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KARINA PAVAN PADRONIZAÇÃO DA MULTIPLE SCLEROSIS IMPACT SCALE- 29 PARA UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM ESCLEROSE MÚLTIPLA SÃO PAULO 2013 Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Doutora em Ciências da Saúde.

PADRONIZAÇÃO DA MULTIPLE SCLEROSIS IMPACT SCALE- …...O Centro de Atendimento e Tratamento da Esclerose Múltipla (CATEM) foi o primeiro centro de referência em atendimento e tratamento

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  • KARINA PAVAN

    PADRONIZAÇÃO DA MULTIPLE SCLEROSIS IMPACT SCALE-

    29 PARA UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM ESCLEROSE

    MÚLTIPLA

    SÃO PAULO

    2013

    Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação

    da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

    Casa de São Paulo para obtenção do Título de

    Doutora em Ciências da Saúde.

  • KARINA PAVAN

    PADRONIZAÇÃO DA MULTIPLE SCLEROSIS IMPACT SCALE-

    29 PARA UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM ESCLEROSE

    MÚLTIPLA

    SÃO PAULO

    2013

    Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação

    da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

    Casa de São Paulo para obtenção do Título de

    Doutora em Ciências da Saúde.

    Área de Concentração: Ciências da Saúde

    Orientador: Prof. Dr. Charles Peter Tilbery

    Co-Orientador: Prof. Dr. Sergio Lianza

  • FICHA CATALOGRÁFICA

    Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

    Pavan, Karina Padronização da Multiple Sclerosis Impact Scale-29 para um centro de referência em esclerose múltipla./ Karina Pavan. São Paulo, 2013.

    Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.

    Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Charles Peter Tilbery Co-Orientador: Sergio Lianza 1. Esclerose múltipla 2. Estudos de validação 3. Qualidade

    de vida BC-FCMSCSP/60-12

  • CITAÇÃO

  • “Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser

    modificado até que seja enfrentado”.

    (Albert Einstein)

  • DEDICATÓRIA

  • A Deus!

  • AGRADECIMENTOS

  • Agradeço a Deus em primeiro lugar por capacitar-me a desenvolver

    este trabalho e a muitos que preparou e colocou em meu caminho para

    contribuir direta e indiretamente na execução deste como:

    - Prof. Dr. Sergio Lianza, meu co-orientador e amigo pelos ensinamentos, as

    inúmeras horas dispensadas a mim, incentivo e motivação para a carreira

    acadêmica;

    - Prof. Dr. Charles Peter Tilbery, que me deu a oportunidade de tê-lo como

    orientador, sempre valorizando meu trabalho, pela confiança e respeito como

    membro da equipe;

    - Nilza Aparecida de Almeida Carvalho, minha ex-chefe, mas eterna amiga

    que sempre incentivou e apoiou-me em toda a extensão da pós-graduação,

    permitindo meu crescimento profissional;

    - Bruna Eriko Matsuda Marangoni, minha companheira nos trabalhos, grande

    amiga presente em todos os momentos ajudando sempre que preciso;

    - Aos queridos da equipe do CATEM: Dr. Rodrigo Barbosa Thomaz, Ivone

    Regina Fernandes, Silvia B. Faigenbaum e Malu, pelo carinho, apoio e

    incentivo;

    - Às secretárias Sandra, Virgínia e Gleice pela colaboração e atenção;

  • - Ricardo Faria, meu esposo que precisou dividir tantas vezes o pouco de

    tempo que tínhamos juntos para que eu pudesse realizar mais esta tarefa me

    apoiando em tudo para que eu conseguisse realizar meus sonhos profissionais;

    - Minha família que sempre acreditou em mim;

    - Ao CATEM, pacientes, secretárias, médicos e equipe multidisciplinar;

    - À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo pela

    colaboração em minha formação;

    - À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo onde recebi

    condições necessárias para meu constante aprimoramento;

    - À Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior -

    CAPES pelo auxílio financeiro na realização deste trabalho;

    - Ao professor de estatística da Pós-Graduação da FCMSCSP, Daniel

    Kashiwamura Scheffer, que muito me ensinou e também contribuiu para a

    concretização deste trabalho;

    - À secretária da Pós-Graduação Mirtes Souza pela sua dedicação e

    colaboração com todos os alunos e em especial a mim;

  • - Á bibliotecária Sadia Mustafá pelo auxílio na colaboração das referências

    bibliográficas;

    - Em fim a todos do Serviço de Reabilitação e do Departamento de

    Neurologia da ISCMSP que torceram por mim em todos os momentos.

  • LISTA DE ABREVIATURAS

  • EM – Esclerose Múltipla

    SVC- Sistema Nervoso Central

    QV- Qualidade de Vida

    AVD- Atividade de Vida Diária

    OMS- Organização Mundial de Saúde

    SF-36- Health Survey Short Form-36

    SF-12- Health Survey Short Form-12

    NHP- Nottingham Health Profile

    EQ-5D- EuroQol

    EVA-EQ- Escala Visual Analógica Euro-Qol

    SIP- Sickness Impact Profile

    LSQ- Life Satisfaction Questionaire

    WHOQoL-100- World Health Organization Quality of Life Instrument - 100 itens

    WHOQoL-Bref- World Health Organization Quality of Life Instrument - Bref

    QVRS– Qualidade de Vida Relacionada a Saúde

    MSIS-29– Multiple Sclerosis Impact Scale-29

    MSQoL-54- Multiple Sclerosis Quality of Life Instrument

    FAMS- Functional Assessment of Multiple Sclerosis

    DEFU- Determinação Funcional da Qualidade de Vida em pacientes com

    Esclerose Múltipla

    HAQUAMS- Quality of Life Questionnaire Hamburgo em Multiple Sclerosis

    IQV- Indice de Qualidade de Vida

    MSQLI- Multiple Scleroses Quality of Life Inventory

    MFIS- Modified Fatigue Impact Scale

    PES- Pain Effects Scale

  • SSS- Sexual Satisfaction Scale

    BLCS- Bladder Control Scale

    BWCS- Bowel Control Scale

    IVIS- Impact of Visual Impairment Scale

    PQD- Perceived Deficits Questionnaire

    MHI- Mental Health Inventory

    MSSS- Modified Social Support Survey

    MusiQoL-31- Multiple Sclerosis International Quality of Life Questionnaire

    CATEM- Centro de Atendimento e Tratamento da Esclerose Múltipla

    ISCMSP- Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

    CEP- Comitê de Ética e Pesquisa

    ICC- Coeficiente de Correlação Intraclasse

    SPSS- Statistical Package for Social Sciences

    MSIS-29/BR- Multiple Sclerosis Impact Scale-29 versão brasileira

    RR- Remitente Recorrente

    SP- Secundariamente Progressiva

    PP- Primariamente Progressiva

    EDSS- Expanded Disability Status Scale

    RNM- Ressonância Nuclear Magnética

    BI- Indice de Barthel

    MIF/FIM- Medida de Independência Funcional

    MSFC- Multiple Sclerosis Functional Composite

  • SUMÁRIO

  • 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................01

    1.1- REVISÃO DE LITERATURA................................................................05

    1.1.1-Qualidade de vida.....................……………….…………………………05

    1.1. 2- Escalas genéricas de qualidade de vida............................................06

    1.1.2.1-Health Survey Short Form-36 (SF-36)........................................07

    1.1.2.2-Health Survey Short Form-12 (SF-12)………………….………..07

    1.1.2.3-Nottinghan Health Profile (NHP)…………………………………08

    1.1.2.4-Euro-Qol (EQ-5D)…………………………………………….…….08

    1.1.2.5-Sickness Impact Profile (SIP)……………………………….….…09

    1.1.2.6-Life Satisfaction Questionnaire (LSQ)………………….…..……09

    1.1.2.7-World Health Organization Quality of Life Instrument- 100 itens

    (WHOQoL-100)…………………………………………..…………..………10

    1.1.2.8-World Health Organization Quality of Life Instrument- 100 itens

    (WHOQoL-Bref)………………………………………………………………11

    1.1.3-Avaliação da qualidade de vida na esclerose múltipla........................11

    1.1.4-Escalas de qualidade de vida específicas para esclerose múltipla.....14

    1.1.4.1-Multiple Sclerosis Quality of Life Instrument (MSQoL-54)…...…14

    1.1.4.2-Functional Assessment of Multiple Sclerosis (FAMS)…………..14

    1.1.4.3-Quality of Life Questionnaire Hamburgo em MS – HAQUAMS..15

    1.1.4.4-Indice de Qualidade de Vida (IQV).............................................15

    1.1.4.5-Multiple Scleroses Quality of Life Inventory (MSQLI)……...……17

    1.1.4.6-Multiple Sclerosis International Quality of Life Questionnaire

    (MusiQoL-31)…………..……………………………………………………..17

    1.1.4.7-Multiple Sclerosis Impact Scale 29 - MSIS-29…………………...18

    2. OBJETIVOS..………………………………………………..……………………20

  • 3. CASUÍSTICA E MÉTODO….…………………………………………………...22

    4. RESULTADOS.............................................................................................29

    4.1- Adaptação transcultural do instrumento MSIS-29 para a língua

    portuguesa.........................................................................................30

    4.2- Aplicação clínica da versão MSIS-29/BR e validação das propriedades

    da medida..........................................................................................31

    5. DISCUSSÃO................................................................................................41

    6. CONCLUSÃO...............................................................................................61

    7. ANEXOS.......................................................................................................63

    8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................74

    FONTES CONSULTADAS................................................................................79

    RESUMO...........................................................................................................81

    ABSTRACT........................................................................................................83

    LISTAS E APÊNDICE........................................................................................85

    LISTA DE TABELAS..........................................................................................86

    LISTA DE GRÁFICOS.......................................................................................87

    APÊNDICE-CEP................................................................................................88

  • ______________________________________________________________________

    1. INTRODUÇÃO

  • 2

    A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença que compromete o Sistema

    Nervoso Central (SNC), pode causar incapacidades e conseqüente interferência na

    qualidade de vida (QV) dos pacientes. As incapacidades são relacionadas muitas

    vezes à evolução da doença e interferem diretamente na QV. A avaliação da QV

    nesta doença não é fácil, uma vez que a maioria dos instrumentos utilizados ou não

    são para a EM ou não estão adaptados à população brasileira prejudicando a

    fidedignidade dos testes. A necessidade de monitorar a evolução dos pacientes e

    buscar evidências científicas para embasar os diferentes tipos de intervenções

    terapêuticas, demonstra a relevância de se conhecer instrumentos de avaliação da

    QV para EM (Albrecht H et al 2001 ; Morris ME et al 2002; Savci S et al 2005).

