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www .portalimprensa .com .br JORNALISMO & COMUNICAÇÃ O Ano 16 - n° 177 . Novembro/2002 R$ 6,0 0 Entrevista : Neide Duarte "O - roblema do Brasil é a auto-estima " Mídia e Educa ão : o "orna/, um rofessor

Entrevista: Neide Duarte O - roblema do Brasil é a auto-estimaportalimprensa.com.br/imprensa30/materias_capa/IMPRENSA%20-%20ANO... · Uula namora Pedro Venceslau, Depois de bater

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www.portalimprensa .com .br

JORNALISMO & COMUNICAÇÃOAno 16 - n° 177 . Novembro/2002 R$ 6,00

Entrevista: Neide Duarte"O - roblema do Brasil é a auto-estima "

Mídia e Educa ão: o "orna/, um rofessor

Uula namoraPedro Venceslau

,

Depois de bater cabeça com a mídia nas últimas três corridas presidenciais, lula disputa e vence, e msua quarta tentativa, alardeando paz com os grandes grupos de comunicação do país

CAPA

Em novembro de 1993, um Lul amais gordo, barbudo e desalinha -do que o de hoje encabeçava assondagens do Ibope com 30% da sintenções de voto para a presidên-cia . Apesar da larga distância qu efaltava até o dia da eleição, nem amilitância petista nem a cúpula d opartido duvidavam da vitória .Afinal, um ano antes, Fernand oCollor fora derrubado do cargo,com a ajuda decisiva do próprio PT.Foi com esse forte cheiro de pode rimpregnado no ar que o candidatopetista recebeu o repórter Ale xSolnik, de IMPRENSA, para um aentrevista exclusiva na então sed edo "governo paralelo", em Sã oPaulo. As duas horas de conversarenderam uma das capas de maio rrepercussão e venda dos 15 anos d arevista . O título, em letras garrafais ,dava o tom do que viria pela fren-te "Os jornais não querem que e uchegue à presidência" . Estadão,Folha, JB, Globo, RBS, Chico Anysio,Hebe Camargo, Paulo Francis .Ninguém escapou da metralhado -

ra giratória do candidato . Todos estaria mcontra ele e a favor da manutenção d aordem imperialista . Como todos sabem ,Lula perdeu para Fernando Henrique, qu econtou, de fato, com o apoio - ou com aindiferença - da mídia .

Seis anos depois, em 1999, um Lul amais grisalho, um pouco mais magro ediscretamente mais elegante falav anovamente a IMPRENSA . Dessa vez, ocenário e o clima eram outros . Derrota -do pela terceira vez, o petista aceitou oconvite da Revista para ser um do spainelistas no VI Seminário d eTelejornalismo . Sentado ao lado dojornalista Boris Casoy, Lula voltou àcarga . "Nenhuma televisão, com exceçã oda Record, cobriu a campanha co misenção, independente dos editoriais edas opiniões que o Boris possa ter" .E foi mais longe : "a TV Cultura prati-camente não cobriu a campanha ;o SBT tirou o telejornalismo de su aprogramação; a Bandeirantes cobriu, ma sprefiro não entrar nas críticas que tenh osobre essa cobertura; e a Rede Globofingiu que não tinha campanha eleitora lno Brasil" .

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!dinho da mídia

Parodiando o velho jargão petista o

La o

Esse discurso, carregado de mágoa ,rancor e ainda aquecido pelo sentimen-to da derrota recente, foi seguramenteum dos últimos petardos do presi-dente de honra do PT contra empresa sde comunicação e jornalistas . Naquel emesmo ano, passada a ressaca da vitó-ria acachapante de FHC, o Partido do sTrabalhadores escalou seu presidente ,José Dirceu, para pavimentar o caminh oda quarta (e derradeira) tentativa de

levar Lula ao Planalto .No pacote das mudanças estavam in-

cluídas uma faxina para acabar com ainfluência das tendências radicais den-tro PT, uma reforma completa no dis-curso e no visual do candidato e, final -mente, parafraseando Ernesto Geisel ,a aproximação lenta e gradual, poré msegura, com os donos daquilo que s econvencionou chamar quarto poder .

