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Outros cheiros, outros sabores - perse.com.br · Iuri Andr as Reblin [email protected] Capa: Marcelo Ricardo Zeni Revis!o: Kathlen Luana de Oliveira, Iuri Andr as Re blin e

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Outros cheiros,outros sabores...O pensamento teológico

de Rubem Alves

Outros cheiros,outros sabores...O pensamento teológico

de Rubem Alves

Iuri Andréas Reblin

2014

2a ediçãorevista e atualizada

E-book

© Iuri Andréas [email protected]

Capa: Marcelo Ricardo ZeniRevisão: Kathlen Luana de Oliveira, Iuri Andréas Reblin e

Ezequiel de SouzaEditoração: OikosArte-finalização: Jair de Oliveira Carlos

Faculdades ESTRua Amadeo Rossi, 467Morro do Espelho – Cx. Postal 1493001-970 São Leopoldo/RSTel.: (51) 2111-1400 / Fax: (51) [email protected] Oikos Ltda.Rua Paraná, 240 – B. ScharlauCaixa Postal 108193121-970 São Leopoldo/RSTel.: (51) 3568.2848 / Fax: (51) [email protected]

Reblin, Iuri AndréasOutros cheiros, outros sabores...: o pensamento

teológico de Rubem Alves / por Iuri Andréas Reblin.– 2. ed. rev. atual. São Leopoldo: Oikos, 2014.

248 p.; 14 x 21cm.E-book.ISBN 978-85-7843-430-41. Teologia – Alves, Rubem. 2. Alves, Rubem –

Biografia. I. Título.CDU 230.2

R291o

Catalogação na Publicação:Bibliotecária Eliete Mari Doncato Brasil – CRB 10/1184

O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade doGoverno Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos.

Esta pesquisa é dedicada a

Kathlen Luana de Oliveira,minha orientadora cotidiana

e, antes de tudo,minha companheira,

‘aquela com quem partilho o pão’.Na alegria e na tristeza,Na saúde e na doença,

Nos dias de sol e nas tardes chuvosas,No teatro e no cinema,

Na dissertação e no gibi.

SUMÁRIO

DE RUBEM ALVES ..................................................................9NOTA A SEGUNDA EDIÇÃO ................................................10PREFÁCIO: SOBRE PALAVRAS APETITOSAS ECRIADORAS DE VIDA... .........................................................13INTRODUÇÃO ....................................................................... 19PRÓLOGO: DA SERRA A CAMPINAS: CONSIDERAÇÕESBIOGRÁFICAS E BIBLIOGRÁFICAS ACERCA DERUBEM ALVES ...................................................................... 23I – TEOLOGIA: ILUSÕES E DESILUSÕES ACERCADE UM DISCURSO ................................................................ 49

1.1 – ILUSÃO: A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA(DO DIVINO) ............................................................. 551.1.1 – A ciência definindo a teologia ..................... 551.1.2 – A teologia definindo a teologia .................... 64

1.2 – DESILUSÃO: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DATEOLOGIA ............................................................... 76

II – TEOLOGIA: SEGREDOS DE UM DISCURSO................. 912.1 – TEOLOGIA: POEMA DO CORPO ............................ 99

2.1.1 – O mundo como reverberação do corpo ..... 1012.1.1.1 – A invenção do mundo: universos

de significados ..............................1042.1.1.2 – A imaginação e o desejo:

humanização do mundo...............1092.1.1.3 – A linguagem: interpretação do

mundo ...........................................1112.1.2 – Religião: teia de símbolos, sentidos,esperanças e desejos ............................................... 118

III – TEOLOGIA: “SABER TRANSFIGURADO PELO AMOR” 1373.1 – A TEOLOGIA DE RUBEM ALVES: EM BUSCA

DO TESOURO ESCONDIDO .............................. 1393.1.1 – Do Paraíso ao Deserto: reflexões

autobiográficas (1974) ............................. 1413.1.2 – Variações sobre a Vida e a Morte (1981) ... 1513.1.3 – Sobre Deuses e Caquis (1987)................. 176

