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Ordem Hospitaleira de S. João de Deus LXVI Capítulo Geral Declarações Paixão pela Hospitalidade de S. João de Deus hoje no mundo 2 a 22 de Outubro de 2006

Paixão pela Hospitalidade de S. João de Deus hoje no mundo · 2007-10-17 · Analisámos e avaliámos a realidade com serenidade e objec-tividade, observando as muitas luzes que

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Ordem Hospitaleira de S. João de Deus

LXVI Capítulo Geral

Declarações

Paixão pela Hospitalidade de S. João de Deus hoje no mundo

2 a 22 de Outubro de 2006

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4 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

Ficha Técnica

Colecção: Documentos da Ordem – N.0 15

Título

Declarações do LXVI Capítulo Geral

da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus

Conteúdos

Cúria Geral da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus

Foto da Capa

S. João de Deus

Archivo-Museo Casa de los Pisa. Granada

Ano

2007

Edição

Editorial Hospitalidade

Província Portuguesa

da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus

Rua S. Tomás de Aquino, 20

1600-871 Lisboa

Tiragem

300 exemplares

Design

Connect International

Impressão e acabamento

MB&F

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5LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Índice

1. Apresentação .................................................................................................................................... 7

2. Discurso de abertura do Superior Geral ................................................................ 11

3. Instrumentum laboris do Capítulo Geral ............................................................... 27

4. Síntese do Relatório sobre o Estado da Formação na Ordem ........... 59

5. Declaração dos Colaboradores que participaram no Capítulo ......... 83

6. Discernimento e eleição do novo Governo Geral .......................................... 89

7. Prioridades da Hospitalidade para o novo sexénio .................................... 97

8. Propostas aprovadas .............................................................................................................. 107

9. Discurso de encerramento do novo Superior Geral .................................... 109

10. Carta de apresentação do Programa do sexénio .......................................... 127

11. Programação do sexénio 2006-2012 ......................................................................... 153

12. Biografias ............................................................................................................................................ 161

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7LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Apresentação

No dia 21 de Outubro de 2007 encerrou-se oficialmente em Roma o LXVI Ca-pítulo Geral da Ordem, que decorreu sob o lema: “Paixão pela Hospitalida-de de S. João de Deus hoje no mundo”. Nele participaram 82 Irmãos e 22 Colaboradores de todas as Províncias, além do Secretário, do Moderador do Capítulo, de uma Irmã religiosa que dinamizou o Discernimento na fase das eleições, da equipa de intérpretes e dos Colaboradores que auxiliaram a Se-cretaria – no total, 129 pessoas.

Foi uma experiência forte de Deus, marcada pelo encontro fraterno, pela abertura ao Espírito, a universalidade e a hospitalidade própria da Ordem de S. João de Deus. Analisámos e avaliámos a realidade com serenidade e objec-tividade, observando as muitas luzes que a nossa Ordem apresenta, sem ao mesmo tempo esconder as limitações e as sombras que temos que iluminar. Olhamos para o futuro, abertos ao Espírito do Senhor, sob o olhar do nosso Fundador, com o firme propósito de responder aos novos desafios que a Igre-ja e o mundo nos colocam, mas especialmente os que nos são apresentados pelas pessoas que sofrem.

As presentes Declarações recolhem os documentos e os momentos funda-mentais que vivemos no Capítulo Geral:

> Discurso de abertura do Superior Geral > Instrumentum laboris do Capítulo Geral > Síntese do Relatório sobre o Estado da Formação na Ordem. > Declaração dos Colaboradores que participaram no Capítulo. > Discernimento e eleição do novo Governo Geral.> Prioridades da Hospitalidade para o novo sexénio.> Propostas aprovadas.> Discurso de encerramento do novo Superior Geral.

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8 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

Trata-se de documentos e declarações importantes, que vos convido a estu-dar em detalhe, pois marcam o ponto de partida desta nova fase da Ordem, que se afigura cheia com esperanças, de oportunidades e desafios. O Conse-lho Geral teve-os em grande consideração ao fazer a programação do sexénio e devem constituir uma referência imprescindível para as Províncias nas res-pectivas programações dos próximos Capítulos Provinciais.

O Instrumentum laboris foi o documento fundamental sobre o qual traba-lhou o Capítulo Geral. Foi elaborado por uma Comissão pré-capitular, cons-tituída por Irmãos e Colaboradores, com as contribuições recebidas dos Encontros regionais, realizados nos primeiros meses de 2006, e do Encon-tro Internacional de Jovens Hospitaleiros que teve lugar em Granada, em Novembro de 2005.

Trata-se de um documento que analisa a realidade da Ordem e apresenta critérios e alternativas, alguns dos quais foram assumidos pelo Capítulo Geral. Pela sua clareza, boa aceitação e continuidade de trabalho, conside-rámos oportuno inclui-lo nestas Declarações, para que seja conhecido por todos e como apoio, pensamos, para a preparação dos próximos Capítulos Provinciais.

Síntese do Relatório sobre o Estado da Formação na Ordem. Trata-se de um estudo sociológico realizado pelo Instituto de Sociologia da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma. Foi apresentado ao Capítulo e é verdadeiramen-te um instrumento de muito interesse que devemos estudar e analisar cuida-dosamente para tomarmos as decisões e implementarmos as acções mais oportunas. A formação é um pilar fundamental da nossa vida, desde o início até o fim. A pastoral vocacional, a formação inicial e a formação permanente evidenciam algumas lagunas importantes que precisamos de enfrentar com determinação. Incluímos nas Declarações uma síntese desse extenso traba-lho que, depois de traduzido, será enviado integralmente às Províncias.

Prioridades da Hospitalidade. Com este título, referimo-nos ao documen-to conclusivo aprovado pelo Capítulo Geral, seguindo a estrutura proposta pelo Instumentum laboris. Indica as grandes linhas de acção e os objectivos fundamentais que deverão guiar a vida da Ordem nos próximos seis anos.

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9LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Apesar de se tratar de linhas gerais, apresentam questões bem concretas que nos afectam muito directamente. Foi a partir delas que o Conselho Geral elaborou a programação do sexénio para toda a Ordem e espera que sirvam também para a mesma programação ao nível das Províncias e das Regiões, às quais desejamos dar mais espaço no futuro, através de diversos encon-tros e reuniões previstos.

