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OS FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO PARA A IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO POR PROCESSOS: UM ESTUDO DE CASO EM EMPRESA DE CONSULTORIA.
Alexandre Ferreira Nascimento, Aparecida Laino Entriel
(Universidade Federal Fluminense)
Resumo: Esta pesquisa teve como objetivos, identificar os fatores críticos de sucesso para implantação da gestão por processos em empresa de consultoria, analisar o nível de maturidade da cultura organizacional e elaborar proposta para implantação da gestão por processos. O estudo teve caráter exploratório e descritivo, realizado através de estudo de caso e pesquisa bibliográfica. Os dados foram coletados através de entrevista semiestruturada e tratados de forma qualitativa. Os principais autores adotados como base referencial foram Mintzberg (2001), Albuquerque e Rocha (2006), Gonçalves (2000), Kaplan e Norton (2004) e Schein (2007). Os resultados da pesquisa mostram que o processo de fusão pelo qual a empresa passou desencadeou uma série de mudanças nos elementos culturais. Foi possível concluir que existe um vínculo indissociável entre os elementos da cultura organizacional e a decisão estratégica de implantar a gestão por processos. Os fatores críticos identificados para implantação da gestão por processos foram o entendimento e apoio da alta liderança da empresa na mudança estratégica, a redefinição dos processos de negócio, a criação de valores alinhados à estratégia, elaboração de comunicação clara, objetiva e abrangente e dedicação à gestão de pessoas.
Palavras-chaves: Estratégia Organizacional, Gestão por
Processos e Cultura Organizacional
ISSN 1984-9354
X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
08 e 09 de agosto de 2014
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1 - Introdução
Empresas inovadoras que buscam crescimento sustentável com
lucratividade intensificam seus esforços no desenvolvimento de
estratégias, estruturas, processos, modelos de gestão e
ferramentas tecnológicas para potencializar sua posição
competitiva e garantir seu poder de influência no mercado.
Portanto, é preciso agir de forma estratégica e investir tempo e
dinheiro em iniciativas que sejam capazes de sustentar o
crescimento com lucratividade.
A formulação e implantação da estratégia empresarial são
processos que visam à tomada de decisão a médio e longo
prazos, envolvendo decisões relativas à definição do negócio como
produtos, serviços, clientes alvo, posicionamento e objetivos.
Pelo nível de complexidade e pela forma como se relacionam com o
meio ambiente, as decisões estratégicas devem nortear os
processos da empresa visando mantê-la competitiva a partir da
obtenção do maior retorno possível através da satisfação e
fidelização dos clientes.
Esta constatação está levando as empresas a uma mudança de
paradigma em relação aos processos de trabalho e, como
consequência, na maneira como as organizações são projetadas. A
revisão da estrutura organizacional e a proposição de um modelo
organizacional integrado e baseado na gestão dos processos de
trabalho têm se mostrado eficazes para o cumprimento da missão e
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alcance da visão de futuro. Davenport (2004) afirma que ao adotar
uma abordagem por processos, a organização adota o ponto de vista
do cliente.
O método de gestão por processos não pressupõe necessariamente
desarticular as estruturas funcionais nem tampouco o fluxo
vertical de trabalho com níveis hierárquicos e
departamentalizados; a proposta é obter a gestão eficaz do fluxo
de processos integrados e estruturar ou redesenhar seus processos
com orientação estratégica para a gestão de forma flexível.
Segundo Gonçalves (2000), a essência da gestão por processos é a
coordenação das atividades realizadas na empresa, em particular
aquelas realizadas por diversas equipes em diversas áreas.
Uma das implicações da opção pela gestão por processos é a
necessidade de mudança do modelo funcional, o que acarreta em uma
mudança de cultura organizacional. As organizações mudam para
competir no mercado, cumprir leis ou regulamentações, introduzir
novas tecnologias ou atender variações nas preferências dos
consumidores ou de seus parceiros. Segundo Schein (2007), o
planejamento da mudança deve ser mediado pela cultura
organizacional, ou seja, quanto mais importante a ação de mudança
for para a estratégia, maior deve ser sua compatibilidade com a
cultura da organização.
A natureza da mudança depende do estágio de crescimento da
organização, portanto, é necessário um diagnóstico do nível de
maturidade da cultura organizacional da empresa para que se possa
reconhecer quais são os elementos culturais que devem ser
preservados e quais são os que não se adaptam ao novo ambiente.
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Considerando que a gestão por processos tem se mostrado capaz de
produzir vantagem competitiva através de sua estratégia de foco
no cliente nos processos-chave que suportam o crescimento do
negócio e diferenciação de mercado, e, uma vez que a implantação
deste método implica em mudança cultural e deve estar alinhada ao
nível de maturidade da cultura organizacional, surgiu a questão
central que irá nortear a pesquisa: quais são os fatores críticos
de sucesso para a implantação da gestão por processos em uma
empresa de consultoria? O presente artigo tem por objetivo
identificar os fatores críticos de sucesso para a implantação da
gestão por processos, através de estudo de caso realizado em uma
empresa de consultoria nas áreas de Recursos Humanos, Finanças e
Riscos, localizada no Rio de Janeiro. O trabalho também se propõe
a analisar o nível de maturidade da cultura organizacional da
empresa estudada, além de elaborar proposta para a implantação da
gestão por processos no ambiente investigado.
