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JORNALISMO E COMUNICAÇÃO DEZ 2011 | ANO 25 | Nº 274 | R$ 12,90 EXEMPLAR DE ASSINANTE - VENDA PROIBIDA OS ASSUNTOS QUE MOVIMENTARAM O JORNALISMO NO ANO MÍDIA MOSTROU SUA INFLUÊNCIA AO DENUNCIAR MALFEITOS E PROVOCAR MUDANÇAS NO 1º ESCALÃO DILMA ROUSSEFF E SUA RELAÇÃO COM A IMPRENSA NACIONAL DURANTE O PRIMEIRO ANO DE GOVERNO ELA TEM A FORÇA PERFIL: MARILU CABAÑAS, RÁDIO E PAUTAS SOCIAIS ESPECIAL: GADGETS MAIS DESEJADOS NAS REDAÇÕES WASHINGTON OLIVETTO: CRIAÇÃO DA MARCA BRASIL 7 7 0 1 0 3 0 6 5 0 0 8 3 0 0 2 7 4

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Jornalismo e comunicação

dez 2011 | ano 25 | nº 274 | r$ 12,90

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os assuntos Que MOVIMENTARAM O JORNALISMO no ano

mÍdia mostrou sua INFLUÊNCIA ao denunciar malFeitos e provocar mudanças no 1º escalão

dilma rousseFF e sua RELAÇÃO COM A IMPRENSA nacional durante o primeiro ano de Governo

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PERFIL: marilu cabaÑas, rÁdio

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A duas semanas das eleições de 2010, em comício em Campinas, inte-rior de São Paulo, um Lula irado, articulado e com fala firme, em seu melhor estilo sindicalista,

dizia que a revista Veja destilava “ódio e menti-ra” e que a candidatura petista à presidência derrotaria “os jornais e revistas que se compor-tam como se fossem partidos políticos”. O dis-curso acontecia dois dias após a então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, anunciar a própria demissão, em decorrência de denúncias feitas pela Veja, que a ligavam a um esquema de cor-rupção instalado na pasta.

O teor das declarações do presidente eviden-ciava, no final de seu mandato, a relação que Lula teve com a mídia durante os oito anos que governou o país. “Lula atacava para ganhar mais espaço na própria imprensa e para não deixar que a população tivesse apenas o ponto de vista disseminado pelos jornais. Além disso, tinha que a desqualificar para que os escânda-

los não produzissem tanto estrago”, avalia Ricardo Noblat, colunista político de O Globo.

Semanas depois, em seu primeiro discurso como presidente eleita, Dilma Rousseff, com fala bem menos engajada e eloquente que a de seu antecessor, repetia uma de suas frases mais famosas – “Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras” – e afirmava que “as críticas do jornalismo livre ajudam o país e são essenciais aos governos democráticos”.

Mais técnica e objetiva que o ex-presidente e se posicionando a favor da liberdade de impren-sa já no início do mandato, Dilma arrefecia a relação com a mídia e, pouco a pouco, demarca-va seu estilo. “É impossível imaginar uma frase tão contundente na voz de Lula. O que se vê, até aqui, é que este comportamento de Dilma não é só discurso. Mesmo sendo mais discreta e até tímida no contato com a imprensa, ela vai no ‘osso’ das questões, sem perder o tempo que Lula perdia em alfinetar a imprensa”, diz o jor-nalista político Luiz Cláudio Cunha.

POUCAS PALAVRAS

em seu primeiro ano de governo, a presidente dilma rousseff

defende a liberdade de imprensa em seus discursos,

responde às denúncias de corrupção, mas ainda

dificulta o acesso dos jornalistas ao poder executivo

por guilHerme sardas*da reportagem

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O primeiro ano de governo Dilma contou, do começo ao fim, com participação e presença ativa da imprensa nas questões envolvendo o Palácio do Planalto. As denúncias de corrupção em vários ministérios, feitas pelos principais jornais e revistas do país, são os exemplos mais nítidos. Mesmo sem dar muitas declarações à mídia sobre o assunto, a presidente teria que responder de alguma forma. Começou a mostrar seu próprio jeito de governar e, mais do que isso, a mostrar como, pelo menos por enquanto, pretende se relacionar com a mídia e com os jornalistas.

rede de denúncias

No dia 7 de junho, o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, pediu demissão após reporta-gem da Folha de S.Paulo revelar que seu patrimô-nio havia aumentado em 20 vezes entre 2006 e 2010, período em que foi deputado federal pelo PT. Era só o início de uma onda de seis demis-sões de ministros, que terminaria com o do Esporte, Orlando Silva, em 26 de outubro. Dos seis, cinco caíram após denúncias de corrupção feitas por vearios veículos do país, entre eles Veja, O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo e Correio Braziliense. A exceção foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que saiu após uma série de afirmações polêmicas que desagra-daram Dilma. Ainda assim, lá estava a imprensa. Após declarar à Folha que votou em Serra, à revista Piauí, criticou as ministras e colegas de governo Ideli Salvatti e Gleise Hoffmann.

