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36 IMPRENSA | ABRIL 2010 F oi um dia agitado na rotina do “Globo Esporte” quan- do a revista IMPRENSA acompanhou a transmis- são de uma edição do pro- grama. Além do cotidiano de pautas, produção e reportagens, a assessoria de imprensa da emissora havia pre- parado uma sessão de fotos para am- pliar o arquivo de imagens de divul- gação do programa. Mal subiram os créditos no vídeo e dois fotógrafos já estavam a postos, um da IMPRENSA e um da assessoria, solicitando ao jor- nalista Tiago Leifert que sorrisse para suas lentes. O apresentador a tudo suportou impassível e com boa dose de humor. Depois, mais uma sessão junto da equipe que, como Leifert, é bastante jovem e animada. Eles simu- laram uma formação de time de fu- tebol para foto oficial, o que suscitou diversas brincadeiras. “A equipe é jovem, porém experiente e dedicada”, defende o apresentador. Foi com o apoio desse time que Leifert fez da edição São Paulo do “Globo Esporte” (GE) uma referência para o noticiário do gênero. Apostando no espírito de seu editor-chefe e apresentador, o programa fez sucesso pela condução descontraída e pela edição ágil e divertida, além do caráter jor- nalístico. Leifert, 30 anos, recusa-se a receber todo o crédito pelo formato. Divide, por exemplo, com Tadeu Schmidt, que faz um noticiário da rodada futebolística semelhante no “Fantástico”. Recor- da-se também do passado televisivo do jornalis- mo esportivo. “Pesquisando o Cedoc [arquivo da emissora], vi que é uma volta ao que era o ‘Globo Esporte’ nos anos 1980”, conta. “Assisti a um vídeo que tinha o [José Luiz] Datena, quando ele era repórter da Globo. Entrevistou o Só- crates, que estava completamente bê- bado no Carnaval. Era um negócio que eu colocaria no ar hoje, para encerrar o programa e todo mundo dar risada.” Leifert acredita que fazer telejor- nalismo esportivo com esse toque de entretenimento é um sinal dos tempos, é cíclico. No passado foi uma marca, perdeu-se, recuperou-se. Mas a essência – cobrir concentrações, jogos, campeonatos, resultados, po- líticas públicas e negociações em di- versas modalidades – não se altera. “Não mudamos o ‘como fazer’, só o modo de entregar”, afirma o jorna- lista que, além de apresentador, tam- bém é editor-chefe do GE. São muitas as responsabilidades. Depois das fo- tos, Leifert vai direto para a reunião de pauta, sem pausa para almoço. Além de verificar a produção do programa do dia seguinte, o editor-chefe tem de aprovar pautas, hierarquizar matérias, organizar a cobertura da próxima rodada, discutir as reporta- gens da outra semana, rever os projetos e especiais em andamento e conversar com os diretores. Lei- fert diz adorar fazer análise de índices de audiência. “Os números são influenciados por milhares de fa- tores. Às vezes não é o programa que foi ruim, mas estava acontecendo algo no mundo que fez as pes- soas pegarem informação em outro lugar”, ponde- ra, destacando que a leitura requer muito cuidado PERFIL NADA DE ERRADO COM O RISO À FRENTE DO “GLOBO ESPORTE” DE SÃO PAULO DESDE 2009, TIAGO LEIFERT DEU PROVAS DE CAPACIDADE E TALENTO PESSOAL AO LANÇAR O NOVO MODELO DO PROGRAMA, NO QUAL ENTRETENIMENTO E JORNALISMO TRABALHAM EM EQUILÍBRIO POR IGOR RIBEIRO* EDITOR EXECUTIVO FOTOS: PABLO DE SOUSA

p e r f i l NADA DE ERRADO COM O RISOportalimprensa.com.br/tv60anos/pdfs/2000_13_IMPRENSA_ABRIL_2… · Tadeu Schmidt, que faz um noticiário da rodada futebolística semelhante no