Presença dos Colaboradores. Este foi o Capítulo no qual participaram mais Colaboradores. Pela primeira vez estiveram representadas todas as Provín-cias. Juntamente com os Irmãos de todos os continentes, em aumento nal-guns deles, a sua presença foi um sinal forte da universalidade e globalidade da Ordem. A sua participação foi muito activa, sendo ao mesmo tempo um testemunho de amor e de serviço à Ordem e ao seu projecto de hospitalidade, segundo o estilo de S. João de Deus. Os Colaboradores disseram-nos que, para além da linguagem e de outras considerações, se sentem membros vivos e activos da Instituição, unidos aos Irmãos, disponíveis e comprometidos com o projecto de hospitalidade da Ordem.

Começámos um novo sexénio. Um tempo de graça e de esperança para cres-cer e renovar as nossas vidas – dos Irmãos e dos Colaboradores –, nos planos pessoal, comunitário e institucional. Estamos, por conseguinte, num tempo de Páscoa, para nascer de novo e para tornar novo e vivo o carisma da hospi-talidade que um dia inspirou S. João de Deus e que na actualidade nos chama e nos inspira. Abramos-lhe as portas do nosso coração para que nos inunde com a sua luz e a sua energia e para que possamos viver e manifestar apaixo-nadamente hoje no mundo a hospitalidade de S. João de Deus.

Ir. Donatus ForkanSuperior Geral

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11LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Discurso de abertura Ir. Pascual Piles Ferrando

1. INTRODUÇÃO

Bem-vindos a todos ao LXVI Capítulo Geral – Irmãos Capitulares, Conselheiros Gerais, Provinciais, Delegados Gerais, Vogais – para participar na celebração deste evento que temos de viver sob o olhar de Deus, da Virgem Maria e de todos os nossos santos e beatos, especialmente o nosso fundador, S. João de Deus.

Desde já dou as boas-vindas aos Colaboradores e Colaboradoras, que nos próximos dias virão compartilhar connosco os trabalhos capitulares e, com eles, ao moderador. Bem-vindos, igualmente, a quantos irão colaborar na Se-cretaria e ao grupo de intérpretes que nos facilitarão a comunicação mediante a tradução simultânea.

Muito obrigado a todos vós pelo trabalho realizado ao longo do sexénio; de modo particular, quero agradecer às Comissões Preparatórias, na sua dupla tarefa de preparar o “Instrumentum Laboris” e de organizar os aspectos logís-ticos, de forma que possamos trabalhar bem nestas três semanas.

Seis anos são um período adequado para múltiplas realizações.

Foram muitas as ligações e as situações que pudemos viver, nas minhas vi-sitas pelo mundo e em Roma, com o Conselho Geral, com a Comunidade da Via della Nocetta, da qual fazemos parte, e das outras duas comunidades da Cúria Geral – a da Ilha Tiberina e a da Farmácia do Vaticano.

A todos agradeço pelo apoio recebido e pela confiança depositada na minha pessoa em muitas ocasiões. Procurei ser fiel ao projecto de S. João de Deus, como primeiro responsável pela animação e pelo governo da Ordem, aplican-do critérios sadios e a minha maneira de ser pessoal.

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12 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

No início do sexénio, com o Conselho Geral, elaborámos o Calendário de ac-tividades, que procurámos respeitar na maioria dos seus pontos programá-ticos, apesar de alguns deles não terem sido concretizados – disso daremos conta ao avaliar a “Memória.”

Estou contente com a maneira como vivemos o sexénio. Houve muitas satis-fações, embora também não tenham faltado dificuldades. Se, por acaso, fui motivo de sofrimento para alguém, devido às minhas limitações e fragilidades, peço desculpa, tendo embora consciência de ter agido com rectidão e em res-posta ao que o Senhor pedia, a mim ou a nós, em cada circunstância. Vivemos aquilo que o Senhor tinha previsto desde sempre. Por tudo o que se viveu, dou graças a Deus.

2. LEMA E SENTIDO DO CAPÍTULO: “PAIXÃO PELA HOSPITALIDADE DE S. JOÃO DE DEUS HOJE NO MUNDO”

Nos Encontros preparatórios do Capítulo – no dos Jovens Hospitaleiros, em Granada, e nos quatro Regionais –, tivemos a oportunidade de poder reflectir sobre o lema e o sentido do Capítulo.

O lema foi adoptado por decisão do Conselho Geral, seguindo a linha tra-çada pelo Congresso sobre a Vida Consagrada, realizado aqui em Roma, em Novembro de 2004, e que teve por tema: “Paixão por Cristo, paixão pela hu-manidade”.

O Capítulo deveria ser para nós um momento de paixão. Sem exagerar, deve-ria ser realmente assim.

Este desejo de viver intensamente o facto de sermos hoje no mundo seguidores de João de Deus, sempre o compreendi na manifestação do nosso ideal, na forma de promover a vida das nossas comunidades e das nossas Obras Apostólicas, na renovação realizada, na refundação desejada.

Outra coisa é, depois, sermos capazes de encarnar este ideal.

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Queremos que o Capítulo seja um momento para confirmar a nossa paixão por Cristo, pela Igreja, pela humanidade, por João de Deus.

Como capitulares, somos chamados a reforçar as bases daquilo que é e significa a nossa missão, sobre as quais se traçam as linhas de acção em cada realidade concreta das Províncias, Delegações, Comunidades e Obras apostólicas. Com coragem e decisão, temos que nos propor, na medida das nossas possibilidades, avançar na tarefa de encarnar este ideal.

Os momentos vividos na preparação do Capítulo, quer no Congresso dos Jovens Hospitaleiros, em Granada, quer nos quatro Encontros Regionais – em Divinópolis (Brasil), Agoe-Nyivé (Togo), Dam-yang (Coreia do Sul) e Varsóvia (Polónia) –, foram momentos que podemos qualificar como apai-xonantes.

Foram belas experiências que é necessário depois procurar plasmar na vida quotidiana.

Nós temos que alcançar uma paixão baseada no princípio da realidade, mas que acredite no ideal, no sentido da Igreja, na hospitalidade de S. João de Deus e que quer fazer tudo quanto estiver ao seu alcance para a podermos viver hoje no mundo.

O sentido do nosso Capítulo deve traduzir-se, antes de mais, numa bela expe-riência para todos. É muito importante viver esta nossa Assembleia num clima de fé e de esperança.

Sabemos que a nossa vida, assim como a de Cristo, a de S. João de Deus, teologicamente falando, é mistério pascal, mas nos dois elementos que a constituem, Deus torna-se presente nela. Tanto naquilo que nos pode parecer que são sintomas de vida, como nos aspectos que se assemelham mais a elementos de morte.

