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ADEMAR : 6 ESTADO S SUBLEVAM-SE PAR A DERRUBAR GOULART nta tam é noss o Ano 15 • N Q 174 • agosto/2002 • R$ 6,0 0 www .revistaimprepsa .com .b r FOLIIA DE S.PKULO *. 300 mil nas ruas 1 las direta s . ¢¢. . . . n... )ólar vai a R$ 3, cai, mas bate record e :. : 1 ¢Y"w 3'.L lr ^ S " 4°^" In estIpibaa volta m IMPEACHMENT ! Câmara depõe Color em decisão histórica; presidente respeita o resultado e Itamar assume hoje Fries de n ! 40 de !or

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ADEMAR: 6 ESTADO S

SUBLEVAM-SE PAR A

DERRUBAR GOULART

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Ano 15 • N Q 174 • agosto/2002 • R$ 6,0 0www .revistaimprepsa.com .b r

FOLIIA DE S.PKULO *.

300 mil nas ruas 1 las direta s

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IMPEACHMENT !Câmara depõe Color em decisãohistórica; presidente respeita oresultado e Itamar assume hoje

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"Após o saneamento, a empresa estava crescendo, não tinh adívidas, a capacidade distributiva se acentuou . No entanto ,meu pai se ressentia de uma relativa `desimportância' d ojornal em termos de participação no debate público etambém constatava que o desempenho do Estado de S.Paulocontinuava superior ao da Folha, em termos de imagem,prestígio e adesão publicitária . Mais ou menos por ess aépoca, cristalizou-se na cabeça dele que era chegada a hor ade a Folha assumir uma postura editorial mais presente ,mais agressiva "

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"Não é que ele peça,queira ou exija, mas oexemplo e o tipo derelação tem comoresultante umcomportamento, porparte dos dois filhos, deadmiração e respeito,mas de muita obrigaçãoem atingirdeterminados objetivos ,que é uma expectativaque o Frias tem sobr eos seres humanos . "(Boris Casoy )

"A transição temsido feita de form acompetente . O Otavioe o Luís estão naempresa desde muitojovens, participandodas decisões - sempresob o comando e ainspiração do pai ,mas assumindo cadavez mais asresponsabilidades d ecada uma das áreas .Acho que estão mais d oque prontos par aassumir o trabalho doSeu Frias, embora el econtinue sendo umapresença fundamentalna empresa . "(Carlos Eduardo Lins da Silva)

(:MPRL V A - 23

Os amigos mais próximo se alguns colegas de pro -fissão costumam defini-l o

como um dos maiores jornalistas doPaís, qualificação que ele pronta -mente repudia : "jornalista, não .Empresário" . Ao contrário do quese pode supor, a frase não expressanenhum tipo de aversão pelo jor-nalismo, mas a filosofia de algué mque sempre enxergou, com notá-vel acuidade, que essa profissã opoderia ser a essência de uma gran -de empresa .

Aos 90 anos de idade, comple-

tados no último dia 5, a trajetóri ade Octavio Frias de Oliveira, pu-blisher do jornal brasileiro de mai-or referência nos últimos 20 anos ,representa, em última instância, aprópria evolução da Folha de S .Paulo, ainda que a história de "cri -ador e criatura" tivesse começad oquando Frias já era um madur ohomem de negócios e o jornal ti-vesse uma existência de 41 anos .Afinal, como escreveu Jânio deFreitas, na edição comemorativados 80 anos do jornal, "Tal pai, ta lFolha" .

Com o sócio Carlos Caldeira Fi -Iho, Frias assumiu o control eacionário da Empresa Folha d aManhã, em 1962. Ele se ocupav adas redações . Caldeira, das ques-tões operacionais do negócio, em-bora ambos tivessem conhecimen -tos e atuações em todas as áreas .Foi o período de "saneamento" ,uma vez que a empresa, compra -da de José Nabantino Ramos, esta -va seriamente endividada .