EPÍLOGO: CONSIDERAÇÕES PARA UMA TEOLOGIADO COTIDIANO .................................................................. 189CONCLUSÃO ....................................................................... 211REFERÊNCIAS ..................................................................... 215POSFÁCIO: CRUZANDO CHEIROS E SABORES:A POIÉSIS DO ENCONTRO E DO DIÁLOGOINTERDISCIPLINAR.............................................................221HOMENAGEM PÓSTUMA A RUBEM ALVES(15/09/1933 – 19/07/2014).................................................... 225

RUBEM ALVES: UM APRENDIZ DE FEITICEIRO ........ 226Por Iuri Andréas Reblin

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS NA SALA DE AULA ............ 228Por Oneide Bobsin

RUBEM ALVES: EL TEÓLOGO QUE ESCAPÓDEL GUETO DE LAS IGLESIAS ..................................... 231

Por Juan José TamayoRUBEM AZEVEDO ALVES (1933-2014)“OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA” .................................234

Por Lori Altmann e Roberto E. ZwetschMILTON SCHWANTES E RUBEM ALVES .................... 241

Por Rosi SchwantesRUBEM ALVES: EL ENCUENTRO PERSONAL ............. 243

Por Leopoldo Cervantes-OrtizRUBEM ALVES: COM AS BORBOLETAS,À SOMBRA DOS IPÊS .................................................... 246

Por Iuri Andréas Reblin

Iuri Andréas Reblin

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DE RUBEM ALVES

IURI:Passei esses dois últimos dias lendo a sua dissertação.Fui possuído por dois sentimentos:Primeiro: gratidão. Imaginei o enorme esforço de pesqui-

sa por que você passou. Se você foi capaz disso é porque vocêgosta das coisas que penso e escrevo. Você fez o seu trabalhocom rigor, competência, detalhes e, sobretudo, amor. Aceite osmeus respeitos e a minha gratidão. E é preciso acrescentar: vocêescreve muito bem.

Depois, um sentimento de espanto. Você sabe mais sobreo que escrevi que eu mesmo! Talvez você não saiba mais do queeu aquilo que pensei e penso. Mas sabe mais do que eu aquiloque escrevi. Lendo as inúmeras citações eu me surpreendia:Mas eu escrevi isso? A vida vai passando, a gente vai esquecen-do, o que se escreveu fica como cacos largados à beira do cami-nho... Você catou os cacos que eu deixei e os presenteou a mimcomo um mosaico! Sabe que eu até fiquei gostando mais daminha teologia? Eu acho o seu trabalho tão bom que imaginoque ele poderia ser publicado – se valer a pena. Afinal, o públi-co para essas questões teológicas é pequeno. Só uns poucospertencem a “Castália”, a ordem monástica onde se praticavao “jogo das contas de vidro”. A fotografia da banca ilustra bemo espírito com que faço teologia: uma mistura de feiticeiro e debufão... Vocês entenderam o meu espírito!!

Dê um abraço à dra. Adriane Luísa Rodolpho.

Um grande abraço do Rubem Alves.

[Correspondência pessoal, enviada no dia 28 de outubro de 2007]

Iuri Andréas Reblin

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NOTA À SEGUNDA EDIÇÃO

Estimado leitor, estimada leitoraA proposta do lançamento de uma “segunda edição re-

vista e atualizada” do livro “Outros cheiros, outros sabores... opensamento teológico de Rubem Alves”, publicada em 2009pela Editora Oikos, surgiu como uma forma de prestar umahomenagem a este pensador brasileiro singular que revolucio-nou diversas áreas do conhecimento, particularmente a teolo-gia e a educação, e que marcou significativamente a literaturabrasileira, falecido em julho deste ano. A homenagem a Ru-bem Alves nesta publicação se dá por meio de duas perspecti-vas.

Numa primeira perspectiva, trata-se de democratizar oconhecimento acerca do teólogo mineiro, disponibilizando gra-tuita e eletronicamente este livro a todos e todas interessadasem percorrer os caminhos do pensamento de Rubem Alves,dada a relevância e a referência que este livro conquistou den-tro do campo teológico como uma abordagem possível e sólidado pensamento de Rubem Alves. O livro já estava esgotado háalgum tempo e uma forma de homenagear o teólogo mineiro éjustamente disponibilizar o livro da maneira mais acessível atodos e a todas: de forma gratuita e eletrônica (ebook).

