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AN° 1 N.° '01 jornalismo e comunicacao Cz$ 250,00

DE OOLSIAOComo o empresdrio Ari de Carvalh oassumiu o Diario Popular, de Sao Paulo ,

em apenas

cinco dia s

. . .PESQUIS AG \tit 1 'Nit ,tItA sEXCLUSIVA0 que os

leitores achamda Folha e

do Estadao

UM NEGOCIO

Brasil

Ao estilo de GekkoPor urn prep abaixo do real e ern apenas cinc o

dias, o controvertido Ari de Carvalhoassume o Diario Popular e finca pe em Sao Paulo

Se o governador Orestes Querci arealmente nao a dono nem socio doDiario Popular, de Sao Paulo, levouuma surpreendente rasteira duranteas negociacbes para a compra do jor-nal, no qual realmente estava interes-sado . Se o empresario Ari de Carva-lho, dono de 0 Dia, a agora o unicoproprietario do Diario Popular, fezum negOcio da China e em tempo re-corde . E se o jornal 0 Estado de S .Paulo esta certo, o governador pau-lista e Ari de Carvalho sari s6cios nonegocio e nao estao falando a verda-de . Entre essas alternativas, s6 h aduas coisas certas : 1) a impossive lprovar qualquer uma das tee's hip6te-

ses anteriores ; e 2) seja qual for a cor-reta, desde o dia 25 de maio de 1988 ,o Diario Popular, urn jornal de 10 3anos cuja forca esta nos classifica-dos, com 80 mil exemplares de tira-gem e uma circulacao nao-comprovada de 64 mil exemplares ,restrita a cidade de Sao Paulo, come-cou a se preparar para disputar omercado dos dois grandes - a Folha eo Estado.

A compra do jornal, publicamen-te assumida por Ari de Carvalho n oprazo recorde de cinco dias, e, semdOvida, o negocio menos ortodoxoconcretizado no campo da Imprensanos i ltimos anos . 0 Diario Popular

mudou de maos numa operacao dig-na de figurar no roteiro do filme WallStreet, onde o especulador Gordo nGekko manipula neg6cios e Mares .Oficialmente, Ari de Carvalho e ago-ra o acionista majoritario da Empres aJornalistica Diario Popular . Ele corn-prou 200 .970.000 aches de RodrigoLisboa Soares - 99,985% do capitalregistrado - ao preco formal de 244milhOes de cruzados . Deu urn chequede 180 milhbes de cruzados e se corn -prometeu a pagar mais duas parcelasde 32 milhOes cada uma . E assinou otermo de transferencia n .° 051 do li-vro de aches da empresa, em nome daArca Participacbes Ltda ., que ja e

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dqna do jornal 0 Dia . Dez dias de-pois, comprou as outras 30 mil acOe s- correspondentes a 0,015% do capi-tal -, que estavam em poder de MariaSalete Mergato, primeira mulher d eRodrigo, e dos filhos do casal, Rodri-go Junior, de 15 anos, e Marina, de25 .

Prego de ocasiao - Extra-oficialmente, sabe-se que o neg6ci ocustou mais caro : 7 milhoes de Ma-res, sendo 3 milhoes de Mares em di-nheiro e o restante em imOveis . Aindaassim, um preco de ocasiao para u mjornal que teve urn lucro liquido me-dio de meio milhao de Mares porano, entre 1985 e 1987, o que faz cornque apenas o seu titulo seja avaliadoem 3,8 milhOes de Mares, segundopadroes internacionais de calculo pa-ra esse tipo de transaeao . (No mund otodo, o valor de urn titulo, sem contaro patrimonio fisico ou real, a calcula -do a partir da media de lucro liquid odos Ultimos tres anos, multiplicad apor Sete.) A transaeao incluiu m6 -veis, maquinas, equipamentos e vei-culos do jornal, ja que o predio, loca-lizado em urn dos pontos mais nobre sdo centro de Sao Paulo, na esquinadas ru gs da Consolaeao e Major Que-dinho, tinha sido vendido, em abrilde 1985, para a Construtora Imobilia-ria Savoy .

0 governador Orestes Quercia ne-ga categoricamente que tenha corn-prado o jornal : "Eu realmente me in-teressei pelo neg6cio . Conversei algu -mas vezes corn o Rodrigo, aqui noPalacio, e estive ate na casa dele, n odia do seu aniversario . Mas, depois ,fiquei sabendo que ele tinha vendidopara esse Ari de Carvalho, que eunem conheco. Se tivesse comprado ojornal, is Id e assumia, como fiz como Diario do Povo, de Campinas" . Aaproximaeao entre o governador e oantigo proprietario do jornal nao erecente . Quercia conheceu RodrigoLisboa Soares quando era vice-governador . Quern fez a ponte entr eos dois foi o engenheiro civil Walte rLuis Hoelz, entao diretor superinten-dente do jornal, namorado de MarinaSoares ha oito anos e que, por esse ca-minho, assumiu o comando do jornalem 1985, aos 28 anos . Hoelz tornou-se amigo de Quercia e, de certo mo-do, participou de sua campanha par ao governo do Estado . Num dos en-contros, apresentou seu futuro sogr oao futuro governador . Eles reuniram-se algumas vezes e chegaram a discu-tir a implantaeao de uma grafica para

O governador Orestes Querciae Julio Cesar de

Mesquita, do Estadao : urn afirmaque o outro esta mentindo

atender o Diario Populare o jornal de Quercia, oDiario do Povo .