Os anos 60 e 70 representaram ,a despeito da urgência de reestru -turação, um período de congrega-ção de grandes nomes do jornalis -mo, gente que estava à deriva eque chegava à Folha, às vezes, se muma orientação muito rígida a res -peito do que iria fazer .

Nessa época, por exemplo ,Cláudio Abramo foi contratado, le -vando, em seguida, Washingto nNovaes, Alexandre Gambirasio eAntônio Marcos Pimenta Neves .

As sucursais começaram a seestruturar . Calazans Fernandes fo iconvidado por Frias, logo após ogolpe militar de 1964, que algun schamam de "revolução" .

Calazans, que difundia com Pau -

lo Freire um método educaciona linovador, sobretudo em regiões mai spobres do Norte e Nordeste, temi a

talha*

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que os "milicos de plantão" achas-sem o método "anti-revolucionário"e inviabilizassem o projeto .

A Folha passou, então, a divul-gar amplamente esse assunto eCalazans foi convidado a trabalha rno jornal . "Como eu não queria vi rpara São Paulo, o Frias disse qu eeu escolhesse o que queria fazer" ,recorda-se . "Propus que fosse mon -tada a sucursal do Recife . Assi mfoi feito" .

Caso semelhante foi o da sucur-sal do Rio de Janeiro, reorganiza -da por José Silveira, nos anos 70 .

Quando alguns jornalistas nãoqueriam abandonar seus estados ,levar filiais do jornal até eles pare -cia uma solução plausível .

Esse procedimento passou a fa -zer parte do "planejamento" d ojornal e, anos depois, ajudaria a da rà Folha a aura de agente da rede-mocratização na mídia . Mesmoporque, algumas dessas sucursai sabsorviam ex-presos políticos,como a do Recife .

Cláudio Abramo, outro nomemarcado pela ditadura militar econtratado por Frias, acabaria sen-do o responsável por uma reform aestrutural na redação da Folha, aovoltar ao jornal, em 1975 . A mu-dança tinha como princípios a mo-dernização editorial e o investimen -to em equipe, ou seja, em qualida-de. A publicação passou a ter n oseu time nomes como Paulo Franci se Newton Rodrigues, entre outros .

Ao "seu Frias" (é assim que cos -tuma ser chamado no jornal e for adele), parecia importante ter esse sprofissionais na empresa, meno spara reerguê-la do que para dar sus -tentação e fundamentação aos pro -jetos futuros que tinha em mente .O publisher intuía, respaldado po rsuas observações e por seus incon -táveis contatos com as fontes, que

Abramo: afastamento é interpreta -do como um "recuo tático "

a decadência do regime autoritá-rio era uma questão de tempo . Umjornal que se propusesse pluralist ae apartidário, assim, começaria arepercutir na sociedade civil .

A visão do empresário ia lon-ge : "Não sei exatamente quando oFrias vislumbrou essa possibilida-de, mas certamente vislumbrou" ,conta Boris Casoy, que trabalhouna Folha durante 15 anos, inclusi-ve substituindo Cláudio Abram ocomo diretor de redação, em 1977 .

Os primeiros tempos de Frias àfrente do jornal, entretanto, forammarcados por uma linha editoria lincerta, vacilante . A Folha não seopunha frontalmente ao regime ,mas "pairava" . De 1969 até 1972 ,o jornal preferiu "não provocar", j áque, economicamente dependen-te, não teria como reagir a umaeventual reação dos militares .

A situação começaria a se al-terar no fim dos anos 70, quando apublicação abriu as páginas paraas diversas correntes de opinião d asociedade - desde a extrema-direi-ta até a extrema-esquerda. A céle-bre "Página 3", um velho desej ode Frias executado por Cláudi oAbramo, assumiu então o status de

El Diaféria : "aquela crônica foi otexto mais sério que já escrevi"

"arauto da pluralidade" .O público passava a percebe r

que a Folha poderia ser uma vozde resistência ao regime.

