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ENTREVIST A ANTÔNI O BRITFO : COM ESS A LEI D E IMPRENSA , ESTAMO S NO PIO R DO S MUNDOS EXCLUSIV O Chego u a hora d a CPI d a Imprensa , Augusto Nunes , comandante d e Zero Hora, sugere a quebra d e sigilo bancário d e todos os diretore s de redaçã o ESPECIAL :

EXCLUSIVO Chegou a hora da CPI da BRITFO: …portalimprensa.com.br/imprensa30/imprensaeconomia/30...futebol, o destino me socorreu com a associação entre a Parmalat e o Juventude,

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ENTREVISTA

ANTÔNIOBRITFO:COM ESSA

LEI DEIMPRENSA,ESTAMOSNO PIOR

DOSMUNDOS

EXCLUSIVO

Chegoua hora da

CPI daImprensa,

Augusto Nunes,comandante deZero Hora, sugerea quebra desigilo bancário detodos os diretoresde redação

ESPECIAL:

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"Quem apura bem ma sescreve mal é informante, não repórter"

IMPRENSA - Você previu amanifestação dos cara-pintadas ?

Nunes- Não, fui surpreendi -do por aquilo .

Luis Fernando Veríssimo,humorista - Em Porto Alegrevocê torce para o Grêmio po rinfluência de Paulo Sant'anna ouo bom senso prevaleceu? E voc ênão acha que está na hora d oBrasil descobrir o Sant'anna ?

Nunes - Paulo Sant'anna ,que escreve na penúltima págin ada Zero Hora, é um jornalistaque pertence a um escola rara eque eu respeito muito, que é aescola que tem como patron oNelson Rodrigues . Ele escrev etodos os dias, sempre muito bem ,com total liberdade intelectual ecom uma surpreendente escolh ade assuntos . E franco como Nel-son Rodrigues, diz sempre o qu epensa - algo muito difícil, sobre -tudo numa cidade como Port oAlegre . E um cronista d ealtíssimo nível . Está mesmo n ahora de descobri-lo . Quanto a ofutebol, o destino me socorreucom a associação entre a Parmalate o Juventude, de Caxias - por -que eu sou palmeirense, e assim ,de alguma forma, sócio da Parmalat . Po risso, passei a torcer pelo Juventude, que ,não estou fazendo nenhuma caricatura, fe zuni bom papel no último campeonato d ejuniores . O que eu acho muito important epara o futebol, e também para o jornalismo ,do Rio Grande do Sul é a quebra d adicotomia entre Grêmio e Inter . No Sul ,você descobre para que time torce a pesso aque está editando o caderno de esporte spela abertura da matéria . Se está lá Grêmiodá vexame, foi um editor do Inter que fez .Se está Juiz prejudica Grêmio, foi um edi-tor do Grêmio . Isso é engraçado mas tam-bém perigoso .

Tarso Genro, prefeito de Port oAlegre - Entendo que - ao contrário d aarte, que tem como categoria central o"particular", e da ciência, cuja categori acentral é o "universal" - o "singular" é acategoria central do jornalismo . Ou seja, ofato atípico é que "vende", e logo, torna-s euma mercadoria a ser buscada pelo leitor .Você concorda com isso ("nós divulgamo soque o leitor quer ler") ? Caso você concor-de . como conciliar esta posição com o jor-nalismo ético?

Nunes - Eu concordo com a prerrogati-va, embora não veja nenhuma contradiçãoentre uma coisa e outra . A singularidade ,quase sempre, é o cerne da matéri ajornalística . Pergunto : quem leria um jorna lque só tenha matérias assim? : "a secretári ase levantou às nove horas, saiu, foi para otrabalho num ônibus cujas tarifas não subi -ram. Sentou-se, pois havia lugar. Depois d oexpediente, voltou para casa, cuidou da scrianças, viu a novela e foi dormir" . O que seprefere ver nos jornais? Este tipo de perfi I o uo da secretária do PC? Prefere-se ler sobre a ssecretárias da prefeitura de Porto Alegre ,que agem decentemente, ou sobre as secre-tárias da CPI ou sobre o cha-cha-chá da ssecretárias? Evidentemente, são as última salternativas - ou seja, o atípico . Vou passa radiante uma idéia do velho Victor Civita .muito imaginosa, mas que só poderia se rusada uma vez : uma revista com o títuloTudo bem, que circularia nos finais de ano .Victor Civita dizia o seguinte : "sejamosotimistas, vamos falar das coisas que funci-onam" . Ou seja, não vamos falar apenas d ofato singular . No ano em que ele sugeriu arevista, 1980, pensava-se em algo assim :manchete : Três Beatles estão uivas . Lá no pé

do texto, colocaríamos que, in -felizmente, John Lennon havi amorrido . Numa outra matéria ,escreveríamos que sobrevoa -ram o céu do planeta tantos mi laviões, que fizeram tantos mi-lhões de quilômetros . . . No fi-nal, diríamos que, lamentavel-mente, três ou quatro caíram . . .Eu contesto a idéia de que osingular é ruim . Na Zero Hora ,fizemos o retrospecto do an opassado só com fatos otimistas ,com boas notícias - unia ver-são gaúcha do Tudo Bem d eVictor Civita . Registramos omassacre da Candelária, obvi-amente, mas a foto era da popu-lação carioca parando dois mi-nutos contra a violência n oRio . Agora, o que abriu est eretrospecto? Uma foto do Con-gresso, que se saiu muito be mem 1993 . Ou seja, vê-se por a íque nem sempre a singularida-de é associada à tragédia . Com oo Brasil é um país qu efreqüentemente se apresent apelo avesso, passou a ser notí-cia o fulano que devolve um acarteira . Isso é uma boa notícia ,e é singular .

C'urino Chagas, jornalistae representante do governo de Minas Ge-rais em São Paulo - Você sempre lutoucontra o repórter que apura hem mas escrev emal . Que resultado você já obteve ness aluta?

Nunes - Nas redações que dirijo, par aresponder a essa pergunta, costumo dize rque minha mãe e minhas tias . morando c mTaquaritinga, apuram muito bem oque acon -tece na cidade - e até escrevem direito . Ela ssempre sabem o que se passa por lá e trans-mitem verbalmente o que consideram notí-cia . Ocorre que quem apura bem e escrev emal não é repórter - é informante . Com opassar do tempo, substituo esse tipo de pro ,fissional nas redações em que trabalho . Eum desrespeito ao leitor, inclusive . Repórte ré pago para apurar e escrever. Os jornais j ásão suficiente mal escritos para manter gen-te que não faz as duas coisas .

Emílio Matsumoto, diretor para áreade comunicação da NEC do Brasil - De -pois de dirigir a redação de um grande jorna lem São Paulo, a experiência de dirigir u mjornal do Sul revelou diferenças do ponto d evista editorial? Quais ?