Além desses casos, até o fechamento desta edição, mais um ministro teve o cargo forte-mente ameaçado. Carlos Lupi, do Trabalho, enfrentou denúncias, feitas em matéria de Veja, que indicavam suposto esquema de cobrança de propina. A considerar a data da queda de Palocci, o dominó de escândalos produziu uma média de uma demissão a cada 24 dias.

Se por um lado, a imprensa foi determinante para o início da derrocada dos ministros, as denúncias foram prontamente respondidas por Dilma, que não demorou em despachar os envol-vidos – postura bem diferente da adotada pelo ex-presidente. “Ela tem sido eficaz no tempo certo no sentido de afastar os ministros que, no governo Lula, ficariam mais um mês, dois meses ou seis meses no cargo”, explica Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp. Mesmo com sucessivos escândalos no governo, Dilma tem conseguido capitalizar a crise a seu favor, em razão da maior intolerância

uma semana de governo foi suficiente para Dilma “engave-tar” o polêmico projeto de regulação da mídia, a Lei Geral da

Comunicação Social, encabeçado durante o governo Lula pelo então ministro da Secretaria da Comunicação Social, Franklin Martins. Após reunião com a presidente sobre o tema, em 7 de janeiro, o atual minis-tro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse haver “outras prioridades para serem tocadas”. Com a decisão, a presidente deu dois recados: o primeiro era que nem Lula nem as alas petistas que trabalham pelo projeto pautariam suas decisões. O segundo é que não desgastaria seu capital político com tema tão espinhoso no início do mandato.

Mesmo que nada impeça que a discussão seja retomada, Dilma tem reafirmado sua posição contrária a qualquer tipo de conteúdo midiáti-co. Em setembro, aproveitou o palco privilegiado da ONU para elogiar “a posição vigilante da imprensa brasileira” e lembrar o compromisso de não submetê-la a “qualquer constrangimento governamental”.

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aos deslizes éticos. De julho a setembro, segun-do pesquisa da CNI/Ibope, a aprovação de seu governo pulou de 48% para 51%, e sua avaliação pessoal foi de 67% para 71%.

No entanto, outros fatores ajudam a explicar a contundência com que Dilma tem agido diante das denúncias. Sem o estilo retórico e carismático de Lula, tão explorado por ele em momentos de crise, resta à presidente apertar o cerco. “Ela não tem aquele capital político do Lula, que podia fazer qualquer coisa. Ela é muito mais submetida à fiscalização pública”, analisa Eliane Cantanhêde, colunista política da Folha de S.Paulo.

Outro ponto a ser considerado é a oportunida-de de demitir ministros que ela mesma não desejava, já que foram frutos da influência do ex-presidente ou dos acordos com a base gover-nista. “Coincidentemente ou não, todos os seis ministros que já caíram eram lulistas, figuras que Lula havia colocado sobre Dilma. Alguns, ela não gostou, mas engoliu seco e aceitou, afinal devia sua eleição a ele. Agora, aos poucos, ela está colocando seu próprio logotipo no gover-no”, explica David Fleischer, professor de ciên-cia política da Universidade de Brasília (UNB).

a lÍder na mÍdia A coerência com que Dilma vem reagindo à

fiscalização da mídia não significa que não tenha armado suas estratégias para lidar com o inevi-tável conflito de interesses entre governo e imprensa. Das sete entrevistas exclusivas con-cedidas à mídia brasileira pela presidente até a primeira semana de novembro, apenas três foram para veículos essencialmente jornalísti-cos: o jornal Valor Econômico, a revista Carta Capital e a rádio Metrópole AM, de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. As restantes foram para os programas “Mais Você” e “Fantástico”, da TV Globo, “Programa Hebe”, da Rede TV!, e “Hoje em Dia”, da TV Record.

O papo informal, pouco politizado, e a exalta-ção de Dilma como primeira presidente mulher do país pautaram boa parte desses quatro encon-tros. Estratégia diferente da seguida por Lula, em 2006, primeiro ano de seu segundo mandato. Das oito entrevistas que concedeu, sete foram para veículos onde o embate era mais forte, inclusive telejornais da Globo, Record, Band e SBT. A exceção foi o global “Fantástico”. Outra caracte-rística de Dilma foi a grande atenção à mídia estrangeira, com seis entrevistas exclusivas para a TV SIC Portuguesa; jornal português Diário

Econômico; agência Xinhua, da China; CCTV, da China; revista Newsweek; e rádio ONU.

Para jornalistas especializados em política, cavar o acesso à presidente é tarefa árdua. “Considerando o formato tradicional de entre-vista coletiva, com perguntas livres e possibili-dade de réplica, Lula deu apenas duas coletivas durante os oitos anos. Dilma ainda não deu nenhuma”, comenta Noblat. Na contagem da Secretaria de Comunicação da Presidência, no entanto, até a primeira semana de novembro, Dilma deu 45 entrevistas coletivas, destas, 30 não planejadas, as chamadas “quebra-queixos”.

