Upload
vuongnhan
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS –Campus I CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURIDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS COMO INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA
JOANA MARIA DE PIERI CLIVATI Orientador: Professor MSc. Denise Schmitt Siqueira Garcia
Itajaí (SC), novembro de 2006.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS –Campus I CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURIDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS COMO INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA
JOANA MARIA DE PIERI CLIVATI
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI,
como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor MSc. Denise Schmitt Siqueira Garcia
Itajaí (SC), novembro de 2006.
AGRADECIMENTO
Agradeço sinceramente à minha orientadora, pelos conhecimentos repassados e pela
dedicação fornecida durante a graduação, comprovando ser uma profissional exemplar.
Venho demonstrar a minha enorme admiração.
Aos meus amigos e parentes, que de alguma forma contribuíram para a realização desta
pesquisa.
Ao meu noivo, Leonardo, que esteve presente em toda a minha jornada acadêmica, ajudando e
incentivando a alcançar esta conquista.
DEDICATÓRIA
Dedico esta vitória, em especial, aos meus pais, Ney e Senete, que são meu exemplo de
dedicação e sabedoria, os quais estão presentes em todos os momentos de minha vida, guiando e
ensinando a buscar os meus sonhos.
Muito obrigada por todo esse amor, vocês são meus alicerces.
À minha irmã, Natália e ao meu irmão Lucas, pessoas simplesmente especiais.
Amo vocês.
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Joana
Maria de Pieri Clivati , sob o título OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS COMO
INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA , foi submetida em 29 de setembro de
2006 à Banca Examinadora composta pelos seguintes Professores: MSc. Maria
de Loourdes Alves Lima Zanatta e Esp. Andréa Morgado Dietrich, e aprovada
com a nota 10 (dez).
Itajaí (SC), novembro de 2006.
Msc. Denise Schmitt Siqueira Garcia Orientador e Presidente da Banca
[Professor Título Nome] Coordenação da Monografia
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total
responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando
a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca
Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do
mesmo.
Itajaí (SC), novembro de 2006.
Joana Maria de Pieri Clivati Graduando
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias1 que a autora considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2.
Acesso à Justiça:
Adequação dos anseios da população a uma justiça rápida, sem custas e sem
formalismo3.
Competência
Como função estatal, a Jurisdição é, naturalmente, una. Mas seu exercício, na
prática, exige o concurso de vários órgãos do Poder Público. A competência é
justamente o critério de distribuir entre os vários órgãos judiciários as atribuições
relativas ao desempenho da Jurisdição4.
Conciliação
Composição amigável sem que se verifique alguma concessão por quaisquer das
partes a respeito do pretenso direito alegado ou extinção da obrigação civil ou
comercial.5
Conciliador
A Lei dos Juizados Especiais Cíveis instituiu os Conciliadores como auxiliares da
Justiça. Trata-se de função permanente, mas não pessoal, pois independe de
quem a esta exercendo, bastando que se faça presente. O recrutamento não
ocorre por concurso público, mas por escolha do juiz. Exercem função pública
1 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa científica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 37) 2 “Conceito operacional (=cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa científica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 51) 3 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à Justiça. tradução: Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre : Fabris. p. 71 4 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 41 ed. Rio de Janeiro : Forense. 2004.. p. 145 5 FIGUEIRA, Joel Dias Júnior e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. 4 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2005. p. 75
honorífica e de alta relevância, mas em regra não são funcionários públicos
vinculados ao Estado.6
Direito Fundamental
Os direitos fundamentais não só asseguram situações de indivíduos particulares
mas também servem para definir os valores e fins da estrutura política
constitucional. Tem, assim, os direitos fundamentais uma finalidade individual e
uma finalidade coletiva7.
Juiz Leigo
O Juiz Leigo é, assim, um colaborador do Magistrado, pois desempenhará suas
funções sob a supervisão deste8.
Juizado Especial
Os Juizados Especiais não são simples rito a ser cumprido pelos juizes já
existentes. São, na verdade, novos órgãos judicantes, cuja implantação depende
não da lei federal que os regulamentou, mas de leis locais que efetivamente os
criem9.
Jurisdição
Por Jurisdição (“jurisdictio” = dizer o Direito) entende-se como um poder, função e
atividade, instituídos ao julgador para decidir sobre os pedidos de tutela
jurisdicional, aplicando o Direito sobre as pretensões, litigiosas ou não,
decorrentes de fatos/situações jurídicas pretensamente amparadas pela lei10.
6 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. Leme – São Paulo: Editora de Direito, 2000. p. 152 7 Cruz, Paulo Márcio. Fundamentos de direito constitucional. Curitiba : Juruá, 2002. p. 155 8 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. Leme – São Paulo: Editora de Direito, 2000. p. 158 9 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 41 ed. Rio de Janeiro : Forense. 2004.. p. 311 10 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo. Florianópolis : Visual Book, 2002. p. 152
Justiça
A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a verdade o é dos
sistemas de pensamento11.
Princípios
Princípio é a concepção de começo, de início ou um mandamento nuclear de um
sistema12.
Procedimento
O processo, outrossim, não se submete a uma única forma. Exterioriza-se de
várias maneiras diferentes, conforme as particularidades da pretensão do autor e
da defesa do réu. O modo próprio de desenvolver-se o processo, conforme as
exigências de cada caso, é exatamente o Procedimento do feito, isto é, o seu
rito.13
Transação
Negócio jurídico bilateral pelo qual as partes interessadas, fazendo-se
concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas.14
11 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. tradução: Almiro Pisetta e Lenita M.R Esteves. São Paulo : Martins Fontes, 1997. 12 SILVA, Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo. 15 ed. São Paulo : Malheiros, 1998. p. 95 13 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 41 ed. Rio de Janeiro : Forense. 2004. p. 42 14 FIGUEIRA, Joel Dias Júnior e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. 4 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2005. p. 75
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................... XI
INTRODUÇÃO ................................................................................. 12
CAPÍTULO 1 ......................................... ........................................... 15
DO ACESSO À JUSTIÇA................................ ................................. 15 1.1. RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE, ESTADO E JUSTIÇA..... .........................15 1.2. ACESSO À JUSTIÇA COMO DIREITO FUNDAMENTAL ..... .......................28 1.2.1. Os diversos planos de entendimento do Acesso à Justiça ..................30 1.2.1.1. Acesso à Justiça numa perspectiva leiga .. .........................................30 1.2.1.2. Acesso à Justiça numa perspectiva filosóf ica....................................31 1.2.1.3. Acesso à Justiça numa perspectiva técnico -jurídica.........................32 1.2.1.4. Acesso à Justiça numa perspectiva socioló gica................................34 1.3. ENTRAVES AO ACESSO À JUSTIÇA .................. .......................................39 1.3.1. Possibilidade das partes .................... ......................................................39 1.3.1.1. Insuficiência sócio-econômica............ .................................................40 1.3.1.2. Reconhecimento e guarda de direitos...... ...........................................40 1.3.2. Lentidão da justiça......................... ...........................................................41 1.3.3. Custas judiciais............................ .............................................................44
CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 46
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS...................... ......................... 46 2.1. BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS............... ..................................46 2.2. CONCEITO ....................................................................................................52 2.3. PRINCÍPIOS ..................................................................................................53 2.3.1. Princípio da oralidade...................... .........................................................56 2.3.2. Princípio da simplicidade ................... ......................................................58 2.3.3. Princípio da economia processual ............ ..............................................60 2.3.4. Princípio da celeridade ou efetividade ...... ..............................................62 2.4. DA CONCILIAÇÃO E DA TRANSAÇÃO ................. .....................................63 2.5 COMPETÊNCIA.............................................................................................64
CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 69
O ACESSO À JUSTIÇA NO JUIZADO ESPECIAL............. ............. 69 3.1. O PROCESSO NOS JUIZADOS ESPECIAIS ............. ..................................69 3.1.2. Das partes.................................. ................................................................73 3.1.3. Da assistência do advogado .................. ..................................................75 3.1.4. Das provas.................................. ...............................................................76 3.1.5. Dos atos processuais ........................ .......................................................77
3.2. O PROCEDIMENTO NOS JUIZADOS ESPECIAIS ......... .............................78 3.2.1. Do pedido................................... ................................................................80 3.2.2. Da citação, intimação e revelia ............. ...................................................82 3.2.3. Audiência de conciliação e julgamento ....... ...........................................84 3.2.4 Sentença ..................................... ................................................................86 3.2.5. Dos recursos ................................ .............................................................87 3.1.6. Execução .................................... ...............................................................89 3.3. O OBJETIVO DOS JUIZADOS ESPECIAIS E O ACESSO À JUSTIÇA ......90
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 93
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 95
RESUMO
O presente trabalho científico tem por escopo analisar o Acesso à Justiça no Juizado Especial Cível, principiando pela explanação da relação entre a Sociedade, o Estado e a Justiça abordando sobre a Justiçaprivada representada pelo Estado/Jurisdição e acrescentando as diversas vertentes sobre as dificuldades que as pessoas tem para que consigam alcançar a prestação da tutela jurisdicional de uma forma efetiva, o chamado Acesso à Justiça. Examina-se também a evolução histórica dos Juizados Especiais reunindo a legislação revogada e as legislações vigentes, bem como os Princípios norteados, transcendendo desde a explanação da taxionomia dos direitos fundamentais para o conceito de Princípios englobando aqueles elencados no artigo 2º da Lei 9.099/1995, reguladora dos Juizados Especiais, finalizando com a sua Competência territorial e material. Adentra-se, posteriormente, no tema específico do presente trabalho científico analisando os Juizados Especiais Cíveis como instrumento de Acesso à Justiça, enfocando o Procedimento e o processo adotados pela lei especial, assim como o objetivo dos Juizados Especiais para o efetivo Acesso à Justiça, demonstrando os benefícios do surgimento desse Procedimento para a população menos favorecida, seja intelectualmente ou financeiramente. Para o desenvolvimento da presente monografia foi adotado o método indutivo, entendido como aquele que parte do geral para o particular, utilizando as técnicas do referente, da categoria, do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica.
12
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto o Acesso à Justiça
no Juizado Especial Cível, tendo como objetivo institucional a elaboração do
presente trabalho científico para obtenção do Título de Bacharel em Direito pela
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI.
O objetivo geral é analisar na doutrina e legislação brasileira
os Juizados Especiais Cíveis como Instrumento para o Acesso à Justiça e como
objetivo específico conceituar o Acesso à Justiça, identificar as principais
características do Juizado Especial Cível e seus Princípios, bem como verificar o
Juizado Especial Cível como Instrumento para o Acesso à Justiça.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando-se da relação
entre a sociedade, estado e a justiça, bem como a sua evolução para o surgimento
da Jurisdição, servindo como manifestação do Estado como órgão pacificador dos
litígios, excluindo a Justiçaprivada e incorporando a Justiçapública.
Ademais, conceitua-se o Acesso à Justiça e se elucida os
diversos planos de seu entendimento, compostos pela perspectiva leiga, filosófica,
técnico-jurídica e sociológica, bem como disciplina os diversos entraves do Acesso
à Justiça, ou seja, as dificuldades sofridas pela população para que tenha acesso
ao Poder Judiciário e obtenha a efetiva pretensão.
No Capítulo 2, tratando-se dos Juizados Especiais Cíveis,
primeiramente aborda-se breves considerações históricas, principiando pelo
surgimento dos Conselhos de Conciliação e Arbitragem do Rio Grande do Sul em
1982, passando pela análise da Lei 7.244/1984 reguladora das Pequenas Causas
até o surgimento da Lei 9.099/1995 que regulamentou os Juizados Especiais
Cíveis, prosseguindo pelo surgimento pelo seu conceito e os Princípios
norteadores disciplinados no artigo 2º da Lei Especial, finalizando com a
abordagem da Competência territorial e material admissível no Procedimento.
13
No Capítulo 3, elabora-se dos Juizados Especiais Cíveis
como Instrumento de Acesso à Justiça, discorre-se sobre o processo no âmbito
dos Juizados Especiais, os Procedimentos, e finalizando com o objetivo dos
Juizados Especiais e o Acesso à Justiça.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre o Acesso à Justiça no Juizado Especial Cível.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
� Que o Acesso à Justiça pode ser conceituado de duas maneiras, como sendo um direito inerente ao homem, por sua própria natureza
e o segundo conceito como sendo um direito à proteção judicial, estando previsto no artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal de 1998.
� Os Princípios que norteiam os Juizados Especiais Cíveis estão
elencados no artigo 2º da Lei 9.099/1995, trazendo consigo os Princípios da oralidade, simplicidade, economia processual, celeridade e efetividade.
� O Juizado Especial Cível tem como objetivo a solução dos conflitos,
sendo benéfica para o Acesso à Justiça, no momento em que isentou as partes das custas iniciais do processo, bem como trouxe um marco para o direito processualístico, ao trazer os Princípios da celeridade, tornando o processo mais rápido e eficaz para o direito.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que foi
utilizado o método indutivo15.
15 “pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e coleciona-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa científica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 85)
14
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas, do Referente16, da Categoria17, do Conceito Operacional18 e da
Pesquisa Bibliográfica.
16 “É a explicação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica : idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 3ed. Florianópolis : OAB/SC Editora, 1999. p. 63) 17 “É a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. ((PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica : idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 3ed. Florianópolis : OAB/SC Editora, 1999. p. 37) 18 “É uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. ((PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica : idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 3ed. Florianópolis : OAB/SC Editora, 1999. p. 51)
15
CAPÍTULO 1
DO ACESSO À JUSTIÇA
1.1. RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE, ESTADO E JUSTIÇA
A sociedade propriamente dita é composta pelo agrupamento
de pessoas em determinado território, buscando organizar e satisfazer as
necessidades comuns, harmonizando e coordenando a vida social, em busca da
sobrevivência de todos através da cooperação e organização política.
Dado o conceito de sociedade, encaminha-se o estudo para
o seu surgimento, podendo ser dividido em três fases ideológicas doutrinárias,
quais sejam: estado natural, período contratualista e interferência do estado como
meio de associação da sociedade.
A primeira fase histórica do estado natural, influenciada pelos
filósofos Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, compreende a natural necessidade
do homem em viver em sociedade, como forma normal de vida, sem que a vontade
esteja explícita, mas sim a própria tendência ao convívio em sociedade19.
Dalmo de Abreu Dallari20 citando os pensamentos de Santo
Tomás de Aquino como sendo o principal seguidor de Aristóteles, explicita que: “o
homem é, por natureza, animal social e político, vivendo em multidão, ainda mais
que todos os outros animais, o que se evidencia pela natural necessidade”.
Adiante o mesmo doutrinador colaciona o entendimento de
Ranelletti:
19 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . 25ed. São Paulo : Saraiva. p. 07 20 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p. 08
16
(...) que onde quer que se observe o homem, seja qual for a época, mesmo nas mais remotas a que se possa volver, o homem sempre é encontrado em estado de convivência e combinação com os outros, por mais rude e selvagem que possa ser na sua origem. O homem singular, completamente isolado e vivendo só, próximo aos seus semelhantes mas sem nenhuma relação com
eles, não se encontra na realidade da vida.21
Nessa concepção, Nicola Framarino Dei Malatesta22 diz que
“desde os primórdios da convivência humana os indivíduos seriam unidos entre si,
na coletividade social, por vínculos naturais e permanentes de simpatia mútua e
de ajuda mútua”.
Entendendo um pouco da origem da teoria naturalista,
conclui-se que a tendência natural do homem é viver em sociedade, mesmo que
isolado do mundo, uma vez que o psíquico pessoal humano tende a um
agrupamento entre os seus semelhantes, vivendo em sociedade mesmo sem a
influência direta da vontade, mas sim pela pura necessidade natural humana.
Tal fato não consubstancia com a teoria contratualista que
adota a tese de que os homens através de um acordo recíproco de vontades, na
conjectura de um suposto contrato celebrado entre as pessoas, busca através
deste pacto a paz social e a igualdade entre todos os viventes da sociedade, como
pode ser verificado pelas palavras de Dalmo de Abreu Dallari23:
Opondo-se aos adeptos do fundamento natural da sociedade encontram-se muitos autores, alguns dos quais exerceram e ainda exercem considerável influência prática, sustentando que a sociedade é, tão-só, o produto de um acordo de vontades, ou seja, de um contrato hipotético celebrado entre os homens, razão pela qual esses autores são classificados como contratualistas. (..) O ponto comum entre eles, porém, é a negativa do impulso associativo natural, com a afirmação de que só a vontade humana justifica a existência da sociedade, o que vem a ter influência fundamental nas
21 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p. 08/09 22 MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A sociedade e o estado . São Paulo : LZN, 2003. p. 15 23 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p. 09/10
17
considerações obre a organização social, sobre o poder social e sobre o próprio relacionamento dos indivíduos com a sociedade.
Os seguidores dessa corrente doutrinária expressam a sua
ideologia na racionalidade do ser humano em dominar a sua condição de vida,
saindo da desconfiança gerada pelo estado natural, buscando, então, firmar um
contrato igualitário.
Assim, Dallari24 identifica: “Apesar de suas paixões más, o
homem é um ser racional e descobre os Princípios que deve seguir para superar o
estado de natureza e estabelecer o “estado social”.
Adiante acresce:
Tornados conscientes dessas leis os homens celebram o contrato, que é a mútua transferência de direitos. E é por força desse ato puramente racional que se estabelece a vida em sociedade, cuja preservação, entretanto, depende da existência de um poder visível, que mantenha os homens dentro dos limites consentidos e os obrigue, por temor ao castigo, a realizar seus compromissos e à observância das leis da natureza anteriormente referidas. Esse poder visível é o Estado, um grande e robusto homem artificial, construído pelo homem natural para sua proteção e defesa25.
Thomas Hobbes em Leviatã26 falimenta a teoria naturalista e
desdobra a sua tese na teoria contratualista, em que os homens mesmo vivendo
harmonicamente em sociedade, sofre a influência do interesse particular, o qual
será causa preponderante do surgimento de conflitos entre cada um, devendo
consentir a necessidade de um ente particular que dite a Justiçae pacifique o litígio
existente entre os particulares, para que não sofram uma decadência societária,
conforme se expressa:
24 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p.11 25 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p.11 26 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução : Alex Marins. São Paulo : Martin Claret. p. 128.
18
Em havendo grande multidão, se as ações de cada um dos que a compõem forem determinadas segundo o juízo individual e os apetites individuais de cada um, não poderá se esperar que ela seja capaz de dar defesa e proteção a ninguém. Seja contra o inimigo comum, seja contra as injúrias feitas uns aos outros. Divergindo em opinião quanto ao melhor uso e aplicação da força, não se ajudam mas se atrapalham uns aos outros. Devido a essa oposição mútua reduzem sua força a nada. Por isso, não apenas facilmente serão subjugados por um pequeno número que se haja posto de acordo, mas, além disso, mesmo sem haver inimigo comum, facilmente farão guerra uns aos outros, por causa de seus interesses particulares. Se fosse lícito supor uma grande multidão capaz de consentir na observância da justiça e das outras leis naturais, sem um poder comum que mantivesse a todos em respeito, igualmente o seria supor a humanidade inteira capaz disso. Não haveria, nem seria necessário, no caso, qualquer governo civil, ou qualquer Estado, pois haveria paz sem sujeição27.