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Numa fase atlética, joga futebol, vôlei e basquete

10 IMPRENSA - FEVEREIRO 1994

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"Foi Delfim Netto quem conto uà Veja que Baumgarten foi assassinado "

Nunes - São pequenos . Osproblemas que encontrei na ZeroHora eu já havia encontrado noJornal do Brasil e no Estadão .Não na Veja, que tinha uma reda-ção mais qualificada . O proble-mas básicos são mão-de-obra d equalidade insatisfatória, engaja-mento político de profissionais eunia certa falta de punch para tra-tar todos os fatos com absolut aliberdade . O que varia é a escala .Na sucursal do JB, os problemastinham o tamanho de uma sucur-sal . No Estadão, eles cresceram ,devido a uma estrutura muito mai saparatosa . NaZero Hora, diminu-íram, porque, ao invés de lida rcom uma redação de 330 pessoas ,passei a lidar com uma de 220 .Editorialmente, o que muda é qu eeu tenho de ter um olhar gaúcho .Eu sempre soube que iria traba-lhar num lugar em que não meconheciam, uma vez que oEstadãoe oJB não circulam no Sul . Foi umdesafio tentar me tornar respeita-do por leitores que nunca tinhamouvido falar de mim . Esse negó-cio de jornalista famoso só valeentre jornalistas . O que deixa al-guém famoso para a população é atelevisão, não jornal . Hoje eu es-tou perfeitamente ambientado e mPorto Alegre, a ponto de ter acabado decomprar uma casa lá .

Mailson da Nóbrega, economista e ex-ministro da Fazenda - O jornalism oinvestigativo tem dado lugar, não raro, a osimples denuncismo sem investigação e a oconseqüente assassínio de caráter . Isso de-corre da impunidade, da irrespon-sabilidade ou do despreparo de alguns ?

Nunes - São vários os fatores . Acho qu ea imprensa não pode ser liminarmente res-ponsabilizada sem algumas consideraçõe santeriores . O Brasil é um país cujas institui -ções ou não funcionam ou funcionam muitomal, incluindo-se aí oexecutivo, o legislativoe o judiciário . A imprensa, até porque dispõede profissionais muito competentes, viu-s ecompelida a, perigosamente, substituir al-gumas dessas instituições . Com isso, a im-prensa, que ao denunciar fazia o papel dodelegado e do promotor, passou a fazer opapel também do juiz . Só não prendeu pornão ter direito de dar voz de prisão, embor atenha tido vontade . Esse não é o nosso papel .Jornalista não pode sequer se confundir co minvestigador policial . Quando trabalhava na

Veja, descobrimos que o Alexandre vonBaumgarten tinha sido assassinado . Desco-brimos que ele tinha vinculações com o SN Ie que aquele fio da história passava po rzonas militares de alto risco . Aliás, aqui val eum parênteses . Dizem que a denúncia docaso Baumgarten chegou à Veja pelo cor-reio . O que chegou pelo correio foi o dossi êsobre o caso, depois que já tínhamos dado amatéria com o assassinato . A verdade é quea matéria surgiu de uma conversa entre Del -fim Netto . Elio Gaspari e José Robert oGuzzo sobre outras coisas - e o Delfim,como se sabe, gosta de falar de tudo . A cert aaltura, ele diz : "vocês viram esse cas oBaumgarten?, o negócio está meio feio, pa-rece que não foi morte acidental" . Comoassim?, perguntou o Elio . "Ihhh, se você snão estão sabendo então esqueçam o que e ufalei", respondeu Delfim . Diante disso, oElio ligou para o Rio e pediu para o pessoa lda sucursal que fosse até a delegacia pegar oregistro da ocorrência. E estava lá : "cadáve rcom perfurações . . ." . Eles não se preocupa -ram com a falsificação do laudo . Foi um doscasos de mais fácil solução que já vi : o rest oé lenda . Mas, voltando, fizemos a denúnci ado Baumgarten . O que aconteceria em qual -

quer outro país? As instituiçõe sencarregadas de cuidar de ques-toes deste tipo resolveriam o caso .Aqui não, aqui as instituições nãose movem . Veja só, nas palestra sque eu dava, passei a sofrer co-branças inverossímeis do público .desiludido com as outras institui-ções : "por que a Veja não diz que mmatou o Baumgarten?" . Não dizi aporque não sabíamos . Nos Estado sUnidos, jornalistas são feitos d amesma matéria humana . Fazem adenúncia, como no caso Watergat e- no qual o importante era a denún-cia de um crime envolvendo o pre-sidente : a queda era circunstancia l- , e as instituições começam a s emover. A despeito disso, acho qu eainda somos muito pouc oinvestigativos em determinado smomentos . Não soubemos mos-trar quem era Fernando Collor. S ócomeçamos a mostrá-lo quando oirmão dele, que não fechou u mnegócio da maneira que pretendia ,resolveu denunciá-Io . Depos isso ,fomos bem. Paramos em seguida .O caso João Alves, convém nãoesquecer, estava aí como paut adesde que ele ofereceu o automó-vel para os repórteres da Veja, h ádois anos . Pois bem, aí voltamos aele . E, ao voltarmos, parece qu e

estamos querendo resolver de uma vez todasas pendências do passado . Assim, começa -mos a publicar dossiês em vez de reporta -gem - quando dossiê é pauta, não matéria.Temos sido precipitados e levianos em algu-mas denúncias . De outro modo, deve-s ecreditar à imprensa denúncias muito be mfundamentadas que produziram conseqüên-cias muito importantes para a história d opaís . Se a CPI do caso Collor foi alimentad apela imprensa, a CPI do Orçamento já fun-cionou melhor, as investigações é que ali-mentaram a imprensa . Isso é o ideal . Mas oque ocorre na maioria dos vezes é que seapura muito mal, o noticiário não se move.A Operação Uruguai, por exemplo, não fo idevidamente esclarecida. Diante disso, éimportante observar que as próprias pessoasque acusam corretamente a imprensa decometer excessos no denuncismo també mficam pedindo sangue porque estão insatis-feitas com o comportamento de outros po-deres .

Gilberto Dimenstein, diretor da sucur-sal de Brasilia da Folha de S.Paulo - Ogaúcho é provinciano a ponto de reagir queum paulista dirige o principal jornal d o

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IMPRENSA - FEVEREIRO 1994

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"Sugiro a quebra de sigilobancário de todos os diretores de redação "

Estado? Como você reage ou re -agiu, se reagiu, a ess eprovincianismo ?

Nunes - Os leitores nunca s eimportaram com o fato de eu se rde outro Estado . Quem se inco-moda com isso, desde sempre ,em todos os Estados, é ainteligentzia jornalística . OEvandro Carlos de Andrade ,quando foi secretário de redaçãodo Estadão em 1973, era tratadocomo um intruso carioca na épo -ca . O leitor, efetivamente, não s epreocupa com a origem geográ-fica do diretor de redação . O qu einteressa para ele é um bom jor-nal .

Evandro Carlos Andrade,diretor de redação de O Globo -O que você espera da revisãoconstitucional ?

Nunes - Eu espero que elatire o Brasil da pré-História . Aconstituição só vale se ela tradu -zir os anseios do povo . Não va idar se continuar tentando limita rtaxa de juros a 12% ao ano . Eimpossível legislar sobre fanta-sias . O Brasil é conhecido comoum país que lei é como gripe :pega ou não pega . A revisão constitucionaldeve ser um trabalho de poda, de cortes, d esubtração das gorduras, que nos conduze mem direção ao passado .

Eugênio Bucci, editor-sênior dePlayboy - Um grande jornalista afirmo uque, na campanha de 1989 . a imprensacobriu Collor pelas suas virtudes e Lula po rseus defeitos . Você dirigia o Estadão du-rante essa campanha . Você concorda com aafirmação? Hoje, olhando para trás, com ovocê avalia o comportamento da imprensanaquela época ?