    Para que uma medição seja capaz de avaliar a evolução da doença ou

    eficácia de um tratamento e tenha credibilidade científica deve apresentar uma

    determinada padronização, que consiste na avaliação das propriedades

    psicométricas como validade e confiabilidade (Goulart F, Pereira LX 2005), após a

    conclusão do processo de tradução e adaptação transcultural.

    O processo de padronização do instrumento é de extrema importância para

    o ajuste do instrumento à nova cultura, idioma, contexto e população (Goulart F,

    Pereira LX, 2005).

    Segundo Beaton et al em 2000, os instrumentos auto-administráveis do

    estado de saúde para serem utilizados de forma fidedigna em novos países e/ou

    culturas, tem a necessidade de passar pelo processo de adaptação transcultural

    com método único para alcançar equivalência entre a versão original e as versões

  • 3

    objetivas do questionário, tanto linguisticamente quanto culturalmente para manter a

    validade do conteúdo do instrumento em conceitos de níveis através de diferentes

    culturas.

    A validade é definida como evidência de que um teste mede o que se

    propõe a medir, bem como se a medida obtida pode ser legitimamente usada para

    se fazer inferências. A validação mostra se a adaptação transcultural do instrumento

    manteve as características da versão original. As propriedades psicométricas

    analisadas nessa fase são a validade, a reprodutibilidade e sensibilidade a

    mudanças. Todo esse processo é relevante para que o instrumento seja

    culturalmente aceito no país em questão e equivalente a versão original. No

    processo de validação de uma medida ou instrumento é importante observar que: a

    validade deve ser formalmente comprovada por uma evidência concreta; essa

    evidência deve ser obtida usando métodos específicos; e a validade obtida em um

    contexto não permite supor que a medida é válida em outra situação (Goulart F,

    Pereira LX, 2005; Pavan K et al 2010).

    Uma medição é considerada confiável quando produz resultados precisos

    consistentes e reproduzíveis. Quanto maior a confiabilidade de uma medida, maior a

    segurança que se tem de fazer julgamentos com base nela. Quanto ás

    características de confiabilidade de uma medida, alguns aspectos devem ser

    observados: a instrumentação (a própria medição), a variável de interesse, ou

    característica do paciente que está sendo avaliada, e a padronização da medida que

    depende da experiência da pessoa que avalia (Goulart F, Pereira LX, 2005; Pavan K

    et al 2010).

  • 4

    O Centro de Atendimento e Tratamento da Esclerose Múltipla (CATEM) foi o

    primeiro centro de referência em atendimento e tratamento da EM no Brasil fundado

    em 1997, que tem por finalidade reunir pacientes portadores desta doença em

    programas terapêuticos e de reabilitação física e psíquica, objetivando uma melhor

    QV. Para avaliação da QV no CATEM a equipe utiliza a escala Determinação

    Funcional da Qualidade de Vida em pacientes com Esclerose Múltipla (DEFU),

    porém é uma escala um pouco extensa e utiliza escore reverso para algumas

    questões dificultando sua aplicabilidade na rotina do ambulatório. Pensando nisto,

    nosso trabalho sugere a padronização de outro instrumento de avaliação da QV

    (Mendes MF et al, 2004).

    .

    Com o objetivo de avaliar a QV, Hobart et al em 2001 desenvolveram uma

    escala de avaliação para portadores de EM e este estudo pretende a padronização

    da Multiple Sclerosis Impact Scale-29 para os pacientes com EM do CATEM (Hobart

    JC et al, 2001 e 2004).

  • 5

    1.1- REVISÃO DE LITERATURA

    1.1.1- Qualidade de Vida

    A QV refere-se a todos os aspectos de bem-estar pessoal, sejam físicos,

    psicológicos ou sociais, incluindo características referentes ao modo de vida e

    aspectos ambientais com sua natureza subjetiva enfatizada por muitos autores.

    Assim de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a QV é definida

    como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e

    sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas,

    padrões e preocupações (The WHOQOL GROUP, 1995). Este é um conceito em

    evolução, que pode também ser lembrado como estado de satisfação ante a

    doença. E, de fato, outras entidades internacionais de saúde destacam a

    necessidade de buscar melhora física, mental, social e de bem-estar da população

    estabelecendo conceitos de que “a saúde é mais do que somente não estar doente”

    (Harding L, 2001).

    O conceito de QV vem se tornando cada vez mais importante nas áreas de

    cuidado com a saúde e os fatores que mais influenciam em sua deterioração vem

    sendo determinados. Isto possibilita direcionar os novos tratamentos à melhoria

    global do paciente e não somente ao manejo da doença. Para aqueles portadores

    de doenças crônicas, que, em grande parte das vezes, não atingirão a cura, apenas

    o controle das mesmas, a QV pode ser o parâmetro de resultado mais importante a

    ser considerado na avaliação da eficácia de um tratamento (Staquet M et al 1992).

    A QV de qualquer pessoa diz respeito única e pessoalmente àquele

    indivíduo. O impacto de qualquer evento ou nível da saúde de uma pessoa exerce

  • 6

    alterações nos seus projetos pessoais, desejos e história (Faden R, Leplège A,

    1992).

    A fim de definir com maior acurácea estas situações, foram desenvolvidos

    diversos questionários de avaliação da QV. A análise de suas respostas permite

    também determinar de forma mais satisfatória o resultado do tratamento proposto.

    Porém a maioria destes instrumentos foram desenvolvidos para as populações de

    língua inglesa, nem sempre adequados à realidade de outros países, sendo sua

    aplicação transcultural assunto controverso na literatura, por isso é fundamental que

    estes questionários sejam traduzidos, adaptados culturalmente e adequadamente

    válidos em outras línguas, de forma a terem aplicabilidade para a população alvo

    (Bullinger et al, 1993; Fox-Roshby, 1995; Beaton 2000).

    1.1.2- Escalas genéricas de qualidade de vida

    Entre os questionários genéricos utilizados em outras patologias, a avaliação

    da QV em pacientes com EM mais utilizadas são: Health Survey Short Form-36 (SF-

    36) e SF-12, Nottingham Health Profile (NHP), EuroQol (EQ-5D), Sickness Impact

    Profile (SIP), Life Satisfaction Questionaire (LSQ), World Health Organization Quality

    of Life Instrument- 100 itens (WHOQoL-100) e WHOQoL-Bref. (Opara JA, Jaracz K,

    Brola W, 2010)

    Os questionários acima mencionados têm sido testados em muitos países. Na

    literatura, existem inúmeros dados e detalhes sobre a sua validade e confiabilidade,

    também em relação a EM (Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

  • 7

    1.1.2.1- Health Survey Short Form-36 (SF-36)

    O questionário SF-36, Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form

    Health Survey, instrumento genérico, teve sua utilidade demonstrada na literatura

    internacional (Ware JE, Sherbourne D, 1992; McHorney CA et al, 1993; Castro M et

    al, 2003). É composto por 36 itens que avaliam as seguintes dimensões: capacidade

    funcional (desempenho das atividades diárias, como capacidade de cuidar de si,

    vestir-se, tomar banho e subir escadas); aspectos físicos (impacto da saúde física no

    desempenho das atividades diárias e ou profissionais); dor (nível de dor e o impacto

    no desempenho das atividades diárias e ou profissionais); estado geral de saúde

    (percepção subjetiva do estado geral de saúde); vitalidade (percepção subjetiva do

    estado de saúde); aspectos sociais (reflexo da condição de saúde física nas

    atividades sociais); aspectos emocionais (reflexo das condições emocionais no

    desempenho das atividades diárias e ou profissionais) e saúde mental (escala de

    humor e bem-estar). Apresenta um escore geral de 0 a 100, no qual zero

    corresponde ao pior estado de saúde e 100 o melhor estado de saúde (Ciconelli RM

    et al, 1999). A pontuação é dada através de um software disponível na internet.

    1.1.2.2- Health Survey 12 - SF12

    O SF-12 inclui 12 questões do SF36. Estes incluem duas perguntas sobre

    funcionamento físico; duas sobre limitações físicas por problemas de saúde, uma

    sobre dor corporal, uma sobre a percepção do estado geral da saúde, uma sobre

    vitalidade (energia/fadiga), uma sobre temas sociais, duas sobre limitações devido à

    problemas emocionais, duas sobre saúde mental geral (psicológico, angústia e bem-

    estar psicológico). A pontuação é dada através de um software disponível na internet

    assim como o SF36 (Ware JE, Kosinski M, Keller SD, 1996).

  • 8

    1.1.2.3- Nottingham Health Profile – NHP

    O Perfil de Saúde de Nottingham (PSN) é um instrumento genérico de

    avaliação de QV, desenvolvido originalmente para avaliar a QV em pacientes

    portadores de doenças crônicas. Trata-se de um questionário auto-administrado,

    constituído de 38 itens, baseados na classificação de incapacidade descrita pela

    OMS, com respostas no formato sim/não. Os itens estão organizados em seis

    categorias que englobam nível de energia, dor, reações emocionais, sono, interação

    social e habilidades físicas. Cada resposta positiva corresponde a um escore de um

    (1) e cada resposta negativa corresponde a um escore zero (0), perfazendo uma

    pontuação máxima de 38, ou seja, quanto maior o escore melhor a QV (Teixeira-

    Salmela et al, 2004; Oliveira MR, Orsini M, 2008).

    1.1.2.4- EuroQol (EQ-5D)

    Primeiramente foi desenvolvido o EQ-5D 3L – realizado em duas fases,

    sendo a primeira descritiva, que compreende as cinco dimensões: mobilidade, auto-

    cuidado, atividades usuais, dor/desconforto e ansiedade/depressão. Cada dimensão

    tem três níveis: sem problemas, alguns problemas, problemas extremos. O

    entrevistado é solicitado a indicar com um “X” o seu estado de saúde na declaração

    mais adequada em cada uma das cinco dimensões. A segunda fase consiste de

    uma Escala Visual Analógica (EVA EQ) que registra uma auto-avaliação da saúde

    do entrevistado em uma régua vertical de 20 centímetros graduando de 0 a 100,

    onde os parâmetros estão marcados como melhor estado de saúde imaginável (100)

    "e" pior estado de saúde imaginável (0) ". Esta informação pode ser usada como

    uma medida quantitativa do resultado da saúde, tal como avaliado pelos

    respondentes individuais (Pinto EB et al, 2011).