"Hoje eu faço a autocrítica . Devíamos

ter dialogado mais com os empresári-os da mídia nas outras eleições . Fomosradicais . Em 89 sequer aceitamos sen-tar para conversar", conta o jornalist anúmero um do staff petista desde 1989 ,Ricardo Kotscho .

O assessor de imprensa de Lula con -ta, ainda, que seu trabalho també mmudou nesta campanha . "O Lula medisse que nas outras campanhas eu erao assessor da imprensa e que nesta e u

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seria o assessor do Lula para a imprensa" ,lembra-se .

Na lida diária com a imprensa, a semissoras de rádio tiveram um pape lfundamental nesta campanha do Lula .Todos os dias, Lula estava no dial . Logode manhã, entrava em link, ao vivo, nasprincipais emissoras . "O Lula descobri uo rádio", conta Kostscho . Os jornai sregionais também tiveram, na avalia-ção de Lula, uma importância crucia lpara a cobertura que a campanh arecebeu neste ano . Para ele, Estadão eFolha de S . Paulo continuam achand oque podem fazer e desfazer presidente ,mas são jornais como A Tarde, e mSalvador, Zero Hora, em Porto Alegre ,Correio Braziliense, no DF, e o Jorna ldo Commércio e Diário de Pernam-buco, em Recife, assim como O Povo eDiário do Nordeste, em Fortaleza eO Liberal, em Belém, que informara mos leitores e formaram os eleitores co mo perfil dos votantes em Lula .

Paz, amor e IsençãoEm 2002, pela primeira vez desde qu e

entrou na política, Lula não declaro uguerra à mídia . Pelo contrário . Sem -pre que pôde, desmanchou-se em elo-gios a veículos e profissionais . Os mai scomuns : o grupo Globo, que almoçoumais de uma vez com Lula e Dirce udurante a campanha, amadureceu efez uma cobertura equilibrada e alta -mente profissional das eleições e m2002 . Destaque para Bonner e FátimaBernardes . Tantos os debates quantoas sabatinas realizadas pela emissoracarioca foram marcados pela imparcia -lidade . Nos outros confrontos promo -vidos pela Record - onde Boris, segun-do Lula, saiu-se muito bem - e Bandei -rantes - onde, ainda segundo o presi-dente eleito, Márcia Peltier foi firme -também não houve deslizes ne medições tendenciosas .

Mas o sucesso de Lula no trato co mos jornalistas não é somente em decor -rência desse namoro recente .Foi também aprendizado . A velha

história do gato escaldado . Quando fo ireceber o apoio do pedetista Leone lBrizola no Hotel Glória, no Rio, Lul afalou com os jornalistas apenas n o

Lula em ação : afagos para todos, petardo spara Folh a

início de uma coletiva que seria com oex-governador do RJ e com Zé Dirceu .Apareceu na sala, cumprimentou o sjornalistas, deu algumas declarações esaiu . Na porta do elevador, Kotsch ocomentou com Lula : "fizemos tudo cer-to" . Lula, imediatamente, respondeu :"Bom, também já estava na hora .Quarta vez!" . Lula aprendeu o smacetes . E não fez media training .

Para o PT, a mídia impressa, co mexceção da Folha de S .Paulo, compor-tou-se muito bem e distribuiu o espa-ço em seus cadernos políticos de for -ma democrática entre os quatro prin-cipais postulantes à presidência ."A cobertura da Folha foi muito ruim ,fraca, a pior de todas", analisa Kotscho ."Eu não acredito que a Folha tenhafeito uma campanha pró-Serra . Ela fe zostensivamente uma campanha contr ao PT", analisa . Clovis Rossi, uma peç aimportante na Folha para a cobertur apolítica, não escapou das críticas d eKotscho . "Ele cobre eleições no mun-do todo. Até no Paraguai . E não foi a

um evento desta campanha do Lula .A Folha não mandou ninguém d oprimeiro time", reclama .

