t o em ca p it a l fixo, F (por qu e a pou pa n ça éigu a l a o in ves t im en t o em ca p it a l fixo e est oqu es , m a is o sa ldode ba la n ça com er cia l, m a is o déficit or ça m en t á r io). Dessa for m a ,obt em os:

D = F + b ∆P∆t

– c ∆K∆t

e levando em consideração que Ft = Dt – τ

Dt = Dt – τ + b ∆Pt

∆t + c ∆Kt

∆t

ou

Dt – Dt – τ = b ∆Pt

∆t – c

∆Kt

∆t .

F ica cla ro agora , a par t ir da ú lt ima equação, que se os lucros,P, e o estoque de bens de capita l, K , são constan tes, t ambém o seráa taxa de decisões de invest imento, D (porque Dt = Dt – τ ). Quando oslucros aumentam a um novo n ível, t ambém D o faz (porque duran teo per íodo em que P está aumentando Dt > Dt -– τ). Quando o estoquede capita l em equipamento, K , sobe a um novo n ível, D declina (porquedurante o per íodo em que K está aumentando, Dt < Dt – τ). Segue-seque a taxa de decisões de invest imento é função crescente do n ível delucros e função decrescente do estoque de bens de capita l. Essa relaçãofoi a base da teor ia do ciclo econômico apresen tada em meus Essayson the T heory of Econom ic Fluctuations. Assim, aquela teor ia tambémaparece como um caso especia l da presen te.

Supõe-se às vezes que a relação obt ida aqui como caso especia lfuncione em todas as circunstâncias, pelo seguin te: pode-se supor quea taxa de lucros esperada seja função crescente dos lucros cor ren tes“rea is” e decrescente do estoque de capita l em equipamento. Out rossim,considera-se óbvio que quanto mais elevada a taxa de lucros esperada ,mais a lto será o n ível de invest imento em capita l fixo.70 Esta ú lt ima

KALECKI

123

70 Eu também adotava essa concepção em meus an t igos t raba lhos publicados na R evue d’Eco-nom ie Politique e Econom etrica , r efer idos an ter iormente.

suposição, contudo, é plausível apenas à pr imeira vista . A relação deixade ser óbvia quando lembramos que consideramos aqui a quant idadede decisões de invest imento por unidade de tem po. Se é mant ido umcer to n ível da taxa de lucros por a lgum tempo, en tão a firma tomar iatodas as decisões de invest imento que cor respondem àquela taxa delucros, de modo que depois disso, a menos que en t rassem em cenanovos fa tores, não ser iam tomadas novas decisões. É o reinvest imentocompleto da poupança , ligado à igua ldade en t re poupança e invest i-mento em capita l fixo, que assegura , no caso especia l em questão, amanutenção do n ível de decisões de invest ir por un idade de tempoquando a taxa de lucros permanece constan te. Mas uma vez que seabandonem essas suposições bastan te r ígidas, o teorema deixa de serverdadeiro e torna-se necessár ia uma abordagem mais gera l baseadana equação

D = aS + b ∆P∆t – c ∆K

∆t + d .

Exam e da e qu ação fu n dam e n tal

Antes de passarmos adian te com o exame dos coeficien tes daequação (16′), será convenien te a lterá -la um pouco. Tomemos pr imei-ramente o fa to de que a taxa de modificação do capita l em equipamentofixo é igua l ao invest imento em capita l fixo an tes da depreciação nomesmo per íodo:

∆K∆t

= F – δ

onde δ é a depreciação do capita l em equipamento devida a desgastee obsolescência . Assim, a equação (16′) pode ser escr ita da seguin teforma:

Ft + τ = aS t + b ∆Pt

∆t – c (Ft – δ) + d .

Transfiramos agora – cFt do segundo para o pr imeiro membro da equa-ção e dividamos ambos os membros da equação por 1 + c:

Ft + τ + cFt

1 + c = a

1 + c S t +

Ft + τ1 + c

∆Pt

∆t + cδ + d

1 + c .

O pr imeiro membro da equação en tão é a média ponderada de Ft + τ eFt. Podemos supor como uma boa aproximação que seja igua l a umvalor in termediár io Ft + θ , onde θ é um h ia to tempora l menor que τ.

OS ECONOMISTAS

124

Como c provavelmente será uma fração muito pequena , (As flu tuaçõescíclicas do estoque de capita l K , em termos de porcentagem, são bas-tan te pequenas. Assim, as modificações na taxa de lucros resu ltan tesdesse fa tor são pequenas também. Conseqüentemente, as flu tuaçõesdo invest imento em capita l fixo são explicadas em maior medida pelas

modificações de S e ∆p∆t do que pelas de ∆k

∆t (apesar de estas ú lt imas

serem de sign ificância considerável em cer tas fases do ciclo, como ve-remos no cap. 11). Em out ras pa lavras, a amplitude das flu tuações de∆k∆t

é muito menor que a de F. Mas como ∆k∆t

é o invest imento líqu ido

em capita l fixo (e a depreciação δ sofre apenas flu tuações cíclicas leves)isso sign ifica que c é pequeno em comparação com 1.) θ é da mesmaordem que τ. Podemos agora escrever :

Ft + θ = a1 + c S t + b

1 + c ∆Pt

∆t + cδ + d1 + c .

Os determinantes do invest imento em capita l fixo ficam assim redu-zidos à poupança passada e à taxa passada de modificação dos lucros.O efeito nega t ivo de um aumento do estoque de bens de capita l sereflete no denominador 1 + c. Para simplifica r a forma da equação,indicaremos:

b1 + c

= b′e cδ + d1 + c

= d ′

Não iremos, contudo, u t iliza r uma abreviação desse t ipo para a1 + c por -

que sua dependência de a e c (o coeficien te de poupança , S , e a t axade modificação do estoque de bens de capita l, ∆K

∆t, r espect ivamente, na

equação in icia l) é sign ifica t iva para a discussão poster ior . Podemosentão escrever nossa equação, a fina l, na forma aba ixo:

Ft + θ = a1 + c

S t + b′ ∆Pt

∆t + d ′ . (17)

Examinemos agora os coeficien tes dessa equação. A constan te

d ′ se acha su jeita a modificações a longo prazo. (d’ r epresenta cδ + d1 + c

.

Na página 119 supusemos que d era uma constan te su jeita a modifi-cações a longo prazo. A depreciação, δ, flu tua muito pouco apenas nodecurso do ciclo econômico, mas a longo prazo var ia em linha com ovolume de equipamentos.) O capítu lo 15 apresen ta uma aná lise dos

KALECKI

125

fa tores de que dependem essas modificações. Contudo, como veremosadian te, seu va lor não é relevante numa discussão do ciclo econômico.Nada pode ser dito a priori sobre o coeficien te b′, apesar de, comoir em os ver , seu va lor ser de im por t ân cia decisiva na det erm ina çãodo ca rá t er das flu tu ações cíclicas. Será necessá r io consider a rm osa lgun s ca sos a lt erna t ivos com va lores diferen t es desse coeficien t e.O ún ico coeficien t e sobre o qua l fa rem os suposições p recisa s a est a

a lt u ra é a1 + c

.

O coeficien te a , que indica em quanto as decisões de invest ir , D,aumentam devido a incrementos no tota l da poupança cor ren te, S ,ser ia in fluenciado por vár ios fa tores. Pr imeiro, o incremento na pou-pança “in terna” das firmas, que é relevante para as decisões de invest ir ,é menor que o incremento na poupança tota l. Esse fa tor em si t ender iaa fazer com que a fosse menor que 1. Out ro fa tor labora no mesmosent ido. O reinvest imento da poupança em base coeteris paribus, istoé, sendo constan te o montan te dos lucros, pode defronta r -se com difi-cu ldades por mot ivo de o mercado para os produtos da firma ser limitadoe, por ou t ro lado, a expansão para novas esferas de a t ividade envolverum r isco considerável. Out rossim, um incremento da poupança “in ter -na” permite à firma absorver dinheiro vindo de fora a uma taxa maiorse o invest imento for considerado desejável. Esse fa tor t ende a aumen-ta r as decisões de invest ir em medida maior que o incremento da pou-pança “in terna”. Esses fa tores conflit an tes nos deixam a inda incer tosquanto a saber se a será maior ou menor que 1.

O coeficien te a1 + c

é menor que a, porque c é posit ivo. De acordo

com o que se disse acima, isso reflete a in fluência nega t iva sobre asdecisões de invest imento que tem um estoque crescente de capita l emequipamento. Suporemos que esse coeficien te é menor que 1 pelas se-guin tes razões: veremos mais adian te que, com a

1 + c > 1, na verdade

não haver ia ciclo econômico a lgum (ver capítu lo 11), e o desenvolvi-mento a longo prazo da economia capita lista também ser ia diferen tedo processo que conhecemos (ver capítu lo 14). Ademais, a aná lise dosdados dos Estados Unidos para o per íodo de 1929/40 indica para

a1 + c

um va lor sign ifica t ivamente menor que 1. Uma vez que o coeficien te

c é uma fração muito pequena (ver p. 124), a1 + c

> 1 sign ifica que a

não pode ser muito maior que 1 (e, cla ro, pode ser ≤ 1).

In ve stim e n to e m e stoqu e s

Em nossa aná lise do invest imento em capita l fixo chegamos à

OS ECONOMISTAS

126

<

equação (17), que aponta serem as decisões de invest imento em capita lfixo função tan to do n ível de a t ividades econômicas como da taxa demodificação desse mesmo n ível. De fa to, o va lor da poupança , S , naequação se acha associado ao nível de a t ividades econômicas, enquanto

a taxa de elevação dos lucros, ∆P∆t , se acha ligada à taxa de m odificação

desse n ível. É por essa razão que o “pr incípio de aceleração”, que sebaseia apenas na taxa de modificação, é insuficien te para explicar oinvest imento em capita l fixo. Contudo, no que diz respeito ao invest i-mento em estoques, o “pr incípio de aceleração” parece ser uma suposiçãorazoável.

É de fa to plausível supor que a taxa de modificação do n ível dosestoques seja mais ou menos proporciona l à t axa de modificação daprodução ou do n ível das vendas. Contudo, a invest igação empír icadas modificações dos estoques demonst ra que também nesse ponto pode-se dist inguir cla ramente um h ia to tempora l sign ifica t ivo en t re causae efeito. Isso se explica pelo fa to de que uma elevação na produção enas vendas não cr ia nenhuma necessidade imedia ta de uma elevaçãodos estoques, porque uma par te dos estoques serve de reserva e, por -tan to, é possível aumentar t emporar iamente a velocidade da renovaçãodo tota l dos estoques. É só depois de a lgum tempo que os estoques sea justam ao novo n ível — mais elevado — da produção. Da mesmaforma, quando a produção ca i, o n ível dos estoques se reduz, mas sódepois de uma cer ta demora e, en t rementes, há uma diminuição desua velocidade de renovação.

Surge en tão a questão de saber se a disponibilidade de capita lnão desempenha um papel sign ifica t ivo no invest imento em estoques,da mesma forma como acontece com o invest imento em capita l fixo.Em out ras pa lavras, se devemos ou não supor que o invest imento emestoques depende não só da taxa de modificação da produção comotambém do influxo de nova poupança . Isso, contudo, não parece ser oque sucede em gera l, uma vez que os estoques são a t ivos semidispo-n íveis (rea lizáveis a cur to prazo) e pode-se recor rer a emprést imos acur to prazo para financia r uma expansão proporciona l à produção eàs vendas.

À luz do que foi dito acima, podemos relacionar o invest imentoem estoques, J , à t axa de modificação da produção do setor pr ivado,∆O∆t

, com um cer to h ia to tempora l. De acordo com as in formações dis-

poníveis, esse h ia to tempora l parece ser de uma ordem semelhante àdo que surgia no caso do invest imento em capita l fixo, τ. Para simpli-fica r , suponhamos que o h ia to tempora l dos estoques seja igua l a θ

KALECKI

127

que é da mesma ordem que τ (ver p. 124). Podemos por tan to dizercom relação ao invest imento em estoques:

J t + θ = e ∆Ot

∆t . (18)

Há que sa lien ta r que o coeficien te e e o h ia to tempora l θ são de fa tomédias. A relação en t re as a lterações dos estoques e as modificaçõesda produção var ia muito de um produto para ou t ro, as a lterações dosestoques não apresen tam uma relação direta com as a lterações da pro-dução de serviços (que também se acha inclu ída em Ot). Se pudermosesperar a lguma estabilidade de e, será somente com base na cor relaçãoent re as flu tuações de diversos componentes da produção tota l do setorpr ivado, O.

Deve-se sa lien ta r que o fenômeno da acumulação de mercador iasnão vendidas se explica pelo menos parcia lmente pelo h ia to tempora lθ da equação (18). De fa to, quando o n ível das vendas cessa de subire começa a descer , os estoques, segundo a nossa fórmula , cont inuarãoa subir duran te a lgum tempo. Não se nega contudo que, em ta is cir -cunstâncias, a acumulação de mercador ias não vendidas possa cont i-nuar numa esca la mais ampla do que a suger ida por essa fórmula .Esse desvio da fórmula provavelmente não tem um efeito muito sér iosobre a teor ia gera l do ciclo econômico, porque essa acumulação “anor -mal” de estoques é freqüentemente liqu idada em um espaço de temporela t ivamente cur to.

A fórm u la do in ve stim e n to tota l

Obt ivemos acima as seguin tes fórmulas para o invest imento emcapita l fixo, F, e para o invest imento em estoques, J :

Ft + θ = a1 + c

S t + b′ ∆Pt

∆t + d ′ (17)

J t + θ = e ∆Ot

∆t (18)

Somando essas duas equações, obtemos a fórmula do invest imentotota l, I:

I t + θ = a1 + c

S t + b′ ∆Pt

∆t + e

∆Ot

∆t + d ′ . (19)

OS ECONOMISTAS

128

S t, no segundo membro, depende do nível das a t ividades econômicas

ao tempo t, enquanto ∆Pt

∆t e ∆Ot

∆t dependem da taxa de m odificação

desse n ível. O invest imento tota l assim depende, de acordo com nossateor ia , t an to do n ível das a t ividades econômicas como da taxa de mo-dificação desse n ível em a lguma ocasião an ter ior .

KALECKI

129

10

Ilu stração Estatís tica

O proble m a do h iato te m poral

Aplicaremos agora a equação do invest imento aos dados dos Es-tados Unidos referen tes ao per íodo de1929/40. Um problema impor tan tea esse respeito é a escolha do h ia to tempora l θ.

Não parece razoável supor que esse h ia to tempora l seja maiorque um ano ou menor que um semest re, quer para o invest imento emcapita l fixo, quer para o invest imento em estoques. Alguns ta lvez su-ponham um hia to tempora l mais longo para o invest imento em capita lfixo. Deve-se sa lien ta r , contudo, que as esta t íst icas dos Estados Unidosreferen tes ao invest imento em capita l fixo se baseiam no que se refereao ramo da const rução, nos embarques de equipamentos e no “va lorposto no loca l”. Neste ú lt imo caso, onde houver diferença no andamentoda obra de vár ias est ru turas, o h ia to tempora l será mais ou menosmetade do que ocor re en t re os in ícios e os términos. Isso, é cla ro, reduzconsideravelmente a possibilidade de o h ia to tempora l aplicável à aná-lise dos dados dos Estados Unidos ser de mais de um ano. (O setorda const rução é onde se fazem cerca de 50% do invest imento em capita lfixo.) Por ou t ro lado, é difícil imaginar que esse h ia to seja in fer ior aum semest re, pr incipa lmente se lembrarmos que θ t ambém inclu i areação reta rdada dos empresár ios peran te os fa tores que determinamas decisões de invest ir . Parece que o mesmo se pode dizer com relaçãoaos estoques. À luz do que se sabe sobre seu movimento, é difícil suporum hia to tempora l in fer ior a um semest re. Por ou t ro lado, um h ia totempora l de mais de um ano parece completamente fora de propósitono caso.

Tendo fixado os limites do h ia to tempora l, θ, a inda ficamos como problema da escolha do θ “cer to” dent ro desses limites. Isso, contudo,parece ser uma ta refa impossível. No caso do invest imento em capita l

131

fixo, obtemos com um hia to tempora l de um ano uma cor relação duplarazoável do invest imento com a poupança e com a taxa de modificaçãodos lucros. Com um hia to tempora l de um semest re obtemos um elevadograu de cor relação do invest imento com a poupança , mas a taxa demodificação dos lucros parece não ter in fluência . O coeficien te de cor -relação simples é muito mais elevado nesse caso que o coeficien te decor relação dupla no caso do h ia to tempora l de um ano. Contudo, apesardo bom a justamento, essa relação não parece muito razoável. Afora ofa to de que de acordo com a teor ia acima a taxa de modificação doslucros dever ia exercer pelo menos a lguma influência , não parece plau-sível que um fenômeno tão complexo como o invest imento em capita lfixo possa ser determinado apenas por uma var iável. (O per igo daaplicação do cr itér io de “qua lidade do a justamento” à determinação dohia to tempora l en t re as decisões de invest ir e o invest imento rea l podeser exemplificado por um caso ext remo. Imaginemos que o comércioexter ior e o orçamento estejam equilibrados e que o volume dos estoquesseja estável duran te vár ios anos. Então, a poupança é igua l ao inves-t imento em capita l fixo para todo esse per íodo. Assim, o “melhor a jus-tamento” para a equação (17) ser ia obt ido para θ = 0. A “equação de

regressão” ser ia en tão Ft = S t, com a1 + 4 = 1, b′ = 0, e d ′ = 0. O

“coeficien te de cor relação”, é cla ro, ser ia igua l a 1.)A cor relação en t re invest imento em estoques e a taxa de a lteração

do montan te da produção parece ser muito mais elevada para um h ia totempora l de um ano que para um h ia to tempora l de um semest re.Veremos, contudo, que o ba ixo coeficien te de cor relação no caso dohia to tempora l de um semest re se deve pr incipa lmente ao fa to de queo investimento em estoques de 1930 se encontra bastante acima da linhade regressão. Como esse foi o primeiro ano de depressão, isso pode serinterpretado como uma demora inusitadamente longa no ajuste dos es-toques imediatamente após o ponto de inflexão da produção (ver p. 127).Assim é novamente difícil dizer se um h ia to tempora l de um semest reé menos apropr iado do que um hia to tempora l de um ano, apesar deo coeficien te de cor relação no pr imeiro caso ser muito mais ba ixo.

