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POR PEDRO VENCESLAU E - portalimprensa.com.brportalimprensa.com.br/tv60anos/pdfs/CERTO_IMPRENSA_JAN_FEV_2006_ED... · uma experiência muito rica para os telespectadores, que ganham

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POR PEDRO VENCESLAU E

RENATO BARREIRO S

FOTOS: ADOLFO E GUSTAVO VARGA S

Faltam mais ou menos qua-renta minutos para o pro-grama começar e nem sina ldas meninas no camarim

principal do "Programa do Jô ": Nos-sa equipe já está avisada : "A convers atem que ser rápida": São 17h20 . Às 1 8horas em ponto elas têm que corre rpara o estúdio, devidamente maquia -das . De lá, correm para o aeroporto e ,desembarcando, correm para outroscompromissos . Toda quarta-feira éassim mesmo, uma correria. Eis que ,do Rio, chegam juntas Ana Mari aTahan e Lucia Hippólito . A primeira ,que é chefe de redação do Jornal doBrasil, não desgruda do telefone umminuto. "Toda quarta é uma loucu-ra. Vou da redação, no Rio, até o es-túdio, em São Paulo, fechando o jor-nal pelo celular. Me descrevem com oestá o desenho da primeira págin aenquanto vou fazendo as manchetes .Quando acaba o programa, começ ao fechamento . Eles (redação) vãolendo os textos enquanto estou n otáxi e vou arrumando do jeito queeu gosto. Chego no Rio e vou pararedação fazer a última revisão ante sde descer a página ."

Haja fôlego. "Isso é bom porque agente leva muita coisa quente paradebater no estúdio"; completa Lucia ,enquanto recebe os últimos retoquesna maquiagem. A correria não é me -nor para ela, que pelo telefone, detempos em tempos, entra ao vivo n aRádio CBN .

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O papo está tão animado que nin-guém chega perto dos refrigerantes esanduíches de presunto e queijo pre -parados pela produção. A essa altura ,a professora de História na USP Ma-ria Aparecida de Aquino, chamada deCida entre as meninas, já faz parte d aconversa . O assunto agora é a fama .Recém-convertidas em celebridades ,Lucia e Ana contam como ficaram

Era para ser apenas uma experi-ência provisória . Agradou tan -to que as quartas-feiras passa-ram a ser religiosas . Quem pre -

tende entender a crise que os jornai snoticiam mas não decifram, rir dos co-mentários elétricos e da divergênci ade ponto de vista e receber alguma spílulas de bastidores que só estarã onas edições do dia seguinte, precisaassistir às "Meninas do JZileide Sil-va, Tereza Cruvinel, Lillian Witte Fibe,Ana Maria Tahan, Sonia Racy, CristianaLôbo, Lucia Hippólito e Maria Apare-

cida de Aquino falam da crise políticacomo animadas mulheres comenta muma imperdível promoção de sapa-tos . Aliás, nada impede que, em mei oàs discussões sobre a legitimidadedos recursos sem-fim que José Dirce uconseguia antes de ser cassado, umrompante as levasse a comentar, defato, sobre uma liquidação de sapato sim-per-dí-vel .Embora todas elas gostem bastantede falar ao mesmo tempo - alguma smais que outras, é verdade - sua parti-cipação no "Programa do Jô"tem sid o

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uma experiência muito rica para o stelespectadores, que ganham váriase diferentes opiniões sobre a crise po-lítica . Maria Aparecida de Aquino, So-nia Racy eTereza Cruvinel, que nuncaapareciam na televisão, tiveram qu ese acostumar com a fama . Outras,como Cristiana Lôbo, conheceu ogrande público. Ana Tahan, cariocaque comanda o JB, até recebeu um e-mail apaixonado em que era pedidaem casamento por um expectador d eSanta Catarina, lido, no ar, pelo Jô Soa -res . Assim são as"Meninas do J