Essa nova postura diante da impren -sa é considerada, no primeiro escalãodo partido, uma contribuição decisiv anão só para a vitória, mas para agovernabilidade . É como se o PTestivesse convidando a mídia par a"governar junto com o partido", com odiz o jargão . "O PT e a imprens aamadureceram juntos . Nós estamo smais preparados agora para governa re a mídia para fiscalizar nosso traba-lho . É inegável que a cobertura ess eano foi a mais pluralista de todas" ,avalia Antonio Palloci, coordenador d eprograma de governo e uma da sprincipais cabeças do projeto petista .

Resta saber, agora, até quando va idurar essa lua-de-mel entre o petismoe a mídia . Com Fernando Henrique, ocasamento foi longo .]

A imprensa segundo Kotscho

GloboA grande novidade foi a Globo, tant o

na N como nas bancas . Eles fizeram a co-bertura mais ampla e mais isenta . E mqualquer comício, em qualquer evento ,fosse na cidade que fosse, a Globo envia-va uma equipe de reportagem .

Recor dA Record vinha bem até que, um a

semana depois do primeiro turno, elesquiseram marcar mais uma entrevist aexclusiva . O Lula não pôde ir por proble-mas de agenda . Então o Boris começou abater na gente todo dia em seus comentá-rios, embora o noticiário continuasse isen-to . O Boris foi desrespeitoso com Lula n oprograma dele . Ficou perguntando d oterno Armani e fazendo insinuações .

Folha de S. PauloA Folha fez uma cobertura ruim, fraca

mesmo. Foi a pior de todas . Ela preferi ufazer uma agenda própria para cobrir aseleições e não acompanhou a agenda daseleições, da campanha .

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PENSATA

e Lula, tudo a verRodrigo Manzano

Brasil 1989 . Transmissão do últim odebate presidencial, em pool d eimagens na TV Globo, Bandeirantes,SBT e TV Manchete . Collor e Lula ."A Globo inventou, planejou, deixo ude dar notícia, pôs tudo no computa-dor e se esqueceu de pôr o povo" ,amargurou Lula .

Brasil 2002 . Transmissão do últim odebate presidencial . TV Globo . Serra eLula . "Eu gostaria de agradecer aoportunidade de debater aqui n aemissora Globo, que, sem dúvida ,contribuiu para a consolidação d ademocracia brasileira", adoçou Lula .

No jogos da relação de ódio e amor ,nada melhor que a História .

Lula, em 89, não perdeu porque ojogo democrático não o escolheu . Lul aperdeu porque a Globo não quis . Ess aé a impressão que a história recent edeixou marcada na memória d obrasileiro . Assim, tal qual num conto d efadas, vilão e mocinho adquirira mcontornos reais . A grande vilã era aGlobo. O mocinho, o operário impedid ode dirigir o país .

Em 1989, a política, mais do que e mtodos os outros momentos da históri arecente do país, comportou-se de form amaniqueísta. Era o bem, contra o mal .A bandeira do Brasil, contra a bandeir a"vermelha" . Os trabalhadores contra aelite . O debate - decisivo para a seleições - comprova isso. O nível da sargumentações e contra-argumen-tações, hoje, soaria histriônico . Quasepatético . Collor evocou, por exemplo ,o fato de que Lula, um defensor da spolíticas públicas, teria sido operad odo apêndice em hospital particular e mSão Paulo . Já Lula rebatia as provoca -ções de Collor com o argumento de queo Presidente da República deveria "ter

equilíbrio psicológico e emocional", oque Collor, segundo o petista, não ti-nha . Era um Brasil que não sabia o qu eera democracia . Inclusive os próprio spolíticos a desconheciam . Assim comoos jornalistas .