Aristóteles apud Hobbes28 ao defender a teoria naturalista
compara a vida das pessoas às das formigas e abelhas, que consegue
estabelecer a vida em sociedade sem a necessidade da interferência de um ente
dominante, Hobbes29 por sua vez quebra a aplicação de qualquer comparação dos
seres humanos com animais e criaturas irracionais, tecendo consideráveis
argumentos que levam a confirmar a realidade da teoria contratualistas:
Primeiro, porque a humanidade está constantemente envolvida numa competição pela honra e pela dignidade, o que não ocorre com essas criaturas. Devido a isso é que surgem entre os homens a inveja, o ódio, a guerra, ao passo que entre aquelas criaturas isso não acontece30.
Segundo, porque entre essas criaturas não há diferença entre o bem comum e o bem individual. Por natureza elas tendem para o
27 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 128. 28 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução : Alex Marins. São Paulo : Martin Claret. p. 129. 29 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução : Alex Marins. São Paulo : Martin Claret. p. 129. 30 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução : Alex Marins. São Paulo : Martin Claret. p. 129.
19
bem individual e acabam por promover o bem comum. O homem só encontra felicidade na comparação com outros homens e só pode tirar prazer do que é iminente31.
Terceiro, porque, como essas criaturas não dispõem – diferentemente do homem – do uso da razão, não vêem nem julgam ver qualquer erro na administração de sua existência comum, enquanto entre os homens é grande o número dos que se julgam mais sábios e mais capacitados que os outros para o exercício do poder público. Esses esforçam-se por empreender reformas e inovações, uns de uma maneira e outros de outra, acabando assim por levar o país à desordem e à guerra civil32.
Quarto, porque essas criaturas, mesmo dispondo de certa capacidade de comunicação, para dar a conhecer umas às outras seus desejos e outras afecções, mesmo assim carecem daquela arte das palavras mediante a qual alguns homens são capazes de apresentar aos outros o que é bom sob a aparência do mal, e o que é mau sob a aparência do bem. De outra forma, aumentando ou diminuindo a importância visível do bem ou do mal, semeando o descontentamento entre os homens e perturbando a seu bel-prazer a paz em que os outros vivem33.
Quinto, porque as criaturas irracionais são incapazes de distinguir entre injúria e dano. Conseqüentemente, basta que estejam satisfeitas para nunca se ofenderem com seus semelhantes. O homem é tanto mais implicativo quanto mais satisfeito se sente, pois é neste caso que tende mais para exibir sua sabedoria e para controlar as ações dos que governam o Estado34.
Por último, porque o acordo vigente entre essas criaturas é natural, e o dos homens surge por intermédio de um pacto, isto é, artificialmente. Não é de admirar, portanto, que seja necessária alguma coisa mais, além de um pacto, para tornar constante e duradouro seu acordo. Quer dizer, um poder comum que os
31 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 32 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 33 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 34 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129.
20
mantenha em respeito e que dirija suas ações no sentido do benefício comum35.
Disciplinando sobre o surgimento do contrato social, vale
salientar as acepções do maior defensor da teoria contratualista, Jean-Jacques
Rousseau36, o qual busca no contrato social uma forma de defesa para os
viventes em sociedade, de maneira que mesmo formalizando um pacto social,
estes continuarão livres na mesma forma do jusnaturalismo, perfectibilizando o
mútuo acordo entre os associados:
Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual, cada um, unindo-se a todos, não obedeça portanto senão a si mesmo, e permaneça tão livre como anteriormente. Tal é o problema fundamental cuja solução é dada pelo contrato social.
Adiante:
Além disso, feita a alienação sem reserva, a união é tão perfeita quanto o poder ser, e nenhum associado tem mais nada a reclamar, porque, se aos articulares restassem alguns direitos, como não haveria nenhum superior comum que pudesse decidir entre eles e o público, cada qual, tornando algum ponto o seu próprio juiz, pretenderia em breve sê-lo em tudo; o estado natural subsistiria, e a associação se tornaria necessariamente tirânica ou inútil37.
Embora a teoria contratualista traga enorme embasamento
ideológico, o pacto ou contrato fictício criando um “estado social”, não resguarda a
vida em sociedade, daí a necessidade do surgimento do Estado como instituição
reguladora dos conflitos e interesses comuns, dirigindo suas ações em benefício
da coletividade e da justiça.
35 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 36 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social e outros escritos . São Paulo : Martins Claret, 2002. p.30. 37 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social e outros escritos . São Paulo : Martins Claret, 2002. p.30.
21
Grinover38 caracteriza o surgimento do Estado desde os
tempos remotos:
Nas fases primitivas da civilização dos povos, inexisti um Estado suficientemente forte para superar os ímpetos individualistas dos homens e impor o direito acima da vontade dos particulares: por isso, não só inexistia um órgão estatal que, com soberania e autoridade, garantisse o cumprimento do direito, como ainda não havia sequer as leis (normas gerais e abstratas impostas pelo Estado aos particulares). Assim, quem pretendesse alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua própria força e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfação de uma pretensa. A própria repressão aos atos criminosos se fazia em regime de vingança privada e, quando o Estado chamou a si o jus punitionis, ele o exerceu inicialmente mediante seus próprios critérios e decisões, sem a interposição de órgãos ou pessoas imparciais independentes e desinteressadas. A esse regime chama-se autotutela (ou autodefesa) e hoje, encarando-a do ponto-de-vista
da cultura do século XX, é fácil ver como era precária e aleatória, pois não garantia a justiça, mas a vitória do mais forte, mais astuto ou mais ousado sobre o mais fraco ou mais tímido.
Desta forma, surgindo a necessidade de um ente particular
que viesse pacificar os litígios particulares surgidos no meio da sociedade, o
Estado chamou para si o poder jus punitionis, ditando inicialmente seus atos sem
a interferência de leis ou regras para solução dos conflitos particulares, mas sim
pelas suas próprias acepções de justiça.
Dalmo de Abreu in Elementos de Teoria Geral dos Estados39,
coaduna o surgimento do Estado citando Marx e Engels, sobre a teoria marxista:
Faltava apenas uma coisa: uma instituição que não só assegurasse as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica; que não só consagrasse propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração santificadora o objetivo mais elevado da comunidade
38 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . 20 ed. São Paulo : Malheiros, 2004. p.21 39 Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. p.25
22
humana, mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade ás novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras – a acumulação, portanto, cada vez mais acelerada das riquezas: uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não-possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado
Sobre o surgimento do Estado, Robert Lowie apud Dalmo de
Abreu admite que independente do surgimento pela teoria naturalista como
contratualista, a sociedade sofre a influência de fatores externos que devido ao
seu surgimento espontâneo dará origem ao Estado Social40.
O que na versão de Montesquieu mencionado por Dallari41:
Existem também leis naturais que levam o homem a escolher a vida em sociedade. Essas leis são as seguintes: a) o desejo de paz; b) o sentimento das necessidades, experimentado principalmente na procura de alimentos; c) a atração natural entre os sexos opostos, pelo encanto que inspiram um ao outro e pala necessidade recíproca; d) o desejo de viver em sociedade, resultante da consciência que os homens têm de sua condição e de seu estado. Depois que, levados por essas leis, os homens se unem em sociedade, passam a sentir-se fortes, a igualdade natural que existia entre eles desaparece e o estado de guerra começa, ou entre sociedades, ou entre indivíduos da mesma sociedade.
Repercutindo o pensamento de sociedade e Estado, Paulo
Bonavides42 mostra a diferença entre ambos os pensamentos, ao relacionar o
conflito de interesses pacificado pelas duas vertentes.
Por sociedade, entendeu ele o conjunto daqueles grupos fragmentários, daquelas “sociedades parciais”, onde do conflito de interesses reinantes só se pode recolher a vontade de todos (volonté de tous), ao passo que o estado vale como algo que se
40 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p.47 41 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p. 13 42 BONAVIDES, Paulo. Ciência Política . 10 ed. São Paulo : Malheiros, 1996. p. 60
23
exprime numa vontade geral (volonté générale), a única autêntica,
captada diretamente da relação indivíduo-Estado, sem nenhuma interposição ou desvirtuamento por parte dos interesses representados nos grupos sociais interpostos.
Desta forma, a tese do contrato social como explicação da
origem do Estado, traz a idéia de que os homens podem organizar o estado e a
sociedade de acordo com suas vontades e razões, desconsiderando a tradição e
os costumes, mas adotando uma percepção lógica e própria de justiça.
Norberto Bobbio43 estudando os pensamentos de Hegel,
disciplinou que o primeiro momento da sociedade civil interligada ao Estado traz a
harmonização e pacificação dos interesses egoístas individuais, dirimindo o
conflito de interesses gerado pelo interesse privado:
Por isso a sociedade civil não é apenas uma forma inferior de Estado ao qual ficaram atados os escritores políticos e os juristas do direito público precedente, que se poderia chamar de privatistas no sentido de que a sua principal preocupação é a de dirimir os conflitos de interesses que surgem nas relações entre privados através da administração da justiça e, sucessivamente, a de garantir o bem-estar dos cidadãos defendendo-os dos danos que podem provir da atitude de dar livre curso ao particularismo egoísta dos singulares.
No interregno da concepção de Estado, Paulo Bonavides44 in
Teoria do Estado relaciona o pensamento de Aristóteles com o surgimento do Estado:
Coube aos filósofos da Antiguidade clássica, do mundo atiço, que viram no mundo um fim em si, o merecimento desse avanço. Exprimiu Aristóteles, ao considerar o estado comunidade perfeita, formada pela pluralidade de grupos comuns, comunidade que, de certo modo, logrou o fim de inteira suficiência e surgiu mercê da vida, e, mercê da vida, em seu conjunto se mantém, o vero conceito organicista que denominou o pensamento do mundo
43 BOBBIO, Norberto. Estado governo sociedade: para uma teoria geral da política. Tradução : Marco Aurélio Nogueira. 11 ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra,1987. p. 43 44 BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado . São Paulo : Malheiros, 1999. p. 54
24
antigo. Deu assim a formulação indestrutível do organicismo, com a idéia do Estado como ser natural e anímico, anterior ao indivíduo, em que o todo tem precedência sobre as partes.
Nesta esteira, a criação do Estado foi primordial para a
sociedade como um todo, tendo em vista que a sociedade primitiva, nos moldes
naturalistas, não sofria as tendências de interesses e disputas sociais, vivendo
harmonicamente em sociedade, pacificando seus litígios pelos usos e costumes, o
que de fato contraria o surgimento do Estado pela teoria contratualista que
vislumbra a necessidade da criação de leis, adotando regras para aplicar a justiça.
Desta forma, o que se vê, na esfera da doutrinadora Ada
Pellegrini Grinover45, é que nos tempos primitivos inexistia um Estado pacificador
dos litígios particulares, sendo a força individual forma de obter a satisfação da
pretensão, o que não se vê com o surgimento do Estado, o qual aplicava de forma
aleatória o direito para a solução dos problemas, ato este classificado como
“autotutela”, esta agora mencionada não vislumbra uma Justiçaigualitária, já que
vencia aquele que era mais forte e não aquele que tinha o direito pretendido.
Não só existia a “autotutela” como forma de pacificar as lides,
mas a “autocomposição”, constituída da desistência de uma das partes a direito
seu para a solução do conflito.
Atualmente, existindo um conflito de interesses entre
particulares, a submissão de dirimi-los é de Competência do Estado, como se
resguarda dos pensamentos de Ada Pellegrini Grinover, Antonio Carlos de Araújo
e Cândido Rangel Dinamarco46:
Hoje, se entre duas pessoas há um conflito, caracterizado por uma das causas de insatisfação descritas acima (resistência de outrem ou veto jurídico à satisfação voluntária), em princípio o direito impõe que, se se quiser pôr fim a essa situação, seja chamando o Estado-juiz, o qual virá dizer a qual a vontade do ordenamento jurídico para
45 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p. 21 46 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.20/21
25
o caso concreto (declaração) e, se for o caso, fazer com que as coisas se disponham, na realidade prática, conforme essa vontade (execução). Nem sempre foi assim, contudo.
Ademais, acrescenta que o Estado trouxe definitivamente a
transferência da Justiçaprivada para a Justiçapública, como se vê:
Com ela completou-se o ciclo histórico da evolução da chamada justiça privada para a justiça pública: o Estado, já suficientemente
fortalecido, impõe-se sobre os particulares e, prescindindo da voluntária submissão destes, impõe-lhes autoritativamente a sua solução para os conflitos de interesses. À atividade mediante a qual os juízes estatais examinam as pretensões e resolvem os conflitos dá-se o nome de jurisdição47.
Como disciplina também Horácio Wanderley Rodrigues48,
sobre o surgimento de leis e regras para solucionar os litígios, evitando com isso o
uso da Justiçaprivada:
Seja na sociedade primitiva, seja em qualquer forma de organização política intermediária que tenha existido no longo período histórico que os separa, a existência de normas, quer sejam sociais ou estatais, foi insuficiente para evitar a ocorrência de conflitos. Ou seja, nem sempre essas normas foram ou são respeitadas. Houve então a necessidade de se criar, ao lado delas, normas que definissem as formas pelas quais seriam resolvidos os conflitos e insatisfações, quando existentes; também foi necessário definir quem os resolveria. Tem-se aí a origem do direito processual e da jurisdição.
A Jurisdição é trazida ao mundo jurídico para substituir as
partes, evitando com que essas façam Justiça pelas próprias mãos (Justiça
privada), para que seja transferido o exame dos conflitos ao Estado, órgão estatal
competente para dirimir os conflitos particulares e buscar através da função
jurisdicional a Justiçacomum.
47 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.20/21 48 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso a justiça no direito processual brasileiro . São Paulo : Acadêmica, 1994. p. 22
26
Schlichting49 disciplina o conceito de Jurisdição:
Por jurisdição (“jurisdictio” = dizer o Direito) entende-se como um poder, função e atividades, instituídos ao julgador para decidir sobre os pedidos de tutela jurisdicional, aplicando o Direito sobre as pretensões, litigiosas ou não, decorrentes de fatos/situações jurídicas pretensamente amparadas pela lei.
Na visão de Jônatas Luiz Moreira de Paula50:
Dentro de uma visão técnica e partindo da premissa funcional, jurisdição é a atividade exercida pelo Estado, como forma de manifestação do poder político, pois, o Estado tem apenas um poder: o da soberania, compreendido nas diversas formas de comando sobre os movimentos sociais. A administração e a legislação, assim como a jurisdição, são formas de manifestação do exercício deste poder.
E adiante Rodrigues traz que “a jurisdição, como
manifestação do poder do Estado, tem no processo o instrumento de
concretização desse escopo maior, a finalidade de garantir o projeto político de
uma determinada sociedade”51
Ada Pellegrini Grinover52 pacifica a matéria:
Pelo que já foi dito, compreende-se eu o Estado moderno exerce o seu poder para a solução de conflitos interindividuais. O poder estatal, hoje, abrange a capacidade de dirimir os conflitos que envolvem as pessoas (inclusive o próprio Estado), decidindo sobre as pretensões apresentadas e impondo as decisões. No estudo da jurisdição, será explicado que sta é uma das expressões do poder estatal, caracterizando-se este como a capacidade que o Estado tem, de decidir imperativamente e impor decisões. O que distingue a jurisdição das demais funções do Estado (legislação,
49 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo . Florianópolis : Visual Books, 2001. p.152. 50 MOREIRA DE PAULA, Jônatas Luiz. Teoria geral do processo . 2 ed. São Paulo : Editora de Direito, 2001. p.85 51 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso a justiça no direito processual brasileiro . p. 26 52 GRINOVER, Ada Pellegrini Grinover. Teoria geral do processo . p.24
27
administração) é precisamente, em primeiro plano, a finalidade pacificadora com que o Estado a exerce.
A busca pela equidade da Justiçaé alcançada pelo impulso
processual realizado através do instrumento chamado “processo”, o qual irá transferir a
satisfação do direito pretendido para o poder estatal (Estado), ou também denominado
Estado-juiz, com a única finalidade de buscar a pacificação da lide e os efeitos da
justiça, dizendo a cada um o direito cabível e tutelado pelos direitos materiais.
Mais uma vez Ada Pellegrini Grinover53 traz in Teoria Geral
do Processo a função estatal do estado, mencionando a sua função pacificadora
realizada através do poder Jurisdição:
E hoje, prevalecendo as idéias do Estado social, em que o Estado
se reconhece a função fundamental de promover a plena realização dos valores humanos, isso deve servir, de um lado, para pôr em destaque a função jurisdicional pacificadora como fator de eliminação dos conflitos que afligem as pessoas e lhes trazem angustia; de outro, para advertir os encarregados do sistema, quanto Pa necessidade de fazer do processo um meio efetivo para a realização da justiça. Afirma-se que o objetivo-síntese do Estado contemporâneo é o bem-comum e, quando se passa ao estudo da jurisdição, é lícito dizer que a projeção particularizada do bem comum nessa área é a pacificação com justiça.
Ressalta dizendo sobre a instrumentalidade do processo
para a busca efetiva da justiça:
Por outro lado, a instrumentalidade do processo, aqui considerada, é aquele aspecto positivo da relação que liga o sistema processual à ordem jurídico-material e ao mundo das pessoas e do Estado, com realce à necessidade de predispô-lo ao integral cumprimento de todos os seus escopos sociais, políticos e jurídico. Falar da instrumentalidade nesse sentido positivo, pois, é alertar para a necessária efetividade do processo, ou seja, para a necessidade de ter-se um sistema processual capaz de servir de eficiente caminho à “ordem jurídica justa”. Para tanto, não só é preciso ter a
53 GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. p. 25/41
28
consciência dos objetivos a atingir, como também conhecer e
saber superar os óbices econômicos e jurídicos que se antepõem ao livre acesso à justiça54.
Desta forma, o processo é o instrumento cabível para invocar
o poder estatal (Estado) ou Estado-juiz, o qual através de seu poder Jurisdição irá
pacificar o conflito resistido entre as partes, aplicando os Princípios da legalidade
(devido processo legal), da imparcialidade (Estado tem o poder de agir com
imparcialidade perante a solução dos litígios) e do contraditório (ambas as partes
terão oportunidade de apresentar suas alegações), tudo isso englobando a busca
pela obtenção da justiça.
1.2. ACESSO À JUSTIÇA COMO DIREITO FUNDAMENTAL
Até então é mostrado o processo como instrumento
competente para invocar a satisfação dos litígios por meio do poder estatal, ou
seja, a Jurisdição exercida pelo Estado através de seu órgão jurisdicional
chamado Poder Judiciário, o qual busca a aplicação da efetividade da justiça.
