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ABR 2013 | ANO 26 | Nº 288 | R$ 12,90 DEEP WEB PODE SER ALIADA NA APURAÇÃO JORNALÍSTICA CARGOS ANTES OCUPADOS POR OUTROS PROFISSIONAIS NECESSITAM DE ESPECIALISTAS EM MEDIAR INFORMAÇÃO HOMENAGEM: OS 90 ANOS DE CLAUDIO ABRAMO ESPORTES: REUNIÃO DE PAUTA REÚNE CRAQUES JORNALISMO E COMUNICAÇÃO A ARTE DE PERGUNTAR POR GENETON MORAES NETO MENOS OPORTUNIDADES EM MÍDIAS TRADICIONAIS ABREM AS PORTAS DE NOVOS MERCADOS A JORNALISTAS VAGAS HÁ (NOVAS) 7 7 0 1 0 3 0 6 5 0 0 8 3 0 0 2 8 8 EXEMPLAR DE ASSINANTE - VENDA PROIBIDA

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ABR 2013 | ANO 26 | Nº 288 | R$ 12,90

ABRIL DE 2013 | N° 288 | A

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DEEP WEB PODE SER ALIADA NA APURAÇÃO JORNALÍSTICA

CARGOS ANTES OCUPADOS POR OUTROS PROFISSIONAIS NECESSITAM DE ESPECIALISTAS EM MEDIAR INFORMAÇÃO

HOMENAGEM: OS 90 ANOS DE

CLAUDIO ABRAMO

ESPORTES: REUNIÃO DE PAUTA

REÚNE CRAqUES

JORNALISMO E COMUNICAÇÃO

A ARTE DE PERGUNTAR POR GENETON MORAES NETO

MENOS OPORTuNIDADES EM MÍDIAS TRADICIONAIS ABREM AS PORTAS DE NOVOS MERCADOS A JORNALISTAS

VAGASHÁ (NOVAS)

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MAPA DA MINAMesMo sob Mudanças tecnológicas e incertezas econôMicas,

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MultiMídia, Mas que MantenhaM a essência jornalística

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Ao saírem da faculdade, estudantes dos 316 cursos superiores destina-dos a formar jornalistas no Brasil caem em uma encruzilhada. Afinal, o mercado está cada vez mais res-

trito nas mídias tradicionais e a concorrência é pesada: até 2010, segundo o Ministério do Trabalho, eram quase 90 mil os profissionais de imprensa em atividade no país.

Bater à porta do óbvio acaba sendo a escolha da maioria e a frustração é imediata: a dificulda-de para entrar no disputado mercado de trabalho aumenta a cada dia e os tão falados diferenciais de falar outras línguas e ter conhecimento mul-timídia já não atraem tanto os empregadores. A solução é buscar alternativas.

Em celebração ao “Dia do Jornalista”, em sete de abril, IMPRENSA pesquisou o merca-do de trabalho em todas as regiões brasileiras e descobriu que o caminho do jornalista pode estar ao dobrar de uma esquina. Diversas novas possibilidades estão surgindo e neces-sitando de um profissional que saiba o que, de fato, é notícia. E mais, como fazer a me- diação das informações da fonte ao consumi-dor de maneira eficiente.

Ouvindo especialistas em Recursos Huma- nos, selecionadores de diversos veículos, sites de vagas de emprego, bem como sindi-catos de vários estados, a reportagem traça um panorama, que mostra onde o terreno é fértil em oportunidades de emprego e quais são as áreas mais áridas para que os jornalis-tas busquem seu lugar ao sol. E sim, este lugar ainda existe.

Precisa-se de jornalistaDiante de um cenário que mostra a saturação

de vagas mais tradicionais, ligadas a veículos impressos, existe, em contrapartida, a populari-zação de novas funções. “Há grande oferta para vagas em redes sociais, antes ocupadas por publicitários. O mercado foi amadurecendo, e as empresas buscam quem tem demonstrado domí-nio da linguagem e ferramentas”, explica Tiago Yonamine, fundador do TRAMPOS, site que oferece vagas de comunicação na web.

As oportunidades em cada região do país, embora sejam bastante peculiares, são seme-lhantes principalmente nos setores de conteúdo online e de assessoria de imprensa. Para Celso Schröder, presidente da Federação Nacional dos

Jornalistas (Fenaj), isso ocorre porque o mercado de trabalho está extinguindo algumas ocupações saturadas. “Um lugar sempre muito fértil é o da comunicação empresarial, que ocupa 50% do mercado, seguido pelas agências de conteúdo online e portais na web.”

Este é o caso da região Norte do país, como explica Enize Vidigal, secretária geral do Sindicato dos Jornalistas do Pará. “Há mais vagas no setor de assessoria de comunicação, tanto estatal quanto do setor privado. Nesse segmento, os salários são maiores, o que atrai principalmente os jornalistas mais experientes.”

