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1 Sequência Didática para a Oficina: “O(s) uso(s) dos documentos de arquivo na sala de aulaAmanda da Silva Brito Universidade Federal de São Paulo 2º termo / História Tema O lugar do índio na sociedade brasileira Justificativa O presente plano tem como objetivo trabalhar a temática indígena, tendo em vista as recentes discussões acerca do lugar do índio na sociedade brasileira. Esta proposta de aulas tem como objetivo exercitar o senso crítico do aluno, criando a capacidade de acompanhar as atuais discussões que estão presentes no nosso meio, como a questão indígena e o seu espaço. A temática indígena é muito pertinente para se trabalhar na sala de aula, para mostrar que o índio não é um personagem do passado do Brasil e “desmistificar” o que apenas é ensinado nos anos iniciais do Ensino Fundamental: retratados no período colonial de uma forma romantizada, não sendo explorada a fundo a sua história de resistência e luta por seus espaços e tradições ao longo dos processos históricos. Objetivos Relacionar as questões do presente com as do passado: estimular os alunos a estabelecer uma relação entre a sociedade indígena atual e as do passado. Componente curricular História do Brasil Colônia. Ano (série) Segunda e terceira série do ensino médio e alunos de EJA, do ensino médio. Tempo previsto (Número de aulas) Cinco aulas Desenvolvimento

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Sequência Didática para a Oficina: “O(s) uso(s) dos documentos de arquivo na sala

de aula”

Amanda da Silva Brito – Universidade Federal de São Paulo

2º termo / História

Tema

O lugar do índio na sociedade brasileira

Justificativa

O presente plano tem como objetivo trabalhar a temática indígena, tendo em

vista as recentes discussões acerca do lugar do índio na sociedade brasileira. Esta

proposta de aulas tem como objetivo exercitar o senso crítico do aluno, criando a

capacidade de acompanhar as atuais discussões que estão presentes no nosso meio,

como a questão indígena e o seu espaço.

A temática indígena é muito pertinente para se trabalhar na sala de aula, para

mostrar que o índio não é um personagem do passado do Brasil e “desmistificar” o que

apenas é ensinado nos anos iniciais do Ensino Fundamental: retratados no período

colonial de uma forma romantizada, não sendo explorada a fundo a sua história de

resistência e luta por seus espaços e tradições ao longo dos processos históricos.

Objetivos

Relacionar as questões do presente com as do passado: estimular os alunos a

estabelecer uma relação entre a sociedade indígena atual e as do passado.

Componente curricular

História do Brasil – Colônia.

Ano (série)

Segunda e terceira série do ensino médio e alunos de EJA, do ensino médio.

Tempo previsto (Número de aulas)

Cinco aulas

Desenvolvimento

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Etapa 1 - Os índios no Brasil colonial

Primeira aula: Esta deve ser uma aula bem introdutória, portanto, podem ser feitas

perguntas como: “o que é ser índio?”, “o que vocês pensam quando escutam falar de

índios?” para começar a adentrar às outras questões, explicando para os alunos como os

índios lidaram com a colonização. O objetivo é mostrar que os índios constituíam uma

sociedade organizada e, muito ao contrário do que se aprende nos livros didáticos, não

foram objetos inanimados e passíveis a partir da chegada dos portugueses.

Segunda aula - Atividade: Utilizar a seleção das unidades documentais do fundo

Aldeamento de índios (1721-1810) disponíveis no Arquivo Público do Estado para

mostrar a realidade indígena da época. Ler com os alunos e propor a atividade de análise

do documento.

Atividade em Anexo 1.

O objetivo da atividade é mostrar os problemas que os índios começaram a enfrentar

no período colonial, decorrente do projeto de aldeamentos. O aluno deve analisar os

documentos, analisar e tirar suas próprias conclusões. Posteriormente, pode ser feito

um pequeno debate em que os alunos exponham o que encontraram de interessante.

Etapa 2 – Os projetos civilizatórios do Império brasileiro

Terceira aula – Explicar os projetos civilizatórios propostos pelas autoridades para

inserir os indígenas na sociedade.

Atividade: Após o conteúdo expositivo, ler com os alunos a capa e trechos da sessão “ao

leitor” do livro O Selvagem (1876) de Couto de Magalhães, que expressa bem a política

civilizatória do Império, que pretende incorporar o indígena à sociedade como mão de

obra.

Atividade em Anexo 2.

