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jornalismo e comunicacao

O NOSSOTIO PATINHAS

TELEMONTECARLOROBERTO IRINEU MARINHO

CONTA TUDO

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Personage m

VC em revistaSua moeda número um foi um gibi do Pato .

Biliardário, aos 80 anos, VictorCivita quer continuar sendo apenas um `fazedor".

O esporte dele é o trabalho. Golfe é passatempo .

Do lado de lá de uma grande mes ade jacarandá, Victor Civita se ergue -um hábito que faz questão de preserva r"um pouco gentileza, um pouco edu-cação, um pouco exercício" . O sorrisode 22 dentes - é possível contá-los, emqualquer foto - se abre prontamente ,tão veloz quanto o cumprimento italia -no, que já provocou algumas con -fusões :

- "Ciao, caro . . . Eu te mato! "Victor Civita é baixo e franzino . É

vaidoso também : passa algum tempo ,todas as manhãs, escolhendo a roup aque vai usar . Tem 50 ternos, que comoele, falam pelo menos duas línguas : otecido é inglês, italiano ou americano .O corte, brasileiro mesmo, apesar d onome: Valério Taddei .

Gosta de perfume e os raros cabelo s

por Paulo Markun

O porteiro demora a descobrir meunome na Lista de convidados . O eleva -dor pára no segundo andar e descarre-ga um carrinho repleto de revistas. Láem cima, a recepcionista gasta precio-sos segundos até localizar dona Roselypelo telefone interno . Estou 45 minu-tos atrasado para o encontro com Vic-tor Civita, o pontual e poderoso don oda Abril, e a sorte não está do meu la-do .

A loira e sorridente Rosely, uma es-pécie de ajudante-de-ordens de VC, meleva pelo corredor do sexto andar, co msuas paredes cheias de obras de arte e ,na ante-sala, quase consegue derruba rminhas últimas esperanças :

"Agora não adianta mais" - diz el acom um sorriso enigmático sobre oqual ergo minha fé . "Quarenta e cincominutos! Ele não vai atender . . . "

Dito isso, desaparece por uma por -ta lateral . Um capitão da indústria, u mempresário todo-poderoso que coman-da 11 .500 funcionários e quinze empre -sas não devia mesmo receber um repór -ter tão impontual . Em 45 minutos, oumenos, ele é capaz de tomar decisõe sque envolvem milhões de dólares, cen-tenas de empregos, milhares de exem-plares de uma nova publicação .

Ainda afio mentalmente meuscontra-argumentos, na esperança depoder esgrimi-los . E me recordo do pri-meiro encontro com Victor Civita, emcircunstâncias muito diferentes, quatroanos antes .

Foi num estúdio fotográfico d aAbril, onde diretores e funcionários d aempresa se reuniram para a foto oficia ldo lançamento da Abril Vídeo, o em-brião da sonhada - e até hoje distant eTV Abril . Quem estava atrasado eraele .

Chegou falando com todos e pedin-do desculpas e posou com o entusias-mo de um colegial . Foi conferir a fot ono arquivo : há sorrisos entusiamados efisionomias tensas, mas a expressão d eVictor Civita era de quem sabe que aparada está ganha . Não estava .

Não tive chance de testar se u matraso pode justificar outro . Dona Ro-sely abre a porta e me coloca diante d eVC .

IMPRENSA OUTUBRO DE 1987

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IMPRENSA - OUTUBRO DE 1987

estão sempre impecavelmente alinha -dos, como as trilhas de um arado . Osóculos de aro de tartaruga e grossa slentes bifocais, para enfrentar a miopi ae o astigmatismo, estão com ele há dezanos . O carro, que já foi um Aer oWillys, é um Landau 1980, com 70 mi lquilômetros rodados .

Sobre a mesa, o número um de IM -PRENSA, que ele puxa para si, en -quanto me oferece uma das três poltro-nas de couro preto, design década d e60, como todos os móveis de seu gabi-nete :

- "Então você criou coragem e lan-çou uma revista? Bem-vindo ao clu-be . . . "

Ele passa os dedos sobre o papel eindica fabricação e gramatura, comoum connaisseur é capaz de fazer comos vinhos . Sabe tudo de revistas . Nãohá editor na Abril que não tenha rece-bido seus bilhetinhos escritos com ca-neta tinteiro azul, comentando a cap aou uma foto qualquer . Nenhuma pu-blicação saiu dali, desde o primeiro Pa-to Donald (julho de 1950, 82 .370 exem-plares), sem passar pelas mãos de Vic-tor Civita .