sabendo que estavam famosas : "Nósestávamos no aeroporto Santos Du-mont, esperando para embarcar paraSão Paulo e gravar o debate no Jô,quando aquele rapaz do Cidade Negra ,o Toni Garrido, veio em nossa direçãoe tascou um beijo. Disse que é nosso fãardoroso" (risos gerais) . "Tem uma coi-sa gostosa nesse negócio . De repente,fiquei visível. As pessoas me param n arua para falar sobre a crise e para co-mentar sobre `aquele casaquinho rosa-,diverte-se Lucia Hippólito . "Desde quecomecei no Jô não paro mais de rece-ber convites para entrevistas, palestras eprogramas de TV", completa Cida . "Eumorro de vergonha de dar autógrafo",suspira Ana Tahan.

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Enquanto Lucia, Cida e Ana fala msobre a fama, uma moça da produ-ção trata de instalar o microfone e mCristiana Lôbo, que acaba de chega rno camarim vindo direto de Brasília ."Quarta-feira é o dia mais forte e mBrasília. Tem dia que eu almoço co muma fonte e pego o vôo da tarde . Sousempre a mais atrasada por causa dis-so " , reclama. Virando-se para a moç ada produção, Cristiana dispara : "Mi-nha circunferência diminuiu?" "Vocêemagreceu " , se antecipa Cida.

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Devidamente instalada na roda ,chegou a hora de Cristiana falar d esua relação com a fama . Apesar de se rum rosto conhecido na Globo News ,ela só se transformou em celebridad edepois que começou a freqüentar o" Programa do Jô" : "Estou atingind oum público que eu nunca tinha atin-gido em 25 anos de profissão . A cris etem uma popularidade enorme . Exis-tem várias comunidades no Orkut, d otipo : `eu adoro as meninas do Jô, e uodeio as meninas do Jô (veja box na spáginas 54 e 55)". Alguém pergunt ase ela se sente mais à vontade no J ôdo que na Globo News, onde parti-cipa, ao lado de Franklin Martins ,do programa "Fatos e Versões " . "Na

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Cristiana Lôb oJornalista e comentarista política

.

da Globo News, entrou para a¢ Rede Globo em 1979, na sucursa l

de Brasilia . Entre os anos 80 e 9 0foi responsável por duas colunasno jornal OGlobo .

Sônia RacyFormada em administração d eempresas, Sônia começou com orepórter do Jornal do Brasil,esteve nas rádios CBN e Eldorad oe TV Bandeirantes. Atualmente,é colunista de economia de 0Estado de S.Paulo.

Lucia HippólitoÉ cientista política e historiadora .Comentarista da rádio CBN, UOLNews, Globo News e 0 Estadode 5 Paulo . Já fez artigos para aFolha de S.Paulo, 0 Globo, CorreioBraziliense e Jornal do Brasil.

Ana Maria Taha nPassou pelas redações da Folhade S.Paulo e 0 Estado de S. Pauloe TV Record, onde foi editora d epolítica . Atualmente é editorachefe do Jornal do Brasil.

Globo News é mais sentadinho, com-portadinho. . . Talvez pela presença dehomens no debate", (gargalhadas ge-rais) . Mas, afinal, porque as mulhere sfazem mais sucesso que os homens n ahora de debater política na TV? Que mresponde, prontamente, é Cristiana :"A entonação da mulher é diferente . Agente fala a linguagem da dona de casa ,não a linguagem rococó . Somos maisdesabridas " : "Desabridas é uma belapalavra", emenda Ana Tahan . Explicao bom e velho dicionário Aurélio qu ea palavra desabrida significa desenfre-ada, insolente e, às vezes, áspera . Nã ofoi fácil para esse time de mulheres de -sabridas encontrar o ritmo do debate ."No primeiro programa, estávamoscontidas. Pensamos que seria uma ve zsó" avalia Ana. Lucia discorda : "Ach oo contrário . No início havia um cert oatropelo . Imagina . . . um mulherio fa-lando (risos) . Depois melhorou. Já nã ofalamos mais todas ao mesmo tempo ..