  • 9

    No intuito de melhorar a sensibilidade e confiabilidade do instrumento, foi

    criada a EQ 5D-5L, semelhante a anterior com as duas fases (descritiva e EVA),

    porém o sistema descritivo a dimensão tem agora cinco níveis: Sem problemas,

    problemas leves, problemas moderados, graves problemas, e problemas extremos

    (Pinto EB et al, 2011).

    1.1.2.5- Sickness Impact Profile (SIP)

    O SIP pode ser auto-administrado ou realizado por um entrevistador.

    Baseado em um questionário sobre saúde, é subdividido em 12 categorias em dois

    domínios gerais:

    - físico: deambulação, mobilidade, cuidados com o corpo e movimento;

    - psicossocial: interação social, comunicação, comportamento do estado de alerta,

    comportamento emocional, sono e repouso, alimentação, administração do lar, lazer

    e passatempos, emprego).

    O SIP é marcado de acordo com o número e tipo de itens aprovados pelo

    formato sim/não. O tempo de administração é em média 20-30 minutos (Bergner et

    al, 1981).

    1.1.2.6- Life Satisfaction Questionaire (LSQ)

    O LSQ é usado para avaliar a satisfação global e satisfação com oito áreas

    da vida. As respostas a escala são de seis pontos estimado de muito insatisfeito a

    muito satisfeitos.

  • 10

    Seis fatores ortogonais foram identificados: (1) Qualidade da relação

    familiar, (2) Os sintomas físicos, (3) situação socioeconômica, (4) Qualidade das

    atividades diárias, (5) de impacto da doença e (6) qualidade da relação com amigos.

    O questionário de Satisfação com a Vida (LSQ), utilizado geralmente em

    pacientes com câncer, consiste de 34 itens respondidos por uma escala de sete

    pontos. Essas respostas variam de um a sete. Os 34 itens são alocados aos seis

    diferentes fatores: sintomas físicos, impacto da doença, qualidade de atividades

    cotidianas, situação socioeconômica, qualidade da relação familiar e qualidade de

    relacionamento com amigos. Os escores de cada fator são calculados da seguinte

    maneira: as pontuações dos itens são resumidas, dividido pelo ponto mais alto da

    escala e multiplicado por 100. Assim, 100 representa o máximo de QV em cada fator

    (Carlsson M e Hamrin E, 2002).

    1.1.2.7- World Health Organization Quality of Life Instrument-100 itens -

    WHOQoL-100 itens

    O instrumento de avaliação de QV da OMS “WHOQOL” é uma escala

    genérica que avalia a QV em um contexto genuinamente internacional. Através das

    reuniões do Grupo de QV da OMS, originou-se o WHOQoL-100 e posteriormente o

    Bref (versão abreviada). É um instrumento de medida da QV composto por 100

    itens. Estes itens são dispostos em seis domínios: psicológico, físico, nível de

    independência, relações sociais, ambiente, espiritualidade/ religião/ crenças

    pessoais. Este questionário baseia-se nos pressupostos de que qualidade de vida é

    um construto subjetivo (percepção do indivíduo em questão), multidimensional e

    composto por dimensões positivas e negativas (Fleck MPA et al, 1999).

  • 11

    Todas as respostas são compostas por escala graduada tipo Likert, com

    escores que variam de um a cinco.

    1.1.2.8- World Health Organization Quality of Life Instrument-Bref - WHOQoL-

    Bref

    Frente à necessidade de instrumentos que demandem tempo menor para

    preenchimento e que mantenham a qualidade das características psicométricas da

    WHOQol-100 foi desenvolvida uma versão abreviada da escala denominada

    Instrumento Abreviado de Avaliação da QV da OMS ou WHOQoL-Bref.

    O WHOQoL-Bref é composto por 26 questões divididas em quatro domínios:

    físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Permite a avaliação da

    atividade de mobilidade física, atividade social e 27 sintomas. A combinação das

    categorias acima podem identificar 43 níveis funcionais do paciente. É recomendado

    que o questionário seja completado por entrevista, por uma pessoa treinada para

    esse efeito. O tempo de preenchimento é entre 10 - 15 minutos (Oliveira MR, Orsini

    M, 2008).

    1.1.3- Avaliação da QV na Esclerose Múltipla

    Os métodos de avaliação da QV nas ciências biomédicas, muitas vezes

    referida como QV relacionada à saúde (QVRS ou HRQoL – Health Related Quality

    of Life) podem ser classificados de acordo com a abrangência dos mesmos. Assim,

    temos os instrumentos para QV geral ou global, bastante completos, abrangendo

    diversos domínios (físico, psicológico, nível de dependência, relações sociais,

    ambiente, aspectos espirituais/ religiosos/ crenças pessoais), aqueles relacionados a

  • 12

    determinadas especialidades, e os de doenças específicas, pontuais a

    peculiaridades destas (Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    Embora a EM tenha pouco efeito sobre a longevidade, tem um grande

    impacto na função física, trabalho e QV. É um distúrbio complexo, com diversos

    efeitos, um curso imprevisível e manifestações variáveis que apresentam problemas

    específicos para os pacientes e suas famílias. Além disso, os custos do tratamento

    da EM aumentam à medida que a deficiência da doença progride. Os custos com

    fatores psicossociais são mais difíceis de serem quantificados, mas são reais e

    onerosos (Hobart JC et al, 2004).

    No campo da medicina, pesquisadores e profissionais da saúde têm usado

    frequentemente auto-relato de saúde como conceito de QV que se concentra

    especificamente no impacto de uma doença e / ou no tratamento da percepção do

    estado de saúde dos pacientes, no bem-estar subjetivo e satisfação da vida (Opara

    JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    Os fatores subjetivos de QV em pacientes com EM incluem a percepção dos

    sintomas, nível de aptidão, auto-imagem, satisfação com a vida familiar, trabalho,

    situação econômica, a interação com outras pessoas, apoio social e a vida em geral.

    Para os fatores objetivos, deveríamos incluir o quadro clínico da doença, estado

    social, condições sociais e de vida e do número de intensidade de contatos sociais

    (Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

  • 13

    As escalas usadas para avaliar a QV na EM incluem indicadores subjetivos ou

    objetivos, ou ambos. O questionário pode ser preenchido pelo paciente em pessoa

    ou por entrevista pelo telefone, por familiares ou pessoas próximas, pelos

    cuidadores e profissionais da saúde. O mais desejável e confiável é a avaliação do

    próprio paciente, especialmente quando os temas de medição são aspectos

    subjetivos da QV (Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    Escalas de QV para pacientes com EM podem ser divididas em universal

    (geral-genérico) e específico para a doença (doença-orientada) (Opara JA, Jaracz K,

    Brola W, 2010).

    Questionários comumente são usados para medir diferenças na QV entre

    pacientes em um determinado momento (instrumento discriminativo) ou mudanças

    ao longo do tempo (instrumento avaliativo). Ambos os instrumentos devem ser

    válidos, confiantes e compreensíveis no que eles se propõem a medir (Guyatt GH,

    Feeny DH, Patrick DL, 1993).

    A Multiple Sclerosis Impact Scale (MSIS-29) mensura o impacto da EM na QV

    do paciente, foi desenvolvida em Londres por Hobart J et al, 2001, através de um

    refinamento de questões derivadas de entrevistas com pacientes com EM, é

    utilizada no Reino Unido, na Holanda, na Irlanda, no Iran e na Polônia, (Jamroz-

    Wisniewska A et al, 2007; Gray O, Mc Donnell G, Hawkins S, 2009) e há a

    necessidade da versão em português adaptada desta escala.

  • 14

    1.1.4- Escalas de qualidade de vida específicas para a EM

    1.1.4.1- Multiple Sclerosis Quality of Life Instrument (MSQoL-54)

    Uma das escalas específicas mais comumente utilizada na EM é a Multiple

    Sclerosis Quality of Life Instrument (MSQoL-54). Esta é uma escala modificada a

    partir da SF-36, para qual 18 perguntas específicas de EM foram adicionadas. A

    ferramenta consiste em 52 itens agrupados em 12 sub-escalas e duas questões

    distintas. Estas são o impacto da doença, satisfação global com a QV, função

    cognitiva, energia, dor, função sexual e situação social. Não há pontuação global

    única para o MSQOL-54. A escala é protegida por direitos autorais e sua aplicação

    requer a permissão dos autores cada vez que for utilizada (Bandari DS et al, 2010;

    Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    1.1.4.2- Functional Assessment of Multiple Sclerosis (FAMS)

    Publicada em 1996 por David Cella et al em Chicago, foi traduzida e adaptada

    para a língua portuguesa como Escala de Determinação Funcional da Qualidade de

    Vida em pacientes com Esclerose Múltipla (DEFU) em 2004 (Mendes MF et al,

    2004).

    Utilizaram como base um questionário genérico desenvolvido para pacientes

    com câncer, adicionando questões sobre sintomas e problemas relacionados à EM.

    A versão original, em inglês, é composta de 59 itens, sendo 44 deles utilizados para

    a obtenção do escore. Os 15 itens restantes são apresentados por fornecer

    informações clínicas e sociais relevantes, porém não devem ser utilizados para a

    obtenção do escore final. Em sua forma final, a DEFU é composta por 6 subitens

  • 15

    válidos para análise: mobilidade (7 itens), sintomas (7 itens), estado emocional (7

    itens), satisfação pessoal (7 itens), pensamento e fadiga (9 itens) e situação social e

    familiar (7 itens). O formato das respostas permite escores de 0 a 4 para cada item,

    no formato tipo Likert, sendo considerado o escore reverso para as questões

    construídas de forma negativa. Desta forma, os escores maiores refletem melhor

    qualidade de vida. As cinco subescalas com 7 itens permitem escores de 0 a 28 e a

    subescala com 9 itens (pensamento e fadiga) tem seus escores variando de 0 a 36.

    O escore total da FAMS varia de 0 a 176 [5(28)+1(36)] (Mendes MF et al, 2004).

    1.1.4.3- Quality of Life Questionnaire Hamburgo em MS - HAQUAMS

    Publicado em 2001 pelos autores alemães Gold SM, Heesen C, Shultz H et

    al. Ele contém 38 perguntas organizadas em cinco domínios: cinco itens de

    mobilidade de membros superiores, cinco de mobilidade dos membros inferiores,

    seis de funcionamento social, oito de humor e quatro itens em fadiga/pensamento.