A discussão acima exposta indica que a “qua lidade do a justa -mento” não é nesse caso um cr itér io adequado para a escolha do h ia totempora l. Dent ro das circunstâncias presen tes, a ún ica solução pareceser apresen ta r duas var ian tes da equação do invest imento, baseandouma delas no h ia to tempora l de um ano e ou t ra no de um semest re.

In ve stim e n to e m capita l fixo

Examinaremos pr imeiramente as duas var ian tes para o invest i-mento em capita l fixo. Aplicamos, en tão, a equação

OS ECONOMISTAS

132

Ft = a1 + c

S t – θ + b′ ∆Pt – θ∆t

+ d ′ (17)

pr imeiramente na suposição de que θ = 1, em segundo lugar , na su-

posição de que θ = 12 .

A tabela 20 apresenta os dados relevantes para a variante θ = 1. Operíodo em foco é 1930/40, porque a poupança, S , e os lucros, P, são contadoscom relação ao ano anterior, de forma que o ano de 1929 “se perde”.

Tanto o va lor do invest imento em capita l fixo, Ft, como o va lordo tota l da poupança bru ta para o ano an ter ior , S t – 1, foram ca lcu ladosusando como defla tor o índice dos preços dos bens de invest imento.71

A maior dificu ldade surgiu na determinação da sér ie ∆P∆t . Isso foi feito

do seguin te modo: est imamos o va lor dos lucros bru tos depois dos im-postos, aplicado o defla tor const itu ído pelo índice dos preços dos bens

TABELA 20. Determ inação do Investim ento em Capital Fixo nos Es-tados Unidos, 1930/ 40.

Fonte: Departam ento de Com ércio dos Estados Unidos. Suplemento Sobre a Renda Naciona l deSurvey of Curren t Business, 1951. Para m ais detalhes, ver o Apêndice Estatístico, N otas 10, 11,12 e 13.

1O índice dos preços dos bens de capita l foi empregado como defla tor .

KALECKI

133

71 Não incluímos a comissão dos corretores na poupança bruta como havíamos feito na página77, já que, apesar de se tra tar de um tipo de dispêndio de capita l, não eleva o total do ativodos capitalistas e, portanto, não cr ia capital empresaria l disponível para reinvestimento. Poresse motivo, S na tabela 20 não é igual a I′ na tabela 13. Outra razão para essa discrepânciaé que S aqui tem como deflator os preços dos bens de capital, enquanto I′ na tabela 13 édeflacionado pelo índice implícito na deflação da renda bruta do setor pr ivado.

de capita l para os anos 1928/29, 1929/30, 1930/31 etc., de meio de anoa meio de ano.72 A taxa de elevação dos lucros em 1939 foi ca lcu ladacom a diferença en t re os lucros em 1929/30 e 1928/29 etc. Ou, em

out ras pa lavras, t axa da a lteração dos lucros no ano an ter ior , ∆Pt – 1

∆t,

foi ca lcu lado como Pt – 12 – Pt – 3

2.

A cor relação en t re o invest imento em capita l fixo, Ft, com a pou-pança do ano an ter ior , S t – 1 , e a taxa de elevação dos lucros tambémdo ano an ter ior , Pt – 1

2 — Pt – 3

2 pode ser estabelecida facilmente agora .

A equação de regressão é a seguin te:

Ft = 0,634 S t – 1 + 0,293 (Pt – 12 – Pt – 3

2) + 1,76 .

O coeficien te de cor relação dupla é igua l a 0,904. O coeficien te decor relação parcia l en t re Ft e S t – 1 é 0,888 e en t re Ft ePt – 1

2 — Pt – 3

2 é 0,684. O invest imento Ft ca lcu lado a par t ir dessa

equação aparece na ú lt ima coluna da tabela 20 para comparação como Ft r ea l.73 O coeficien t e de S é 0,634 e a ssim se apresen t a de acordo

com n ossa su posiçã o de qu e a1 + c na equ açã o (17) é m en or qu e 1

(cf. p . 126).Consideremos agora a var ian te θ = 1

2. Como dissemos, parece que

nesse caso a cor relação parcia l com a modificação dos lucros pode serdescar tada . Assim, na tabela 21, damos apenas Ft e S t – 1

2 , que é ca l-

cu lado aproximadamente como

S t – 1 + S t

2 .

A equação de regressão é

Ft = 0,762 S t – 12 + 0,29 .

O coeficien te de cor relação é 0,972, muito mais elevado que o coeficien teda cor relação dupla da var ian te θ = 1. O va lor de Ft ca lcu lado a par t ir

OS ECONOMISTAS

134

72 Ver o Apêndice Esta t íst ico, Notas 12 e 13.73 Parece não se achar envolvida uma tendência defin ida . Por esse mot ivo não consideramos

uma tendência ao fazer a aná lise da cor relação.

da equação de regressão é dado na tabela 21. O coeficien te a1 + c aqui

é igua l a 0,762, que mais uma vez concorda com a suposição a respeito

de a1 + c

que havíamos feito an ter iormente.

O Ft r ea l e os va lores ca lcu lados a par t ir das equações de regressãopara ambas as var ian tes aparecem t ranspostos em diagramas de dis-persão no grá fico 9, tomando-se os va lores ca lcu lados como o eixo dasabscissas e os va lores rea is como a ordenada . A linha de regressão éuma reta cor tando a or igem com uma inclinação de 45º.

TABELA 21. Determ inação do Investim ento em Capital Fixo nos Es-tados Unidos, 1930/ 40.

Fonte: Departam ento de Com ércio dos Estados Unidos. Suplemento Sobre a Renda Naciona l deSurvey of Curren t Business. 1951. Para m ais detalhes, ver o Apêndice Estatístico, N otas 10 e 11.

Algu n s a u t or es (por exem plo, Ka ldor e eu m esm o) su pu ser a mqu e depois de o in ves t im en t o em ca p it a l fixo t er a lca n ça do u mcer t o n ível n o per íodo de p r osper ida de pa ssa a r e spon der a os de -t er m in a n t es m a is len t a m en t e qu e n a et a pa in icia l da fa se de p r os -per ida de74 e qu e n a fa se de depr essã o ocor r er ia u m fen ôm en oa n á logo. Os n ossos d ia gr a m a s de d isper sã o n ã o pa r ecem con fir m a ressa h ipót ese.

KALECKI

74 Supunha-se que essa tendência aparecesse a inda an tes da fase de est rangulamento noramo da indúst r ia de bens de capita l.

In ve stim e n to e m e stoqu e s

Podemos considerar pr imeiramente a var ian te θ = 1. Na tabela22 aparecem as a lterações quant ita t ivas dos estoques, J , e as taxasde modificação do produto bru to ou produção do setor pr ivado no ano

Gr á fico 9. Diagram a de d ispersão do investim ento em capital fixo,calcu lado e real, para os Estados Unidos, 1930/ 40, em bilhões de dólaresa preços de 1939. Os valores calcu lados estão no eixo dos abscissas eos reais no das ordeandas.

anter ior , ∆Ot – 1∆t ,75 ca lcu ladas (como foi feito com a taxa de elevação

dos lucros na tabela 20) como Ot – 12 – Ot – 3

2.

OS ECONOMISTAS

75 Tanto a modificação dos estoques, J , como a modificação do produto bru to do setor pr ivado,O, são aqui tomadas com exclusão das modificações dos estoques agr ícolas, pelo seguin temot ivo: os estoques agr ícolas são a fetados pelas modificações das colheitas, que são in-fluenciados por condições do clima que nada têm a ver com as modificações da produçãotota l do setor pr ivado. Como o peso da agr icu ltura na produção tota l do setor pr ivado émuito menor que o peso dos estoques agr ícolas no tota l dos estoques no fim do ano, quandoboa par te das colheitas a inda está por vender , isso represen ta um fa tor de per turbação.Eliminamos de forma aproximada esse fa tor exclu indo as modificações nos estoques agr ícolastan to da produção tota l como do tota l das modificações dos estoques. A influência dasmodificações na produção agr ícola sobre as modificações da produção tota l fica dessa formabastan te reduzida , e, em vista do pouco peso da produção agr ícola na produção tota l, asmodificações na produção tota l depois do a juste acima dão uma boa aproximação das mo-dificações da produção não agr ícola . Esse t ra tamento cor responde a um modelo de economiano qua l as flu tuações cíclicas da produção agr ícola não são de grande impor tância , o queé razoável do ponto de vista metodológico.

TABELA 22. Determ inação do Investim ento em Estoques nos EstadosUnidos, 1930/ 40.

Fonte: Departam ento de Com ércio dos Estados Unidos. Suplemento Sobre a Renda Naciona l deSurvey of Curren t Business. 1951. Para m ais detalhes, ver o Apêndice Estatístico, N otas 14 e 15.

1Sem considerar os estoques agr ícolas.

A equa çã o de r egressão do invest im ent o em estoqu es, J , comrela ção à t axa de m odifica ção da produção no a no preceden te é asegu in t e:

J t = 0,215(Ot – 12 – Ot – 3

2) – 0,08 .

O coeficien te de cor relação é 0,913. (A presença da constan te –0,08significa que os estoques estão se modificando mesmo quando a pro-dução não está . Dent ro de uma unidade de tempo, os estoques se mo-difica rão em –0,08 a lém da modificação provocada pelo movimento daprodução. Em out ras pa lavras, –0,08 é o coeficien te da tendência dosestoques. Veremos que no per íodo considerado a tendência foi insign i-fican te em comparação com as modificações induzidas pelas flu tuaçõesda produção.) Os va lores de J t ca lcu lados a par t ir da equação sãodados na tabela 22 para comparação com a sér ie rea l.

Com relação à var ian te θ = 12, iremos cor relacionar o invest imento

em estoques, J t, com Ot – Ot – 1. De fato, Ot – Ot – 1 dá a t axa de elevaçãodo montan te da produção duran te um per íodo cu jo ponto cen t ra l é ofim do ano an ter ior . Assim, o h ia to tempora l en t re J t e Ot – O t – 1 é omeio ano. A tabela 23 apresen ta os dados relevantes.

KALECKI

137

A equação de regressão é

J t = 0,194 (Ot – Ot – 1) – 0,13.

O coeficien te de cor relação aqui é apenas 0,828, muito mais ba ixo,por tan to, que na var ian te θ = 1. (A sign ificância do membro constan te,que nesse caso é –0,13, já foi deba t ida acima.) A comparação de J t,com o va lor ca lcu lado a par t ir da equação (ver tabela 23) demonst rauma discrepância considerável para 1930. É essa discrepância a res-ponsável em grande par te pelo coeficien te de cor relação rela t ivamenteba ixo. Conforme foi suger ido acima, o n ível de invest imento anormal-mente a lto regist rado para 1930 não deixa de ser na tura l, já que foio pr imeiro ano depois do ponto de in flexão da produção.

In ve stim e n to tota l

Podemos agora formular uma equação para o invest imento tota l,

It, quando θ = 1 ou 12 , somando as respect ivas equações de regressão

para o invest imento em capita l fixo e invest imento em estoques. Ob-temos para θ = 1:

I t = 0,634S t – 1 + 0,293(Pt – 12 – Ot – 3

2) + 0,215(Ot – 1

2 – Ot – 3

2) + 1,68

e para θ = 12 :

It = 0,762S t – 12 + 0,194(Ot – Ot – 1) + 0,16

OS ECONOMISTAS

138

TABELA 23. Determ inação das Alterações dos Estoques dos EstadosUnidos, 1930/ 40.

Fonte: Departam ento de Com ércio dos Estados Unidos. Suplemento Sobre a Renda Naciona l deSurvey of Curren t Business. 1951. Para m ais detalhes, ver o Apêndice Estatístico, N ota 14.

1Sem considerar os estoques agr ícolas.

De acordo com essas equações, o invest imento tota l é determinadotan to pelo n ível das a t ividades econômicas como pela taxa de modifi-cação desse n ível em uma ocasião an ter ior .

KALECKI

139

P ARTE QUINTA

O Cic lo Econ ôm ico

11

O Me can ism o do Cic lo Econ ôm ico

As e qu açõe s qu e de te rm in am o proce sso d in âm ico

Traba lharemos neste capítu lo na suposição de que tan to a ba-lança comercia l como o orçamento do governo são equilibrados e queos t raba lhadores não poupam. Demonst rou-se no capítu lo 5 que, dadaessa suposição, o n ível das a t ividades econômicas é determinado peloinvest imento. Ademais, demonst rou-se no capítu lo 9 que o invest imentoé determinado, com um cer to h ia to tempora l, pelo n ível das a t ividadeseconômicas e pela taxa de modificação desse n ível. Conclu i-se que oinvest imento a um dado tempo é determinado pelo n ível e pela taxade modificação do n ível de invest imento numa ocasião an ter ior . Vere-mos adian te que isso nos fornece a base para uma aná lise do processoeconômico dinâmico e em par t icu la r nos permite demonst ra r que esseprocesso envolve flu tuações cíclicas.

Além de supormos o equilíbr io da ba lança comercia l e do orça-mento, suporemos também que o índice de preços que deflaciona oinvest imento é idên t ico ao que é empregado como defla tor do produtobru to do setor pr ivado. Essa suposição não é ext ravagante, em vistadas flu tuações cíclicas serem muito pequenas na razão en t re os preçosdos bens de capita l e dos bens de consumo (ver p. 48). Ao mesmotempo, consegue-se uma simplificação considerável. De fa to, parecianecessár io acima recor rer ao emprego de defla tores diferen tes em con-textos diferen tes para os mesmos itens. Assim, o invest imento, a pou-pança e os lucros foram deflacionados nos capítu los 4 e 5 pelo mesmoíndice de preços que foi empregado como defla tor do produto bru to dosetor pr ivado. Mas no capítu lo 9, o invest imento em capita l fixo, apoupança e os lucros foram todos deflacionados pelo índice de preçosdos bens de capita l. Contudo, agora que passamos a supor a iden t idade

143

dos defla tores, o invest imento “rea l”, a poupança e os lucros têm umsó sign ificado.

Consideremos agora as equações que são relevantes para nossoestudo do ciclo econômico. Da suposição do equilíbr io do comércio ex-terno e do orçamento, conclu i-se que a poupança é igua l ao invest imento:

S = I .

Ainda na mesma suposição, podemos tomar do capítu lo 4 (ver p. 74)a equação que relaciona os lucros depois dos impostos, P, com umcer to h ia to tempora l, ao invest imento:

Pt = It – ω + A

1 – q(8′)

Essa equação se baseia : (a) na igua ldade en t re os lucros e o invest imentomais o consumo dos capita listas; e (b) na relação en t re o consumo doscapita listas e os lucros em a lguma ocasião an ter ior . (A é a par te estáveldo consumo dos capita listas e q é o coeficien te do consumo sobre umincremento dos lucros.)

Além disso, deduzimos das equações (10) e (9′′) apresen tadas nocapítu lo 5 (ver pp. 87-8) a relação en t re o produto bru to, O, e os lucrosdepois dos impostos, P:

Ot = Pt + B ′1 – α′ + E . (10′)

Essa equação reflete: (a) os fa tores determinantes da dist r ibu ição darenda naciona l; (b) o sistema de impostos sobre os lucros; e (c) o n íveldos impostos indiretos (A constan te B ′ e o coeficien te α′ r efletem os“fa tores de dist r ibu ição da renda” e o sistema de impostos sobre oslucros; a constan te E r epresen ta o montan te dos impostos indiretos).