Nunes- Não soubemos fazer essa cober -tura . Efetivamente, não mostramos os doi scandidatos . Nenhum eleitor chegou à urnadizendo que os jornais o tinham informad osobre o partido a que eles pertenciam, oprograma, os verdadeiros defeitos e qualida -des . o passado de cada um . Dizia-se muitoque Lula era o protegido da imprensa, e nãooCollor . A cobertura do Estadão, por exem -plo, foi esquizofrênica . Eu estava na sala deJulio Mesquita durante aquele segundo de -bate . A redação- batia palmas para Lula, sen -do que Collor foi francamente melhor n odebate . A empresa me pressionava, esperava

um banho de sangue, que não deixei aconte-cer . Avisei à redação que precisávamos equi -librar a cobertura, torná-la isenta, sem barba-ridades . O resultado disso é que os título ssaíram coloridos e os textos, petistas . Foi um acobertura maniqueísta, das piores que a im-prensa já fez. Essa crítica vale para todos .

Antônio Carlos Fon, editor d eSuperinteressante - Depois da CPI do Or-çamento, você acha que há necessidade de s epromover uma CPI da imprensa? A propósi-to, porque você não quis confirmar para acomissão de sindicância do sindicato do sjornalistas a denúncia de tentativa de corrup -ção por parte de um funcionário do Paláci odos Bandeirantes ?

Nunes - Começando pelo fim: confessoque estou estarrecido . Não recebi nenhum ainterpelação da comissão de sindicância dosindicato e estou à disposição de qualque rsindicância para falar o que sei . Ao contrá-rio, procurado pelo deputado Ruy Falcão, doPT, que queria instaurar uma CPI na Assem -bléia Legislativa, dei todas as informaçõe sque tinha e sugeri enfaticamente que el etocasse isso para frente . Eu sei que houv euma representação dele encaminhada ao pro-

curador-geral da República enada mais . Aceito depor e mqualquer comissão . O que e ugostaria de dizer é que os sindi -catos são omissos em relação aessa questão ética . E vou além :os sindicatos devem tratar mes -mo desses casos . Não é sindi -cato dos jornalistas? Vamos in -vestigar, sabemos investigar .vamos constituir CPIs para tra -tar das irregularidades da im -prensa . Sugiro que, de algum aforma, seja quebrado o sigil obancário de todos os diretore sde redação entre 1986 e 1993 .Podemos fazer isso passandoprocurações para a Fenaj oupara os sindicatos - e eu passoa minha tranqüilamente . Eu j árecebi duas tentativas de subor -no . A primeira, apenas insinu -ada, teve vários pontos de con -tato, que sugerem a mesma ori -gem. Não posso dar agora onome da pessoa que fez ess aprimeira tentativa porque pre -ciso de mais evidências docu -mentais, que estou reunindo .Por enquanto dou pistas, que a spessoas envolvidas saberão in -terpretar : estava chegando aoEstadão e recebi uma proposta.Insinuaram, em 1988 ou 1989 ,

dois meses antes da convenção do PMDB ,que eu poderia receber uma quantia nã oespecificada em dólar se ajudasse com algu -mas matérias o Iris Rezende, que na époc aera ministro da Agricultura . Eu me neguei ,depois de ter ouvido, da mesma maneira qu eouviria mais tarde do assessor de imprens aFernando Sandoval, na segunda tentativa desuborno, que receberia em dólar e teria aquantia depositada no Banco de Espanha . Emuita coincidência . Foi a primeira vez qu eouvi falar que havia um Banco de Espanh aem São Paulo . Depois, o Sandoval voltou afalar em Banco de Espanha . O primeiro queme procurou disse que eu deveria pensar nomeu pé de meia, uma expressão arqueológi-ca . O segundo, o Sandoval, falou que eudeveria pensar no meu pé de meia . O primei -ro disse, com centavos, quanto eu ganhava .O segundo também . E, repito, coincidênciademais . Pois bem, saíram, em alguma soutras publicações, matérias dizendo exata-mente o que essa pessoa me propôs . A saber:eu deveria apresentar Íris Rezende . que anun-ciava uma supersafra . como o ministro da sboas notícias . Essa matéria saiu em váriaspublicações . Sugiro que as investigaçõe sdeste período eleitoral resultem na quebrado sigilo bancário dos diretores de redaçã o

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Cursou Direito no Rio de Janeiro

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"Se o Luiz Adolfo Pinheir orecebeu dinheiro, não foi o único "

e alcancem o Banco de Espanha .Não é difícil investigar isso . Hámuito mais : o caso do Luiz AdolfoPinheiro, do Correio Braziliense,que teria recebido - ponho aqu ino condicional porque não vi o sdocumentos - quase 500.000 dó-lares do João Alves, estranha-mente não está sendo investigadopelo sindicato de Brasília, que di zque só trata de questões trabalhis-tas, conforme declarou o presi-dente do sindicato à Zero Hora .Nosso jornal deu manchete e abri ucom isso a seção de política . Euestou estarrecido com o pouc oespaço dado a isso pelos jornai sde São Paulo e Rio . Para mim ,trata-se de mais uma odiosa mani-festação de corporativismo . Pre -firo até que seja isso, para nãohaver outras cumplicidades . Esteé um grande caso para investigar .Se o Luiz Adolfo Pinheiro rece-beu essa quantia, certamente nãoterá sido o único . E entre a tenta-tiva de suborno feita a mim e a oPaulo Moreira Leite, com certezao Fernando Sandoval fez algumaspropostas bem sucedidas - o uentão ele é o candidato asubornador mais desastrado domundo: fez só duas tentativas d esuborno e ambas equivocadas .Para mim, alguma ele acertou, e esse cami-nho passa pelo Banco de Espanha . Eu ach oque chegou a hora da devassa da imprensa .E ele terá de ser feita por nós, os jornalistas .Precisamos ver quem é que enriquece uindevidamente .

Luciamen Winck, repórter policial doCorreio do Povo, demitida por Nunes daZero Hora - Você teve um comportament omedieval ao assumir o posto de diretor deredação da Zero Hora. Nomeou condes, du-ques e barões, dividiu com eles todos o sbenefícios e deu-lhes salários dolarizado snunca menores do que 3000 dólares . Para oresto da corte, pão e água . E mais : voc êchegou no Sul dizendo que, para ser imparci -al, iria acabar com o jornalismo chapa branc ana redação . Muitos jornalistas de Zero Horn ,no entanto, viajam com as despesas pagas po routras empresas que não a rede Brasil Sul .Você tem coragem de desmentir isso ?