No Nordeste, uma alternativa para suprir a escassez das vagas tradicionais dos impressos foi investir no serviço público. Segundo Samira de Castro, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Ceará, “em função de poucas oportunidades nas redações, as pessoas estão optando por con-cursos públicos nas áreas de assessoria de comunicação e ensino de jornalismo”.

Já na região Centro-Oeste, principalmente devido à crise nos impressos, os veículos online são os que oferecem melhores oportunidades. Segundo Keka Werneck, secretária geral do Sindicato dos Jornalistas do Mato Grosso, há vagas principalmente em portais de notícia. “Eles têm também melhores estruturas de tra-balho, como telefone, computadores e internet. Já no interior, há vagas nas assessorias de imprensa das prefeituras.”

Na contramão da escassez de vagas nos impressos, a região Sul tem encontrado nos jor-nais menores oportunidade de crescimento, como explica Valmor Fritsche, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina. “A região oeste possui concentração de pequenos jornais que estão se profissionalizando e qualifi-cando as contratações. Eles passaram a atuar de forma legal, contratando profissionais CLT e absorvendo recém-formados, o que melhora a cobertura jornalística.”

Na região Sudeste, São Paulo desponta como principal polo de vagas, ao mesmo tempo que apresenta grande número de demissões. Segundo Paulo Zocchi, diretor jurídico do Sindicato dos Jornalistas do estado, houve 470 demissões em 2012 na região, contra 504 em 2011. “Há uma precarização das condições de trabalho dos jor-nalistas. O profissional é induzido a trabalhar como PJ, numa espécie de sonegação do vínculo empregatício”, lamenta.

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Em consulta feita aos sindicatos locais e com base nos números regionais do VAGAS.COM, IMPRENSA destacou os segmentos que oferecem oportunidades em cada região:

Há vagas

Norte:- Até o ano 2000, o Pará sofria com a escassez de pro-fissionais. Atualmente, as vagas de jornalismo estão disputadas. A comunicação do governo tem contribuído para absorver profissionais.

Nordeste:- Na Bahia, os portais de notícias geram vagas, ainda que com salários menores.- Na Paraíba, são os jornais que mais contratam, mas também os que mais demitem.- Em Fortaleza, as assessorias de comunicação são as que mais crescem.

CeNtro-oeste:- Em Goiás, a maioria dos jornalistas atua na capital, e 10% nas cidades com mais de 80 mil habitantes. As asses-sorias de imprensa são a melhor opção atualmente.- No Mato Grosso, são os veículos online que estão con-tratando. Eles possuem melhores estruturas de trabalho.

sudeste:- Maior mercado, São Paulo apresenta aumento de pos-tos de trabalho vinculados à internet na capital. - Em São Paulo houve 470 demissões em 2012; em 2011, foram 504.

sul:- Migração de rádios AM para o FM na capital e interior do Rio Grande do Sul tem gerado oportunidades.- No Paraná, a perspectiva positiva fica com as agências de comunicação, que contratam com um piso maior.

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o que mais gera vagas, juntamente com as fun-ções de produtor, assistente de produção e repórter cinematográfico.

Tane Mayo, gerente de RH da TV Cultura, confirma que as emissoras buscam profissionais que tenham mais envolvimento com funções técnicas, mas alerta: “É necessário, mas não vital”. Para ela, é fundamental a preocupação do profissional com a qualidade do conteúdo pro-duzido. “Ter visão global da área e não apenas da função em que está envolvido é uma capacidade que levamos em consideração. Hoje, a busca por qualidade nas matérias em todo o processo é cada vez mais importante.”

Visão multimídia Se há alguns anos a gerente de recursos huma-

nos, seleção e desenvolvimento do Grupo Ban- deirantes, Carolina Cotrim, contratava de forma individual para cada veículo do grupo, hoje, seu maior desafio é encontrar o candidato que con-siga “transitar em diversos formatos”. A frase, que assusta de início, não significa ser um cra-que multitarefas. “Treinamento técnico a pró-pria empresa pode oferecer, mas ter capacidade de aplicar o jornalismo no maior número possí-vel de ferramentas é o que está em jogo.”

Outro ponto importante destacado por Carolina é que não é difícil encontrar profissionais que se adaptem tecnicamente aos veículos, já contratar profissionais que consigam se adaptar ao ambien-te empresarial, nem sempre. “Precisamos orien-tar e possibilitar que as pessoas recém-contrata-das aprendam a se comportar no ambiente de uma empresa. Muitas vezes, elas acham que,

Vagas na web Apesar das demissões, São Paulo, ao lado de

Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, é responsável por quase 80% das oportunidades oferecidas na internet. A informação faz parte do levantamento feito pelo site de recrutamento VAGAS. Fernanda Diez, gerente de candidatos do site, conta que foram disponibilizadas em todo o país 15.229 vagas só em 2012 para os pro-fissionais de comunicação. “O Sudeste é respon-sável por 78%, seguido pelas regiões Sul (10%), Centro-Oeste (7%) e Norte e Nordeste (5%).”