Frias, no entanto, apesar da su aaguçada sensibilidade, não senti afirmeza na proposta de "abertur alenta e gradual", implantada noinício do governo Geisel .

Na verdade, era um sui-generissistema de se chegar à democra-cia devagar, quase parando, e mui -tas vezes dando marcha-ré . À su amaneira, Frias impôs ao jornal u mritmo semelhante .

Há um episódio, lembrado ain-da nos dias de hoje como u mexemplo de "subordinação tácita "do jornal . Lourenço Diaféria escre-vera uma crônica que o Exércit oconsiderou ofensiva à memória d eseu patrono, Duque de Caxias . Ocronista foi preso e Cláudi oAbramo, afastado da redação, ain-da que por meio de um pedido for-mal de demissão .

Ele próprio, em entrevistas, dei -xou transparecer que aquela for auma atitude calculada . Na anális ede Abramo, os militares não perse-guiriam os jornais, desde que o schefes que "causassem maiores pro -

24 - WPREVSA Agosto - 2002

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blemas" permanecessem longe .Um processo semelhante havi a

acontecido pouco antes na revistaVeja . Segundo depoimento d eRoberto Civita, um dos herdeiros d aEditora Abril, um dia ele foi cha-mado a Brasília e, no meio de um aconversa, um ministro pergunto upor que ele mantinha Mino Cartano comando da redação . Civitateria respondido: "Porque ele é omelhor jornalista do Brasil" . Ao queo ministro retrucou : "E por que osenhor não convida o segundo me-lhor?" O recado do governo estav adado e seu "porta-voz", digamo sassim, no caso da Veja e de MinoCarta, foi o ex-ministro da Justiç aArmando Falcão .

Cláudio Abramo, assim com oMino, era tremendamente incômo-do à chamada "linha dura" da ditarevolução . Teriam que ser varrido sdas redações ou pelo menos d ecargos de chefia .

Geisel seria sucedido pelo en-tão chefe do SNI, general João Ba-tista Figueiredo e, depois dele, opoder passaria às mãos de um ci-vil . Mino Carta diz que chegou aconversar com "Seu Frias" sobre a sidéias do general Golbery do Cout oe Silva. Mas Frias teria preferid oacreditar em alguma outra fonte o ufizera um raciocínio diferente .Achava que o sucessor de Geise ljá estava definido com dois ano sde antecedência e seria o entã oministro do Exército Silvio Frota .

Isso quer dizer que Frias apos-tou na vitória da linhadura . Foi um adas poucas vezes na vida em queperdeu uma aposta . Hoje, OtavioFrias Filho, diretor editorial da Fo-lha, conta a mesma história co moutras palavras : "Em 1977, haviauma crise interna do regime mili-tar, entre o grupo do Geisel - u mpouco mais liberal - e a extrema -

direita, representada pelo entãoMinistro do Exército . Meu pai re -solveu fazer um recuo tático ,achou importante que o Cláudi odeixasse a frente da redação . Eleera uma figura muito estigmatiza-da, na época, como uma pessoa d eesquerda . Sobre o episódio "Lou-renço Diaféria" em si, tenho a im-pressão - e é realmente uma im-pressão - de que ele tenha escritoaquela crônica por ingenuidade" .

Diaféria rebate : "Definitiva -mente, não foi ingenuidade . Ess acrônica foi o texto mais sério epensado que já escrevi na vida .Escreveria novamente, sob as mes -mas circunstâncias" . Ainda quediga não guardar qualquer mágoado jornal em relação àquele episó -dio, o cronista argumenta que otexto circulou no jornal (e, portan -to, as pessoas tiveram conhecimen -to dele), antes que fosse para acomposição. Diaféria saiu do jor-nal, por iniciativa própria, enquant odurou o processo. Voltou a traba-lhar na Folha, tempos depois, atéser demitido, verbalmente, por Bori sCasoy. "Foi um motivo tolo, ma sfiz questão que a demissão saíssepor escrito . A circunstância já eraoutra", relata .