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Foi um dia agitado na rotina do “Globo Esporte” quan-do a revista IMPRENSA acompanhou a transmis-são de uma edição do pro-

grama. Além do cotidiano de pautas, produção e reportagens, a assessoria de imprensa da emissora havia pre-parado uma sessão de fotos para am-pliar o arquivo de imagens de divul-gação do programa. Mal subiram os créditos no vídeo e dois fotógrafos já estavam a postos, um da IMPRENSA e um da assessoria, solicitando ao jor-nalista Tiago Leifert que sorrisse para suas lentes. O apresentador a tudo suportou impassível e com boa dose de humor. Depois, mais uma sessão junto da equipe que, como Leifert, é bastante jovem e animada. Eles simu-laram uma formação de time de fu-tebol para foto oficial, o que suscitou diversas brincadeiras. “A equipe é jovem, porém experiente e dedicada”, defende o apresentador.

Foi com o apoio desse time que Leifert fez da edição São Paulo do “Globo Esporte” (GE) uma referência para o noticiário do gênero. Apostando no espírito de seu editor-chefe e apresentador, o programa fez sucesso pela condução descontraída e pela edição ágil e divertida, além do caráter jor-nalístico. Leifert, 30 anos, recusa-se a receber todo o crédito pelo formato. Divide, por exemplo, com Tadeu Schmidt, que faz um noticiário da rodada futebolística semelhante no “Fantástico”. Recor-da-se também do passado televisivo do jornalis-mo esportivo. “Pesquisando o Cedoc [arquivo da

emissora], vi que é uma volta ao que era o ‘Globo Esporte’ nos anos 1980”, conta. “Assisti a um vídeo que tinha o [José Luiz] Datena, quando ele era repórter da Globo. Entrevistou o Só-crates, que estava completamente bê-bado no Carnaval. Era um negócio que eu colocaria no ar hoje, para encerrar o programa e todo mundo dar risada.”

Leifert acredita que fazer telejor-nalismo esportivo com esse toque de entretenimento é um sinal dos tempos, é cíclico. No passado foi uma marca, perdeu-se, recuperou-se. Mas a essência – cobrir concentrações, jogos, campeonatos, resultados, po-líticas públicas e negociações em di-versas modalidades – não se altera. “Não mudamos o ‘como fazer’, só o modo de entregar”, afirma o jorna-lista que, além de apresentador, tam-bém é editor-chefe do GE.

São muitas as responsabilidades. Depois das fo-tos, Leifert vai direto para a reunião de pauta, sem pausa para almoço. Além de verificar a produção do programa do dia seguinte, o editor-chefe tem de aprovar pautas, hierarquizar matérias, organizar a cobertura da próxima rodada, discutir as reporta-gens da outra semana, rever os projetos e especiais em andamento e conversar com os diretores. Lei-fert diz adorar fazer análise de índices de audiência. “Os números são influenciados por milhares de fa-tores. Às vezes não é o programa que foi ruim, mas estava acontecendo algo no mundo que fez as pes-soas pegarem informação em outro lugar”, ponde-ra, destacando que a leitura requer muito cuidado

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NADA DE ERRADO COM O RISO

À FRENTE DO “GLOBO ESPORTE”

DE SÃO PAULO DESDE 2009,

TIAGO LEIFERT DEU PROVAS

DE CAPACIDADE E TALENTO

PESSOAL AO LANÇAR O NOVO

MODELO DO PROGRAMA, NO

QUAL ENTRETENIMENTO E

JORNALISMO TRABALHAM

EM EQUILÍBRIO

POR IGOR RIBEIRO*EDITOR EXECUTIVO

FOTOS: PABLO DE SOUSA

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A PRIMEIRA

COISA QUE EU

APRENDI FOI

CONCEDER SEMPRE

O BENEFICIO DA

DúVIDA. NÃO

ACREDITO EM

NADA, PORQUE

SEI COMO

FOI COMIGO

bo deixou de exibir ‘Zorra Total’. Mas não tem nada mais divertido do que ganhar da Argentina”.