Kennedy Alencar, colunista político da Folha.com, da rádio CBN e da RedeTV!, destaca a difi-culdade geral de acesso a dados do Palácio. “Não é fácil. Do ponto de vista da transparência e dis-ponibilidade do governo em dar informações, a dificuldade é parecida nos últimos três gover-nos: Dilma, Lula e FHC”, afirma. Para Noblat, atualmente, há ainda um agravante. “Dilma tem

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desde o começo de seu mandato, o governo de Dilma Rousseff sofreu denúncias revelando casos de corrupção em alguns minis-

térios. Veja a seguir quem foi atingido pela “faxina” de Dilma.

1. Antonio PAlocci, ministro da Casa CivilQuando: 7 de junhoPor que: Folha de S.Paulo apontou aumento em 20 vezes do patrimônio de Palocci no período em que foi deputado federal, entre 2006 e 2010. O ministro passou a ser investigado por enriquecimento ilícito.

2. Alfredo nAscimento, ministro dos TransportesQuando: 6 de julhoPor que: A revista Veja denunciou esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta; O Globo denunciou suposto enri-quecimento ilícito do filho do ministro, Gustavo Pereira.

3. nelson Jobim, ministro da JustiçaQuando: 4 de agostoPor que: Entre outras declarações à imprensa, cai após entrevista à revista Piauí, em que classificou de “fraquinha” a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvati, e disse que a ministra da casa Civil, Gleise Hoffmann, “nem sequer conhece Brasília”.

4. WAgner rossi, ministro da AgriculturaQuando: 17 de agostoPor que: A revista Veja denunciou irregularidades na pasta, como pagamento de propinas em troca de contratos. Reportagem do Correio Braziliense mostrou que o ministro usava jatinho de empresa que man-tém negócios com o ministério.

5. Pedro novAis, ministro do TurismoQuando: 14 de setembroPor que: Campeão de escândalos, foi alvo de denúncias da Folha de S. Paulo e do Estado de S. Paulo, que revelavam o pagamento de estadia em motel e empregada doméstica com verba parlamentar, entre outras.

6. orlAndo silvA, ministro do EsporteQuando: 26 de outubroPor que: Em reportagem da Veja, o policial João Dias Ferreira e o moto-rista Célio Soares Pereira acusaram o ministro de participar de esquema de corrupção no programa Segundo Tempo e de cobrar propinas de contratos com ONGs ligados ao programa.

DENúNCIA e queda pavor de vazamento de informações. Por conta disso, seus auxiliares e ministros se fecham para a imprensa, porque morrem de medo de falar qualquer coisa mesmo em off, com receio de que a Dilma saiba, descubra e recrimine”, diz.

primeira parte Mesmo pouco acessível à imprensa em geral, a

postura de Dilma tem sido elogiada por veículos nacionais e internacionais. O jornal Estado de S. Paulo, que declarou apoio a José Serra às vésperas do pleito, exaltou Dilma em fevereiro deste ano. “Há muitos anos não se ouviam, por parte do chefe da Nação, declarações tão auspiciosas sobre os fundamentos da pluralidade democrática e o verdadeiro papel da imprensa”. A revista Veja elogiou mais de uma vez a presidente. “Assim como todos os brasileiros honestos, pagadores de impostos, Veja está ao lado da presidente”, diz editorial de agosto sobre a “faxina ministerial”.

No exterior, a mídia também deu grande espaço para Dilma. O diário britânico Financial Times e as revistas estrangeiras The Economist, Time, Forbes e Newsweek, entre outros, destacaram positivamen-te a nova líder. Esta última trouxe Dilma na capa em sua edição de setembro, em reportagem inti-tulada “Don’t mess with Dilma” (Não mexa com Dilma), afirmando que a presidente “dá todas as ordens” em um “Brasil ascendente e viril”.

Com apenas um ano de governo, ainda é cedo para saber se a relação entre a imprensa e a pre-sidente será assim até o fim de seu mandato. “Muitos achavam que o Lula era muito falastrão, leniente com a corrupção, egocentrado, e que, agora, a Dilma preenche as lacunas do Lula, por ser mais afirmativa, mais corajosa de tomar uma decisão que possa afetar a popularidade dela. A verdade é que a imprensa e as pessoas em geral estão gostando da Dilma”, afirma Eliane.

Mesmo assim, tudo indica que a mídia terá que se habituar a uma cobertura diferente, já que a presidente não parece aberta a encontros e declarações de improviso como Lula, o que, ape-sar das críticas de postura, gerava inúmeras notinhas e matérias de impacto. Essa primeira parte do governo Dilma foi marcada pelo “baru-lho da imprensa”, como a presidente disse que preferia. Resta saber se a resposta a tais questio-namentos continuará sendo a mesma pelos pró-ximos três anos ou se tanto barulho acabará se transformando em ruído.

*com jéssica oliveira.