Este artigo é composto por mais quatro seções além dessa seção
introdutória. A seção 2 a seguir trata de uma abordagem teórica
sobre os conceitos de estratégia, gestão por processos e cultura
organizacional. Na seção 3 é apresentada a metodologia de
pesquisa. Na seção 4 são apresentados os resultados da pesquisa e
discussões. Por fim, a seção 5 é destinada às considerações
finais e proposta de novos estudos.
2 - Referencial teórico
2.1 – Estratégia organizacional
Conforme abordado na introdução, as decisões estratégicas devem
nortear os processos da empresa visando mantê-la competitiva
através da satisfação e fidelização dos clientes. Assim, é
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apresentado o conceito de estratégia organizacional e a sua
integração com os processos organizacionais.
O conceito de estratégia organizacional é frequentemente
empregado no cotidiano das empresas e periodicamente deve-se
avaliar, repensar e ajustar a estratégia, como um fluxo contínuo
de ações indissociáveis, evitando-se assim que ela se torne
obsoleta em relação ao ambiente no qual está inserida. A essência
da estratégia é criar ações direcionadas de forma a manter as
organizações competitivas em meio a forte concorrência imposta
pelo mercado, o que implica na busca constante por diferenciação
através da inovação de produtos e serviços (PORTER, 1986).
Diversos estudos sobre a teorização da estratégia apontam ser
possível separá-la em perspectivas, sendo as mais tradicionais a
Racional, que trata da capacidade de previsão e formulação de
alternativas para a tomada de decisão; a Política, que se
preocupa com a influência do poder, elementos políticos e não
racionais na tomada de decisão; e Interpretativa, que destaca a
estrutura cognitiva e influência do conhecimento na formulação da
estratégia (MACHADO-DA-SILVA et al, 1999).
Além das perspectivas, há ainda a possibilidade de entender a
estratégia a partir de diferentes abordagens, sendo as mais
comuns: (a) Escolha Estratégica, que tem foco na resolução de
situações específicas a partir de um sistema racional conduzido
por aqueles com poder de decisão e objetivos específicos; (b)
Cognitiva, baseada em um conjunto de regras, procedimentos de
rotina e níveis hierárquicos e refletem na maneira pela qual os
indivíduos percebem e interpretam a realidade da empresa; e (c)
Institucional, que considera a relação social como parte de um
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campo específico de regras e padrões sociais do ambiente
(MACHADO-DA-SILVA, 2002).
Considerando a complexidade intrínseca à definição de estratégia,
Mintzberg (2001), ao defender a possibilidade de conceituá-la por
meio de cinco dimensões, os cinco P’s da estratégia, trouxe uma
visão de que não há uma única definição para o tema. De acordo
com o autor, pela sua natureza, a estratégia implica uma série de
significados ou dimensões. A estratégia, então, pode ser
compreendida como: (i) plano (plan): equivale dizer que
estratégia é um curso de ação, uma diretriz para lidar com uma
situação; (ii) pretexto (ploy): nessa dimensão, a estratégia se
constitui em uma manobra específica com a intenção de obter
vantagem sobre um concorrente ou competidor; (iii) padrão
(pattern): foca na ação e indica a estratégia realizada; (iv)
posição (position): indica o lugar no ambiente onde se concentram
os recursos e (v) perspectiva (perspective): consiste na forma de
os gestores e a organização, como um todo, enxergarem o mundo e
avaliarem as possibilidades da empresa perante o mercado.
Em ambientes turbulentos, a estratégia pode ser modificada devido
ao próprio processo de aprendizado e crescimento que acontece
quando é colocada em ação. De forma mais abrangente, pensar em
estratégia organizacional significa compreender claramente o
negócio da empresa e como a organização desenvolve, produz e
distribui seus produtos ou serviços, principalmente à medida que
cresce e se torna mais complexa. Neste contexto, implantar a
gestão por processos como escolha estratégica pode se tornar um
diferencial competitivo pelo foco no cliente.
2.2 – Gestão por processos
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Para a resposta ao problema de pesquisa é relevante o
entendimento da importância da gestão por processos e seus
fatores críticos de sucesso no processo de implantação da
estratégia, por resultar em mudança cultural que, por sua vez,
deve ser apoiada pela alta liderança da empresa.
Entre o final da década de 1980 e início de 1990 muitas
organizações se preocuparam com o redesenho de seus processos e
se propuseram a implantar um modelo de gestão arquitetado sobre a
perspectiva dos processos da organização. Nos últimos 10 anos, as
organizações se viram diante de uma quebra de paradigma cujo alvo
principal é a mudança radical do modelo de gerenciamento focado
nas funções para o gerenciamento horizontal por meio do redesenho
dos processos de negócio, tendo como meta o alinhamento dos
indicadores estratégicos, dos processos e das pessoas.
Segundo Davenport (1994) processo de negócio é uma organização de
atividade de trabalho, com início, fim e com entradas e saídas
claramente definidas. Gonçalves (2000) contribui com a teorização
de processo de negócio incluindo em sua definição o foco no
cliente, afirmando que tais processos caracterizam a atuação da
empresa, sendo suportados por processos internos resultando em
produtos e serviços percebidos pelo cliente externo.