A ironia não se restringe à briga de vizinhos. Os próprios jogadores brasileiros são alvos de riso e grande parte deles parece levar numa boa. Um atleta em especial será sempre lembrado por con-ta das armações do GE: Val Baiano. Em novembro último, Leifert debochou de um funk que virara hit nos bailes do Rio cujo tema era Petkovic. Disse que faria trabalho muito melhor em homenagem ao en-tão artilheiro do Barueri. A equipe resolveu bancar a brincadeira do chefe, propondo que ele cantasse o “Funk do Val Baiano” no encerramento do progra-ma seguinte. A música, em que o atacante era su-perlativamente comparado ao Adriano do Flamen-go, fez sucesso. Virou toque de celular, bateu mais de 300 mil visualizações no You Tube e emplacou no trending topics do Twitter no México, para onde Val Baiano se transferiu na temporada seguinte, para jogar pelo Monterrey. “Dias depois o Val me ligou propondo: ‘Vamos ganhar dinheiro, gravar um CD!’ Ele adorou o funk”, conta Leifert.

Outro jogador que garantiu seu lugar na história graças ao GE é Nei Paraíba. Com seu cabelo exu-berante, o atleta natural de Guarabira (PB) chamou a atenção quando passou pelo Oeste de Itápolis, no início de 2009. Leifert, em reverência ao perfil grego do atacante, lançou um concurso de beleza com seu nome por meio de votação pela internet, conquistado pelo meia Leo, do Paulista de Jundiaí. Emocionado por batizar o prêmio, Nei visitou os estúdios do GE semanas depois para conversar com Leifert e teve de ser separado por um cordão de isolamento e seguranças de uma horda de fãs enlouquecidas. Hoje, o “Deus do Amor”, como Nei ficou conhecido no Brasil, joga pelo Sanat Naft e

interpretativo. Ressalva que “não é uma obsessão, mas é importante, faz parte do nosso trabalho”.

O programa vem conquistando bons índices, com média de 11 pontos, atingindo em 24 de março 14 pontos, uma de suas melhores marcas. Segundo Leifert, uma análise cuidadosa dos números revela que o público do GE tem tido muita adesão de mu-lheres, crianças e adolescentes. “Aumentou assus-tadoramente. Era o que a gente sempre esperava, mas foi mais rápido do que se previu.” O apresen-tador diz que o boleiro clássico ainda está lá, mas pode ter se afastado aquele que se sentiu mais in-comodado com as piadas. “Mas incluiu mais gente na conversa, que era o que a gente queria”, celebra o editor-chefe do “Globo Esporte”.

DRAMA ARGENTINO Leifert volta da reunião de pauta e parece ani-

mado para a conversa. É admirável, já que iniciou seu dia na emissora no início da manhã e ainda não parou. São quase 15h e ele educadamente declina da sugestão de pausa para o almoço, para infelici-dade da faminta equipe de IMPRENSA. Vem com o inseparável iPhone numa mão e uma planilha cheia de números na outra. “É proposta orçamen-tária. Tenho que cuidar disso também”, respon-de, dizendo nas entrelinhas que sua vida não é só contar as piadas de argentino que causaram furor durante as eliminatórias da Copa.

“Eles contribuem bastante com o repertório, então está ótimo”, diz Leifert. De fato, ficou fá-cil tirar onda com a seleção hermana por conta do sufoco que Maradona passou nas eliminatórias em 2009. Após a vitória da seleção brasileira por três a um, em setembro, Leifert saiu-se com essa: “Por causa do jogo entre Brasil e Argentina a Glo-

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Lá APRENDI QUE

NÃO TEM NADA

DE ERRADO COM

ENTRETENIMENTO,

NADA. ESPORTE

é INFORMAÇÃO,

MAS TAMBéM

PODE SER

DIVERTIDO PARA

O TELESPECTADOR

e atual diretor de relações com o mercado. Mas o apresentador afirma veementemente que nunca se aproveitou da posição do pai para galgar lugares na TV, ainda que já tenha sofrido grande preconceito por conta disso. “Entendo esse estereótipo de ‘filho do diretor’. Não sei como eu reagiria se fosse o con-trário”, reflete Leifert. “Mas a primeira coisa que eu aprendi foi conceder sempre o beneficio da dúvida. Acontece muito esse boato aqui: ‘Ah, Fulano virou repórter, deu pra não sei quem...’ Não acredito em nada, porque sei como foi comigo.”

