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EXCLUSIVO PESQUISA GALLU P Os empresário s condena m t a imprensa ENTREVIST A MINO CART A "O jornalismo está em crise , como o país " 0 MAIOR EMPRESÁRI O 'DE COMUNICAÇAO DO MUND O Lucas Mendes, de Nova York, traia o perfil do novo sócio de Roberto Marinho

0 MAIOR EMPRESÁRIO DE COMUNICAÇAO DO MUNDOportalimprensa.com.br/imprensa30/imprensaeconomia/30capas/IMPRENSA... · política, filoso-fia e economia. Foi péssimo aluno mas bom leitor

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EXCLUSIVOPESQUISA GALLUP

Os empresárioscondenam

t a imprensa

ENTREVISTA

MINO CARTA

"O jornalismoestá em crise,como o país "

0 MAIOR EMPRESÁRIO'DE COMUNICAÇAO DO MUNDO

Lucas Mendes, de Nova York, traia o perfil do novo sócio de Roberto Marinho

Capa

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Rupert Murdoch : os tentáculos desua organização chegam ao Brasi l

Quem é e como age Rupert Murdoch,o magnata dos magnatas da

imprensa, novo sócio de Roberto Marinhopor Lucas Mendes, de Nova York

O itnpério montado pelo australian onaturalizado norte-americano RupertMurdoch não encontra rivais à altura en -tre os outros magnatas mundiais das co-municações. Fiel a seu lema "crescer o umorrer" Murdoch tem aumentado se mparar a portentosa rede que começou amontar quando assumiu a direção do sdois combalidos jornais de província querecebeu de herança do pai, na Austrá -

lia . Seu império logo se expandiu paraLondres, onde detém hoje um terço dosjornais de circulação nacional, entre ele sos tradicionalíssimos Times e Sunday Ti-mes. E depois para os Estados Unidos ,onde, ao lado de jornais influentes, in-corporou as organizações Fox (os estú-dios e a rede de televisão), além de nu-merosas emissoras de televisão e jor-nais regionais. Os tentáculos de sua or-

ganização se estendem pelos cinco con-tinentes e começam a chegar ao Brasilpor meio da associação da New sCorporation com as organizações Glo-bo, para a exploração da Direct HomeTV sistema de televisão por assinaturavia satélites artificiais e miniantenas pa -rabólicas . No texto a seguir, Lucas Men -des conta quem é o novo sócio de Robert oMarinho .

50 IMPRENSA - SETEMBRO 1995

Se o assunto é Rupert Murdoch va-mos começar falando de morte .Afinal, a base da fortuna dele foi

construída em cima de crime, sexo, es-cândalo . Mas a morte em questão não é adele e sim a do pai, Keith Murdoch .

Rupert estava estudando em Oxfor dquando recebeu a notícia da morte . O paisofria de problemas cardíacos e já tinh afeito duas cirurgias na próstata . Estavafrágil, mas não à morte, e a notícia fo ipublicada em todos os jornais da Austrá-lia com especial ênfase nos dois que per-tenciam a ele : o Adelaide News e oBrisbane CourierMail .

Vocação jornalístic aA vida de Keith de fato tinha sido ex-

traordinária . O pai era um pastorpresbiteriano da igreja escocesa, que ti-nha emigrado para a Austrália no fim doséculo XIX e tornou-se figura naciona lpelo tempero conservador dos sermões ,pela integridade da vida pessoal e firme-za nas convicções . Passou uma curta tem -porada na prisão quando se recusou a en-tregar certos documentos que, segund oele, não eram da conta do Estado . Numpaís em que a imprensa já nasceu mar-rom, ele, pastor, era um defensor da li-berdade de imprensa e contra qualque rtipo de censura, mas não ficou feliz quan -do o filho Keith disse a ele que não esta-va ouvindo o chamado do divino e que -ria ser jornalista . Apesar do desaponta -mento, o pastor conseguiu um empreg opara Keith no Age de Melbourne, cobrin-do um subúrbio de classe média .

Keith tinha um grave ponto fraco par aum jornalista : era gaguíssimo . Depois dedois anos no Age fez um pé de meia e fo ipara Londres com três esperanças : curara gagueira, estudar economia na Escol ade Economia de Londres e trabalhar nu mjornal inglês . Um ano depois, frustrado ,voltou para a Austrália sem ter alcançad onenhum dos três objetivos .