Neste diapasão, vale especificar a nomenclatura de Justiça e
o seu alcance face ao caso concreto.
A maioria dos doutrinadores traz a similitude da comparada á
igualdade, o que é apresentada por Recásens Siches55: “A similitude está em que
a noção de justiça vem sempre ligada à de igualdade”.
Roberto Aguiar56 coaduna com os mesmos ditames, ao dizer
que “a justiça se torna uma virtude, a virtude de dar a cada um o que é seu
segundo uma igualdade”.
54 GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. p. 25/41 55 RECÁSENS SICHES. Luís: Estudos da filosofia no direito. p.289 56 AGUIAR, Roberto A. R. de. O que é justiça: uma abordagem dialética. 5 ed. São Paulo : Alfa-Omega, 1999. p. 38
29
Adiante expressa a necessidade da reciprocidade entre o
direito de quem pleiteia para aquela obrigação exigida, visando a aplicação de
uma Justiça equânime:
(...) para haver justiça, é preciso que haja alteridade, isto é, a necessidade de existir um outro, uma outra pessoa, já que a justiça é uma virtude que se situa na relação entre os seres humanos. É necessário também que haja um devido de um para com outro, um devido que seja justo, e, para sê-lo, ele necessita ser igual, isto é, que haja uma reciprocidade entre o direito de quem exige e a obrigação de quem é exigida certa conduta57.
Não discrepa da matéria, David Lyons58 quando afirma:
O igualitarismo pode então ser visto como uma teoria da justiça distributiva a qual sustenta que cada pessoa tem a mesma base para exigir uma parte dos bens. Esse enfoque deixa questões fundamentais não respondidas, tais como quais os bens que estão propriamente sujeitos a distribuição e como decidir a base apropriada para distribuição.
Estabelecer uma definição de Justiça comparada à igualdade
de tratamento para ambas as partes na visão de John Rawls59 é moralmente
impossível, dado o preconceito formulado pela sociedade, a qual entende que a
aplicação da Justiça é mais favorável àquele que detêm de um maior patrimônio
financeiro, devendo haver uma reciprocidade entre cada papel social, ou seja,
entre a classe menos favorável daquela mais favorável.
Ao passo que no momento que a sociedade conseguir enfrentar
seus próprios preconceitos, daí sim, poderá alcançar a busca pela efetividade da
Justiça comparada à igualdade de tratamento para as partes litigantes60.
57 AGUIAR, Roberto A. R. de. O que é justiça: uma abordagem dialética. p. 38 58 LYONS, David. As regras morais e a ética . São Paulo : Marins Fontes. p. 127 59 LYONS, David. As regras morais e a ética . p. 134 60 RAWLS, John. Uma teoria da justiça . p. 12
30
Caracterizada a Justiça comparada à igualdade entre os
conflitantes, Ada Pellegrini Grinover coloca sua aplicação através do processo,
conforme disciplina: “(..) o processo é o único meio de obter a efetivação das
situações ditadas pelo direito material”61.
Portanto, tem-se o processo como principal instrumento para
a atuação da Justiça, a qual vem nitidamente amparada pela Constituição Federal,
tal nomenclatura será utilizada em todo trabalho científico, promulgada em 1988
quando estabelecido o direito ao devido processo legal, ou também denominado
direito ao Acesso à Justiça.
Desta forma, pode-se concluir que o Acesso à Justiça
significa a possibilidade do cidadão compreender e acionar o sistema de Justiça
como um todo, já que o processo é o maior meio de controle do “Acesso à
Justiça”, o qual visa garantir um princípio básico, qual seja, a isonomia.
Ocorre, contudo, que tal corrente não pacifica todas as
visões classificatórias do meio-social, podendo ser verificada ademais outras
visões, como se pode ver das classes mais desfavorável ou pela visão dos leigos
jurídicos, pela perspectiva filosófica, técnica-jurídica e sociológica.
1.2.1. Os diversos planos de entendimento do Acesso à Justiça
1.2.1.1. Acesso à Justiça numa perspectiva leiga
A primeira delas tomada tanto pelos desfavoráveis
monetariamente como pelos leigos juridicamente ditos, analisa no âmbito das
palavras “justiça” e “direito” uma vulgarização que destoa do seu efetivo significado,
obtendo com isso uma descrença para a busca pela Justiça, tais classes não crêem
mais numa Justiça igualitária, uma vez que não conseguem junto alcançar o efetivo
acesso ao processo, tampouco alcançar o poder judiciário.
61 GRINOVER, Ada Pellegrini et at. Teoria geral do processo. p.35
31
Tais lições vêm estampadas pelo doutrinador Paulo César
Santos Bezerra62 que consubstancia:
É, sem nenhuma margem de dúvida, essa visão distorcida do homem comum, do leigo, ao que se constitui o verdadeiro acesso à justiça, que causa uma desilusão histórica e social, um sentimento de frustração do litigante, ao constatar que longe está de si, um efetivo acesso à justiça, por não conseguir ultrapassar o que Capelletti chama de “obstáculos a serem transpostos”, como custas judiciais, tempo processual, recursos financeiros para os depósitos recursais, honorários advocatícios e periciais, e outros menos morais, que desenganadamente ocorrem, sem se falar na alienação a respeito do que é justo, do que sejam direitos. Nesse passo, a ilusão da justiça desboca numa desilusão aterradora dos que pretendem o direito de acesso à justiça, pois sequer conseguem um efetivo acesso formal ao processo.
Tratando de uma perspectiva leiga de Acesso à Justiça,
verifica-se que em torno da sociedade existe uma desilusão e um sentimento de
frustração, consistente na dificuldade em ultrapassar as barreiras impostas pelo
Poder Judiciário, inviabilizando a efetividade do Acesso à Justiça.
1.2.1.2. Acesso à Justiça numa perspectiva filosófi ca
Já quando tratar de Acesso à Justiça numa visão filosófica,
não encontra a visão da Justiça ligada ao processo formal, mas sim uma Justiça
propriamente dita e não aquela obtida por meio do poder judiciário, aplicada pelos
juizes dentro do Poder-Jurisdição.
Bezerra63 salienta que “em sentido material a Justiça é uma
parte de um todo Moral. É um dos valores do homem, além de Virtude, Liberdade,
Bem, Belo, Dever, de dificílima conceituação”.
62 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito.Rio de Janeiro : Renovar, 2001. p.. 125 63 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito. p. 147
32
Chaim Perelmann citado por Bezerra64 diz que não se pode
convencer uma pessoa de um único significado de Justiça:
(...) determinada concepção de justiça é a única boa, a única que corresponde ao ideal de justiça perseguido pelo coração dos homens, sendo todas as outras apenas embustes, representações insuficientes que fornecem a justiça uma imagem falsa e serem de uma justiça apenas aparente que abusa da palavra justiça para fazer que se admitam concepções reais e profundamente injustas.
Pode-se entender que a palavra Justiça é aplicada da forma
aceitada por cada um, o que pode ser justo para um pode não ser justo para outro,
mas nessa linha de pensamento adotada pela visão filosófica, é entendido que a
Justiça deve sobrepujar as leis e regras estabelecidas pelo Estado e que nem tudo
deve ser esperado do poder-estatal, mas de fatores sociais externos65.
1.2.1.3. Acesso à Justiça numa perspectiva técnico- jurídica
As classes com perspectivas técnico-jurídicas, adotadas na
maioria das vezes por processualistas, estabelecem a crença pela aplicação do
direito ao processo, ou seja, a aplicação do direito material ao caso concreto posto
às margens do instrumento processual.
Os pensamentos englobados pelos processualistas e pela
linha ideológica técnico-jurídica têm colocado em destaque as leis e principalmente
a Constituição Federal como busca pela ordem jurídica justa, tendo como objetivo o
alcance do maior número de pessoas a obter esse direito amparado.
Desta forma, Ada Pellegrini Grinover66 defensora da corrente
técnico-jurídica estabelece que para a efetividade do processo, ou seja, para a
plena consecução de sua missão social de eliminar conflitos e fazer Justiça, é
preciso, de um lado, tomar consciência dos escopos motivadores de todo o
64 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito. p. 150 65 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 149 66 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34
33
sistema (sociais, políticos, jurídicos); e, de outro, superar os óbices que a
experiência mostra estar constantemente a ameaçar a boa qualidade do seu
produto final, citando posteriormente quatro pontos cruciais para a sua conjectura:
a) a admissão do processo (ingresso em juízo). É preciso eliminar as dificuldades econômicas que impeçam ou desanimem as pessoas de litigar ou dificultem o oferecimento de defesa adequada67.
b) o modo-de-ser do processo. No desenrolar de todo processo é
preciso que a ordem legal de seus atos seja observada (devido processo legal), que as partes tenham oportunidade de participar em diálogo com o juiz (contraditório), que seja adequadamente participativo na busca de elementos para sua própria instrução68.
c) a justiça das decisões. O juiz deve pautar-se pelo critério de justiça, seja ao apreciar a prova, ao enquadrar os fatos em normas e categorias jurídicas ou ao interpretar os textos de direito positivo. Não deve exigir uma prova tão precisa e exaustiva dos fatos, que torne impossível a demonstração destes e impeça o exercício do direito material pela parte69.
d) efetividade das decisões. Todo processo deve dar a quem tem um direito tudo aquilo e precisamente aquilo que ele tem o direito a obter70.
A classe técnico-jurídica não defende tão somente a pacificação
dos litígios por meio da invocação do poder-estatal, mas também ao uso das
organizações sociais destinadas a Conciliação de litígios por mecanismos extrajudicial,
tendo como exemplo a Casa da Cidadania, Tribunais Arbitrais, entidades sociais com
fins a solução de conflitos relacionados com o direito do consumidor71.
67 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 68 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 69 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 70 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 71 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 133/134
34
1.2.1.4. Acesso à Justiça numa perspectiva sociológ ica
Por último verifica-se o Acesso à Justiça numa visão sociológica,
a qual depreende a visão social de acesso ao processo e à Justiça conjuntamente,
como satisfaz novamente a lição de Alcalá-Zamora citado por Bezzera72:
(...) já que o processo judicial não é a via única de acesso à justiça, nem mesmo a preferível, é a de que os mecanismos utilizados devem servir de meio pacificador dos conflitos, de composição das lides e, se sua missão política é a de servir de instrumento de realização do direito objetivo, sua missão política é a de servir de garantia das liberdades, sua missão social é a de contribuir para a pacífica convivência dos que vivem em determinado Estado, e para equilibrar as forças que se batem pela obtenção da justiça.
Mauro Cappelletti e Bryant Garth73, in Acesso à Justiça são
idealizadores dessa corrente quando relacionam:
A preocupação fundamental é, cada vez mais, com a justiça social, isto é, com a busca de procedimentos que sejam conducentes à proteção dos direitos das pessoas comuns. Embora as implicações dessa mudança sejam dramáticas – por exemplo, com relação ao papel de quem julga – é bom enfatizar, desde logo, que os valores centrais do processo judiciário mais tradicional devem ser mantidos. O acesso à justiça precisa englobar ambas as formas de processo
Corroboram também com a visão sociológica, Bezerra74 ao
visualizar que o Acesso à Justiça é alcançado pela criação de leis voltadas para a
sociedade:
É essa a nossa busca, é essa a nossa tese: leis sociologicamente fundadas, com eficácia real e plena, que viabilizem aos
72 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 137 73 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. Tradução: Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre : Fabris, 1988. p. 93 74 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 137
35
aplicadores do direito, um maior leque de opções que permitam um efetivo acesso à justiça.
A visão sociológica de Acesso à Justiça verifica-se pela
pacificação dos conflitos e da composição das lides, buscando através de acordos
uma solução rápida e tranqüila para ambas as partes, uma vez que o processo
pode trazer para as partes um sentimento de perda, ocasionando uma insatisfação.
1.2.2. Acesso à Justiça como Direito Fundamental
Antes de classificar o Acesso à Justiça como Direito
Fundamental, vale especificar a definição de Direito Fundamental e sua aplicação no
ordenamento jurídico brasileiro, o que expressado por José Afonso da Silva75 verifica-
se:
Direitos fundamentais do homem constitui a expressão mais adequada a este estudo, porque, além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas. No qualificativo fundamentais acha-se a indicação de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive; fundamentais do homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser, não apenas formalmente reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados. Direitos fundamentais do homem significa direitos fundamentais da pessoa humana ou direitos fundamentais. É com esse conteúdo que a expressão direitos fundamentais encabeça o Título II da Constituição, que se completa, como direitos fundamentais da pessoa humana, expressamente, no art. 5º.
75 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo . 15 ed. São Paulo : Malheiros, 1998. p.182
36
Os direitos fundamentais nascem e se desenvolvem dentro da
Constituição Federal, sendo por ela reconhecido expressamente76, e quando tratados
os Princípios de Direito Fundamental, esses exigem a proteção mais ampla possível
dos bens protegidos, sejam eles a liberdade geral de ação, a integridade física ou a
propriedade, a restrição de um bem protegido é sempre também uma restrição de
uma posição prima facie concedida por princípio de Direito Fundamental77.
Baseando-se na proposta de direitos fundamentais, Paulo
Márcio Cruz78 procrastina ao dizer que:
(...) os direitos fundamentais não só asseguram situações de indivíduos particulares mas também servem para definir os valores e fins da estrutura política constitucional. Têm, assim, os direitos fundamentais uma finalidade individual e uma finalidade coletiva.
Nesse norte é que nasce a principal garantia fundamental
regulada pela Constituição Federal, o princípio da proteção judiciária, disposta no
artigo 5º, inciso XXXV, a qual disciplina que: “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, o que corrobora com a ampliação do
direito ao acesso ao Judiciário, antes de concretizada a lesão79.
Observa José Afonso da Silva80:
A primeira garantia que o texto revela é a de que cabe ao Poder Judiciário o monopólio da jurisdição, pois sequer se admite mais o contencioso administrativo que estava previsto na Constituição revogada. A segunda garantia consiste no direito de invocar a atividade jurisdicional sempre que se tenha como lesado ou simplesmente ameaçado um direito, individual ou não, pois a Constituição já não mais o qualifica de individual, no que andou bem, porquanto a interpretação sempre fora a de que o texto anterior já amparava direitos, de pessoas jurídicas ou de outras
76 KRETZ, Andrietta. Autonomia da vontade e eficácia horizontal dos dire itos fundamentais. Florianópolis : Momento Atual, 2005. p. 51 77 KRETZ, Andrietta. Autonomia da vontade e eficácia horizontal dos dire itos fundamentais. p. 76 78 CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do direito constitucional. Curitiba : Juruá, 2002. p. 136 79 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo . p.182 80 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo . p.432
37
instituições ou entidades não individuais, e agora hão de levar-se em conta os direitos coletivos também.
Mais especificamente sobre a matéria Paulo Márcio Cruz81
ensina que a proteção judicial aos direitos e garantias fundamentais consiste na
possibilidade de que os cidadãos invoquem tais direitos ante os tribunais e
possam obter a proteção desses.
Ademais, baseado nessa digressão é que acrescenta
relacionando a acessibilidade da Justiça – que é, ao mesmo tempo, um direito e
uma garantia de direitos – ganha especial relevância no caso dos direitos e
garantias fundamentais82.
Afora o princípio da proteção judiciária, a Constituição Federal
de 1988 trouxe a tona o princípio do devido processo legal regulamentado no artigo
5º, inciso LIV83: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal”, o qual vem a garantir a plenitude do Acesso à Justiça quando
trabalhado conjuntamente com o primeiro princípio da proteção judiciária.
O doutrinador José Afonso da Silva84 ensina que:
“O princípio do devido processo legal entra agora no Direito Constitucional positivo com um enunciado que vem da Carta Magna inglesa:ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (art. 5º, LIV). Combinado com o direito de acesso à Justiça (art. 5º XXXV) e o contraditório e a plenitude de defesa (art. 5º,LV), fecha-se o ciclo de garantias processuais. Garante-se o processo, e quando se fala em processo, e não em simples procedimentos, alude-se, sem dúvida, a formas instrumentais adequadas, a fim de que a prestação jurisdicional, quando entregue pelo Estado, dê a cada um o que é seu, segundo os imperativos da ordem jurídica. E isso envolve a
81 CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos de direito constitucional. p. 155 82 CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do direito constitucional. p. 155 83 Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. 84 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional. p. 432
38
garantia do contraditório,a plenitude do direito de defesa, a isonomia processual e a bilateralidade dos atos procedimentais”.
Bezerra85 ao destacar a matéria salienta:
A política constitucional deixou de atuar como simples tarefa de declarar direitos, como nos séculos XVIII e XIX e passou a refletir a consciência social dominante, voltando-se para a efetivação dos direitos fundamentais. Assumiu-se, assim, o encargo não só de defini-los e declara-los, mas também, e principalmente, de garanti-los, tornando-se efetivos e realmente acessíveis a todos. O Estado Social de Direito pôs-se de braços com a tarefa nova de criar mecanismos práticos de operação dos direitos fundamentais.
Norteando os Princípios fundamentais acima expostos,
Alexandre César86 traz que a garantia do Acesso à Justiça é um direito humano, e
um elemento essencial ao exercício integral da cidadania, já que não se limita
apenas ao acesso ao Poder Judiciário.
Adiante ressalta que a Constituição Federal, foi o mais
proficiente instrumento pátrio da ampliação das garantias do efetivo Acesso à
Justiça, além de atribuir os instrumentos da ação popular, juizados especiais, ação
civil pública, bem como a Defensoria Pública, obrigação estatal e direitos do
cidadão, bem como ampliou e inseriu institutos de tutela de direitos87.
Não discrepa da matéria as lições elucidadas por Mauro
Cappelletti88:
O “acesso” não é apenas um direito social fundamental, crescentemente reconhecido; ele é, também, necessariamente, o ponto central da moderna processualística. Seu estudo pressupõe um alargamento e aprofundamento dos objetivos e métodos da moderna ciência jurídica.
85 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 136 86 CESAR, Alexandre. Acesso à justiça. Cuiabá : EdUFMT, 2002. p. 23 87 CESAR, Alexandre. Acesso à justiça. Cuiabá : EdUFMT, 2002. p. 23 88 CAPPELLETTI. Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 13
39
A Constituição Federal, regula em diversos de seus
dispositivos legais, medidas significativas a combater a desigualdade entre as
classes sociais, estabelecendo o “Acesso à Justiça” como Direito Fundamental e
conferindo aos cidadãos o direito de petição aos órgãos públicos em defesa de seus
direitos, promulgando à apreciação de qualquer lesão ou ameaça a direito ao Poder
Judiciário, garantindo assim, a busca pelo efetivo Acesso à Justiça como meio
social satisfatório.
1.3. ENTRAVES AO ACESSO À JUSTIÇA
O acesso à ordem jurídica justa deve ser demonstrado de
maneiras multidisciplinares, pois os problemas fogem do alcance no âmbito do
Direito, sendo necessária a avaliação dos problemas, dificuldades, obstáculos e os
mecanismos pelos quais se dão os entraves ao Acesso à Justiça.