- "Quero ter uma idéia nova a cad adia e, depois, tentar realizá-la . Se vocêpensar dez segundos sobre uma coisa ,qualquer coisa, verá que ela pode serrealizada melhor, feita melhor, co muma repercussão melhor. O mundoprecisa de fazedores, não de idealistas .Embora todo fazedor seja, a seu mo-do, um idealista . "

Cretino, não e tantas outras pala-vras que compõem o vocabulário d eVC são ditas com sotaque . Ele fala eescreve correntemente inglês, italiano ,francês e português . Este, com o mes-mo acento que seus filhos Robert e Ri -chard, praticamente criados aqui, tam-bém ostentam. E a terceira geração do sCivita no Brasil dificilmente escapar ádo sotaque : os netos de VC estudaramem colégios americanos e, como seu spais, devem cursar a faculdade n oexterior .

Até no clube de golfe, VC é poliglo-ta . Conversa com a maioria dos adver-sários em inglês - ultimamente, prefer ejogar sozinho - mas bate papo com ocaddy em italiano. E pensa em quatr olínguas. Golfe é hoje seu passatemp opredileto . Joga normalmente aos sába-

dos e de vez em quando, em manhãsensolaradas no meio da semana. E umjogador regular, mas ainda assim, co mdesempenho acima da média paraquem completou 80 anos no dia 9 defevereiro de 1987 .

Acorda às seis e meia, toma o caféda manhã lendo a Folha de S .Paulo .Os outros jornais vai conferir no Clip-ping produzido pela Abril, lá pela horado almoço. Depois do café, faz 35 mi-nutos de ginástica sozinho no amplobanheiro do oitavo andar de um prédi omeio antigo, na avenida Higienópolis ,centro de São Paulo . O mesmo edifícioem que mora Olavo Setúbal e do qualVC foi o síndico, até poucos meses eonde promove uma reforma geral daentrada. Demora-se no banho e na es-colha da roupa .

O motorista, que o espera na gara-gem, nem pergunta o destino : 90 veze sem 100, é o prédio da Editora Abril, er-guido sobre um pântano, que ele com-prou num negócio de lunático, em1967, quando nem existiam asmarginais .

Richard Civita comanda o grupoCLC - Comunicações, Lazer e Cultu-ra com 14 empresas - dos hotéis Qua-tro Rodas às centrais de estocagem . Oforte é a atividade editorial : fascícu-los, livros, enciclopédias . A AbrilCultural, hoje Nova Cultural, já co -locou no mercado, mais de um bilhãode fascículos, 30 milhões de roman-ces, 11 milhões de enciclopédias .

A CLC tem três distribuidoras -uma em Portugal - e controla a maiorfatia desse mercado também .

Robert Civita ficou com a maiorempresa gráfica e editorial da Améri-ca Latina . O carro-chefe editorial é arevista Veja, 850 mil exemplares se-manais . Mas há outros 150 títulos,somando 149 milhões de exemplarespor ano .

A Abril tem 6.500 funcionários, 49mil metros quadrados de área cons-truída e um parque gráfico que con-sumiu 196 mil litros de tinta e 4.200toneladas de papel para imprimir exa-tos 337.129.920 exemplares, em 1986.

Inimigo do não edos cretinos ,em quatro línguas

A trajetória desse italo-american onascido há 80 anos em Greenwich Vil-lage, Nova Iorque, e criado em Milão ,está descrita tintim por tintim num li-vro adequadamente entitulado VictorCivita, editado pela Nova Cultural . Elapraticamente se confunde com o per -curso realizado por suas quinze empre-sa, a partir de uma sala de 20 metro squadrados, na rua Libero Badaró, cen-tro de São Paulo, em 1950, também re -lembrado no catálogo da exposiçãomontada este ano no Masp, com tod apompa e circunstância .

Explico que a idéia é traçar seu per-fil para IMPRENSA . Digo-lhe que já l iseu livro e ele responde, sorrindo :

"Então, meu caro, você já sabe tu -do? O que mais posso lhe dizer? "

A frase não é um ponto final . Fo iapenas o pontapé inicial para uma lon-ga conversa, em que falamos de tudo .