Albuquerque e Rocha (2006) apresentam o conceito de sincronismo
organizacional como sendo o conjunto de ações sincronizadas para
alcance do sucesso almejado pelas organizações, baseado em três
fatores fundamentais: estratégia, processos e pessoas. Ainda de
acordo com Albuquerque e Rocha (2006), para o devido alinhamento
dos processos, deve-se primeiro elucidar as diretrizes
estratégicas e identificar os gaps de desempenho em relação às
metas estabelecidas, de forma a selecionar e priorizar os
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processos que mais exercem impacto no cliente. Em seguida, é
preciso mapear e analisar os processos-chave para, a partir de
uma visão totalmente nova do negócio, redefinir como devem ser os
processos para tornar a empresa mais competitiva.
Para traduzir a estratégia em processos de negócio direcionados
ao cliente, de modo a obter maior agilidade e objetividade nas
decisões e garantir qualidade e produtividade na entrega ao
cliente, faz-se necessário romper totalmente com o passado e
repensar os processos a partir de uma análise criteriosa do
negócio da empresa. Para Gonçalves (2000), fazer a avaliação do
funcionamento da empresa pela perspectiva do processo, que é a
perspectiva dos clientes, leva a organização ao aperfeiçoamento
dos processos como um todo. A alta liderança precisa refletir e
responder se os processos da organização estão baseados na
estratégia e orientados para atender aos requisitos dos clientes.
Para alcançar um nível satisfatório de alinhamento entre
estratégia e processos de negócios é preciso construir um mapa
estratégico e um sistema de indicadores de desempenho integrado
que possam ser compreendidos por todos os níveis da organização.
Neste contexto o BSC – Balanced Scorecard – mostra-se uma
poderosa ferramenta de alinhamento devido a sua capacidade de
flexibilização, permitindo ser aplicado de forma parcial ou
integral, isoladamente ou em conjunto com outros modelos de
mensuração de desempenho, em praticamente todos os tipos de
organização. Kaplan e Norton (1997) definem quatro processos ge-
renciais para implementação do BSC: (I) tradução da visão para
construir um consenso em torno da visão e da estratégia da
organização; (II) comunicação e ligação para comunicar a
estratégia no sentido vertical e horizontal da estrutura, ligando
os objetivos departamentais aos individuais; (III) planejamento
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do negócio para alocar os recursos e definir as prioridades de
acordo com as metas estratégicas e (IV) feedback e aprendizado
para apoiar o aprendizado estratégico de forma contínua.
Albuquerque e Rocha (2006) ressaltam a importância de se definir
metas de desempenho que deverão ser alcançadas em relação aos
mesmos indicadores identificados na análise do desempenho atual
da organização. Para os autores o passo seguinte é eliminar as
rupturas que estão impedindo a organização de ter um bom
desempenho, ocasionando retrabalhos, perdas de insumos ou
matérias-primas, esforço desnecessário, atrasos e aumento de
custos.
Bullen e Rockart (1981) enfatizam que tão importante quanto
a determinação das metas que se deseja atingir é a determinação,
de forma consciente e explícita, da estrutura básica de variáveis
que poderão influenciar o sucesso ou fracasso no alcance das
metas. Os autores propõem que estas variáveis são os Fatores
Críticos de Sucesso, que podem ser definidos como pressupostos
essenciais para o atingimento dos objetivos que contribuem para o
sucesso da empresa a partir de uma análise estratégica global da
organização decorrente do estudo dos macro-ambientes, da
atratividade do mercado de inserção e das forças estruturais tais
como capital humano, processos e tecnologias.
Rockart (1979) introduziu o conceito de Fatores Críticos de
Sucesso como sendo algumas áreas de atividades-chave, cujos
resultados favoráveis são absolutamente necessários para o
alcance dos objetivos. Para Bullen (1981), Fatores Críticos de
Sucesso são entendidos como um número limitado de áreas nas quais
um resultado satisfatório assegura um bom desempenho competitivo
aos indivíduos, departamentos e organizações. Fatores Críticos de
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Sucesso são, portanto, as variáveis e áreas da empresa que
possuem maior assertividade na obtenção dos resultados desejados
e que têm como aplicações a identificação das informações, a
organização do processo de planejamento estratégico e do
planejamento dos sistemas de informação.
Diante dos conceitos apresentados anteriormente (ALBUQUERQUE;
ROCHA, 2006; KAPLAN; NORTON, 2004; MINTZBERG, 2001), que permitem
o entendimento de estratégia organizacional e gestão por
processos, propõem-se que os fatores críticos de sucesso para
transformar uma empresa com estrutura hierarquizada em uma
organização matricial, gerenciada a partir dos processos de
negócio voltados para o atendimento dos requisitos dos clientes,
com forte base tecnológica e automação desses processos e, ainda,
alinhada à estratégia organizacional com indicadores de
desempenho e metas definidas, precisam estar ligados aos cinco
elementos representados pela figura 1 a seguir.
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Figura 1 – Diagrama dos fatores críticos de sucesso para mudança
estratégica
Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de Albuquerque e Rocha
(2006), Kaplan e Norton (2004) e Mintzberg (2001).