F in a lm en te, o capítu lo 9 nos dá a equa çã o qu e det erm ina oin vest im en to:

I t + θ = a1 + c S t + b′

∆Pt

∆t + e ∆Ot

∆t + d ′ . (19)

Essa equação expr ime: (a) a relação, com um hia to tempora l, en t re oinvest imento em capita l fixo, de um lado, e a poupança , a t axa demodificação dos lucros e a taxa de modificação no estoque de capita lem equipamento de ou t ro (o efeito da modificação do estoque de capita l

se reflete no denominador do coeficien te a1 + c

); e (b) a relação en t re o

invest imento em estoque e a taxa de modificação da produção.Dessa ú lt ima equação e da suposta igua ldade en t re a poupança

e o invest imento, conclu i-se que:

OS ECONOMISTAS

144

It + θ = a1 + c It + b′

∆Pt

∆t + e ∆Ot

∆t + d ′ . (20)

A e qu ação do c ic lo e con ôm ico

As equações (8′), (10′) e (20) se aplicam ao processo dinâmico emgera l. Na etapa a tua l, contudo, pretendemos nos concent ra r no processodo ciclo econômico considerado como diferen te do desenvolvimento alongo prazo. Para esse fim consideraremos um sistema que não seache su jeito ao desenvolvimento a longo prazo, isto é, um sistema queseja estável exceto no que diz respeito às flu tuações cíclicas. Demons-t ra remos no capítu lo 14 que o processo dinâmico rea l pode ser ana lisadodo ponto de vista de (a) flu tuações cíclicas, cu jo padrão é o mesmo dosistema está t ico descr ito mais adian te; e (b) uma tendência cont ínuaa longo prazo.

Para t ransformar nosso sistema em “está t ico”, proporemos queos parâmet ros A, B ′ e E que sempre supusemos esta r su jeitos a mo-dificações a longo prazo, sejam est r it amente constan tes. Conclu i-se en-tão diretamente da equação (8′) que:

∆Pt

∆t + 1

1 – q ∆It – ω∆t

e da equação (10′) que:

∆Ot

∆t = 11 – α′

∆Pt

∆t

ou:

∆Ot

∆t = 1(1 – q) (1 – α′)

∆It – ω∆t .

Tan to a t axa de m odificaçã o dos lucr os como a t axa de modifica çãoda produção aqu i se encont r am expressas em t er m os da t axa dem odificação do in vest im en to (com um cer to h ia to t em por a l). F azendoa su bst it u içã o de ∆P

∆t e ∆O∆t por essa s expressões n a equ açã o (20),

obtem os:

I t + θ = a1 + c

It + b1 – q

∆I t – ω∆t

+ e(1 – q) (1 – α′)

∆I t – ω∆t

+ d ′

ou

I t + θ = a1 + c

It + 11 – q

(b′ + e1 – α′

) ∆It – ω∆t

+ d ′ . (21)

KALECKI

145

=

Assim, o invest imento ao tempo t + θ é função do invest imento aotempo t e da taxa de modificação do invest imento ao tempo t – ω. Opr imeiro termo do segundo membro da equação represen ta a in fluênciasobre as decisões de invest ir exercida pela poupança cor ren te (coefi-cien te a) e t ambém o efeito nega t ivo do aumento dos equipamentos

(coeficien te 11 + c

). Devemos lembrar que 11 + c

< 1. O segundo termo

representa a in fluência da taxa de modificação dos lucros (coeficien teb′

1 – q) e da produção [coeficien te e

(1 – q) (1 – α′) ].

Na mesma linha de nossa abst ração provisór ia das modificaçõesa longo prazo, supusemos acima que A , B ′ e E são est r it amente cons-tan tes. Devemos supor o mesmo com relação a d ′, mas veremos quea lém disso o n ível de d ′ deve esta r de acordo com out ra condição paraque o sistema possa ser “está t ico”. De fa to, t a l sistema deve ser capazde permanecer em repouso ao n ível do invest imento que é igua l àdepreciação, δ. Para esse estado do sistema, o invest imento, I, é per -

manentemente estável no n ível δ e ∆I∆t

, é cla ro, é igua l a zero. A equação

(21) fica dessa forma reduzida a :

δ = a1 + c δ + d ′

qu e vem a ser a condiçã o qu e d ’ t em que pr eench er pa r a qu e osist em a seja est á t ico no sen t ido de qu e n ão se oper em m odifica çõesa longo pr azo. P or m eio da su bt r ação da equa çã o (22) da equa ção(21), obt em os:

It + θ – δ = a1 + c

(I t – δ) + 11 – q

(b′ + e1 – α′

) ∆It – ω∆t

.

Representemos por i o desvio do invest imento com relação à deprecia -

ção, I – δ. Como δ é uma constan te,76 1 ∆i∆t

= ∆I∆t

e t emos:

it + θ = a1 + c it + 1

1 – q (b′ + e1 – α′)

∆it – ω∆t (23)

Essa é a equação que servirá de base para nossa aná lise do mecanismodo ciclo econômico. Para facilit a r , represen ta remos

OS ECONOMISTAS

146

76 Na verdade, a depreciação flu tua ligeiramente no decurso do ciclo, mas δ pode ser tomadocomo sendo o n ível médio da depreciação.

11 – q

(b′ + e1 – α′

)

por µ. A equação (23) pode ser escr ita assim:

it + θ = a1 + c

it + µ ∆it – ω∆t

. (23′)

O cic lo e con ôm ico au tom ático

Discut iremos agora a tendência cíclica ineren te à equação (23′).

Em toda essa discussão, a suposição de que o coeficien te a1 + c

é menor

que 1 é de impor tância crucia l.Imaginemos que pr incipiamos da posição onde it = 0, isto é, do

ponto A onde o invest imento é igua l à depreciação (ver grá fico 10).

Imaginemos a inda que ∆it – ω∆t

> 0. Isso quer dizer que an tes de A ser

a lcançado o invest imento estava aba ixo do n ível de depreciação massubindo em sua direção. Agora fica cla ro que it + θ é posit ivo, porqueo pr imeiro componente do segundo membro da equação (23′) a

1 + c it =

0 e o segundo, µ ∆it – ω∆t

> 0. Em out ras pa lavras, i aumentou assim

até chegar ao ponto B acima do n ível da depreciação.

Gr á fico 10. Curva tem poral h ipotética do investim ento.

Contudo, depois de i t er -se tornado posit ivo, o problema de suacont ínua elevação, isto é, se it + θ é maior que it, depende do va lor dos

coeficien tes a1 + c e µ. De fa to, o pr imeiro componente de it + θ, isto é,

a1 + c

it ′, é mais ba ixo que i, porque supusemos que o coeficien te

KALECKI

147

t

a1 + c era menor que 1; e isso tende a reduzir it + θ aba ixo do n ível de

it. Por ou t ro lado, o segundo componente µ ∆it – ω∆t é posit ivo, porque i

estava se elevando an tes de a lcançar o n ível de it, e isso tende a au-mentar it + θ acima do n ível de it. Há , por tan to, duas a lterna t ivas nocaso: que os coeficien tes a

1 + c e µ são ta is que a elevação do invest imento

afina l se detém no ponto C; ou que a elevação cont inua a té que asa t ividades econômicas cheguem a um nível onde um aumento adiciona lnão seja mais permit ido por escassez da capacidade produt iva existen teou da mão-de-obra disponível.

Tomemos a pr imeira a lterna t iva . Depois de o invest imento ter -sedet ido em C, não pode ser mant ido nesse n ível, mas tem que ca ir deD pa ra E . De fa to, represen tando o n ível máximo de i por itop, t emospara o ponto D:

it = itop; ∆it – ω∆T = 0 .

Assim, para it + θ ao ponto E , o componente µ ∆it – ω∆t é igua l a zero e

o componente a1 + c

itop é menor que itop porque a1 + c

< 1. Conseqüen-

temente, it + θ é menor que itop e o invest imento ca i de seu n ível maisa lto a té o ponto E .

Da li para dian te o invest imento se deslocará para ba ixo, isto é,

it + θ será mais ba ixo que it , por duas razões: o componente a1 + c

it será

menor que it, e o componente µ ∆it – ω∆t

será nega t ivo. Dessa forma, i

fina lmente ca irá a zero, isto é, o invest imento chegará ao n ível dadepreciação.

Desse ponto em dian te, o padrão da fase de prosper idade se re-pet irá de modo inverso na fase de depressão. Depois de o n ível dedepreciação ter sido cruzado no sen t ido descendente no ponto A ′, odeclín io do invest imento cont inuará a té fina lmente deter -se em C′.Contudo, o invest imento não se manterá nessa posição, elevando-sede D′ pa ra E ′ e chegando de novo ao n ível da depreciação.

Essas flu tuações do invest imento serão acompanhadas por flu -tuações das rendas, da produção e do n ível de emprego. A na turezada relação en t re o invest imento, de um lado, e o montan te da rendarea l e da produção do setor pr ivado, do out ro, se acha explicitada nocapítu lo 5 (ver também as páginas 152-154 do presen te capítu lo).

OS ECONOMISTAS

148

O mecanismo dos ciclos econômicos acima refer ido baseia -se emdois elementos: (a) quando o invest imento a lcança o n ível da depre-ciação vindo de ba ixo (no ponto A), não se detém nesse ponto, mascruza-o, deslocando-se para cima. Isso porque a elevação do invest i-mento, e conseqüentemente o aumento dos lucros e do montan te daprodução an tes de se a lcançar o n ível da depreciação, faz com que oinvest imento seja super ior àquele n ível no per íodo subseqüente. O equi-líbr io está t ico só pode ocor rer se o invest imento est iver no n ível dadepreciação e se, a lém disso, seu n ível não se t iver modificado no pas-sado recente. A segunda condição não é preenchida em A e essa é arazão pela qua l o movimento ascendente cont inua . Quando o invest i-mento a t inge o n ível da depreciação vindo de cima (no ponto A ′), asituação é aná loga , isto é, o invest imento não pára , mas cruza o n ívelda depreciação ao descer .

(b) Quando o movimento ascendente do invest imento se detém,não permanece nesse n ível, mas pr incipia a declinar . Isso acontece

porque o coeficien te a1 + c é menor que 1, o que reflete a in fluência

nega t iva sobre o invest imento exercida pela ampliação do capita l emequipamento (c > 0). Possivelmente também o fa tor represen tado peloreinvest imento incompleto da poupança (se a < 1). Se houvesse o rein -vest imento completo da poupança (isto é, a = 1) e se a acumulação debens de capita l pudesse ser descar tada (isto é, se c fosse desprezível),o sistema se manter ia em seu n ível máximo. Mas, de fa to, a acumulaçãode bens de capita l, que com as a t ividades econômicas a um nível estáveldetermina uma taxa de lucros decrescentes, t em um efeito adversotangível sobre o invest imento (isto é, c não é desprezível). Ademais, oreinvest imento da poupança pode ser incompleto (isto é, a < 1).77 Con-seqüentemente, o invest imento declina e assim a fase de depressão.

(Essa aná lise demonst ra cla ramente que a suposição a1 + c

< 1 é con-

dição necessár ia para a existência do ciclo econômico (cf. p. 126).)A posição no ponto mais baixo da depressão é análoga à do ponto

mais alto da fase de prosperidade. Enquanto a taxa de lucros cai no pontomais alto da fase de prosperidade devido a adições ao estoque de capitalem equipamento, ela se eleva no ponto mais baixo da fase de depressãoporque a depreciação dos equipamentos não se está realizando.78

KALECKI

149

77 A impor tância do fa tor de “reinvest imento incompleto” para a explicação do ponto de in flexãoda fase de prosper idade foi sa lien tada pela pr imeira vez pelo finado E . Rothbar t lh , numaconferência pronunciada em 1939 peran te a Associação Econômica da London School ofEconomics.

78 Se a < 1, esse será um fa tor adiciona l para a recuperação do investimento a par tir do pontomáximo da depressão. Neste contexto, a condição a < 1 significa que as decisões de investimentoem capita l fixo caem, na depressão, menos que a poupança, se fizermos abstração da influênciaexercida pela taxa de modificação dos lucros e do capita l em equipamentos.

começa

Pode-se pergunta r se essa situação é simét r ica de fa to à quepreva lece no ponto mais a lto da fase de prosper idade. Pode-se rea lmenteargumentar que o efeito da dest ru ição de capita l sobre as decisões deinvest ir duran te a fase de depressão é muito mais fraco que o daacumulação de capita l na fase de prosper idade, porque o equipamento“dest ru ído” na fase de depressão está ocioso, de qua lquer forma. Con-seqüentemente, a depressão poder ia ser bastan te longa . Não se exclu i,de fa to, essa possibilidade do sistema está t ico que estamos delineando.

(Nesse caso, c é menor , de forma que a1 + c é maior , na fase de depressão

que na de prosper idade.) Mas é preciso nota r que a situação é diferen tenuma economia que goze de crescimento a longo prazo. Demonst ra re-mos adian te que numa economia assim o ciclo econômico conforme foidescr ito acima é superposto sobre a tendência cont ínua a longo prazo.(Ver grá fico 18.) No ponto D′, que cor responde ao ponto mais ba ixo dadepressão, o n ível das a t ividades econômicas de fa to aumenta à taxade crescimento a longo prazo, enquanto que a expansão de capita l emequipamento não a lcança essa taxa , de modo que a taxa de lucrosaumenta .

O “te to” e o “fu n do”

As considerações acima baseavam-se na suposição de que os coe-ficien tes de a

1 + c e µ são de molde a provocar a detenção au tomát ica

da elevação do invest imento na fase de prosper idade e a detenção daqueda do invest imento na fase de depressão. No caso a lterna t ivo, aelevação do invest imento na fase de prosper idade só se deterá ao sen t iros danos provocados pela escassez de equipamento e de mão-de-obra .Quando se chegar a essa posição, os pedidos em aber to irão se acumularrapidamente e as en t regas sofrerão a t rasos drást icos. Isso fa rá comque a elevação se detenha ou mesmo com que se produza uma quedado invest imento em estoques. O invest imento em capita l fixo pode sera fetado de modo semelhante pela ocor rência de escassez nesse setor .O per íodo de execução das ordens de invest imento se prolongará e aelevação do invest imento em capita l fixo terá que diminuir .

Depois que a elevação da taxa de invest imento se t iver det ido eo n ível das a t ividades econômicas se t iver mant ido por a lgum temponesse “teto”, o mecanismo do ciclo econômico pr incipia a operar . Osinvest imentos começam a ca ir , como no caso apresen tado acima, devidoao aumento do estoque de capita l em equipamento e também, prova-velmente, devido ao reinvest imento completo da poupança (fa tores essesque tornam a

1 + c < 1). Tendo começado desse modo, a depressão cont inua

da mesma forma que o ciclo econômico “au tomát ico”.Surge a questão de saber se existe um “fundo” para a depressão,

OS ECONOMISTAS

150

incompleto

da mesma forma que há “teto” para a fase de prosper idade. Cer tamenteexiste esse “fundo” no caso do invest imento em capita l fixo, uma vezque o seu va lor bru to não pode ca ir aba ixo de zero. Contudo, não existeum limite aná logo para o desinvest imento em estoques. Assim, quandoo invest imento bru to em capita l fixo chega ao n ível zero, a fase dedepressão pode tornar -se mais len ta ; mas não deter -se, uma vez queo desinvest imento em estoques pode ganhar impulso. Se, contudo, adepressão de fa to se detém, o processo de recuperação é bastan te se-melhante ao que foi descr ito na secção an ter ior .

Flu tu açõe s e xplos ivas e am orte c idas

Voltemos ao caso do ciclo econômico au tomát ico. Parece que asflu tuações cíclicas ineren tes à equação

it + θ = a1 + c it + µ

∆it – ω∆t (23′)

podem ser estáveis, explosivas ou amor tecidas (ver grá fico 11), depen-

dendo do va lor dos coeficien tes, a1 + c e µ, e dos h ia tos tempora is

θ e ω. Dado um cer to conjunto desses va lores, a amplitude das flu tua-

ções será constan te. Mas se o coeficien te µ aumentar enquanto a1 + c,

θ e ω permanecem ina lterados, as flu tuações se tornam explosivas; ese µ r eduzir -se, elas se tornam amor tecidas.

Gr á fico 11. Flutuações estáveis, am ortecidas e explosivas.

Tom em os pr im eir am ente o caso das flu t ua ções explosivas. Éeviden te que, devido à am plit ude crescen te da s flu t ua ções, o inves-t im en to, dura n t e a fa se de p rosper ida de, t er á qu e, m a is cedo oum ais t a rde, a t ingir o “t eto”. Depois disso, con form e foi dem onst r adoacim a , vir á u m a depressão, cu ja r ecu per açã o levar á de novo o in -vest im en to ao n ível do “t eto”, e a ssim por dia n t e. (Ver grá fico 12.)O fu ndo da depr essã o é m a nt ido n o m esm o n ível, por qu e o decur soda con t r ação é t ot a lm ente det erm in ado, de a cordo com a equa ção

KALECKI

151

(23′), pelo n ível i no pon to m áximo da fase de prosper idade, pelos

coeficien tes a1 + c e µ, e pelos h ia tos θ e ω.

Gr á fico 12. Flutuações explosivas com “teto”.