O fato é que a Folha se ressenti -ria bastante com aquele "recuo tá -tico" e só viria a reconquistar a po -sição de líder inconteste da mobi-lização pela democracia quando seengajou nas "diretas" . A campanh asurgiu como uma sementinha plan -tada no solo fértil da insatisfaçã ocom o regime militar e germino ucom uma intensidade insuspeitada .Muito por causa das "antenas", des -ta vez sintonizadíssimas, de Frias .

As idéias oposicionistas e a pos -sibilidade de eleições presidenci-ais pelo voto direto, considerad aentão uma utopia por 10 entre 10

"Ele é exigente, gostadas coisas corretas eclaras, não dá para serdissimulado, até porquetudo que é dissimulaçã oele descobre - é muitointeligente . "(José Silveira )

"Quando ele pediu aoCláudio que fizesse aspáginas 2 e 3, já estavaimbicando o jornal n adireção da democracia ,pedindo àquele batalhã ode críticos queinterferissem com se upoder da palavra. Isso eletinha muito claro, assimcomo tinha muito claro ofato de que o jornal erauma empresa, precisavadar lucro e que nã odeveria ser vinculado anenhuma tendência ,deveria ser apartidário . "(Caio Túlio Vieira da Costa)

"Nesse momento (pós-golpe), a linha editoria lda Folha ainda pairava ,mas o Frias memantinha, me dava totalcobertura . Eu propunhagrandes reportagens e eleautorizava . Foi a épocaem que eu melhor vivicomo jornalista . "(Calazans Fernandes)

LMPRFNSA - 25Agosto - 2002

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U Boris Casoy, que esteve à frente da redação da Folhapor duas vezes

dos maiores analistas políticos d aimprensa brasileira, voltaram aocupar as "páginas 3" (Tendênciase Debates) e, eventualmente, oseditoriais .

A Folha voltava a ousar, a trans-pirar liberdade. Ousadia que fez oPalácio do Planalto reagir . Por vá -rios interlocutores, Frias ficaria sa -bendo das "preocupações" do go-verno com o comportamento d ojornal .

Do seu quartel-general, instala -do na rua Barão de Limeira, el eapenas sentia a temperatura d aágua. Cada vez mais quente . Nun -ca estivera tão solitário na hora d etomar uma decisão .

Os chefes oposicionistas -Ulysses Guimarães, FrancoMontoro etc - ainda não confiava mnele a ponto de abrir seus coraçõese revelar seus projetos . Afinal, el etinha a fama de malufista !

O filho, Otavinho, estava fazen-do uma temporada de estudos n aEuropa . O irmão, Luís, que se re -velaria um administrador financei-ro de primeira qualidade, ainda nãodeixara a faculdade . Cláudi oAbramo estava "exilado" em Pa-ris, como correspondente . O gover-no, por outro lado, foi fechando ocerco e fazendo ameaças de cor-tar totalmente a publicidade ofici-al . Entre outras represálias .

A sucursal de Brasília recebiarecados quase que diários . "Pare mcom essa história de 'diretas-já' .Isso não é assunto . Senão . . . "

Um dia, Frias reuniu-se co mBoris e os editores . Passou a elesuma missão: "A partir de amanh ãa Folha vai publicar a campanhadas diretas na primeira página to -dos os dias " . Alguém perguntou :"Mesmo quando não tiver notícia? "A resposta : "Mesmo quando nã otiver notícia" .

A Folha, no final de 1983 e iní -cio de 84, abrindo espaço ampl opara a "Campanha das Diretas" ,conquistou a alma de seus leitores .A Rede Globo, por exemplo, só to -caria no assunto en passant, nocomício de 25 janeiro de 84 . 0Jornal Nacional, ao vivo, mostro uimagens das quase 100 mil pesso-as reunidas em São Paulo, insinu-ando que estava sendo comemora -do o aniversário da cidade .