Nunes - Total . O que produz essa per-gunta da Luciamen, além do fato de ela te rsido demitida por mim sob a acusação d eviolação de correspondência? Neste mo -mento, Luciamen Winck é repórter de polí-cia do Correio do Povoe editora do jornal da

Associação dos Policiais do Rio Grande d oSul . Quer dizer, ela cobre a área e edita ojornal da Associação . Na Zero Horn, euacabei com o duplo emprego . Em segund olugar, Luciamen sobreviveu mais tempo d oque deveria, justamente porque muitas pes-soas da Zero Hora, inseguras profissional -mente, passaram a se agarrar a cargos sindi-cais que garantiam imunidade porque sabi-am que as exigências aumentariam . Ela éuma repórter medíocre, escreve muito mal ecertamente se juntaria aos 44 demitidos nu múnico dia se não tivesse imunidade . Entreessas 44, figuram algumas pessoas que nã oforam demitidas por incompetência, e si mporque seguiam critérios que não eram osmeus - e eu tinha de fazer a mudança naque -le momento . De outro modo, contratei pro-fissionais que estavam à espera do fim docorporativismo na Zero Hora . Os duques ebarões que eu levei curiosamente aparece minsatisfeitos no próprio documento divulga-do pela Luciamen, os tais Peninha Papers . ALuciamen pertence àquele grupo de sindica -to que, estranhamente . se preocupa co mquem ganha mais e não com quem ganh amenos. Quem foram os barões? LucianoSuassuna foi para Paris, não ganhava 5000dólares e não deu certo por motivos que não

vêm ao caso . Zé Onofre també mnão deu certo . Qual é a casta daredação hoje? O editor-chefe é oMarcelo Rech, um brilhante repór-ter gaúcho, que nunca saiu de lá eque eu não conhecia. A editoraexecutiva é gaúcha . Peninha é gaú -cho . Os profissionais contempla -dos pela nobreza, como diz ela, oforam por critérios estritament eprofissionais . E óbvio que Suassun ae Zé Onofre foram para lá comaltos salários, até porque os baixossalários da redação inviabilizavamqualquer contratação . Quanto àsviagens pagas por outras empre-sas, a Zero Hora acaba de baixa ruma proibição de viagens caso apauta não justifique o deslocamen-to do repórter . Quando justifica,usamos o critério da Folha : "via-jou a convite de" . O próprio Peninhafoi cobrir um show em Bueno sAires com convite do NizanGuanaes, com todas as despesa spagas pela RBS . Quem estiver via-jando com despesas custeadas poroutras empresas que não a RB Sserá demitido .

Dante Mattiussi, diretor deredação de IMPRENSA - Vocêteve cargos vitais em Veja, Estadoe agora naZero Hora . Você almej a

ser diretor da rede Globo ?

Nunes - Sei que várias pessoas vãointerpretar essa resposta como aquela dopolítico que diz que não é candidato enquan -to prepara santinhos . Eu descobri que televi -são não é o meu negócio - e descobri fazen -do televisão na RBS. Não tenho prazer ge-nuíno em fazer televisão. Quando eu tenhode escrever um artigo, sinto um praze rorgasmático . O mesmo vale para livro . Eufiz o texto de Minha Razão de Viver, d eSamuel Wainer, nos intervalos da Veja, que ,como se sabe, não tem intervalo . Quandofazia Roda Viva, com pessoas muito inteli-gentes, eu sentia um mal-estar como o daspessoas que têm de enfrentar um palanqu esem gostar de política, ou um canastrão qu etem de estrear uma peça . A minha forma d eme expressar é a escrita . Eu quero escreve re vou escrever . Não vou dizer que, cas oreceba um bom convite de televisão, nãovou aceitar . Digo só que o que me dá praze ré escrever .

Tales Alvarenga, diretor-adjunto deVeja - Se você fosse diretor da Globo ou d oSBT, o que você faria com o Jornal Nacio-nal ou o Aqui Agora?

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"0 presidente Figueired odisse que foi atraiçoado por mim "

Nunes - Não disponho de pes-quisas detalhadas para saber se ascoisas vão bem ou vão mal . A me -nos que eu encontre experiênciasdesastrosas no meu caminho, e ununca atiro sumariamente . Eu seri amuito arrogante se dissesse qu equero mudar o Jornal Nacional . OAqui Agora também é bem sucedi -do . Eu gostaria, como telespectador,de ver um Jornal Nacional editori-almente mais agressivo, antecipan-do mais fatos . E gostaria també mque o Aqui Agora fosse menos sen-sacionalista - e chamo aqui d esensacionalismo a indução do pro -grama . As vezes fico com a im-pressão de que tenho de achar um amatéria importante pela gritari ados repórteres que a cobrem .

Paulo Mesquita, chefe do de-partamento de jornalismo da rá-dio Guaíba, de Porto Alegre -Vocêestá tentando transformar ZeroHora num veículo nacional, en -quanto seu maior concorrente lo -cal : o Correio do Povo, já chega a200.000 assinantes no Rio Grand edo Sul . Qual a fórmula que voc êpretende utilizar para que ZeroHora não perca seus vínculos co msuas origens e raízes culturais ?

Nunes - Estamos preparando um proje-to, a ser desencadeado em maio, coincidind ocom a reforma gráfico-editorial do jornal ,que completa trinta anos, para que a ZeroHora tenha uma circulação de prestígio,para que ela chegue a todos os jornalistas, atodas as pessoas que fazem a chamada caix ade ressonância em São Paulo, Rio, etc . Nos-so objetivo é fazer que a Zero Hora sej amencionada por outros jornais . Conquistaro público fora do Sul será difícil, como serádifícil para qualquer standard conquistar opúblico do Mercosul . E uma questão cultu-ral . O Sul prefere o tablóide . Eu aprendi iss omuito humildemente . Minha tentação natu-ral era fazer um standard . Mas percebi queseria uma afronta a hábitos profundamenteenraizados . Ocorre que eu acho que o tablóidebrasileiro é muito mesquinho, é muito pe-queno, não tem o tamanho e o desenho d otablóide espanhol . Por isso, aZero Hora vaicrescer, vai ficar um pouco mais esbelta .mais parecida com o El País .

Eurípedes Alcântara, editor executivode Veja - O repórter, em benefício da infor-mação, tem o direito de mentir para o entre-vistado sobre o teor da matéria que ele ,entevistado, vai participar?

Nunes - Essa é uma pergunta complica -da. . . Eu acho que não . Eu não ajo assim . Eunão me recordo de ter agido assim - e, se agi ,errei . Lembro-me de ter ido certa vez a umafesta na casa de Jorge Gazale, na época oprimeiro-amigo do presidente Figueiredo ,com o Carlos Maranhão, testemunha dest eepisódio . Figueiredo começou a falar coisa sespetaculares, publicadas depois no JB so bo título Uma noite das Arábias . Coisa delouco, ele falou adoidado. Eu não fique ifalando "olha aí, sou jornalista, vou publi-car" . Fiquei quieto . Duas vezes Gazale s eaproximou e falou : "esse rapaz aqui é direto rdo JB em São Paulo" . Figueiredo continuo ufalando . Depois de publicada a matéria, el eficou indignado, disse que tinha sido atrai-çoado . Não foi . Mas eu me sentiria mal se e utivesse chegado ao Figueiredo e me apresen -tado como um empresário paulista para ob-ter aquelas informações . Acho que o charm eda nossa profissão está em você conseguir a scoisas sem estar disfarçado de príncipe etíope .etc . Nós, inclusive, não temos esse direito .

Francisco Baker, porta-voz da presi-dência da República - Como toda atividad ehumana, o exercício do jornalismo está su-

jeito a erros na apuração e divul -gação de fatos e dados, que ocor-rem de boa ou má fé . Apesar deque as conseqüências desses er-ros possam ser desastrosas parasuas vítimas, não há consensosobre a melhor forma de evitá-las e, principalmente . decompensá-las . Em sua opinião .qual é a melhor forma de coibi rabusos ?