O primeiro fator crítico de sucesso é o entendimento e apoio da
alta liderança da empresa na mudança estratégica. Os líderes
precisam repensar a organização e seus processos de negócio e
determinar como a empresa passará a funcionar a partir de novos
processos baseados na melhoria do desempenho organizacional e
orientados para atender aos requisitos dos clientes. O papel da
liderança neste processo é o de catalisador da mudança a fim de
construir um entendimento de que a estratégia precisa ser
concretizada por meio de ações em todos os níveis (MINTZBERG,
2001; GONÇALVES, 2000).
O segundo fator crítico é a identificação dos processos de
negócio. Tais processos precisam estar alinhados à estratégia da
empresa de forma a eliminar os gaps de desempenho a fim de gerar
vantagem competitiva. A proposta é, a partir de uma visão
totalmente nova do negócio, mapear os processos em um fluxo de
atividades que transcendem as divisões funcionais e níveis
hierárquicos, e que impactam diretamente o cliente e geram valor
para a organização (ALBUQUERQUE; ROCHA, 2006).
O terceiro fator crítico é a criação de valores alinhados à
estratégia e ao nível de maturidade da cultura organizacional. A
estratégia de mudança depende do estágio de crescimento da
organização e de sua compatibilidade com a cultura da
organização. Portanto, é necessário um diagnostico do nível de
maturidade da cultura para se determinar os elementos culturais
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que devem ser preservados (ALBUQUERQUE; ROCHA, 2006; SCHEIN,
2007).
O quarto fator crítico é estabelecer mecanismos de comunicação
clara, objetiva e abrangente, capazes de traduzir a estratégia
para todos os níveis da organização. O BSC é uma ferramenta que
pode ser utilizada para comunicar e promover o comprometimento
geral das pessoas com a estratégia da empresa a partir de um
sistema de medição e gestão estratégica por meio do qual
o desempenho organizacional é mensurado de maneira equilibrada
(KAPLAN; NORTON, 2004).
O quinto fator crítico é a gestão de pessoas a partir de um novo
método de trabalho. Uma vez que as pessoas passam a trabalhar no
processo, e não somente nas áreas da empresa, o modelo de gestão
deverá apoiar o desenvolvimento individual e mensurar o
desempenho alinhado com a estratégia da empresa e com os
processos de negócio (ALBUQUERQUE; ROCHA, 2006).
O potencial de conhecimento analítico das empresas implicará em
mudanças ou inovações incrementais nos processos de negócio.
Portanto, torna-se essencial a capacidade da organização em
destruir continuamente seus processos obsoletos ou sem eficiência,
levando a um comportamento melhor alinhado às metas do negócio
(GONÇALVES, 2000). Desta forma, a liderança deverá decidir por um
modelo de organização por processos e tomar as providências para
passar da estrutura atual para aquela que dará melhores
resultados para sua operação.
Após elucidar os conceitos e importância estratégica da gestão
por processos nesta subseção, nota-se um vínculo indissociável de
sua implantação com a maturidade da cultura organizacional. Por
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se tratar do surgimento de novos processos, a assimilação dos
novos valores pelos funcionários torna-se um dos fatores críticos
de sucesso. Considerando que os valores fazem parte da cultura
organizacional, a subseção a seguir é dedicada à abordagem dos
conceitos de cultura, seus componentes e níveis de maturidade.
2.3 – Cultura organizacional
Para entendimento do conceito de valores e níveis de maturidade
da cultura organizacional aqui são apresentados o conceito de
cultura, seus componentes e um quadro com os estágios de
maturidade e funções da cultura organizacional proposto por
Schein (2007).
O conceito de cultura surge na antropologia e desenvolve-se,
notadamente, a partir da segunda metade do século XIX, em
consequência de polêmicas sobre a suposta superioridade da
cultura de algumas sociedades, principalmente a ocidental. A
maioria dos autores referenda cultura como a parte do ambiente,
produzida pelos homens e por eles aprendida e utilizada no
processo contínuo de adaptação e transformação da sociedade e dos
indivíduos. Fleury (2009) contribui para a contextualização da
cultura organizacional explorando o aspecto de gestão e poder que
a cultura pode suportar. Para a autora, a cultura organizacional
é concebida como o conjunto de valores e pressupostos básicos,
expresso em elementos simbólicos, que, em sua capacidade de
ordenar, atribuir significado, construir a identidade
organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e
consenso, como ocultam e instrumentalizam as relações de
dominação. Neste sentido, admite-se a cultura como instrumento de
gestão ou poder, possibilitando a discussão da política no
conceito de cultura organizacional. Schein (2007), afirma que a
cultura organizacional compreende três níveis: de artefatos
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visíveis (layout, modo como as pessoas se vestem e se comunicam),
dos valores compartilhados que governam o comportamento das
pessoas (compreendem os valores que levam as pessoas a agirem de
determinada forma) e das certezas tácitas (forma como as pessoas
percebem, pensam e sentem). Para Hofstede (1991), a cultura é
dividida em camadas. Segundo este autor, os níveis da cultura
podem ser comparados às camadas de uma cebola, cuja visualização
parte da camada externa para a mais interna. Através dessa
ilustração, as camadas são representadas em símbolos, heróis,
rituais e valores. Na camada mais superficial estão os símbolos e
na camada mais profunda os valores.