Mas o projeto nao foiadiante . No inicio desteano, Hoelz renunciou aocargo de diretor superin-tendente. Rodrigo teri avetado os pianos de ex-pansAo do jornal e nAo sedispos a assumir os in-vestimentos necessarios -na casa dos 4 milhaes deMares. 0 pr6prio Ro-drigo,desencantado corno negOcio e disposto amorar nos Estados Uni-dos ou no Mexico, teri aoferecido o Diario Popu-lar ao governador duran-te uma audiencia no Palacio dos Ban -deirantes . Quercia se interessou mui -to e reuniu-se outras vezes com o do -no do Diario Popular. Seus assessorespassaram a estudar a situaeao do jor-nal e, por sugestao de Joao Saad, do -no da Rede Bandeirantes, o governa-dor colocou no circuito o diretor fi-nanceiro da Vasp, Natanael de Aze-vedo, que durante muitos anos foi otesoureiro da Ultima Hora, de Sa-muel Wainer .

Crise e auditoria - De acordo cornAri de Carvalho, ele ficou sabendo ,"por urn amigo", que o jornal estav aa venda e que o governador tinha de -sistido do neg6cio . Veio a Sao Paul ono dia 19 de maio, uma quinta-feira ,

resposta acusaeoes aos Mesquitasde Ari :

passou quase tress dias numa sala doMaksoud Plaza, conhecendo os deta-lhes da empresa, e, na segunda-feiraseguinte, assinou o contrato . A pri-meira noticia de que o governador es -taria comprando o Diario Popularsaiu no Estado de S. Paulo, naquarta-feira, 18 de maio, urn dia an-tes de Ari de Carvalho chegar a SaoPaulo. E exatamente uma semana de-pois do aniversario do dono do jor-nal, quando o governador esteve n acasa de Rodrigo Soares . Numa notacurta e nao-assinada da primeira pa-gina, 0 Estado afirmava que o gover-nador negociava a compra do jornal ,por urn preco entre 10 e 15 milhaes dedOlares, que o Diario Popular passa-va por uma crise e estava sob audito-

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ria da Price Waterhouse e da Empre-sa Revisora Nacional .

No dia seguinte, o Estadao voltoua carga dizendo que Quercia tinh acomparecido ao aniversario de Rodri-go e ja indicara ate o diretor para ojornal - Natanael de Azevedo . Segun-do o jornal da familia Mesquita - ad-versaria de Quercia desde a campa-nha eleitoral -, o Diario Popular teriaduas funcoes : ser cabeca-de-pontepara a entrada do governador no es-quema de comunicacaes da capital eauxiliar na campanha de Joao Leiva ,o secretario de Obras do Estado, par aa Prefeitura de Sao Paulo . 0 negocioestaria na casa dos 8 milhoes dedolares .

0 jornal ainda publicaria qu eQuercia e Ari de Carvalho eram so-cios, afirmando em seguida qu eQuercia era o unico dono do DiarioPopular e que o negOcio tinha sido fe-chado em reuniao no Maksoud Plaza ,com a presenca de Ari de Carvalho,Rodrigo Lisboa Soares, o secretarioda Fazenda do Estado, Jose Machadode Campos Filho, e urn advogado li-gado ao governador . No dia 28 demaio, um reporter do jornal compro-vou que o economista Eduardo Picci-nini Azevedo, 35 anos, filho do dire -tor financeiro da Vasp, Natanael deAzevedo, era diretor do Diario Popu-lar, entrevistando-o por telefone (noramal 313 do 5 .° andar do predio d ojornal) . Piccinini explicou que Ari d eCarvalho e seu pai sat) compadres eque o dono de 0 Dia precisava de pes-soas de confianca em Sao Paulo e ,por isso, contratou-o .

Julio Cesar Ferreira de Mesquita ,36 anos, diretor-geral do Estado, di zque ficou sabendo do interesse d eQuercia pela compra de urn jornal e mSao Paulo ha dois meses, por urn ern-presario cujo nome ele nao revela . Eque a primeira informacao concret afoi obtida atraves de "uma pesso aque tern parentesco com urn dos pre-sentes a mesa de negociacoes, no ho-tel Maksoud Plaza" .

Sinai evidente - Mesquita conside -ra que o fato do governador e outra spessoas citadas no noticiario do Esta-dao nao terem desmentido formal -

mente, em nota a Imprensa, as afir-macoes do jornal como urn sinal evi-dente de que a noticia a verdadeira ."Onde esta o desmentido de queQuercia nab tern participacao no Dia-rio Popular? Eu gostaria de ver essedesmentido . Fizemos questao de dize rtambem que foi o Delfim Netto que mfez a intermediacao do negocio, e el etambem nao desmentiu . Quem cala ,consente", desafia Mesquita .