Por conseguinte, todos somos chamados a viver o Capítulo como uma expe-riência de graça, que se tornará evidente naquilo que o Senhor quiser que vivamos aqui e no que decidirmos para o futuro.

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14 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

3. MOMENTOS SALIENTES DO SEXÉNIO

Quero começar por falar, na abertura, dos aspectos que considero terem feito bem à Ordem.

Foi um grande desafio e um grande sucesso termos conseguido publicar a Carta de Identidade da Ordem. Muitas pessoas intervieram na sua elabora-ção, mas foi um pequeno grupo que se responsabilizou mais directamente pelo trabalho.

O LXV Capítulo Geral aprovou-o e, desde então, foram muitos os momentos, nos nossos encontros e na nossa vida, nos quais fizemos referência ao seu texto. Temos ainda muito caminho a percorrer, mas dou graças a Deus pelo bem que, através da Carta de Identidade, Ele nos concedeu.

Um pouco mais tarde, em 2004, alcançámos outro grande objectivo com a pu-blicação do “Caminho de hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus: Espiritualidade da Ordem”.

Este trabalho foi muito mais laborioso. Apesar de o termos querido levar a cabo com urgência, foram no entanto precisos vários anos até o ter-mos nas nossas mãos. Também neste aspecto, penso que podemos estar satisfeitos.

Tivemos a possibilidade de o apresentar e entregar em quase todos os Capí-tulos Provinciais de 2004. Também este é um documento para ser traduzido em prática.

Não sei se somos demasiado pretensiosos; contudo, num dos Encontros Re-gionais, ouvi dizer: “Já não precisamos de mais documentos; temos doutrina que chegue. O que é preciso agora é vivê-la”.

Este documento apresenta-nos todo um caminho de crescimento humano e espiritual a percorrer, apontando para uma identificação com o Cristo miseri-cordioso e com João de Deus. Tomá-lo a sério, fortalecê-lo em nós e promovê-lo fará muito bem a todos – Irmãos, colaboradores, doentes e necessitados.

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Para mim, foram bons momentos também os Exercícios Espirituais que orientei.

Foram oito, os exercícios que preguei, baseando-me nas Cartas de S. João de Deus: seis em Roma, para os Irmãos que se preparavam para profissão sole-ne, e dois na Província da Polónia.

Preguei outros cinco: dois na Província Lombardo-Véneta, partindo, respec-tivamente da “Carta de Identidade” e da Instrução “Partir de Cristo”; um na Província de Aragão, com textos do Congresso sobre a Vida Religiosa, apli-cados à nossa vida; e outros dois em Portugal, sobre o tema “Caminhar com S. João de Deus”, por ocasião do IV Centenário da presença da Ordem em Portugal.

Foram treze encontros de Exercícios que me permitiram aprofundar certos tó-picos, rezar, descansar, fazer silêncio, estar com os Irmãos e, em certos casos, com alguns colaboradores.

Creio que foi importante para a Igreja e para nós, a doença e o falecimento de João Paulo II, com todas as repercussões interiores que o acontecimento teve nas pessoas, que reconheceram nesse Papa um grande profeta, um grande líder, um pastor que viajou pelo mundo com uma grande experiência de Deus e um grande desejo de entrar no coração de cada pessoa.

A sua morte teve um grande impacto. Foi enorme o afluxo de pessoas que quiseram marcar presença em Roma para estar perto dele, para o ver, para lhe dizer adeus e participar, rezando, no seu funeral. Todos os dias continua a formar-se uma fila de pessoas que desejam prestar-lhe homenagem junto do seu túmulo.

Mais tarde, o Senhor concedeu-nos o Papa Bento XVI. Uma pessoa simples, teólogo, com uma capacidade de aproximar as pessoas do mistério e da te-ologia, com um grande desejo de que a salvação chegue a todas as pessoas, reservado, humilhe, com uma grande proximidade pessoal às pessoas que encontra, independentemente de serem menos numerosas do que as que conseguiam entrar em contacto com João Paulo II.

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O seu desejo de corrigir as imperfeições da Igreja e da sociedade, “limpando--as” de certas incrustações, possivelmente não passará de um desejo mas, pelo menos, tentará fazer com que essa “limpeza” se concretize.

Pouco a pouco, vamos descobrindo-o como infatigável. É reconhecido como uma pessoa que busca a verdade, e procurará fazer que esta verdade se encarne na vida das pessoas, nele mesmo, na Cúria romana, na Igreja, em todo o mundo.

4. ATITUDES QUE QUIS MANTER NO MEU SERVIÇO COMO GERAL

Trabalho desde há dezoito anos na Cúria Geral, doze dos quais como Geral. Refiro-me agora ao último sexénio, do qual quero falar, mas sem o desligar dos dois períodos anteriores.

Comecei o exercício do meu mandato com o lema “Fortitudo Caritatis”, a força da caridade. Acreditei sempre nela, tentei sempre vivê-la, de modo sereno, com equilíbrio, de maneira sincera, com paciência.

Termino o sexénio proclamando que a caridade é o aspecto mais importante da nossa vida e que desejo sempre vivê-la com força.

Dou graças a Deus pela experiência de me ter sentido acompanhada por Ele. O contacto com Deus, através da oração e da vida, foi para mim um dom.

Procurei diariamente ser fiel aos meus momentos de oração, normalmente regulares, quando me encontrava na Via della Nocetta ou nas comunidades, e menos regulares quando me encontrava em viagem ou a participar em certos actos que o impediam.

Ambos os espaços me ajudaram a encontrar a Deus no mistério, nos seus sacramentos, na oração pessoal e comunitária.

Ajudaram-me a captar a sua presença na vida, tanto nos acontecimentos que podem parecer mais banais, como noutros mais profundos, mas que são vi-vências e sentimentos de pessoas e de situações.

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Certos congressos que permitiram reflectir sobre a missão, certos encontros com doentes, e com os Irmãos e colaboradores que lhes prestam assistência, ajudaram-me a reconhecer a Deus na realidade, a vê-lo com os olhares e os rostos de certas pessoas.

Dou graças a Deus por estas manifestações. Todos os dias me senti acompa-nhado por Deus e por S. João de Deus. Continuo a sentir a sua proximidade nestes dias e espero sempre vivê-la. Obrigado.

Tentei sempre manter um espírito de discernimento.