Segundo Leifert, o preconceito se dissipou à base de trabalho e mérito. Um teste que considerou “brutal”, mas lhe ensinou algumas lições. “Sempre digo que o fato de eu ser filho de diretor não pode nem me ajudar, nem prejudicar.” Ele conta que co-nhecer a Globo muito bem foi um ponto positivo de ser filho de quem é. Vivia transitando por seus corredores e sabia de cor o funcionamento do orga-nismo global. “Mas meu pai nunca, nunca interferiu em nada na minha vida. Só no ‘Desafio ao Galo’.”

Leifert se refere ao começo da carreira. Aos 16 anos fez reportagens sobre a famosa competição entre times de várzea de São Paulo. Gilberto sabia que o filho levava jeito para a coisa. “Meu pai conta que quando eu tinha dois anos, ele chegava em casa e eu dava um relatório de Guerra das Malvinas para ele, porque eu assistia aos telejornais”, diz. Nelsi-nho de Arruda, falecido empresário e dono do “De-safio ao Galo”, deu uma chance ao filho do amigo. No primeiro jogo, em Caieiras, foi só assistir, mas o repórter oficial não apareceu. “O produtor che-gou para mim, me deu um microfone, me mostrou o ‘on’ e o ‘off’ e desejou boa sorte”, lembra Leifert. Era um clássico: Vai Quem Quer versus Folha Ver-de, cujo lateral esquerdo, cognome Funeral, era o

tem estremecido dogmas islâmicos e derretido os corações das recatadas senhoras iranianas.

As gravações da edição 2010 do Troféu Nei Paraíba já começaram e, receoso de contar o que não deve, o apresentador adianta somente que os garotos estão dedicados e prometem esforço tanto para levar o caneco estético quanto o lu-dopédico. Após insistência da reportagem, revela que o prêmio agora exige competição de talentos, como fazem as misses. O jogador que até então havia rendido menos pontos e mais risadas nes-se quesito se vangloriava da habilidade em fazer pão-de-queijo, mas na hora do vamos-ver produ-ziu uma gororoba indigerível.

Muitas vezes Leifert é o próprio foco da piada. Por decorrência de um pensamento alto parecido com o que gerou o “Funk do Val Baiano”, o apre-sentador protagonizou a reconstituição de um pênalti batido por Mano Menezes, quando ainda era atleta amador do Guarani de Venâncio Aires (RS), em 1988. Leifert se aproveitou de um áudio da transmissão em rádio da partida e da sua se-melhança física com o técnico do Corinthians para fazer as vezes do próprio, cujo gol grantiria o título daquele ano ao time rubronegro. “O curioso é que na reconstituição juntamos muita coisa vermelha e preta para montar a torcida e apareceu uma ca-miseta com ‘Pato’ escrito nas costas [em alusão ao jogador brasileiro do Milan]. A gente brinca que o cara que estava usando era um visionário, um pro-feta”, brinca Tiago Menezes. Quer dizer, Leifert.

O FILHO DO GILBERTO

Na verdade, o jornalista não tem parentesco al-gum com o técnico gaúcho. Seu pai de verdade é Gilberto Leifert, executivo da Globo há muitos anos

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O começo do novo GE teve problemas técnicos que criaram certa descrença no formato, mas Leifert persistiu. Erros e problemas de produção rarearam, e os poucos que acontecem são ironizados já no ar. “Padrão de qualidade é importantíssimo, mas somos falíveis: a máquina quebra mesmo, eu erro mesmo. Se a gente posasse de perfeito o tempo todo, as pes-soas não iam achar a menor graça”, comenta. “Levar na esportiva, sempre, é o lema do programa.”