Em 2002, jornalistas fora msubstituídos por eleitores indecisos . Odebate - instância dura da decisã oeleitoral, onde as máscaras caem e o sespelhos se quebram - virou realityshow. Uma espécie de Big Brother doPlanalto, onde conviveram as dua spontas do processo democrático :candidatos e cidadãos . Ao escolhe rgente comum como mediadora entr eos telespectadores e candidatos, aGlobo abre uma porta e fecha um ajanela. A porta é aquela por onde passaa compreensão de uma televisão cad avez mais perto da população real .Várias análises já apontaram que a "eraMarluce" pôde até representar o fi mdo Padrão Globo de Qualidade, ma stambém sinalizou uma televisão feit apara o brasileiro real e não para a class emédia consumidora . Já a janela fechad aé o olho do jornalista, profissiona lpreparado para fazer as pergunta scertas para certas pessoas .

Os eleitores - sem descrédito algu m- perguntaram a curto prazo . A Globo ,assim, reproduziu as preocupaçõe smedianas do brasileiro que nã oentende e não quer entender d epolítica . Vota porque precisa. E fala d epolítica porque o dia-a-dia o pauta par aisso . Os assuntos das perguntas fora mdeixas para uma fala professoral sobr eos programas de governo . Era como umjogral bem ensaiado onde não havi aespaço para improvisações . Habitação ,aposentadoria, planos de saúde eprogramas sociais abriram o primeiro

0 Lula de 89 não quis diálogos com a Globo ,emissora que neste ano foi decisiva para su aeleição

bloco. Aplicação financeira, favelas ,tráfico de drogas e salário mínim omarcaram o segundo bloco . Crimi-nalidade, impostos, dólar e mei oambiente estiveram no terceiro .E transporte urbano, inflação, desem-prego e qualidade das escolas fecha-ram o quarto bloco, antes das consi-derações finais . Estas são preocupaçõesà altura do repertório dos eleitores .Nem a mais, nem a menos . Foi repre-sentativo? Sim. Foi suficiente? Não .

Em 89, quando o debate teve outroformato, os jornalistas eram os juizes .Deles vinham as preocupações quedeveriam representar as de milhões d eeleitores destreinados no process odemocrático. O problema de 89 é que ,se os eleitores não sabiam votar, osjornalistas estavam diante de um anovidade : não estavam pautados parademocracia .

Lula não só contou com a virtude dotempo - está mais ameno, mai smaduro, mais bem vestido e be massessorado (enfim, está mais velho!) -como também com o apoio dos meio sde comunicação . Se, de fato, não fico umais bonito, a televisão o deixou.

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- SALA DE IMPRENSA

Governo novo, agenda novaPedro Vencesla uEnviado ao Rio de Janeiro

Durante toda o processo eleitora ldesse ano, o último e derradeiro de-

bate do segundo turno entre os presi-denciáveis, na Globo, era apontadocomo evento mais decisivo da campa-nha. Não foi . No dia marcado, 25 d eoutubro, Lula desembarcava nos estú-dios da emissora carioca com uma di-anteira folgada nas pesquisas . Tão fol-gada, que somente um desastre de pro -porções titânicas seria capaz de alte-rar os ânimos dos petistas presentes .Apesar do esvaziamento político, 8 0jornalistas apareceram no PROJAC par acobrir os bastidores .

Logo na chegada, uma balde de águ afria: todos os repórteres, cinegrafista se fotógrafos presentes ficariam confi-nados em uma sala, longe dos convi -dados - leia-se fontes - e assistiria mao debate pela TV . Como qualqueroutro telespectador espalhado pelopaís . O contato com os candidatos eseus devidos staffs só seria possível poralguns minutos e depois de encerradoo programa . Mais o que tinha tud opara ser uma viagem perdida, acabo use transformando em uma grande con -fraternização entre os profissionai sque cobriram a campanha . Todos es-pecialistas em Brasília, gente com trân -sito entre autoridades - as que sae mneste ano e as que já arrumam as ma-las de mudança para o Planalto Cen-tral . Nas rodas de conversa, ou em vol -ta da mesa de guloseimas servidas pel aprodução, Tergiversava-se sobre com oo PT enquanto um novo governo qu evai se relacionar com a mídia . E sobreos desafios que os jornalistas terão áfrente, depois de 8 anos cobrindo o stucanato no poder . Reformar sua sagendas, reconstruir relações de font eem todos os escalões, entender e assi -