Nunes - Esse é um dos as-pectos do jornalismo que mai sme angustia . Não há como com -pensar, a pessoa injustamenteagredida jamais veráoerro intei -ramente reparado. Cito comoexemplo o ex-ministro Alcen iGuerra . Não sei se ele é culpadoou inocente ; sei apenas que qual -quer pessoa é inocente até que s eprove o contrário - e nada s eprovou contra Alceni, da mesm amaneira que nada se provou con-tra Ibrahim Abi Ackel . Ambo sforam crucificados . E, aocrucificá-los, crucificam-se tam -bém o filho, a mulher, a famíli atoda . Essa deveria ser uma da sprimeiras preocupações de u mchefe de redação . NaZero Hora ,uso um método da correção pa-recido com a Folha . Acho qu e

não é suficiente, uma vez que nadagarante que o leitor que viu a denúncia ir áver a reparação também. Ou seja, não h ámesmo maneira de compensar, a não se rpelo Código Penal . Nem precisa de Lei d eImprensa.

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Tim Teixeira, editor de IMPRENSA -Um diretor do grupo Estado se negou aparticipar desta seção com as seguintes pa-lavras : "Eu não gosto desse cara. Ele é um apessoa sem caráter e eu não quero faze rnenhuma pergunta para esse filho da puta .Não quero fazer nenhuma pergunta porqu eele vai responder e eu não vou poder retru -car" . Acredita-se que o Estadão teve avan -ços em sua gestão . De onde vem então ess araiva?

Nunes - Essa raiva de uma parte dadiretoria vem de um galho da árvoregenealógica prejudicado pela conformaçã oda árvore, que eu não modelei . Eu nãoescolhi que parte da família lidaria com ocomercial, que parte da família lidaria como Jornal da Tarde, que parte da famílialidaria com oEstadão . Acho compreensíve lque todos os membros da árvore tenham odesejo de dirigir o jornal mais importante ,

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Se derem trela, ele fala pelos cotovelos

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"No Estadão tentaram me cooptarpara derrubar o doutor Julio Mesquita "

Detesta puxa-saco,mediocridade e burric e

mas eu não posso ser responsabi-lizado por ter sido o escolhid opara dirigir esse jornal . Eu fu iescolhido parafazerrevitalizaçõe snum jornal que apresentava sinai sperigosos de envelhecimento . Du -rante todo o tempo, eu resisti atentativas de cooptação de mem-bros da família insatisfeitos, entreos quais o autor da frase . RuyzitoMesquita, facilmente identificáve lpelo tipo de vocabulário -cooptações no sentido de me jun-tar ao lado insatisfeito da famíli apara interferir na linha do Estadãoe para, eventualmente, me juntara conspirações para mudar o co -mando . Eu não o levei a sério po rum motivo muito simples : nãoconspiro contra chefes jamais . Senão respeito o chefe, vou embora .Conspirar contra chefe é burricee, no Brasil, deveria ser tipificad ocomo crime . Resisti a muitas ten-tativas de cooptação e durante tod oo tempo eu me reportei ao douto rJulio de Mesquita Neto, que era odiretor do jornal, e ao meu chefeimediato, Julinho Mesquita, qu esempre me trataram com o maiorrespeito . Eu acho que nenhu mdeles subscreve este tipo de críti-ca. No começo, eu sempre fu imuito bem tratado por todos . Pas -sei a ser agredido e hostilizado por uma parteda família sem ter mudado o meu comporta-mento . Eu acho que só quem não sabe ler, eacho que há vários integrantes da famíli aque não sabem ler - entre os quais eu inclu oo autor da frase -, vai poder negar aobviedade : houve avanços no Estadão . El epode não ter se tornado no jornal dos sonho sda família, ou dos meus sonhos, mas el emelhorou . Era um jornal que apresentav asintomas de doenças graves, tinha um perfi lde leitor envelhecido, era ranzinza, não usa-va cores, não circulava às segundas-feiras ,não crescia . Depois das mudanças passou alucrar muito mais . E verdade que me acusa-ram de ter aumentado a folha de pagamen-tos . Aumentei alegremente, porque os salá -rios haviam sido aviltados com o truque doduplo emprego, inadmissível em jornalis-mo . O problema era o cara sentado naquel acadeira, já que eu não era da família e aind ame chamo Silva. Eu disse a vários integran -tes da família que trabalhavam no JTque oproblema estava na árvore genealógica . Nãome acusam de nada concretamente . Dize mum merda, um crápula, sem caráter . O que énão ter caráter? Se eu não tivesse caráter, e uteria topado a cooptação . Eu sempre dispu -tei o mercado, sempre tive convites . Eu

desafio o pessoal que está insatisfeito com ofato de o doutor Julio e o Julinho cuidaremde tudo no Estadão a mostrar a sua compe-tência no mercado . Eles não têm mostrado .Eu queria saber quanto vale um diretor qu eocupa o cargo só pelo sobrenome . E um aperversidade genética, no fundo . São pesso-as que não sabem escrever e são obrigadas afazer jornal . Então elas têm raiva do mundo .Sempre quis discutir com eles questões con -cretas : me acusam do quê? De não ter m ealiado a primos e insatisfeitos com a distri-buição dos cargos? Isto eu não faço . De te raumentado os salários? Aumentei, assi mcomo os lucros também . O que precisa aca-bar no Brasil, até para acabar com os proble -mas psicológicos de quem faz esse tipo d ecomentário, é o determinismo genético : voc êé filho de jornalista, então vai ter de escreve reditoriais . Não é assim . Na RBS, eu escrev oos editoriais e não fico fingindo que o direto rme ditou o texto, essas coisas que acontecemem outras empresas . No caso do Ruyzit onem daria, porque ele é analfabeto .

Humberto Werneck, redator-chefe dePlayboy - Zero Hora é indiscutivelmente umgrande jornal, mas, por uma contingência at égeográfica, circula um pouco à margem dos

formadores de opinião . Você não sesente, neste momento, um tanto exi-lado do jornalismo brasileiro? Umacuriosidade : a quantas anda a bio-grafia de Oswaldo Aranha ?

Nunes - Falemos primeiro dolivro : deve ficar pronto até o final oano, para aproveitar o centenário d eOswaldo Aranha . Na verdade, j ádeveria estar pronto, mas não tiv etempo de terminá-lo - e se há algu-ma coisa de que não posso ser acu-sado é de ociosidade . Quanto a estarno Sul, vejo isso como um sinal d ematuridade . Acredito que não pre -ciso mais ser julgado pelos quesito sbásicos da passarela do jornalismo :texto, alegoria, estilo, opinião, etc .Além disso, patrão sempre sabe oque você está fazendo . Se RobertoMarinho, por exemplo, não 16 aZero Horn, pelo menos, com certe-za, acompanha os resultados . Notempo em que estou em Porto Ale-

gre, recebi um convite de Adolph oBloch e outro de Silvio Santos . E mresumo, não me sinto exilado .

José Nêumane Pinto, jorna-lista e escritor - Para meu jove msenador: na sua opinião, qual foi eainda pode vir a ser o papel daimprensa e dos meios de comuni-

cação na faxina moral que se está fazendo n oBrasil ?

Nunes - A imprensa tem feito um bel opapel neste episódio, mas ainda há muito a seaperfeiçoar . E preciso melhorar os mecanis-mos de controle ético . Repito, não se podecontinuar transformando dossiês em matéri-as . Não podemos ser precipitados nem conti -nuar a errar tanto . A imprensa é a principalfonte de informação do país . Um escorregãona apuração hoje pode inviabilizar aconstatação de algo mais importante ama -nhã .