No caso das flu tuações amor tecidas, a amplitude irá declinarcont inuamente, de forma que nesse caso poder ia parecer que o ciclova i diminuindo a té tornar -se insign ifican te. Contudo, isso não está cor -reto, pela seguin te razão: as relações en t re o invest imento, os lucrose a produção, sobre as qua is se baseia a equação (23′) são “estocást icas”,isto é, su jeitas a per turbações a lea tór ias. (Os desvios dos va lores rea iscom relação aos va lores ca lcu lados apresen tados nas ilust rações esta -t íst icas acima podem ser in terpretados como per turbações desse gêne-ro.) Assim, a equação (23′) dever ia ser escr ita rea lmente como:

it + θ = a1 + c it + µ

∆it – ω∆t + ε (23′′)

on de ε é um a per t u rbação a lea tór ia . Or a , pa r ece que o efeit o dos“ch oques ir r egu la r es”, ε n a equa çã o (23 ′′) con t r a ba la nça o am or t e-cim en to ineren te a o m ecan ism o bá sico. O resu lt a do é qu e se geraum a espécie de m ovim en to cíclico sem i-r egu la r , cu ja am plit ude édet er m in ada pela m agnitu de e pelo padr ão dos ch oques, ε, e pelospa râm et ros da equ açã o (23 ′).79

Esse resu ltado é de impor tância considerável, já que demonst raa possibilidade de ocor rerem flu tuações cíclicas que não tocam o “teto”,a judando assim a explicar o fa to de que esse freqüentemente é o padrãoseguido pelas flu tuações rea is. Surge uma dificu ldade sér ia , contudo,com relação à aplicação da teor ia . As exper iências rea lizadas parecemsuger ir que, se o amor tecimento não for for te, o ciclo resu ltan te serámuito ir regula r e sua amplitude será da mesma ordem de magnitude

OS ECONOMISTAS

152

79 Parece também que, se o mecanismo tende a produzir flu tuações de amplitude constan te,os choques ir regula res fazem com que o ciclo se torne explosivo. Conseqüentemente, maiscedo ou mais ta rde chega-se ao “teto” e da li por dian te a amplitude não var ia .

dos choques. Uma vez que não existe um fundamento razoável paraa suposição de que as in ter -relações en t re o invest imento, os lucros ea produção devem necessar iamente ser de molde a produzir um amor-tecimento fraco, o va lor da teor ia torna-se quest ionável. Tra tamos dessadificu ldade no capítu lo 13, onde se demonst ra que, se fizermos cer tassuposições just ificáveis a respeito do cará ter dos choques, apareceráum ciclo bastan te regula r com uma amplitude rela t ivamente grande,mesmo quando o amor tecimento for substancia l.

O cic lo e con ôm ico e a u ti lização dos re cu rsos

J á a firmamos acima (ver p. 148) que as flu tuações do invest imentoprovocarão flu tuações cor respondentes nas a t ividades econômicas comoum todo. De fa to, o montan te da produção se relaciona com o inves-t imento a t ravés das equações (8′) e (10′). Afirmamos também que omontan te da produção e do consumo apresentam flu tuações rela t ivasmenores que o invest imento (ver p. 83).

Contudo, a inda não examinamos o problema das flu tuações daut ilização do capita l em equipamentos. Veremos adian te que o n ívelde capita l fixo var ia rela t ivamente pouco no decurso do ciclo, de modoque as flu tuações da produção refletem pr incipa lmente as modificaçõesdo grau de u t ilização do equipamento.

Isso pode ser demonst rado pelo seguin te exemplo, que é relevantepara economias capita listas desenvolvidas. Supondo que o n ível de de-preciação seja 5% ao ano sobre o n ível médio de equipamentos decapita l fixo e que o invest imento bru to em capita l fixo flu tue en t re7,5% e 2,5% desse n ível, o invest imento ca irá na fase de depressão a1/3 do n ível da fase de prosper idade. Suponhamos, ademais, que noponto máximo da fase de prosper idade o invest imento em capita l fixoconst itua 20% do montan te da produção (isto é, o produto bru to dosetor pr ivado). Assim, uma vez que o invest imento ca i do ponto maisa lto da fase de prosper idade a té o ponto mais ba ixo da fase de depressão,em 2/3, a queda do invest imento represen ta rá cerca de 13% do montan teda produção da fase de prosper idade. Suponhamos a inda que a modi-ficação da produção, ∆O, seja igua l a duas vezes e meia a modificaçãodo invest imento, ∆I.80 Segue-se que a queda da produção, do pontomais a lto da fase de prosper idade ao ponto mais ba ixo da fase dedepressão, é igua l a duas vezes e meia 13%, isto é, 33% do n ível deprodução da fase de prosper idade. Assim, a produção ca i em cerca de1/3 do ponto mais a lto da fase de prosper idade ao ponto mais ba ixo

KALECKI

153

80 De acordo com a p. 87, uma modificação no invest imento de ∆I nos Estados Unidos noper íodo de 1929/40 foi acompanhada por uma modificação na renda rea l do setor pr ivadode 2,72 ∆I.

da fase de depressão. Pode-se ver facilmente que a amplitude das flu -

tuações é de cerca de 20% do n ível médio.

12 × 13 :(1 – 12 ⋅ 13 ) = 13

Calculemos agora a amplitude das flu tuações do estoque de equi-pamentos. O acréscimo maior de capita l fixo ocor re no per íodo MN(ver grá fico 13), porque essa é a fa ixa de tempo em que o invest imentobru to em capita l fixo se apresen ta acima do n ível da depreciação.

Ora , supusemos que o n ível mais elevado do invest imento bru tona fase de prosper idade era de 7,5% do n ível médio de capita l emequipamentos; por tan to, com a depreciação igua l a 5%, o invest imentolíqu ido mais elevado será de 2,5%.81 Supondo que a duração do cicloseja de dez anos, o per íodo MN será de cinco anos. Se duran te esseper íodo o invest imento em capita l fixo est ivesse em seu n ível maiselevado, o acréscimo tota l ao n ível de capita l em equipamento ser iade 12,5% da média desse n ível. De fa to, contudo, como se pode verpelo grá fico 13, esse acréscimo será de somente cerca de 2/3 de 12,5%,isto é, 8%. Conseqüentemente, a amplitude das flu tuações do estoquede capita l fixo com relação a seu n ível médio será de cerca de 4%, emcomparação com os 20% da produção.

F ica cla ro dessa forma que as flu tuações do grau de u t ilizaçãodo equipamento são de uma ordem semelhante às do montan te daprodução. Uma proporção considerável dos equipamentos fica ociosana depressão. Mesmo em termos médios, o grau de u t ilização duran teo ciclo econômico será substancia lmente in fer ior ao máximo a t ingidodurante o per íodo de prosper idade. As flu tuações da u t ilização da mão-de-obra disponível ocor rem para lelas às da u t ilização do equipamento.

Gr á fico 13. Efeito das flu tuações do investim ento em capital fixo, F ,sobre o estoque de equipam entos.

OS ECONOMISTAS

154

81 O invest imento máximo em capita l fixo é aproximadamente igua l ao invest imento máximotota l. De fa to, o invest imento em estoques no ponto máximo da fase de prosper idade épequeno, devido ao n ivelamento do montan te da produção.

Nã o só ocor r e desempr ego em massa dura n t e a depressão, com ota m bém o n ível de em pr ego m édio dura n t e o ciclo se a presen ta con -sidera velm en te a ba ixo do m áximo a t ingido n a fase de prosper idade.A reserva de equ ipa m en tos e o exército in du st r ia l de r eserva sãoca ract er íst ica s t ípica s da econ om ia ca pit a list a dura n t e um a pa r t econsider ável do ciclo.

KALECKI

155

12

Ilu stração Estatís tica

De du ção da “e qu ação do c ic lo e con ôm ico”

Tra ta remos agora de ilust ra r a t eor ia do ciclo econômico acimaexposta , recor rendo a um modelo baseado nos dados dos Estados Unidosreferen tes ao per íodo 1929/40. Esse modelo, contudo, não apresen tauma imagem exa ta dos acontecimentos nos Estados Unidos duran te oper íodo em foco. Uma vez que ele se baseia em equações cor respon-dentes àquelas que estavam subjacentes à teor ia desenvolvida no ca-pítu lo an ter ior , as suposições simplificadoras a li feitas terão que sermant idas. Assim, cont inuaremos a supor que o comércio exter ior e oorçamento do governo permanecem equilibrados, embora cer tamentenão tenha sido isso o que sucedeu nos Estados Unidos no per íodo1929/40. Cont inuaremos também a supor que o índice de preços u t i-lizado como defla tor do invest imento é idên t ico ao empregado paradeflacionar o produto bru to do setor pr ivado. F ina lmente, deixaremosde considerar os elementos de tendência das equações relevantes, parapodermos obter flu tuações cíclicas puras.

De acordo com o que se disse acima, supomos a igua ldade dapoupança e do invest imento:

S = I.

A equação que relaciona os lucros depois dos impostos, P, como invest imento, I, se baseia na equação que formulamos na página 79.Na verdade, esta ú lt ima relaciona os lucros, P, a I ′, que é a soma doinvest imento, do sa ldo da ba lança comercia l e do déficit orçamentár io.82

Contudo, deduz-se da a rgumentação apresen tada no capítu lo 4 que

157

82 Na verdade, em I′ se acham inclu ídas também as taxas de cor retagem.

essa relação não depende do seguin te: se I′ é completamente explicadopelo invest imento I ou se o sa ldo da ba lança comercia l e o déficitorçamentár io também exercem influência . Conseqüentemente, uma vezque supomos que estes ú lt imos itens são igua is a zero, podemos escreveren tão essa relação para os lucros depois dos impostos, P, e o invest i-mento, I.83 Temos assim (desprezando a tendência ):

Pt = 1,34It – 14 + 13,4 .

A relação en t re a renda bru ta do setor pr ivado, Y , e os lucrosdepois dos impostos, P, pode ser expressa como (ver p. 85):

Y t = 2,03Pt + 10,4.

Su pom os, da m esm a form a com o fizem os a n t er iorm ent e (verp. 87), em bora t a m bém a qu i seja verdade com relação ao per íodoconsider ado, qu e a diferença , E , en t r e o p rodu to br u to, O , e a r endabr u t a do setor pr ivado, Y , que é devida aos im post os in dir etos, éconst a n t e:

O = Y + E .

A par t ir dessas equações obtemos a relação en t re a taxa de modificaçãodos lucros e a do invest imento:

∆Pt

∆t = 1,34 ∆It – 1

4

∆t (24)

e a relação en t re a taxa de modificação da renda bru ta e a dos lucrose do invest imento:

∆Y t

∆t = 2,03

∆Pt

∆t = 2,72

∆It – 14

∆t .

F ina lmente, sendo E constan te, a t axa de modificação da produção éigua l à da renda bru ta e por tan to se acha relacionada com a taxa demodificação do invest imento:

∆Ot

∆t =

∆Y t

∆t = 2,72

∆It – 14

∆t(25)

Temos duas var ian tes para a equação da determinação do inves-

OS ECONOMISTAS

158

83 Deve-se acrescenta r que, enquanto no capítu lo an ter ior , para simplifica r a apresen tação,supúnhamos que os t raba lhadores não poupam, a presen te equação é a fetada em cer tamedida pela poupança dos t raba lhadores. Isso, contudo, a ltera apenas a in terpretação doscoeficien tes da equação (8’) na página 144, sem a ltera r o padrão do ciclo econômico.

t imento, cor respondente às suposições de um hia to tempora l de umano e de um semest re en t re o invest imento e seus determinantes (verp. 135). Para o h ia to tempora l θ = 1, t emos

It = 0,634S t – 1 + 0,293(Pt – 12 –Pt – 3

2) + 0,215 (Ot – 1

2 – Ot – 3

2) + 1,68 (26)

onde S é a poupança , P, os lucros depois dos impostos e O, o montan teda produção.

A equação cor respondente ao h ia to tempora l θ = 12 ano é:

I t = 0,762S t – 12 + 0,194(Ot – Ot – 1) + 0,16 (27)

Na formulação dessas ú lt imas equações no capítu lo 10, o inves-t imento em capita l fixo, a poupança e os lucros foram deflacionadospelo índice de preços dos bens de capita l, enquanto o invest imento eos lucros nas equações precedentes foram deflacionados pelos índicesde preços u t ilizados como defla tor do produto bru to. J á no presen temodelo não haverá nenhuma complicação, porquanto se supõe que oíndice de preços dos bens de capita l seja igua l ao índice de preços doproduto bru to.

Podemos agora subst itu ir nas duas ú lt imas equações a poupança ,S , pelo invest imento, I. Ademais, de acordo com as equações (24) e(25), t emos:

Pt – 12 –Pt – 3

2 = 1,34 (It – 3

4 – I t – 7

4)

Ot – 12 –Ot – 3

2 = 2,72 (It – 3

4 – I t – 7

4)

Ot – Ot – 1 = 2,72 (I t – 14 – It – 5

4) .

Assim, as equações (26) e (27) agora podem ser expressas emtermos apenas do invest imento I:

I = 0,634It – 1 + 0,978 (I t – 34 – It – 7

4) + 1,68 (28)

I = 0,762It – 12 + 0,528 (I t – 1

4 – It – 5

4) + 0,16 . (29)

Para facilit a r a aná lise que iremos empreender em seguida , modifica -remos um pouco a pr imeira dessas equações, fazendo uma aproximação:

KALECKI

159

It – 14 = 3

4 It + 1

4 I t – 1 .

Conseqüentemente, a equação (28) pode ser formulada :

I t = 0,634It – 1 + 0,978 (34

I t – 12 + 1

4 It – 3

2 – 3

4 It – 3

2 – 1

4 I t – 5

2) + 1,68

ou

I t = 0,634It – 1 + 0,734It – 12 – 0,489 It – 3

2 – 0,245I t – 5

2 + 1,68⋅ (28′)

De du ção das flu tu açõe s c íc licas

Vamos escrever as equações (28′) e (29) acima obt idas, abando-nando a constan te e colocando i, que é o desvio do n ível a longo prazo,em lugar de I .84 Temos en tão para a var ian te θ = 1:

it = 0,634it – 1 + 0,734it – 12 – 0,489it – 3

2 – 0,245it – 5

2(28′′)

e para a var ian te θ = 12 :

it = 0,762it – 12 + 0,528it – 1

4 – 0,528it – 5

4⋅ (29′)

Examinemos a pr imeira var ian te, it é função linear de it – 52 ,

it – 32 , it – 1 e it – 1

2 ⋅ Podemos a inda adicionar it – 2 , supondo que seu

coeficien te seja zero. Assim, se dividirmos o tempo em in terva los se-mest ra is, i será função linear dos cinco va lores precedentes de i. Es-colhamos como os cinco pr imeiros va lores i0 = –2; i1 = –1; i2 = 0; i3 = +1 e i4 = +2 . A par t ir da equação (28′′) agora é fácil determinar ova lor de i5. Ba sea ndo-n os em i1, i2, i3, i4, e i5, podem os det er m in ar i6e assim por dian t e. Os r esu lt a dos podem ser vist os no gr á fico 14.Obtem os um ciclo ligeir am ente a m or t ecido (em cer ca de 1,5% aoan o). O per íodo de du ra ção do ciclo é de 17 in t erva los sem est r a is,ist o é, 8 an os e m eio.85

OS ECONOMISTAS

160

84 Só se o sistema fosse de fa to está t ico é que i ser ia o desvio do n ível de depreciação comono cap. 10.

85 Se os cinco pr imeiros va lores de i fossem escolh idos de maneira diferen te, isso por cer toafeta r ia os va lores subseqüentes de i, mas o ciclo a fina l se “acomodar ia” ao per íodo deduração e à taxa de modificação de amplitude indicados no grá fico.

Gr á fico 14. Flutuações do investim ento inerentes ao m odelo dos EstadosUnidos para 1929/ 40, varian te υ = 1.

Na segunda var ian te, it, é função linear de it – 54, it – 1, it – 3

4,

it – 12, e it – 1

4, sendo os coeficien tes de it – 1

4, e it – 1, iguais a zero. Assim ,

se dividimos o tempo em in terva los t r imest ra is, i é função linear doscinco va lores precedentes de i. Supondo que os cinco va lores in icia issão –1, –0,5, 0, +0,5 e +1, podemos ca lcu la r , a par t ir da equação (29′),as ordenadas da curva tempora l. É o que aparece no grá fico 15. Obtemosum ciclo ligeiramente explosivo (o acréscimo da amplitude é de cercade 3% ao ano). O per íodo de duração do ciclo é de cerca de 25 t r imest res,isto é, 6,3 anos.86

Gr á fico 15. Flutuações do investim ento inerentes ao m odelo dos EstadosUnidos para 1929/ 40, varian te υ = 1/ 2.

Acredita -se em gera l que a duração dos ciclos mais longos sejade 6 a 10 anos. O per íodo de duração de qua lquer das duas var ian tesse enquadra dent ro desses limites, mas o da pr imeira var ian te (8,5

KALECKI

161

86 Ver a nota an ter ior .

anos) é mais t ípico. O ciclo dessa var ian te é ligeiramente amor tecido.Sob o efeito dos choques, ele se t ransformar ia em um ciclo bastan te“normal”, de amplitude constan te (ver capítu lo 13). O ciclo da segundavar ian te é explosivo. De acordo com o que se disse acima (ver p. 150),ele se t ransformar ia , depois de a lgum tempo, em um ciclo de amplitudeconstan te, a lcançando o “teto”.

Pode-se pergunta r como é possível que os acontecimentos da dé-cada de 1930 nos Estados Unidos sejam representados por um cicloamor tecido em uma das var ian tes e por um ciclo explosivo na ou t ra .Deve-se sa lien ta r que, como foi dito no in ício deste capítu lo, os modelosem questão não r epresen tam os acontecimentos rea is dos Estados Uni-dos duran te o per íodo considerado, porque as equações acima refletemapenas a lguns elementos desses acontecimentos, baseando-se parcia l-mente em suposições simplificadoras que não cor respondem aos fa tosrea is. Por ou t ro lado, há que lembrar que o per íodo considerado cobremenos que dois ciclos completos.