Thais Oyama, da Veja : " Governo é sempre governo "

Sem acesso aos bastidores e coma vitória de Lula anunciada pela spesquisas, os jornalistas qu eforam cobrir o último debat eentre os presidenciáveis nã otinham muito o que fazer .Resultado : uma grande confrater-nização entre os colegas . Alguns ,eufóricos com a possibilidade d eganhar novas e valiosas fontes nopoder. Outros preocupados co mfim de 8 anos de cobertura tucan aem Brasília .

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Da sala de i^-prensa, jornalistas mandam primeiras linhas . . .

milar uma nova dinâmica de trabalho .Durante o confronto propriamente

dito, foram poucos os que se dera mao trabalho de prestar atenção nos te-levisores . Para isso, não precisariam te rsaldo de casa . "Poxa, estamos alivia -dos . Havia um certo pânico entre osjornalistas com a possibilidade de vi-tória de Serra . Ele é jogo duro, recla-ma de tudo, até de noticia positiva . Etinha o hábito de ligar na redação ,pedir cabeça de jornalista, brigar comeditor, imagina ele presidente", diz umjornalista da velha guarda que prefe-re manter seu nome em sigilo . "E, pod eser. Mas Mercadante também se irrit acom noticia ruim . Reclama muito" ,contesta outro colega, lembrando-s edos exemplos guardados na relaçã ocom o recém-eleito Senador Aloísi oMercadante .

"Acredito que, com o Lula no po-der, terei mais fontes no governo, mai sacesso . Com FHC era muito difícil . OMalan, por exemplo, praticamente nãofalava com a gente . Só em raras cole-tivas", previa o repórter american oMichael Astor, da Agência Associate dPress, que cobre Brasilia há 8 anos, des -de que FHC venceu sua primeira elei-ção para o Palácio do Planalto . Ele, u mesquerdista que nos Estados Unido svota no verde Ralph Neder, era o úni-co repórter -fotógrafos e cinegrafista shaviam vários - que trajava a tradicio-

nal estrelinha do PT no peito . "Só es-pero que quando o Lula deixar a opo-sição, não vire figurinha difícil . Na opo-sição, todo mundo gosta de falar" ,completou Astor. Ao seu lado, outr oveterano, Lúcio Vaz, da Folha de S .Paulo, era bem menos otimista, embo-ra se mostrasse animado com a mudan -ça . É que durante a campanha "Lulinh apaz e amor", onde o petista se derre-teu em elogios para quase todos o sveículos, especialmente a ex-rival Glo-bo, a Folha foi a única e receberpetardos do comitê petista, que a acu-sava de serrista . "A alternância depoder é sempre instigante e a rede deinformantes se refaz rapidamente . Nonosso caso, se a dificuldade de acess ofor grande, isso só vai nos estimular .Nós fomos os primeiro a denunciar ecriticar o Collor", diz o repórter, dan-do sinais do Lula que vai encontrar pel afrente.

Bons tempos de FH CSe os Ministros de FHC eram figura s

difíceis, os repórteres não podem di-zer o mesmo do presidente . "Ele é ado -rado pelos jornalistas que cobrem oPlanalto . Nunca ligou para reclamar d euma matéria, para pedir a cabeça d eninguém", conta Jailton Carvalho, d asucursal de O Globo em Brasilia . Segun-do Carvalho, o presidente FHC era um afigura extremamente bem humorada,

envolvente e acessível . "Ele conhec etodo mundo da imprensa, brinca co ma gente, convida os jornalistas para al-moçar. Uma vez, fiquei horas toman-do whisky com ele, em Alagoas", con -ta Jaflton .