Oportuno ressaltar que de todos os instrumentos de controle
social na busca de um Acesso à Justiça mais equânime transcendem a
razoabilidade jurídica, influenciando tanto no sistema econômico, social, político e
educacional do povo brasileiro, os quais são problemas estruturais históricos que
interferem diretamente na efetividade da Justiça.
É possível afirmar que dentre os obstáculos do Acesso à
Justiça, verifica-se a classificação de Mauro Cappelletti como sendo a de maior
relevância para o tema, eis que discrimina de maneira satisfatória os principais
entraves, quais sejam, a possibilidade das partes no âmbito da insuficiência
econômica e reconhecimento dos direitos, a lentidão da Justiça, as custas judiciais
e os problemas especiais do interesse difuso.
1.3.1. Possibilidade das partes
Apesar de todos os avanços proporcionados no ordenamento
jurídico processual, a possibilidade das partes seja no âmbito da insuficiência
40
sócio-econômica como no reconhecimento dos direitos amparados é barreira
ainda existente e que deve ser analisado no presente momento.
1.3.1.1 Insuficiência sócio-econômica
Pela insuficiência sócio-econômica das partes é que se
evidencia a disparidade com o princípio de igualdade entre as partes legislado pela
Constituição Federal em seu artigo 5º, caput, em que “todos serão iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza”, visto que as despesas que envolvem uma
demanda judicial, acaba colocando o cidadão em desvantagens processuais.
Entende-se dos pensamentos de Cappelletti89 que as
pessoas ou organizações que possuam recursos financeiros consideráveis a
serem utilizados têm vantagens óbvias ao propor ou defender uma demanda.
Não obstante, salienta que a possibilidade de pagar as despesas
processuais da demanda para poder litigar, bem como suportar as delongas do litígio é
razão relevante no trâmite processual, sofrendo com isso, uma desigualdade de
tratamento e na efetividade da aplicação da Justiça, já que aquele que possui maiores
condições financeiras sofrerá grande vantagem no interregno litigioso.
1.3.1.2. Reconhecimento e guarda de direitos
Um dos fatores impeditivos do Acesso à Justiça tem ordem
no reconhecimento e guarda dos direitos, com efeito, amparado pela visão numa
perspectiva leiga, os quais analisam a palavra “justiça” e “direito” como
vulgarização que destoa o seu efetivo significado.
Neste diapasão é que um cidadão só usufruirá das leis
perante o poder judiciário se conhecer primeiramente os seus direitos, já que este
é o destinatário final da norma jurídica.
Ocorre, contudo, que o reconhecimento e guarda dos direitos
é matéria abordada principalmente no que condiz a educação da população, vez
89 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p.21
41
que esta deve ser iniciada desde a pré-escola, conhecendo e educando o povo
para o conhecimento das garantias e direitos fundamentais.
Cappelletti90 não destoa ao afirmar que “a educação jurídica
pessoal, se relaciona com as vantagens de recursos financeiros e diferenças de
educação, meio e status social, é um conceito muito mais rico, e de crucial
importância na determinação da acessibilidade da justiça”.
Ademais, suporta a idéia de que os diversos procedimentos
complicados, o formalismo, juízes e advogados, figurar tidas como opressoras,
fazem com que o litigante se sinta perdido, um prisioneiro num mundo estranho.91
Destarte, Alexandre César92 afirma que:
Quanto menor o poder aquisitivo do cidadão menor o seu conhecimento acerca de seus direitos e menor a sua capacidade de identificar um direito violado e passível de reparação judicial. Alem disso, é menos provável que ele conheça um advogado ou saiba como encontrar um serviço de assistência judiciária. São barreiras pessoais que necessitam ser superadas para garantir a acessibilidade da justiça.
Prova desta desinformação por parte da população é que
muitos deles perdem os seus direitos por ignorância jurídica ou receio psicológico
por não conhecer dos procedimentos processuais e principalmente as garantias
materiais existente no âmbito jurídico.
1.3.2. Lentidão da justiça
A garantia fundamental amparada pela Constituição Federal,
em que consiste na apreciação judicial de qualquer lesão ou ameaça de direitos, é
auferida pela lentidão da Justiça como sendo uma morosidade para a solução dos
litígios, consistindo em críticas dirigidas ao Poder Judiciário a delongo tempo.
90 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 22 91 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 24 92 CESAR, Alexandre. Acesso à justiça e cidadania. p. 43
42
Denota-se que o Estado como instituição jurídica legislativa
cria mecanismos que coíbem a celeridade do processo judicial, impedindo com
isso a busca ágil da solução dos problemas.
Em discurso proferido em 15/02/2006, o presidente do
Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim93 ao participar da solenidade de abertura
da 4ª Sessão Legislativa, no plenário da Câmara dos Deputados, discorreu sobre
o Poder Judiciário, afirmando que com o advento da Emenda Constitucional n.º
45, que instituiu a Reforma do Judiciário, analisa como sendo um marco para a
busca de uma Justiça mais equânime.
Extraído trechos consideráveis da íntegra do discurso
verifica-se a abordagem:
Hoje se constitui um marco na construção histórica das instituições nacionais. A morosidade dos processos judiciais e a baixa eficácia de suas decisões atuam na linha inversa do desenvolvimento nacional. Desestimula investimentos. Estimula a inadimplência. Gera impunidade. Compromete a credibilidade da democracia. Os cidadãos querem e precisam de um sistema legal e judicial que sirva à nação. Por isso, em 15 de dezembro de 2004, firmamos o pacto de estado em favor de um judiciário mais rápido e republicano. Estes foram os compromissos: a) implementar a reforma constitucional do judiciário; b) reformar o sistema recursal e de procedimentos; c) ampliar o acesso à justiça por meio das defensorias públicas; d) otimizar a atuação dos Juizados Especiais e da Justiça Itinerante; e) encontrar solução para os precatórios vencidos e não pagos; f) enfrentar, com eficácia, as violações aos
direitos humanos; g) ampliar a informação da justiça (...)94
Desta forma, registrou o Eminente Ministro que a busca da
informação ao cidadão dos direitos tutelados e a celeridade da Justiça é escopo
marcante na implantação da Reforma do Poder Judiciário, sendo medida
preventiva de uma Justiça mais equânime e célere.
93 www.stf.gov.br/imprensa/pdf/mensagemCN2006.pdf, acessado em 11/04/2006 94 www.stf.gov.br/imprensa/pdf/mensagemCN2006.pdf, acessado em 11/04/2006
43
Não obstante, em publicação da revista Mérito do Superior
Tribunal de Justiça95, a qual tem o compromisso com a celeridade da Justiça,
extrai-se a publicação atualizada das modificações impostas em busca desse
objetivo principal, o que ressalta-se:
Em 2004, o STJ desenvolveu várias ações administrativas inéditas, com o foco no combate à morosidade no Poder Judiciário. O Relatório de atividades de 2004, publicado em junho, traz as principais realizações desse primeiro ano de vigência do mandado do Presidente Edson Vidigal, em que se destacam os mutirões da Corte Especial (foram julgados 640 feitos de maio a dezembro) e o estabelecimento de 3 horários de distribuição de processos (às 10h ao meio dia e as 5h)
No capítulo inicial, intitulado atividade judicante, destaca-se a criação de dois turnos de trabalho, um feito inédito no Poder Judiciário com a nomeação de novos servidores aprovados em concursos, mais os cargos criados por lei. Ponto nevrágico do Superior Tribunal de Justiça que acumulava desde o início de 2000 um estoque de 45 mil processos nos porões do Tribunal, o setor foi reestruturado.
O Superior Tribunal de Justiça registrou uma marca de 11%
de crescimento nos julgamentos dos processos com relação ao ano de 2003 para
2004, o que demonstra a graciosa intenção dos poderes constituintes na busca
pela celeridade judiciária.
Vale ressaltar que uma das mais significativas soluções para
o problema da lentidão da Justiça são os mecanismos extrajudiciais criados para
esse fim, quais sejam: Tribunais Arbitrais, Casa da Cidadania, Procon entre outras
entidades que visam extrajudicialmente a pacificação dos litígios sem a
necessidade da busca efetiva ao Poder Judiciário.
95 www.stj.gov.br/webstj/imprensa/revistamerito, acessado em 11/04/2006
44
1.3.3. Custas judiciais
Nos moldes axiológicos apresentados pelo doutrinador
Mauro Cappelletti, as custas judiciais são demonstradas como sendo um
obstáculo para a busca efetividade da Justiça, tendo em vista que a manutenção
de uma demanda até a pacificação dos litígios é altamente dispendiosa, tendo
dentro da sociedade minorias que podem custear um processo em jurisdições
mais elevadas, como nos Tribunais Superiores.
Assim, ensina Cappelletti96:
Finalmente, os autores nesses países precisam às vezes segurar o juízo no que respeita às despesas do adversário, antes de propor a ação. Por essas razões, pode-se indagar se a regra da sucumbência não erige barreiras de custo pelo menos substanciais, quanto as criadas pelo sistema americano. De qualquer forma, torna-se claro que os altos custos, na medida em que uma ou ambas as partes devam suportá-los, constituem uma importante barreira ao acesso á justiça
Ao analisar a característica das custas processuais, vêm-se
que a nomenclatura utilizada pelo mencionado doutrinador poderia ser reportado
como sendo despesas processuais, quais sejam no entendimento de Humberto
Theodoro Júnior: “Despesas são todos os demais gastos feitos pelas partes na
prática dos atos processuais”, esta taxionomia engloba todas as despesas
norteadas dentro da instrução processual, o que visa ser a mais correta
nomenclatura no presente momento.
Enfim, entendendo as razões substanciais que norteiam tanto as
custas como as despesas processuais, infere-se que a antecipação das despesas dos
atos a serem realizadas é altamente impeditiva para a classe social mais humilde, que
não consegue arcar com excessivo dispêndio na delonga de uma demanda.
96 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 17
45
O Estado como poderio estatal, regulamentou ordinariamente
através da Lei 1.060, de 05.02.5097, o benefício da assistência judiciária aos
necessitados tanto brasileiros como estrangeiros residentes no país, como meio
de facilitar o Acesso à Justiça.
Para o legislador, necessitado é “todo aquele cuja situação
econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de
advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família, conforme disciplina o
artigo 2º, parágrafo único da Lei 1.060.
Ainda que o Estado tenha facilitado a interposição da litigância
pela solução da lide, o exame dos honorários advocatícios é outra barreira a ser
analisada, uma vez que um advogado encarece a busca ao Poder Judiciário.
Mesmo existindo a nomeação de um advogado dativo, a
discrepância gerada em entorno de tal instituto é nitidamente visível, visto o
tratamento desqualificado e inferior comparado ao advogado contratado.
Conclui-se que a pobreza é uma grave barreira que tende a
ser suportada pela sociedade, a qual se vê impedida de usufruir de direitos
fundamentais amparados pela Constituição Federal de 1988.
Uma inovação para a busca de um Acesso à Justiça efetiva é
a criação da Lei dos Juizados Especiais n. 9.099, promulgada em 26 de setembro
de 1995, a qual veio facilitar a busca efetiva pelo acesso ao Poder Judiciário, haja
vista a ausência de custas iniciais e outros procedimentos facilitadores à população
carecedora de conhecimento jurídico e poderio financeiro.
Para melhor entendimento, no próximo capítulo será
abordado sobre a evolução histórica dos Juizados Especiais, os seus Princípios e
a Competência tanto territorial como material.
97 Lei n. 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, de que trata sobre a assistência judiciária aos necessitados tanto brasileiros como estrangeiros residentes no país.
46
CAPÍTULO 2
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
2.1. BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
A criação dos Juizados Especiais Cíveis não foi a primeira
visão utilizada pelos juristas na busca pela eficácia do Acesso à Justiça frente à
sociedade brasileira, antes disso, pode-se constatar a experiência inovadora do
Estado do Rio Grande do Sul, que em 1982 implantou os Conselhos de
Conciliação e Arbitragem para resolução dos pequenos conflitos, o que vem a
demonstrar o interesse pela construção de uma Justiça cidadã.
O que nos ensina Álvaro de Sousa98 ao discorrer:
De fato, o procedimento concentrado e simples adotado nos Juizados Especiais iniciou-se no Rio Grande do Sul, onde instituiu-se o primeiro Conselho de Conciliação, no qual se pretendia resolver, extrajudicialmente, os conflitos de interesses mais simples, objetivando, assim, reduzir a quantidade de processos judiciais e, ao mesmo tempo, permitir a ampliação do acesso à justiça
Esses litígios têm recebido um atendimento diferenciado no
país, o que passou o Judiciário a pensar maduramente sobre seus institutos,
objetivando criar um novo Procedimento, visando à resolução dos conflitos de
forma clara, objetiva e principalmente mais célere, voltados para as demandas de
pouco valor econômico.
A expectativa de melhoria do poder judiciário teve como
marco inicial o advento da Lei 7.244 que criou os Juizados Especiais de Pequenas
Causas, em novembro de 1984, os quais eram integrantes da Justiça Ordinária, 98 SOUSA, Álvaro Couri Antunes. Juizados especiais federais cíveis : aspectos relevantes e o sistema recursal da Lei nº10.259/01. Rio de Janeiro : Renovar, 2004. p.53
47
destinados a julgar desavenças, quizilas menores entre cidadãos e destinados
também ao dever do Estado de prestar Justiça, tendo por objetivo principal o
processo e o julgamento por opção do autor e das causas de reduzido valor
econômico, o que vem disciplinado no artigo primeiro do mencionado diploma legal.
Abordando sobre as inovações da processualística brasileira,
Pedro Manoel Abreu99 disciplina:
No Brasil, com a edição da Lei n º 7.244, de 7 de novembro de 1984, dispondo sobre a criação e o funcionamento dos juizados especiais de pequenas causas, foram definidas como de reduzido valor econômico, observado um critério valorativo, as lides que versassem sobre direitos patrimoniais, com pedido, à data do ajuizamento, não excedente a vinte salários mínimos, tendo por objeto condenação em dinheiro e entrega de coisa certa móvel ou o cumprimento de obrigação de fazer, a cargo do fabricante ou fornecedor de bens e serviços para consumo, ou, ainda, a desconstituição e a declaração de nulidade de contrato relativo a coisas móveis e semoventes
Sobre as críticas lançadas após o advento da Lei 7.244/84,
Watanabe100 demonstra alguns aspectos controvertidos:
Após longo debate, temos afinal aprovada a Lei do Juizado Especial de Pequenas Causas (JEC). Tomou ela o n.7.244/84, sendo sancionada a 7.11.84 e publicada no dia seguinte. As controvérsias surgidas giraram em torno de alguns aspectos secundários da proposta, como por exemplo a facultatividade do patrocínio da causa por advogado. Quanto à idéia-matriz, porém, que é a de facilitar o acesso à Justiça, pouca voz discordante se ouviu. Algumas pessoas procuraram substituir a idéia de criação do Juizado Especial de Pequenas Causas pela proposta de aperfeiçoamento do procedimento sumaríssimo, não se dando conta de que não se tratava de mera formulação de um novo tipo de procedimento, e sim de um conjunto de inovações, que vão desde nova filosofia e
99 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais : o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no brasil. Florianópolis : Fundação Boiteux, 2004. p. 112/113 100 WATANABE, Kazuo et al. Juizado Especial de pequenas causas. São Paulo : Revista dos Tribunais. 1985. p. 01
48
estratégia no tratamento dos conflitos de interesses até técnicas de abreviação e simplificação procedimental.
Abordando-se o surgimento do Juizado Especial de
Pequenas Causas quando analisado os conflitos de interesses surgidos na
sociedade, verifica-se um grande número de pequenas desavenças, as quais
eram solucionadas entre os particulares através da Justiça privada, denominada
como “litigiosidade contida”.
Tal litigiosidade muitas vezes não alcançava a satisfação
plena dos conflitantes, muito pouco era levado ao poder judiciário, seja por
descrença à ordem jurídica, pela lentidão processual, pelo excesso de formalismo e
o alto custo da manutenção do processo, inviabilizando a busca efetiva da Justiça.
Tendo por cunho os preceitos abordados, o Estado sentiu a
necessidade de criar um Procedimento especial que abrangesse esses conflitos
de reduzido valor econômico, promulgando então a Lei 7.244/84 como meio de
garantir o Acesso à Justiça, o que vem ressaltado pelo doutrinador Watanabe101:
A proposta de criação do JEPC pretende, fundamentalmente, reverter essa mentalidade, resgatando ao Judiciário a credibilidade popular de que é ele merecedor e fazendo renascer no povo,
principalmente nas camadas médias e pobre, vale dizer, do cidadão comum, a confiança na justiça e o sentimento de que o direito,
qualquer que seja ele, de pequena ou grande expressão, sempre deve ser defendido. Da defesa que cada um faça de seu direito pela via normal, depende a vitalidade da ordem jurídica nacional.
Ademais, explicita:
A estratégia fundamental para o atingimento dessa meta está na facilitação do acesso à justiça. Essa é a idéia-chave do JEPC. O acesso é facilitado pela gratuidade em primeiro grau e pela possibilidade de ingresso direito no Juizado (a assistência de
advogado é facultativa, querendo, o interessado poderá ter o patrocínio da causa por profissional do Direito,a lei prevê o
101 WATANABE, Kazuo. Juizado Especial de pequenas causas. p. 02/03
49
funcionamento do Serviço de Assistência Judiciária junto ao próprio Juizado). Como outra grande preocupação foi remover aquela idéia negativa de que não vale a pena ir à Justiça, a lei procurou dar particular importância à conciliação e ainda buscou descomplicar, simplificar e sobretudo acelerar o processo102.
O Juizado Especial de Pequenas Causas pode ser
considerado de extrema relevância dentro do direito processualístico brasileiro,
uma vez que veio à tona para simplificar os procedimentos exauridos pela
primazia do rito, bem como demonstrar os altos índices de Conciliação possíveis
dentro da esfera processual, ajudando na efetividade da prestação jurisdicional,
elucidado também pelos dizeres do doutrinador Pedro Manoel Abreu103:
A Lei 7.244, de 7 de novembro de 1984, dispondo sobre a criação e funcionamento do Juizado Especial de Pequenas Causas, no dizer de Cândido Dinamarco, foi portadora de uma proposta revolucionária muito mais profunda do que a simples instituição de novo órgão no âmbito do Poder Judiciário. Em verdade o diploma em questão pretendeu ser o marco legislativo inaugural de um movimento ambicioso de revisão integral de velhos conceitos de direito processual e de abalo estrutural de antigos hábitos enraizados na consciência dos operadores jurídicos e de práticas irracionais incompatíveis com a moderna concepção de uma jurisdição democrática.
Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, o
legislador incorporou ao texto constitucional a necessidade da criação dos
chamados “juizados especiais”, competindo à União, ao Distrito Federal e aos
Estados a sua implantação no território nacional, agora como medida obrigatória,
o que anteriormente era facultativo aos Estados.