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A essa altura, a quinta debatedo-ra daquela noite, Sonia Racy, já está

circulando pelo camarim. Depois demaquiada, ainda envia pelo lap topuma nota para o Estadão, onde assin auma coluna sobre economia, antes deintegrar-se ao papo. Novata do pro -grama, Sonia passou a ser convidadaquando Palocci começou a ser ataca-do e a economia entrou em cena.

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Como a qualquer momento al-guém da produção vai bater na portaconvocando as meninas para o estú-dio, colocamos em pauta finalment eo grande prato de todas as quartas :a crise política . A primeira pergun-ta não podia ser outra : ainda exist ecrise? Quem explica é Sonia Racy : "Aparte prática e jurídica da crise aind anão aconteceu . Quando acontecer, te -remos tantos holofotes quanto agora ""Essa crise vai longe. . . Vai entrar pel acampanha. Mais que isso, vai pautar acampanha" , concorda Ana Tahan .

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Petista de carteirinha, a professor a

T

Maria Aparecida de AquinoDoutora em História Socia lpela USP, onde leciona HistóriaContemporânea, é uma da sprincipais especialistas no períod oda ditadura militar até a atua ldemocracia .

Lillian Witte FibePassou pelas redações da Folha deS.Paulo, Gazeta Mercantil e do Jor-nal do Brasil. Na TV Globo, atuoucomo comentarista econômica d o"Jornal Nacional"e editora-chefe eâncora do "Jornal da Globo: Desde2004 apresenta o UOL News.

Zileide SilvaComeçou na profissão como re-pórter e locutora da Rádio Cultura .Cobriu Brasília na época do gover-no Collor, pelo SBT e na TV Globocontinuou na cobertura política .Foi correspondente internacionalda emissora em Nova York .

* Já participaram do programa : Mônica Waldvogel,Tereza Cruvinel, Lúcia Guimarães e Dora Kramer

As meninas no Orkut

Uma boa ferramenta para medir a populari-dade das "Meninas do Jô" é a rede de relacio-namento virtual Orkut . Ao todo, existem oitocomunidades dedicadas às meninas, send ometade composta por não-simpatizantes eoutra por fãs do quadro. Quando o critério deavaliação é o número total de integrantes da scomunidades, elas são um sucesso retumbantede público: 2 .800 dizem que são fãs do quadrocontra 950 que odeiam .

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A menina mais bem cotada entre o públic oé Lillian Witte Fibe, com quatro comunidadesfeitas somente para ela . Total de fãs : 412 . N aseqüência vem Cristiana Lôbo, com três comu-nidades. Empatadas com uma única comuni-dade de fãs cada estão Lucia Hippólito, Mari aAparecida de Aquino e Zileide Silva . As órfãs d oOrkut são Ana Maria Tahan e Sonia Racy, qu eaté o momento do fechamento desta ediçã onão tinham nenhuma comunidade.

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"Sou um anarquista "Um anarquista no melhor sentido da palavra . As -sim se define politicamente José Eugênio Soares ,oJô. Cercado de feras do jornalismo brasileiro e n acondição de"desmediador"dos debates semanai ssobre a crise, Jô anarquizou o protocolo de se uprograma . As "Meninas do Jô"foram uma experi-ência inédita nos 18 anos de vida de seu talkshow(a estréia foi em 16 de agosto de 1988), que co-meçou no SBT, mas migrou para a Globo em 1999 .Nesta entrevista, concedida à IMPRENSA em se ucamarim na Globo, horas antes do início de sua sférias, Jô falou sobre crise, política e garantiu : "oprograma continua no ano que vem "

IMPRENSA - Como vocês chegaram aos setenomes que hoje se revezam no programa ?(Zileide Silva, Lilliam Witte Fibe, Ana Tahan ,Sonia Racy, Cristiana Lôbo, Lucia Hippólito,Maria Aparecida de Aquino )Jô - A gente viu, pelos jornais, quais eram a smulheres top de linha no assunto [crise] . Algumasque chamamos, não toparam . Depois, fizemosum esquema de rodízio para não jogar com u mtime só e respeitar os compromissos de cada uma .Tinha que haver uma certa química para ver qu etime combinava mais . Hoje, são sete mulheres .