Nos intervalos do debate, rodinha sde veteranos da cobertura política lem-bravam outras gerações do poder emBrasilia e faziam suas comparações .Miriam Leitão, comentarista da Globoque em outros tempos era chamada d etucana pelos petistas, era uma das mai srequisitadas. "Por enquanto é impos-sível dizer se eles serão tão acessívei sno governo quanto foram na campa-nha . Acredito que sim . O PT se relacio-nou muito bem com a imprensa nessaeleição. Para mim, vai ser desafiado rreformar minha agenda" .

Outra veterana, Thais Oyama, da re-vista Veja, faz suas considerações, co ma experiência de quem cobriu três go-vernos : "Do ponto vista jornalístico, operíodo Collor foi o mais rico . Nunc afaltava noticia . O problema é que ha -via fontes demais, mas poucas era mconfiáveis . Já a era FHC foi difícil . Aspessoas falavam muito pouco no go-verno. O Malan, por exemplo, nã oabria a boca, não abria exceção e nã otinha linha direta com ninguém . Como Lula é uma incógnita por enquanto .Na campanha eles foram muito acessí-veis . Mas governo é governo" .

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relaciona de um modo diferente n o

No decorrer da campanha, Lul aparticipou de quatro debates na TVe dezenas de sabatinas em rádios ejornais, naquela que foi a campanh acom maior cobertura jornalística d ahistória do Brasil . Esses grandes con-frontos na mídia eram, para os jor-nalistas, o ponto alto da cobertura .Só nos debates, era possível encon-trar, em um mesmo ambiente, todaa sorte de lideranças, correligionári-os, desafetos e articuladores políti-cos . No campo petista, o petit comi-tê que acompanhava Lula era sem -pre o mesmo. Abrindo alas, o asses -sor para assuntos aleatórios Lui sFavre, que não ostenta nenhum car-go no partido, além de namorado d aprefeita Marta Suplicy . Afeito aflashs, Favre protagonizou cenas qu ejá fazem parte do folclore políticonacional . No almoço com empresá-rios patrocinado pelo dono d aValisére, Ivo Rosset, ele se postou n aporta e passou a receber os convida -

dos, um a um, como se fosse o anfi-trião . "Você parece um leão de chá -cara", reclamou Marta, em tom d ebrincadeira . Terminado o último de -bate da Globo, Favre novamente fo io primeiro a dar as caras . Enquant oos repórteres esperavam Lula, ou al-guém do staff que pudesse falar al-guma coisa relevante, quem apare-ceu, sozinho, foi Favre . Ele ando upelo corredor, e nada de flashes . Cir-culou pela sala de imprensa, e nada .Percebendo a impaciência dos jorna -listas, voltou à sala reservada às au-toridades e, aí sim, voltou de mão sdadas com Marta Suplicy . Disparadosos flashes, a prefeita preferiu se es-conder atrás de uma pilastra, en -quanto aguardava Lula . Já Favre fo ipara a frente das câmeras e desan-dou a fazer o V da vitória .

Além do casal, outro que sempreacompanha Lula nos debates e no sposteriores jantares é Antoni oPalloci, coordenador do programa de

governo . Figura graduada na campa-nha, cabe a ele a missão de acalmar eabastecer com aspas os jornalista santes das coletivas . Entre os petistas ,Palloci é o que circula com mais de-senvoltura pelas rodas de repórteres .Conhece quase todos pelo nome, te msempre um sorriso largo para distri-buir, fala sem pressa com qualque rum que o aborde e não se furta a dis-correr sobre nenhum assunto . Já oresponsável direto pelas palavras eentrevistas do presidente, o assesso rde imprensa Ricardo Kotscho não gos-ta muito de circular pelo ambiente .Muitos jornalistas acham que o hu-mor de Kotscho não é tão "paz eamor" quanto de seu patrão . Já otodo poderoso José Dirceu circula efala sempre, com o inesquecível so-taque caipira . Mas são palavras me-didas milimetricamente, que levam opeso do cargo de presidente do par-tido. Novidades e furos só para repór-teres selecionados a dedo .

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