Insistiu no jornalismo e em 1915 con -seguiu ser enviado para cobrir a guerrados ingleses com os turcos em Galipoli ,onde duas divisões de soldados austra-lianos e neo-zelandeses, comandadas po rum general inglês, estavam sendo mas-sacradas . As denúncias de Keith -mui -tas incorretas - mudaram o curso d aguerra . O general foi afastado, ele fo itransformado em herói nacional e premi -ado com o posto de correspondente e mLondres, que na época era uma espéci ede embaixada informal dos ricos e políti -

cos australianos . (Nos anos 80 Rupert fi -nanciou o filme Galipoli, que reforçou alegendária figura paterna . )

Durante esse período Keith, além debom jornalismo, fez amizades preciosas .Quando voltou para a Austrália foi diri-gir o jornal Herald e a partir dele cons-truiu o primeiro império de mídia austra-liano reunindo rádios, jornais e revistas .Construiu, mas nunca chegou a ser umdos donos .

Herança minguadaQuando Rupert Murdoch chegou à

Austrália, depois de três dias de viagem ,o pai tinha sido enterrado e ele recebe uoutra péssima notícia : a herança dele eramuito, muito menor do que imaginava .Tinha encolhido muito nos últimos ano se dos dois jornais que eram a base da he -rança a fanulia concluiu que só havia con -dições de ficar com o Adelaide News .

Estamos dedicando muito espaço à his -tória do pai porque há quem pense que el eé a mola do impulso de Rupert na criaçãode um dos maiores impérios de mídia d omundo, um império que começou com est ediário que circu -lava com 80 mi lexemplares eandava ruim daspernas .

Rupert vol-tou para termi-nar sua educa-ção em Oxford,onde estudo upolítica, filoso-fia e economia .Foi péssimoaluno mas bomleitor e obser-vador da im -prensa inglesa .

IIIWViajou pela Eu-ropa, ganhou e perdeu nos cassinos eteve seu flerte com o comunismo . O bus-to de Lênin ficava no mármore da larei-ra e, nos aniversários do "grande mes-tre", como ele dizia, Rupert costumav apassar minutos em silêncio ou fazer brin -des diante do busto . Poucos levaram oesquerdismo dele a sério e os mais ínti-mos o interpretavam como uma posturapara chocar os amigos ricos e principal -mente o pai, um anticomunista visceral .Nas biografias de Rupert, as relaçõe sdele com o pai são muito cordiais e des-crevem a grande admiração do filho pel opai, mas alguns dizem que a admiração

nem sempre era mútua ; o pai era rápid onas críticas, lento nos elogios e econô-mico no afeto .

Lições do bordelQuando terminou Oxford, Ruper t

pensou em fazer um estágio pelas reda-ções americanas, mas acabou decidind oficar em Londres no Daily Express, tam-bém conhecido entre os jornalistas com oo "Bordel de Beaver" . Lord Beaver, odono, dizia que era "a melhor escola d aarte negra do jornalismo. "

Era um jornal apimentado, com pou-ca reportagem, muita edição, manchete se retrancas geniais . Rupert ficou nasubeditoria de Ted Pickering, a quem el ese refere como mentor e a quem, mais tar -de, colocaria no Times de Londres .

A temporada de Rupert no "bordel" fo ibem aproveitada mas curta e, apesar d ainsistência do dono, ele não aceitou as ofer -tas de emprego. Não ia repetir o erro dopai de trabalhar para enriquecer os outros .Murdoch ia cuidar de fazer o milhão del ee com 22 anos desceu em Adelaide par acomandar o Adelaide News .

Adelaide, como a própria mãe dizia ,era lá nos cafun -dós da Austrália ,mas tinha outrojornal, muit omais forte, Th eAdvertiser, quefazia parte doimpério Heral dcriado pelo pa idele . Tinha o do -bro da circula-ção e os donos j áhaviam ofereci-do à mãe deMurdoch 300mil dólares pel ojornal . Murdoc h

não só recusou como publicou a carta-oferta como forma de provocação e in -sulto ao concorrente . Foi a primeira bri-ga . Murdoch publicava também uma edi-ção de domingo, o Sunday Mail . OAdvertiser, que não circulava aos domin-gos, decidiu lançar uma edição domini -cal . Durante dois anos foi pauleira e omais forte perdeu tanto dinheiro que pro-pôs a Murdoch uma sociedade com umaedição única, cada um com 50% . Na prá-tica Murdoch ficava encarregado de tudo .Foi sua primeira vitória . Em seguida com-prou uma revista semanal feminina e se usegundo jornal, o Sunday Times, em

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IMPRENSA - SETEMBRO 1995 51

Perth, a 2 mil quilômetros de Adelaide .Voava entre as duas cidades e interferi aem todos os departamentos dos jornais .