0 deputado Delfim Netto reco-nheceu para IMPRENSA que conhe-ce o antigo dono do Diario Popular eAri de Carvalho, mas desmentiu 0Estadao : "Nan fui intermediario nes-sa negociacao . Nat) tenho nada a vercorn isso . Apenas conheco os dois" .Em todas as entrevistas, o governa-dor negou qualquer ligacao com Ar ide Carvalho . E este foi mais alem :contra-atacou o noticiario do Esta-dao, numa nota publicada pelos seu sdois jornais e reproduzida com omateria paga em 0 Globo . Corn o ti -

0 predio do DP : fora da transacao

tulo "As diferencas entr eO Dia, Diario Popular eO Estado de S. Paulo" ,Ari de Carvalho define -se como "unico proprie-tario" dos jornais e afir-ma que 0 Dia "pertencea uma empresa solida ecorn condicoes financei-ras para comprar outrosorgans jornalisticos" ,acusando o Estadao deter sido beneficiado pel atransformacao de umadivida em Mares par acruzados, de ter lancadodebentures entre empre-sarios, de ter entrado em

concorrencias governamentais - a d aimpressao das listas telefonicas - e deestar endividado "corn o BNDES pa-ra a construcao de uma fabrica de pa -pel, hoje praticamente de proprieda-de desse banco oficial, pelos volumo -sos aportes financeiros" .

0 jornal nao respondeu por escri-to a essas afirmacOes, mas Julio Ce-sar Mesquita retrucou para IM-PRENSA dizendo que lancar deben-tures a uma operacao normal, partici -par de concorrencias estatais, idem, eque o BNDES so tern 19 01o da Pisa :"Essa nota foi uma tentativa de ca-racterizar o Estadao como urn jorna lcomprometido . Mas o contrario a quee a verdade . Eu tenho certeza de qu eo Diario Popular e que sera agora odiario oficial do governo Quercia" .

Posigao confortavel - Ari de Car-valho vai alem na sua resposta ao no -ticiario do Estado e identifica o qu econsidera o verdadeiro motivo do sMesquitas : "Eles acham que eu so uum arrivista . No clube dos donos dejornais, ou se a herdeiro, ou genro .Eu nao sou nem uma coisa nem ou-tra. Por isso a que me atacam . Quan-to as ligacoes do jornal com o gover-no, espero que essas pessoas acompa-nhem a trajetOria do Diario Popular" .

0 jornal que Ari de Carvalho as-sumiu tern uma situacao economic asolida, uma posicao confortavel nosetor de classificados e nenhuma im-portancia politica . Nos ultimos doi sanos e meio, passou por uma reform aadministrativa comandada por Wal-ter Luis Hoelz, um engenheiro civi lrecem-formado pela Faculdade deMogi das Cruzes e que so conheciajornal como leitor, quando assumiu ocargo de diretor superintendente corno curriculo de namorado firme da fi-lha do dono do Diario Popular .

Hoelz encontrou uma divida d e2,5 milhoes de Mares, estoque de pa -pel para apenas tres dias, frota co m

Delfim : "Nan tenho nada a ver corn isso "

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idade media de dez anos e uma estru-tura administrativa e gerencial corn-pletamente arcaica . Ao sair, em mar -co deste ano, o jornal tinha papel pa-ra cinco meses, frota corn idade me-dia de tr.-es anos, 850 funcionarios eregistrava dois balancos positivos : 1, 5rnilhao de dolares e 2 milhoes de dola-res de lucro liquido em 1986 e 1987 ,respectivamente, contra 1,8 milha ode prejuizo em 1985 . Hoelz renovou afrota, planejou a mudanca do sistem ade impress -do para nylonprint e o fimda composicao a chumbo, corn acompra de computadores .

Iniciou a implantacao de uma gra-fica comercial, onde imaginava pro-duzir ate listas telefonicas . Mas aca-bou colidindo corn a vontade do paide sua namorada - mais propenso avender a empresa do que em investi rnela . Hoelz deixou o jornal depoi sque uma auditoria da Price Water -house vasculhou as contas da empres ae, Segundo ele, constatou que estav atudo em ordem . Hoelz nega que te-nha brigado corn Rodrigo Lisbo aSoares, mas deixa claro que imagina-va urn futuro diferente para o DiarioPopular.