Como já foi dito na In t rodução, a aná lise esta t íst ica aqui em-preendida não tem por objet ivo a obtenção dos coeficien tes mais pro-váveis para as relações consideradas, mas procura simplesmente apre-sen ta r ilust rações para as teor ias desenvolvidas acima.

OS ECONOMISTAS

162

13

O Cic lo Econ ôm ico e os Ch oqu e s

Ilu stração do proble m a

Foi dito no capítu lo 10 que a in fluência de choques, isto é, mo-vimentos ir regula res, evita o amor tecimento das flu tuações do inves-t imento. Quer dizer , se um ciclo amor tecido é ineren te à equação

it = a1 + c it – θ + µ

∆it – θ – ω∆t (23′)

en tão, quando εt é o choque ir regula r ao tempo t, a equação:

it = a1 + c

it + θ + µ∆it – θ – ω

∆t + εt (23′′)

represen ta rá flu tuações não amor tecidas semi-regula res. No exame fei-to do assunto, parecia , conforme foi dito acima, que esse ciclo era bas-tan te regula r e de amplitude apreciavelmente maior que a dos choquesir regula res se o amor tecimento era de pouca in tensidade. Com umamor tecimento mais sign ifica t ivo, o ciclo gerado tornava-se ir regula re sua amplitude assumia a mesma ordem de magnitude da dos choques.Isso pode ser ilust rado pelo seguin te exemplo. A pr imeira var ian te domodelo de ciclo econômico, obt ida acima a par t ir dos dados dos EstadosUnidos para o per íodo de 1929/40, envolve flu tuações ligeiramenteamor tecidas. O amor tecimento é de cerca de 1,5% ao ano e o per íodoé de 8,5 anos. Se in t roduzirmos os choques ir regula res no modelo,veremos que aparecem flu tuações cíclicas bastan te regula res.

A nossa equação é:

it = 0,734it – 12 + 0,634it – 1

2 – 0,489it – 1

2 – 0,245it – 5

2 + εt (28′′)

163

Para produzir os choques ir regula res ext ra ímos 160 a lgar ismosa lea tór ios, de 0 a 9, da tabela de núm eros aleatórios, de Tippet t .87 Osdesvios desses a lgar ismos da média a r itmét ica , isto é, de 4,5, são to-mados como sendo os choques ir regula res, ε.

Aba ixo aparece o cá lcu lo de i a par t ir da equação acima paraa lguns per íodos:

Os cinco pr imeiros choques, ε0, ε1, ε2, ε3, e ε4,, são tomados também comoos va lores in icia is de i. Dessa forma aparecem tan to na segunda comona terceira coluna . Para o per íodo 5, de acordo com a equação acima,i0, i1, i2, i3 e i4 são mult iplicados pelos coeficien tes 0,734, 0,634, –0,489,0 e 0,245, respect ivamente, e somados. Esta soma, mais o choque ε5nos dá i5. Da mesma forma, mult iplicamos i1, i2, i3, i4 e i5 pelos mesmoscoeficien tes e adicionamos ε6 a essa soma para obter i6, e assim pordian te. O it obt ido cor responde aos in terva los semest ra is. A curva Ado gráfico 16 represen ta os dados anua is para i, isto é, as médias

ar itmét icas i5 + i6

2 , i7 + i8

2 etc., numeradas 1, 2 etc.

Veremos que as flu tuações obt idas exibem um ciclo bastan te re-gula r com um per íodo médio de cerca de 8 anos. (O per íodo do cicloamor tecido or igina l é de 8,5 anos). A amplitude dos ciclos va i de 12 a25 anos e, por tan to, é apreciavelmente mais a lta que o máximo absolu toda magnitude dos choques, que é de apenas 4,5.

É evidente que o ciclo ligeiramente amor tecido de nosso modelopara os Estados Unidos não pode ser apresen tado como o padrão do

OS ECONOMISTAS

164

87 As tabelas de Tippet t consistem em colunas de números de 4 a lgar ismos. Tomamos osa lgar ismos do pr imeiro número, depois os do segundo número etc., da pr imeira coluna .Ut ilizamos os pr imeiros 40 números, obtendo assim 160 a lgar ismos.

ciclo econômico em gera l. Poder ia ter havido um amor tecimento muitomais for te. Vamos, por tan to, ca lcu la r o efeito de um amor tecimentomaior , por exemplo, quando todos os coeficien tes, exceto o de it – 1, daequação (28′′′) são reduzidos em 20%. A nova equação (com os coefi-cien tes a r redondados) fica sendo en tão:

it = 0,6it – 12 + 0,6it – 1 – 0,4it – 3

2 – 0,2it – 5

2 + εt

O ciclo baseado nessa equação é bastan te amor tecido, sendo oamor tecimento de cerca de 14% ao ano. O per íodo de duração é decerca de 8 anos. In t roduzimos en tão nesse modelo a mesma sér ie dechoques que foi empregada acima. Os resu ltados estão represen tadospela curva B no grá fico 16. A curva B en tão é o equiva len te da curvaA com um amor tecimento muito maior .

Gr á fico 16. Ciclos ligados a choques irregulares.

A modificação do padrão que resu lta do amor tecimento mais for teé fácil de se observar . Numa secção da curva não é discern ível cicloregula r a lgum. A amplitude é de, no máximo, 12, mas em gera l émuito mais ba ixa , ca indo freqüentemente aba ixo do va lor máximo ab-solu to dos choques (isto é, 4,5).

Isso demonst ra cla ramente as dificu ldades ineren tes à teor ia aci-ma exposta . É impossível supor que os coeficien tes da “equação dociclo econômico” sejam necessar iamente de molde a produzir amor te-cimentos suaves (como foi o caso do modelo dos Estados Unidos parao per íodo de 1929/40). Por ou t ro lado, um amor tecimento for te leva aum ciclo bastan te ir regula r e de pequena amplitude. Isso tem servidode base para vár ios au tores ten ta rem a a r r iscada suposição de que osciclos econômicos or igina is não são amor tecidos e que conseqüente-mente se t ransformam, mais cedo ou mais ta rde, em ciclos de amplitudeconstan te, a t ingindo o “teto”. Contudo, não há confirmação para a teor iasegundo a qua l o “teto” ser ia em gera l a t ingido na fase de prosper idade.Chegamos, por tan to, a uma espécie de impasse.

KALECKI

165

A pr óxim a pa r t e su ger e u m a solu çã o pa r a esse p r ob lem a .Ali p r ocu r a m os dem on st r a r qu e a s d ificu lda des en con t r a da s sedevia m a o t ipo de ch oqu es con sider a dos e qu e ou t r os pa dr ões dech oqu es , qu e en t en dem os est a r m a is p r óxim os à r ea lida de, t en dema ger a r ciclos econ ôm icos qu e n ã o se “des in t egr a m ” com u m a m or -t ecim en t o m a ior .

A n ova pe rspe ctiva

Os m ovim entos ir r egu la r es u t ilizados acim a apresen t avam dis-t r ibu ição de fr eqü ên cia ha rm ôn ica , ist o é, os choqu es com o m a iorou com o m en or desvio da m édia era m igua lm ente fr eqüentes. (P orexem plo, a fr eqü ên cia de 5 com o desvio da média de +0,5 era am esm a de 9 com o desvio da m édia de +4,5.) Ta m bém for am u sadosch oques de dist r ibu içã o de fr eqüência h a r m ôn ica n as exper iên cia scom flu tu ações cíclica s geradas por ch oques, que fora m feit a s pelapr im eir a vez por Slu t sky,88 e n a a plica çã o específica aos ciclos eco-nôm icos r ea liza da por F r isch .89

Con tudo, su põe-se em gera l que os er r os a lea tór ios est ã o su -jeit os a u m a dist r ibu içã o de fr eqü ên cia n orm a l. Isso se baseia nah ipótese de que eles própr ios const it u em a som a de n um erosos er roselem ent a res e n o t eorem a de Lapla ce-Liapoun off, segu ndo o qu a lessa s som a s obedecem a u m a dist r ibu ição de fr eqü ên cia norm al.Isso, na verda de, const it u i a ba se t eór ica pa ra a ap licação do m ét ododos m ín im os qua dra dos.

Ora , quer os choques ir regula res encont rados nos fenômenos eco-nômicos possam ou não ser considerados a soma de numerosos choquesa lea tór ios elementares, parece razoável supor que os choques maioresapresentam freqüência menor que os choques pequenos. Assim, a su-posição da dist r ibu ição de freqüência normal parece ser mais razoávelque a da dist r ibu ição de freqüência harmônica . Como veremos a seguir ,foram obt idos resu ltados muito in teressan tes de uma exper iência quefizemos seguindo essa linha .

Para obter uma sér ie de choques com dist r ibu ição de freqüênciaaproximadamente normal, ca lcu lamos somas de cinqüenta a lgar ismoscada , a lgar ismos esses ret irados da tabela de Tippet t acima refer ida .90

OS ECONOMISTAS

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88 "A somatór ia das causas a lea tór ias como fonte dos processos cíclicos". In : Problem as Eco-nôm icos. Inst itu to da Conjuntura . Moscou , 1927.

89 Ensaios Econôm icos em Hom enagem a Gustav Cassel. Londres, 1933.90 Cada página dessas tabelas compreende 8 colunas de 50 números de 4 a lgar ismos. Pode-se

lê-las como 32 colunas de 50 a lgar ismos. Cada uma dessas colunas foi somada ver t ica lmente,obtendo-se 32 somas de 50 a lgar ismos a lea tór ios. As 4 pr imeiras páginas foram processadasdessa maneira , obtendo-se uma sér ie de 128 choques com dist r ibu ição aproximadamentenormal.

Os desvios dessas somas de sua média (isto é, de 4,5 x 50 = 225) foramsubmet idos à mesma operação rea lizada em nossa pr imeira exper iência .it foi ca lcu lado pr imeiramente por meio da equação:

it = 0,734it – 12 + 0,634it – 1 – 0,489it – 3

2 – 0,245it – 5

2 + εt (28′′)

a qua l envolve um amor tecimento suave; e a seguir a t ravés da equação:

it = 0,6it – 12 + 0,6it – 1 – 0,4it – 3

2 – 0,2it – 5

2 + εt

à qua l é ineren te um amor tecimento mais for te. No gráfico 17 aparecemas respect ivas curvas C e D.

Pode-se ver imedia tamente que aqui a posição é muito diferen teda de nossa exper iência an ter ior . A curva D, que cor responde a umamor tecimento muito maior , apresen ta um padrão bem semelhante aoda curva C. Ambas têm um per íodo médio bastan te defin ido, de cercade 8 anos para a curva C e de aproximadamente 7,5 anos para a curvaD. (O per íodo de duração dos ciclos or igina is é de 8,5 e 8 anos, res-pect ivamente.) A amplitude da curva D é apenas um pouco menor quea da curva C.

Apesar de esses resu ltados a inda esta rem a exigir uma explicaçãomatemát ica , o fenômeno em si é vir tua lmente cer to: o ciclo geradopelos choques com dist r ibu ição de freqüência normal apresen ta umaestabilidade considerável com relação a modificações na equação básicaque envolve acréscimos substancia is do amor tecimento. Assim, mesmocom um amor tecimento rela t ivamente for te, esses choques geram ciclosbastan te regula res.

Esse resu ltado é de impor tância considerável. Demonst ra queum ciclo semi-regula r pode ocor rer mesmo que a “equação do cicloeconômico” envolva uma dose substancia l de amor tecimento. F ica assimeliminada a necessidade de aceita rmos o ciclo explosivo como sendo opadrão gera l das flu tuações econômicas, o que havíamos consideradoem desacordo com a rea lidade.

Poderá ser in teressan te comparar as flu tuações econômicas rea isno decurso de vár ios anos com a sér ie a r t ificia l const ru ída acima. Nográfico 17 o leitor encont ra rá a curva M representando o desvio rela t ivoda tendência do índice combinado dos Estados Unidos para os setores

KALECKI

167

Grá fico 17. Ciclos provocados por choques irregulares de distribuição nor-m al (C e D), e flutuações cíclicas reais nos Estados Unidos, 1866-1914 (M).

manufa tureiros, dos t ranspor tes e do comércio para o per íodo de 1866-1914, de acordo com Fr ickey.91 As flu tuações rea is divergem de nossasflu tuações geradas pelos choques somente na medida em que são li-geiramente menos regula res.

OS ECONOMISTAS

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91 FRICKEY, E . Econom ic Fluctuations in the United S tates. Cambr idge, Mass., 1942.

P ARTE S EXTA

O De se n volv im e n to Econ ôm ico a Lon go P razo

14

O P roce sso de De se n volv im e n to Econ ôm ico

A te n dê n cia a lon go prazo e o c ic lo e con ôm ico

E stabelecemos acima uma sér ie de relações en t re o invest imento,os lucros e o montan te da produção. Sa lien tamos, em diversos pontos,que cer tas constan tes dessas relações se acham su jeitas a modificaçõeseconômicas a longo prazo, apesar de as termos suposto como sendoestáveis para fins da aná lise do ciclo econômico. Veremos adian te queas modificações sofr idas por essas constan tes no decurso do desenvol-vimento a longo prazo da economia capita lista propiciam a cont inuaçãodesse mesmo desenvolvimento. Isso por sua vez provoca novas modi-ficações nas constan tes em questão e assim por dian te.

Da mesma forma que na aná lise do ciclo econômico, supomosaqui que a ba lança comercia l e o orçamento governamenta l são equi-librados e que os t raba lhadores não poupam. Cont inuamos também asupor que os índices de preços usados como defla tor do invest imentoe do montan te da produção são igua is. Assim, todas as equações usadascom relação ao ciclo econômico (ver pp. 143-44) cont inuam vá lidas,apesar de que agora iremos enfa t iza r as modificações a longo prazosofr idas por cer tas constan tes. Por esse mot ivo, as constan tes em ques-tão passam a ser escr itas com o índice t. Temos por tan to: (a) a igua ldadeda poupança e do invest imento,

S = I;

(b) a relação en t re os lucros e o invest imento feito no passado,

Pt = I t – ω + At

1 – q ;

(c) a relação en t re a produção e os lucros,

171

Ot = Pt + B ′t1 – α

+ E t;

e, fina lmente, (d) a equação da determinação do invest imento,

It + θ = a1 + c S t + b′

∆Pt

∆t + e∆Ot

∆t + d ′t .

Conforme foi indicado acima, não se supõe mais que A , que é a par teestável do consumo dos capita listas, B ′, que reflete pr incipa lmente ocará ter de custos indiretos que os sa lá r ios apresen tam, e E , o montan tedos impostos indiretos, sejam constan tes como foi o caso duran te aaná lise do ciclo econômico, mas os en tendemos como su jeitos a modi-ficações a longo prazo. Dessa forma, são agora indicados por At,B ′t e E t.

Deduz-se das equações acima que:

I t + θ = a1 + c I t + 1

1 – q (b′ + e1 – α)

∆It – ω∆t + L t + d t′ (30)

onde L t é a abreviação da expressão:

11 – q

(b′ + e1 – α

) ∆At

∆t + e

1 – α′ ∆B ′t∆t

+ e ∆E t

∆t ⋅

Da mesma forma que na equação do ciclo econômico (p. ???), indicaremos

11 – q (b′ + e

1 – α′)

por µ. Dessa forma, temos:

It + θ = a1 + c

It + µ ∆It – ω∆t

+ L t + d t′ (30′)

onde

L t = µ ∆A t

∆t + e1 – α′

∆B ′t∆t

+ e ∆E t

∆t (31)

L t + d ′t na equ ação (30′) est á su jeit o a m odifica ções r esu lt an t es dat endência a longo pra zo do invest im ento, m odifica ções est as que porsua vez a judam a perpetu a r a t en dên cia do invest im ent o. A m odi-ficaçã o a lon go prazo de I pr ovocará um a m odifica çã o a lon go pra zoem L t + d ′t; isso, através da equação (30′), provocará uma nova modificaçãoa longo prazo em I , e a ssim por dia n t e. Indiqu em os a ordena da dacu rva t em pora l a ju st ada qu e represen t a esse m ovim en to a lon go

OS ECONOMISTAS

172

147

prazo do invest imento por yt. Dedu z-se do qu e se d isse a cim a qu e yté um a var iável que sa t isfa z a equa ção (30′). Conseqü en tem en te:

yt + θ = a1 + c

yt + µ ∆yt – ω∆t

+ L t + d t′⋅ (32)

Se subt ra irmos agora a equação (32) da equação (30′) e indicarmosIt – yt por it, t eremos:

it + θ = a1 + c it + µ

∆it – θ∆t ⋅ (23′)

Essa equação é idên t ica à “equação do ciclo econômico” do capítu lo10 (ver p. 147). Ali it indicava o desvio do invest imento do n ível dadepreciação de forma está t ica . Foi demonst rado que, de acordo com aequação (23′), it flu tua em torno do n ível zero, o que quer dizer que oinvest imento flu tua em torno do n ível de depreciação. No contextoa tua l it é o desvio de It do n ível da tendência y e por tan to o fa to deque it sa t isfaz a equação (23′) sign ifica que o invest imento flu tua emtorno da linha da tendência a longo prazo (ver grá fico 18).