A mão na massaMurdoch é um dono que - para de-

sespero de muitos empregados meti aa mão na massa . Ele adorava uma reda-ção, onde costumava trabalhar com amanga arregaçada ; fazia manchetes, me-xia nos textos, escolhia fotos e criava grá-ficos . Ele conhecia peça por peça da ofi-cina, organizava as campanhas promo-cionais, as tabelas de preços, queria se in -formar sobre tudo na produção, distribui-ção, custo do papel, problemas com o ssindicatos .

O entusiasmo dele por Lêni ntalvez não fosse genuíno, ma sseu desprezo pelo sistema d eclasses inglês era autêntico eprofundo . Ele não tem o me -nor interesse em títulos e j ádeu várias entrevistas escu-lhambando a monarquia, em-bora o pai fosse "Sir" e a mãeseja "Dama do Império Britâ-nico" . Os jornais de que elegostava desde o começo eramos tablóides dirigidos às clas-ses trabalhadoras, em geral d eoposição . Tinha aprendi -do a fazer jornal com o sgênios dos tablóides in-gleses, e com raríssima sexceções adotava a mesm afórmula : textos mais curtos ,mais fotos e gráficos, quadri-nhos, mais noticiário local, cri -me, sexo e celebridades .

Também tinha aprendido afórmula de "enxugar" as reda-ções e nunca teve pena de demiti re de gastar muito em campanha spromocionais e com o pessoal da publi-cidade .

Naquela época, começo da década d e50, Murdoch, solteiro, morava sozinhonum apartamento e passava muito tem-po com seus empregados . Era conheci -do na cidade como o "garoto editor" edava grandes festas de fim de ano qu eterminavam em barulhentas jogatinas .Murdoch bebia com a turma, mas nunc aficava bêbado . Depois de certo ponto, abebida lhe dá sono e ele dorme . Numadessas festas, estava com seu editor che-fe e um repórter, ambos muito bêbados ,os três estavam voltando para o hote lnum táxi . Murdoch dormiu e o editor

vomitou em cima dele . No dia seguinte ,Murdoch, que não se lembrava de nada .ligou pedindo desculpas aos dois por te rvomitado .

Ele gostava de carros americano sgrandes, dirigia mal e depressa e tinha u menorme dinamarquês que comia bomba sjuninas e andava sozinho pela cidade in-teira . Nessa época, Murdoch se casoucom a primeira mulher, Pat, e teve a filhaPrudence . A mãe de Murdoch, que nãogostava da nora sem traquejo, atribuiu ocasamento ao isolamento do filho e mAdelaide . De fato, o casamento não re-sistiu e na década de 60 Murdoch se apai-xonou por uma de suas estagiárias, Anna

Torv, muito bonita e ambiciosa, mas tam-bém de origem humilde . Os dois têm trê sfilhos e levam até hoje uma vida sem es-cândalos, com o mínimo de badalaçã osocial . Anna deixou a reportagem e es-creve romances que ele publica . Mas nun -ca foi leitor assíduo de nenhum auto rembora tenha uma das maiores editora sdo mundo .

O guru ClarkeO guru dele naquela época era o es-

critor Arthur Clarke, de quem tirou umadas citações favoritas : "Na batalha pel aliberdade de informação o fator decisiv ovai ser a tecnologia e não a política" . El ejá tinha percebido que os americanos se -

riam líderes e que o futuro já estava natelevisão . Comprou sua primeira estaçã oe estabeleceu um relacionamento com opresidente da rede ABC, ainda a menordas redes americanas e que muito mai starde o ajudaria a consolidar seu impéri oeletrônico na Austrália .