No passado, as empresas costumavam mudar apenas quando surgiam
necessidades, hoje elas tendem a buscar a mudança. Hofstede
(1991) acredita que, quando as pessoas mudam individualmente de
grupo, ocorre adaptação à cultura organizacional de seu novo meio
e quando as pessoas mudam como grupos, elas trazem sua cultura
conjuntamente. Contudo, se forem aplicadas ou forçadas mudanças,
há uma grande chance de que aspectos indesejáveis da antiga
cultura organizacional sejam assimilados. Segundo Fleury (2009),
a mudança é revolucionária e gradual, sendo gerada a partir de
problemas no ambiente externo e por problemas internos. A autora
explica que a mudança revolucionária é aquela em que os novos
valores são antagônicos aos anteriores, gerando um processo
radical de destruição dos elementos simbólicos, de redefinição
completa das práticas organizacionais e que a mudança gradual se
dá quando novos valores propostos são complementares aos
existentes, ampliando leques de alternativas existentes para a
solução de problemas.
Adotar estratégias de mudança que obtenham sucesso envolve
compreender aspectos do ambiente, dos indivíduos e da organização
como um todo. Desta forma, identificar variáveis do contexto que
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estariam provocando as mudanças, sejam contínuas ou descontínuas,
apresenta-se como uma vantagem para os gerenciadores da mudança,
na medida em que esse conhecimento poderia permitir o manejo e a
implantação da mudança, o aumento da eficácia organizacional e de
sua chance de sobrevivência. Para um gerenciamento adequado da
mudança organizacional é preciso entender o processo de
formulação da cultura e fazer um diagnóstico do estágio de
maturidade no qual a empresa se encontra. A criação de uma
cultura organizacional, em grande parte, é influenciada pelos
fundadores da empresa (SCHEIN, 2007). Segundo este autor, os
fundadores doutrinam e socializam os funcionários de acordo com
sua própria maneira de pensar, sentir e agir. Após este estágio,
a organização entra em uma fase que o próprio autor define como
meia-idade, quando os elementos culturais se estabilizam e surgem
oportunidades de análise e gerenciamento de possíveis
necessidades de mudanças transformadoras na cultura
organizacional. O próximo estágio é chamado de maturidade
organizacional, pois a cultura organizacional é considerada
estável e a história de sucesso da organização está arraigada na
cultura, porém, possui partes funcionais e não funcionais.
Em cada estágio do crescimento organizacional existem funções
específicas para a cultura organizacional, conforme o quadro1
apresentado a seguir.
Por se tratar de aspectos intrínsecos, as experiências, o
comportamento do ser humano no ambiente de trabalho, inclusive a
maneira de sentir a organização e o planejamento da mudança devem
ser mediados pela cultura organizacional a partir de um
diagnóstico do nível de maturidade da cultura organizacional da
empresa, para que se possa reconhecer quais são os elementos
culturais que devem ser preservados. Neste contexto, a liderança
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passa a desempenhar papel essencial no apoio e promoção da
mudança.
Função da Cultura para a Organização
A cultura preserva as glórias do passado, sendo valorizada como fonte de autoestima e preservação
Declínio
Transformação
Falta de motivação para mudar
Destruição, falência e reorganização
Transformação
A cultura organizacional desempenha a função de inovações incrementais nos produtos e serviços da empresa
A mudança cultural é necessária e inevitável. Entretanto devem ser analizados quais elementos da cultura podem ou devem sofrer mudanças. Os elementos essenciais devem ser identificados e preservados enquanto os elementos inadequados sofrem mudança cultural. A cultura muda drasticamente pela inadequação dos elementos presentes na organização. Ocorrem mudanças e substituições de pessoas chave da empresa
Fusões e aquisições
Integração vertical, expansão geográfica
Meia-idade Organizacional
Maturidade organizacional
Estagnação ou estabilidade interna
Maturidade dos mercados
A cultura é fonte de identidade do fundador e mantém a organização unida
Os sucessores verificam se preservarão ou mudarão os valores culturais. A cultura se torna um campo de batalha entre sucessores conservadores e liberais e a integração cultural declina à medida que são formadas subculturas
Estágio em que surgem oportunidades de análise e gerenciamento de possíveis necessidades de mudança transformadora na cultura organizacional através dos processos de desconfirmação das crenças, das atitudes e dos valores, da ansiedade pela sobrevivência e pelo aprendizado, da criação da segurança psicológica e da redefinição cognitiva, internalização e aprendizado dos novos processos
Sucessão do fundador
Desenvolvimento de novos produtos e serviços
Estágio de Vida Organizacional
Nascimento e primeiro estágio de crescimento
Presença do fundador
Sucessão do fundador
Fonte: Adaptado de SCHEIN, Edgar H; Guia de Sobrevivência da
Cultura Corporativa, São Paulo: José Olympio, 2007.
3 – Metodologia da pesquisa
Os procedimentos técnicos utilizados foram, quanto aos fins,
pesquisa de caráter exploratório, uma vez que o trabalho tem por
finalidade básica desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e
ideias para a formulação de abordagens posteriores. A pesquisa
também é descritiva, pois identifica os fatores que determinam ou
contribuem para a ocorrência dos fenômenos, aprofunda o
conhecimento da realidade e explica o porquê da razão (GIL, 2007;
VERGARA, 2013). Quanto aos meios, optou-se por pesquisa
bibliográfica e estudo de caso, seguindo procedimentos propostos
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por Yin (2005), com observação direta dos acontecimentos que
estão sendo estudados e entrevista com as pessoas envolvidas.