    HAQUAMS em grande parte é baseada no SF - 36 e FAMS. Os itens são pontuados

    de 1 (“nada”) a 5 (“muito”). De forma que pontuações mais altas indicam uma QV

    baixa. (Gold SM et al, 2001; Pawar VS et al, 2010; Opara JA, Jaracz K, Brola W,

    2010)

    1.1.4.4- Indice de Qualidade de Vida (IQV)

    A versão genérica de Ferrans e Powers em 1992, o Quality of Life Índex (IQV)

    consiste em duas partes contendo 33 itens em cada parte, aos quais os sujeitos

    atribuem valores em uma escala crescente de satisfação e de importância, que varia

    de 1 a 6. Na primeira parte, a escala varia de muito insatisfeito (1) a muito satisfeito

    (6) e na segunda, de sem nenhuma importância (1) a muito importante (6).

  • 16

    Os 33 itens estão assim distribuídos nas quatro dimensões (sub-escalas) do

    instrumento: Saúde/funcionamento (13 itens), Sócioeconômico (8 itens),

    Psicológico/espiritual (7 itens ) e Família (5 itens).

    Para o cálculo dos escores, cada item de satisfação é ponderado pelo seu

    correspondente de importância. Isto resulta em valores combinados, sendo que os

    mais altos representam alta satisfação e alta importância e os mais baixos, baixa

    satisfação e baixa importância. Este esquema de pontuação baseia-se na premissa

    de que pessoas satisfeitas com áreas que consideram importantes desfrutam de

    melhor QV do que pessoas insatisfeitas com áreas que consideram importantes.

    O escore total de cada domínio varia de 0 a 30. Em resumo, para o cálculo

    do IQV (total e por domínio) adota-se a seguinte fórmula: IQV = [(SAT rec x IMP) de

    cada item ÷ número de itens respondidos] + 15, onde: SAT rec = valor recodificado

    de cada item de satisfação (-2,5 a +2,5) IMP = valor bruto de cada item de

    importância (1 a 6) (Kimura M; Silva JV, 2009).

    As instruções para o cálculo dos escores do IQV e a sintaxe computadorizada

    estão disponíveis na Internet.

    Este instrumento existe em diversas versões para diversas doenças crônicas

    inclusive para EM (Kimura M; Silva JV, 2009; Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    1.1.4.5- Multiple Scleroses Quality of Life Inventory – MSQLI

  • 17

    É uma bateria que consiste em 10 escalas individuais que fornecem uma

    medida de QV (genéricas e específicas), sendo que 5 delas podem ser aplicadas

    com formas abreviadas. São elas: SF36, Modified Fatigue Impact Scale (MFIS),

    MOS Pain Effects Scale (PES), Sexual Satisfaction Scale (SSS), Bladder Control

    Scale (BLCS), Bowel Control Scale (BWCS), Impact of Visual Impairment Scale

    (IVIS), Perceived Deficits Questionnaire (PDQ), Mental Health Inventory (MHI),

    Modified Social Support Survey (MSSS) (Marrie RA et al, 2003; Bandari DS et al,

    2010).

    O MSQLI consiste em um conjunto de 10 questionários de auto-

    preenchimento que o paciente geralmente pode completar com pouca ou nenhuma

    intervenção de um entrevistador. No entanto, pacientes com deficiências visuais ou

    de extremidades superiores podem precisar ter o MSQLI administrado por uma

    entrevista. Cada uma das escalas individuais gera uma pontuação separada. Além

    disso, algumas escalas geram subescalas, por exemplo, o SF36, o MFIS, o PDQ, e

    o MSSS. Não há um escore único (Marrie RA et al, 2003; Bandari DS et al, 2010;

    Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    1.1.4.6- Multiple Sclerosis International Quality of Life Questionnaire (MusiQoL-

    31)

    É um questionário compreendido de 31 itens descritas em 9 dimensões,

    cada dimensão é nomeada de acordo com seus elementos constitutivos da seguinte

    forma: AVD com 8 itens; psicológico e bem estar com 4 itens; sintomas com 3 itens;

    relacionamento com amigos com 4 itens; relações com a família com 3 itens;

    relacionamento com o sistema de saúde com 3 itens; vida sentimental e sexual com

    2 itens; enfrentamento, 2 itens, rejeição, 2 itens.

  • 18

    O escore é dado por uma escala de Lickert de 6 pontos (1= nunca; 2=

    raramente\um pouco; 3= as vezes; 4= freqüentemente; 5= sempre\muito; 6= não

    aplicável). Nas questões negativas, o escore é invertido. Escores mais altos indicam

    maiores índices de QV (Simeoni MC et al, 2008; Fernández O et al, 2011).

    1.1.4.7- Multiple Sclerosis Impact Scale 29 - MSIS-29

    Criada em 2001, mensuração auto-relatada, rápida e confiável que leva em

    conta a influência do meio ambiente e fatores subjetivos. É um questionário que

    consiste em 29 itens, completadas pelo paciente. As subescalas são distinguidas em

    escala de impacto físico e psicológico (20 e 9 itens, respectivamente).

    O escore total é gerado através da soma dos itens individuais (1-5) e então

    transformado para uma escala de 0-100. Escores mais elevados indicam pior estado

    de saúde (Hobart J et al, 2001 e 2004).

    De todos os instrumentos de mensuração específicos da QV na EM, apenas o

    DEFU foi adaptado e validado para a cultura brasileira, porém apresenta algumas

    limitações tais como tempo para aplicação e reversão do escore das questões

    formuladas de forma negativa no cálculo final. A escolha do MSIS-29 levou em

    consideração o tempo de aplicação, abordagem dos aspectos não apenas físicos,

    mas também psicológicos, além dos estudos de criação do instrumento mostrarem

    que o instrumento é eficaz tanto em pacientes com pouca ou grande incapacidade,

    como no caso da MSQoL-54 e a HAQUAMS que só são sensíveis para aqueles

    pacientes com pouca incapacidade. Os instrumentos MSQoL-54, o IQV, o MSQLI e

  • 19

    DEFU são extensos e de aplicação não tão rápida. O DEFU e MUSIQoL-31

    necessitam de inversão dos escores das questões negativas para obtenção do

    escore total dificultando a aplicação na rotina do ambulatório do nosso centro de

    referência. Assim vimos a necessidade da realização deste estudo e decidimos pela

    padronização através da adaptação transcultural e validação do MSIS-29 nos

    pacientes do CATEM.

  • ______________________________________________________________________

    2. OBJETIVOS

  • 21

    - Realizar a padronização da “Multiple Sclerosis Impact Scale–29” através da

    adaptação transcultural do instrumento para a língua portuguesa;

    - Validar a versão em português da “Multiple Sclerosis Impact Scale–29” para

    pacientes com Esclerose Múltipla do centro de referência CATEM.

  • ______________________________________________________________________

    3. CASUÍSTICA E MÉTODO

  • 23

    A análise abrangeu 100 indivíduos, 75 do sexo feminino (75%) e 25 do sexo

    masculino (25%), com idade entre 20-67 anos, a idade média foi de 39,21 ± 10,32

    anos, com EM que fazem acompanhamento no Centro de Atendimento e

    Tratamento de Esclerose Múltipla (CATEM) da Irmandade Santa Casa de Misericór-

    dia de São Paulo (ISCMSP) selecionados aleatoriamente, diagnosticados pelo

    neurologista. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da ISCMSP

    com o número de projeto 312/09. Todos os sujeitos ou responsáveis assinaram o

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo1) após serem informados

    sobre o objetivo da pesquisa.

    Os indivíduos com histórico de demência confirmada anteriormente pelo

    médico neurologista, os que apresentavam outros distúrbios neurológicos de origem

    central e/ou periférica e indivíduos que estivessem em surtos 30 dias antes da

    aplicação dos questionários não puderam participar do estudo.

    O estudo de padronização foi dividido em duas fases. A primeira foi o

    processo de tradução e adaptação transcultural do instrumento, e a segunda foi

    caracterizada por um estudo prospectivo de corte transversal.

    A primeira fase da padronização é a realização da adaptação transcultural da

    escala Multiple Sclerosis Impact Scale-29 (MSIS-29) para o português baseada nas

    propostas de Beaton et al em 2000, realizada nas seguintes fases: a tradução do

    instrumento MSIS-29 do inglês para o português, por dois tradutores, um

    conhecedor da doença e ciente da pesquisa e outro não conhecedor da doença e

    não ciente da pesquisa, que através de um consenso formaram a primeira versão; a

  • 24

    retradução do instrumento traduzido para a língua original (inglês) (versão 2); a

    revisão do instrumento por um comitê de especialistas (versão 3) o qual foi aplicado

    como o pré-teste (versão 3) do instrumento.

    1. A Tradução do questionário foi realizada por um profissional de língua

    inglesa, com fluência na língua portuguesa e não ciente da pesquisa

    (Anexo 3), e pela autora da pesquisa que estava ciente da pesquisa, e tem

    fluência no inglês (Anexo 4). Foi então realizada a versão 1 (Anexo 5)

    após consenso entre tradutores.

    2. A retroversão da versão “1” do questionário em português para o inglês foi

    executada por outro profissional da língua inglesa, também com fluência

    na língua portuguesa (versão 2 - Anexo 6).

    3. A revisão das versões “1 e 2” foi feita por um comitê de especialistas em

    fisioterapia neurofuncional, que realizam pesquisas nesta área e com

    fluência na língua inglesa. Reuniões com a presença de duas

    fisioterapeutas, um engenheiro, um professor da língua inglesa e uma

    médica clínica, foram realizadas para avaliação e comparação dos três

    questionários (original, versões 1 e 2) quanto às equivalências semânticas,

    idiomática, cultural e conceitual, dando origem a versão 3 (Anexo 7)

    conforme as definições estabelecidas por Beaton et al, 2000, utilizado no

    presente estudo.

  • 25

    Para que fosse estabelecido o nível de concordância entre as respostas, cada

    membro do comitê apontou a concordância ou discordância da forma final de cada

    questão, apontando as sugestões de substituição ou complementação, no caso de

    discordância total ou parcial. A categorização da sugestão apresentada, de acordo

    com a equivalência, foi realizada pela pesquisadora, também fundamentada nas

    respectivas definições.