A vida não é hoje tão dependente de regulamentos como foi no passado: par-timos de um ideal, de critérios que, para serem aplicados em cada situação, exigem tempo de reflexão, de oração, partilha com os outros, para se chegar a concretizá-los nas decisões.Pedi muitas vezes ao Senhor sabedoria, não no sentido de saber muitas coi-sas, mas a chamada “sabedoria bíblica”, que se caracteriza pelo bom senso, nos leva a tomar decisões acertadas, procurando ser servidores fiéis da causa de Cristo e da sua Igreja.

Como já referi noutras ocasiões, por duas vezes estive na Congregação da Doutrina da fé, em busca de esclarecimento para casos muito concretos no nosso modo de actuar no campo do Bioética.

Tentei ser fiel à Direcção Espiritual, com uma frequência prudente. Por vezes, abordei apenas temas pessoais, mas, noutras, dediquei estes momentos a temas da Ordem e das suas pessoas, para os quais precisava de luzes.

Tudo isto me ajudou a levar a cabo um serviço à verdade, partindo da verdade objectiva, que integra a verdade existencial, que ilumina a realidade e que se deixa esclarecer por ela.

O serviço de animação e governo, cada um ao seu nível, requer muita procura da verdade, partindo da Revelação, do Magistério da Igreja, das reflexões te-ológicas e filosóficas, do confronto com a realidade.

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18 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

A nossa realidade é muito diversificada, conforme os lugares onde nos encon-tramos, devido às pessoas que encontramos, às diferentes culturas e legisla-ções em cujo âmbito temos que actuar.

É no meio deste mundo, como João de Deus e como Jesus de Nazaré, que temos de realizar um serviço evangelizador, sem imposições, respeitando a maneira de ser dos outros, os seus ritmos, mas convictos daquilo que somos e do que somos chamados a testemunhar.

Nos nossos Encontros Regionais, não só nos deste ano, mas também nos que realizámos em 2003, surgiu o tema da Bioética como uma realidade que é ne-cessário aprofundar, sobre a qual precisamos de ter uma boa formação, e que temos de abordar, à luz do Magistério e das nossas consciências, as situações em que muitas pessoas se encontram.O nosso desafio consiste em que todos continuem apostados em levar a cabo um verdadeiro serviço à verdade em defesa da vida.

O facto de ter procurado manter esta postura ajudou-me, em muitas circuns-tâncias, a levar a cabo a tarefa de mediação.No desempenho das nossas funções de responsabilidade, apresentaram-se elementos canónicos sobre os quais, pessoalmente ou com o Conselho Geral, tivemos que decidir. Por outro lado, encontrei outras situações que, pela sua gravidade e urgência, obrigavam a tomar decisões imediatas. Mas, muitas vezes, é preciso tentar mediar perante posições consolidadas, procurando respeitar as partes envolvidas.

Eu sempre quis ser um bom mediador. Agradar a todos é impossível. Tentei ter uma postura evangélica, de caridade, comportar-me com equilíbrio, com serenidade. Possivelmente, nem sempre o consegui. Tentei agir por Cristo, falar através da minha vida, não pensando em mim, mas nos outros, fazendo com que o meu eu perdesse relevância e que essa atitude fosse um factor verdadeiramente libertador.

Tive uma grande preocupação em dedicar-me com generosidade ao trabalho normal. Por vezes, senti-me sobrecarregado de actividades e, por assim dizer, angustiado por não poder responder afirmativamente a todas as solicitações

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19LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

que recebi para estar presente em actividades que aconteciam ao mesmo tem-po. Apesar disso, considero ter dado muitas respostas e estou grato ao Senhor porque fui tendo saúde e força para responder às solicitações que pude.

Com humildade, dou graças a Deus por tudo isso.

Provavelmente, há pessoas que precisam de uma equipa para elaborar e gerir a própria agenda. No meu caso, elaborei pessoalmente os discursos, as homilias, as cartas periódicas, as apresentações de livros, as interven-ções em comissões, as aberturas e encerramentos de reuniões ou dos pró-prios capítulos, a preparação dos esquemas para os Exercícios Espirituais, a correspondência pessoal: de tudo me ocupei pessoalmente, realizando o trabalho com muito cuidado, e levando-o a cabo com muito prazer.

Procurei sempre ter um espírito positivo face à realidade. Tentei ser verda-deiramente um animador, mas não pude chegar a todo lado nem a todas as pessoas da mesma maneira.

No âmbito universal, presidi aos Capítulos Provinciais, assumi as visitas ca-nónicas previstas e mais algumas que realizei, visitei quase todos os países e a maioria das Casas, embora tenha que reconhecer que cerca de 30 casas não receberam a minha visita e não fui a quatro países: Israel, Nova Zelândia, República dos Camarões e Ucrânia. A alguns deles, no momento previsto não parecia oportuna a visita, e posteriormente não se proporcionou a ocasião. Lamento, mas não consegui fazer mais.

Procurei sempre manter um espírito positivo naquilo que pode ser um serviço de animação, embora nalgumas circunstâncias tivesse que agir com lucidez e decisão.

5. DA “IMAGINAÇÃO DA CARIDADE” A “DEUS CARITAS EST”

A nossa vida deve ser evangelizadora, temos que ser os anunciadores do amor de Deus e todas as pessoas, especialmente as que vivem com dificul-dades.

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20 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

Os últimos anos do Pontificado de João Paulo II foram marcados por muitos temas basilares para a vida cristã; entre eles, porém, a caridade mereceu um tratamento especial.

Em vários documentos, falou da fantasia da caridade (Partir de Cristo, 4), da criatividade na caridade (Partir de Cristo, 36), da imaginação na caridade (Novo Millennio Ineunte, 50 e Partir de Cristo, 36), da força da caridade (Vita Consecrata, 88), e afirmou que a nossa vida deve ser uma epifania do amor de Deus (Partir de Cristo, 36).

Para nós, para mim, este é um desafio total. Deus amou sempre, Cristo amou sempre, João de Deus manifestou-se como o santo da caridade. É um grande chamamento.

Bento XVI quis dedicar a primeira encíclica do seu Pontificado ao tema do amor – “Deus caritas est”. Recordou a todos os cristãos a profundidade do amor cristão: eros, amor afectivo, sexual; philia, o que manteve com os seus discípulos; ágape, o banquete da fraternidade (Cf. Deus caritas est, 3).