BOLA NA CANELALevar na esportiva é também um método de

abstração diante da intensa rotina de Leifert. Num domingo típico, por exemplo, começa a tra-balhar depois do almoço assistindo aos pré-jogos. Depois, vê todas as partidas, o “Troca de Passes” da SporTV e debates de outras emissoras. Revê as coletivas e vai para cama. Entra na segunda-feira às 7h: confere reportagens, edita matérias, grava áudios e repassa roteiro. Deixa tudo pronto para o programa ir ao ar às 12h45. Segue para reunião de pauta e começa tudo de novo.

“Eu que sou a favor do fim da concentração [para jogadores de futebol], acabo ficando muito concentrado aqui na Globo”, lamenta. Suas férias, vencidas há alguns meses, devem ser finalmente aproveitadas a partir da Páscoa, quando pretende viajar ao exterior. Nos momentos de folga joga vi-deogame e curte a namorada, também jornalista. Leifert ainda joga bola, quando dá tempo. “Às vezes ele mata a bola de canela, muito sem-querer, e tira um sarro dele mesmo. Finge que dá um drible com a maior naturalidade, como se tivesse planejado aquilo”, testemunha Noriega.

Quando está no Brasil, vai menos ao estádio do que se imagina. E não revela o time do coração. “Tenho medo de apanhar. Acho que os torcedo-res mais bem resolvidos, que torcem ou não para o mesmo time que eu, não iam ligar se eu falasse. Mas a gente fica sujeito a esse tipo de bandido que é minoria e se diz torcedor de futebol”, diz. Também não frequenta por motivo técnico: para trabalhar melhor, prefere ter a visão das câmeras de TV, que serão sua referência no dia seguinte.

Ao final da entrevista, ele lembra do próximo programa e verifica seus e-mails. Saca o iPhone, do qual não se desgrudou nenhum segundo, e respon-de a algumas mensagens. Mais algumas fotos de-pois e Tiago Leifert vai fazer aquilo que milhares de telespectadores faziam enquanto ele apresentava o “Globo Esporte”, cinco horas atrás: almoçar.

*Colaborou Ana Ignacio, da Redação

destaque. Para quem anos mais tarde consolidaria o trabalho na base do humor e do improviso, era um início de carreira premonitório.

Leifert cursou jornalismo na PUC, mas se ar-rependeu porque o curso era muito teórico. “Na aula de técnicas de reportagem e edição o profes-sor só falava de Cuba e do massacre em Eldorado dos Carajás”, diz. Foi estudar nos EUA, onde se encantou com o corpo docente, a infraestrutura e as possibilidades. “Foi lá que aprendi que não tem nada de errado com entretenimento, nada. Espor-te é informação, mas também pode ser divertido para o telespectador”, comenta.

Conseguiu um estágio na rede NBC, onde fez candid cameras: mais do que pegadinhas, eram reportagens investigativas com câmera escondi-da. Às vezes atuava de fato, no papel de “isca”. Certas matérias eram combinadas com a polícia e numa ocasião ajudou a desbaratinar um charla-tão que vendia testes de estúdio para aparecer na TV. “O Miami-Dade gostou tanto que brincaram me chamando para trabalhar com eles”, lembra, referindo-se à polícia do condado.

Dois anos depois, faculdade concluída e com saudades da família, voltou ao Brasil. Conseguiu trabalho na produção da TV Vanguarda, filial da Globo em São José dos Campos (SP), onde tam-bém atuou na reportagem. Anos depois foi para a reportagem da SporTV, e em 2006 para o “Globo Esporte”, onde cobriu Fórmula 1, Panamericano e Olimpíadas de Pequim, além de futebol. No início de 2009 surgiu a oportunidade de criar e apresen-tar o novo modelo de programa, que há anos vinha amargando baixos pontos de audiência. Muitos co-legas viam nele o potencial necessário para a refor-mulação. “É um cara muito inteligente, divertido e fácil de conviver”, comenta Maurício Noriega, ami-go e ex-colega de SporTV. “Esse sucesso dele ago-ra, todos da equipe já sabíamos que ia acontecer. E o Tiago já estava preparado para isso”, completa.

JOVENS DEDICADOSLEIFERT COM A EQUIPE DO GE: NOVAS REFERêNCIAS