    4. O pré-teste visou à identificação da compreensão e clareza do

    instrumento, em sua versão “3”, resultantes das alterações apontadas pelo

    comitê de especialistas. Foi realizado em 10 pacientes de EM

    selecionados aleatoriamente do CATEM.

    Procedimento de Validação da MSIS-29/BR – O processo de validação da

    MSIS-29/BR deve-se por meio de duas fases (Teste e Reteste), conforme protocolo

    desenvolvido pelos autores do estudo. Teste: O pesquisador responsável realizou

    entrevistas com os indivíduos portadores de EM, sendo coletados dados pessoais

    (nome, sexo, data de nascimento, estado civil, escolaridade e telefone para contato)

    e também coletados, em prontuário, dados referentes à doença (forma da EM). Após

    a coleta dos dados, os indivíduos foram orientados a responder o questionário

    MSIS-29/BR (Anexo 4) para avaliar o impacto físico e psicológico da EM na QV,

    sendo obtidos os MSIS-29 físico e MSIS-29 psicológico, em 40 pacientes também foi

    aplicado a DEFU. Reteste: Também realizado pelo pesquisador responsável,

    consiste de entrevista para reaplicação da MSIS-29/BR após 15 dias, nos mesmos

    indivíduos submetidos à fase anterior, com o objetivo de analisar e validar as

    propriedades psicométricas da MSIS-29/BR.

  • 26

    Os dados da MSIS-29/BR foram comparados com os dados da DEFU para

    medida de confiabilidade convergente do instrumento em estudo, já que são

    instrumentos que avaliam o mesmo atributo. A DEFU é uma escala composta por 6

    subitens válidos para análise: mobilidade (7 itens), sintomas (7 itens), estado

    emocional (7 itens), satisfação pessoal (7 itens), pensamento e fadiga (9 itens) e

    situação social e familiar (7 itens). O formato das respostas permite escores de 0 a 4

    para cada item, no formato tipo Likert, sendo considerado o escore reverso para as

    questões construídas de forma negativa. Desta forma, os escores maiores refletem

    melhor QV. As cinco subescalas com 7 itens permitem escores de 0 a 28 e a

    subescala com 9 itens (pensamento e fadiga) tem seus escores variando de 0 a 36.

    Quanto maior a pontuação pior a qualidade de vida dos indivíduos (Mendes MF et al,

    2004). Como já é um instrumento validado a comparação foi realizada em 40

    pacientes e não em toda a amostra, para isto, foi aplicado um cálculo de tamanho da

    amostra para a correlação adotando nível de significância de 5%, um poder de 90%

    e uma correlação mínima de 0,50, resultando em um “n” de 38 pacientes, conforme

    as normas estatísticas.

    A MSIS-29 é uma escala que apresenta 29 itens subdivididos em dois

    domínios: impacto físico (20 itens) e impacto psicológico (9 itens). São somados os

    dois domínios e transformado em uma escala de 0-100, sendo que a pontuação

    mais alta indica piora da saúde. As questões se referem às duas últimas semanas

    ao dia da aplicação e há as seguintes respostas para todos os domínios: nada,

    pouco, moderadamente, bastante, extremamente.

  • 27

    A pontuação observada no impacto físico é a soma das questões de 1 a 20 e

    no impacto psicológico é a soma das questões de 21 a 29, onde os valores de

    ambos os aspectos são transformados em uma escala de 0 à 100 através de uma

    fórmula. Pontuação zero quando tiver escore mínimo em todas as questões (físico

    ou psicológico), ou seja, “um”, e 100 quando tiver escore máximo, “cinco”, em todos

    os itens. (Hobart J et al, 2001 e 2004).

    Para calcular o resultado final da escala, os impactos físico e psicológico são

    aplicados em duas fórmulas:

    Físico: 100 x (escore observado - 20)

    100 – 20

    Psicológico: 100 x (escore observado - 9)

    45 – 9

    Análise estatística – Para o cálculo da amostra, de acordo com os objetivos

    do estudo, o estatístico realizou um teste estatístico apropriado, associado a este

    teste foi aplicada a uma fórmula matemática e fornecido o número da amostra

    necessário para o estudo. Para este cálculo foi utilizado poder de 95% e nível de

    significância de 0,05. Assim para estes valores a amostra encontrada para o estudo

    foi de 70 a 92 indivíduos portadores de EM.

    Para as variáveis qualitativas apresentamos tabelas de freqüência absoluta

    e relativa. Para as quantitativas, calculamos medidas resumo e construímos

    gráficos do tipo Boxplot.

  • 28

    Para comparação das características demográficas como escolaridade e

    estado civil com o MSIS-29/BR foi realizado o teste t-Student. Para a variável idade

    foi realizada o coeficiente de correlação de Pearson, e para a variável forma da EM

    foi realizado apenas análise descritiva dos dados. A comparação entre MSIS-29/BR

    e forma da doença foi realizada de forma descritiva pelo número de indivíduos na

    forma RR ser a maioria e os demais grupos pequenos.

    Para comparação dos resultados da MSIS-29/BR e DEFU foi calculada foi

    calculado o coeficiente de correlação de Pearson e construídos gráfico de dispersão

    e tabelas.

    Para medir a confiabilidade foi calculado o Alpha de Cronbach que avalia a

    consistência interna do instrumento. No caso da reprodutibilidade calculamos o

    coeficiente de correlação intraclasse (ICC) e apresentamos os respectivos intervalos

    de confiança. O teste t-pareado foi realizado para comparação de médias do teste e

    reteste físico e psicológico.

    Para a avaliação das medidas de discordância aplicamos o teste de Bland e

    Altman que é uma técnica gráfica e posteriormente realizamos a análise de

    regressão linear simples para verificar se o instrumento sofreu alguma tendência

    durante a aplicação, tanto nos aspectos físicos quanto nos psicológicos.

    O nível de significância adotado é de 5% (0,05). Foi adotado o pacote

    estatístico SPSS (“Statistical Package for Social Sciences”), versão 13.0.

  • ______________________________________________________________________

    4. RESULTADOS

  • 30

    Os resultados são apresentados conforme etapas e fases pré-

    estabelecidas para o estudo:

    4.1 – Adaptação transcultural do instrumento para a língua portuguesa

    Com a finalização das fases de tradução e retrotradução do

    instrumento MSIS-29, deu-se a avaliação e comparação de ambas as versões 1 e 2

    além do original realizadas por 5 membros que compuseram o comitê de

    especialistas.

    Após a reunião do comitê foram sugeridas alteração em duas questões: a 5 e

    a 19.

    A questão de número cinco (5) descrita em inglês é “Difficulties moving about

    indoors?”, a 1ª versão foi “Tenho dificuldade em deslocar-me em interiores?”, o

    comitê sugeriu trocar para “Tenho dificuldade em deslocar-me em ambientes

    fechados (ex. dentro de casa, restaurante, escritório etc.)?”. A questão de número 19

    em inglês é “Difficulty doing things spontaneously (e.g. going out on the spur of the

    moment)?”, a 1ª versão foi “Tenho dificuldade de fazer algo espontaneamente (ex:

    Sair de repente)?”, sugeriu-se “Tenho dificuldade de fazer algo espontaneamente

    (ex: Pensar e agir em seguida)?”.

    Todas as alterações sugeridas foram consideradas para a elaboração da

    terceira versão do instrumento, embora se tenha estabelecido nível de concordância

    de 80% entre os especialistas, como critério principal. A decisão final sobre a

  • 31

    inclusão das alterações ficou a cargo da pesquisadora, também especialista na área

    do estudo, desde que avaliadas como pertinentes e adequadas.

    Após as considerações propostas pelo comitê em reunião, foi observado que

    a versão 3 do instrumento e a original eram semelhantes em relação as

    equivalências semânticas, idiomáticas, cultural e conceitual, então consideramos

    esta, a versão para a língua portuguesa da MSIS-29/BR.

    Na aplicação do pré-teste nos 10 pacientes com EM selecionados

    aleatoriamente, não houve dificuldade na compreensão dos 29 itens da MSIS-

    29/BR. Estes dados não foram incluídos na análise estatística para verificar as

    propriedades psicométricas da MSIS-29/BR.

    4.2- Aplicação clínica da versão MSIS-29/BR e avaliação das propriedades da

    medida

    Amostra

    Dos 100 indivíduos que participaram do estudo, a maioria era casada (55%),

    seguidos de 39% de solteiros e apenas 3% de viúvos e o mesmo para separados.

    Em relação a escolaridade 57% apresentavam ensino superior, 37% ensino médio e

    apenas 6% ensino fundamental. Quanto à forma da doença, 84% eram remitente-

    recorrente (RR), seguidos da secundariamente progressiva (SP) (9%) e

    primariamente progressiva (PP) (7%).

    A tabela 1 apresenta as medidas resumo da MSIS-29/BR aspectos físico e

    psicológico do teste e reteste, e na tabela 2 as medidas resumo da DEFU.

  • 32

    Tabela 1- Medidas resumo do escore da MSIS 29/BR para teste e reteste.

    Média Desvio Padrão

    Mínimo Máximo P

    MSIS-29/BR Físico

    Teste 37,01 22,327 0 96 0,284

    Reteste 37,83 23,22 0 98

    MSIS-29/BR Psicológica

    Teste 41,81 24,865 0 100 0,138

    Reteste 40,14 24,578 0 100

    Tabela 2- Medidas resumo da DEFU.

    DEFU Média Desvio Padrão

    Mínimo Máximo

    Mobilidade 16,62 5,09 8 28

    Sintomas 16,97 6,3 4 28

    Estado Emocional 19,9 6,35 4 28

    Satisfação pessoal 19,05 6,02 6 28

    Pensamento e Fadiga 18,75 8,92 3 34

    Social Familiar 17,85 6,56 5 28

    Geral 109,15 27,36 61 163

    Validação

    A correlação de Pearson entre teste e reteste para a MSIS-29/BR parte física

    e psicológica foram respectivamente de 0.94 e 0.98. O ICC para avaliar a

    reprodutibilidade da MSIS-29/BR foi de 0.94 [0.92-96] e 0.90 [0.85-0.93] para a parte

    física e psicológica respectivamente.

    Na análise de regressão linear simples realizada obtivemos p=0,233 para os

    aspectos físicos e p=0,74 para os aspectos psicológicos, ou seja, não significante,

    portanto não demonstra nenhuma tendência. As construções gráficas de acordo com

    Bland e Altman estão apresentadas no gráfico 1 para os aspectos físicos e no

    gráfico 2 para os aspectos psicológicos.