Um amigo conta que, preocu-pado, ligou no ato para a Folha ."Você viu as bandeiras verme -lhas?", perguntou . Frias respondeu :"Vi . E daí? "

Quando a emenda das diretas fo ivotada e derrubada pelo Congress oNacional, a Folha informou aos lei -tores : "Caiu a emenda, nós não. "

A Folha, como imagem, estavasolidamente instalada : era o jorna lpor excelência da chamada "socie -dade civil", pelo menos em Sã oPaulo. Frias podia dar início a u mprocesso de transição que també mseria lento e gradual . Otavinho as-sumiu a função de diretor editori-al . Era um jovem de 26 anos, mas

que desde 1975 vivia o dia-a-di ado jornal . Luís, o outro filho, co mindiscutível vocação para omarketing, assumiria mais tarde ocargo de presidente do Grupo Fo -lha, embora Frias sempre estivesse- e ainda esteja - presente com o"inspirador" .

"O Seu Frias sempre desejo utransformar o jornal, tanto comoempresa, quanto em termos de re-dação, em um exemplo de exce-lência . Convenceu os jornalista sque estavam no comando de que aredação precisava ser administra -da com rigor. Ele sempre foi oinspirador dessa filosofia, e o Ota -vio, em termos editoriais, o execu-tor " , relata o jornalista Carlo sEduardo Lins da Silva .

O modo de se atingir essa ex-celência traduzia-se por metas mi -nuciosamente planejadas .

Os preceitos de administraçãode empresa - de inspiração norte -americana - chegavam à redação ,por meio de processos quantifica -dores e da formalização da linh aeditorial . Consolidavam-se os me-canismos de verificação de inade -

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quações, estruturava-se o Manual deRedação, e os projetos editoriais ,depois de sistematizados, passara ma ser divulgados ao público .

No final da década de 80, insti-tui-se o primeiro ombudsman, CaioTúlio Vieira da Costa : "A idéia fo ibancada pelo Otavinho . O jorna ljá vinha discutindo isso há algun sanos, quando olhava experiênciascomo a do Washington Post, po rexemplo, em dar ao leitor a possi -bilidade de um advogado de defe -sa . Houve certos embates, um o uoutro editorial criticando a atuaçãodo ombudsman, mas tudo dentro d anormalidade de um cargo inéditono veículo até então", recorda-s eCaio Túlio .

A linha ideológica do jornal, n oentanto, nunca foi posta em segun -do plano, em função das metas .Constantemente discutida entrediretoria e editorialistas, passa ain -da, pela análise do Conselho Edi-torial, órgão que se reún ebimestralmente, sem funções exe -cutivas . "Seu Frias revisa os edito -riais até a exaustão . É um cuidad oexcessivo, ele não quer correr o ris -co de errar, de ser incoerente . Cos-tuma chamar os colunistas e per-guntar : 'será que Sua Excelênci avai entender isso?', referindo-se a oleitor", conta Clóvis Rossi, que che-gou à Folha no começo dos ano s80 e, atualmente, é colunista emembro do Conselho .

Segundo Otavinho, o pai, d efato, tem uma preocupação quas eobsessiva em atender as demanda sdo leitor médio . "Ele tem uma sau -dável desconfiança de pessoas comum background intelectual, comoé o caso da maioria dos jornalis-tas . Acha que eles podem perder areferência do leitor", analisa . Aassociação com uma das máxima sdo comércio parece, assim, inevi -

tável : "a razão está sempre com ocliente. O faturamento é nosso" .Com boas doses adicionais de refi -namento, entretanto .