Etapa 3 – O índio na sociedade atual

Quarta aula - Neste módulo finalmente serão abordadas as questões atuais em relação

aos indígenas. O foco escolhido desta aula é mostrar que os indígenas lutam para manter

vivas suas tradições, ainda que sofram muito com o descaso governamental. Seria

interessante discutir com a classe acontecimentos recentes relacionados à luta indígena.

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Atividade: Leitura de reportagens, através da interpretação dos fatos que são publicados

em periódicos. No anexo há uma reportagem disponível, porém recomenda-se que os

alunos tragam individualmente reportagens que tratem sobre o assunto e comentem para

a sala, deste modo propiciando um debate entre os alunos.

Atividade em Anexo 3.

Etapa 4- Avaliação

Quinta aula – Propor uma redação aos alunos, que devem discutir o papel do índio na

sociedade a partir dos conteúdos abordados ao longo das aulas.

Proposta de Avaliação em Anexo 4.

Bibliografia de apoio ao professor

CUNHA, Manuela Carneiro (org.). História dos Índios no Brasil. 2ª ed., 3ª reimpr. São

Paulo: Companhia das Letras, 2006.

MONTEIRO, John M. Negros da Terra

RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização. A integração das populações indígenas no

Brasil Moderno. 6ª reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

VAINFAS, Ronaldo. . Rituais do catolicismo tupinambá. In: A heresia dos índios.

Catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. 2ª reimpr. São Paulo: Companhia das Letras,

2005. p. 121).

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ANEXO 1

Atividade – Análise de fontes: o batismo

O objetivo desta atividade é fixar o conhecimento adquirido durante a aula expositiva.

À primeira vista, a proposta é propiciar o primeiro contato entre uma fonte documental

e o aluno.

Imagem 1

APESP. Aldeamentos de índios (1721-1810), C00228, doc 2-8-7, s/data. A imagem acima é da

Aldeia de São João do Queluz, leste do Estado de São Paulo.

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Imagem 2

APESP. Aldeamentos de índios (1721-1810), C00228, doc. 2-8-7, s/data. Aldeia de São João do

Queluz.

Divida a sala em grupos e distribua as duas imagens, seguidas de uma pequena

ficha que os alunos deverão preencher, contendo os seguintes dados:

1) Transcrever o trecho da Imagem 1 (Esta etapa pode ser realizada em conjunto

com a classe).

2) Sobre o que trata o documento?

3) Com base na aula anterior, como foi a política de aldeamento e como este

documento pode ajudar a interpretá-lo?

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ANEXO 2

Nesta atividade serão trabalhados excertos do livro “O Selvagem” de Couto de

Magalhães. O objetivo é fazer com que os alunos percebam que a política civilizatória

se manteve inclusive no Império, através das colônias militares.

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Excerto 1

O SELVAGEM. Gonçalves de Magalhães, p. VIII.

Excerto 2

O SELVAGEM, p. X.

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Livro na íntegra disponível em: http://archive.org/details/O_Selvagem. Acesso em

05/05/2013.

É interessante ao professor destacar para os alunos os termos “aproveitamento do

selvagem” e um “método para amansá-los”, a fim de que eles já comecem a se

posicionar frente ao lugar do índio desde o período colonial até o Império.

Atividade: Fazer as seguintes questões para os alunos:

1) Onde este livro foi escrito? Em que ano?

2) O que na capa chamou imediatamente a atenção? Por quê?

3) Qual é o objetivo de Couto de Magalhães? Como ele pretende “domesticar” os

“selvagens”?

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ANEXO 3

Documento 1:

03/05/2013 - 14h56

Protesto paralisa obras em Belo Monte

pelo segundo dia

KÁTIA BRASIL DE MANAUS

O protesto de índios contra o governo federal no principal canteiro de construção da usina de Belo Monte, no sudoeste do Pará, entrou nesta sexta-feira (3) no segundo dia.

As obras no canteiro estão paralisadas por tempo indeterminado, enquanto as atividades continuam nos outros pontos da construção.

Dentro do canteiro Belo Monte, em Vitória do Xingu, subiu para 180 o número de índios envolvidos na manifestação. O protesto começou nesta quinta-feira (2) com 150 pessoas de oito etnias.