  • 33

    Gráfico 1- Gráfico de dispersão de acordo com Bland e Altman para os aspectos físicos entre teste e reteste.

    Gráfico 2- Gráfico de dispersão de acordo com Bland e Altman para os aspectos psicológicos entre teste e reteste.

  • 34

    A Consistência interna da MSIS-29/BR foi de alfa de Cronbach de 0.94 e 0.95

    para teste e reteste, respectivamente. A consistência interna ao excluir cada questão

    está representada na tabela 3.

    Tabela 3- Consistência interna ao excluir uma questão.

    Item- Estatística Total

    Escala Média se deletar

    item

    Escala de Variância se deletar item

    Correção Item- Correlação Total

    Alpha Cronbach's se deletar item

    n1t 70,73 535,229 ,583 ,942 n2t 71,74 541,952 ,500 ,943 n3t 71,17 526,324 ,691 ,941 n4t 70,69 532,135 ,612 ,942 n5t 71,48 534,414 ,638 ,942 n6t 71,15 529,664 ,668 ,941 n7t 71,33 534,749 ,597 ,942 n8t 70,74 528,154 ,663 ,941 n9t 71,66 534,530 ,614 ,942 n10t 71,54 539,746 ,511 ,943 n11t 71,07 533,419 ,604 ,942 n12t 71,48 531,383 ,622 ,942 n13t 70,93 525,460 ,676 ,941 n14t 70,95 524,735 ,619 ,942 n15t 71,59 534,063 ,600 ,942 n16t 70,99 527,323 ,688 ,941 n17t 71,21 528,713 ,604 ,942 n18t 70,88 530,086 ,651 ,941 n19t 71,28 534,749 ,598 ,942 n20t 70,98 532,808 ,551 ,942 n21t 70,76 535,033 ,563 ,942 n22t 71,31 541,711 ,453 ,943 n23t 70,93 535,803 ,563 ,942 n24t 70,98 530,424 ,573 ,942 n25t 70,78 534,901 ,511 ,943 n26t 70,63 534,963 ,560 ,942 n27t 71,03 540,050 ,474 ,943 n28t 71,14 533,011 ,543 ,943 n29t 71,33 535,355 ,563 ,942

    O Índice de Correlação de Pearson entre os dados da MSIS-29/BR e DEFU

    estão apresentados na tabela 4 e no gráfico 3. Mostrando uma correlação negativa

  • 35

    (quanto maior a pontuação da DEFU, menor será a pontuação da MSIS-29/BR)

    muito forte (-0,821). Há uma correlação negativa moderada (-0,473) entre a parte

    física da MSIS-29/BR com a mobilidade da DEFU, apresentada no gráfico 4. Em

    relação a parte psicológica da MSIS-29 e o estado emocional da DEFU há uma

    correlação negativa moderada (-0,473) apresentada no gráfico 5 e ainda em relação

    a parte psicológica da MSIS-29 e satisfação da DEFU há uma correlação negativa

    moderada (0,570), apresentada no gráfico 6.

    Tabela 4- Índice de Correlação de Pearson entre os dados da MSIS-29/BR e DEFU.

    MSIS-29/BR x DEFU -0,821 *p≤ 0,000

    Físico - MSIS-29/BR x Mobilidade – DEFU -0,473 *p≤ 0,000

    Psicológico - MSIS-29/BR x Emocinal – DEFU -0,473 *p≤ 0,002

    Psicológico - MSIS-29/BR x Satisfação – DEFU -0,570 *p≤ 0,000

    * p≤ 0,05

    Gráfico 3- Gráfico de dispersão da correlação entre o total da MSIS-29/BR e total da

    DEFU.

  • 36

    Gráfico 4- Gráfico de dispersão da correlação entre o aspecto físico da MSIS-29/BR e aspecto da mobilidade da DEFU.

    Gráfico 5- Gráfico de dispersão da correlação entre o aspecto psicológico da MSIS-

    29/BR e aspecto estado emocional da DEFU.

  • 37

    Gráfico 6- Gráfico de dispersão da correlação entre o aspecto psicológico da MSIS-29/BR e aspecto satisfação da DEFU.

    A comparação da MSIS-29/BR com a variável sexo (feminino e masculino)

    não apresentou diferença significativa, com p valor 0.75 e 0.99 para o aspecto físico

    teste e reteste e 0.96 e 0.91 para o aspecto psicológico teste e reteste.

    Com a escolaridade (ensino fundamental e médio e ensino superior) a

    comparação foi de p valor 0.76 e 0.74 para o aspecto físico e 0.17 e 0.89 para o

    aspecto psicológico, ou seja, não houve diferença significativa.

    A comparação com o estado civil (solteiros e casados) foi de p valor de 0.19 e

    0.17 para aspecto físico e 0.73 e 0.58 para aspecto psicológico, não apresentando

    diferença significativa. A comparação foi realizada apenas entre solteiros e casados,

    pois o número de indivíduos separados e viúvos era pequeno para a realização de

    testes estatísticos.

  • 38

    Os coeficientes de correlação de Pearson para a MSIS-29/BR e a idade são

    de -0.06, -0.007 no teste e reteste para os aspectos físicos (p 0,550 e 0,942)

    demonstrando que não há correlação entre idade e os aspectos físicos da MSIS-

    29/BR e valores de -0.36, -0.23 para os aspectos psicológicos (p 0,000 e 0,019) e

    apesar da significância do “p”, a correlação é baixa entre idade e os aspectos

    psicológicos da MSIS-29/BR para teste e reteste.

    A comparação dos dados psicológicos e físico da MSIS-29/BR e a forma da

    doença foi apresentada apenas de forma descritiva, pois a maioria dos indivíduos

    eram da forma RR e havia poucos PP e SP. Em relação aos aspectos físicos os

    gráficos boxplot 7 e 8 de teste e reteste sugerem que o grupo RR apresenta uma

    condição física melhor que os demais grupos (formas SP e PP), estes grupos

    apresentaram caracteristicas semelhantes. Já em relação ao aspecto psicológico da

    MSIS-29/BR: os gráficos boxplot 9 e 10 teste e reteste apresentaram que o grupo

    PP apresenta uma condição psicológica melhor que os outros grupos, que por sua

    vez apresentam um condição similar.

  • 39

    Gráfico 7- Boxplot da correlação da forma da doença e o aspecto físico da MSIS-29/BR teste.

    Gráfico 8- Box plot da correlação da forma da doença e o aspecto físico da MSIS-29/BR reteste.

    * paciente número cinco

  • 40

    Gráfico 9- Boxplot da correlação da forma da doença e o aspecto psicológico da MSIS-29/BR teste.

    * paciente número cinco

    Gráfico 10- Box plot da correlação da forma da doença e o aspecto psicológico da MSIS-29/BR reteste.

    * paciente número cinco

    o Pacientes números 34 e 65

  • ______________________________________________________________________

    5- DISCUSSÃO

  • 42

    A EM é uma doença de caráter progressivo que acomete adultos jovens,

    trazendo em adição ao sofrimento individual e familiar grande sobrecarga econômica

    à sociedade devido a perda da força de trabalho e ao seu curso prolongado com

    elevado custo do tratamento, sendo que geralmente após 10 anos de início dos

    sintomas 50% destes pacientes poderão estar inaptos para realizar suas atividades

    profissionais e até mesmo domésticas, portanto a relevância do nosso estudo de

    quantificar o impacto da doença na QV destes indivíduos (Moreira MA et al, 2000;

    Consenso Expandido do BCTRIMS, 2002).

    Concordamos com a literatura (McDonald WI et al, 2001; Consenso

    Expandido do BCTRIMS, 2002; Polman CH et al, 2005; Luetic G, 2008), que hoje em

    dia com os critérios diagnósticos melhor definidos devido aos avanços das técnicas

    de imagem e do melhor entendimento da doença houve um crescimento no número

    de diagnósticos e, portanto maior necessidade de medidas de avaliação da

    incapacidade decorrentes da EM objetivando à reabilitação.

    Tradicionalmente, a avaliação do tratamento do paciente tem se baseado

    nas medidas de avaliação de morbidade e mortalidade; portanto o julgamento

    médico orientava-se pela avaliação de parâmetros clínicos, laboratoriais e

    radiológicos. Entretanto o reconhecimento da necessidade de monitoração e

    avaliação do tratamento pelo ponto de vista do paciente fez surgir vários

    instrumentos, criados com a finalidade de medir subjetivamente as condições de

    bem-estar dos indivíduos (Ciconelli RM et al , 1999). Em nossa opinião, a MSIS-29 é

    um instrumento que consegue avaliar o impacto da EM na QV pela ótica dos

  • 43

    próprios pacientes proporcionando informações á equipe de profissionais da saúde,

    com mais fidedignidade colaborando para o direcionamento do tratamento.

    O desenvolvimento de validação de instrumentos para avaliar a QV ou seus

    componentes específicos tornou-se uma importante área de pesquisa médica,

    todavia para demonstrar suas propriedades de medida, esses instrumentos devem

    ser avaliados e reavaliados em diversas situações, ou seja, em diferentes centros de

    pesquisa e por diversos pesquisadores em populações variadas (Ciconelli RM et al ,

    1999) e o presente trabalho descreve a validade e a confiabilidade da MSIS-29/BR

    para pacientes com EM do CATEM.

    Os instrumentos de medidas não são capazes de dizer aos profissionais da

    saúde o que devem fazer, mas demonstram se os pacientes são capazes de realizar

    determinadas atividades e como se sentem quando as realizam (Ciconelli RM et al ,

    1999) As aplicações repetidas destes instrumentos em um determinado espaço de

    tempo podem definir melhora, manutenção ou piora do paciente em diferentes

    aspectos, tanto físicos quanto emocionais, tornando-se úteis para determinadas

    intervenções, sejam elas medicamentosas ou reabilitacionais.

    É altamente desejável que pudéssemos medir a QV em pacientes com EM de

    forma simples e confiável. Teoricamente, o uso de uma medida auto-relatada do

    resultado do impacto da doença poderia ser um método simples e prático de

    monitorar o impacto da EM. Instrumentos para avaliar a QV são valiosos no cuidado

    rotineiro de pessoas com EM, pois podem facilitar a detecção dos aspectos da

    doença que poderiam não ser reconhecido, ajuda profissionais da saúde a formarem

  • 44

    decisões em torno da particularidade do paciente e facilita a comunicação entre

    terapeuta e paciente (Solari A, 2005). Através da aplicação da MSIS-29/BR em

    nossa amostra, pudemos observar claramente a detecção de aspectos importantes

    da doença e, além disto, percebermos que a comunicação através da escala

    possibilitou a percepção dos anseios do paciente quanto a evolução das diversas

    áreas da doença.