Gr á fico 18. Ilustração dos com ponentes cíclicos e da tendência do in-vestim ento bru to.

Em out ras pa lavras, ana lisamos o invest imento no que diz respeito àtendência e a seus componentes cíclicos:

It = yt + it

onde yt se acha su jeito a um movimento homogêneo a longo prazorelacionado com as modificações a longo prazo de L t + d ′t, e onde itflu tua em torno do n ível zero.

Antes de passarmos à aná lise do processo de desenvolvimento alongo prazo reflet ido no movimento de y, é preciso sa lien ta r que esseprocesso também afeta a amplitude das flu tuações de i. Conforme mos-

KALECKI

173

t ramos acima, essa amplitude ou é proporciona l à magnitude dos mo-vimentos ir regula res ou é determinada pelo “teto” da ofer ta de recursosprodut ivos. A magnitude dos choques se acha n it idamente relacionadacom o tamanho da economia , cu jo crescimento a longo prazo tendedessa forma a aumentar a magnitude desses choques. O “teto” tambémse deslocará mais ou menos proporciona lmente à tendência de y, demodo que a distância en t re a “linha do teto” e a linha da tendênciaaumentará também com o crescimento gera l da economia .

Su pos ição sobre as a lte raçõe s a lon go prazo de L

Do que foi dito acima resu lta que o movimento do n ível de in -vest imento a longo prazo, y, é determinado somente se forem feitassuposições defin idas sobre o impacto desse movimento sobre L e d ′.Tra ta remos pr imeiro do problema das a lterações a longo prazo de L ,o que é determinado pela equação:

L t = µ ∆At

∆t + e1 – α′

∆B ′t∆t + e

∆E t

∆t ⋅

Suporemos, como h ipótese de t raba lho, que A , B ′ e E a longoprazo var iam proporciona lmente ao n ível de invest imento a longo prazo,

y; e conseqüentemente que L va r ia proporciona lmente a ∆y∆t . As razões

para se adota r essa h ipótese de t raba lho são dadas em seguida .Como ficou dito na página 170, A é a par te do consumo dos

capita listas que permanece estável a cur to prazo. A longo prazo, con-tudo, pode-se supor que o consumo dos capita listas demonst ra umatendência a adapta r -se de modo proporciona l ao va lor dos lucros. Pode-se supor que A a longo prazo var ie proporciona lmente aos lucros. Con-clu i-se en tão diretamente da equação

Pt = It – ω + A t

1 – q

que tan to os lucros Pt como A t a longo prazo var iam proporciona lmenteao n ível de invest imento a longo prazo, yt – ω .92

Como também foi lembrado na página 170, B ′ r eflete o cará terde custo indireto de que se revestem os sa lá r ios, o que a longo prazotende a fazer seu montan te mais estável que o da produção. E repre-sen ta o montan te dos impostos indiretos, que supusemos ser estávelno decurso do ciclo econômico. A longo prazo podemos supor que B ′ e

OS ECONOMISTAS

174

92 Lembremos que ω é o h ia to tempora l en t re o invest imento e os lucros, resu ltan te do h ia totempora l en t re os lucros e o consumo dos capita listas.

E va r iam proporciona lmente ao montan te da produção O. Deduz-seentão da equação

Ot = Pt + B ′t1 – α′

+ E t

que Ot, B ′t e E va r iam a longo prazo proporciona lmente aos lucros, P t.Uma vez que os lucros a longo prazo var iam, de acordo com a h ipóteseacima, proporciona lmente no n ível de invest imento a longo prazo,yt – ω, o mesmo se aplica a B ′t, e ao montan te da produção Ot. Supomosentão que At, B ′t e E t va r iam todos proporciona lmente, a longo prazo,a yt – ω ou , o que dá na mesma, que o invest imento, os lucros e omontan te da produção var iam proporciona lmente a longo prazo. (Ape-nas, contudo, se os coeficien tes q e α′ permanecerem ina lterados.)

Conclu i-se en tão diretamente da equação (31) que L t va r ia pro-porciona lmente com a taxa de alteração do n ível de invest imento alongo prazo, yt – ω:

L t = σ ∆yt – ω∆t ⋅

Nossa equação (32) torna-se en tão:

yt + θ = a1 + c

yt + (µ + σ) ∆yt – ω∆t

+ d ′t⋅ (33)

O fa to de o coeficien te de ∆it – ω∆t

ser agora não mais µ mas µ + σ de-

monst ra a in fluência da adaptação a longo prazo dos lucros e do mon-tan te da produção no n ível de invest imento a longo prazo.

Su pos ição sobre as a lte raçõe s a lon go prazo de d ′

A fim de simplifica r a equação (33), vamos indicar a1 + c por n e

µ + σ por m . Temos en tão:

yt + θ = nyt + m ∆yt – ω∆t

+ d ′t⋅ (33′)

Lembremo-nos de que n se en tendia como menor do que 1 (ver p. 126).Um caso especia l dessa equação cor responde à “posição de equi-

líbr io” do sistema está t ico considerado no capítu lo 11 (ver p. 146). Paraesse sistema, o n ível de invest imento a longo prazo, y, é estável e igua là depreciação δ, de modo que temos:

KALECKI

175

yt + θ = yt = δ e ∆yt – ω∆t = 0⋅

Resulta da equação (33′) que

δ = nδ + d ′

e por tan to

d ′ = (1 – n ) δ⋅

Ademais, represen tando a razão en t re a depreciação e o estoque decapita l K por β, t emos:

d ′ = (1 – n ) βK .

Imaginemos agora que novos fa tores, inovações, por exemplo, ele-vem d ′ acima do n ível cor respondente ao estado está t ico. Imaginemostambém que o efeito desses fa tores seja , coeteris paribus, t an to maiorquanto mais elevado for o estoque de capita l. Escrevemos en tão parao caso gera l:

d ′t = (1 – n) βKt + γKt

onde γ, que é um va lor posit ivo, mede a in tensidade dos “fa tores dedesenvolvimento”.

Podemos en tão escrever a equação (33′) como segue:

yt + θ = nyt + m ∆yt – ω∆t

+ (1 – n ) βKt + γKt . (34)

A te n dê n cia a lon go prazo

É evidente que a equação acima é incompat ível com um sistemaestá t ico se γ for posit ivo. De fa to, supondo que yt seja igua l à depreciação,

βKt, e ∆yt – ω∆t = 0, obtemos:

yt + θ = βKt + γKt

o que quer dizer que o invest imento não pode ser mant ido no n ívelda depreciação, βKt, mas tenderá a ser mais a lto.

Dessa forma, a equação (34) represen ta um sistema no qua l on ível do invest imento a longo prazo é mais elevado que o da depreciação.Conseqüentemente, o estoque de capita l, Kt, aumenta ; o mesmo ocor re,é cla ro, com (1 – n)βKt – γKt que reflete uma depreciação, βKt, e um“efeito de inovação”, γKt, proporciona lmente mais a ltos. Isso dá um

OS ECONOMISTAS

176

est ímulo adiciona l ao invest imento, e assim por dian te. Como o inves-

t imento está subindo, m ∆yt – ω∆t

é posit ivo, o que aumenta a taxa de

elevação de yt. Este ú lt imo reflete o efeito da taxa de elevação doslucros sobre o invest imento em capita l fixo e o efeito da taxa de elevaçãodo montan te da produção sobre o invest imento em estoques.

Em out ras pa lavras, os “fa tores de desenvolvimento”, t a is comoas inovações, não permitem que o sistema se assen te numa posiçãoestá t ica , gerando uma tendência ascendente a longo prazo. A acumu-lação de capita l, que resu lta do fa to de que o invest imento a longoprazo se encont ra acima do n ível da depreciação, por sua vez aumentaa amplitude da in fluência dos “fa tores de desenvolvimento”, cont r i-bu indo dessa maneira para a manutenção da tendência a longo prazo.A elevação dos lucros e da produção que resu lta do movimento ascen-dente do invest imento provoca uma taxa de crescimento mais elevada .

O proce sso de aju ste

Devemos nota r que a transição de uma situação está t ica para ada tendência ascendente a longo prazo não é represen tada de formaadequada pela equação (34). De fa to, essa t ransição se reflete pr imei-ramente em um distúrbio das flu tuações cíclicas; e é a t ravés dessamodificação no curso das flu tuações que se processa o a juste. A fasede prosper idade é mais pronunciada que a da depressão e, conseqüen-temente, a t inge-se uma nova posição a longo prazo, com um nível deinvest imento mais elevado.

A passagem da situação está t ica à tendência ascendente a longoprazo cor responde à a lteração do va lor da in tensidade dos “fa tores dedesenvolvimento”, γ, de zero para um va lor posit ivo determinado. Ora ,o mesmo padrão se aplica a qua lquer a lteração de γ, ou de ou t ro pa-râmet ro da equação (34). Por exemplo, uma redução da in tensidadedas inovações reflet ida em uma queda de γ in icia lmente irá tambémprovocar um distúrbio das flu tuações cíclicas, e, por meio de uma de-pressão mais pronunciada que a fase de prosper idade, produzirá umnível de invest imento a longo prazo mais ba ixo.

A “equação da tendência” com parâmet ros dados represen ta , àluz do que foi exposto acima, a tendência a longo prazo na qua l osistema assen tou depois do processo de a juste. Veremos adian te que,em cer tas condições, essa equação represen ta o crescimento a umataxa percentua l constan te, isto é, uma tendência un iforme.

A te n dê n cia u n iform e

A fim de facilit a r o estudo desse problema, vamos pr imeiro dividiros dois membros da equação (34) por yt:

KALECKI

177

yt + θ

yt = n + m

yt ∆yt – ω∆t

+ (1 – n ) β Kt

yt + γ

Kt

yt(34′)

Se o sistema estiver su jeito a uma tendência un iforme a umataxa de crescimento v , t eremos as seguin tes relações. O invest imentolíqu ido ao tempo t será igua l a vKt, porquanto o capita l cresce à taxade v . Como a depreciação é βKt, o invest imento bru to yt é igua l a(β + υ) Kt . Temos, por tan to:

Kt

yt = 1

β + υ ⋅

Podemos conclu ir , ademais, que o invest imento bru to yt t ambémaumenta à taxa v porque var ia proporciona lmente com o estoque decapita l Kt.Por tan to:

1yt

∆yt

∆t = υ ⋅

Se supusermos que a taxa de crescimento é pequena (tan to porcento), desprezando os in fin itésimos da segunda ordem, iremos obter :

1yt

∆yt – ω∆t

= υ .

F ina lmente, t emos:

yt + θyt

= 1 + θυ

sendo θυ o crescimento rela t ivo do per íodo θ.93

Podemos por tan to escrever a equação (34′), u t ilizando as relaçõesacima estabelecidas, da seguin te forma:

1 + θυ = n + m υ + (1 – n)β + γβ + υ

ou

1 + θ – m1 – n υ =

β + γ1 – n

β + υ (35)

OS ECONOMISTAS

178

93 Na verdade, aqui há também uma aproximação baseada no descar te dos in fin itésimos desegunda ordem.

Uma vez que n é menor que 1, 1 – n é posit ivo. A in tensidadedos “fa tores de desenvolvimento”, υ, é t ambém posit ivo.

Examinemos a equação (35) em termos de grá fico. Tomamos comoeixo das abscissas a taxa de crescimento v e t raçamos as linhas cor -respondentes a ambos os membros da equação (35):

z = 1 + θ – m1 – n

υ e z′ = γ + γ

1 – nγ + υ

O ponto de in terseção dessas linhas, se houver , t erá como abscissao va lor de υ que sa t isfaz a equação (35). Por tan to, a existência doponto de in terseção será decisiva para determinar se será possível ounão uma tendência un iforme.

z é uma reta que cor ta o eixo das ordenadas no ponto 0, 1 (verno grá fico 19 as t rês var ian tes da posição da reta ); z ′ é uma h ipérbolecom as seguin tes ca racter íst icas: (a) cor ta o eixo das ordenadas acimado ponto 0, 1, porque, para υ = 0,

z′ = β + γ

1 – nβ

de modo que z′ > 1, já que γ e 1 – n são posit ivos; (b) desce e seaproxima do eixo das abscissas de forma assin tót ica , porque z’ ca iquando v se eleva , e se aproxima de zero quando υ a ssume va loressuficien temente a ltos.

Gr á fico 19. T endência un iform e: determ inação da taxa de crescim ento.

No gráfico 19 aparecem t rês posições possíveis da reta z, obt idas

KALECKI

179

mediante a var iação de m . No caso em que m < θ, a inclinação da

reta θ – m1 – n é posit iva . No caso II, onde m > θ, a linha se inclina para

ba ixo. Sucede o mesmo no caso III, mas como se supõe que m – θ sejamaior que no caso II, a inclinação para ba ixo é mais pronunciada .

No caso III, onde a reta não cor ta a h ipérbole, não pode aparecercla ramente uma tendência un iforme, porquanto nenhum va lor da taxade crescimento υ irá sa t isfazer a equação (35). Existem va lores de υnessas condições, contudo, nos casos I e II, onde há , respect ivamente,um e dois pontos de in terseção. Tra ta remos pr imeiramente do caso II.

No caso II, a reta cor ta a h ipérbole nos pontos A e B . As abscissasde ambos os pontos sa t isfazem a equação (35). Há , contudo, bastan tediferença na sign ificância das taxas de crescimento υA e υB. Suponha-mos, de fa to, que a in tensidade dos “fa tores de desenvolvimento”, γ,decresça um pouco. Isso se reflet irá (ver grá fico 20) num pequeno des-locamento para ba ixo da h ipérbole z.

Iremos ver que o ponto de in terseção A ′ na nova posição ca i àesquerda do ponto A . Por tan to, a t axa de crescimento υA′ é mais ba ixaque υA devido à redução da in tensidade dos “fa tores de desenvolvi-mento”, γ. Contudo, o segundo ponto de in terseção B ′ ca i à d ireita doponto B e por tan to é mais elevado que υB. Ora , é evidente que se osistema est ivesse su jeito à taxa de crescimento υB , uma redução dain tensidade dos “fa tores de desenvolvimento” não poder ia ter levadoo sistema a uma posição em que a taxa de crescimento fosse m ais elevada.De fato, haveria então um deslocamento da posição B para a posiçãoA ′. Veremos, portanto que somente a taxa υA corresponde a um equilíbriomóvel estável e que o crescimento à taxa υB é de natureza efêmera.

Gr á fico 20. T endência un iform e: análise da estabilidade.

No caso I, é fácil ver que o ún ico ponto de in terseção, C, é da

OS ECONOMISTAS

180

mesma na tureza que A no caso II (ver grá fico 19). Pode-se, por tan to,conclu ir que nos casos I e II gera -se uma tendência un iforme “estável”(às taxas de crescimento υC e υA, r espect ivamente), enquanto no casoIII não pode aparecer uma tendência un iforme.

Se δ = 0, isto é, se o efeito dos “fa tores de desenvolvimento” énulo, z = 1, de modo que a h ipérbole passa a t ravés do ponto 0, 1.Somente os casos I e II serão relevantes en tão. No caso I, υC, e nocaso II υA é igua l a zero. υB no caso II é posit ivo, mas de cará terefêmero, como vimos acima. Pode-se conclu ir por tan to que na ausênciados “fa tores de desenvolvimento”, o sistema descamba para o estadoestacionár io. Parece por tan to que esses fa tores são necessár ios para ocrescimento cont inuado.

Cre sc im e n to u n iform e e re tardado

No caso do crescimento un iforme, tan to o invest imento cor ren tecomo o estoque de capita l aumentam à mesma taxa constan te. Se,a lém disso, supusermos como fizemos an tes (ver p. 172) que os lucrose a produção mantém a longo prazo uma relação constan te com oinvest imento, deduz-se que o invest imento, os lucros, a produção e ocapita l, todos se expandem a longo prazo à mesma taxa . A taxa delucros e a razão en t re a produção e o capita l por tan to permanecemestáveis a longo prazo.

Esse é o quadro costumeiro de uma economia crescendo em ta-m anho sem modificação das proporções de suas var iáveis básicas. Naverdade, muitos au tores supõem que uma tendência un iforme seja ine-ren te à economia capita lista . Contudo, o processo de crescimento un i-forme que aparece de nossa a rgumentação se baseia em “fa tores dedesenvolvimento” ta is como as inovações, em cuja ausência a economiacapita lista permanecer ia está t ica . É por esse mot ivo que dedicamos opróximo capítu lo ao estudo desses fa tores.