Numa segunda perspectiva, trata-se de incluir novos con-teúdos ao livro, possibilidade de toda nova edição de uma obra.Nessa direção, o acréscimo não reside na obra em si, mas nainclusão de um anexo, intitulado “Homenagem Póstuma aRubem Alves”. Este anexo traz crônicas e pequenos relatos depesquisadores e pesquisadoras que possuem alguma relaçãoafetiva com o pensamento e a vida de Rubem Alves, pessoasque o conheceram, que, de uma forma ou outra, passaram por

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uma experiência com o teólogo mineiro. Naturalmente, não épossível sintetizar tudo o que Rubem Alves representa, nem aquantidade de pessoas que suas histórias/estórias influencia-ram. Este pequeno anexo enseja, entretanto, proporcionar umvislumbre, a glimpse, um olhar pela fechadura, desta reper-cussão, reverberação ou, como preferiria o próprio teólogomineiro, desta co(i)nspiração (conspirar: co-inspirar, i.e., res-pirar juntos do mesmo ar). Participaram deste anexo os seguin-tes conspiradores: Iuri Andréas Reblin, Oneide Bobsin, JuanJosé Tamayo, Lori Altmann, Roberto Zwetsch, Rosi Schwantese Leopoldo Cervantes-Ortiz.

Que este livro instigue você a percorrer os caminhos dopensamento de Rubem Alves, a se encantar com os mistériosde suas palavras e a exercitar a imaginação capaz de descons-truir percepções sedimentadas e alçar voos por lugares nãoantes visitados ou por lugares já visitados, mas agora vistossob uma nova perspectiva. Tenha uma leitura agradável!

O autor

Iuri Andréas Reblin

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PREFÁCIOSobre palavras apetitosas

e criadoras de vida...

Tive o privilégio e a alegria de participar como membroda Banca de defesa da dissertação de Mestrado que deu origema este livro. Foi um momento mágico de descontração e encan-tamento, a despeito das formalidades burocráticas que envol-vem esse, muitas vezes, árido e asfixiante ritual acadêmico.Isto porque o autor assimilou de tal maneira o conteúdo essen-cial das ideias e da proposta teológica de Rubem Alves queacabou contagiando, tanto os professores da Banca como o ‘pú-blico’, formado por colegas e amigos que ali se encontravamtorcendo por seu bom desempenho, com a beleza, a liberdade,a leveza e a criatividade poética com que Rubem Alves trata ofazer teológico. Agradecido pela honra do convite para escre-ver este prefácio não posso fazê-lo sem expor meu envolvi-mento existencial com a vida e a obra deste profeta de nossotempo, que também é guerreiro e poeta...

De todos ali presentes, talvez, eu tenha sido o mais ‘per-turbado’ pelo clima de “con-spiração” que acabou se forman-do. A explicação para isto é muito simples: faço parte da pri-meira geração de pastores e teólogos profundamente influen-ciada, tanto pelas ideias desse teólogo maior da América Lati-na, como por sua atitude iconoclasta em relação à epistemolo-gia positivista que domina a modernidade e, por consequên-cia, o protestantismo fundamentalista (da ‘reta doutrina’, parausar sua expressão) no qual fomos formados. Mais ainda doque isto: minha relação com o Rubem é também de ordem pes-