Crescer ou morre rEle também acreditava na noçã o

"cresça ou morra" e com os lucros da es-tação de Adelaide finalmente teve dinhei -ro para sair da província e se aventurarem Sidney, uma metrópole . Entrou pel aporta dos fundos, sem alarde, quase às es-condidas, comprando um pequeno jornal

de subúrbio .Naquela época a resistência

aos avanços dele não vinhados empregados dos jornais ,mas sim dos grandes edito-res australianos - as famí -lias Fairfax e Pecker . Eramdonos das maiores publica-ções do país, entre elas o sdois principais jornais da ci-

dade e também de um ter-ceiro, menor e mai ssujo - o Daily Mir-ror / Sunday Mirror .Antes pertencera à fa-mília Norton, que se

guiava por um lema: "Jo-gue um balde de merda e mcima da cabeça de quem se

acha superior" . Em pouc otempo, os três jornais estava mvivendo uma das campanha smais brutais e sujas em busca deleitores, uma campanha que de-finiu Murdoch como um dos mai-

ores editores da Austrália.Os jornais ofereciam prêmios na bas e

de sorteios e loterias de 50 mil dólare sem dinheiro, piscinas, carros e até ca-sas . O repórter estrela de Murdoch eraSteve Dunleavy, que aos 16 anos já co-bria polícia e tinha um talento especia lpara transformar um crime banal num amanchete de página inteira . Em buscade uma história, Dunleavy fazia qualque rnegócio, se fazia passar por policial ouagente funerário . Na redação havia umguarda-roupa sortido com batinas eaventais .

O pai de Steve trabalhava como fotó-grafo no jornal concorrente - The Sun- e para impedir que ele chegasse ante sda equipe do Mirrorpara uma foto, Stev ecortou os pneus do carro do pai .

52 IMPRENSA - SETEMBRO 1995

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Com a Globo ,negócio milhonári o

Depois de dois anos de flerte, asOrganizações Globo, do empresárioRoberto Marinho, e a News Corpora-tion, do magnata das comunicaçõe sRupert Murdoch, formalizaram, emju -Iho, um acordo para a exploração n aAmérica Latina do Direct Home TV, umsistema de transmissão direta de TVpor assinatura via satélite, possíve lde ser captada por miniantenas para-bólicas .

A aliança entre os dois grupos mar -ca uma nova estratégia da Globo, ba-seada em acordos internacionais paraa expansão de suas atividades n oramo das comunicações .Com 60%das ações, a Globo controlará os ne-gócios do Direct Home TV no Brasil ;Murdoch, por sua vez, será responsá-vel por uma empresa que cuidará das

operações nos demais países latino -americanos . A previsão é de que em cin-co anos a Globo deverá investir de 300milhões a 500 milhões de dólares nes-se projeto .

No início do ano, o Grupo Abril anun-ciou sua associação com a HughesCommunications para lançar o mesmoserviço em toda a América Latina, co mtransmissão de 72 canais de TV no Bra-sil por meio do satélite norte-americanoGalaxy. Segundo a Globo, a associaçãocom Murdoch não foi feita somente par aconcorrer com o Grupo Abril nesse cam-po, mas também para ampliar sua par-ticipação em projetos mundiais de co-municações .

0 sistema Direct Home TV oferecemuitas vantagens em relação aos outro ssistemas de TV por assinatura . É opera -do por meio de satélites de alta freqüên-cia, que transmitem os sinais de TV par aminiantenas parabólicas de 45 a 90 cm ,que podem ser facilmente transportadas

em caso de viagens do assinante . 0custo para o usuário está previsto e mcerca de 30 dólares mensais a assi-natura, além de 700 dólares para acompra do equipamento receptor -valor que em uma segunda fase po-derá ser reduzido pela metade .

Para Or em prática os projetos ,tanto a Globo quanto a Abril precisamesperar a regulamentação do sistem apelo Ministério das Comunicações, j áque a política sobre o uso de satéli-tes estrangeiros ainda não está defi-nida . Até agora o governo só libero uos serviços de TV por assinatura qu eusam satélites nacionais . Otimistaquanto à regulamentação do sistema ,a Globo espera começar a explorar oserviço em 1996 (assim como o Gru-po Abril) . Os impérios de Murdoch ede Marinho, unidos, pretendem, a par-tir de então, disputar os 30 milhõesde usuários potenciais do Direct Hom eTV na América Latina .