Eles pedem a regulamentação do mecanismo de consulta prévia antes de obras que interfiram em terras indígenas, a paralisação de obras de hidrelétricas e estudos nos rios Xingu, Tapajós e Teles Pires, além da suspensão do envio de tropas da Força Nacional de Segurança às comunidades.

Até o fim da manhã desta sexta-feira o governo federal não havia enviado representante para negociar com as lideranças do protesto, disse o índio Jairo Faw Munduruku.

Segundo o CCBM (Consórcio Construtor Belo Monte), empresa responsável pela obra, somente cerca de cem funcionários estavam no canteiro Belo Monte quando os índios iniciaram a manifestação. A maioria dos 5.000 operários estava em Altamira (PA) para receber o pagamento mensal, e as obras no canteiro foram interrompidas por medida de segurança.

Dos 180 índios que participam do protesto, 90% pertencem a etnia mundurucu. Eles partiram na segunda-feira (29) de aldeias situadas no rio Tapajós, onde o governo federal faz estudo ambiental para construir outra usina hidrelétrica, a de São Luís do Tapajós.

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Segundo Cândido Munduruku, da associação indígena Pusuru do Alto Tapajós, os índios viajaram desde Jacareacanga (PA), em percurso que levou um dia. Levaram peixes e farinha para a alimentação, e dentro da obra estão recebendo água potável da empresa.

"Estamos aqui para mostrar nosso sofrimento, não vamos sair tão cedo. O governo federal não faz consulta para fazer obras nas nossas terras, que estão sendo destruídas. Manda tropas para nos intimidar", disse Cândido por telefone à Folha.

FORÇA NACIONAL

Em abril deste ano índios mundurucu reclamaram ao Ministério Público Federal do Pará sobre a presença de homens da Força Nacional nas proximidades das aldeias no rio Tapajós. Os policiais escoltavam uma equipe de estudo da usina hidrelétrica de São Luís.

Instado pelo MPF, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região suspendeu a operação militar na localidade em favor dos mundurucu.

Belo Monte deve entrar em operação em 2015. São 22 mil funcionários no total. As atividades nos outros dois sítios são normais, diz o CCBM.

Procurado pela reportagem, o Ministério de Minas e Energia afirmou que a construção de empreendimentos hidrelétricos do país é sempre precedida por consultas públicas às populações de suas áreas de influência, e que os indígenas são ouvidos quando possuem terras afetadas.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/05/1272828-protesto-paralisa-

obras-em-belo-monte-pelo-segundo-dia.shtml Acesso em 04/05/2013.

Documento 2

Disponível em: http://aishasad.blogspot.com.br/2011/04/oea-manda-suspender-obras-de-belo-monte.html

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Questões

1) Quais são as principais notícias que vocês já ouviram falar sobre os indígenas?

2) Qual é a principal luta dos indígenas atualmente?

3) Segundo a reportagem, os índios foram consultados antes da construção da

usina? Qual a atitude tomada por eles?

4) De acordo com a charge 1, entende-se que o contato dos indígenas com a

“civilização” foi maléfica, logo deve ser evitado. Você concorda? Justifique sua

resposta.

5) O que você propõe como solução para o problema das terras indígenas?

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ANEXO 4

Avaliação final

O objetivo desta atividade é provocar a reflexão sobre a luta dos indígenas para

manterem sua cultura e tradições vivas, mesmo convivendo com o mundo urbano;

sempre os induzindo a fazer uma conexão com o conteúdo das aulas anteriores. Como

apoio, serão utilizados trechos de uma música que elucidam o percurso das aulas e

atividades anteriores.

Todo dia era dia de índio – Jorge Ben Jor

(…)

Antes que os homens aqui pisassem

Nas ricas e férteis terraes brazilis

Que eram povoadas e amadas por milhões de índios

Reais donos felizes

Da terra do pau-brasil

Pois todo dia, toda hora, era dia de índio

Pois todo dia, toda hora, era dia de índio

Mas agora eles só têm um dia

O dia dezenove de abril

Mas agora eles só têm um dia O dia dezenove de abril

(...)

Mas no entanto agora

O seu canto de guerra

É um choro de uma raça inocente

Que já foi muito contente Pois antigamente

Todo dia, toda hora, era dia de índio

Todo dia, toda hora, era dia de índio

(...)

Questão - Redação

Através da reflexão sobre os trechos da música acima e dos conteúdos

trabalhados em sala de aula, para você, como foi a trajetória do indígena desde a

chegada dos portugueses no Brasil até os dias atuais?