O Papa dá-nos sugestões sobre como devemos actuar nas instituições atra-vés das quais queremos realizar a caridade de Deus mediante a nossa en-trega aos demais. Recorda-nos que a caridade evangeliza por si mesma (cf. Deus caritas est, 31c), lembra-nos que, apesar de a evangelização precisar, de forma conjunta, da celebração da fé, da Palavra e da Caridade, há momentos em que cada uma delas faz sentido por si mesma e que, no nosso caso, é re-velador que tenha reafirmado que a caridade evangeliza para si mesma.

Impressionou-me muito a clareza destas expressões e gostaria que elas se tornassem vida em mim e na Ordem, de forma que, como João de Deus, seja-mos testemunhas através da caridade e do serviço prestado aos outros.

Sinto-me muito feliz por ter escolhido como lema do meu serviço como Geral da Ordem a expressão: “A força da Caridade”.

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21LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

6. PROJECÇÃO E DESAFIOS A ENFRENTAR

O Capítulo é um momento para analisar e avaliar tudo quanto vivemos duran-te estes últimos seis anos.

Sem pretender ser exaustivo, e sem deixar de pensar no Capítulo, assim como referi alguns aspectos que vivi durante estes seis anos, que agora terminam, apresento também alguns tópicos relativamente aos desafios que julgo a Or-dem terá de enfrentar no futuro.

Começo por falar primeiro de três deles, relacionados com a vida dos Irmãos. Não se trata de nenhuma novidade, mas não os podemos deixar cair no es-quecimento. Temos que responder ao chamamento que Deus continua a di-rigir à Ordem, nos dias de hoje, através da nossa vida, e enfrentá-los com estratégias concretas:

> É importante valorizar e ter sempre presente o tema da vida espi-ritual como algo que é essencial na nossa vida. Insistimos sempre neste aspecto, mas continuo a ver a necessidade de crescer em convicção e de progredir no facto de sermos pessoas de oração profunda. Para vivermos bem, como religiosos, é fundamental manter uma ligação pessoal profunda com Cristo. Devemos ser pessoas que conhecem intimamente Jesus. Sem uma base espiri-tual robusta não é possível persistir muito tempo nas exigências da nossa vida. Pelo conhecimento que tenho da Ordem, posso afirmar que há muitos Irmãos cheios de Deus, que são um tes-temunho de vida espiritual que se reflecte nas manifestações da vida de cada dia; noutros, pelo contrário, encontrei carências a este respeito.

> O nosso modo de ser comunidade é um aspecto que precisa de ser melhorado: conhecer-se, aceitar-se, respeitar-se, amar-se recipro-camente e, se for necessário, reconciliar-se, torna-se um processo global da nossa vida e deveríamos ser capazes de eliminar todo e qualquer bloqueio que possa surgir nas relações pessoas entre os Irmãos de uma comunidade.

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22 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

> É muito grande hoje a nossa preocupação pelas novas vocações e pela capacidade de as formarmos bem. Não somos os únicos que estamos nesta situação, mas o certo é que somos chamados a vi-ver muito bem hoje o ideal e somos chamados a atrair outras pes-soas que aceitem vivê-lo. A Ordem tem que assumir um grande desafio urgentemente como linha de acção prioritária. O futuro da Ordem depende em grande parte das novas vocações que for-mos capazes de promover, acolher e formar. Nesta tarefa, e nesta responsabilidade pelo futuro, são fundamentais a vida espiritual, pessoal e comunitária dos Irmãos, a experiência de uma vida de família que se caracterize pela fraternidade em comunidade, e uma vivência forte da missão hospitaleira.

Por outro lado, temos os desafios e exigências da missão. Há lugares da Ordem no mundo onde se continua a crescer, mas em muitos outros so-mos chamados a incrementar os nossos serviços ao mesmo tempo que o número de Irmãos é cada vez menor e aumenta a sua idade. Temos que ser capazes de enfrentar os desafios que esta realidade nos coloca. No-meadamente,

> Em toda a parte somos chamados a promover entre os Irmãos e os colaboradores, entre a Ordem e os seus membros, relações inter-pessoais que sejam positivas e caracterizadas pela Doutrina Social da Igreja e pelo espírito de S. João de Deus, plasmado na Carta de Identidade.

> Conforme está previsto no “Instrumentum Laboris”, creio ser muito necessário hoje conseguir uma estratégia para a transmissão dos valores da nossa tradição, nos quais haja uma reciprocidade de in-tegração axiológica.

> Em toda a parte somos chamados a viver promovendo a cultura da vida e rejeitando com coragem e audácia a cultura da morte. Para isso, precisamos de ter formação em Bioética e tentar viver, como já disse, o nosso serviço à verdade.

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23LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

> Para a Ordem, a gestão carismática das Obras constitui sempre um grande desafio: trata-se de um compromisso do qual, apesar de ser difícil, não podemos prescindir. Bento XVI recorda-nos a ne-cessidade do profissionalismo que devemos ter no nosso trabalho, mas fala também da necessidade de uma “formação do coração” (Deus caritas est, 31a): é preciso que “o coração mande” naquilo que deve mandar, e que a inteligência e a criatividade produzam os critérios necessários nesse sentido.

> Com o bom senso comum, temos a exigência de promover sempre a evangelização mediante o exercício da caridade, sempre, e, nou-tras ocasiões, com os outros dois elementos que a complementam: o anúncio da Boa Nova e a celebração da nossa fé, que promovere-mos adequadamente nos serviços pastorais em cada um dos nossos centros.

7. SENTIMENTOS NESTE PERÍODO DE GOVERNO E ANIMAÇÃO

Termina um sexénio. Uma vez mais, demos graças a Deus.

Pessoalmente, agradeço a Deus por ter confiado em mim para este serviço e por me ter ajudado todos os dias, durante estes 12 anos. Quis vivê-los como Ele tinha previsto. Algumas vezes, custou-me aceitá-lo.

Como já disse, governar exige capacidade de discernimento e de decisão. Temos que proceder com uma dimensão carismática. Procurei dar a minha resposta, combinando a dureza de certas posições com a bondade que consi-derava ser necessária por sermos filhos de S. João de Deus.

Para animar, é preciso estar animados. Não é possível manter sempre a mesma boa disposição. Nem sempre isso é possível, mas uma das tarefas que, do ponto de vista humano e espiritual, procurei cumprir durante este período foi a de ter equilíbrio, ter serenidade. Considero que essa foi uma grande característica de S. João de Deus. Procurei fazer que as coisas, tanto

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as favoráveis como as adversas, não me afectassem demasiadamente. Pro-curei fazer com que o meu estado de espírito dependesse mais da minha força interior do que do facto de me sentir afectado, positiva ou negativa-mente, pelas emoções.