Montando o impéri oFoi nessa época que Murdoch, para

expandir o império, passou a evitar con-frontações com o poder estabelecido .Seus editores mais independentes econfrontacionais foram afastados . Emvez de comprar ele criou seu primeirojornal - The Australian - em Cam -berra, a Brasília australiana, e decidi utransformá-lo no primeiro jornal de cir-culação nacional . Criou uma companhi ade aviação, Mickey Mouse Airline, paralevar matrizes de uma cidade para ou-tra . Um processo primitivo, caro e arris-cado . O próprio Murdoch, às vezes d epijama e roupão, ia levar as matrizes aoaeroporto . O jornal não ajudou Murdoc ha ficar rico, mas deu a ele um tipo d eprestígio e influência que não tinha tid oaté então . Ele nunca usou seus jornai spara se promover, mas passou a usá-lospara apoiar políticos que concordavamcom seus planos . Murdoch nunca tev euma meta definida nem um plano d eação estratégico, mas desde o começ oteve dois cuidados : excelentes relaçõe scom os bancos - nunca atrasou um pa-gamento - e um sistema de verificaçãosemanal dos números . Quase todas asempresas trabalhavam com levantamen-tos mensais ou trimestrais e às vezes le-vavam muito mais tempo para perceberprejuízos e fazer correções . Com seu sis-tema semanal e sem estruturas rígidas,

Murdoch fazia suas correções com mui -to mais agilidade . Até muito mais tarde ,quando quase faliram, as empresas d eMurdoch não tinham uma estrutura or-ganizada. Ele não tinha nem u morganograma para mostrar aos banco squando, no fim da década de 60, deci-diu entrar em Londres .

A conquista de LondresEle queria o Daily Mirror, mas acabo u

se contentando com o News of The World,também conhecido como o "News of theScrews" - notíciasdas fodas - um dosdominicais mais anti-gos da Inglaterra . A fa -mília Can., maior acio -nista, estava perdendodinheiro no jornal e en-tre Murdoch e RobertMaxwell, outro barã oda mídia inglesa, pre -feriu Murdoch, qu eprometeu não com-prar mais do que 50%das ações e manterum Can na direçã odo jornal . Murdoc hnão cumpriu nenhum adas duas promessas e em pouco tempo ti -nha afastado não só a família como os prin -cipais editores .

Na Inglaterra é comum um grupo ou

família ter uma publicação e não interfe -rir na operação do dia-a-dia . Murdoc hnunca acreditou nesta noção . Ele tambémpercebeu que News Of The World ia con -tinuar deficitário como quase todos o sjornais ingleses da época . Era um adistorção decorrente da década pós-guer -ra, quando os jornais prosperaram muit oe fizeram enormes e exageradas conces -sões aos sindicatos, principalmente do sgráficos . Eram os gráficos mais bem-pa -gos e menos esforçados do mundo . Mur -doch comprou outro jornal, The Sun, que

queria trans -formar em ta -blóide e impri -mir na mesm aoficina que ro-dava o News . Ochefe dos gráfi -

cos disse a el eque não era pos -sível usar a má -quina que impri -mia o jornal nor-mal para impri-mir um tablóide .Murdoch tirou opaletó . subiu na

máquina e de lá de cima ti-rou uma barra de dentro de um saco emostrou a ele e a outros gráficos com oreduzir o tamanho do papel para o tama -nho do tablóide .

54 IMPRENSA - SETEMBRO 1995

ARX - Jar xterno no c o- e¶e au o - 98 7

PARA O SAFRA, TRADIÇÃO SECULAR DE SEGURANÇ AÉ TAMBÉM INVESTIR NA NATUREZA HUMANA .

Painel do Banking llall no EdificioSede - 198 7

Valorizando a natureza humana, o Banc o

Safra investiu na qualidade de vida de seus

Clientes e funcionários, construindo um a

tradição de investimentos seguros . -Nó s

não vivemos isoladamente e sim e m

sempre investiu em seu talento através

função da vida dos outros" - esta frase de

de jardins, painéis e pinturas para suas

Burle Marx reflete claramente nossa filosofia

Banco Safraagências, e de sua concepção arquitetônica .

operacional : prestação de serviços eficiente

Tradição Secular de Segurança

0 paisagista Roberto Burle Marx viveu e m

função do Homem e da natureza . Multiplico u

e preservou a vida em mais de 200 0

projetos realizados no Brasil e no exterior.

Pensando como Burle Marx, o Banco Safra

e informatizada, baseada na capacidad e

construtiva do Homem e na criação das melho-

res condições para sua vida e seus negócios .