Imagem forte - No Palacio dosBandeirantes, ele a apontado como oprimeiro intermediario da venda d ojornal para o governador. Hoelz ne-ga, mas admite que a amigo de Quer-cia e que foi o responsavel por bo aparte da verba do governo do Estadoque o Diario Popular recebeu. Numacomparacao entre os anuncios gover-namentais no periodo em que ele esta-va e depois de sua saida, constata-se ,de fato, uma queda no volume de pu -

blicidade oficial .Quando estava no comando do

Diario Popular, Hoelz costumav ausar uma imagem forte para resumi rsua estrategia: "Nao adianta coloca ro Piquet ou o Senna pilotando urnMarch para disputar o campeonat ode Formula 1 . E preciso antes umaboa suspensao, urn born chassi, urnmotor potente e uma equipe azeitada .So ai o piloto passa a ser importante .O jornalista e como o piloto do car-ro". Hoelz nao teve tempo de trocarde piloto - coisa que Ari de Carvalh opromete fazer nas prOximas semanas .Ele estava fora de Sao Paulo ha 32anos e pretende fazer pesquisas junt oaos leitores do Diario Popular paradescobrir urn rumo para o jornal .Adianta apenas que nao pretende fa-zer uma publicacdo jocosa, nem me-xer no logotipo, feito ern letrasgOticas .

0 diretor de redacao foi mantid onesses primeiros momentos . E o

general Moziul MoreiraLima, 77 anos, 26 de jor-nalismo, que entrou par ao jornal depois de passa rpara a reserva, em 1958 ,como general-de-divisa o- ja tinha sido editor d ealgumas publicacbes n oExercito . Ele comandahoje uma redacao de 127jornalistas - 69 no Dia-rio, 24 no Popular daTarde (urn jornal espor-tivo ern ma situacao), 2 6na revisao e 8 entre o ar-quivo e os suplementos .Sucursal, so a de Brasi-lia, corn 6 jornalistas, co-

mandados por Tarcisio Hollanda .A primeira atitude de Ari de Car-

valho ao assumir o Diario Popular fo itransferir dois jornalistas acidenta-dos, que estavam internados precaria-mente na Santa Casa, para urn hospi-tal particular, pagando a conta . A se-gunda foi chamar o colunista socia lAmaury Junior, que estava saindo dojornal, para uma conversa . "Eu tinh apedido uma secretaria, urn interino eum fotografo para a coluna . Ele m edeu isso, e mais : determinou que eunao aceite mais, em lugar nenhum ,qualquer tipo de oferta de bebida o ucomida. E so trazer a nota que o jor-nal gaga", garante Amaury Junior .

Intencao e pratica - Em todos oscontatos corn jornalistas, Ari de Car-valho parece mais interessado em aus -cultar o mercado paulista do que emesgrimir argumentos que confirmemsua condicao de irnico dono do DiarioPopular . Entre seus funcionarios deO Dia, no Rio, ele a encarado comoum empresario arrojado, que vive ci-tando urn anancio da Folha de S .Paulo como o melhor exemplo da li-nha que pretende imprimir a seus jor-nais . No anirncio, ha uma foto do Pa-lacio dos Bandeirantes e outra do Pa-lacio do Planalto corn a frase : "Sabeo que a Folha quer desses lugares ?Distancia ." Corn a campanha muni-cipal este ano e a presidencial marca-da para o ano que vem, nao sera difi-cil conferir se a intencao de Ari d eCarvalho coincide corn sua pratica .Muito mais complicado vai ser desco -brir quem esta corn a razao na histo-ria da venda do Diario Popular. Afi-nal, Samuel Wainer, em quem Ari deCarvalho se inspira, passou a vida in-teira negando que tivesse feito a Ulti-ma Flora corn o dinheiro e a pedid ode Getulio Vargas - para confirma rtodas as acusacoes que negava em se ulivro de memorias .

Amaury Jr. : agora, tudo por conta do jornal

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0 DrA"ZEROHOAR L

Antes do DP, dois jornais no Sul e a compra de 0 Dia

Nem genro, nem herdeir oA historia de Ari de Carvalho, que gostava

de musica, foi jornalista e acaboucomo comprador e vendedor de jornai s

A . Ari e pouco conhecido nosmeios musicais . Ary Carvalho e mui-to conhecido nos meios jornalisticos .A. Ari e urn compositor fertil - ternvarias musicas gravadas por Wando euma cancao em parceria corn Lupici-nio Rodrigues . E claro que A. Ari eAry Carvalho sac) a mesma pessoa -Antonio Ari de Carvalho, urn paulis-ta de Birigui que assina seu nome corny e sem o de . Na maior parte do tern-

po, o jornalista predomina. Mas, nosprimeiros tempos de profissao, eledeixou mais lembrancas por sua habi-lidade ao viola() e por sua boa voz doque pelo manuseio de leads e subleadsou a agilidade na criacdo de urn titul ode 22 sinais . E, ha tres anos, quand oa Ultima Hora do Rio ia mal das per-nas e suas mnltiplas atividades de em-presario tambem passavam por mo-mentaneas dificuldades, o jornalista

anunciou diversas vezes a seus colega sque ia vender tudo e passar dois anosnos Estados Unidos, estudando flau-ta-doce. Nat) foi, vendeu varios em-preendimentos - inclusive a gravador aArcasom, seu xodo, em cujo prediono caminho de Jacarepagua passo umuita madrugada acompanhando agravacao de discos de artistas estil obolerao - e finalmente transformou 0Dia no jornal que mais vende no Ri o

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de Janeiro de terra a sabado, encos-tando o diario popular carioca no li-der 0 Globo aos domingos e segun-das .