Por quanto consegui fazer, agradeço a Deus e ao nosso fundador, S. João de Deus.

Agradeço ao Conselho Geral e ao Secretário. Em conjunto, compartilhámos a vida na animação e no governo da Ordem, em conjunto percorremos o caminho partilhando alegrias, satisfações, esperanças e dificuldades. Con-seguimos trabalhar mantendo a unidade na diversidade. Somos muito dife-rentes, temos culturas diferentes, conforme a nossa cultura europeia ou de outros continentes. Não encontrei nas pessoas essas diferenças, mas sim nos critérios de vida e na maneira de ser de cada um de nós.

Muito obrigado a toda a Ordem e, de modo particular, a todos vós, capitula-res; com alguns de vós trabalhei no Conselho Geral durante estes seis anos; com outros, quer como Provinciais, quer como Irmãos incumbidos de outras responsabilidades, com todos, trabalhei e compartilhei diversos momentos. Um agradecimento especial aos Irmãos, colaboradores, doentes, e a todas as pessoas que participaram nos nossos programas e serviços, com muitos dos quais tive a oportunidade de entrar em contacto. De uma maneira ou de outra, todos me ajudaram.

Considero que este foi um tempo de grande crescimento pessoal. Gostaria que o mesmo sucedesse com cada um de vós. Gostaria que continuasse a ser assim onde quer que Deus disponha. O meu tempo canónico terminou. Além da lógica do Direito canónico pode haver outras lógicas, mas temos que as discernir bem, no momento oportuno, numa atmosfera de fraterni-dade e de oração que permita descobrir qual é a vontade de Deus acerca da Ordem face ao futuro.

Obviamente, eu não pretendo nada. Quando chegam momentos como estes, falamos muito. É normal. S. João de Deus dizia-o à Duquesa de Sesa, na sua 2ª Carta: “Deus sabe melhor do que nós podemos pensar o que faz e nos

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convém” (5). S. Inácio, que também é do seu tempo, escreveu uma frase muito bela: “O melhor é não querer nem desejar mais do que Ele quer e deseja para nós”.

Estamos todos nas mãos do Senhor. Vivamos com paz o Capítulo. Na devida altura, Ele vai manifestar-Se.

8. CONCLUSÃO

Fiz muitas alusões à caridade e quero terminar primeiro com uma nova alusão.

Francisco de Castro, o primeiro biógrafo de S. João de Deus, revela que era tanta e tão grande a caridade com que nosso Senhor tinha dotado o Seu ser-vo, que alguns não compreendiam como “o tinha metido na adega do vinho e ali estabelecido nele a sua caridade, e que dessa maneira o tinha embria-gado do seu amor”… (Cap. XIV), levando-o a agir consequentemente. Peço ao Senhor que nos meta também a nós na sua adega e que nos ordene e nos embriague do seu amor.

O Congresso sobre a vida Religiosa, realizado em Roma, em 2004, teve dois ícones fundamentais: o da samaritana do poço, a quem Jesus deu de beber a água viva, e o da parábola do bom samaritano, explicada ao letrado, com o convite a que ele procedesse da mesma forma.

Peço também ao Senhor que nos ajude a todos, como fez com João de Deus, a sermos bons samaritanos.

Que Maria, Mãe do Bom Conselho, que acompanhou os apóstolos no Cenáculo aguardando o Pentecostes, nos acompanhe e presida ao nosso LXVI Capítulo Geral, e que ele seja para nós e para a Ordem um momento de crescimento na paixão por Cristo, na paixão pela humanidade, na paixão pela hospitalidade de S. João de Deus hoje no mundo.

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Instrumentum laboris

“…assumem particular importância os «Capítulos», tanto particulares como gerais, onde cada Instituto é chamado

a eleger os Superiores ou Superioras, segundo as normas estabelecidas pelas respectivas Constituições, e a discernir, à luz do Espírito, as modalidades adequadas para proteger

e renovar, nas diversas situações históricas e culturais, o próprio carisma e património espiritual”.

(Vita Consecrata, n. 42)

APRESENTAÇÃO

O presente instrumento de trabalho pretende ser um esboço de estudo e re-flexão, para os participantes, sobre os temas a serem abordados no Capítulo. Foi redigido pela Comissão Preparatória e baseia-se em quanto foi elaborado pelo Governo Geral da Ordem, pelo Congresso Internacional dos Jovens Hos-pitaleiros (Granada, Novembro de 2005) e pelas quatro Conferências Regio-nais realizadas em 2006 na América, África, Ásia-Pacífico e Europa, e também retirado dos resultados da sondagem sobre o estado da Formação na Ordem, que foi encomendada pela Cúria Geral ao Instituto de Sociologia da Universi-dade Pontifícia Salesiana.

O texto é formado por quatro secções que tratam, respectivamente, dos qua-tro grandes temas, articulados de diferentes formas, que serão objecto da reflexão capitular. Esses temas são:

1. Vida dos religiosos A – Pastoral vocacional B – Formação inicial e permanente C – Vida fraterna e novas formas de comunidade

2. Missão da Ordem A – Gestão carismática B – Integração religiosos/colaboradores C – Transmissão dos valores da Ordem

3. Colaboração (networking)4. Aspectos jurídicos

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As reflexões que se fazem num Capítulo Geral são fruto, por um lado, da si-tuação da Ordem naquele momento histórico concreto, e, por outro lado, do confronto com o carisma específico do Fundador guardado no seio da Igre-ja. Para cada tema, por conseguinte, no espírito daquele “retorno às fontes” (ressourcement) já auspiciado pelo Concílio Vaticano II, são aqui propostas algumas referências às principais “fontes” de inspiração:

> A Palavra de Deus revelada na Sagrada Escritura;> O Magistério da Igreja que dessa Palavra

se faz intérprete e guardiã;> A vida, as obras e os escritos de S. João de Deus;> As Constituições e os Estatutos Gerais e, para aspectos

jurídicos específicos, também o Código de Direito Canónico;> Os documentos da Ordem, de modo particular a Carta

de Identidade e o Caminho de Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus.

Sucessivamente, para cada um dos quatro temas, são propostas algumas pis-tas de reflexão elaboradas pela Comissão Preparatória do Capítulo. Para cada ponto proposto são evidenciadas algumas frases-chave que sublinham o seu elemento fundamental.