    Mudanças na política de saúde têm identificado a importância da prática

    clínica baseada em evidências e a necessidade de avaliar os resultados que são

    importantes para o paciente. Estas mudanças são particularmente relevantes para a

    EM, pois a efetividade do tratamento influencia no bem-estar do paciente e nos

    gastos de fundos públicos, é essencial que estas avaliações sejam baseadas em

    uma rigorosa medida cientifica (Hobart J et al, 2001). Concordamos com Hobart J et al

    em 2001, pois quanto maior o bem-estar, ou seja, a QV do paciente, menor será os gastos

    públicos, portanto, se faz necessário o uso contínuo de instrumentos padronizados em

    centros públicos de referência para o tratamento da EM.

    Para avaliar a QV na EM são utilizadas medidas genéricas como a SF-36,

    que não são sensíveis para avaliar as particularidades desta patologia (Hobart J et

    al, 2001; Riazi A et al, 2003). Também são utilizadas diversas escalas que se dizem

    especificas para a EM, porém nenhuma foi desenvolvida com medidas psicométricas

    rígidas com redução dos itens gerados, além do mais a grande parte destas escalas

    foram geradas através da fusão de outras escalas genéricas com o adicional de

    particularidades ocorridas na EM. Com isso necessitaria de uma escala específica

    para EM mais curta, simples e sensível que complementaria instrumentos existentes

    (Hobart J et al, 2004).

  • 45

    A escala SF-36 leva no mínimo 9 min para ser preenchida. É

    particularmente útil em predizer o curso da doença. As desvantagens estatísticas

    segundo estudos específicos incluem o efeito do limite inferior (chão) e superior

    (teto) e uma sensibilidade relativamente baixa para as alterações da QV assim como

    na SF-12, além do que para realização do escore é necessário o uso do software

    disponível na internet tornando um pouco mais trabalhoso para o avaliador (Opara

    JA, Jaracz K, Brola W, 2010). Vale a pena ressaltar, que este instrumento é um dos

    mais utilizados na população brasileira em diversas patologias inclusive na EM.

    Freeman JA, Hobart JC, Thompson AJ em 2000 e 2001 relatam que em

    estudos clínicos de EM que utilizaram o SF-36 em uma população de pacientes com

    uma estreita faixa grave da doença, a utilidade do instrumento foi reduzida devido a

    significância dos efeitos de chão (função física, emocional e papel das limitações

    físicas) ou teto (papel da dor, limitações emocionais). De acordo com critérios

    aceitos, os efeitos de chão e teto, ocorrem quando mais de 20% dos entrevistados

    designar sua resposta como o valor mais alto ou mais baixo na escala. Assim, os

    instrumentos específicos da doença de QVRS são necessários para minimizar os

    efeitos de chão e teto.

    O NHP, no entanto segundo Oliveira MR e Orsini M em 2008, o instrumento

    apresenta problemas com relação à validade clínica, pois a escala é simples e não

    mede todos os domínios de QV. Além disso, o questionário discrimina pouco o

    paciente, já que divide os indivíduos em apenas dois níveis de habilidades. Isso

    indica que ele poderia ser mais útil quando aplicado em indivíduos mais debilitados.

  • 46

    Para sua aplicação em indivíduos mais habilitados funcionalmente, é recomendado

    à revisão da escala e a inclusão de itens mais complexos. Portanto apesar de ser

    um perfil simples de fácil utilização, é fundamental a associação deste questionário

    com uma avaliação funcional e uma entrevista semi-estruturada, tornando as

    informações coletadas mais úteis clinicamente (Oliveira MR, Orsini M, 2008).

    A escala de EQ-5D permite que a avaliação de cinco áreas da saúde e

    auto-estima no momento do estudo. Tempo de preenchimento é em média de 3 min.

    Por causa dos três níveis avaliação, o sistema EQ-5D é um teste pouco sensível à

    mudanças da QV, especialmente em pacientes com uma pontuação maior que 5 no

    EDSS nos casos de pacientes com EM. Ele é destinado principalmente para a

    gestão de saúde – Decisão sobre saúde (Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010; Pinto

    EB et al, 2011).

    O SIP é um questionário que permite a avaliação de 12 áreas de

    funcionamento no momento de estudo e (em contraste com SF-36 e EQ-5D) ela é

    sensível às mudanças do paciente. As desvantagens de SIP incluem o seu

    comprimento (136 itens) o que significa que o tempo de enchimento pode ser de até

    30 minutos ou mais dependendo do grau de instrução do paciente (Bergner et al,

    1981; Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    A LSQ é uma escala genérica que abrange várias dimensões para avaliar a

    QV principalmente em indivíduos com câncer, de fácil aplicabilidade e escore de

    simples resolução (Carlsson M e Hamrin E, 2002). Pouco difundida no Brasil, ainda

    não passou pelo processo de adaptação transcultural e validação para a população

  • 47

    brasileira. Para a aplicação na população em EM seriam necessários mais estudos

    para avaliar as características psicométricas do instrumento para esta doença e a

    sensibilidade para avaliação da QV nesta população.

    Devido ao número elevado de questões do WHOQoL, o tempo estimado

    para a aplicação do questionário é de 60 a 90 minutos, podendo ser uma escala de

    reduzida aplicabilidade prática na utilização diária.

    Os resultados do processo de validação da WHOQoL-Bref, realizados nos

    mesmos moldes do processo de validação da WHOQoL-100 no Brasil e nos demais

    centros de pesquisa, apontaram um bom desempenho psicométrico com

    características satisfatórias de consistência interna, validade e confiabilidade. Desta

    forma, o modelo completo e abreviado da WHOQoL são alternativas úteis para

    serem utilizadas em estudo que se propõe a avaliar a QV no Brasil, porém são

    necessários mais estudos brasileiros para análise de correlações dos dados

    psicométricos e sua aplicabilidade na população brasileira com EM, apesar de ser

    uma escala válida, confiável e aplicável em estudos já realizados internacionalmente

    (Oliveira MR, Orsini M, 2008).

    Alguns autores acreditam que a avaliação objetiva da clínica e testes de

    avaliação funcional são necessários para a avaliação da QV. As medidas objetivas

    da clínica da EM utilizadas para a avaliação da eficácia das terapias incluem a

    escala de Kurtzke “Expanded Disability Status Scale” (EDSS), a Multiple Sclerosis

    Functional Composite (MSFC), a Ressonância Magnética (RM), os relatos de surtos

    e remissões. Ainda prezam a utilização de escalas funcionais não específicas tais

  • 48

    como Índice de Barthel (BI), Medida de Independência Funcional (MIF/FIM). Apesar

    de esses instrumentos fornecerem informações importantes a respeito da deficiência

    clínica e atividade da doença em pacientes com EM, geralmente excluem vários

    fatores importantes sobre a QVRS embora indiretamente ajudem a medir as facetas

    da EM que muitas vezes afetam a QV (Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    Apesar da MSQoL-54 ser uma escala que abrange todos os pontos da QV,

    a forma de soma dos escores é bem complexa e seu uso é quase que inviável já

    que toda vez que utilizá-la deverá ser requerida a autorização aos autores. Em

    nossa opinião, principalmente como pesquisadores, acreditamos que todas as vezes

    que estudamos e fazemos novas descobertas, é de grande importância a divulgação

    e a utilização dos benefícios destas pesquisas por todos aqueles que trabalham e

    pesquisam e primam pelo bem estar dos pacientes sem a necessidade de pedir tal

    autorização que muitas vezes não são nem se quer respondidas.

    Bandari DS et al em 2010 descrevem que os efeitos estatísticos de chão e

    teto podem limitar a utilidade do MSQoL-54. Em particular, os efeitos de fundo nas

    escalas de funções físicas limitam a sua utilização na avaliação longitudinal da QV

    relacionada a saúde para pacientes de EM que utilizam cadeira de rodas. Isto

    porque a limitação funcional é avaliada pelo "sim ou não", minimizando a

    sensibilidade da escala para pacientes gravemente incapacitados. Além disso, o

    tempo para completar a MSQoL-54 pode representar uma barreira para a sua

    utilização na prática clínica. Portanto, apesar de sua aceitação como um instrumento

    de QV relacionada à saúde relativamente confiável e seu uso difundido, a MSQoL-

    54 tem fraquezas notáveis.

  • 49

    A DEFU é um instrumento considerado válido e confiável para a avaliação

    da QV em pacientes com EM, pois aborda fatores físicos, psicológicos e sociais

    dentro dos sintomas comumente apresentados pelos portadores de EM (Mendes MF

    et al, 2004). O tempo para o preenchimento do instrumento não é tão rápido por ser

    composto por 59 questões, porém o mais trabalhoso é reverter o escore das

    questões formuladas de forma negativa (de 0 a 4 para 4 a 0) no momento da

    realização do cálculo do escore final.

    O HAQUAMS também é um instrumento de fácil aplicabilidade e segundo

    os autores alemães, é confiável, porém a amostra de pacientes em questão era

    composta por indivíduos com baixo comprometimento físico sendo que os próprios

    autores sugerem mais estudos incluindo pacientes com um maior nível de

    incapacidade para confirmar a credibilidade das características psicométricas do

    instrumento (Gold SM et al, 2001).

    Devido extensão, o IQV requer muito boa cooperação do paciente,

    dificultando a aplicação naqueles pacientes que já apresentam lentificação cognitiva

    (Opara JA, Jaracz K, Brola W, 2010).

    A MSQLI, por ser a aplicação de uma bateria de testes, ou seja, de 10

    instrumentos, se o padrão dos instrumentos for os mais longos, o tempo mínimo de

    administração é em média 45 minutos, usando as formas de curta duração de 5

    escalas, este tempo é reduzido para 30 minutos mesmo assim o tempo é o principal

    obstáculo para utilização na prática clínica, além do que nem todos os instrumentos

  • 50

    são específicos para a EM (Bandari DS et al, 2010). Para a utilização na população

    brasileira é necessária a adaptação transcultural de todos os testes.