Seu primeiro emprego em SaoPaulo foi num jornal do bairro ondemorava - a Folha de Pinheiros, do de-putado Arruda Castanho -, onde fezde tudo um pouco . Mas Ari de Carva-lho ja era representante comercial deuma firma de sabonetes quando en-controu urn conhecido, fotografo daUltima Hora, no bar Ponto Chic, urnreduto da boemia paulistana . Comen -tou corn o amigo que sonhava traba-lhar num grande jornal e o fotOgrafothe mostrou algumas fotos de um ca-samento macom, propondo que elefizesse urn texto. Ari de Carvalhocomprou dois livros sobre o assunto ,passou horas batucando na maquin ade escrever e entregou seu trabalho aochefe de reportagem da UH paulista ,que duvidou da autoria do texto e omandou voltar em tres dias .

Ninho de cobras - A materia foicapa do segundo caderno e o jove mreporter de 21 anos foi contratado .Passou pela Geral e Economia, ante sde se tornar urn chefe de reportage matento, cuidadoso e exigente, comolembra urn de seus ex-reporteres ,Marco Antonio Rocha, hoje comen-tarista economico . No ninho de co -bras que era a Ultima Hora da epoca ,Ari foi conquistando seu espaco len-tamente . Mas sempre teve ambicoesempresariais . Ainda na decada de 50 ,lancou um jornal infantil, o Piu-Piu ,que nao emplacou . E registrou o ti-tulo Zero Hora muitos anos antes d etransforms-lo em urn jornal gaucho .

Nas madrugadas, o empreendedorcedia lugar ao seresteiro . Ari costu-mava jantar no restaurante Gato Qu eRi, no largo do Arouche, mais famo-so pelo preco barato do que por qual-quer outra coisa . Depois is a pe ate oapartamento da rua Helvetia, que di-vidia corn outro reporter da UH, Dir-ceu Maciel Coutinho. Apartament ocuja utilizacao pouco ortodoxa th egarantiu o apelido de "Boate Espeni-ta" - um bolero famoso na epoca ,gravado pelos Romanticos de Cuba .

Em 1961, recem-casado, corn um afilha de urn ano, mudou-se para o Pa -rana. Foi assumir a Ultima Hora dela . Segundo Luiz Geraldo Mazza, u mdos jornalistas mais respeitados d oParana, foi ern Curitiba que comeco ua grande mudanca na carreira de Ari :"Ele implantou aqui o padrao nacio-nal da Ultima Hora . Urn jornalism oagressivo, de grande apoio popular ,que afrontava os padrOes locais - e

Samuel Wainer: fonte de inspiracao

que, justamente por ser apimentado ,teve grande sucesso de vendas" . Ar ifechou urn contrato informal corn ogovernador Ney Braga, que passou apagar mensalmente para que determi-nados orgaos pnblicos (a Companhi aParanaense de Energia Eletrica e aCompanhia de Desenvolvimento doParana) fossem poupados pelo jor-nal, junto corn a figura do governa-dor . Outros setores do governo fica-vam livres para serem criticados, oque garantia ao jornal um ar de opo-sicao .

"Boeing turbinado" - Era o es-quema usual da cadeia Ultima Hora .Corn ele Ari conseguiu melhorar mui-to o padrao salarial da equipe . "Eletrouxe para o Parana uma filosofiade profissionalizacao . Nos passamosa ganhar tees vezes mais que os niveissalariais da praca . Mais do que urnsimples aviao, Ari era um Boeing-747turbinado", garante Mussa Jose d eAssis, atual diretor de redacao de 0Estado do Parana e que, na epoca ,era reporter politico do jornal .

Ari nao ficou muito tempo e mCuritiba, mas, segundo seu propriorelato, fez corn que a circulacao daUH paranaense saltasse de seis para23 mil exemplares . "Quando chegue iao Parana, diziam que nao adiantav afazer jornal falando das coisas de la ,porque tudo gravitava em torno d eSao Paulo . Como vendiamos muit opouco, resolvi arriscar. E deu certo . "

Em 1962, transferiu-se para Port oAlegre, onde sua trajetoria registr aaltos e baixos . No comando da UHgancha, so deixava o predio do jorna ldepois de verificar a montagem da spaginas nas oficinas . Mas nao se des-cuidava do relacionamento corn poli-

ticos, empresarios e gente da socieda-de local . Associou-se ao tradicional einfluente Lions Clube, cujas reunioe ssemanais aconteciam no CottonClub, um ponto de convergencia d aboemia, dos intelectuais, artistas eempresarios . Essas ligacoes o ajuda-ram muito em 1964, quando a UltimaHora foi impedida de circular - corn ocorte de luz nas oficinas - e invadida .Ari passou alguns dias fora de Port oAlegre e, depois, foi ao encontro deSamuel Wainer, exilado na embaixa-da do Mexico no Rio de Janeiro, on -de propos a compra do jornal . Sa-muel so aceitou vender o pequeno pa-trimonio - algumas maquinas de es-crever, dois automOveis, oito maqui-nas fotograficas, quatro lambretas eurn arquivo fotografico -, mas fico ucorn o titulo . Em poucas semanas ,corn o apoio de quatro empresariosbem-estabelecidos e urn reconhecid ointelectual da cidade, prestigiado nosmeios mais conservadores, nascia aZero Hora . Titulo que tinha registra-do, ainda em Sao Paulo, quando oentao vereador Janio Quadrospropos-lhe o lancamento de um jor-nal . Zero Hora nasceu no dia 4 demaio de 1964 .