Victor Civita cultiva algumas pala-vras e abomina outras . Entre as que de-testa, o não tem lugar de destaque . En-tre as que utiliza com freqüência, é pre -ciso incluir cretino, mais que umaofensa, uma classificação . No seu ra-ciocínio, não é a fórmula que os creti-nos usam para tentar impedir que el efaça mais coisas .

E ele se considera um fazedor e na -da mais :

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Durante muitos anos, dali de se uescritório amplo - 60 metros quadra-dros, divididos em dois ambientes, ga-binete e sala de reunião -, ele comanda -va cada passo da Abril . Hoje não ébem assim . A palavra final ainda é de -le, mas em cada uma de suas empresa shá cada vez mais memorandos, fluxo -gramas, metas, grupos de análise, grá -ficos de produtividade, reuniões d eavaliação e computadores. E VC nãosabe lidar com computadores, ne mpretende aprender .

Fui saber de Robert Civita, o pri-mogênito, o que mais ele admirava n opai . Ele pensa um pouco e pede à secre -tária um texto que fez para um cadern oespecializado em marketing com um tí -tulo sugestivo : "Como se lidera o mer-cado de revistas" .

São dez mandamentos . O primeirodiz :

- "Comece escolhendo o Fundado rda sua empresa com extremo cuidado .Assegure-se que seja um daqueles ho-mens que não conheça a palavra "im-possível" e que seja movido por u mcombustível que envolva - em parte siguais - energia inesgotável, otimism opermanente, imaginação efervescente ,sensibilidade polivalente, coragem leo-nina, visão astronômica, idealismo ina -balável e entusiasmo contagiante" .

A maior coleção d efilosofia do mundonasceu num elevador .

Entregues os mandamentos, Rober tainda aponta as qualidades que mais oentusiasmam em VC - que ele chamaassim, pela sigla, como outros parcei-ros de direção na Abril :

"Decide tudo em trinta segundos .As vezes, estão em jogo os próximosdez anos da empresa . Aponto dois ca-minhos opostos e ele diz : E esse, é cla-ro! Escolhe sempre o mais difícil, omais ousado, o mais arriscado . Eu so umuito mais prudente - os tempos tam-bém são outros, a empresa mudou ,mas sou mais cauteloso mesmo . E ele éuma árvore que nunca fez sombra par aimpedir que outras árvores crescessem .Eu e o Richard, desde quando tínha-mos os 20, 22 anos, pudemos agir livre -mente . Experimentar, acertar, errar .Ele sempre nos deu espaço para cres-cer . E nisso é diferente de tantos outrosfundadores . "

A fama de rápido no gatilho é con -firmada por quem trabalhou durant emuito tempo com VC, como PedroPaulo Poppovic, um dos diretores d ogrupo, hoje dono de uma empresa d eassessoria editorial :

- "A maior coleção de filosofia jáeditada em todo mundo - lembra Pedr oPaulo - foi decidida no percurso entr eo sexto andar e o térreo, dentro do ele -

vador. Apresentei as linhas gerais d oprojeto, que atendia a uma necessidad eeducacional do País e seu Victor disseapenas : "Pode tocar" . A série Os Pen-sadores produziu 26 teses de doutora -mento, porque era preciso traduzir o smaiores filósofos para o português .Dos pré-socráticos até Sartre, a coleçãovendeu mais de 4 milhões de volumes emudou completamente os rumos d oensino de Ciências Humanas noBrasil . "

Algumas decisões da vida da Abri lnão foram assim tão aceleradas . A queconsumou a divisão do grupo em duasmetades, por exemplo . (ver box napág. 43) Foi a forma de serenar o fura -cão que varreu a Abril durante algunsanos : a briga entre Robert e Richardpelo poder .

VC reconhece o embate, minimizasuas dimensões e explica com naturali -dade a solução, dizendo que tem doi sfilhos bem dotados, dispostos e, por -tanto, ambiciosos .

"O jeito foi dividir as empresas .Como eu só tenho dois filhos, ficou fá-cil . Se tivese quatro ou cinco, seri aimpossível .

Na hora da partilha, em 1982, o mi -lanês cauteloso Robert, 41 anos, fico ucom a Editora, certamente o filé mig-non do grupo . Richard, o impulsivo ,nascido em Londres, 38 anos, levou 14empresas, agrupadas sob a sigla CLC -Comunicação, Lazer e Cultura .

