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O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula: proposta de
sequência didática
Leandro dos Reis Silva
1. Tema: Trabalho escravo no Brasil: passado e presente.
2. Justificativa: Partindo da análise de notícias que comemoravam, em 1888,
o fim da escravidão no Brasil, é possível propor aos alunos que reflitam
acerca das diferenças entre trabalho livre e trabalho escravo. As atuais
evidências da existência de trabalho cativo no país auxiliam os alunos a
pensar nesse tipo de trabalho como algo próximo de sua realidade, ou seja,
mostra-lhes que se trata também de um problema de seu tempo.
3. Objetivos:
•••• Analisar documentos de natureza diversa (jornais e charge),
comparando suas principais informações e relacionado-as a sua
realidade;
•••• Promover a leitura e a interpretação de textos escritos e imagens;
•••• Compreender a escravidão como um processo que se estendeu além da
esfera oficial, mostrando que a assinatura de uma lei não é suficiente
para garantir a extinção de uma prática;
•••• Compreender que muitos processos históricos não possuem começo e
fim bem delineados, ou seja, são caracterizados por frequentes
transformações;
•••• Promover discussão acerca dos direitos humanos, atentando para ideia
de liberdade.
4. Componente curricular:
• Fim do tráfico e da escravidão;
• Transformações econômicas, políticas e sociais no Brasil (transição de
trabalho escravo para trabalho assalariado);
• Tempo histórico;
• Análise de fontes (jornais e charge);
• Noção de transformação e permanência.
5. Série: 8º ano do Ensino Fundamental
6. Tempo previsto: Três aulas.
7. Atividades
Aula 1
1. Propor aos alunos que elaborem textos breves sobre o tema “trabalho livre e
escravidão”. Fazer questionamentos que estimulem os alunos a expor quais
são os conceitos de liberdade e escravidão para eles. Estimular o debate em
sala de aula problematizando as ideias expressas pelos alunos. Exemplos:
a) Na sua opinião, qual o significado da palavra “escravidão”?
b) O que diferencia o trabalhador livre do escravo?
c) Você acha que todos os trabalhadores são livres hoje em dia? Por
quê?
2. Sugere-se que uma reprodução do jornal seja apresentada aos alunos para
que, em grupos, analisem o texto e registrem suas impressões sobre ele.
Exemplo:
O texto a seguir (Anexo 1) foi publicado em 13 de maio de 1888. Leia o texto
(Anexo 1) na íntegra para responder às questões.
a) Onde o texto foi publicado?
b) Qual seu assunto principal? Para que ele foi escrito?
Link: http://acervo.estadao.com.br/publicados/1888/05/13/g/18880513-3935-
nac-0001-999-1-not-kasexeq.jpg
Aula 2
3. Apresentar a charge selecionada (Anexo 2) aos alunos e pedir para que
reflitam acerca de seu conteúdo. Exemplo:
a) Quais semelhanças e diferenças você oberva entre os personagens?
b) Qual mensagem a charge transmite?
Link:http://2.bp.blogspot.com/_yQiqDye6lcA/TNgq4SqcT0I/AAAAAAAAAyc/fV
rEEXz2fbM/s1600/cortacana.jpg
Por meio da comparação apresentada na charge, objetiva-se ressaltar a
permanência de um modo de trabalho injusto. Por conta disso, contudo, os
alunos podem ser induzidos a acreditar que não houve mudanças entre 1723 e
2010 ou até mesmo que as condições de vida dos trabalhadores rurais pioraram.
É importante orientá-los que, apesar de ainda haver muitas pessoas submetidas
a condições de trabalho análogas ao martírio que foi a escravidão no Brasil, isso
é considerado crime atualmente (artigo 149 do Código Penal), ou seja, tal prática
não encontra respaldo na legislação.
4. Apresentar texto (Anexo 3) extraído da página do mesmo jornal (Estado de S.
Paulo) que aborda o trabalho escravo no Brasil em pleno século XXI. Link:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,trabalho-escravo-
,884185,0.htm. Retomar a pergunta inicial: “Todos os trabalhadores são
livres hoje em dia? Por quê?
Aula 3
5. Apresentar o Atlas do Trabalho Escravo no Brasil para os alunos. Pensar nas
condições do colégio, projetar os PDFs ou imprimir páginas selecionadas e
levar para a sala de aula. Promover um debate com os alunos acerca desse
tema.
Link: http://amazonia.org.br/wp-content/uploads/2012/05/Atlas-do-Trabalho-
Escravo.pdf.
6. Se possível, exibir vídeos que abordam o tema. Exemplo:
http://www.youtube.com/watch?v=Q1_IMc98d8I&feature=related.
7. Sugestão: relacionar o tema “trabalho escravo” aos movimentos imigratórios
para o Brasil no século XXI, tema da redação do ENEM 2012.
8. Bibliografia
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Secretaria de
Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e Quarto Ciclos do
Ensino Fundamental. História. Brasília: MEC /
Secretaria de Educação Fundamental, 1998.
CRUZ, Heloísa; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Na oficina do
historiador: conversas sobre história e imprensa. Projeto história, São
Paulo, n. 35, p. 253-270, dez. 2007.
KNAUSS, Paulo. Documentos históricos na sala de aula. Primeiros
escritos, nº1 – julho-agosto de 1994.
LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: _________. História e
Memória. Tradução por Irene Ferreira, Bernardo Leitão e Suzana Ferreira
Borges. 5. ed. Campinas: Unicamp, 2003.
THÉRY, Hervé. Atlas do Trabalho Escravo no Brasil. São Paulo: Amigos
da Terra, 2009. Disponível em:
http://amazonia.org.br/wp-content/uploads/2012/05/Atlas-do-Trabalho-
Escravo.pdf.
Anexos
Anexo 1
Glória à pátria. A Província de S. Paulo, São Paulo, 13 de maio de 1888. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/publicados/1888/05/13/g/18880513-3935-nac-0001-999-1-not-kasexeq.jpg. Acesso em 7 nov. 2012.
Glória à pátria. A Província de S. Paulo, São Paulo, 13 de maio de 1888. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/publicados/1888/05/13/g/18880513-3935-nac-0001-999-1-not-kasexeq.jpg. Acesso em 7 nov. 2012.
Anexo 2
Charge criticando a prática de trabalho escravo na atualidade. Disponível em: http://miseriahq.blogspot.com.br/2010/11/escravidao.html. Acesso em 8 nov. 2012.
Anexo 3
Trabalho escravo
09 de junho de 2012 | 3h 09
O Estado de S.Paulo Sempre se soube que há no Brasil milhares de pessoas sujeitas a trabalhos forçados ou jornadas excessivas, prisioneiras de dívidas contraídas com empregadores, em condições análogas à da escravidão, mas só há pouco esse problema foi, literalmente, mapeado. Trata-se do Atlas do Trabalho Escravo no Brasil, elaborado por geógrafos da Unesp e da USP.
A escravidão contemporânea é mais comum em regiões remotas do País, mas é mais abrangente do que geralmente se pensa: das 27 unidades federativas do País, apenas em 5 a Comissão Pastoral da Terra (CPT) não encontrou trabalhadores mantidos como escravos nos últimos anos.
Os números são impressionantes: de 1995 a 2008, último ano pesquisado, 42 mil brasileiros foram libertados da escravidão pela CPT. Desde então, autuações têm sido feitas também pelo Ministério do Trabalho, podendo haver, evidentemente, muitos outros casos não detectados. O objetivo do Atlas foi justamente o de ajudar o poder público a avaliar a probabilidade da existência de trabalho escravo em regiões ou setores específicos da economia.
Decorridos 124 anos desde a Abolição da Escravatura, a mídia, sociólogos e especialistas em relações do trabalho ainda relatam fatos que revelam como o chamado "barracão" substituiu a senzala no Brasil. Há anos, pratica-se no País um sistema pelo qual fazendeiros, empreiteiras e mineradoras, entre outros empregadores, recrutam pessoas de baixa qualificação com promessa de pagamento pelo seu trabalho, fornecendo-lhes alojamento e refeições.
Em diversos casos, não só as condições de moradia são precárias, como a alimentação e itens essenciais para a subsistência têm de ser comprados no "barracão" do empregador. Como os salários são insuficientes para pagar os "gastos de caderneta" feitos no "barracão", os trabalhadores são forçados a permanecer no local de emprego até saldarem as suas "dívidas".
Como mostram os acontecimentos nas grandes obras de hidrelétricas em execução no País, em áreas distantes e inóspitas da região amazônica, que reúnem grandes contingentes de operários, existe hoje muito mais consciência por parte dos trabalhadores quanto aos seus direitos. Os novos barrageiros exigem pagamento e condições condizentes com a aspereza das tarefas que lhes são incumbidas. A maioria das empresas também se modernizou e são as primeiras a exigir o exato cumprimento das leis trabalhistas.
Mas, se surgiu uma nova geração de trabalhadores mais cônscios dos seus direitos, o levantamento mostra que ainda há muita gente cujo trabalho é passível de exploração análoga à escravidão. São, em geral, migrantes, do sexo masculino e analfabetos funcionais, procedentes, principalmente, do Maranhão, do norte do Tocantins e do oeste do Piauí. Seus destinos mais comuns são Mato Grosso e o leste do Pará. Mas também foi
detectado trabalho escravo no Triângulo Mineiro, em Goiás e outras regiões mais desenvolvidas do País.
É, pois, um grande avanço a aprovação pela Câmara dos Deputados, no fim de maio, da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438, que prevê a expropriação de imóveis rurais e urbanos nos quais se comprovar a existência de trabalho escravo, devendo as terras ser destinadas à reforma agrária ou a projetos habitacionais. A aprovação se deu em segundo turno e o texto seguiu para o Senado. Contudo, de acordo com o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), as duas Casas vão formar um grupo de trabalho para redigir um projeto de lei complementar que esclareça com precisão o conceito de trabalho escravo, determinando também os trâmites legais para a aplicação da punição.
É que abusos podem ocorrer na aplicação da pena, por isso, não basta a autuação por parte do Ministério do Trabalho ou a apuração de denúncia pela Pastoral da Terra. Como é da essência do Estado de Direito, a expropriação só poderá ser levada a cabo depois de o processo transitar em julgado.
Trabalho Escravo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 9 de jun. 2012. Disponível em: www.estadao.com.br/noticias/impresso,trabalho-escravo-,884185,0.htm. Acesso em 6 nov. 2012.