Além disso, o autor utilizou-se de observação participante, de
caráter empírico, para compor possíveis lacunas.
Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas.
A abordagem para tratamento dos dados foi de cunho qualitativo.
Para a análise dos dados, o pesquisador utilizou-se do método de
análise de conteúdo proposto por Bardin (2002). As etapas da
análise de conteúdo aplicadas foram a pré-análise para escolha e
interpretação do material coletado, exploração dos resultados
para análise das respostas e extração das unidades de registro e
interpretação dos resultados para responder o problema de
pesquisa, ao mesmo tempo em que embasa o atingimento dos
objetivos traçados, além de contribuir para confirmar ou refutar
a suposição apresentada na introdução.
O Universo da pesquisa foi uma empresa de Consultoria de origem
americana, com presença em 35 países, líder global em serviços
profissionais para gerenciamento efetivo de recursos humanos,
finanças e riscos. Atualmente a organização estudada possui três
escritórios no Brasil, sendo dois na cidade de São Paulo e um no
Rio de Janeiro e conta com 193 empregados. O nome real da empresa
foi preservado por questões de confidencialidade. A amostra
contou com seis empregados escolhidos por critério de
acessibilidade e tipicidade (conhecimento do assunto), sendo os
sujeitos da pesquisa três gerentes e três especialistas. As
limitações do método ficam por conta do tamanho da amostra,
subjetividade da análise de conteúdo e o fato de o pesquisador
ser empregado da empresa estudada.
4 – Análise e discussão dos resultados
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4.1 – Coleta e análise dos dados
O roteiro de entrevista foi elaborado com um total de 10
perguntas. A primeira pergunta destinou-se à identificação dos
entrevistados; as perguntas de número 2 a 5 têm o intuito de
diagnosticar a maturidade da cultura organizacional e as demais
foram destinadas a identificar a presença dos fatores críticos
propostos nesta pesquisa, dentro do ambiente estudado. Optou-se
por realizar a primeira entrevista com um dos especialistas
mencionados na amostra como um pré-teste para aferição do tempo
dedicado, tipo de abordagem do pesquisador e identificação de
algum elemento nas respostas que pudessem alterar as perguntas
para as próximas entrevistas.
As entrevistas foram realizadas entre os dias 5 e 7 de novembro
de 2013, com duração média de 33 minutos. Inicialmente a amostra
contaria com 10 empregados, no entanto, quatro deles, entre eles
dois diretores, se recusaram a participar da pesquisa após a
distribuição do roteiro de entrevistas. Os seis respondentes da
amostra são profissionais graduados, sendo quatro formados em
ciências atuariais, um em estatística e um em administração;
todos possuem mais de 10 anos de carreira na empresa e estão
situados na faixa etária entre 35 e 40 anos. A primeira
entrevista realizada como pré-teste evidenciou necessidade de
ajustes nas questões e os seus resultados foram descartados, por
apresentarem inconsistências. Assim, a amostra final da pesquisa
permaneceu com cinco respondentes.
Os principais pontos da análise dos dados coletados foram: (I)
pré-análise, para escolha e interpretação do material coletado
nas entrevistas; (II) exploração dos resultados, onde ocorreu a
análise das respostas proporcionando o surgimento das unidades de
registro para corroborar ou contrapor as afirmações dos
principais autores sobre o tema pesquisado e comparar com os
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fatores críticos propostos nesta pesquisa; e (III) a
interpretação dos resultados, que deverá suportar a resposta ao
problema de pesquisa, o atingimento dos objetivos traçados neste
trabalho, além de confirmar ou refutar a suposição apresentada na
introdução.
4.2 – Bloco de perguntas para análise da maturidade da cultura
organizacional
O quadro 2 a seguir apresenta as unidades de registro extraídas
das respostas obtidas durante as entrevistas. A coluna UR
apresenta as unidades de registro, as colunas R1 a R5 representam
os cinco entrevistados. As linhas P2 a P5 configuram as perguntas
para análise da maturidade da cultura organizacional. O autor
Edgard Schein (2007) foi utilizado como base para a fundamentação
teórica do quadro 2. Buscou-se a padronização das palavras para
melhor visualização e entendimento.
Quadro 2 – Unidades de registro Maturidade da Cultura
Organizacional
Pergunta UR R1 R2 R3 R4 R5
P2
Mudança de valores X X X X X
Processo de fusão X X X X X
Foco no cliente - X X X -
P3
Mudança de liderança X X X X X
Mudança nos processos - - X - X
Alinhamento da cultura X X - X -
P4
Melhoria nos serviços
prestados X X X - -
Surgimento de novos
serviços - - - X X
P5
Competição entre as pessoas - X X - -
Aprendizado X - - X X
Fonte: Elaborado pelo autor
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A partir da análise das respostas, e fazendo uso de observação
participante de caráter empírico, é possível dizer que a empresa
estudada encontra-se em um nível de maturidade chamado de meia
idade, onde se observou elementos culturais que agem como função
da cultura para a organização, tais como o surgimento de novos
valores, busca por aprendizado e criação de segurança psicológica.