Limpeza na casaMurdoch levou de Sidney vários ve-

teranos para reformar os jornais ingleses .Era a máfia australiana . Entre eles o dire -tor de marketing, que tinha idéias provo -cantes para aumentar vendas . Uma dela scausou profunda irritação no órgão quesupervisiona a televisão inglesa . Kingcriou a campanha para TV para promo-ver The New Sun-One Week Of Pussies .Pussy significa gatinho, mas é també muma gíria para "xoxota" . Neste caso, éclaro, tratava-se de uma semana de fatos .Um sucesso . Em um ano os dois jornai saumentaram suas vendas .

O Sun tinha mais de 3 mil emprega -dos e Murdoch queria livrar-se de cen-tenas deles . Ele se queixava de que paraimprimir o mesmo número de jornais e mNova York precisava de seis gráficos .Em Londres precisava de 18 e ganha-vam o dobro . Os sindicatos fizeram al-gumas concessões, mas Murdoch que-ria mais e começou uma briga que ne-nhum outro dono de jornal tinha tidocoragem de comprar, e só terminaria e m1986 com uma das maiores derrotas d osindicalismo inglês em toda a história .E durante aquele período Murdoch, comos lucros do Sun e do News, já tinha tam-

bém comprado dois dos mais venerávei sjornais ingleses : o Times e o Sunday Ti-mes . Graças às mudanças nas leis traba-lhistas aprovadas pelo governo deMargareth Thatcher ele tirou suas reda-ções e oficinas do tradicional reduto d aimprensa inglesa - Fleet Street - e fo ipara Wapping, onde, além d eautomatizar grande parte da operação ,fez o que nenhum outro dono de jorna ltinha conseguido fazer na Inglaterra .Proibiu bebidas alcoólicas .

Murdoch tinha reduzido o número degráficos nos seus jornais de mais de 2 mi lpara 570 . No setor de embalagem e distri -

56 IMPRENSA - SETEMBRO 1995

JORNAISInglaterra : The Times, The SundayTimes, Today, The Sun, News of th eWorldEstados Unidos : The New York PostAustrália : Possui mais de 100 jornais .Os mais importantes são : TheAustralian, Daily Telegraph Mirror e TheHerald-Sun2,2 bilhões de dólaresTELEVISÃOInglaterra : Sistema de SatéliteBSkyB (40% da ações )1,3 bilhão de dólaresEstados Unidos: Rede de Notícias Foxe oito estações de rádio afiliadas .1,9 bilhão de dólaresÁsia, Sudeste Asiáticoe India (64% das ações) : Sistema

de satélite Star TV120 milhões de dólaresFilmesStudio Twentieth Century-Fox2,3 bilhões de dólaresEditora de LivrosHarperCollins1,2 bilhão de dólaresRevistasTVGuíde e encartes especiais parajornais1,5 bilhão de dólaresMutimídiaServiços Delphi Internet ,MCI Joint Venture25 milhões de dólares

buição o trabalho que antes era feito por 1469 pessoas passou a ser feito por 132 .Murdoch perdeu centenas de jornalista sque saíram de seus jornais em protestocontra seu estilo de chefiar e contra a smudanças editoriais quase sempre em bus-ca do leitor menos inteligente . Mas seu squatro jornais ingleses, que valiam 30 0milhões de dólares no mercado, passara ma valer 1 bilhão de dólares .

Rumo aos EUAApesar dos lucros e das vitórias ,

Murdoch sabia que o futuro não estav anos jornais nem na Inglaterra nem na

Fonte : Business Week. maio de 199 5

Austrália . O futuro era os Estados Uni -dos . Antes mesmo da implosão comunis-ta, Murdoch estava convencido da ame-ricanização no mundo pela via eletrôni-ca . Dentro da noção "quem não cresc emorre" Murdoch decidiu crescer rum oaos EUA . Além dos interesses financei-ros havia os pessoais . Ele e a mulher nãogostam de Londres . A mulher, por caus ado esnobismo, da aristocracia e porqu eteve experiências pessoais trágicas na ci -dade . Atropelou uma velha, e uma de suasmelhores amigas foi seqüestrada e mor -ta . Os assassinos estavam em busca d amulher de Murdoch e pegaram a amiga

por engano porque estava dirigindo o car-ro de Anna . A intenção do seqüestro eracobrar resgate .