Convém lembrar neste ponto que a tendência un iforme acimaaludida depende de uma in tensidade estável dos “fa tores de desenvol-vimento” γ, isto é, do aumento proporciona l da amplitude da in fluênciadesses fa tores com relação ao estoque de capita l. É evidente que, seessa in tensidade tende a declinar , o processo de crescimento econômicoirá ser reta rdado. O capita l irá acumular -se a uma taxa decrescenteou , em out ras pa lavras, a razão en t re o invest imento e o capita l irádeca ir . O mesmo se poderá dizer quanto ao invest imento bru to. A par t irda suposição de que os lucros e a produção var iam a longo prazo pro-porciona lmente ao invest imento, podemos conclu ir que tan to a taxade lucros como a razão en t re a produção e o capita l irão declinar .Por tan to, o crescimento reta rdado repercu te de forma ampla na eco-nomia capita lista : a diminuição da taxa de progressão se liga ao de-

KALECKI

181

créscimo da taxa de lucros e à redução do grau de u t ilização do capita lem equipamento.94

Se esse processo for acompanhado por um deslocamento da rendano sen t ido dos sa lá r ios para os lucros, por exemplo, devido à elevaçãodo grau de monopólio, isso não irá deter o declín io da taxa de lucrosmas tornará a elevação da subut ilização dos equipamentos mais aguda(cf. pp. 80-81). De fa to, a elevação da parcela rela t iva dos lucros narenda naciona l sign ifica que o montan te da produção crescerá a umataxa menor que o invest imento e os lucros. Por tan to, a produção ca iráa inda mais com relação ao capita l que, no caso do crescimento reta rdadovisto acima, se supunha que o invest imento, os lucros e a produçãovar iassem proporciona lmente, apesar de todos eles esta rem aumen-tando a uma taxa menor que o estoque de capita l.

OS ECONOMISTAS

182

94 Contudo, se a in tensidade de capita l, isto é, a razão en t re o va lor rea l do capita l e acapacidade indust r ia l, aumenta o bastan te, o grau de u t ilização poderá não ca ir . O declín ioda razão en t re a produção e o capita l en tão reflet ir ia simplesmente a elevação do capita l-in tensidade.

15

Os Fatore s de De se n volv im e n to

Re capitu lação da te oria do in ve stim e n to

A fim de encarar na perspect iva adequada os fa tores que deter -minam o desenvolvimento econômico da economia capita lista , é precisorepet ir rapidamente nossa teor ia básica do invest imento. De acordocom essa teor ia , o invest imento em capita l fixo por un idade de tempoé determinado (com um hia to tempora l) por t rês fa tores: (1) pela pou-pança bru ta “in terna” cor ren te das firmas; (2) pela taxa de elevaçãodos lucros; e (3) pela taxa de elevação do volume de capita l em equi-pamentos. As duas pr imeiras in fluências são posit ivas e a terceira énega t iva . Entende-se que o invest imento em estoques é determinadopela taxa de elevação da produção.

Vejamos de novo por um momento o caso da economia está t ica .Imaginemos que quando a poupança bru ta tota l se igua la com a de-preciação ela seja rea lizada tota lmente pelas firmas e façamos abst ra -ção de fa tores “externos” como as inovações. (Cont inuemos também asupor a estabilidade da ba lança comercia l e do orçamento do governo.)É evidente que a economia pode ser mant ida numa situação está t icae que os distúrbios só provocarão flu tuações cíclicas. De fa to, se oinvest imento bru to em capita l fixo est iver no n ível da depreciação, irágerar uma poupança bru ta igua l, e como essa poupança beneficia ex-clusivamente as firmas, t enderá a ser reinvest ida . Ademais, o volumedo capita l em equipamentos será mant ido constan te; os lucros e aprodução permanecerão sem a lteração porque são determinados pelonível do invest imento; e, uma vez que a produção é estável, nenhumaalteração dos estoques irá se ver ifica r . Enquanto as condições acimase mant iverem, o sistema permanecerá está t ico, exceto no que diz res-peito às flu tuações cíclicas em torno do n ível onde o invest imento seigua la à depreciação.

183

Contudo, a posição irá se modifica r se abandonarmos a lgumasdas suposições feitas. Susten tamos que as inovações tendem a elevaro n ível de invest imento a longo prazo e por tan to produzem uma ten-dência ascendente a longo prazo. Por ou t ro lado, a existência de pou-pança cor ren te externa às firmas, rea lizada pelas pessoas que vivemde rendimentos, t ende a depr imir o invest imento e por tan to a diminuiro desenvolvimento a longo prazo.

In ovaçõe s

As inovações que surgem no decor rer de um dado per íodo tornammais a t raen tes os novos projetos de invest imento. A influência dessefa tor é aná loga à de um acréscimo do montan te dos lucros que, nodecor rer de um dado per íodo, torna os projetos de invest imento emgera l mais a t raen tes do que eram no pr incípio desse mesmo per íodo.Cada nova invenção, da mesma forma que cada acréscimo dos lucros,provoca cer tas decisões adiciona is de invest imento. Um fluxo constan tede invenções — no que diz respeito ao efeito sobre o invest imento —é comparável a uma taxa constan te de acréscimo dos lucros. Assim,esse fluxo faz subir o n ível de invest imento por un idade de tempo quese ter ia sem ele. Esse é o impacto imedia to das novas invenções sobreo invest imento. Supõe-se que as inovações, no sen t ido de a justes gra -dua is dos equipamentos ao estado cor ren te da tecnologia , sejam par teineren te do invest imento “ordinár io”, conforme determinado pelos fa -tores “normais” acima descr itos.

Agora está cla ro que um fluxo constan te de invenções provocaacréscimos de invest imento a um ponto acima do n ível resu ltan te denossos determinantes básicos. As invenções, por tan to, t ransformam osistema está t ico em out ro, su jeito a uma tendência ascendente. Deve-seacrescenta r que se pode supor coeteris paribus que o efeito das inovaçõessobre o n ível do invest imento será tan to mais for te quanto maior foro n ível dos equipamentos. De acordo com isso, supomos em nosso modeloda tendência que esse efeito é proporciona l ao estoque de capita l (verp. 174). Ao enfraquecer -se a in tensidade das inovações, manifestou-seum declín io desse efeito com relação ao estoque de capita l. Como vimosacima, haverá en tão um reta rdamento do processo de desenvolvimentoa longo prazo.

Embora aqui t enhamos ident ificado as inovações com as cr iaçõesda tecnologia , a defin ição das inovações pode ser facilmente ampliada ,passando a englobar fenômenos cor rela tos como a in t rodução de novosprodutos que exigem novos equipamentos para sua fabr icação, a aber -tura de novas fon tes de matér ias-pr imas que exigem novos invest i-mentos em insta lações produt ivas e de t ranspor te etc. A a rgumentaçãoacima desenvolvida se aplica completamente também a esses casos.

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O enfraquecimento do crescimento das economias capita listas nosú lt imos estágios de seu desenvolvimento se explica provavelmente, pelomenos em par te, pelo declín io da in tensidade das inovações. Podem-seapresenta r t rês razões gera is para essa tendência . A mais evidente éa impor tância decrescente da aber tura de novas fon tes de matér ias-pr imas etc. Out ra é a dificu ldade de aplicação de novas invenções queresu lta do cará ter cada vez mais monopolista do capita lismo. F ina l-mente, as “indúst r ias de montagem”, como as fábr icas de au tomóveis,de aparelhos de rádio e ou t ros bens duráveis de consumo de massa ,estão cont inuamente crescendo em impor tância e nessas indúst r ias oprogresso tecnológico se concent ra em grande medida na “organizaçãocien t ífica” do processo de montagem, o que não implica em invest imentosign ifica t ivo.

A pou pan ça e xte rn a às firm as

Su pon ha m os qu e, qu an do o t ot a l da poupa nça bru t a é igua l àdeprecia çã o, su r ja a lgu m a pou pa nça ext ern a qu e é r ea lizada pela spessoa s que vivem de r endas. Dessa for m a , a pou pa nça “in t er na ”da s fir m a s (igu a l à depr eciação m enos a poupan ça ext ern a ) est áaba ixo do n ível de depr eciação, o qu e t en de a depr im ir o invest im entopa ra ba ixo da qu ele n ível t am bém . Isso in t r odu z u m a t endên cia ne-ga t iva n o sist em a m a is ou m en os da m esm a form a que as in ova çõesin jet a m u m a t endência a scen den te a longo pra zo. Na m esm a lin hade a rgu m en tação qu e desen volvem os n o capítu lo 14, a pou pa nçaextern a t enderá a gera r um a t en dên cia nega t iva un iform e se o seuva lor r ea l const it u ir um a propor ção const a n t e do va lor r ea l do es-toqu e de ca pit a l. Se a pou pan ça ext ern a au m en ta r com relação aoca pit a l, a t en dência nega t iva se acelera rá .

F ica evidente que se o efeito das inovações combinar -se com oda poupança externa , será o seu efeito líqu ido que determinará o de-senvolvimento a longo prazo. A tendência será posit iva somente se asinovações exercerem uma influência mais for te que a poupança externa .É evidente também que uma diminuição da in tensidade das inovaçõesou uma elevação da poupança externa com relação ao estoque de capita lproduzirá um reta rdamento dessa tendência .

O cre sc im e n to popu lac ion al

É freqüente supor-se que o crescimento populaciona l seja umest ímulo impor tan te ao desenvolvimento econômico. É verdade que, seo n ível populaciona l se mant iver ina lterado, a produção poderá au-mentar somente por meio de uma elevação da produt ividade do t raba lhoou do aproveitamento do exército indust r ia l de reserva . Por tan to, ocrescimento da população amplia as potencialidades da expansão da

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produção a longo prazo. Resta ver , contudo, se um aumento da popu-lação também propicia um est ímulo ao desenvolvimento a longo prazo,cont r ibu indo para o uso efet ivo dessas potencia lidades.

Para encont ra r uma resposta a essa questão, vamos considerarum sistema está t ico e supor nele um aumento populaciona l. Uma vezque a produção in icia lmente permanece estável, a longo prazo haveráum aumento do desemprego. Isso pressiona os sa lá r ios para ba ixo, demodo que nos defrontamos en tão com a questão de saber se a quedados sa lá r ios a longo prazo est imula o desenvolvimento de uma economiacapita lista .

Em pr imeiro lugar , convém sa lien ta r que uma queda dos sa lá r iosa longo prazo — o que está ligado ao enfraquecimento dos sindica tos— irá , de acordo com nosso raciocín io cont ido no capítu lo 1 (p. 40),tender a elevar o grau de monopólio e por tan to a provocar uma t rans-ferência dos sa lá r ios para os lucros. Longe de est imular a elevação daprodução a longo prazo, isso, como já foi visto (pp. 80-81), t enderá aafetá -la desfavoravelmente.

Existe, contudo, um cana l a t ravés do qua l a queda dos sa lá r iospoder ia , pelo menos teor icamente, est imular a tendência ascendentea longo prazo da economia capita lista . Uma queda dos sa lá r ios a longoprazo provoca uma queda dos preços e, dessa forma, com a produçãoestável, uma queda do volume em dinheiro dos negócios. Se a ofer tamonetá r ia por par te dos bancos não for reduzida proporciona lmente,isso levará por sua vez a uma queda a longo prazo da taxa de ju rosa cur to prazo e conseqüentemente a uma queda da taxa de ju ros alongo prazo. Essa queda ser ia equiva len te, em termos de impacto sobreo invest imento, a uma elevação dos lucros a longo prazo e por tan toprovocar ia um movimento de tendência ascendente. Mas a elevaçãoda produção nesse caso não pode ser suficien temente grande para evita ro aumento a longo prazo do desemprego; nesse caso a própr ia causada tendência desaparecer ia .

É muito duvidoso, contudo, que o mecanismo descr ito funcioneno sen t ido de aumentar a produção. A ligação en t re a queda do volumedos negócios e a queda da taxa de ju ros a cur to prazo é na verdadebastan te incer ta a longo prazo. Se a queda do volume dos negócioscont inuar duran te um per íodo de tempo longo, a polít ica bancár ia podefacilmente adapta r -se a essa queda secula r , de forma a reduzir a ofer tade sa ldos pari passu com o volume dos negócios, susten tando assim ataxa de ju ros a cur to prazo.

É preciso sa lien ta r que a lguns au tores levam em consideraçãoout ros cana is a t ravés dos qua is o crescimento populaciona l pode est i-mular o desenvolvimento econômico. E les a firmam que um acréscimoda população est imula o invest imento porque os empresár ios podementão esperar com a lguma cer teza uma ampliação do mercado paraseus produtos. O que impor ta , contudo, nesse contexto, não é um acrés-

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cimo da população e sim um acréscimo do poder aquisit ivo. Uma ele-vação do número de miseráveis não amplia o mercado. Por exemplo,o aumento da população não implica necessar iamente numa demandamaior de habitações — sem um aumento do poder aquisit ivo, o resu ltadopoderá ser que mais gente venha a se apinhar no espaço habitávelexisten te.

Con clu são

Como já apontamos, nossa aná lise demonst ra que o desenvolvi-mento a longo prazo não é ineren te à economia capita lista . Dessa forma,torna-se necessár ia a presença de “fa tores de desenvolvimento” espe-cíficos para susten ta r um movimento ascendente a longo prazo. Ent reesses fa tores apontamos as inovações em seu sen t ido mais amplo comoo fa tor mais impor tan te para promover o desenvolvimento. Ver ificamosque out ra in fluência a longo prazo, a poupança externa às firmas, éum obstácu lo e não um est ímulo ao desenvolvimento.

Um declín io da in tensidade das inovações nas ú lt imas etapas dodesenvolvimento capita lista resu lta em um reta rdamento do aumentodo capita l e da produção. Ademais, se o efeito da elevação do grau demonopólio sobre a dist r ibu ição da renda naciona l não for cont raba lan-çado por ou t ros fa tores, haverá uma t ransferência rela t iva dos sa lá r iospara os lucros e isso const itu irá ou t ro mot ivo para o reta rdamento daelevação da produção a longo prazo.

Se a taxa de expansão da produção ca ir aba ixo da taxa de elevaçãocombinada da produt ividade do t raba lho e da população, o desempregoapresenta rá um aumento a longo prazo. De acordo com o que foi ditoacima, não é provável que isso ponha em ação forças que possam au-tomat icamente mit igar o aumento do desemprego median te uma taxamais a lta de elevação da produção.

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AP ÊNDICE ESTATÍSTICO

Notas à P arte P rim e ira

N ota 1. Damos aba ixo os dados referen tes ao per íodo de 1899-1914 para : (a) o va lor do capita l fixo no ramo manufa tureiro dos EUAde acordo com Paul H. Douglas, A T eoria dos S alários; (b) a produçãodo setor manufa tureiro dos EUA de acordo com o Nat iona l Bureau ofEconomic Research ; e (c) o va lor agregado menos os sa lá r ios no setormanufa tureiro dos EUA de acordo com o Censo dos Fabr ican tes.

N ota 2. A razão en t re rendimentos e custos diretos, a razão en t reo custo das matér ias-pr imas e o custo da mão-de-obra e a parcelarela t iva dos sa lá r ios no va lor agregado do setor manufa tureiro abor -dados nos capítu los 1 e 2 baseiam-se no Censo dos Fabr ican tes dosEstados Unidos. O Censo sofreu modificações consideráveis t an to noque diz respeito a escopo como a método. A fim de permit ir uma com-paração em bases razoáveis para o per íodo considerado (1899-1937),

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as sér ies foram “encadeadas” nos anos em que se deram modificações.O ano-base escolh ido foi 1899. Ocorreram modificações no escopo doCenso nesse ano e em 1914. Uma vez que para esses dois anos haviadados disponíveis t an to na base “velha” como na “nova”, foi possível“encadear” todos os anos ao ano-base de 1899. Houve também diversasmodificações no método do Censo: (a) Em 1929, 1931 e 1933, os assimchamados mater ia is indiretos foram inclu ídos no va lor agregado, emvez de consta r no custo das matér ias-pr imas como ocor reu em out rosanos. Esse it em, de acordo com o Censo de 1904, onde aparece emseparado, foi responsável por cerca de 0,9% do custo das matér ias-pr i-mas. A fim de levar em conta , de forma aproximada , essa modificação,os custos de matér ias-pr imas de 1929, 1931 e 1933 foram reduzidosproporciona lmente e o va lor agregado foi aumentado. (b) Antes de 1931,o imposto sobre a fabr icação de cigar ros era inclu ído no va lor agregado,enquanto de 1931 em dian te esse it em passou a ser incorporado nocusto de matér ias-pr imas. Uma vez que, para o ano de 1931, são dadasambas as var ian tes, foi possível “encadear” 1931 e os anos poster ioresao ano-base de 1899. (c) Antes de 1935 o custo de serviços prestadosera inclu ído no va lor agregado, enquanto de 1935 em dian te esse it empassou a ser inclu ído no custo das matér ias-pr imas. Uma vez que ambasas var ian tes são dadas para o ano de 1935, foi possível “encadear”1935 e os anos poster iores ao ano-base de 1899. Os números obt idosmedian te esses a justes são dados, com relação a anos selecionados, natabela aba ixo.

N ota 3. A sér ie da razão en t re os rendimentos e os custos diretosdo setor manufa tureiro dos EUA, supondo-se uma composição indust r ia lestável, foi ca lcu lada empregando-se um sistema de encadeamento.

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Por exemplo, a razão en t re os rendimentos e os custos diretos em 1889foi ca lcu lada supondo-se que preva lecessem as parcelas rela t ivas dosgrupos indust r ia is pr incipa is no montan te dos rendimentos de 1879;esse número dividido pela razão rea l en t re os rendimentos e os custosdiretos de 1879 deu o “elo” 1889/1879. O “elo” 1899/1889 foi in fer idoda mesma forma, supondo-se que as parcelas rela t ivas de 1889 pre-va leciam, e assim por dian te. O ano de 1899 foi escolh ido como baseporque para aquele ano a razão “a justada” en t re os rendimentos e oscustos diretos é idên t ica à razão rea l. A sér ie “a justada” pode ser cons-t ru ída en tão com base nos “elos”.