"Vira-bostas" - "As semelhanca sgraficas eram imensas entre o nov ojornal e a Ultima Hora, mas o con-teudo editorial mudou completamen-te", recorda-se o ultimo chefe de re-dacao da UH e o primeiro da ZH,Nestor Fedrizzi, 58 anos, 38 de pro-fissao, atual secretario de Moderniza -~ao Administrativa e de Recursos Hu-manos do governo Pedro Simon . Aredacao chegou a apelidar de "vira-bostas" os cinco primeiros editoriai sdo jornal, numa, alusao ao passaroque busca alimento no esterco do ga-do . Eles eram uma visa() corn sina ltrocado, em relacao as posicoes ante sassumidas pela Ultima Hora . 0 novojornal conseguiu urn relacionamentotranquilo corn os novos donos do po-der, mas nao escapou da ira dos jan-guistas e brizolistas . Foi alvo de su-cessivos atentados, e urn coquetel mo -lotov explodiu na porta de vidro d esua Bede na rua Sete de Setembro .

As dificuldades nao desanimara mo novo empresario . Ele saia tarde d ojornal e ligava sempre - como fazi aseu antigo patrao, Samuel Wainer .Quern trabalhou corn ele na epocalembra da figura de Ari de Carvalho ,de terno branco e, algumas vezes ,acompanhado de gente da alta socie-dade, aparecendo na oficina para s eenfiar debaixo da impressora, um avelha Marinoni comprada quase ao spedacos no Estado do Rio e que ga- .

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nhou o apelido de "Carcara" - po rter machucado varios funcionarios .

Ari modernizou os metodos deoperacAo do jornal . Comprou jipes ecaminhonetas para a distribuicao, es-tabeleceu uma politica de conquist ade anunciantes, passou por fases d efalta de dinheiro, em que os telefoneseram cortados por falta de pagamen-to . "A genie olhava primeiro a plani-lha de amincios, para saber se tinha-mos chance de receber em dia . Ele fe zgato e sapato para conseguir dinhei-ro, mas quem a que nao faz negOcio sna grande imprensa?", pergunt aCarlos Alberto Kolecza, 48 anos, 2 8de profissao, que foi reporter da ZeroHora . "Ele a um homem empreende-dor . Onde chega, abre empregos e re-nova o mercado . Se' houvesse mai squatro Aris na grande imprensa bra-sileira, ela certamente teria outr aqualidade ."

Lance final - A derrocada gauchade Ari de Carvalho comecou quand odecidiu construir uma sede nova par ao jornal . Urn projeto ambicioso queincluia urn teatro para 600 lugares .Seus socios originais estavam fora d ecombate, descapitalizados pelas ne-cessidades do jornal . Ari vendeu en-tao, em 1967, metade da empresa pa-ra Mauricio Sirotsky . 0 dinheiro nAofoi suficiente e ele teve de recorrer aoBanco Crefisul e a financeira Sibis aAxelrud, da familia Sirotsky . Nessaepoca, comprou uma luxuosa mansaocorn piscina na Vila ConceicAo, car-ros novos e viajava muito. Aos pou-cos, o controle acionario da Zero Ho-ra foi passando para as maos de Mau-ricio Sirotsky . Ari de Carvalho aind atentou urn lance final - ofereceu o jor-nal para seu concorrente Breno Cal-das, dono do Correio do Povo, querecusou, dizendo que teria de fechar aZero Hora se fizesse o negOcio .

0 entao reporter de Policia WaldirPaz, 45 anos, 24 de profissAo, estav achegando ao predio novo do jornal ,em 1970, quando viu o dono da ZeroHora it embora, aos prantos . Foi in-denizado apenas como o funcionari omais antigo da empresa : 300 mil cru-zeiros . Saiu de Porto Alegre e foi pa-ra o Rio, onde recebeu urn convite de

A sede de ZH: inicio da derrocad a

Roberto Marinho para dirigir a RioGrafica Editora e para implantar aTV Glob(' em Brasilia . Acabou send ocontratado para 0 Jornal, por JoaoCalmon, que queria implantar o siste-ma off-set . Dali saiu para ser diretor-editor da Ultima Hora do Rio, adqui-rida por Mauricio Alencar . Acabouficando corn o titulo, quando Mauri-cio decidiu vender o Correio da Ma-nha e a UH . Instalou o jornal numpredio velho na zona do cais, conse-guiu urn emprestimo da Caixa Econo-mica Federal, dando o imOvel com ogarantia, e comecou a tocar o jornal ,que logo subiu de circulacao, e con-tratou nomes como Telmo Martino eChico Anysio .