Dentro da esfera constitucional, extrai-se o art. 98 da Carta
Magna:
102 WATANABE, Kazuo. Juizado Especial de pequenas causas. p. 02/03 103 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais : o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no Brasil. p. 187
50
Art. 98. a União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados
criarão: I – juizados especiais, providos por juizes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.
Das lições de Álvaro Couri Antunes104 retira-se a temática da
Constituição Federal frente à aplicabilidade dos Princípios reguladores da busca pelo
Acesso à Justiça, tem como principal mandamento constitucional o Juizado Especial:
A Carta Política de 1988, denominada de Constituição cidadã, trouxe para o ordenamento jurídico princípios explícitos e implícitos de incremento do acesso à justiça. Aliado a isso, ganhou relevo a idéia de que a Constituição não se constitui numa mera carta de intenções, porquanto dela emanam diretamente normas garantidoras das quatro gerações de direitos (...).
O que ressalta:
Outro mandamento constitucional que viabiliza o acesso à justiça concerne à criação dos Juizados Especiais, aproximando o indivíduo do Poder Judiciário, tanto no âmbito estadual como federal, fixando princípios que permitem a todos exercitar suas pretensões com celeridade, simplicidade e sem ônus para o postulante que, em princípio, só pode ser pessoa física, ex vi do disposto no artigo 98, I, da Constituição da República e da Lei 9.099/95 que regulou os Juizados Especiais nas justiças estaduais105.
Posteriormente, com o surgimento da Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995, foram revogados os termos da Lei nº 7.244/84 e regulamentado
o dispositivo constitucional, nas formas dispostas por Pedro Manoel Abreu106:
104 SOUSA, Álvaro Couri Antunes. Juizados especiais federais cíveis : aspectos relevantes e o sistema recursal da Lei nº 10.259/01. p. 52/54 105 SOUSA, Álvaro Couri Antunes. Juizados especiais federais cíveis : aspectos relevantes e o sistema recursal da Lei nº 10.259/01. p. 52/54 106 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais cíveis : o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no Brasil. p. 113
51
O preceito constitucional em apreço foi regulamentado pela Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, que, em seu art. 3º, definiu como causas de menor complexidade as de valor não superior a quarenta salários mínimos; as enumeradas no art. 275, II do Código de Processo Civil, qualquer que seja o seu valor; a ação de despejo para uso próprio; e as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente a quarenta salários mínimos.
O Juizado Especial trouxe ao mundo jurídico uma amplitude
na Competência determinada pela Lei dos Juizados Especiais de Pequenas
Causas, ressaltando tanto as causas cujo valor não exceda quarenta salários
mínimos como às ações referidas no art. 275, II do Código de Processo Civil as
ações de despejo para uso próprio e das possessórias cujo valor não exceda o
limite fixado pela lei.
Muitos juristas analisavam o novo sistema como um avanço no
direito processualístico, mas adotaram uma visão cautelosa ao afirmar que a amplitude
da Competência da Lei dos Juizados Especiais de Pequenas Causas poderia dificultar
a celeridade do processo, uma vez visualizado o aumento de demandas judiciais.
Para melhor esclarecimento, pertinentes se fazem os
esclarecimentos oferecidos por Paulo Lúcio Nogueira107:
Com a ampliação de sua competência, contudo, o Juizado Cível corre o risco de ficar emperrado, com o trabalho acumulado, como o juízo comum, deixando de ser célere. Funcionando uma vez por semana, após o expediente normal, não terá condições de enfrentar a carga de trabalho que lhe está sendo atribuída. Assim, os objetivos que levaram o legislador a cria-lo estão sendo desvirtuados com essa ampliação de sua competência, já que não serão atingidos por falta de tempo e de pessoal devidamente preparado.
Contudo, o que se vê na atualidade é a implantação de um
Juizado Especial consistente, atuando em igualdade com as varas comuns, seja
107 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais. São Paulo : Saraiva, 1996. p. XI
52
na esfera cível, criminal, fazendária ou eleitoral, voltado a procedimentos mais
céleres, econômicos e eficazes, o que se vê das lições de Hélio Martins Costa108:
Neste passo, a Lei dos Juizados Especiais veio constituir importante instrumento jurisdicional a propiciar justiça ágil, desburocratizada, desformalizada e, principalmente, acessível a todos os cidadãos. E, o que é mais importante, trata-se de justiça de resultado rápido.
Frente à realidade exposta pela criação dos Juizados
Especiais, se denotam a diminuição substancial da lentidão na tramitação dos
Processos, adicionando à antiga Lei dos Juizados de Pequenas Causas uma
Competência maior, abordando além das demandas de causas cíveis, também as
infrações penais de menor potencial ofensivo.
2.2. CONCEITO
Os Juizados Especiais nesse interregno de onze anos desde a
sua criação, recebeu, por parte dos doutrinadores, diversas taxionomias, dentro da
concepção de Pedro Manoel Abreu se figura a determinar que o Juizado Especial é
um novo tipo de Procedimento simplificado, trazendo, ao contrário, um conjunto de
inovações que envolve desde aspectos filosóficos e estratégicos no tratamento de
conflitos de interesses, até técnicas de abreviação e simplificação procedimental109.
Para Hélio Martins Costa a facilitação do Acesso à Justiça
está interligado com a criação do Juizado Especial Cíveis, ditando ser este uma
desformalização do processo, despindo-o do rigor formal que sempre o
caracterizou, a acessibilidade à Justiça tornou-se realidade para todos os
cidadãos, indistintamente110.
108 COSTA, Helio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis : anotada e sua interpretação jurisprudencial. p. 15. 109 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais : o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no brasil. p. 208 110 COSTA, Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis. p. 20
53
Mostrando o conceito do Juizado Especial, Álvaro Couri
Antunes Sousa diz que os Juizados Especiais constituem-se numa nova
concepção da Jurisdição, vindo a consolidar uma ruptura com a velha concepção
do modelo clássico, impregnado de formalismo111.
Assevera também Ricardo Cunha Chimenti112:
Trata-se de um sistema ágil e simplificado de distribuição da Justiça pelo Estado. Cuidando das causas do cotidiano de todas as pessoas (relações de consumo, cobranças em geral, direito de vizinhança etc), independentemente da condição econômica de cada uma delas, os Juizados Especiais Cíveis aproximam a Justiça e o cidadão comum, combatendo o clima de impunidade e descontrole que hoje a todos preocupa.
Porém, Fernando da Costa Tourinho Neto113 leciona que é
um novo sistema, ou, ainda melhor, um microssistema de natureza instrumental
e de instituição constitucionalmente obrigatória destinado à rápida e efetiva
atuação do direito.
O legislador ao elaborar a Lei nº 9.099/95, em seu artigo 1º,
definiu como sendo um “órgão da justiça ordinária”, o que deve ser lembrado é
que independentemente dos conceitos abordados tanto pelos doutrinadores como
pelo legislador, vislumbra a concordância de todos na pretensão da garantia de
uma Justiça célere, eficaz e acessível.
2.3. PRINCÍPIOS
O artigo 2º da Lei 9.099/95 elucida diversos Princípios
norteadores dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, os quais convergem na
111 SOUSA, Álvaro Couri Antunes. Juizados especiais federais cíveis : aspectos relevantes e o sistema recursal da Lei nº 10.259/01. p. 57 112 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais . São Paulo : Saraiva, 2005. p. 05 113 TOURINHO NETO, Fernando da Costa e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lê 9.099/1995. 4 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2005. p. 39
54
viabilização do amplo Acesso à Justiça e na busca da Conciliação entre as partes,
sem a violação das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Antes de iniciar a taxionomia dos Princípios que orientam os
Juizados Especiais, vale a classificação da palavra Princípios e a sua amplitude
no ordenamento jurídico brasileiro.
Silva114 esclarece que a palavra princípio apresenta a acepção
de começo, de início ou um mandamento nuclear de um sistema ou também como
sendo ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas, são núcleos
de condensação, os quais confluem valores e bens constitucionais.
Grinover115 ressalta a especificidade dos Princípios em
determinados ordenamentos jurídicos especiais, o que pode ser implantado na Lei
dos Juizados Especiais, na forma que se apresenta:
Através de uma operação de síntese crítica, a ciência processual moderna fixou os preceitos fundamentais que dão forma e caráter aos sistemas processuais. Alguns desses princípios básicos são comuns a todos os sistemas, outros vigem somente em determinados ordenamentos. Assim, cada sistema processual se calca em alguns princípios que se estendem a todos os ordenamentos e em outros que lhe são próprios e específicos. É do exame dos princípios gerais que informam cada sistema que resultará qualifica-lo naquilo que tem de particular e de comum com os demais, do presente e do passado.
O que se vê ao analisar o artigo 2º da Lei nº. 9.099/95 é o
aparecimento da nomenclatura critérios e não Princípios, o que gera uma controversa
na sua aplicabilidade, uma vez que critério é aquilo que serve de base para a
comparação, ao ponto que o princípio é categoria constitucional, elemento
predominante na constituição, existindo diversos deles relacionados com o processo.
114 SILVA, Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo. p. 95 115 GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. p.50
55
Muito embora o legislador tenha utilizado a terminologia
critérios, o que se vê é a aplicabilidade de Princípios, uma vez que sua força
implica afronta não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o
sistema processual.
O doutrinador Joel Dias Figueira116 aborda com clareza a
presente análise, ressaltando que em que pese ao legislador ter-se utilizado da
expressão “critérios” orientadores do processo nos Juizados Especiais, estamos
diante de verdadeiros princípios gerais.”
Proclama pela mesma ideologia os ensinamentos de Hélio
Martins Costa117:
Cuida o dispositivo dos princípios gerais que orientam o processo em sede de Juizado Especial. Este elenco de princípios tem por principal objetivo a desformalização do processo tradicionalmente arraigado de formalismo, de modo a torná-lo mais simples, ágil, eficiente, democrático e, principalmente, mais próximo da sociedade, facilitando o acesso à justiça.
Elucidando a temática, Nogueira118 ressalta:
Todo processo, por mais simples que seja, precisa estar cercado de certos princípios que lhe dêem a devida garantia legal. Há os tradicionais princípios do “processo legal”, sem os quais este não reveste da necessária legalidade e que podem inclusive ensejar possíveis nulidades.
Vencendo a controversia da distinção entre critérios e
Princípios, conclui-se que os Princípios orientadores dos Juizados Especiais são
levados ao mundo jurídico para tornar o processo mais ágil para solucionar os
116 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 99.099/1995. 4 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais,2005. p. 68 117 COSTA. Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis : anotada e sua interpretação jurisprudencial. 2ed. Belo Horizonte : Del Rey Editora, 2000. p. 20 118 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais . São Paulo : Saraiva, 1996. p. 07
56
conflitos sociais, trazendo efetividade às partes com um resultado mais rápido e
com o objetivo principal de pacificação dos litígios.
Ademais, especificamente são os Princípios da Lei 9.099/95:
o da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e efetividade,
sendo relevante a sua apreciação discriminadamente.
2.3.1. Princípio da oralidade
O princípio da oralidade incumbe ao juiz colher diretamente
as provas, compreendendo um conjunto de outros Princípios integrativos como: o
da imediação, o da concentração dos atos processuais, da irrecorribilidade das
interlocutórias, o da identidade física do juiz.
A oralidade gera como consectuário a compressão
procedimental do processo perante os Juizados Especiais, tendente a reduzir o
Procedimento a uma só audiência, ou em outra designada em curto prazo,
visando preservar os fatos causais na memória do magistrado, levando-se em
conta a imediação, consistente no contato direto do juiz com as partes, a
intermediação das alegações com as provas, a identidade física do juiz com a
decisão da causa, gerando assim uma satisfação na aplicação da sentença.
Para o doutrinador Pedro Manoel Abreu119 a oralidade, num
sentido comum, significa o predomínio da palavra oral nas declarações perante
juízes e tribunais.
Na visão de Ricardo Cunha Chimenti120:
Visando à simplificação e à celeridade dos processos que tramitam no sistema especial, o legislador priorizou o critério da oralidade desde a apresentação do pedido inicial até a fase da execução dos julgados, reservando a forma escrita aos atos essenciais.
119 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais. p. 213 120 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais federais. p. 08/09
57
Tal foco pode ser nitidamente encontrado na possibilidade de
as partes formularem seu pedido inicial oralmente perante o juizado, o que vem
precedido pelo artigo 14, §3º da mencionada lei, realizada diretamente na
secretaria do Juizado Especial.
Não obstante, existem ainda outros procedimentos
encontrados que condizem com o princípio da oralidade elencados de forma clara
pelo doutrinador Abreu121, quais sejam:
a) Presença da outorga de mandato verbal ao advogado,
(artigo 9º, §3º. O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos
poderes especiais).
b) decisão de plano de todas as questões processuais
obstativas do prosseguimento da audiência, remetendo-se para a sentença as
demais (artigo 28 e 29. Na audiência de instrução e julgamento serão ouvidas as
partes, colhida a prova e, em seguida, proferida a sentença, bem como serão
decididos de plano todos os incidentes que possam interferir no regular
prosseguimento da audiência, sendo as demais questões decididas na sentença)
c) faculdade de formular-se contestação oral (artigo 30. A
contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa, exceto
argüição de suspeição ou impedimento do juiz que se processará na forma da
legislação em vigor)
d) relatório informal acerca de inspeção de pessoas ou coisas
(artigo 35, parágrafo único. No curso da audiência, poderá o juiz, de ofício ou a
requerimento das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar
que o faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado).
e) oposição de embargos de declaração orais (artigo 49. Os
embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão, houver obscuridade,
contradição, omissão ou dúvida) 121 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais. p. 213/214.
58
f) solicitação verbal do início da execução de sentença (artigo
52, inciso IV. Não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e
tendo havido solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á
desde logo à execução, dispensada nova citação).
O princípio da oralidade deve ter sua aplicação mais efetiva
quando tratada no âmbito do Juizado Especial, pois só assim poderá haver
realmente a tão desejada Justiça célere.
2.3.2. Princípio da simplicidade
O princípio da simplicidade tem sua finalidade aplicada no
artigo 13 da Lei dos Juizados Especiais, ao estabelecer a validade dos atos
processuais por mais simples que sejam no âmbito processual.
Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que
preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei.
O que se observa é a simplicidade nos atos processuais,
inexistindo as severas formalidades que os juízos comuns exigem, podendo ser
aplicada a Justiça de forma mais simples e objetiva, desta forma, os atos processuais
por mais simples que sejam terão validade quando alcançar seu objetivo.
Ricardo Cunha Chimenchi122 explicita as diversas aplicações
do princípio da simplicidade na legislação especial:
A citação postal das pessoas jurídicas de direito privado é efetivada pela simples entrega da correspondência ao encarregado da recepção, enquanto o CPC impõe a entrega a pessoa com poderes de gerência ou administração formal, utilizando-se os próprios argumentos do pedido inicial como resposta. Caso alguma das partes mude de endereço sem a devida comunicação ao juízo, reputar-se-á efetivada sua intimação com o simples encaminhamento da correspondência ao seu
122 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais . p. 12/13
59
endereço, tendo a nota de devolução da correspondência o mesmo valor do aviso de recebimento. Na execução do título judicial é dispensável nova citação do devedor, que presumivelmente já tem ciência da existência do processo (ainda que revel). O credor pode requerer a adjudicação do bem penhorado em vez da realização de leilões.
Já no entendimento de Luiz Cláudio Silva123 o princípio da
simplicidade não pode ser confundido com o princípio da informalidade, visto a
complexidade exigida nos procedimentos:
Este princípio se confunde um pouco com o principio da informalidade. Orienta que o processo deve ser simples, sem a complexidade exigida no procedimento comum. As causas complexas, não se recomenda processa-las perante os Juizados Especiais Cíveis, considerando que as referidas causas, via de regra, exigem a realização de prova pericial, o que não é recomendado pelo procedimento, salvo quando o reclamante já adunar à inicial a prova técnica necessária para a comprovação de seu direito articulado na peça inaugural da ação.
Analisando a presente disparidade, Fellippe Borring Rocha124
ao conceituar o princípio da simplicidade fundamenta partindo do ponto de vista
literal do termo simplicidade:
Partindo-se do ponto de vista literal temos que simplicidade, conforme ensinam os bons dicionários, é a qualidade daquilo que é simples. Portanto, parece-nos que o legislador pretendeu enfatizar que todo o procedimento da Lei nº 9.099/95 deva ser conduzido de modo claro e acessível para ser melhor compreendido pelas partes, que aqui tem papel processual decisivo. Seria, assim, uma espécie de princípio lingüístico, a afastar a utilização de termos rebuscados ou técnicos, em favor de uma melhor compreensão daqueles que não têm vivência jurídica.
123 SILVA, Luiz Cláudio. Os juizados especiais cíveis na doutrina e na práti ca forense. Rio de Janeiro : Forense, 1997. p. 07 124 ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis : aspectos polêmicos da lei nº 9.099 de 26/9/1995. Rio de Janeiro : Lúmen júris. 2003. p. 09
60
Assim, o princípio da simplicidade se coaduna com o
princípio da informalidade, os quais serviram de base para o Acesso à Justiça de
maneira mais efetiva, buscando a celeridade no processo como foco principal,
uma vez ausente a necessidade de excesso de formalidades apresentados nas
demais varas cíveis, bem como o exagero de palavras rebuscadas e técnicas que
dificultam o entendimento para a classe juridicamente leiga.
2.3.3. Princípio da economia processual
O princípio da economia processual visa a obtenção do
máximo de rendimento da lei com o mínimo de atos processuais125, o qual vem
interligado com o princípio da gratuidade no primeiro grau de Jurisdição.
Motivado pela isenção do pagamento de custas iniciais, pode
ser enquadrado dentro da busca pelo Acesso à Justiça.
Existem exceções na regra apresentada, uma vez que
constatando a existência da litigância de má-fé, será o vencido condenado ao
pagamento das custas e honorários advocatícios, na forma apresentada pelo
artigo 54 e 55 da Lei 9.099/95126.
Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em primeiro grau de jurisdição, do pagamento das custas, taxas ou despesas.
Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o vencido em custas e honorários de advogado, ressalvado os casos de litigância de má-fé. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e honorários de advogado, que serão fixados entre 10% (dez por cento) e 20% (vinte por cento) do valor da condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido da causa.
Para muitos doutrinadores a isenção do pagamento das
despesas, taxa e custas iniciais são motivos para dificultar o Acesso à Justiça,
125 CHIMENTI. Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 13 126 Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995.
61
haja vista que será utilizada como motivo de vingança privada, conforme leciona o
doutrinador André Melo127:
O motivo da isenção absoluta é o chamado acesso à justiça. Contudo, isto dificulta o acesso, pois muitos utilizam o sistema como motivo de vingança privada. Justiça gratuita sim, mas para quem não pode pagar. Aliás, justiça acessível não precisa ser necessariamente gratuita, e, sim, estar disponibilizada e com rapidez, pois senão questões extrajudicialmente, bastaria agravar as conseqüências da derrota em um processo judicial, como uma espécie de multa.