Alessandra Vinhas, repórter de IM-PRENSA - Consta que . na festa em come-moração à circulação do Estadão às segun-das-feiras, alguns importantes membros dafamília Mesquita sequer compareceram . Es-tavam tentando te queimar por lá ?

Nunes - Este é um equívoco histórico queprecisa ser desfeito . Foi uma festa só da reda -ção . O único informado de que haveria isso, oRoberto Mesquita, diretor comercial, compa -receu . O Julinho sempre foi muito elegantecomigo e não faria essa desfeita, nunca . Ali e ufiquei magoado com a ausência de jornalistas .

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"A sucessão de Veja já estavadefinida: eu seria o diretor de redação "

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Ainda hoje, uma espécie de lenda da Veja

A editoria de esportes, por exem-plo, se recusou a comparecer por-que alegava que a gente passava ater mais um dia de trabalho sem oaumento correspondente - aumen-to que eu reivindiquei e não saiu .Estávamos esperando o pessoal d ocaderno de esportes acabar de es-crever, num domingo, esperand opara fazer um breve pronunciamen -to, e, quando vimos, percebemo sque eles estavam saindo por trás .Chamei o editor, meu amigo Tonic oDuarte, que veio visivelmente cons -trangido e falou qualquer coisa . S ómais tarde eu soube que o pessoalde esportes e do Caderno 2 nãohavia comparecido em sinal de pro-testo contra a falta de aumento desalário . Compreendo a reivindica-ção mas não compreendo o gesto .Lembro que a Veja registrou que eudisse algumas palavras em tom me -lancólico - e isso é correto - e queparecia que eu estava me despedin -do, o que também era correto, e fo ipensando no pessoal da redaçã oque eu disse aquelas palavras. "Ess aé uma vitória dos jornalistas, algu mdianos lembraremos disso". Eu nãoestava me dirigindo à família. . . . NoEstadão, eu tinha momentos de os-cilação. O Fernão Mesquita sempreme tratou corretamente . O RodrigoMesquita, da Agência Estado, oscilava - àsvezes estávamos bem, às vezes nem tanto.Reconheço ambos como jornalistas compe-tentes . O que me fez as agressões mais desca-bidas foi o Ruyzito, diretor de redação do IT.Eu não tenho odireito de lançar dúvidas sobreoutros membros do Estado que não o Ruyzito.Não quero fazer generalizações sacanas . Odoutor Ruy nunca me fez nada .

J.A . Dias Lopes, diretor de redação deGula - Se você tivesse permanecido naVeja, muito provavelmente teria chegado a ocargo de diretor . No que a sua revista seriaigual à de hoje e no que seria diferente ?

Nunes -Não é segredo para ninguém quea sucessão na Veja estava praticamente defi-nida . Não tinha data definida e nem eu torci apara cair um avião com oElio e o Guzzo, mas,evidentemente, sabia-se que seria eu . Por queentão sai? Eu trabalhei lá doze anos, dos quai squatro como redator- chefe, e escrevi mais de120 capas . Quando chegou o quarto anocomo redator, me bateu a seguinte interroga-ção : depois de ter feito tantas capas, depois deter feito e consolidado o projeto da Vejinha -fiz as seis primeiras capas -, depois de ter

dirigido interinamente a redação, o que eutinha ainda de excitante para fazer? Nada ,estava me sentindo redundante, perdeu o se-gredo . Só sobre planejamento familiar eu fi zquatro capas . Era bom fazer aquilo? Era, maseu tive de fazer uma opção. Tinha 36 anos . Oume aposentaria ali ou iria fazer outra coisa. Enão queria me aposentar ali . Resolvi conhe-cer de perto o jornal diário . Hoje a Veja émuito bem feita. Acho que uma revista qu etem como repórteres Elio Gaspari, DorritHarazim e Roberto Pompeu de Toledo é um aboa revista . Seria muita arrogância minh asugerir modificações . De vez em quando, eupego um ou outro texto que não passaria pel ocontrole de qualidade que Veja sempreinstituiu . Minhas restrições não vão alé mdisso . O segredo está na reportagem . Fiqueifascinado com a reportagem que o Elio . omelhor jornalista brasileiro, um Pelé, fe zsobre o sistema de saúde . Convidei váriasvezes o Elio e a Dorrit para trabalhare mcomigo, onde quer que eu estivesse, comoconsultores e repórteres . A Veja e a Globosão exemplos de sucesso . Seria muita sober-ba tentar mexer ali . Se você me pede para darsugestões para a Record ou a Manchete, qu esão perdedores, aí eu dou . Mudar a escalação

dos vencedores é arrogância .

Luís Fernando Colombini,editor de IMPRENSA - Vocênunca explicou direito por quesaiu de Veja . A versão oficial te malgo a ver com ter você atingid oo topo da hierarquia possível n omomento . Uma outra versão, noentanto, assegura que na verdad evocê trombou feio com o Eli oGaspari . Pois bem, por que voc êsaiu de Veja?

Nunes - Eu saí da Veja pelo smotivos expostos na resposta aci -ma . Agora, é compreensível que aoutra versão tenha tido curso por-que, na época, eu realmente tiveum estremecimento com oGaspari, que não gostava do fatode que o redator-chefe també mfizesse um programa de televisão ,no caso o Roda Viva . E eu achavaque eu tinha todo o direito de fazero que eu quisesse na segunda-feira à noite, um dia morto n aVeja . Acho que essa história domeu desentendimento comoElio,a despeito do meu cansaço, pode-ria ter sido resolvida se houvess eum mediador . Isso foi uma com-ponente, nunca determinante .Tanto que eu comuniquei ao

Guzzo, num almoço num restaurante daLapa, no primeiro dia que eu me senti infeli zindo para o trabalho . Entre o almoço na Lapae minha saída, passaram-se três meses . Epossível que eu me sentisse melhor se o me urelacionamento com o Elio estivesse n omesmo nível fraternal de sempre, que seri aretomado mais tarde . Ainda assim, acho quenão ficaria, não me via dirigindo aquelaredação, me sentia redundante, e queria vol-tar a ter o prazer de sair às sextas-feiras ànoite . Conversei sobre o desentendiment ocom o Elio na primeira oportunidade qu etive, em Nova York, e constatamos que fo ium mal entendido, que fomos ambos teimo-sos, quando poderiamos ter conversado . Nãoficou nenhuma cicatriz. Se eu tivesse a ambi -ção de ser diretor de redação da Veja, contor-naria o problema, deixaria de fazer o RodaViva. Hoje, apesar de já ter tido uma sonda-gem no passado, eu não voltaria para Veja .Essa sensação de dejá vu é muito incômoda,é um prato requentado . Se eu não tiver umaopção melhor, tudo bem . Mas o que eu faria ?Modificações cosméticas? Não vale . Minhamulher, naquela época, não sabia que jorna-lista podia voltar para casa antes das quatro damanhã.

X16 IMPRENSA - FEVEREIRO 1994

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Pinga-Fogo

ESPECIA L

gOGOS!O-1 NUNES

0 diretor de Zero Hora dizque chegou a hora da CPI da imprens a

Poucos apelidos combinam tã obem com seu dono quanto o"senador"de Augusto Nunes ,uma mistura de José PauloBisol pela eloqüência, de Fer-

nando Henrique Cardoso, pelo garbo, e d eJarbas Passarinho, pela competência . Paraalguns é exatamente esse o problema : ohomem se comporta como um faraó, tem orei na barriga . Para outros é justamente ess aa solução : o homem age como um estadista ,temo dom do comando . Entre uma versão eoutra, está uma pessoa que tem orgulho doque faz e, salvo a necessidade mínima d ereconhecimento inerente a qualquer um, nã oestá preocupado com os apupos da platéia.