A divisão foi completa : o catálogoda exposição do grupo, no começo do

ano, no Museu de Arte de São Paulo ,tem duas metades . Uma para a Edito-ra, outra para a CLC, com 34 páginascada . E pode ser lido do fim para o co -meço ou vice-versa, porque cada meta -de está de cabeça para baixo em rela-ção a outra . A única foto dos irmãosjuntos é, bem antiga, como prova a ca -beleira ainda farta de VC .

Ainda há relações comerciais, é cla-ro . A Dinap - distribuidora comandadapor Richard - é quem coloca as revistasda Abril - e muitas outras -nas bancasde todo o país . Com carinho todo espe-cial para Veja, o carro-chefe da Abril .

Veja era um nome na cabeça de VCquando ele foi procurar Mino Carta ,em 1959, na Itália .

O sonho nasceu em 1968 e rapida-mente transformou-se num pesadelo d e6,5 milhões de dólares - total do buracoque abriu antes de apontar para cim aas curvas do faturamento e da circula -ção . A revista é um capítulo à parte navida de VC e da Abril .

Surgiu no prenúncio da tempestad echamada AI-5 e deu de cara com a cen-sura . Victor Civita garante que a em -presa fez oposição sistemática ao go-verno, durante 20 anos . E que assegundas-feiras lhe foram particular -mente penosas, em virtude de telefone -mas de Brasília, criticando a revista .Assegura que sempre tinha a mesm aresposta aos telefonemas - uma per-gunta, na verdade :

"Não gostaram? Mas é mentira?Ah, não . . . então, bem, o que eu possofazer? "

A aventura de Veja custo u6,5 milhoes dcdólares, antes de decolar .

Os embates com o governo acaba -ram provocando a saída de Mino Cart ada direção da revista, já no fim da dita -dura . VC é lacônico e diplomático a ofalar da saída de colaboradores impor -tantes da Abril .

Garante que continua amigo dosque saíram por razões pessoais . Acres-centa que outros saíram porque esta-vam armando um complô pelo pode rdentro da Abril . E sorri ao comenta rque nenhum deles foi muito longe, for ada Abril . Agora dar nome aos bois, el enão dá .

É raro, mas VC deixa de respondera determinadas perguntas . Algumas ,porque considera óbvias as respostas .Outras, sem maiores explicações .

Deus, por exemplo . Ele acredita? Aresposta é um sorriso, uma pausa, umadúvida e um pedido : que eu deixe de la -do a resposta .

Prefere falar do universo, das di-mensões da galáxia, da pequenez hu-mana comparada a imensidões estela-res . Não é um recurso de retórica, pa-

Todas as capas dasrevistas da Abril

passam pelo crivo de VC.

44 IMPRENSA - OUTUBRO DE 1987

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Ano, 1950. Recepção para o Pato na Abril.VC acena para sua primeira estrela.

rece mais uma curiosidade sincera e . umreforço para seu entusiasmo contagian -te, sua ideologia do fazer permanente ,seu otimsmo incurável .

VC olha para a pilha de papéis d eseu lado direito e se entusiasma :

"Sào projetos! Tenho de resolvê -los imediatamente!" E saca um deles, a"Cartilha de Planejamento Familiar "que a Fundação que leva seu nome est áimprimindo aos milhões, distribuind ogratuitamente pelo país .

E fácil imaginar o poder de persua -são desse senhor alguns anos atrás .Que se falhasse, dava vez a argumento sainda mais poderosos . Assim aconte-ceu quando ele, de volta da Itália ,apresentou à direção da Abril a idéi ade lançar fascículos no Brasil . O entu-siasmo esbarrou na ducha de água fri ade toda a diretoria, que achava que obrasileiro jamais compraria coleçõesenormes em doses homeopáticas . VCfirmou o pé, ganhou a parada e muit odinheiro também .

Onze votos contra ,um a favor .Resultado : doze a zero.

Um ano antes, já tinha demonstra -do para o mesmo grupo as vantagensda democracia. Queria lançar uma Bí-blia, colocou duas edições sobre a mes ade reuniões que fica ao lado do seu ga-binete . Uma chamada A Bíblia maisBela do Mundo" . A outra, menor ,mais barata, para os jovens . Pediu quetodos escrevessem seu voto num peda-ço de papel. Recebeu onze votos a fa-vor da Bíblia dos jovens e disse :

"Muito bem, a votação foi demo-crática, minha decisão também é . Te-nho 51 por cento das ações da Abril evamos editar a outra . "

Vendeu 15 milhões de exemplaresde luxo e hoje a tal Bíblia está em mui -ta favela, no ponto mais nobre do bar-raco .