    Segundo autores Simeoni MC et al em 2008, a MUSIQoL 31 é um

    instrumento confiável para avaliação da QV na EM e de fácil aplicabilidade, porém

    da mesma forma que a DEFU, é necessária a inversão dos escores das questões

    negativas para obter o escore total.

    Já no estudo de Bandari DS et al em 2010 que analisa os critérios

    metodológicos de vários instrumentos de QV, o uso da MusiQoL 31 está atualmente

    limitada pela falta de dados referentes à capacidade de resposta do instrumento em

    comparação com outros pontos clínicos. No entanto, oferece uma vantagem sobre

    outros instrumentos de QV em que as informações que fornecem baseiam-se no

    ponto de vista e percepções do paciente. É mais curto do que os outros

    instrumentos específicos de QV para EM e é bem aceito. O tempo médio necessário

    para a realização do MusiQoL é de cerca de 10 minutos. O uso do MusiQoL em

    estudos clínicos pode melhorar a nossa compreensão da sensibilidade deste

    instrumento de QV relacionada a saúde específica da EM ao longo do tempo e sua

    relação com o tratamento e cuidados.

    A MSIS-29 é um novo instrumento de medida para a avaliação do impacto

    físico e psicológico da EM, propositadamente desenvolvida para ser de fácil

    aplicação e para o uso rotineiro em uma ampla gama de aplicações em EM. Ela

    oferece a oportunidade para medir com rigor o impacto da EM e avaliar a eficácia do

    tratamento do paciente. Existe um claro consenso perante a comunidade cientifica

  • 51

    sobre a necessidade da utilização de instrumentos de avaliação validados, para

    caracterizar objetivamente os desfechos da EM nos pacientes (Hopkins A, Costain

    D, 1990; Frater A, Costain D, 1992; Delmothe A, 1994; Jenkinson C, 1994).

    No entanto, os instrumentos existentes para avaliar o impacto da EM, muitas

    vezes apresentam algumas dificuldades em medir os resultados, por se tratar de

    uma doença crônica, progressiva e incurável. Em primeiro lugar, os resultados que

    são avaliados podem ser pouco relevantes aos pacientes no seu dia a dia (Harvey

    P, 1996; Rous E et al, 1996). Em segundo lugar, é essencial para mostrar a relativa

    eficácia das terapias novas e para avaliar o benefício das diferentes intervenções

    (Ferner RE, 1996). Em terceiro lugar, as avaliações da eficácia do tratamento são

    muitas vezes baseadas em resultados de estudos com um pequeno número de

    pacientes e utilizam instrumentos de má qualidade (Hobart J et al, 2004).

    Segundo seus criadores Thompson e Hobart em 2001, a MSIS-29 é o primeiro

    instrumento validado para a avaliação do impacto físico e psicológico baseada nos

    pacientes com EM, pois seus itens foram verdadeiramente desenvolvidos a partir de

    pessoas com EM. A MSIS-29 pode ser utilizada em estudos transversais para

    descrever o impacto da EM a partir da perspectiva do paciente, em estudos

    longitudinais para acompanhar a história natural da EM e mais importante, em

    ensaios clínicos para avaliar a eficácia terapêutica (Hobart JC et al, 2004)

    Os resultados apresentados pela MSIS-29 podem ser fundamentais para uma

    melhor compreensão do impacto da EM, seus resultados podem ser também

    relacionados com outros indicadores de atividade da doença, como neuroimagem e

  • 52

    neurofisiologia (Ferner RE, 1996). A MSIS-29 foi desenvolvida para utilização tanto

    em ensaios clínicos e prática baseada em evidências clínicas, para monitorar o

    progresso de indivíduos com EM (Stewart AL, Hays RD, Ware JE Jr, 1988; Richards

    RG, 1996).

    Historicamente, a adaptação transcultural de instrumentos concebidos

    originalmente em outros idiomas encerrava-se na simples tradução do original, ou

    excepcionalmente, na comparação literal deste com versões retraduzidas (Moraes

    CL, Hasselmann MH, Reichenheim ME, 2002). Recentemente, vários pesquisadores

    em diferentes áreas temáticas têm indicado que a avaliação semântica deve ser

    apenas um dos passos necessários ao processo de adaptação transcultural. Mesmo

    com o avanço das reflexões a este respeito, ainda não existe consenso quanto a

    melhor estratégia de adaptação, existindo diferentes abordagens teóricas

    responsáveis pela diversidade de propostas metodológicas encontradas na literatura

    (Herdman M, Fox-Rushby J, Badia X 1998; Guillemin F, Bonbardier C e Beaton D

    1993; Moraes CL; Hasselmann MH; Reichenheim ME, 2002).

    Guillemin F, Bonbardier C e Beaton D em 1993, consideraram que, devido

    ao crescente número de estudos multicêntricos e por ser a maioria dos questionários

    criada em países de língua inglesa, há a necessidade de desenvolver medidas

    delineadas especificamente para a utilização desses instrumentos em países cujo

    idioma não seja o inglês, assim como para populações de imigrantes que adotam a

    língua inglesa já que, em ambas as situações, diferenças culturais importantes

    podem estar presentes.

  • 53

    Ciconelli 2003, falando a respeito de medidas de variáveis psicossociais,

    afirma que existem duas alternativas para elas; desenvolver uma nova medida ou

    modificar e adaptar aquela previamente validada em outra língua, baseando-se em

    um processo de adaptação cultural. Quanto à primeira alternativa, a autora julga

    fundamental que se avalie a real necessidade de se criar um novo instrumento caso

    exista um anterior com a mesma proposta e de boa qualidade. Nesses casos, é

    imprescindível que se faça uma avaliação rigorosa de sua tradução e adaptação

    transcultural, bem como a avaliação de suas prioridades de medida após a sua

    tradução, conforme proposto por Guillemin F, Bombardier C e Beaton D, desde

    1993.

    Esses mesmos autores (Guillemin F, Bombardier C e Beaton D, 1993),

    após realizarem uma revisão sistemática da literatura, no período de 1966 e 1992, e

    analisando os métodos de tradução e adaptação cultural existentes, propuseram um

    conjunto de instruções padronizadas para a adaptação transcultural de instrumentos

    de avaliação de qualidade de vida, as quais, desde então, têm sido adotadas em

    vários estudos seja para variáveis psicossociais seja para variáveis clínicas.

    Em 1999, Falcão DM fez uma reavaliação do processo de tradução e

    adaptação cultural de instrumentos de medida e QV, propondo uma simplificação da

    metodologia proposta por Guillemin F, Bombardier C e Beaton D em 1993,

    principalmente relacionada à redução de número de especialistas para a tradução,

    retrotradução e composição do comitê. Afirma que a complexidade de todas as

    fases desse processo pode ser reduzida, uma vez que tanto a versão literal quanto a

    adaptada não mostram diferenças significativas nos seus resultados, quando

  • 54

    aplicadas em um mesmo paciente. As diferenças, quando observadas, podem

    decorrer mais da estrutura dos instrumentos que das alterações promovidas pelo

    processo de adaptação transcultural.

    Durante a aplicação do pré-teste os 10 participantes não apresentaram

    dificuldade em compreender nenhuma das questões principalmente as questões de

    número 5 e a 19, as quais o comitê sugeriu modificações. O comitê concluiu que na

    questão de número 5, a adaptação para de deslocar-me em interiores para deslocar-

    me em ambientes fechados seguido de exemplos entre parênteses (ex. dentro de

    casa, restaurante, escritório etc...) seria fundamental para deixar mais clara a

    questão. Da mesma forma, a adaptação da questão de número 19, dos exemplos

    em parênteses de (ex: Sair de repente) para (ex: Pensar e agir em seguida)

    demonstraria uma queixa recorrente destes pacientes na prática clínica devido a

    lentificação do processamento das respostas pela desmielinização subcortical dos

    pacientes com EM.

    Mais recentemente, Beaton e cols em 2002, revisaram as recomendações

    para a adaptação transcultural, propostas em 1993, objetivando ao alcance de

    equivalência baseada em conteúdo, além de outras propriedades de medida como

    consistência interna, validade e confiabilidade da versão traduzida para outros

    países, línguas ou culturas. As etapas do processo de adaptação transcultural,

    propostas por esses mesmos autores, e que nortearam o desenvolvimento deste

    estudo.

  • 55

    De acordo com Instrument Review Criteria (SAC), a adaptação transcultural

    de um instrumento exige a tradução para a língua desejada, que deve ser realizada

    por duas pessoas experientes no idioma. O questionário pode ser comparado com

    outro, que trate do mesmo assunto e que seja confiável e validado no país (Scientific

    Advisory Committee, 2002). O presente trabalho cumpre as exigências de adaptação

    transcultural do SAC. E após a tradução, mostrou linguagem simples e clara e

    manteve-se equivalente ao original no que tange aos seus conceitos culturais.

    A avaliação das propriedades de medida também constitui etapa

    fundamental no processo de adaptação transcultural e busca a compatibilidade

    entre a versão e instrumento original, no que tange a confiabilidade e validade.

    Na proposta de Beaton D et al, 2002, esta fase está embutida no pré-teste.

    Cada sociedade tem suas próprias crenças, atitudes, costumes,

    comportamentos e hábitos sociais, estas características dão as pessoas uma

    orientação de quem são, como devem comportar-se e o que devem ou não fazer.

    Essas regras ou conceitos refletem a cultura de um país e também o diferencia de

    outro (Guyatt GH, Feeny DH, Patrick DL, 1993; Ciconelli RM, 1999; Pavan K et al,

    2007; Caiuby AVS et al, 2012; Marangoni BEM, 2012), por isso, quando propomos a

    tradução de instrumento, este deve apresentar-se de forma simples e clara

    mantendo os conceitos culturais.

    A avaliação das propriedades de medida também constitui etapa fundamental

    no processo de adaptação transcultural e busca a compatibilidade entre a MSIS-

    29/BR e o instrumento original, MSIS-29, no que tange a confiabilidade e a validade.

  • 56

    A validade, por sua vez, está relacionada à extensão com a qual

    determinado instrumento realiza ou não à medida que se propõe medir. Quando

    um instrumento é válido, reflete verdadeiramente o conceito que deve medir

    (Goulart F, Pereira LX, 2005), e através da análise estatística do presente

    estudo, podemos afirmar que o instrumento em questão é válido e mede o que

    propõe a medir.

    A confiabilidade é definida como o grau de coerência e precisão com que

    determinado instrumento mede o atributo que se está propondo a medir. Quanto

    menor a variação produzida por um instru