Filho de Adail Nunes da Silva, políticoque ocupou por quatro vezes, entre 1954 e1986, quando morreu, a prefeitura d eTaquaritinga, no interior de São Paulo ,Augusto Nunes tem uma carreira espetacu-lar, senão única, na imprensa . Entre 1972 ,quando iniciou na profissão como reviso rdos Diários Associados, e 1994, quandocompleta quatro anos como diretor de reda-ção da Zero Hora, o senador já foi redator-chefe de Veja, apresentador do Roda Viva,

QUEM SOU EUNome completo: AugustoNunes da SilvaIdade: 44 anosAniversário : 25, setem-broCidade onde nasceu :Taquaritinga, SPEstado Civil: casadoMulher: Luzia Helen a

Lacerda Nunes da Silv aFilhos: Barbara,13 anos, e Branca, 1 2Prêmios : três EssoMúsica : countryUltimo livro: A menina sem estrela, d eNelson Rodrigue sFilme: A Epoca da Inocência, de Marti nScorseseMelhorjornal: cada dia é u mMelhor revista: Veja

da TV Cultura, e diretor de redação de OEstado de São Paulo . Nas poucas horas

vagas, redigiu o livro Minha Razão de Vi -ver, as memórias de Samuel Wainer, prepa-ra a biografia de Osvaldo Aranha, polític ogaúcho que foi ministro da Justiça de Getú-lio Vargas, e faz planos de escrever um abiografia de Jânio Quadros, entre outro sprojetos literários .

O apelido de senador, ao contrário d oque se poderia imaginar, nada tem a ver co mo apreço, saudável, real e visível, que eletem ao poder . Surgiu na década de 80, n aépoca em que os jornalistas decidiram lan-çar um colega como candidato à AssembléiaLegislativa . Uma turma preferia Fernand oMorais ; uma outra votava em Nunes . Mo-rais virou deputado e depois secretário deEstado e Nunes ficou com o jornalismo e oapelido . Hoje, anos mais tarde e depois deter colecionado cargos imponentes, os olho sdo senador ainda brilham como os de umaadolescente enamorada quando se lembrade sua passagem pela Veja, sua "maior emelhor escola de jornalismo" . V indo do Ri ode Janeiro e indo para Porto Alegre no iníci ode fevereiro, Augusto Nunes parou porquatro horas em São Paulo para responder àsperguntas de IMPRENSA .

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"Nas redações, a popularidad eestá ligada à defesa do corporativismo "

Marcos Wilson, diretor dejornalismo do SBT - E sempremuito difícil, para não dizer qua-se impossível, transformar um jor -nal regional forte, como ZeroHora, em um jornal que tenha amesma repercussão nacional deseus concorrentes do eixo Rio -São Paulo . Você vê alguma pos-sibilidade de inverter esse pro -cesso?

Augusto Nunes - Eu achoque todos os jornais, pelo critéri ode circulação, são regionais . OEstado e a Folha são paulistas, e oGlobo e o JB, cariocas . Quandotrabalhava no JB, constatei que ojornal tinha uma circulação poucosuperior a 2000 exemplares e mSão Paulo e, mesmo assim, conse-guia repercussão, em São Paulo enacionalmente . A minha mãe, mo-rando em Taquaritinga, no interi-or de São Paulo, nunca tinha vistooJornal do Brasil, apesar de sabe rque ele existia. A Zero Hora tem ,como projeto e objetivo, cresce rno Rio Grande do Sul . Nada impe-de, no entanto, que ela se transfor-me num jornal com repercussão einfluência nacionais, desde qu eaprimore a qualidade da notíci aque publica. Cito aqui um exem -plo dos Estados Unidos : o Los Angeles Timesé editado numa ponta do país e consegue te rressonância significativa em Chicago, porexemplo . O que torna um jornal nacional nã oé a circulação, e sim a qualidade do quepublica. A Zero Hora já começa a publicaralgumas matérias que devem ser leitura obri-gatória, como, por exemplo, uma série sobrea Coluna Prestes que virtualmente reescrevea história da coluna. Uma repórter refez opercurso durante 44 dias, conversou comsobreviventes, testemunhas oculares do epi-sódio, e descobriu que, ao contrário da lenda,as lembranças que ficaram são muito ruins -num trabalho parecido com o que WilliamWaack fez com o seu Camaradas . Hoje ach operigoso um diretor de redação não ler a ZeroHora . Se muitos jornalistas ainda não lêemhabitualmente o jornal, isso não me deixaaborrecido, e sim um tanto decepcionado ,uma vez que os jornalistas deveriam acompa-nhar veículos onde há vida inteligente - e l ájá existe .

Celso Augusto Schroeder, presidentedo sindicato dos jornalistas do Rio Grandedo Sul - Ao assumir a direção deZero Hornanunciaste um saudável distanciamento en -

tre o jornal e os poderes econômico e polític odo Estado . Como justificas, por exemplo, acontracapa de Zero Hora (15 .1 .94) com cin-co fotos tipo "álbum de família" do casa lAlceu Collares-Neuza Canabarro (governa-dor e secretária da Educação), dias depois daedição de um rentável caderno especial so-bre o repudiado Calendário Escolar Rotativo ,patrocinado pelo Banco do Estado do Ri oGrande do Sul ?

Nunes - O problema da diretoria do sindi -cato dos jornalistas do Rio Grande do Sul é qu etodos os fatos ao seu redor são enxergados poruma lente que a torna míope . Uma outra carac-terística dessa diretoria é que ela abandonou aatividade jornalística . Nem investigar eles in -vestigam. Se tivessem investigado, saberiamque Alceu Collares e Neuza Canabarro ficara mmuito bravos com esta página, achando que er auma agressão gratuita, destinada a ridicularizá -los, uma vez que apareciam cantando e vestin -do roupas estranhas . E uma questão deangulação . Tanto o Collares e a Neuza quantoo sindicato estão equivocados . Eu tenho sofri -do este tipo de ataque do sindicato, que atendeàs ordens e orientações da CUT, por questõe spolíticas . Eles me cobravam, por exemplo, os

aumentos que eu tinha prometi -do. No final de janeiro . a ZeroHora anunciou o aumento es-pontâneo de 64 salários da reda-ção . Essa notícia não saiu nojornal do sindicato . Todas as pes -soas que estão trabalhando co-migo tiveram aumento real .Pode-se contrapor aqui umaques-tão que o sindicato gosta de invo-car : a base era baixa . Sim, erabaixa, e era baixa porque o sindi -cato não soube reivindicar o uentão porque a redação não eraconvenientemente administrada .Comigo os salários estão cres-cendo . O sindicato freqüen-temente enxerga qualquer tip ode concessão de Zero Hora a oCollares, o que é um erro, umavez que o governador é aberta -mente hostil à minha gestão. As -sim como Brizola, que tem um avisão conspiratória da História ,Alceu Collares acha que eu fu ipara lá para atender aos interes-ses da rede Globo . O Brizola ,aliás, achava que eu, quando eutrabalhava no Estadão, estava aserviço da máfia dos italianos ,liderada pelo Elio Gaspari . Euacho isso divertido . Há muitotempo parei de me incomodarcom este tipo de critica . O sindi-

cato, por exemplo, gosta de me qualificar d eautoritário . Eu não tenho nada de autoritário .O problema é que nas redações a popularidad eestá associada à defesa do corporativismo, qu eeu não faço . Eu não trabalho para ser popular ;trabalho para ser eficiente . E, nesse trabalho ,contrario interesses e incompetências de va -riada ordem .