1 . VIDA DOS RELIGIOSOS

REFERÊNCIAS

“Vede como é bom e agradável que os irmãos vivam unidos!” (Sal 133,1).

“Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai” (Jo 15, 15).

“Todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à ora-ção, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus (Act 1, 14).

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29LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

“À vida consagrada pertence seguramente o mérito de ter contribuído efi-cazmente para manter viva na Igreja a exigência da fraternidade como con-fissão da Trindade. Com a incessante promoção do amor fraterno, mesmo sob a forma de vida comum, a vida consagrada revelou que a participação na comunhão trinitária pode mudar as relações humanas, criando um novo tipo de solidariedade. Deste modo, ela aponta aos homens quer a sublimi-dade da comunhão fraterna, quer os caminhos concretos que a esta condu-zem” (Vita Consecrata, 41).

“Foi tão grande o exemplo de vida que deixou João de Deus, e tanto agradou a todos, que muitos se animaram a imitá-lo e a seguir as suas pisadas, ser-vindo Nosso Senhor nos seus pobres, exercitando-se na missão hospitaleira” (Castro, Biografia, Cap. XXIII).

“A casa está aberta para vós. Queria ver-vos chegar o melhor possível, como filho e irmão” (Carta a Luís Baptista, 11).

“As grandes correntes do pensamento filosófico e teológico deverão consti-tuir os pilares fundamentais da formação, na qual o carisma da Ordem e o seu conhecimento profundo deverão inspirar as atitudes e os comportamentos a favor dos pobres e dos necessitados” (Carta de Identidade, 6.1.1.)

“Chamados por Jesus para vivermos com Ele como amigos, estimulamo-nos reciprocamente a cumprir o mandamento do Senhor de nos amarmos como Ele nos ama e esforçarmo-nos por manter a unidade que o Espírito cria na vínculo da paz” (Constituições, 36).

PISTAS DE REFLEXÃO E PROPOSTAS

A – Pastoral vocacional

1.1. Coloca-se com urgência o problema das novas voca-ções que é desde há já muitos anos motivo de atenção por parte da Ordem e que hoje deve considerar-se uma prioridade absoluta. Num contexto global, o número

Novas

vocações

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dos religiosos tem vindo constantemente a diminuir de ano para ano, os novos candidatos são insuficientes para substituir os Irmãos que morrem e os que aban-donam a Ordem. A média das idades dos religiosos aumenta notavelmente, embora com várias diferenças nas diversas partes do mundo. Neste sentido, pode-ria haver uma certa “tentação fideísta”, alegando que tudo depende da vontade de Deus. Sendo embora ver-dade que a vocação corresponde a um chamamento di-vino, não podemos deixar de procurar descobrir novas estratégias de pastoral vocacional e tornar atractiva a proposta vocacional de vida consagrada dentro da Or-dem Hospitaleira, sabendo que um dos instrumentos privilegiados e imprescindíveis para isso é o testemu-nho de uma vida hospitaleira alegre e fecunda por par-te de cada religioso de S. João de Deus, que se torna exemplo e estímulo para novas vocações. No plano das estratégias concretas, é necessário:

> privilegiar a pastoral e os animadores vocacio-nais, de modo particular nas Províncias onde esta é mais carente;

> constituir comissões especiais e animadores vo-cacionais;

> inserir-se nos ambientes juvenis (escolas, asso-ciações, voluntariado, etc.);

> utilizar os meios de comunicação social;

> promover a possibilidade de animação voca-cional também nos Países em que a Ordem não está actualmente presente.

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B – Formação inicial e permanente

1.2. A formação é absolutamente necessária para se viver a consagração hospitaleira e responder à missão evan-gelizadora para a qual somos enviados. É preciso que todos os religiosos estejam convencidos disto e abertos à renovação que pode derivar da formação. A Ordem, e cada um dos seus religiosos, têm que empenhar-se para alcançar e pôr em prática uma sólida formação humana, teológica, pastoral e profissional. No que diz respeito à formação teológica, em particular, é necessário que esta esteja em sintonia com a eclesiologia do Concílio Vaticano II. É importante, acima de tudo, empenhar-se na formação inicial dos novos candidatos, com o pro-pósito de alcançar o nível de formação específico para inculturar e testemunhar a hospitalidade de S. João de Deus no contexto actual, permanecendo abertos e sa-bendo dialogar de modo competente com os colabora-dores dos nossos Centros. É necessário empenhar-se para levar à prática os conteúdos do texto publicado pela Ordem “Projecto Formativo dos Irmãos de S. João de Deus”. Em concreto, é oportuno:

> encontrar estratégias para o intercâmbio de pessoal formativo entre as várias Províncias e constituir noviciados interprovinciais;

> promover uma adequada “formação dos forma-dores”;

> avaliar se a formação actual dos religiosos está em sintonia com o papel para o qual so-mos chamados em termos de missão, isto é, sermos parceiros credíveis, animadores, com-panheiros e líderes na hospitalidade/missão da comunidade juntamente com os leigos;

Formação

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> demonstrar um estilo de liderança que seja mais “de serviço” do que de poder e controle;

> encontrar líderes leigos capazes de desempe-nhar papéis cimeiros e que também o possam ser no âmbito formativo;

> predispor instrumentos adequados, tais como: planos e programas de formação (geral, para toda a Ordem, e específicos, para cada Provín-cia); textos específicos, uma utilização mais alargada da Internet.

C – Vida fraterna e novas formas de comunidade

1.3. A vida fraterna constitui uma das bases essenciais da nossa consagração hospitaleira. Somos chamados a sermos sinal de comunhão e hospitalidade evangélica no meio de um mundo no qual frequentemente predo-minam a desunião e a hostilidade. Tendo em conta das diversas realidades da Ordem, sublinhamos seguida-mente alguns aspectos da vida comunitária que preci-sam de ser revitalizados:

> cuidar da vida espiritual é uma condição fun-damental para o desenvolvimento da vocação. É preciso vivê-la com maior profundidade, e não em níveis mínimos, cultivando de modo particular a oração pessoal e comunitária. Nesta base, será possível crescer na fraterni-dade comunitária como indica “O Caminho de Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus: espiritualidade da Ordem”;

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33LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

> ser responsáveis em viver de modo íntegro e exigente a própria consagração hospitaleira e corresponsáveis na construção da comunida-de fraterna;

> acolher, compreender, cuidar e acompanhar os religiosos em idade avançada sem descui-dar, ao mesmo tempo, a contribuição criati-vo dos jovens, necessária para manter viva a Ordem no nosso tempo, numa reciprocidade fraterna;

> crescer na comunhão através do diálogo e da comunicação habitual entre os religiosos so-bre a vida, a fé e a experiência de Deus, a mis-são hospitaleira, etc.;

> revitalizar a figura do superior como animador da comunidade e/ou da obra apostólica, ela-borando um perfil específico que apresente os seus requisitos essenciais.