Em 1983, Ari de Carvalho com-prou o jornal 0 Dia, do ex-governador Chagas Freitas, num aacao CO() rapida e incomum quanto aque acaba de realizar corn o DiarioPopular . 0 negocio foi fechado emmeio a den6ncias e murmurios de qu efazia parte da campanha de Paul oMaluf para a Presidencia, ou de queAri era testa-de-ferro de pessoas taodiferentes quanto o ex-ministro Ma-rio Andreazza, o empresario Robert oMarinho e ate o magnata da Impren-sa inglesa Rupert Murdoch . Ari neg atodas as versOes e so confirma suas li -gacOes corn Ronald Levingsohn, d ogrupo Delfin. Que seriam perfeita-mente legais, segundo ele . Ha tresanos, tentou diversificar . Criou um aeditora (Salamandra), uma gravador a(Arcasom) e comprou os teatros Ser-rador e Carlos Gomes e as radio sMaua e Ipanema. Vendeu quase tudo- inclusive a Ultima Hora de Brasilia ea do Rio, corn as maquinas . Investiutodo o dinheiro, segundo ele, em 0Dia .

Menos sangue - Insone, hipocon-driaco - a ponto de entrar nas farma-cias americanas em busca de novida-des, sempre que vai aos Estados Uni-dos -, a provavelmente o dono degrande jornal corn menos proprieda-des . Tern um apartamento na ru aPaul Redfern, no Leblon, e uma casaem TeresOpolis . Ocupa outra casa emAngra dos Reis, mas a alugada . Casa -do pela segunda vez corn a mesmamulher - Marlene, como ele, de Bi-rigui -, Ari de Carvalho tern tres fi-lhas . Uma paranaense, outra paulistae a terceira, gaucha .

Desde que mudou a equipe de re -clack) do jornal, alterando sua linhaeditorial para reduzir a quantidade d esangue presente no noticiario, Ari d eCarvalho passou a frequentar a reda-cao. Comandou pessoalmente a mu-danca de posicao do logotipo de 0Dia, que ganhou o centro e o topo daprimeira pagina . Nesses momentos ,costuma chegar corn layouts de pagi-nas, que discute com a equipe . Almo-ca diariamente num restaurante da di -retoria, no 5 .° andar, e aproveita arefeicao para discutir a linha do jor-nal corn seus editores . Tern uma in-disfarcavel admiracdo pelo USA To -day e, a nivel nacional, pela Folha d eS. Paulo . Nos tiltimos meses, politi-cos influentes e de varios matize sideologicos tern almocado corn el enesse restaurante, como Leonel Bri-zola e Moreira Franco .

Na campanha eleitoral, 0 Dia for-mou ao lado de Moreira Franco . Pu-blicou, inclusive, uma carta do presi-dente Sarney - ainda embalado pel osucesso do Cruzado - em que pedi avotos para o candidato do PMDB . E ,ha pouco tempo, seguindo um proce-dimento usual entre outros donos d ejornal, Ari de Carvalho esteve no Pa-lacio do Planalto corn o presidente .No dia seguinte, seu jornal publicavauma entrevista pingue-pongue cor num furo - a afirmacAo presidencial d eque o congelamento da URP nao pas-saria de dois meses .

Ha muitos anos, Samuel Wainer eAri de Carvalho se encontraram nu-ma boate . Alta madrugada, variosuisques depois do inicio do papo, Ar ifuzilou: "Eu you ser o novo Samue lWainer" . 0 criador da Ultima Horajamais admitiu que outra pessoa pu-desse vir a ser um Samuel Wainer n avida e nao gostou do rasgo de sinceri-dade de seu ex-funcionario . Mas umacoisa a certa : de urn jeito ou de outro ,a trajetoria de Ari de Carvalho conti-nua tendo varios pontos de contatocorn a de Samuel Wainer - sao dois es -tranhos no seleto ninho da Imprensabrasileira .

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IMPRENSA - JUNHO DE 1988

"Vim para brigar"O novo dono do Diario Popular defende-se

das acusacoes de ser testa-de-ferroe garante que vai fazer urn jornal independente

Uma semana depois de ter fechadonegOcio com Rodrigo Lisboa, e aindatomando pe da situapao do DiarioPopular, cuja redacoo faltava conhe-cer, Ari de Carvalho, instalado n omesmo predio que jd pertenceu a fa-milia Mesquita, recebeu o editor exe-cutivo Gabriel Priolli, de IMPREN-SA, para a seguinte entrevista :

Imprensa - Toda vez que Ari deCarvalho se envolve numa transaeaosurge a especulaeao no mercado deque ele esta entrando no negocio co-mo testa-de-ferro de algumm . Porque?