IMPRENSA - Por que vocês decidiram convida rapenas mulheres para debater a crise ?Jô - Essa mesa nasceu da intuição. Foi idéia d aAnne Porlan e do Hilton Marques . Em análise po-lítica, geralmente, o homem fica formal e excessi-vamente sério . Já a mulher se solta e deixa o clim amais ameno. Existem coisas que na boca de u mhomem soariam como uma barbaridade.

IMPRENSA - No ano que vem os debatescontinuam ?Jô - Continuam . Ano que vem tem eleições eCopa do Mundo. Além disso, acho que a crise ain -da não se esgotou.

IMPRENSA - Como avalia seu desempenh ocomo moderador?Jô - Sou justamente o contrário : um desmodera-dor (risos) . 0 Hilton sempre diz que eu sou o únic omediador que dá opinião. . . Eu não resisto . Nã oexiste uma camisa de força que me obrigue a se rdeste ou daquele jeito.

IMPRENSA - Está decepcionado com o gover-no Lula ?Jô - Não estou decepcionado. Não me decepcio-no com político nenhum desde o Jânio Quadros,em 1958.

IMPRENSA - Você se considera uma pessoa deesquerda ?Jô - Me considero um anarquista, no melho rsentido da palavra . Minha posição é como a d aLucia Hippólito : ela diz que está tranqüila porqu eo pessoal do PT acha que ela é do PSDB, e vice -versa . Comigo é assim : se entrevisto alguém doPT, dizem que sou do PSDB, se o entrevistado é d oPSDB, falam que sou petista . Do ponto de vista so-cial, posso ser considerado de esquerda . Mas nã ogosto de ser rotulado.

IMPRENSA - Em entrevista para a revistaIMPRENSA, uma das "Meninas do Jô", a Terez aCruvinel, disse que o clima é de caça à esquer-da e que há "um certo aroma de macarthism ono ar': Você concorda com ela ?Jô - Ela não faz a menor idéia do que foi a list anegra e o macarthismo. Comparar a crise atua lcom o macarthismo é não ter a menor idéia d oque foi isso. uma frase de efeito sobre nada .

Maria Aparecida de Aquino é a únicamilitante presente entre as "Meninas doJô' : "Fui sindicalista da gloriosa Apeo-esp , conta. Apesar de dizer que nãopretende deixar o partido depois d oescândalo do "valerioduto , Cida aind aestá em dúvida sobre seu voto em 2006 :"Voto no PT desde 1985, mas não sei s evotarei no Lula ano que vem ."

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O tempo acabou. No estúdio ,cada uma já sabe onde está seu lu -gar à mesa . Ao som do Quinteto ,Jô Soares entra em cena . Nos bas-tidores, o clima é de amigo secretoe happy hour . Alguém na platéi apergunta: quando vocês voltam ?" Vai ter 'Big Brother ', ` 24 horas ',`JK'. . . Vai longe '; diz um cinegra-fista . Bira entra na roda e coment aque vai tocar no interior e depoi svai para o Nordeste . Derico temque sair correndo para o aeropor-to . "Deixa um abraço para o Jô".Depois do programa, as meninassaem correndo, cada uma para se utáxi . Vai começar o fechamento .

Fã-clube virtual

Maria Aparecida de Aquin o1 comunidade

Zileide

'1comunidade

Ana Maria Tahan e Sonia RacySem comunidade

412 membros

48 membros

43 membros

IMPRENSA

2C 1-JANEMG . F EvEPC,k ., 2CO6 55