Comparando as respostas com o Estágio de Vida Organizacional
proposto por Schein (2007), conforme Quadro 1, foi possível
identificar um processo recente de fusão, alteração nos cargos de
liderança da empresa e o surgimento de novos serviços como as
principais características para embasamento desta análise e
enquadramento no nível de maturidade como sendo meia idade.
4.3 – Bloco de perguntas para identificação dos fatores críticos
O quadro 3 a seguir apresenta as unidades de registro extraídas
das respostas obtidas durante as entrevistas. A coluna UR
apresenta as unidades de registro, as colunas R1 a R5 representam
os cinco entrevistados. As linhas P6 a P10 configuram as
perguntas para identificação dos fatores críticos. Os autores
utilizados para a composição do referido quadro foram Albuquerque
e Rocha (2006), Kaplan e Norton (2004), Mintzberg (2001) e
Gonçalves (2000). Buscou-se a padronização das palavras para
melhor visualização e entendimento.
Quadro 3 – Unidades de registro para identificação dos Fatores
Críticos de Sucesso
Pergunta UR R1 R2 R3 R4 R5
P6
Asência de método/software
para gerenciamento de
processos
X X X X X
P7
Comunicação X X X X X
Apoio dos líderes - - X X X
Criação de valores X X - - -
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alinhados a estratégia
P8
Gestão de pessoas
(Treinamento) X X X - -
Comunicação - - - X -
Apoio dos líderes - - - - X
P9
Ausência de alinhamento nos
processos - X X - X
Processos alinhados à
estratégia X - - X -
P10
Ausência de alinhamento
entre as mestas e
estratégia
- X X X X
alinhamento entre as mestas
e estratégia X - - - -
Fonte: Elaborado pelo autor
A análise das respostas e unidades de registro mostrou que dos
cinco fatores críticos apresentados na figura 1 – Diagrama dos
fatores críticos de sucesso para mudança estratégica, a
comunicação, o apoio dos líderes, e a gestão de pessoas foram
mencionados de forma direta pela maioria dos respondentes. O
fator crítico criação de valores alinhados à estratégia foi
citado diretamente por dois entrevistados, o que não permite
afirmar a sua existência no ambiente estudado. Já o fator crítico
identificação dos processos de negócio não foi citado diretamente,
o que permite inferir que este fator não está presente no
ambiente pesquisado e constitui, portanto, uma oportunidade de
melhoria para a implantação da gestão de processos na empresa
investigada.
4.2 – Discussões dos resultados
A literatura estudada serviu de fundamentação para elaboração do
diagrama dos Fatores Críticos de Sucesso para Mudança Estratégica
apresentado na figura 1. Com relação ao apoio da alta liderança,
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Mintzberg (2003) em sua obra afirma que a alta liderança é
encarregada de assegurar que a organização cumpra sua missão de
modo eficaz. Este fator crítico foi diretamente citado por três
dos cinco entrevistados, evidenciando sua importância na
implantação da gestão por processos. Uma vez que esta pesquisa
mostrou que houve mudança na liderança da empresa, os novos
líderes deverão apoiar a gestão por processos assim como conduzir
o alinhamento com a cultura organizacional.
Referente ao fator crítico identificação dos processos de negócio,
Gonçalves (2000) ressalta a necessidade de se destruir
continuamente os processos obsoletos ou sem eficiência, levando a
um comportamento melhor alinhado às metas do negócio. Analisando
a citação deste autor, é possível reconhecer a importância de
identificar e alinhar os processos de negócio à estratégia.
Considerando que este fator crítico foi citado parcialmente por
quatro dos cinco entrevistados apenas como controle dos processos,
percebe-se que o mesmo não está presente no ambiente pesquisado,
conforme sugere a literatura. Resgatando as respostas da nona
pergunta, onde três dos cinco entrevistados relatam que os
processos da empresa não estão alinhados à estratégia, é possível
concluir que apenas controlar os processos não é suficiente para
o conceito de gestão por processos podendo ser considerado como
ponto fraco da empresa na implantação da gestão por processos.
No que tange a criação de valores alinhados à estratégia,
Albuquerque e Rocha (2006) recomendam romper totalmente com o
passado e repensar os processos a partir de uma análise
criteriosa do negócio da empresa. Este fator crítico foi
mencionado diretamente por dois dos cinco entrevistados; portanto,
não é possível confirmar a sua identificação no ambiente
pesquisado, o que aponta para a necessidade de aprimoramento
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tanto dos processos quanto do alinhamento com a estratégia. Desta
forma, pode-se considerar esta questão como oportunidade de
melhoria para a gestão por processos, pois os valores da empresa
não são percebidos na execução dos processos e o seu alinhamento
não foi reconhecido como existente dentro da empresa pesquisada.
Sobre a comunicação clara, objetiva e abrangente, Kaplan e Norton
(1997) abordam a importância de se comunicar a estratégia no
sentido vertical e horizontal da estrutura, ligando os objetivos
departamentais aos individuais. Este fator foi diretamente citado
por todos os entrevistados mostrando total alinhamento com a
literatura, o que corrobora com seu valor para a implantação da
gestão por processos. Adotar uma comunicação eficiente pode
contribuir para o alinhamento dos processos e valores com a
estratégia, assim como facilitar o entendimento das metas
pessoais e seu alinhamento com a estratégia, uma vez que quatro
entrevistados responderam na décima pergunta que não percebem
este alinhamento.