A tendência é observada também no TRAM- POS, que publicou 3.947 vagas em 2012, das quais 80% correspondem ao Sul e Sudeste. Destaque para cargos de repórter, assessores de imprensa e social media. “Temos um número significativo de freelas também. O perfil de quem busca oportunidades no TRAMPOS é Pleno, além de trainees e estagiários”, conta Yonamine. Ele explica que sua equipe tem todo o cuidado de aprovar apenas oportunidades que respeitem questões trabalhistas. “Fazemos uma certa filtra-gem nas vagas. Elas não podem ser exploratórias ou não condizentes com o salário.”

a grande Vitrine Se o jornalismo impresso vive o dilema das

convergências e da discussão do modelo de ne- gócio, a TV depara-se com a necessidade cada vez maior de dialogar com outros formatos. Marco Antônio Ribeiro, gerente de serviços de RH da TV Globo, conta que a área teve de focar seu olhar em novas necessidades. O cargo de editor de conteúdo para a web, por exemplo, já é

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porque retêm o conhecimento técnico, não de-vem se submeter às normas empresariais.”

Maria Sandra Gonçalves, diretora de Redação da Gazeta do Povo, explica que um candidato em busca de oportunidades deve estar atento às mudanças vividas pelos veículos. O jornal não é mais um jornal, mas uma marca que produz con-teúdo das mais variadas formas. “Estamos falan-do de um mercado composto por nomes consa-grados no impresso, mas que souberam se adaptar aos meios digitais, com sites, conteúdos para smartphones e tablets.”

Sandra confirma que o setor enfrenta dificul-dades, principalmente em função do modelo de negócio, mas isso não é motivo para declarar o fim do jornalismo. “As empresas de comunicação que souberem servir bem ao seu público vão sobreviver à turbulência do momento.” Segundo ela, “o mais importante é encontrar profissionais que conheçam o valor da checagem e da dignida-de das pessoas retratadas em suas reportagens”.

Mais do que assessoria Responsáveis por absorver a maior parte dos

jornalistas egressos das universidades, as agên-cias de comunicação evoluíram para uma comu-nicação cada vez mais estratégica. Silvio Soledade, sócio-diretor da Plano Gestão, consultoria espe-cializada em RH para empresas de comunicação, explica que, para os profissionais recém-chega-dos, deve-se considerar a importância da experi-ência em agências pequenas e só depois o ingres-so em assessorias maiores. “É natural que as pessoas almejem trabalhar nas grandes agências, mas a experiência das menores é fundamental.”

Eduardo Correia, diretor de RH da FSB Co- municações, agência que possui cerca de 580 funcionários distribuídos em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, alerta sobre a necessidade de jornalistas que tenham visão macro. “Vender pauta ainda faz parte do nosso trabalho, mas é algo muito pequeno perto das competências que são exigidas para um profis-sional que buscamos no mercado.”

Para Correia, a dica é que, “mesmo atuando em uma redação, quem tem pretensões futuras de ser assessor conheça o máximo possível os processos de comunicação e as demandas de clientes e agências”. Na prática, as empresas sinalizam que não estão buscando super-heróis, mas, sobretu-do, jornalistas que saibam fazer jornalismo.

Na definição do professor do curso de jornalismo da ESPM Renato Essenfelder, o jornalismo vive a “crise do velho que

morreu e do novo que não nasceu”. Apesar do teor pessimista que carrega a expressão, o acadêmico

destaca que o momento deve ser avaliado com otimismo. Segundo ele, nunca o jornalista foi tão importante em uma sociedade que, com excesso de informação, precisa cada vez mais de curadores.

O papel dO jOrnalistaO bom jornalista será bem ou malsucedido na medida em que reconheça seu papel de fazer mediação, principalmente em um momento em que lidamos com tanta informação.

Crise dO merCadO Não é somente uma crise financeiro-econômica. Ela acontece quan-do o velho morreu e o novo não nasceu. Mas, mesmo em momentos de incerteza, existem alguns consensos dos desafios dos jornalistas daqui em diante.

dOmíniO da narrativaO jornalista tem à sua disposição uma série de linguagens. A narra-tiva que ele der ao seu conteúdo é fundamental. Antes, qualidade de jornalista era escrever bem. Hoje, o profissional deve saber por onde e como contar uma história.

Qualidade aCima de tudOVivemos um cenário de cacofonia, em que todo mundo tem muita informação o tempo todo. O jornalista tem um papel de curadoria, não de dizer o que é notícia, mas reunir informação de alta qualidade.

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