Frias conhece como poucos aessência de seu negócio . Ness abusca pela excelência do produto ,o tino empresarial transforma-o n ogrande jornalista a que se referemos colegas . "Ele, que não era jor-nalista, tornava-se jornalista quan-do assumia esse papel", recorda -se Calazans Fernandes .

O publisher é autor do que seconsidera o maior furo da Folha deS. Paulo, até hoje : a matéria qu erevelava, durante o período em qu eTancredo Neves estava internado ,que o presidente tinha um tumor .A cobertura da doença de Tancredoé freqüentemente lembrada, entr eos jornalistas, pela imagem de re-pórteres engalfinhados, na porta d oInstituto do Coração, atrás de um ainformação exclusiva . A Folha fo ia primeira a obter a informação .Frias conseguiu .

Outra matéria emblemática ,ainda que O Globo também tenh apublicado, foi o relato da renúnci ade Gustavo Franco à presidênciado Banco Central, em janeiro d e1999. "Ele me chamou e falou qu euma fonte tinha dito que o Franc oiria renunciar no dia seguinte . Pe-diu que eu tentasse apurar, ele tam -bém ia continuar tentando", cont aClóvis Rossi . "Começamos a che-car . Eu não consegui nada, ele veiocom a informação de que o Franc ojá estava até limpando suas gave-tas, no Banco Central . Não tinhamais ninguém na casa, ficamos e ue ele em cima da matéria . O donodo jornal fazendo trabalho de plan -tonista!", diverte-se .

Os meios para responder às de -mandas de "Sua Excelência, o lei -tor" são pensados e cuidadosamen-

"Seu Frias é um exímiorepórter. Não é mai ssegredo para ningué mque o furo da doença doTancredo foi dele .Outro furo foi a quedado Gustavo Franco . Arotina, a pequenanotícia, as miudezasnão o atraem, masquando ele tem umainformação do tipo`queda do GustavoFranco', é capaz devarar a noite apurando ."(Clóvis Rossi )

"No dia em que fu idemitido, perguntei omotivo. O Friaselegantemente me disse :`um dia você vai saber' .Nunca vim,concretamente, a saber.Mas sei . "(Miranda Jordão )

"Havia certos nichos dopoder que tratavam aFolha e o Seu Friascomo se fossemsubordinados a ele.Quando ele percebe uque estava sendo usado,começou a mudar. Elepodia errar porconvicção, não porpressão. "(Mauro Salles)

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FHC e Octavio Frias : o atual presidente colaborava no jornal ,quando ainda era persona non grata entre os militares

te estruturados . Já se tornaram cé-lebres os "almoços da Folha", reu-niões que acontecem sob duas cir-cunstâncias .

Há os almoços com o "pessoa lda casa" - Frias e todo o comand oda redação - , em que são discuti -das as diretrizes do jornal, oposicionamento do veículo frentea determinados contextos . As reu-niões mais importantes, no entan-to, são aquelas que trazem "convi -dados", ou seja, empresários, polí-ticos, acadêmicos, pessoas que re -percutem na sociedade .

Nada do que um convidado di zno almoço pode ser publicado, essaé a regra . Trata-se, efetivamente ,de uma forma de trazer a realida-de para dentro do jornal, estabele-cer contatos, sentir as orientaçõesda economia ou da política .

Com a função de "termômetro" ,a chuva de informações que acon-tece nesses encontros permite qu ea Folha sempre "atualize o repertó-rio", podendo interpretar - e obvia -mente, estender a seu público - oscaminhos que a sociedade tomará .

Por outro lado, para os "convi -dados" trata-se de uma oportunida-de de aproximação com um do smitos da grande imprensa, e é sem -pre bom saber o que eles pensam .Há, nos convites para esses almo-ços, uma soma de interesses satis-feitos .