Porém, deve ser levado em consideração que o princípio da
gratuidade da Justiça é de extrema relevância no âmbito dos Juizados Especiais,
uma vez que foi criado com a finalidade de efetivar o Acesso à Justiça para a
classe menos favorável financeiramente.
Desta forma, enfocando o princípio da economia processual,
têm-se de acordo com Felipppe Rocha que o poder judiciário deve tirar o máximo
de proveito de um processo para torná-lo efetivo, transformando-o num processo
de resultados128.
Tal princípio consiste na concentração dos atos processuais,
tornando o Procedimento o mais célere possível. Um exemplo verificado na Lei
9.099/95, condiz com a admissibilidade de um único recurso contra as decisões
proferidas pelo juiz de primeira instância, na forma apresentada pelo artigo 82:
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de 3 (três) juizes, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado129.
127 MELO, André Luis Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais comentada: jurisprudência, legislação e prática. São Paulo : Iglu, 2000. p.17 128 ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis : aspectos polêmicos da lei nº 9.099 de 26/9/1995. p. 10 129 Lei 9.099/95, de 26 de setembro de 1995.
62
Contudo, verifica-se que o princípio da economia processual
visa o máximo de resultados com o mínimo de esforço ou atividade processual,
proporcionando às partes um resultado satisfatório com um mínimo de esforço
processual.
2.3.4. Princípio da celeridade ou efetividade
O processo, em geral, no que tange ao seu andamento,
pauta-se sobre o binômio rapidez e segurança. Quanto mais dilatado é um
Procedimento, mais profunda é a atividade cognitiva do julgador e maiores as
possibilidades de intervenção das partes na construção da decisão final130.
Porém, muito embora seja realidade a dilação probatória como
sendo a melhor forma da busca pela verdade real, o que este princípio busca dentro
do ordenamento jurídico brasileiro é a celeridade apregoada de forma sintética,
recaindo sobre a rapidez processual o principal enfoque para a segurança jurídica.
Segundo Felippe Borring Rocha131 os Juizados Especiais foram
construídos sobre a tônica equacionando tempo e dinheiro, de um lado, com as
restrições do Procedimento sumaríssimo fica basicamente restrito às questões
referentes aos direitos patrimoniais, por outro lado, como a celeridade é da essência
do Procedimento, o autor, ao optar por esta via excepcional, implicitamente está
abrindo mão da segurança jurídica que teria no juízo comum em favor da celeridade.
A essência do processo no juízo especial consiste na
dinamização da prestação jurisdicional, que, em última análise, é objetivada como
meta principal, por representar o elemento que mais o diferencia do processo comum.
130 ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis : aspectos polêmicos da lei 9.099, de 26/9/1995. p. 10 131 ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis : aspectos polêmicos da lei 9.099, de 26/9/1995. p. 11
63
Exemplos dessa dinamização, subsumida a efetividade são
elencadas por Abreu132 de forma clara:
Instauração imediata da conciliação quando ambos os litigantes comparecem ao juizado (artigo 17); impossibilidade de realizar-se citação por edital (artigo 18, §2º); prolação imediata de sentença ausente o demandado (artigo 23);condução de testemunha faltosa (artigo 34, §2º); inspeção pessoal no curso de audiência (artigo 35, parágrafo único), solução do litígio pelo meio mais rápido e eficaz, preferencialmente com dispensa de alienação judicial (artigo 53, §2º)
A redução e simplicidade dos atos e termos, a unicidade da
recorribilidade das decisões, a concentração dos atos, tudo foi disciplinado com a
finalidade de fornecer ao Procedimento maior celeridade.
2.4. DA CONCILIAÇÃO E DA TRANSAÇÃO
A lei dos Juizados Especiais consagra em seu artigo 2º a
busca pela Conciliação e Transação sempre que possível, ocorre que a distinção
entre os institutos deve ser analisada antes de adentrar na especificidade da
matéria, uma vez que embora semelhantes apresentam variações autônomas.
A Transação é o negócio jurídico bilateral pelo qual as partes
interessadas, fazendo-se concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigações
litigiosas ou duvidosas”133, já a Conciliação é a “composição amigável sem que se
verifique alguma concessão por quaisquer das partes a respeito do pretenso
direito alegado ou extinção de obrigação civil ou comercial”134.
O que apresenta é o agrupamento dos dois institutos
formalizando a autocomposição, de forma que as partes que conciliam não
132 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais : desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no brasil. p. 214/215 133 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. p. 75 134 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. p. 75
64
transacionam e as que transacionam não conciliam, mas realizam a
autocomposição, levando a extinção do processo com julgamento do mérito.
Ressalta que a realização de um acordo parcial dentro da
lide é aceitável na legislação especial, prosseguindo o feito com relação a
quantia remanescente.
No Procedimento especial, a Conciliação é apresentada
como o objetivo primordial a ser perseguido, para a qual todos os esforços devem
ser elevados, não obstante, o artigo 58 da Lei Especial traz consigo a
possibilidade de causas não compreendidas na Competência do Juizado Especial
possam nele ser conciliadas.
Tampouco apresentar a distinção entre os institutos, a
adequação destes está interligada com os demais Princípios orientadores no
universo processual civil, quais sejam: contraditório, ampla defesa, igualdade entre
as partes, segurança jurídica, relação entre causa e pedido etc., ensejam também
a sua aplicabilidade na legislação especial.
2.5 COMPETÊNCIA
No artigo terceiro da Lei dos Juizados Especiais, o legislador
definiu a Competência conjugando os critérios de valor, matéria e condição
financeira da pessoa, definindo a Competência nas causas de menor complexidade,
sendo aquelas de valor não superior a quarenta vezes o salário mínimo; as
enumeradas no artigo 275, inciso II do Código de Processo Civil, qualquer que seja
o seu valor; a ação de despejo para uso próprio, bem com as ações possessórias
sobre bens imóveis de valor não excedente a quarenta vezes o salário mínimo.
Porém estão excluídos da Competência da legislação
especial, a relação processual do incapaz, do preso, das pessoas jurídicas de
direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil,
na forma apresentada pelo artigo oitavo.
65
Ficam, ainda, excluídas as causas de natureza alimentar,
falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a
acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que
de cunho patrimonial, relacionados no §2º, do artigo terceiro da mencionada Lei.
Restando constatado no curso da demanda a prisão de
alguma das partes ou a declaração de incapaz, bem como ser decretada a
falência da pessoa jurídica serão os autos remetidos ao cartório para nova
distribuição para o juízo comum e posterior prosseguimento da lide.
Por outro lado, apenas as pessoas físicas capazes e as
microempresas são admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluídos
os cessionários de direito de pessoa jurídica. Isso significa que, excluídas as
microempresas, as pessoas jurídicas apenas poderão figurar no pólo passivo da
relação processual135.
Oportuno ressaltar que merecem tratamento especial ainda
as pessoas chamadas formais, tendo, por exemplo, o condomínio e o espólio,
podendo estes serem admitidos no pólo ativo da relação processual.
Analisando as hipóteses apresentadas, Costa136 demonstra
com claridade a sua posição:
Destarte, é possível concluir que o critério do legislador ao estabelecer a competência dos Juizados Especiais foi não só em razão do valor da causa mas, também, em razão da matéria, não limitando, neste caso, o valor de alçada como pressuposto para a propositura da ação perante os Juizados Especiais. Encontram-se também no elenco de competência dos Juizados Especiais as ações de despejo para uso próprio. Note-seque, neste caso, também não há limitação quanto ao valor da causa, sendo a competência, também, determinada em razão da matéria.
135 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais : o desafio da consolidação de uma justiça cidadã no brasil. p. 219 136 COSTA, Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis : anotada e sua interpretação jurisprudencial. p. 25
66
Porquanto, verifica-se que o doutrinador dividiu a Competência
em razão da matéria e do valor, as quais devem ser analisadas separadamente.
Com relação a Competência em razão da matéria, reporta-se
o legislador para o artigo 275, II do Código de Processo Civil ao arrolar uma série
de ações cabíveis no Juizado Especial independentemente do valor da causa,
uma vez observado o Procedimento sumário, quais sejam:
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condomínio de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução;
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial.
Observa-se no parágrafo único do presente dispositivo a
inviabilidade do Procedimento nas ações relativas ao estado e à capacidade
das pessoas.
No que se reporta a Competência em razão do valor da
ação, denota-se a limitação dos 40 (quarenta salários mínimos) estipulados no
artigo 3º, inciso I da Lei 9.099/95, sendo admissível o conhecimento e julgamento
de qualquer ação que obedeça ao limite fixado.
Outra controvérsia apresentada na Competência do Juizado
Especial é no que tange o julgamento das ações de Procedimento executivo,
67
dispostas no artigo 3º, §1º da Lei especial, o qual estabelece a Competência dos
Juizados Especiais para a execução de seus julgados, em que a limitação ao valor
de alçada de 40 (quarenta salários mínimos) alcança cabe somente aos títulos
executivos extrajudiciais. Tal limite não se impõe aos julgados no Juizado Especial
se observar o direito de renúncia ao crédito excedente, conforme artigo 3º, § 3º da
Lei especial137, tampouco na hipótese de Conciliação, podendo neste caso
ultrapassar a quantia limítrofe, bem como em fase executiva.
Assim, pertinente ressaltar a possibilidade de renúncia do
crédito excedente, podendo o Autor disponibilizar das vantagens atribuídas pela Lei
dos Juizados Especiais, bastado que o mesmo manifeste a sua vontade na própria
petição inicial, propondo a demanda dentro da alçada estabelecida legalmente.
Nos mesmos entendimentos Joel Dias Figueira138 se posiciona:
A renúncia ao crédito excedente, no caso, decorre do próprio texto legal, bastando que o autor simplesmente proponha sua demanda perante o Juizado Especial Cível, tratando-se, via de conseqüência, de renúncia tácita. Por isso, para evitar possíveis danos ao auto, que talvez tenha realizado interpretação equivocada ou não adequada à orientação do magistrado ou da doutrina e jurisprudência dominante, é de bom alvitre que o juiz conceda ao postulante prazo de cinco dias a fim de que esclareça se, de fato, pretende renunciar ao crédito excedente ao limite de quarenta salários mínimos.
Ademais, não se pode deixar de considerar o severo resultado que decorre da renúncia (tácita ou expressa) do crédito excedente, qual seja, a recusa definitiva do direito material relativo à quantia que sobejar ao limite de alçada dos juizados, e, portanto, causa extintiva da obrigação, obstando o demandante a postular em outra ação a quantia excedente.
137 COSTA, Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis : anotada e sua interpretação jurisprudencial. p. 25 138 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais. p. 81
68
Manifestando a renúncia do direito material por parte do
Autor, este não poderá efetuar a cobrança do crédito remanescente em demanda
diversa, uma vez esgotado o seu pedido.
Desta forma, as prerrogativas formalizadas pelo advento da
Lei 9.099/95 foram reportadas às relações jurídicas na tentativa de alcançar a
efetividade do Acesso à Justiça, seja através da limitação ao valor da causa ou da
matéria, bem como pelos benefícios da gratuidade da Justiça e pela ausência de
custas processuais, faz com que o cidadão possa confiar no Poder Judiciário
como alavanca na busca da prestação jurisdicional e da Justiça.
Ademais, será necessário analisar o Acesso à Justiça no
Juizado Especial, verificando o seu processo e Procedimento adotado com o
advento da Lei 9.099/95, passando para o objetivo dos Juizados Especiais como
alcance do Acesso à Justiça.
69
CAPÍTULO 3
O ACESSO À JUSTIÇA NO JUIZADO ESPECIAL
3.1. O PROCESSO NOS JUIZADOS ESPECIAIS
A implantação dos Juizados Especiais no ordenamento
jurídico brasileiro reporta um meio facilitador para a busca do Acesso à Justiça,
uma vez ausente formalidades exaustivas encontradas no Procedimento comum
ordinário, imputado à apreciação das Varas Cíveis Comuns.
Humberto Theodoro Júnior139 menciona a criação da Lei
9.099 de 1995 como movimento de alcance do Acesso à Justiça:
Foi dentro desse movimento de maior acesso à justiça que a Constituição de 1988 cogitou da implantação dos juizados de pequenas causas (art.24, inc.X) ou Juizados Especiais com competência para causas cíveis de menor complexidade e infrações de menor potencial ofensivo (art.98, inc.I).
A grande relevância dos Juizados Especiais está justamente
na iniciativa de facilitar a composição e a Transação entre as partes fugindo da
litigiosidade contida para uma Justiça consensual.
Dentro desse norte, o processo é visto como instrumento de
busca da pretensão jurisdicional, o qual deve ser orientado pelos Princípios dos
Juizados Especiais, quais sejam: da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual, celeridade e efetividade, buscando sempre que possível a autocomposição.
A presença do quadrinômio classificado por Figueira Júnior140,
rapidez, segurança, economia e efetividade, são visto como valores nitidamente
marcantes dentro do trâmite processual nos Juizados Especiais Cíveis:
139 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 5 ed. 3 vol. Rio de Janeiro : Forense. 2005. p. 458
70
Dessa maneira, estamos diante de tutela diferenciada dos direitos, em que o instrumento deve, necessariamente, fornecer aos litigantes os indispensáveis valores representados pelo quadrinômio rapidez, segurança, economia e efetividade.
Muito embora existam os Princípios norteadores dos
Juizados Especiais como facilitador do alcance ao Acesso à Justiça, vê-se que a
satisfação da pretensão só será alcançada quando da autocomposição ou da
prolação da sentença pelo Estado-Juiz, que por intermédio dos fatos e provas
colacionados aos autos reporta sua decisão, finalizando o processo.
Uma inovação levantada pela Lei 9.099, de 1995 foi a
possibilidade de Juizes Leigos proferirem decisões pondo fim ao processo, bem
como a intervenção de Conciliadores para presidir audiências de Conciliação,
concomitantemente a essa ideologia a dispensa de advogado é outro item que
deve ser considerado com grande valia frente à celeridade e informalidade
processual, merecendo a sua análise minuciosa.
3.1.1. Conciliadores e juízes leigos
A figura do Juiz dentro da legislação especial é vista como
um meio de atender os fins sociais da lei, bem como as exigência do bem comum,
dotando em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, na forma
disciplinada pelo artigo 6º da Lei 9.099, de 1995.
Simultaneamente o artigo quinto da Lei Especial preleciona que
o juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas,
para apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica.
No que tange a apreciação da experiência comum entende-se
por decorrente da observância daquilo que ordinariamente acontece, da vivência
140 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 87
71
própria e do conhecimento histórico141 já experiência técnica aquela decorrente de
estudos específicos, os quais podem determinar a dispensa de uma inspeção142.
O foco principal dentro da presente previsão legal é tentar
reforçar a ideologia do Juiz como meio de aplicação da Justiça, maximizando o
bem comum, deixando de lado a ideologia positivista de aplicação da lei.
Por tal motivo que a Lei dos Juizados Especiais tende
sempre que possível à obtenção da Conciliação e Transação, para que ambas as
partes possam sair satisfeitas da litigiosidade, o que não ocorre no caso de uma
sentença, em que muitas vezes a insatisfação perfaz de modo mais claro.
Nessa esteira, Chimenti143 preleciona:
Reiterando a previsão do art. 5º da LICC, o dispositivo reforça o ideário do juiz como instrumento da realização da Justiça no caso concreto e não como simples autônomo repetidor da sempre genérica legal.
Coadunando com a dogmática Figueira144 aborda:
Em outras palavras, a aproximação da pacificação social somente vem a ser alcançada ou pretensamente alcançada quando a sentença proferida consegue atingir um nível tal de aceitação bilateral (entre autor e réu) e difusa (partes, Estado-juiz e a coletividade) autorizando-o a dizer então que, provavelmente, se chegou à verdade hermenêutica pela congruência no exercício do poder de autoridade, liderança e reputação e, por conseguinte, reduzir sensivelmente no mundo jurídico e fatual as tensões e violências apresentadas. O alcance desse escopo depende do conteúdo ideológico e dogmático da decisão, tal como sistematizada pelo magistrado, suficientemente capaz de fazer justiça. Contudo, traçar o perfil jurídico e ideológico do que venha a
141 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 74 142 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 74 143 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 74 144 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários da Lei 9.099/1995. p. 148
72
ser uma decisão justa é, por certo, tarefa nada fácil, seja pela vagueza que a expressão traz em seu próprio âmago ou pelos contornos filosóficos e sociológicos delineados.
Concluindo seu posicionamento Figueira conceitua “sentença
justa” aquela que sem a preocupação de mergulhar em profundidade em oceano
de formalismo, vem a solucionar o litígio nos limites formulados na inicial e em
consonância com a causa de pedir145.
Como auxiliares da Justiça, têm-se a presença dos
conciliares e dos juizes leigos que primam pela tentativa de uma Conciliação entre
as partes, sendo posteriormente reduzida a termo e homologada pelo juiz togado
na forma elucidada no artigo 22 e parágrafo único da Lei 9.099 de 1995.
Art. 22. A conciliação será conduzida pelo juiz ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.
Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo juiz togado, mediante sentença com eficácia de título executivo.
Muitos doutrinadores se opõem a nomenclatura de “juiz
leigo”, ressaltando que leigo seria um auxiliar da Justiça despido de forma jurídica,
sendo a melhor interpretação aquela que consiste como indicativa de oposição do
juiz togado, ou seja, advogado com mais de cinco anos de experiência146.
Nogueira147 negativa a figura dos Conciliadores e juizes
leigos afirmando que o juiz togado deveria figurar como único Conciliador:
A única restrição que colocamos aos Juizados é quanto à criação de conciliadores e juizes leigos – deveria funcionar como único conciliador o juiz togado. Ora, o conciliador natural na esfera judicial deve ser o juiz togado, não só por ser remunerado para esse
145 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 8 146 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 152 147 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais. p. 16
73
serviço, como também por ser próprio de sua função, exigindo-se acima de tudo imparcialidade e segurança na fase conciliatória.
Mormente a defesa pela figura dos Conciliadores e juizes
togados é veemente defendida pelos doutrinadores, tendo como requisito para a
sua admissibilidade a opção de escolha de pessoas com conhecimento jurídico,
preferencialmente bacharéis em Direito, ou estagiários de Direito do último ano do
curso acadêmico148.
Salienta-se, ainda, sobre o impedimento dos juizes leigos de
exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho de suas
funções, na forma disciplinada pelo parágrafo único do artigo 7 da Lei 9.099 de 1995.
Com relação aos Conciliadores a Lei não impõe qualquer
limitação de impedimento para exercício da advocacia no âmbito dos Juizados
Especiais enquanto exercer sua função149.