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soal. Adolescente, portando um nome estranho e carregado dehistória, fui salvo do fundamentalismo que me asfixiava, quan-do fui seu aluno, nos idos de 1958/59, no Instituto Gammon,em Lavras, MG. Sua influência foi tal que me decidi pela car-reira teológica e passei a ser seu companheiro nas lutas políti-cas e político-eclesiásticas em que nos vimos envolvidos a partirde 1962, na Igreja Presbiteriana do Brasil, e na sociedade brasi-leira a partir de 1964! Não tenho como negar, sem negar a mimmesmo, que Rubem foi o meu ‘outro relevante’ decisivo, aque-le que me abriu as avenidas do pensamento, o caminho davida... ao me ajudar a perceber, ainda no frescor da juventude,que a teologia, ao contrário do que se pensa e do que as insti-tuições religiosas pretendem, é uma conversa permanente paraa reinvenção da vida... Militamos juntos no movimento ecu-mênico e acabamos andando por caminhos diferentes, leva-dos pelas circunstâncias com que a vida nos deparou. Rubem,hoje, não quer mais ser visto como um teólogo, no sentido pro-fissional do termo, cunhado, aliás, modernamente, nas acade-mias do mundo protestante anglo-saxão. Eu nunca me entendicomo tal. Sempre me considerei um aprendiz-de-pastor, talvezum ativista político atípico, porque fora de partidos, pensandoe fazendo política a partir do horizonte de sentido das comuni-dades religiosas com que tenho convivido. O que me interessafrisar aqui é que minha biografia é devedora da obra de vida deRubem Alves e que é a partir desta perspectiva que desejo refle-tir sobre o instigante e provocante livro de Iuri Andréas Reblin.

Mais do que desfrutar e, ao mesmo tempo, procurar com-preender os meandros teopoéticos arquitetados ao longo dosanos por este pensador seminal do protestantismo brasileiro, oautor se deu ao trabalho de encontrar um fio condutor capazde ordenar uma síntese e estabelecer um nexo plausível parauma obra extensa que sempre se quis dispersa e fragmentária,porque extraída da vivência concreta, real, histórica do seuautor. Como indica no primeiro capítulo, Rubem Alves aban-donou a linguagem conceitual da teologia, que se quer acadê-mica e científica, ao descobrir sua impossibilidade, por umlado, e sua desonesta arrogância, por outro, que culminou em

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sua transformação num discurso ideológico, pronto e acaba-do, aprisionado aos mais diferentes interesses institucionais.É a partir desta constatação, da impossibilidade de se cons-truir um discurso sobre o Sagrado, e da descoberta de que este,no seu mistério e impenetrabilidade, é a luz que ilumina a falasobre a experiência humana, que nasce a linguagem capaz deconstruir mundos de significados a partir da imaginação e dodesejo (“A imaginação é a espora do desejo”, escrevia OctavioPaz). É quando, então, Rubem Alves se envereda pelos cami-nhos da sapientia, ou da teopoética, como querem alguns au-tores, uma ciência que tem por objetivo interpretar o ato deviver, aqui e agora. E o seu discurso sobre as maravilhas davida cotidiana, em seus menores e mais simples aspectos e,também, seus abismos profundos e, por vezes, apavorantes, co-meça a encantar seus leitores, ávidos por seus ensaios, insightsinstigantes e crônicas gotejantes de poesia onde o indizível e oinefável, às vezes, aparecem dizendo sua própria fala ou reci-tando seu próprio texto, para os que sabem ouvir o silêncio eler nos entremeios das palavras deste incansável “contador deestórias”...

Chamo a atenção dos leitores para este aspecto da obra deRubem Alves porque é aqui que se encontra o objetivo maior doautor. Se no prólogo ele se ocupa do itinerário de vida de Ru-bem Alves, porque entende que sua obra é parte integrante e,portanto, dependente de sua experiência de vida e nos trêscapítulos centrais procura explicitar, com rara felicidade e comum admirável poder de síntese, as articulações que dão formaao seu pensamento criativo e inovador, é no epílogo que o au-tor revela a que veio. Está interessado em explorar as possibili-dades da arquitetura de uma teologia do cotidiano, capaz defazer sentido para a vida das pessoas, porque nasce a partir desuas experiências de vida, seguindo as pistas abertas pela re-flexão desenvolvida por Rubem Alves. Aqui, o pesquisadordiligente abandona sua preocupação descritiva e desvelado-ra dos principais aspectos que conformam o pensamento des-viante e o discurso crítico do ‘teólogo mineiro’ e se nos mostracomo um interlocutor arguto que inquire, suspeita, questiona,