A sér ie da razão en t re o custo das matér ias-pr imas e o custo damão-de-obra , supondo uma composição indust r ia l estável do custo dasmatér ias-pr imas, foi obt ida de maneira semelhante. Mais uma vez,1899 foi escolh ido como ano-base pelo mesmo mot ivo.

A sér ie “a justada” da parcela rela t iva dos sa lá r ios no va lor agre-gado, w ′, foi ca lcu lada a par t ir da razão “a justada” en t re os rendimentose os custos diretos, k ′, e a razão “a justada” en t re o custo de matér ias-pr imas e o custo da mão-de-obra , j′ por meio da fórmula :

w ′ = 11 + (k ′ – 1) (j′ + 1)

(3′)

(ver p. 49). Uma vez que k ′ é ca lcu lado supondo-se a composição in-dust r ia l estável dos rendimentos e j′ supondo-se a composição indust r ia lestável do custo das m atérias-prim as, w ′ é a parcela rela t iva dos sa lá r iossupondo-se a composição indust r ia l estável do va lor agregado (sendoeste ú lt imo a diferença en t re os rendimentos e o custo das matér ias-pr imas). As sér ies k ′, j′ e w ′ aparecem nas tabelas 6 e 8.

N ota 4. Damos aba ixo os seguin tes índices para os EUA duranteo per íodo 1929/41: (a) O índice de sa lá r ios no setor manufa tureiro deacordo com a publicação do Depar tamento de Comércio dos EstadosUnidos, Survey of Curren t Business, que concorda com o Censo dosFabr ican tes no que diz respeito aos anos do Censo. (b) O índice desa lá r ios e ordenados na agr icu ltura , mineração, const rução, t ranspor tee serviços de acordo com a publicação do Depar tamento do Comérciodos Estados Unidos, N ational Incom e S upplem ent to S urvey of CurrentBusiness, 1951. (c) O índice combinado dessas duas sér ies é en tendidocomo aproximado do índice do montan te dos sa lá r ios (ver p. 59). Ospesos adotados são 1:1; os sa lá r ios e ordenados no setor manufa tureiro,de um lado, e dos ramos da indúst r ia enumerados no tópico (b) deout ro, eram aproximadamente igua is em 1929 e pode-se supor que osrespect ivos sa lá r ios também não divergiam muito. (d) O índice da renda

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bru ta do setor pr ivado de acordo com o N ational Incom e S upplem ent(S uplem ento da R enda N acional).

N ota 5. Os sa lá r ios mais os ordenados e a renda bru ta do setorpr ivado nos EUA no per íodo de 1929/41 de acordo com o S uplem entoda R enda N acional aparecem nesta página . (É nesses dados que sebaseia a pr imeira coluna da tabela 12.) Convém sa lien ta r que no ba-lanço naciona l que aparece no S uplem ento há uma discrepância esta -t íst ica en t re o naciona l do lado da renda e do lado das despesas. Onúmero da renda bru ta na segunda coluna foi ret irado da esta t íst icada renda . A fim de se obterem dados consisten tes, esse número acha-sea justado de modo a compensar a discrepância esta t íst ica . (Dessa forma,lançamos o er ro esta t íst ico todo no lado da renda , o que se just ificapelo fa to de que os dados das despesas são em gera l mais fidedignosque os da renda .) A renda bru ta a justada do setor pr ivado aparece naterceira coluna . Supõe-se que os ordenados mais sa lá r ios a justadossejam proporciona is à renda bru ta a justada , de forma que a parcelarela t iva daqueles nesta não se a ltera pelo a juste.

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N ota 6. A renda bru ta a justada do setor pr ivado acha-se defla -cionada aba ixo pelo índice implícito na deflação do produto bru to dosetor pr ivado. (Esse índice foi obt ido dividindo-se o va lor cor ren te doproduto bru to do setor pr ivado por seu va lor a preços constan tes con-forme dado pelo S uplem ento.)

Notas à P arte Se gu n da 95

N ota 7. Aba ixo aparecem os lucros a justados an tes e depois dosimpostos em dóla res cor ren tes e de 1939, referen tes ao per íodo 1929/40.Os lucros a justados an tes dos impostos em dóla res cor ren tes são ca l-cu lados com a diferença en t re a renda bru ta a justada do setor pr ivadoe os sa lá r ios e ordenados a justados do setor pr ivado conforme aparecemna Nota 5. Obtêm-se os lucros a justados depois dos impostos deduzindotodos os impostos diretos, aplicados tan to a pessoas físicas como pessoasjur ídicas. (Os impostos diretos aplicados aos t raba lhadores foram pe-quenos no per íodo de tempo considerado.) F ina lmente, os lucros a jus-tados an tes e depois dos impostos são deflacionados pelo índice depreços implícito na deflação do produto bru to do setor pr ivado conformeaparece na Nota 6.

N ota 8. A soma do invest imento pr ivado bru to, do sa ldo da ba lançacomercia l do déficit orçamentár io e das despesas de cor retagem aparecenesta página . Essa soma é igua l à poupança bru ta mais as despesasde cor retagem (ver p. 77). Os va lores “rea is” cor respondentes são obt idosusando-se como defla tor o índice implícito na deflação do produto bru todo setor pr ivado (ver Nota 6).

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95 Fonte u t ilizada : Depar tamento de Comércio dos Estados Unidos. S uplem ento da R endaN acional de S urvey of Current Business, 1951.

N ota 9. Cor relacionando-se os lucros rea is a justados depois e an-tes dos impostos, P e π, conforme aparecem na Nota 7, obtemos aseguin te equação de regressão:

P = 0,86 π + 0,9.

O coeficien te de cor relação é igua l a 0,991.

Notas à P arte Qu arta96

N ota 10. Aba ixo aparecem os dados a respeito do volume de in -

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96 Fonte u t ilizada : Depar tamento de Comércio dos Estados Unidos. S uplem ento da R endaN acional de S urvey of Current Business, 1951.

vest imento bru to em capita l fixo e o volume do produto do setor pr ivado.O gráfico 8, que foi empregado para o deba te do “pr incípio de acele-ração”, baseia -se nesses dados.

Correlacionando o invest imento bru to com o produto e com otempo, t, obtemos a seguin te equação de regressão:

invest imento = 0,306 (produto – 1,45t) – 14,5

onde t é contado em anos desde o in ício de 1935. No gráfico 8, aparecemos desvios de ambos os membros da equação da média . Desse modo,as flu tuações do invest imento bru to em capita l fixo e as flu tuações noproduto bru to são comparadas depois de terem sido reduzidas à mesmaamplitude e de ter sido eliminada a tendência in tervenien te.

N ota 11. E m seguida a pa rece a pou pa nça bru t a em va loresa t ua is e a p reços de 1939. E st a sér ie d ifer e da que se encont r a naNota 8 na m edida em que as despesas de cor r et a gem nã o se encon -t r a m inclu ída s. Adem a is, o va lor “r ea l” é obt ido a qu i median t e adefla ção de ín dice de p reços dos ben s de ca pit a l em vez de peloín dice de preços im plícit o da deflação do produ to bru t o no setorpr ivado. (O índice de pr eços dos bens de ca pit a l foi ca lcu la do divi-dindo-se o va lor a tua l do in vest im en to em capit a l fixo por seu va lora preços con sta n tes.)

N ota 12. Para ilust ração esta t íst ica da teor ia de determinaçãodo invest imento em capita l fixo empregam-se os lucros dos anos

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1928/29, 1929/30, 1930/31 etc., contando de meio de ano a meio de ano(ver p. 131). Podem-se tomar as médias dos lucros em 1928 e 1929,em 1929 e 1930, em 1930 e 1931 etc. como uma pr imeira aproximação.Mas essa aproximação não serve no caso porque a sér ie deve funcionarcomo base para o cá lcu lo das taxas de a lterações dos lucros. É evidenteque com base numa aproximação como essa a taxa de elevação doslucros em 1930 ser ia a metade da diferença en t re os n íveis de 1931 e1929, o que obviamente pode revela r -se insa t isfa tór io. Contudo, pode-sechegar a uma segunda aproximação do seguin te modo: propomos umarelação en t re os lucros e os sa lá r ios mais ordenados do setor pr ivado,aqui demonst rada u t ilizando os dados de 1929/30 como exemplo:

Lucros 1929/30 1/2 (Lucros 1929 + Lucros 1930) Sa lá r ios e ordenados = 1/2 (Sa lá r ios e ordenados 1929 +

1929/30 Sa lá r ios e ordenados 1930)

Esta h ipótese se baseia no fa to de que a relação dos lucros com ossa lá r ios mais ordenados se modifica muito len tamente (ver tabela 12).Conclu i-se diretamente dessa equação que:

Lucros 1929/30 Sa lá r ios e ordenados 1929/30 1/2 (Lucros 1929 = 1/2 (Sa lá r ios e ordenados 1929 ++ Lucros 1930) Sa lá r ios e ordenados 1930)

Agora , a razão do segundo membro pode ser ca lcu lada com base nosdados m ensais r eferen tes a sa lá r ios e ordenados que aparecem na fon te

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citada . Aplicando esse “fa tor de cor reção” à média dos lucros em doisanos sucessivos, obtemos uma segunda aproximação para os lucros doano, indo do meio do pr imeiro a té o meio do segundo ano. Esse cá lcu loé demonst rado na tabela aba ixo.

1 Conforme aparece na Nota 7.2 Est imado grosseiramente; mas não pode haver er ro sign ifica t ivo, em vista da len t idão dasa lterações dos lucros no per íodo em questão.

N ota 13. Os lucros dos anos que vão de meio de ano a meio deano discr iminados na Nota an ter ior agora são deflacionados pelo índicede preços dos bens de capita l (ver Nota 11). Como esse índice se movelen tamente, as médias de dois anos sucessivos t inham que ser ade-quadas como defla tores para os lucros de meio de ano a meio de ano.O cá lcu lo aparece na tabela da p. 196.

N ota 14. Pelos mot ivos apresen tados na nota de rodapé da p.136. supomos em nosso estudo que as modificações dos estoques agr í-colas estão fora tan to das a lterações do tota l dos estoques como doproduto do setor pr ivado. Essa eliminação aparece na tabela da p. 199.

N ota 15. O produto do setor pr ivado dos per íodos que vão demeio de ano a meio de ano faz-se necessár io para a ilust ração esta t íst icada teor ia da determinação do invest imento em estoques (ver p. 134).Para sua est imat iva recor remos a um método semelhante ao que foiaplicado aos lucros na Nota 12. A razão en t re o montan te dos sa lá r iose ordenados e o produto bru to do setor pr ivado parece modifica r -se noper íodo considerado muito len tamente (cf. a ú lt ima coluna da tabela

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1 Est imado grosseiramente; mas não pode haver er ro sign ifica t ivo, em vista da len t idão dasa lterações dos preços dos bens de capita l no per íodo em questão.

da Nota 5 com a ú lt ima coluna da pr imeira tabela da p. 197). Conclu i-sea par t ir da a rgumentação desenvolvida na Nota 12 que podemos usarpara o cá lcu lo do produto bru to do setor pr ivado para per íodos de meiode ano a meio de ano o “fa tor de cor reção” dado naquela Nota . Ocá lcu lo em si aparece na p. 197

1 Idênt ica à sér ie dada na Nota 10.

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1 Exclusive os estoques agr ícolas conforme a tabela an ter ior .2 Est imado grosseiramente; mas não pode haver er ro sign ifica t ivo, em vista da len t idão dasa lterações do produto bru to no per íodo em questão.

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ÍNDICE

MICHAL KALECKIApresentação de J orge Miglioli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

TEORIA DA DINÂMICA ECONÔMICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Par te Pr imeira : Grau de Monopolização e Dist r ibu içãoda Renda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

1 — Custo e Preços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33Preços “determ inados pelo custo” e preços “determ inados pela

dem anda” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33Fixação do preço por um a firm a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34Form ação de preços num ram o da indústria: um caso

especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36Form ação de preços num ram o da indústria:

o caso geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37Causas de m odificação do grau de m onopolização . . . . . . . . . . . . 38As relações custo-preço a longo e a curto prazo . . . . . . . . . . . . . . . 40Aplicação às m udanças a longo prazo no ram o

m anufatureiro dos EUA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42Aplicação ao ram o m anufatureiro e ao do

com ércio varejista dos EUA durante a GrandeDepressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

Flutuações dos preços de m atérias-prim as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45Form ação de preços de produtos acabados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

2 — Dist r ibu ição da Renda Naciona l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49Os determ inantes da parcela relativa dos salários na renda . . . . 49

201

Mudanças a longo e a curto prazo na d istribu içãoda renda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

Mudanças a longo prazo na parcela relativa dos salários novalor agregado do setor m anufatureiro dos EstadosUnidos e na renda nacional do R eino Unido . . . . . . . . . . . 53

Mudanças na parcela relativa dos salários no valor agregadodo setor m anufatureiro dos Estados Unidos durante aGrande Depressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Modificações na parcela relativa dos salários na rendanacional nos Estados Unidos e no R eino Unidodurante a Grande Depressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Mudanças cíclicas na parcela relativa dos salários eordenados na renda bru ta do setor privado . . . . . . . . . . . . 61

Par te Segunda: A Determinação dos Lucros e daRenda Naciona l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

3 — Os Determinantes dos Lucros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65A teoria dos lucros em um m odelo sim plificado . . . . . . . . . . . . . . 65O caso genérico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67Poupança e investim ento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69O efeito do saldo da balança com ercial e do déficit

orçam entário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4 — Os Lucros e o Invest imento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73Os lucros e o investim ento dentro de suposições

sim plificadoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73O caso genérico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75Ilustração estatística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

5 — Determinação da Renda Naciona l e do Consumo . . . . . . . . . 79In trodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79Produto nacional, lucros e investim ento em um m odelo

sim plificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80Modificações no investim ento e no consum o em um

m odelo sim plificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81O caso genérico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81Ilustração estatística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85Produto bru to do setor privado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87Modificações a longo prazo no investim ento e

na renda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

OS ECONOMISTAS

202

Par te Terceira : A Taxa de J uros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

6 — A Taxa de J uros a Cur to Prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93In trodução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93Velocidade de circu lação e a taxa a curto prazo . . . . . . . . . . . . . . 93Ilustração estatística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95Modificações na oferta m onetária por parte dos bancos . . . . . . . . 97Modificações cíclicas na taxa de juros a curto prazo . . . . . . . . . . 98

7 — A Taxa de J uros a Longo Prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101A taxa a curto prazo e a taxa a longo prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . 101Aplicação aos rendim entos de obrigações do T esouro

Britân ico, 1849-1938 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104Estabilidade da taxa de juros a longo prazo durante o

ciclo econôm ico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

Par te Quar ta : A Determinação do Invest imento . . . . . . . . . . . . . . 111

8 — O Capita l da Empresa e o Invest imento . . . . . . . . . . . . . . . . 113O tam anho da firm a e o capital da em presa . . . . . . . . . . . . . . . . . 113O problem a das sociedades anônim as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

9 — Os Determinantes do Invest imento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117Os determ inantes das decisões de investir em

capital fixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117Fatores não levados em consideração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120Dois casos especiais da teoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120Exam e da equação fundam ental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124Investim ento em estoques . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126A fórm ula do investim ento total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

10 — Ilust ração Esta t íst ica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131O problem a do h iato tem poral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131Investim ento em capital fixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132Investim ento em estoques . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136Investim ento total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

Par te Quin ta : O Ciclo Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

11 — O mecanismo do Ciclo Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

KALECKI

203

As equações que determ inam o processo d inâm ico . . . . . . . . . . . . 143A equação do ciclo econôm ico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145O ciclo econôm ico autom ático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147O “teto” e o “fundo” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150Flutuações explosivas e am ortecidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151O ciclo econôm ico e a u tilização dos recursos . . . . . . . . . . . . . . . . 153

12 — Ilust ração Esta t íst ica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157Dedução da “equação do ciclo econôm ico” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157Dedução das flu tuações cíclicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160

13 — O Ciclo Econômico e os Choques . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163Ilustração do problem a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163A nova perspectiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166

Par te Sexta : O Desenvolvimento Econômico aLongo Prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169

14 — O Processo de Desenvolvimento Econômico . . . . . . . . . . . . . 171A tendência a longo prazo e o ciclo econôm ico . . . . . . . . . . . . . . . . 171S uposição sobre as alterações a longo prazo de L . . . . . . . . . . . . . 174S uposição sobre as alterações a longo prazo de d′ . . . . . . . . . . . . 175A tendência a longo prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176O processo de ajuste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177A tendência un iform e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177Crescim ento un iform e e retardado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181

15 — Os Fa tores de Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183R ecapitu lação da teoria do investim ento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183Inovações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184A poupança externa às firm as . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185O crescim ento populacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187

Apêndice Esta t íst ico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189N otas à Parte Prim eira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189N otas à Parte S egunda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193N otas à Parte Quarta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194

OS ECONOMISTAS

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