Quero saber como ele toma essasdecisões : a resposta é um gesto de pas -sar os dedos diante do nariz, com oquem fareja algo no ar . Com esse fee-ling, em seus 37 anos como editor, Vic -tor Civita mudou completamente o pa-norama editorial brasileiro . Lançounovas revistas, implantou a indústri ado fascículo, profissionalizou boa par -te do jornalismo . E ganhou muito di-nheiro .

Pergunto-lhe se ele não tem vergo-nha de ganhar tanto, num país tão po -bre . Ele sorri, dizendo que não, está fe-liz da vida e que, para ele, dinheiro éapenas um meio de fazer mais coisas .

- "Não tenho iate, não tenho fazen-da, só tenho dois apartamentos - o qu eeu moro e outro no Guarujá . E nem te-nho avião : quando preciso, alugoum . "

Difícil descobrir extravagâncias, re -

quintes nesse biliardário . A coleção d earte é a única confessada e já tem desti -no : vai para a Fundação Victor Civita .

Já praticou todos os esportes - fo ium bom esquiador na juventude . Sómanteve o golfe . E no meio do campo ,aristocrático como o do São Paul oGolf Clube, numa manhã de sábado ,quando faço a clássica pergunta sobrecigarro e bebidas, responde com se uhumor ainda afiado :

"Fumei até os 30 anos . E não bebo,a não ser socialmente . Mas não me fa-ça a terceira pergunta, porque a respos -ta será sim! "

Vai ao teatro com regularidade efoi um aficionado da ópera - nos bon stempos, via 50, 60 representações po rano. Balé não gosta muito - "encurta-ria todos . "

Política também está fora de su alista de interesse . E amigo do presiden -te Sarney, desde os tempos em que er agovernador do Maranhão . Mas autori-dades e políticos freqüentam menos osexto andar da Abril do que instalaçõesequivalentes em outras empresas de co -municação . Quando aparecem, prova-velmente há algum negócio sendo fe-chado. O ideário da Abril, inscrito embronze na fachada de mármore do pré -dio, fala em "desenvolvimento da livr einiciativa" e em "fortalecimento dasinstituições democráticas" .

Uma coisa e outra levando ao cres-cimento empresarial da Abril .

Na cabeça de Victor Civita, é po risso que Veja é diferente de outro sveículos de chamada grande imprensa :

"Ao fazer o repporting cuidadoso einteligente do que acontece, a revista éum instrumento de ação política . Nasentrelinhas estão escritas um montãode coisas que a gente sente, mas nãolê ."

O destino do irmão mais velho deVC - Cesar Civita, que, conseguiu co mWalt Disney a representação das histó-rias em quadrinhos para a América La -tina - talvez esteja por trás dessa atitu-de meio distanciada da vida brasileira .Cesar montou um império gráfico n aArgentina e entregou a Victor a repre-sentação Disney no Brasil . Participouativamente do jogo bruto da polític aargentina, nunca escondeu sua orige mjudaica, foi perseguido e acabou tend ode vender tudo e sair do país . Hoje viveem Nova Iorque .

Os dissabores do irmão reforçaramo cosmopolitismo de VC, que nasceuem Nova lorque, cresceu em Milão ,passou algum tempo na França e de-sembarcou no Brasil, para tentar faze raqui o que Cesar já fazia em BuenosAires - inundar as bancas de Patos eoutros personagens Disney . Ele não s esente nem americano, nem italiano ,nem brasileiro :

"Sou um cidadão do mundo" - ad -mite .

Victor Civita tem a ingenuidade doPato Donald, a criatividade do Pardale, certamente, a sorte do Gastão . Onosso Patinhas não é rabugento, ne mpão-duro . Mas como o original, achaque todo homem tem seu preço . O dealguns, assegura, não é dinheiro . O de-le seriam as condições de fazer o dobrodo que fez, construindo uma árvoreduas vezes maior e mais frondosa .

Simpático e sorridente, otimista ,estusiasmado, o nosso Tio Patinhasnão é nem doutor, como muitos cole -gas . Não terminou o curso, ouviu d opai um conhecido ditado italiano -"mais vale um asno vivo que um pro-fessor morto" - e para todos os qu etrabalham em suas empresas é simples-mente Seu Victor .

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