Ari de Carvalho - Lamentavel-mente, no Brasil, se voce nao for gen-ro, se voce nao for herdeiro, voce na otern o direito de conquistar algumacoisa, essa a que e a verdade . SamuelWainer tambem nao era herdeiro ,nao era genro e fez a Ultima Hora, eha varias historias assim . Eu comece icomo reporter e tenho tres filhas - ca-da uma nascida em urn Estado . Meuprimeiro jornal, a Ultima Hora, dePorto Alegre, eu praticamente com-prei sem dinheiro . Assumi o compro-misso de pagar o saldo das prestaebe sque deviam ao Samuel . Talvez eu sej aurn sujeito otimista, ousado, queacredita que as coisas vao dar certo .Tenho 33 anos de profissao, as coisa sforam construidas devagar e tambe mnao tenho culpa se, de repente, eu fuiescolhido pelo Chagas Freitas parame vender o jornal .

Imprensa - 0 senhor nega catego-ricamente qualquer participaeao dire-ta ou indireta do governador Oreste sQuercia ou de qualquer pessoa ligad aa ele na compra do Diario Popular?

Ari de Carvalho - Isso a uma coisasimples de constatar, ja que, eviden-temente, passa pela Junta Comercial ,ha uma assembleia de acionistas .Quando eu comprei 0 Dia, no Rio ,eu era tambem o testa-de-ferro de Ro-berto Marinho, testa-de-ferro de naosei quern . Por isso, nao me surpreen-do se, daqui a pouco, alem do Quer-cia, se descobrir que eu sou testa-de-ferro de uma outra pessoa . So esperoque as pessoas acompanhem o jornale vejam como ele vai ser .

A ri: "Ja'fui testa-de-ferrodo Roberto Marinho "

Imprensa - Na sua opiniao, qual eo espaco do Diario Popular no mer-cado?

An de Carvalho - Eu nao sei, por-que estou afastado de Sao Paulo h a32 anos. Temos que fazer algumaspesquisas para descobrir quem e o lei -tor do Diario Popular, o que a que es-ses leitores pensam do jornal, e ver ,dentro do mercado, que linha ele po-de seguir . Eu sei que existem jornaisfortes aqui em Sao Paulo, que o mer-cado deve ser dificil, mas vamos bri-gar .

Imprensa - Qual e o seu modelo d ejornalismo?

Ari de Carvalho - 0 ideal a se eupudesse fazer uma simbiose de Wash-ington Post corn USA Today, por-que o Post a urn jornal de prestigiopolitico, como o New York Times ,mas o USA Today a que foi sucessoem termos de concepeao . Acho que ojornal hoje tern de ser cads vez mai ssintetico na informaeao, mais conci-so . Nos estamos fazendo isso no Dia ,o maximo da materia sao 40 linhas ,porque hoje a massa de informaeaoque a pessoa tern para absorver a mui-to grande . A tendencia dos jornai stradicionais a entrar numa linha edi-torial de mais concisao, mais objetivi-

dade . Eu vejo o jornalismo do futur oassim. 0 USA Today vingou primeir ocomo jornal de grande circulacao . Sona segunda etapa partiu para ser ur njornal de prestigio . Eu diria que e omesmo caso do Dia, no Rio, de gran-de circulaeao, e que passa a ter presti-gio politico .

Imprensa - 0 senhor pretende fe-char o Popular da Tarde ?

Ari de Carvalho - Nao sei . Vouexamina-lo, evidentemente . Voce ternsempre de examinar a relaeao cus-to/beneficio, e o potential que exist eou nao nos veiculos . Vou examinar ,se for um jornal corn possibilidades ,sera mantido .

Imprensa - Como o senhor se defi-ne politicamente?

Ari de Carvalho - Voce sabe quehouve urn reporter do Jornal da Tar-de que me perguntou qual era minhaideologia, se de centro, esquerda oudireita. Eu sou pela justica social . Sea justica social estiver na esquerda ,no centro ou na direita, eu estou cornqualquer uma dessas . Se Marx vivessehoje, iria reformular muitos dos con-ceitos dele .

Imprensa - Como empresario, co-mo o senhor se posiciona ?

Ari de Carvalho - Eu sou o sujeitoque acredita . Numa hora em que nin-guem esta querendo investir, eu estoufazendo urn investimento. Acho queo Pais vai superar isso . Cada urn dev efazer sua parte. Ficar apenas se la-mentando nao constroi nada .

Imprensa - 0 jornalismo brasilei-ro cumpre sua funcao social ?

Ari de Carvalho - Sou de uma ge-racao que comecou no jornalismo an-tes de 64 e que de alguma forma aju-dou a precipitar 64 . Era urn jornalis-mo, vamos dizer, pouco democratico ,em que voce defendia aquelas ideia snacionalistas, dentro de urn sistem aextremamente conservador . Acreditomuito nos valores novos . A renova-eao da Imprensa esta acontecendo evai continuar . 0 jornalista esta fican-do pluralista, e acho que isso a umatendencia boa .

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