3.1.2. Das partes
Constituindo a capacidade das partes no âmbito dos
Juizados Especiais Cíveis, o artigo oitavo dispõe da seguinte forma:
Art. 8º. Não poderão ser partes, no processo instituído por esta
Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
§1.º Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas.
§2.º O maior de 18 (dezoito) anos poderá ser autor, independentemente de assistência, inclusive para fins de conciliação.
148 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 154 149 COSTA, Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis: anotada e sua interpretação jurisprudencial. p. 52
74
O dispositivo legal elucida de forma taxativa as pessoas que
não podem figurar no âmbito do Juizado Especial, seja tanto na parte passiva
quanto na parte ativa, justificando-se pela simplicidade e informalidade que
norteiam os Procedimentos do Juizado Especial150.
Poderão figurar como parte ativa no processo, as pessoas
físicas maiores de 18 (dezoito) anos, sem a assistência de seus representantes,
excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas.
Não obstante, visualiza-se a possibilidade de as firmas
individuais ou denominadas microempresas possuírem legitimidade para propor ação
nos Juizados Especiais já que favorecida pelo artigo 38 da Lei 9.841, de 05 de outubro
de 1999 e posteriormente pelo enunciado n.º 47 e 48 dos Juizados Especiais:
Art. 38. Aplica-se ás microempresas o disposto o §1º do art. 8º da Lei 9.099/95, de 26 de setembro de 1995, passando essas empresas, assim como as pessoas físicas capazes, a serem admitidas a proporem ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direitos de pessoas jurídicas.
Enunciado 47. A microempresa para propor ação no âmbito dos Juizados Especiais deverá instruir o pedido com documento de sua condição.
Enunciado 48. O disposto no parágrafo 1º, do artigo 9º, da Lei 9.099/95, é aplicável às microempresas.
Excluem-se as empresas de pequeno porte, pela força do
enunciado 49 dos Juizados Especiais.
Ainda, poderão ser parte autora na lide os condomínios, na
forma do Enunciado 09 e o espólio, por ser este entidade efêmera, instituída para
administração de direitos e obrigações deixados pelo de cujus, mas que já ao
150 COSTA, Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis: anotada e sua interpretação jurisprudencial. p. 54
75
momento da sucessão consideram-se transferidos aos seus herdeiros legítimos e
testamentários151.
A Lei dos Juizados Especiais nada obsta a possibilidade de
pessoas jurídicas figurarem no pólo passivo da demanda, podendo ainda efetuar
pedido contraposto em fase de resposta152.
Ainda, se no curso do processo sobrevier algum dos
impedimentos constantes deste artigo, extinguir-se-á o processo sem julgamento
do mérito, na forma do artigo 51, inciso IV da mencionada Lei, ou se for possível
reaproveitá-lo, deverá o juiz remetê-lo para redistribuição ao juízo competente153.
3.1.3. Da assistência do advogado
Em primeira instância, o patrocínio da demanda sem a
presença de procurador é facultativa, nas causas de valor até vinte salários
mínimos nas causas de Competência dos Juizados Especiais, elucidada tanto
pelo artigo 13 da Constituição da República Federativa do Brasil como pelo artigo
9º da Lei dos Juizados Especiais.
Tal preceito é razoável frente à busca do Acesso à Justiça,
uma vez que muitas pessoas não tutelavam seus direitos por falta de condições
financeiras de arcar com as despesas de honorários advocatícios.
No caso de conferir poderes ao advogado, a Lei dos
Juizados Especiais possibilita a constituição por mandato oral, salvo quanto aos
poderes especiais, quais sejam: receber citação inicial, confessar, reconhecer a
151 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 166 152 MELO, André Luis Alves de. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais comen tada: jurisprudência, legislação e prática. São Paulo : Iglu. 2000. p.22. 153 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias . Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 164
76
procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito, receber, dar
quitação e firmar compromisso154.
Figueira155 demonstra a sua concepção:
Versando a espécie sobre mandato verbal, esse registro haverá de ser feito no termo de assentada da audiência, de maneira resumida, segundo orientação do art. 13, §3º da Lei 9.099/1995. É de bom alvitre o apontamento da outorga do mandato verbal, sem qualquer menção aos poderes conferidos ao mandatário, implícitos, no caso, para o foro geral.
Como já foi abordada a obrigatoriedade do patrocínio da
causa por advogado reside nas causas ou defesas do rei, quando o limite da
valoração da inicial ultrapasse vinte salários mínimos, bem como nas hipóteses de
recursos ou impugnação à assistência do advogado156.
3.1.4. Das provas
Como já foi abordado o juiz poderá dirigir o processo com
ampla liberdade para determinar as provas a serem produzidas, podendo apreciá-
las e dar especial valor às regras da experiência comum ou técnica para a
prolação da sentença, admitindo-se todos os meios de provas moralmente
legítimos, as quais deverão ser produzidas em audiência de instrução e
julgamento independentemente de requerimento prévio157.
Ocorre, contudo, que a Lei dos Juizados Especiais em sua
parte Civil exclui algumas provas a serem produzidas no interregno processual,
visando justamente à celeridade da demanda e a simplicidade dos atos, como é o
154 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 41 ed. Rio de Janeiro : Forense. 2004. p. 96 155 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 17. 156 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 177 157 MELO, André Luis Alves de e outros.Lei dos juizados especiais cíveis e criminais comentada. p. 30/31
77
exemplo da prova pericial, que exigirá uma maior complexidade e morosidade na
apreciação da verdade real.
Segundo Chimenti158 quando calhar à necessidade de
produção de prova pericial, o processo deverá ser extinto e remetido a uma das
Varas Comuns, contudo, informa que a Lei Especial possibilita a produção de
inspeção judicial a ser realizada pelo Magistrado ou por pessoa de sua confiança:
Quando a solução do litígio envolve questões de fato que realmente exijam a realização de intrincada prova, após a tentativa de conciliação o processo deve ser extinto e as partes encaminhadas para a Justiça Comum, nos termos do inciso II do art. 51 da Lei n. 9.099/95. É a real complexidade probatória que afasta a competência dos Juizados Especiais.”
Nesta esteira, o Enunciado n.º 12 dos Juizados Especiais
possibilita a admissão de prova pericial informal nas hipóteses formuladas pelo
artigo 35 da Lei 9.099/95, quais sejam: inquirição de técnicos de sua confiança e a
apresentação de parecer técnico trazidos pelas partes aos autos.
Com relação ao momento que as provas devem ser produzidas
esta não está limitada à inicial, podendo ser juntada aos autos até a data da audiência
de instrução e julgamento, incluindo documentos novos ou não, embora seja
recomendável a sua apresentação anteriormente para prévia análise do Magistrado159.
3.1.5. Dos atos processuais
Os atos processuais cabíveis nos Juizados Especiais estão
arrolados nos artigos 12 e 13 da Lei Especial, disciplinados da seguinte forma:
Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se
em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.
158 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 188 159 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 189
78
Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que
preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei.
Tais dispositivos trazem consigo as lições trazidas pelo
princípio da economia processual, uma vez que se extrai a validade dos atos
quando alcançarem a sua finalidade, podendo ser solicitado pelo juiz atos
processuais em outras comarcas por qualquer meio idôneo de comunicação, bem
como a gravação dos atos processuais em fita magnética que será inutilizada
após o transito em julgado da decisão160.
Advém também a idéia de que não será necessário registrar
todos os atos processuais, mas aqueles que demonstrarem ser essenciais para o
processo.
O diploma legal acima menciona dispõe sobre o horário dos
atos processuais, que poderão ser realizados à noite, independentemente de
autorização judicial, o que não ocorre nas Varas Cíveis comuns, vez que o artigo 172
do Código de Processo Civil viabiliza somente em dias úteis, das seis às vinte horas.
3.2. O PROCEDIMENTO NOS JUIZADOS ESPECIAIS
A escolha do juízo especial é faculdade exclusiva do Autor, que
será beneficiado pelo quadrinômio celeridade, segurança jurídica, economia processual
e efetividade, medida em que o réu não terá qualquer viabilidade de se opor a escolha
tomada pela parte demandante, a não ser por exceção de incompetência.
Realizando uma avaliação dos procedimentos dos Juizados
Especiais, Figueira161 sistematiza as vantagens e desvantagens que o autor terá
com a escolha do juízo especial:
160 MELO, André Luis Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais comentada. p. 26 161 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 88
79
Vejamos então as possíveis vantagens: 1ª) princípio da oralidade em grau máximo (= simplicidade, informalidade, rapidez e efetividade do processo); 2ª) inexistência de sucumbências em primeiro grau de jurisdição; 3ª) possibilidade de postular em juízo desacompanhado de advogado, nas causas valoradas até vinte salários mínimos; 4ª) opção pela arbitragem durante o processo já instaurado; 5ª) cognição restrita a certas matérias, no plano horizontal (=amplitude) e cognição ampla no plano vertical (=profundidade); 6ª) impossibilidade jurídica de intervenção de terceiros e de declaratória incidental; 7ª) grande possibilidade de ser o processo concluído num único ato; 8ª) sentenças e acórdãos concisos; 9ª) sistema recursal reduzido, hábil em facilitar a efetivação do processo (=rapidez).
As possíveis desvantagens: 1ª) polêmicas e incertezas criadas por alguns operadores do Direito a respeito da aplicação dos institutos da tutela antecipatória e acautelatória ao sistema dos Juizados Especiais (=dúvida – no nosso entende infundada – sobre a aplicação subsidiária do CPC à Lei 9.099/1995);2ª) não utilização dos ritos especiais diversificados previstos no CPC ou em leis extravagantes os quais viabilizam tutela diferenciada; 3ª) renúncia a crédito excedente a quarenta vezes ao salário mínimo; 4ª) restrição à prova pericial e ao número de testemunhas; 5ª) em geral, redução dos prazos para prática de atos processuais; 6ª) possibilidade de se verificar a extinção do processo por complexidade da matéria probatória, inadequação procedimental ou necessidade de prosseguimento com citação editalícia; 7ª) possibilidade de as audiências virem a ser presididas por conciliadores não bacharéis ou por juizes não togados; 8ª) inexistência de fase de alegações finais; 9ª) sistema recursal reduzido; 10ª) limitação ao duplo grau de jurisdição (envio das decisões para os Colégios Recursais como segunda e última instância); 11ª) descabimento de ação rescisória162.
O Autor ao optar pelo Juizado Especial estará optando
conjuntamente por um Procedimento sumaríssimo, com referência aos Princípios
162 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à Lei 9.099/1995. p. 88
80
norteadores, quais sejam: da simplicidade, da informalidade, da economia
processual e da celeridade.
Figueira163 discorre sobre o Procedimento sumaríssimo:
Note-se que o procedimento estabelecido na Lei 9.099/1995, como dissemos, não é sumário, mas, sim, sumaríssimo – como fez questão de ressaltar o constituinte de 1988 – isto é, um rito extremamente sumário, cujas características são a rapidez, a simplicidade, a informalidade, a concentração dos atos e a economia processual. Em outros termos, um processo fundado na oralidade em grau máximo. Com o advento da Lei 8.952/1994, parece que, finalmente, conseguimos chegar a uma boa técnica procedimental e terminológica, o procedimento sumário, previsto no art. 272 c/c 275 do CPC, e o sumaríssimo regulado nesta lei especial, cuja distinção entre ambos é,sem dúvida, flagrante.
Claro que a escolha caberá ao Autor que avaliará o melhor
juízo para a impetração de sua demanda, podendo até se for o caso renunciar o
valor excedente cabível na Competência dos Juizados Especiais com a finalidade
da obtenção de um processo mais célere e a satisfação de seu direito num curto
tempo e sem tantas formalidades.
3.2.1. Do pedido
O pedido dentro dos Juizados Especiais será admitido
digitado ou manuscrito pelo interessado, podendo ser reduzido a termo junto à
Secretaria do Juizado Especial, possibilitando com isso um maior Acesso à Justiça
para as pessoas carentes tanto financeiramente como juridicamente, o que se vê
pelas lições de Figueira164:
De uma forma geral, o que constatamos nacionalmente é a facilitação normativa e fática do acesso à Justiça e, a cada dia que passa, tem-se a sensação de que a notícia da “boa nova” se espalha, e cada vez
163 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à lei 9.099/1995. p. 74 164 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à Lei 9.099/1995. p. 172
81
mais o jurisdicionado, em particular as camadas mais carentes da comunidade, tem acorrido às secretarias dos Juizados para formularem seus requerimentos, simples e informais.
Por André Luis Melo165 o pedido “é um dos pontos mais
importante da ação, pois a fundamentação é facilmente modificada até na
sentença, mas o pedido não”.
O artigo 14 da Lei 9.099 de 1995 ordena os requisitos do
pedido, que deverão obedecer a uma linguagem clara, simples e acessível,
constando o nome, a qualificação, endereço das partes, os fatos e fundamentos
de forma sucinta, o objeto e seu valor, sendo lícito formular pedido genérico
quando não for possível determinar a extensão da obrigação.
No caso de pedidos alternativos e cumulados, deverão
satisfazer os requisitos da Competência dos Juizados Especiais e sua soma não
poderá exceder o limite de quarenta salários mínimos e ultrapassando os vinte
salários mínimos deverá ser acompanhado de advogado166.
O Autor que procurar a Secretaria do Juizado Especial para
formular seu pedido, sairá intimado para a audiência de Conciliação que será
designada no próprio ato pelo servidor judicial167.
Situações raras podem ocorrem no caso de ambas as partes
procurarem o Juizado Especial na tentativa de uma composição, será instaurada
sessão de Conciliação, dispensando o registro de prévio pedido e citação e no
caso de existir pedido contraposto poderá ser dispensada a contestação formal e
ambos serão apreciados na mesma sentença168.
165 MELO, André Luis Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais comentada. p. 26. 166 MELO, André Luis Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais comentada. p. 27 167 Artigo 16 da Lei 9.099, de 05 de novembro de 1995. 168 Artigo 17 da Lei 9.099, de 05 de novembro de 1995.
82
Das lições do doutrinador Hélio Costa169 extrai-se:
O registro do pedido inicial não é de todo desnecessário. Se da pretensão das partes, levadas imediatamente à sessão conciliatória, resultar o acordo entre os contendores, os registros do pedido inicial e mesmo do pedido contraposto serão prescindíveis. É que o acordo estabelece os limites das obrigações das partes e, homologado por sentença, torna-se inatacável por meio de recurso (art. 41 desta lei). Assim, se houver inadimplemento do acordo homologado por sentença, a parte interessada poderá promover a execução (art. 52 desta lei), sem prejuízo da ausência do registro.
Assim dos entendimentos doutrinários, entende-se que
existirá a necessidade de formalização de pedido nos casos de acordos
homologados mesmo que comparecendo as partes para autocomposição junto ao
Juizado Especial, para que ocorra a segurança jurídica da parte que poderá valer-
se de uma possível execução ou recurso.
3.2.2. Da citação, intimação e revelia
Nos entendimentos de Humberto Theodoro Júnior a
efetivação da citação é a relação completa do autor, do juiz com o lado passivo da
demanda, estabelecendo assim o início do contraditório e da ampla defesa,não
podendo a parte autora modificar seu pedido inicial ou a causa de pedir, sem o
consentimento da parte adversa170.
Objetivando a celeridade do processo, a Lei dos Juizados
Especiais estabeleceu a realização da citação por correspondência, com aviso de
recebimento em mãos próprias para as pessoas físicas e com relação as pessoas
jurídicas ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será
obrigatoriamente identificado, conforme disposto no artigo 18 da mencionada lei.
169 COSTA, Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis: anotada e sua interpretação jurisprudencial. p. 78 170 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. p. 274
83
Hélio Costa171 discorre sobre a citação pelo correio,
considerando válida quando assinada por pessoa devidamente identificada no
domicílio do réu, devendo conter advertência expressa quanto aos efeitos do não-
comparecimento do réu:
Se o aviso de recebimento é assinado por pessoa devidamente identificada no domicílio do réu, e que não tenha nenhum interesse na ação, é de se considerar válida a citação. A Lei 9.099 não exige a citação pessoal. A expressão “mão própria” contida na lei não quer dizer, a meu ver, que a citação deverá ser entregue à pessoa do réu. (..) A citação deve conter advertência expressa quanto aos efeitos do não-comparecimento do réu.
Figueira172 adianta que a citação deverá ser realizada no
prazo não inferior à dez dias, independentemente da data da junta aos autos do
respectivo mandado ou aviso postal, mas do recebimento da citação.
A citação por oficial de justiça será admitida quando
infrutífera a possibilidade de procedência por correia, incidindo a sua realização
sobre o pagamento das diligências do oficial da justiça.
O doutrinador Chimenti173 racionaliza sobre a citação por
oficial de justiça:
A necessidade, em regra, decorre de dois fatores: 1) o local onde o destinatário pode ser localizado não é servido pelos correios; 2) o destinatário oculta-se ou cria outros óbices para que a citação postal possa ser formalizada.
No Juizado Especial Cível é inadmissível a citação editalícia,
ocorrendo a sua necessidade serão remetidos os autos à redistribuição para uma
Vara Cível, possibilitando a economia das peças e atos praticados anteriormente.
171 COSTA, Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis : anotada e sua interpretação jurisprudencial. p. 81 172 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à lei 9.099/1995. p. 206 173 CHIMENTI, Ricardo Cunha.Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 140/141
84
No que se refere às intimações, o artigo 19 da Lei 9.099
apregoa a similitude aos atos praticados para a citação, acrescentando também a
possibilidade de realização por qualquer meio idôneo de comunicação.
Chimenti174 acrescenta sobre as conseqüências e
possibilidade de intimação:
A intimação será feita na forma prevista para a citação ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação (fac-símile, fonegrama, etc). A intimação por telefone deve ser considerada válida se acompanhada de comprovante de seu recebimento (normalmente via fac-símile emitido pelo recebedor). Havendo advogado constituído nos autos, o assistido será considerado intimado com a simples publicação do ato no órgão oficial. A parte ou o advogado presente em Cartório serão diretamente intimados pelo escrivão ou escrevente da Secretaria. Caso o intimado se recuse a apor seu ciente, a ocorrência deverá ser certificada pelo Servidor.
Sobrepondo a matéria, o §1º e §2º do mencionado diploma
legal traz consigo a intimação das partes em audiência relacionadas aos atos
praticados e concomitantemente a ciência da obrigatoriedade de aviso no caso de
mudança de endereço, reputando-se eficazes as intimações enviadas ao local
anteriormente indicado.
3.2.3. Audiência de Conciliação e Julgamento
A Conciliação é vista por Chimenti175 como uma vantagem
recíproca das partes, obtendo soluções que muitas vezes a própria sentença de
mérito não poderia trazer, trazendo como exemplo aqueles casos em que as
pessoas desejam solucionar uma dívida, mas só conseguem faze-lo mediante o
parcelamento de débitos, os quais são presenciados frequentemente nas
tentativas de Conciliação.