Aluízio Maranhão, diretor de redaçãode O Estado de S.Paulo - A partir de su aexperiência na direção do Estado e agora d aZero Hora, o que você antevê em termos d ecompetição para a imprensa diária brasilei-ra? Repetiremos a experiência norte-ameri-cana de um jornal dominante por capital ouhaverá espaço para projetos que consiga mse viabilizar empresarialmente mesmo sobuma eterna e intensa concorrência ?

Nunes - Há espaço para mais de u mjornal . A tese de que, no futuro, teremos u múnico jornal em cada grande cidade é d eOtavio Frias, pai, e eu não concordo co mela . Nova York. por exemplo, dá impressã ode ter um só jornal, o New York Times ,porque ele é tão bom que parece único . N oentanto, há, entre muitos outros, o Wal l

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"A leitura de jornais tem s etornado enfadonha até para jornalistas "

Street Journal,que inclusive te muma circulação maior do que ado Times . O que eu acho é qu eteremos um líder, em uma posi-ção consolidada, convivend ocom jornais menores dirigidos aoutras faixas de público . No Bra-sil está ocorrendo um fenômenoque pode nos levar a ter um qua-dro semelhante ao da imprensainglesa, que tem jornais popula-res e jornais ortodoxos, mais clás -sicos, digamos assim. Por aqui ,O Dia está crescendo, o DiárioPopular está crescendo - a pontode figurarem no ranking dos mai-ores . Sem desqualificar esses jor-nais, eu, no entanto, não os colo-co na mesma categoria dos de -mais, seja por critérios de preço ,seja por critérios editoriais . Mas ,repito, há espaço para todos . Por -to Alegre, por exemplo, compor -ta mais de um jornal - até tem, éo Correio do Povo . No passado ,Porto Alegre teve sete jornais, epassou a ter um hegemônico nã oporque só há espaço para um ,mas porque este soube ser mai scompetente . No Rio de Janeiro ,caso a crise ecônomica do Jornaldo Brasil se torne mais aguda eele feche, paradoxalmente have -ria espaço para um jornal pareci -do com o JB . Hoje a concorrência nã obusca conquistar as pessoas que não lêe mjornal - o que há é uma concorrência fero zdestinada a subtrair fatias dos outros jor-nais . Isso para mim é perda de tempo . Eume preocupo muito mais com quem não I êjornal do que com quem Iê o outro jornal ,inclusive porque é muito difícil convence ro leitor a mudar de um para o outro, quas etão difícil quanto convencer um torcedor amudar de time .

Antonio Machado de Barros, diretorexecutivo do grupo Exame - A coberturamaciça dos assuntos de corrupção, os pro-blemas econômicos, as incertezas do Itamar,os devaneios do FHC e sua URV (Ur oquê?) etc ., embora compreensível do pont ode vista da informação, não está tornando aleitura diária dos jornais um exercício cad avez mais enfadonho? Ou será que nos tor-namos tão sérios a ponto de desprezar com oirrelevante, empurrando para o fim do scadernos, as notas e informações das coisa sque movimentam, de fato, as nossas vidas ?

Nunes - Eu acho que a leitura do sjornais tem se tornado evidentemente enfa -

donha até para jornalistas . No começo defevereiro, eu comentava isso com Zózimo eRicardo Boechat, respondendo, aliás, a um apergunta feita por eles, de que se eu nã oestava achando uma chatice ler jornais . Mui-to menos por esta cobertura da roubalheirafederal feita no Brasil e muito mais pel aausência dos temas a que o Machado serefere . Não se pode deixar de falar que há ,entre os católicos, uma ressurreição da fénos anjos . E obrigatório acompanhar o cas oda patinadora agredida pelo marido da con -corrente com mais precisão . Não se pod einterromper as histórias, principalmente n acobertura política . Outro dia me lembrei d amenina resgatada por militares ingleses e mSarajevo . Ninguém mais sabia o que tinhaacontecido com ela . Só a Zero Hora deu ( amenina, acompanhada pelo pai, est áhemiplégica, enxergando e não sabe que amãe morreu) . O leitor se sente lesado pel ainterrupção abrupta da informação, pela pre -cariedade das matérias de serviço . A gent econsegue errar o mapa do litoral e mandar oleitor para o interior, troca milhão por bi-lhão com a maior freqüência - uma cois adesmoralizante - e por aí afora . Mas, porincrível que pareça, o noticiário político

tem atraído a atenção do público .Uma pesquisa de Zero Hora mos-trou que 53% de seus leitores assí-duos começam pela parte política .Acho que esse é o índice mais alt odo país . Na Veja, na época em qu etrabalhava lá, esse índice era d e17%, 20% . As pessoas acham qu ecassar vinte deputados é pouc acoisa . Nunca o parlamento fez isso ,em nenhum lugar do mundo . Oque se tem de fazer agora é infor-mar o leitor dos desdobramentosde cada caso . De onde caíram os30 .000 dólares do Magri? Do cé uou da Odebrecht? As histórias hoj esão contadas de maneira truncada .A leitura dos jornais, então, pass aa ser enfadonha para os jornalistase frustrante para os leitores . Isso éperigoso . Se nós, que as fazemos ,não gostamos daquelas páginas, oleitor, que precisa de informaçõe sseguras, de lazer e entretenimen-to, de textos menos arrogantes ,vai ter ainda mais dificuldade d ese interessar por elas . A genteprecisa parar com esse negócio defazer imposições ao leitor nas re -senhas . No fundo, estamos dizen-do "não leia isso", "se não ler isso ,você é uma besta" . Precisamosdar mais informações e pistas, paraque ele identifique o caminho e

veja se vale a pena seguir . Precisamostambém prestar mais atenção nas matéria sde comportamento . Os americanos anteci -pam tendências . Nós só publicamos ten-dências quando elas deixaram de ser ten-dências, quando já estão escancaradas na sruas . Os jornais nacionais não conseguemdetectar um fenômeno quando está no co-meço. Um exemplo acabado disso está namanifestação dos cara-pintadas do Collor.Os jornalistas não souberam dizer que aqui-lo estava para acontecer - isso é grave . Emqualquer país do mundo, se ocorre um amanifestação juntando milhares de joven ssem que isso tenha sido previsto por algu mrepórter, isso certamente deve dar em de-missão . Sinto uma profunda irritação quan -do escuto de novo, pela enésima vez, aque-la história de que os textos estão pasteuri -zados e a reportagem morreu . A reporta-gem não morreu . Quando eu trabalhava n aVeja, os repórteres, que não tinham as dú -vidas dos institutos de pesquisa, me infor -mavam que o Jânio ia ganhar do FernandoHenrique naquela eleição para a prefeiturapaulistana . Os repórteres têm de sentir e ,para isso, não podem ficar trancados n aredação .

IMPRENSA - FEVEREIRO 1994 9