Referente à gestão de pessoas, Gonçalves (2000), defende que a
eficácia na implantação da estratégia vai depender, entre outras
coisas, do grau de envolvimento das pessoas com as mudanças
propostas. Este fator foi abordado por três dos cinco
entrevistados de forma direta, portanto, é possível dizer que a
gestão eficaz das pessoas deverá suportar o processo de mudança
para implantação da gestão por processos. Para corroborar com a
citação do autor e reforçar a importância deste fator crítico
para a empresa, cabe destacar alguns resultados desta pesquisa
como o acúmulo de capital intelectual e busca por aprendizado
devido ao processo de fusão, ambos diretamente ligados a gestão
de pessoas.
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Na análise para identificação dos fatores críticos propostos
nesta pesquisa observou-se que na percepção dos entrevistados, os
fatores identificados nas respostas foram comunicação, apoio da
liderança e gestão de pessoas, que foram diretamente mencionados
e podem ser considerados como pontos fortes para implantação da
gestão por processos no ambiente pesquisado.
A proposta de implantação da gestão por processos pela escolha
estratégica precisa ter início na decisão da liderança no que
tange a análise criteriosa do negócio da empresa para promover o
alinhamento estratégico com a cultura organizacional, de forma a
reconhecer e eliminar os elementos culturais que não se adaptam
ao novo ambiente. Em seguida é preciso criar novos valores
capazes de apoiar os processos de negócio e promover o
alinhamento estratégico para torna-los mais produtivos e com mais
qualidade na entrega ao cliente. A próxima etapa consiste em
estabelecer mecanismos de comunicação capazes de traduzir a
estratégia para todos os níveis da organização. Não obstante,
para consolidação e sucesso da implantação da gestão por
processos, é preciso atenção a gestão estratégica de pessoas no
que diz respeito à elaboração de políticas de recursos humanos
capazes de suportar todo o processo de mudança.
5 – Considerações finais
Esta pesquisa teve como objetivos, identificar os fatores
críticos de sucesso para implantação da gestão por processos em
uma empresa de consultoria, analisar o nível de maturidade da
cultura organizacional da empresa estudada, assim como elaborar
proposta para implantação da gestão por processos.
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Os principais resultados obtidos discorrem sobre o processo de
fusão pelo qual a empresa passou, desencadeando uma série de
mudanças nos elementos culturais que agem como função da cultura
para a organização, tais como o surgimento de novos valores,
mudança de liderança, criação de novos negócios, busca por
aprendizado e competição entre as pessoas. Cabe destacar o fato
de quatro empregados, entre eles, dois diretores, terem se
recusado a participar da pesquisa. Este fato aponta para a
possibilidade de haver elementos cuja divulgação provoque
discussões indesejadas para a empresa.
Respondendo o problema de pesquisa a partir da discussão dos
resultados do estudo de caso, é possível afirmar que no ambiente
estudado existem três dos cinco fatores críticos de sucesso
propostos no modelo teórico, são eles: a comunicação, o apoio da
liderança e a gestão de pessoas. Tais fatores configuram-se como
pontos fortes da empresa para implantação da gestão por processos
e devem ser explorados na elaboração da proposta de implantação.
O fator criação de valores alinhados à estratégia deve ser
considerado como oportunidade de melhoria para a gestão por
processos no ambiente investigado, pois foi citado por apenas
dois respondentes. Já o fator crítico identificação dos processos
de negócio encontrado parcialmente, como controle dos processos,
pode ser considerado como ponto fraco da empresa para a
implantação da gestão por processos.
Atendendo aos objetivos da pesquisa, os fatores críticos foram
identificados e a análise da maturidade da cultura organizacional
concluiu que a empresa encontra-se em estágio de meia idade.
Ainda no que se refere ao atendimento aos objetivos, como
proposta de implantação da gestão por processos pela escolha
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estratégica, a liderança precisa analisar criteriosamente o
negócio da empresa e a partir deste resultado, promover o
alinhamento estratégico com a cultura organizacional de modo a
elucidar os elementos culturais que devem ser preservados para
apoiar a estratégia e quais devem ser adaptados ao novo ambiente.
Concluída esta etapa é preciso criar novos valores capazes de
apoiar os processos de negócio e promover o alinhamento
estratégico, de forma a torná-los mais produtivos e com mais
qualidade na entrega ao cliente. Em seguida é necessário
estabelecer mecanismos de comunicação capazes de traduzir a
estratégia para toda a organização. Em última instância cabe
mencionar que, para consolidação da implantação da gestão por
processos, é preciso dedicar tempo e ter atenção à elaboração de
políticas de recursos humanos voltadas para gestão de pessoas,
uma vez que todo processo de mudança gera novos desafios e
provoca resistência e insegurança nas pessoas.
Este trabalho pode contribuir para pesquisas futuras sobre os
temas porque provoca discussão dos conceitos de diversos autores
e faz um paralelo entre a literatura e a prática. Pode também
auxiliar empresas interessadas em implantar a gestão por
processos pela abordagem que abrange estratégia, processos e
cultura organizacional. Para estudos futuros, recomenda-se
investigar se os fatores apresentados no Diagrama dos Fatores
Críticos de Sucesso para Mudança Estratégica serão percebidos
pelos funcionários de uma empresa em outro estágio de maturidade
de cultura organizacional.
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