174 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 148 175 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 158
85
A audiência de Conciliação é expressamente prevista na Lei
dos Juizados Especiais, disposta nos artigos 21 e 22:
Art. 21 . Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as
partes presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no §3º do art. 3º desta Lei.
Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou
por conciliador sob sua orientação.
Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado, mediante sentença com eficácia de título executivo.
A audiência de Conciliação será presidida pelo Juiz togado
ou leigo ou por Conciliador que orientará as partes sobre as vantagens da
Conciliação. Obtendo composição, o mediador reduzirá o acordo que será
posteriormente homologado pelo Juiz togado, incidindo efeitos de título executivo.
Não comparecendo o demandado à audiência de Conciliação
ou instrução e deixando de apresentar defesa, embora devidamente citado ou
intimado para o ato, será aplicada a pena de revelia, presumindo-se verdadeiros
os fatos alegados na inicial, conforme disposto no artigo 20 da Lei Especial.
Muito embora sejam presumidos verdadeiros os fatos
alegados na inicial, André Melo176 ressalta que “a presunção de verdade não é
absoluta, podendo o juiz julgar o pedido improcedente”, seja pela falta de provas
produzidas pelo autor ou por dados contidos no processo.
O momento mais oportuno para a apresentação da resposta
do réu é ao final da audiência de Conciliação, a qual poderá ser oral ou escrita,
contendo toda a matéria de defesa. Porém, é defeso a argüição de suspeição ou
impedimento que deverá se processar em peça apartada. 176 MELO, André Luís Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais anota da. p. 31
86
Ainda, extrai-se no artigo 31 da Lei a proibição da reconvenção
nos Juizados Especiais, podendo o autor formular pedido contraposto em contestação.
Não obtida a composição amigável e tampouco tendo havido
opção pelo juízo arbitral, proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e
julgamento, desde que não resulte prejuízo para a defesa. Não sendo possível sua
realização imediata, será a audiência designada para um dos quinze dias subseqüentes,
cientes desde logo, as partes e testemunhas eventualmente presentes177.
Na audiência de instrução e julgamento serão ouvidas as
testemunhas que deverão ser arroladas no prazo de cinco dias antes da audiência
e depoimentos pessoais, sendo o ato presidido tanto pelo juiz togado como pelo
Juiz Leigo.
Nogueira178 elucida de forma clara:
O rol de testemunhas deve ser apresentado à Secretaria no mínimo cinco dias antes da audiência, e, não comparecendo a testemunha intimada, o juiz poderá determinar sua imediata condução.
Assim, a finalidade da audiência de instrução e julgamento é
justamente para produção de provas, como oitiva de testemunhas e depoimentos
pessoais das partes.
3.2.4 Sentença
Encerrada a audiência de instrução e julgamento, tem-se o
início da fase de julgamento e publicação da sentença, o que no entendimento de
Figueira a sentença atinge um fim único, específico e muito nobre, qual seja, o de
fazer Justiça no caso concreto, extinguindo a lide através do dispositivo de
acolhimento ou de rejeição do pedido179.
177 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais. p. 30 178 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais. p. 32 179 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à lei 9.099/1995. p. 261
87
Ao analisar os dispositivos legais que convergem a matéria,
representados pelos artigos 38 à 46 extrai-se várias particularidade no âmbito do
Juizado Especial Cível, sendo a primeira delas a dispensa de relatório na
sentença, buscando com isso a celeridade processual.
Advém, ainda, a inviabilidade de sentenças condenatórias
por quantia ilíquida, ainda que em pedido genérico, tendo em vista que poderá a
parte de imediato requerer a execução da sentença, sem que passe por uma
desgastante liquidação de sentença presente no Juízo Comum.
O artigo 39 estabelece a ineficácia da sentença quando
exceder a alçada estabelecida pela Lei, mas no entendimento de André Melo nada
impede que a sentença nos Juizados Especiais exceda o valor de quarenta
salários mínimos, mas o excesso não terá força de execução180.
Nos casos de sentenças proferidas por Juizes leigos, serão
submetidas à apreciação do Juiz togado que poderá proferir nova sentença ou
homologará de imediato a decisão.
3.2.5. Dos recursos
A Lei dos Juizados Especiais prevê um único recurso
inominado, que será julgado por uma turma composta por três juízes togados, em
exercício no primeiro grau de Jurisdição, reunidos na sede do Juizado, existindo
nesta fase processual a obrigatoriedade da presença de advogado constituído
para ambas as partes181.
O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da
ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do
recorrente, sendo que o preparo deverá ser realizado no prazo de quarenta e oito
horas seguintes a interposição, sob pena de deserção. Após o preparo será o
180 MELO, André Luís Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais anota da. p. 38 181 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais. p. 33
88
recorrido intimado para apresentar suas contra-razões no prazo de dez dias,
conforme apreciação do artigo 42 e seus parágrafos da Lei dos Juizados Especiais.
Com relação ao efeito do recurso, este será somente
devolutivo, podendo ser conferido efeito suspensivo para evitar dano irreparável
para a parte, não suspendendo a execução182.
André Melo183 subtrai do artigo 46 a menção do julgamento de
segunda instância, mas esclarece que a expressão é equivocada, pois não existe uma
uniformização das decisões das Turmas, o que não ocorre nos Tribunais de Justiça.
Na verdade, não existe uma regra para os julgamentos nas Turmas, as quais tentam copiar o modelo dos Tribunais, o que entendemos ser equívoco, pois é um sistema totalmente diferente. Não há necessidade de relator, revisor, relatório e membro do Ministério Público como custos júris e outras formalidades típicas
do antigo sistema.
Assim, a lei não exige uma elaboração complexa das
decisões das Turmas de Recurso, o que não é visualizada nos casos habituais em
que os juizes usam de palavras rebuscadas para elucidar seu posicionamento,
dificultando com isso a principal finalidade da criação dos Juizados Especiais, que
seria o Acesso à Justiça.
A Lei Especial ainda possibilita o cabimento de embargos de
declaração quando na sentença houver obscuridade, contradição, omissão ou
dúvida, que serão interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias,
contados da ciência da decisão, suspendendo o prazo para recurso184.
182 MELO, André Luís Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais anota da. p. 41 183 MELO, André Luís Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais anota da. p. 41 184 MELO, André Luís Alves de e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais anota da. p. 42
89
3.1.6. Execução
A Seção XV da Lei Especial trata especificamente da
execução, inovando o processamento ao determinar a subsidiariedade das normas
processuais civis com a aplicação da fase executória nos Juizados Especiais.
Figueira185 divulga a sistemática da execução por título
judicial e a execução por título extrajudicial:
Não usando de boa técnica, o legislador sistematizou separadamente e regulou em dispositivos diversos as execuções fundadas em título judicial e extrajudicial, quando o procedimento e as formas de satisfação dos créditos são absolutamente idênticos. Os processos não diferem em nada, enquanto a única distinção reside na natureza do título exeqüendo.
Na forma apresentada, não existirá diferenciação dos
procedimentos para o título executivo judicial ou para o título executivo
extrajudicial procedente da mesma forma, nos moldes apresentados pelos incisos
do artigo 52 da Lei.
As características marcantes da execução, vislumbra-se na
liquidez das sentenças, as quais conterão a conversão em Bônus do Tesouro
Nacional, ou índice equivalente.
Para Figueira186 “a execução inicia-se informalmente, nos
próprios autos, sem citação do executado, bastando a sua intimação pessoal ou
de seu advogado, se for o caso” e nos casos de execução por quantia certa “não
havendo o cumprimento voluntário da sentença, expedir-se-á mandado de
penhora para pagamento em 24 horas, sob pena de penhora”.
Os Juizados Especiais tendem a uma outra particularidade, a
ausência da citação em fase executória de título judicial, procedendo desde a
185 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. p. 313 186 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. p. 315
90
ocorrência do trânsito em julgado e do descumprimento da obrigação com a
intimação para oferecimento de garantia da obrigação judicial187.
Chimenti188 elucida sobre o processamento da execução nos
Juizados Especiais demonstrando que não havendo bens passíveis para a
garantia do juízo, tampouco apresentando os executados bens passíveis de
penhora, o processo será extinto e desentranhado os documentos para posterior
execução quando encontrados bens em nome do devedor.
Das execuções, caberão ainda embargos ao devedor,
objetivando desconstituir, no todo ou em parte, o título executivo, caracterizando o
principal instrumento de defesa do executado e somente podem ser opostos após
o juízo estar garantido pela penhora ou pelo depósito189.
3.3. O OBJETIVO DOS JUIZADOS ESPECIAIS E O ACESSO À JUSTIÇA
Para o efetivo acesso à ordem jurídica justa, se faz
necessária a implementação de um sistema jurídico e judiciário coerente,
harmônico e simplificado, direcionado para a resolução segura e rápida do conflito
de interesses190.
Dentro desse pensamento é que se pode compreender o
surgimento dos Juizados Especiais como meio para obter um Acesso à Justiça
mais equânime e com o desígnio de alcançar uma ordem jurídica justa.
Ao destacar o Acesso à Justiça e os novos conflitos na
sociedade contemporânea, Abreu191 especificou a sobre o advento da Lei dos
187 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. p. 315 188 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 303 189 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 283 190 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis esta duais e federais. p. 131 191 ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais : o desafio da consolidação de uma justiça cidadã no brasil. p. 52
91
Juizados Especiais ressaltando a sua importância dentro de um sistema
diferenciado de Jurisdição, que visa uma Justiça popular, participativa e
principalmente democrática:
No Brasil, a experiência dos juizados de pequenas causas, e mais recentemente dos juizados especiais – com propostas de tutela diferenciada ou de vias alternativas de tutela e modelos de justiça popular, participativa, democrática, e como expressão de justiça coexistencial, pondo em relevo a conciliação e engajando juízes leigos, árbitros e conciliadores -, tem servido de contraponto em relação à justiça tradicional, contenciosa, de natureza estritamente jurisdicional, sabidamente saturada, onerosa e tardia.
Acrescenta formalizando o surgimento dos Juizados
Especiais com a chamada terceira onda do universo capellettiano, pois representa
“Acesso à Justiça, adequação dos anseios da população a uma justiça rápida,
sem custas e sem formalismo”192, tentando diminuir a litigiosidade contida,
estampada pela desigualdade material e social, obstáculos para o alcance do
Acesso a ordem jurídica justa.
As analisar essa denominada “terceira onda”, Cappelletti193
disciplina:
Essa “terceira onda” de reforma inclui a advocacia, judicial ou extrajudicial, seja por meio de advogados particulares ou públicos,mas vai além. Ela centra sua atenção no conjunto geral de instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados para processar e mesmo prevenir disputas nas sociedades modernas.Nós o denominamos “o enfoque do acesso à Justiça” por sua abrangência. Seu método não consiste em abandonar as técnicas das duas primeiras ondas de reforma, mas em trata-las como apenas algumas de uma série de possibilidades para melhorar o acesso.
192 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 71 193 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 68
92
Como modo de alcance desse Acesso à Justiça, Cappelletti
informa que “os reformadores estão utilizando, cada vez mais, o juízo arbitral, a
Conciliação e os incentivos econômicos para a solução dos litígios”194.
Nessa esteira que os Juizados Especiais foram apresentados
ao mundo jurídico na busca por uma justiça mais democrática, usando para isso
procedimentos mais simplificados, e mecanismos reformadores do direito
processualístico brasileiro, adotando a Conciliação como principal objetivo para a
solução dos conflitos.
Maria Tereza Sadek195, corrobora com os entendimentos,
trazendo em seu livro Acesso à Justiça uma planilha com o movimento dos
Juizados Especiais Cíveis no ordenamento jurídico brasileiro, nos anos de 1998 e
1999, que expressa a grande quantidade de processos conciliados, quais sejam:
de 11.459 processos que foram iniciados, 5.112 foram conciliados, 4.093 foram
instruídos, 7.722 remarcados/conciliados, 165 em fase de recurso, 1.113 extintos
por desistência, 1.659 revelias, 3.457 extintos e 1.211 foram julgados
improcedentes ou incompetentes pelo Juízo.
Desta forma, entende-se que os Juizados Especiais Cíveis
atendem as finalidades para as quais foi criado, objetivando sempre que possível
a Conciliação e buscando uma Justiça mais célere, simplificada e econômica,
possibilitando as partes um tratamento equânime.
194 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 81 195 SADEK, Maria Tereza. Acesso à justiça. São Paulo : Fundação Konrad Adenauer, 2001.p. 265
93
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente, verificou-se que a longos anos a sociedade foi
evoluindo em busca da Justiça privada, a qual era pacificada por intermédio do
Estado/Jurisdição, onde cada um através do processo, instrumento processual
utilizado para invocar o Poder Judiciário buscava a pacificação de seus litígio,
fugindo assim da Justiça privada ou autotutela.
Contudo, verificou-se que muitas vezes a litigiosidade
permanecia contida pelos cidadãos que muitas vezes não buscavam o Judiciário,
visto os autos custos com advogados e atos processuais, ou pela ignorância jurídica
em reconhecer o direito pretendido.
Buscando a igualdade no tratamento e solução daquelas lides
contidas pelos cidadãos, surgiu a Lei 9.099/95 que regulamentou os Juizados
Especiais, possibilitando que as partes dispusessem de um Procedimento mais
célere e eficaz, possibilitando até mesmo o ajuizamento do processo dispensado da
presença de advogado, lavrado pela própria Secretaria do Juizado Especial, isso
nas causas com valor até 20 (vinte) salários mínimos.
A dispensa dos advogados nessas ações é notoriamente
discutida pelos doutrinadores, vista a desigualdade conferida quando a parte
adversa comparece nos autos com advogado constituído.
Contudo, se vê que os Juizados Especiais trouxeram
satisfatória evolução no âmbito do Acesso à Justiça, objetivando sempre que
possível a Conciliação e a Justiça mais célere, simplificada para que a população
compreenda as nomenclaturas levantadas nas peças processuais e econômica,
possibilitando as partes um tratamento mais equânime.
As hipóteses formuladas, conforme apresentadas na
introdução desta monografia, e que são:
94
• Que o Acesso à Justiça pode ser conceituado de duas
maneiras, como sendo um direito inerente ao homem, por sua própria natureza e o
segundo conceito como sendo um direito à proteção judicial, estando previsto no
artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal de 1998.
• Os Princípios que norteiam os Juizados Especiais Cíveis
estão elencados no artigo 2º da Lei 9.099/1995, trazendo consigo os Princípios da
oralidade, simplicidade, economia processual, celeridade e efetividade.
• O Juizado Especial Cível tem como objetivo a solução dos
conflitos, sendo benéfica para o Acesso à Justiça, no momento em que isentou as
partes das custas iniciais do processo, bem como trouxe um marco para o direito
processualístico, ao trazer os Princípios da celeridade, tornando o processo mais
rápido e eficaz para o direito.
Todas as hipóteses foram confirmadas na elaboração do
trabalho acadêmico.
95
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio da
consolidação de uma justiça cidadã no brasil. Florianópolis : Fundação Boiteux, 2004.
AGUIAR, Roberto A. R. de. O que é justiça: uma abordagem dialética. 5 ed. São
Paulo : Alfa-Omega, 1999
BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social o
plano da realização do direito. Rio de Janeiro : Renovar, 2001.
BOBBIO, Norberto. Estado governo sociedade: para uma teoria geral da política.
Tradução: Marco Aurélio Nogueira. 11 ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1987.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10 ed. São Paulo : Malheiros, 1996.
CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução: Ellen
Gracie Northfleet. Porto Alegre : Fabris, 1988
CESAR, Alexandre. Acesso à justiça e cidadania Cuiabá : EdUFMT, 2002.
CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis
estaduais e federais. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho cientifico. Curitiba:
Juruá, 2001.
Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado
em 5 de outubro de 1988.
96
COSTA, Hélio. Lei dos juizados especiais cíveis : anotada e sua interpretação
jurisprudencial. 2 ed. Belo Horizonte : Livraria Del Rey Editora, 2000.
CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do Direito Fundamental. Curitiba : Juruá,
2002.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 25ed. São
Paulo : Saraiva, 2005.
FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e
criminais : comentários à lei 9.099/1995. 4 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2005.
GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo. 20 ed. São
Paulo: Malheiros, 2004.
HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico
e civil. tradução : Alex Marins. São Paulo : Martins Claret. 2003.
http://www.stj.gov.br/webstj/imprensa/revistamerito, acessado em 11 de abril de 2006.
JOBIM, Nelson in Mensagem ao Congresso Nacional 2006: na abertura da 4ª
sessão legislativa ordinária da 52ª legislatura:
http://www.stf.gov.br/imprensa/pdf/mensagemCN2006.pdf, acessado em 11 de
abril de 2006.
KRETZ, Andrietta. Autonomia da vontade e eficácia horizontal dos dire itos
fundamentais . Florianópolis : Momento Atual, 2005.
Lei 9.099/95, de 26 de setembro de 1995
Lei n. 1.060, de 05 de fevereiro de 1950
LYONS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo : Martins Fontes, 2000
97
MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A sociedade e o estado. São Paulo : LZN, 2003.
MELO, André Luis Alves e outros. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais
comentada : jurisprudência, legislação e prática. São Paulo: Iglu. 2000.
MOREIRA, Jônatas Luiz de Paula. Teoria geral do processo. 2 ed. São Paulo :
Editora de Direito. 2001.
NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais. São Paulo:
Saraiva, 1996.
PASOLD, César Luiz. Pratica da Pesquisa Jurídica: Idéias e ferramentas úteis
para o pesquisador do direito. 3 ed., Florianópolis: OAB/SC Editora, 1999.
ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis : aspectos polêmicos da lei
nº 9.099 de 26/9/1995. Rio de Janeiro : Lúmen Júris, 2003.
RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso à justiça no direito processual
brasileiro. São Paulo : Acadêmica, 1994.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social e outros escritos. São Paulo :
Martins Claret, 2002.
SADEK, Maria Tereza. Acesso à justiça. São Paulo : Fundação Konrad
Adenauer. 2001.
SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo. Florianópolis : Visual
Books, 2002.
SICHES, Luis Recásens. Estudos da filosofia no direito. Porto Alegre : Globo, 1970.
SILVA, Afonso da Silva. Curso de direito constitucional. 15 ed. São Paulo:
Malheiros,1998.
98
SILVA, Luis Cláudio. Os juizados especiais na doutrina e na prática fore nse.
Rio de Janeiro: Forense, 1997.
SOUSA, Álvaro Couri Antunes. Juizados especiais federais cíveis : aspectos
relevantes e o sistema recursal da Lei nº 10.259/01. Rio de Janeiro : Renovar, 2004.
THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 41 ed. Rio de
Janeiro : Forense. 2004.
THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil:
procedimentos especiais. 3 vol. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense. 2005.
TOURINHO, Fernando da Costa Neto e outro. Juizados especiais estaduais
cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. 4 ed. São Paulo : Revista dos
Tribunais, 2005.
WATANABE KAZUO et al. Juizado Especial de pequenas causas. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1985.