Um detalhe importante : muit agente influente, claro, procura o jor-nal e tem sua passagem registrad adevidamente na coluna "Painel" d apágina 4 . Outros são "convida -dos", o que também é reconhecí-vel na leitura da coluna : "visito uontem a Folha, a convite . . . "

Continua a existir sempre a pre-ocupação de que os almoços siga ma linha de independência e plurali-dade, tão cara ao jornal . Isso, en-

tretanto, não é garantia de que se-jam sempre amistosos .

Recentemente, quando Lui zInácio Lula da Silva foi o convida -do, Otavinho teria perguntado, n oinício do almoço, como o candi-dato tinha se preparado intelectu-almente, nos último 20 anos, par aassumir a Presidência . Lula consi -derou a pergunta preconceituosa ese negou a responder. A indisposi -ção permaneceu até o fim, quan-do Otavinho lançou outra pergun-ta, que ele próprio define como"muito veemente", sobre a incon-sistência da aliança entre PT e PL .

Lula, irritado, levantou-se e fo iembora. Frias teria feito questão d eo acompanhar até a porta . Em qual -quer outro lugar, seria uma situação

Inauguração do novo parqu egráfico da Folha em Tambore .Barueri/SP

desagradável e a reunião repercuti -ria como um fracasso . Não em umacasa cuja principal estratégia é abar-car todo o leque de tendências so -ciais como diferencial de seu pro-duto. "Jogaram pesado", teria sidoo único comentário de Frias . Y

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A alma d onegócio

A preocupação com a evolu-ção tecnológica sempre represen-tou um dos pilares das empresa sde Octa-vio Frias de Oliveira . AFolha foi o primeiro jornal do Paísa introduzir computadores na re -dação, nos anos 70 . Em meado sda década de 90, a criação doUniverso Online (UOL), maior por-tal de internet da América Latina ,foi um marco na mídia brasileira .Em 2001, o portal contabilizou 29trilhões de page views.

O Grupo Folha congrega, alé mdo UOL e dos jornais - Folha deS. Paulo e Agora São Paulo - oCentro Tecnológico e Gráfico, oNúcleo de Revistas, a Agênci aFolha, o Instituto DataFolha e aeditora de livros Publifolha . Tem,ainda, parceria com as Organiza-ções Globo, no jornal Valor Eco-nômico, com o grupo Estado, par aa distribuição dos jornais, e com aQuad Graphics, na Plural Editor ae Gráfica .

`._ _¢ ------

Cátedra de jornalismoOctavio Frias de Oliveira

osO Marques de Melt)*

was

Edevaldo Alves da Silva entrega a Frias o títuloProfessor Honoris Causa

Criada em 1972, a institui-ção originalmente denominad aFIAM - Faculdades IntegradasAlcântara Machado, hoje trans -formada em Centro Universitá-rio, promoveu diversas iniciati-vas para comemorar os 30 anosde sua fundação .

A programação foi iniciadano dia 25 de fevereiro de 2002 ,com a instalação da Cátedra deJornalismo Octavio Frias de Oli-veira .

Trata-se de justa homena-gem a um empresário da comu-nicação que se notabilizou pel aluta em defesa da liberdade d eimprensa, viabilizando uma or-ganização jornalística moder-na, plural e independente .

Trata-se também de um ci-dadão que se fez por conta pró-pria, optando pela iniciativaprivada como espaço de atua

- pública.

Sua conduta empresarial temsido edificante por três escolhas :

- a sedimentação de um jorna-lismo clivado pela cidadania, as -sentado principalmente nas aspira -ções das camadas médias da nos -sa população ;

- a superação do capitalismo sel -vagem na indústria midiática, de-senvolvendo projetos cooperativo scom empresas concorrentes, se mcontudo abandonar a competiçã omercadológica ;

- o fortalecimento da internacio-nalização comunicacional, viabili-zando a projeção brasileira no mer -cado regional da mídia digitalizada .

'Professor Emérito da USP, exercen -do atualmente o cargo de Direto rda Faculdade de Comunicação So-cial do Centro Universitário Alcân-tara Machado .

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