Murdoch começou suas conquista samericanas por baixo e sem alarde . Com-prou três pequenos jornais em Santo An-tonio, no Texas . Seguindo sua velha fór-mula, escolheu jornais que estavam e msegundo lugar. Não houve nenhuma re-sistência nem críticas. Apareceu tambéma oportunidade de comprar o New YorkPost, que estava à beira da falência . Nes-te caso houve resistência dos liberai snovaiorquinos . Afinal o N.Y. Post, mes-mo caindo aos pedaços, era velho redut oliberal . Apesar dos protestos, Murdoc hcomprou e salvou o jornal da falência . El ediluiu mas não eliminou o espírito liberaldo jornal, que na campanha de 1980apoiou o presidente Carter no nível esta-dual (no nacional Murdoch se identifica-va tão bem com Reagan como se identi-ficara antes com Thatcher) .

Comprando brigaMurdoch lançou um tablóide de es-

cândalos e partiu para a compra de doi sjornais importantes, um em Boston, ou-tro em Chicago. Ele achava que as duascidades, ambas conservadoras, com gran -des classes trabalhistas de origem euro-péia, iam recebê-lo com entusiasmo . Le -vou pauladas nas duas, principalmente e mChicago, onde o colunista Mike Roykoescreveu algumas das colunas mais ve-nenosas e brilhantes contra Murdoch .Royko era um velho defensor do "cida-dão comum" e dizia que os jornais deMurdoch não serviam nem para embru-lhar peixe morto . Ele se demitiu e foi tra-balhar para a concorrência. Murdoch, queraramente responde a ataques, ameaço uprocessá-lo, e a briga na verdade se trans -formou numa boa promoção para o lan-çamento do jornal . Mas outros 22 jorna-listas se demitiram em protesto contraMurdoch .

A compra de Chicago tinha coincidi -do com a publicação do livro Good Ti-mes, Bad Times, de Harold Evans, ex-edi -tor do Times de Londres, que tinha sidodemitido por Murdoch. E no livro o re -trato de Murdoch era de um home magressivo, manipulador, petulante e de ex -trema direita .

Outro problema de Murdoch nos Es-tados Unidos era a confusão que os ame-ricanos faziam entre ele e RobertMaxwell, este sim, um dos donos de jor-nal mais canalhas e ladrões da história .

IMPRENSA - SETEMBRO 1995 57

Quando morreu deixou um rombo d emais de 500 milhões de dólares . Apesardas pauladas e dos liberais, Murdoch con-tinuou crescendo e comprando jornais etelevisões na Inglaterra, na Asia, na Aus-trália e aqui, e entre suas aquisições esta-vam alguns dos jornais e revistas mais li-berais de Nova York, como a revista Ne wYork e o jornal Village Voice, outro redu-to de liberais .

Nasce a Rede FoxO colunista Alexandr Cockburn, que

escrevia sobre imprensa no Village, deu

inúmeras pauladas no patrão pelopróprio jornal . O editor chefe bebiamuito e ouviu broncas terríveis do shomens de Murdoch, mas o patrãonunca mandou demiti-lo . Mas agrande jogada de Murdoch foi acompra de estações de televisãocom as quais criou a Rede Fox . Emmeados da década, com a compr ados estúdios da Fox, Murdoch en -trou em Hollywood e no começ oda década de 90 seu império co -bria dois terços do planeta. Ele ti -nha mais de 31 mil empregados epublicava 60 milhões de jornai s

todas as semanas, inclusive TV Guide, a

revista de maior circulação do mundo .Só as leis de comunicação americana s

impediam que Murdoch crescesse mai sdepressa e ele já tinha contornado vária sdelas, assumindo em 1981 - para cho-que da própria família - a cidadania ame-ricana e abandonando a australiana .

À beira do abismoAí veio a recessão. Até então os ban-

cos cornam atrás de Murdoch para em-prestar dinheiro e ele tinha um crédito aber -to de 200 milhões de dólares num banco

australiano para pagar as dívidas a curtoprazo. Quando os japoneses fecharam atorneira, o banco australiano cortou o cré -dito . De uma hora para outra Murdoc hestava com dívidas de 600 milhões de dó -lares a curto e médio prazo e uma gigan-tesca dívida de 8 bilhões de dólares a lon-go prazo . Ele tinha 114 bancos credore sespalhados pelo mundo .

O Citibank fez com ele uma opera-ção muito parecida com as que fez com oBrasil e outros países do Terceiro Mun-do . Murdoch, como nossos ministros d aFazenda, saía de cidade em cidade expli-cando e implorando paciência e novo sempréstimos . Quem organizou e salvouo império dele foi uma vice-presidente doCitibank de 34 anos, Ann Lane .

Pela imprensa econômica o impéri oMurdoch não tinha mais saída . As açõe sdele estavam em queda livre e os inimi-gos esfregavam as mãos . Num dia, poruma questão de horas, quase tudo foi parao brejo por causa de 10 milhões de dóla-res que um banco - o National d ePittsburg - insistia em receber até o fi mdo dia . Pelo esquema da vice-presidentetodos os credores teriam de participar d orolamento da dívida e os maiores teria m

Você precisa conhecer nosso portfólio .

S p o t s • g i n g l e s • t r i l h a s • l i g u e : ( O 1 1 ) 5 3 3 2 5 2 8 ¶• .¶¶

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ainda de fazer novos empréstimos . Se u mcredor fosse pago ou não participasse dorolamento, o plano ruiria . Depois de um apressão brutal, com chamadas de presi-dentes dos maiores bancos americano ede homens-chaves na economia do país ,o National cedeu . Murdoch foi obrigad oa vender vários jornais, revistas e açõe sda sua News Corporation, mas estava asalvo . Mesmo com as reduções ainda con-tinuava entre os cinco maiores gigante sdas comunicações . Pouco tempo depois ,outra gigante em telecomunicações - aMCI - investiu 2 bilhões de dólares na sempresas de Murdoch e o sufoco de cashflow acabou . Com as reformas nas leis de

comunicações que limitavam Murdoch .ele, aos 64 anos, está firme e em condi-ções de mexer com o mundo .

A esfinge MurdochO problema é que ninguém sabe o qu e

Murdoch quer. Com exceção da famíli ae de poucos amigos, ele não se import acom a opinião de ninguém . Está com u miate novo de 20 milhões de dólares e te mcasas espalhadas pelo mundo, mas não éadorador de bezerros de ouro . O negóci odele não é dinheiro nem luxo . No mei odos motins que sacudiram Los Angele squando o júri absolveu os policiais qu ebateram no negro Rodney King, os ricos

que puderam saíram da cidade .Murdoch às sete da manhã estava le -vando café com pão para as equipe sde televisão que cobriam o motim . Nodia em que sua casa foi parcialmentedestruída pelo terremoto em LosAngeles . Murdoch tinha marcado um aentrevista para o meio-dia com dois jor-nalistas . Ele manteve o compromisso e ,

quando os dois começaram a falar so-bre a destruição na cidade, pergun-tou se eles tinham ido lá falar sobreo terremoto .

O jornal New York Observer pedi uque seis jornalistas escrevessem mini -perfis de Murdoch com a pergunta : oque ele quer? O resultado foram sei srespostas diferentes . Um deles acha qu eMurdoch é o próprio demônio que estáaqui para presidir o fim do mundo . Ou-tro concluiu que ele não tem objetiv odefinido, vive em constante operaçãode conquista para compensar algum acarência da infância . Outro sugere qu eele quer deixar no mundo uma sombramaior que a do pai e uma herança sóli-da para os filhos, algo que o pai nãodeixou para ele .

A melhor biografia sobre Murdoch fo iescrita por William Shawcross, a que mdevo muitos agradecimentos pelas infor-mações contidas aqui . Shawcross chegaao final do livro sem decifrar os objeti-vos de Murdoch e explica geneticament eesta necessidade de arriscar e crescer.Embora Murdoch não tenha doutrina ide-ológica nem ambição de poder político ,ele herdou do avô pastor este impulso d ever e fazer o mundo à maneira dele . Dooutro avô, o irlandês que vivia de apos-tas, o espírito de jogador . O prazer del eestá no jogo .

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TÃ0 IMPORTANPEQUANDO FAZER CIÊNCIA

É FORMAR CONSCIÊNCIA .

UMA HOMENAGEM AO DIA DA IMPRENSA (10 DE SETEMBRO)DE QUEM ACREDITA NO JORNALISMO CIENTÍFIC O

A Ciência Divulgada a Séri oNPRUP-USP

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