1.4. Tendo presente a realidade estatística da Ordem, a vas-ta missão da hospitalidade, as actuais orientações da Igreja sobre a vida consagrada e ainda a situação con-creta de cada região da Ordem, é oportuna e necessá-ria a abertura e a disponibilidade para experimentar ou reconhecer novas formas de vida comunitária que, com base nos nossos Estatutos Gerais (cf. n. 49), permitam uma adequação e actualização da vida comunitária se-gundo as novas exigências de hoje. Considerando que a comunidade é para a missão, deveria ser definida pela “missão hospitaleira da Ordem”, em sentido lato, mais do que pela ligação exclusiva a um determinado Centro. Poderão portanto existir:

Novas formas

de vida

comunitária

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34 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

> comunidades abertas a partilhar diferentes as-pectos da sua vida com aqueles colaboradores que o desejarem, para além dos doentes e hós-pedes: por exemplo, estes aspectos poderiam ser “experiências religiosas” organizadas e pre-paradas de modo particular;

> comunidades intercongregacionais (com religio-sos de outros Institutos de Vida Consagrada ou Sociedades de Vida Apostólica) ou ecuménicas (com elementos pertencentes a outras confis-sões cristãs);

> comunidades temporárias, tendo por fim a ani-mação de projectos específicos de hospitalida-de, dentro e fora da Ordem, que se dissolvem quando terminar o projecto.

1.5. No âmbito destas inovações deve ser ponderada a possi-bilidade de um compromisso mesmo só temporário por parte de algumas pessoas que queiram compartilhar a vida de comunidade.

1.6. A missão apostólica da comunidade no Centro é a evan-gelização, no espírito e segundo o exemplo de S. João de Deus. Cada Irmão deve ser testemunha do carisma hospitaleiro no trabalho que desenvolve, com as suas atitudes, a sua de competência profissional e o seu compromisso. É principalmente desta forma que a co-munidade recebe a sua autoridade moral.

1.7. A fim de que os religiosos estejam activamente empe-nhados no próprio serviço, seria oportuno que fossem informados acerca dos principais eventos e directivas do Centro por parte da Direcção, à qual a Comunidade deve prestar a sua ajuda e o seu apoio na protecção

Compromisso

temporário

Evangelização

Comunicação

e informação

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dos princípios e dos valores da Ordem, sabendo bem que a Direcção assume a responsabilidade pelo Centro por encargo do Superior Provincial.

2. MISSÃO DA ORDEM

REFERÊNCIAS

“Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: «O Reino de Deus já está próximo de vós»” (Lc 10,8-9).

“O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo?” (Lc 12, 42)

“À imagem de Jesus, dilecto Filho «a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo» (Jo 10,36), também aqueles que Deus cha-ma a seguir Cristo são consagrados e enviados ao mundo para imitar o seu exemplo e continuar a sua missão. Valendo fun-damentalmente para todo o discípulo, isto aplica-se de modo especial àqueles que são chamados, na característica forma da vida consagrada, a seguir Cristo «mais de perto» e a fazer d’Ele o «tudo» da sua existência. Na sua vocação, portanto, está incluído o dever de se dedicarem totalmente à missão; mais: a própria vida consagrada, sob a acção do Espírito Santo que está na origem de toda a vocação e carisma, torna-se missão, tal como o foi toda a vida de Jesus. A profissão dos conselhos evangélicos, que torna a pessoa totalmente livre para a causa do Evangelho, revela a sua importância também sob esde este ponto de vista” (Vita Consecrata, n. 72).

“Aos Institutos de vida activa aponto os espaços imensos da caridade, do anúncio evangélico, da educação cristã, da cultura e da solidariedade com os pobres, os discriminados,

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os marginalizados e os oprimidos. Tais Institutos, tendam ou não para um fim estritamente missionário, devem-se interro-gar sobre a sua possibilidade e disponibilidade de alargar a própria acção, para expandir o Reino de Deus. Este apelo foi acolhido, nos últimos tempos, por bastantes Institutos, mas queria que fosse tido em meIhor consideração e mais adequa-damente actuado por um autêntico serviço. A Igreja deve dar a conhecer os grandes valores evangélicos de que é portadora; ora, ninguém os testemunha mais eficazmente, do que aquele que faz profissão de vida consagrada na castidade, pobreza e obediência, numa total doação a Deus e na plena disponibili-dade para servir o homem e a sociedade, segundo o exemplo de Cristo” (Redemptoris Missio, 69b).

A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos Sacramentos (leiturgia), serviço da caridade (diakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros (25a). Praticar o amor para com as viúvas e os órfãos, os presos, os doentes e necessitados de qualquer género pertence tanto à sua essência como o ser-viço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho (22). Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de actividade de as-sistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência (25). Por isso, é muito importante que a ac-tividade caritativa da Igreja mantenha todo o seu esplendor e não se dissolva na organização assistencial comum… (31). É dever das organizações caritativas da Igreja reforçar de tal modo esta consciência nos seus membros, que estes, atra-vés do seu agir – como também do seu falar, do seu silêncio, do seu exemplo –, se tornem testemunhas credíveis de Cristo (31c) (Deus caritas est).

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“A uns dava pronta e alegremente, a outros animava-os com palavras amoráveis a alegres, infundindo-lhes confiança de que Deus os havia de ajudar. Procedia assim para que to-dos ficassem encorajados, o que de facto acontecia” (Castro, Biografia, Cap. 12).

“Já que todos atiramos ao mesmo alvo, embora cada um siga o seu caminho, conforme Deus é servido e o guia, é justo que nos encorajemos uns aos outros” (2ª Carta a Gutierres Lasso, 11).

“Este poderia ser um lema para os nossos Centros: sermos capazes de fazer uma correcta afectação dos recursos de que dispomos, sabendo aprimorar aqueles aspectos mais especí-ficos da Instituição” (Carta de Identidade, 5.3.1.1).

“Precisamente por isso, na Ordem religiosa que tomou a hos-pitalidade como seu carisma específico, a dimensão do serviço torna-se algo a que não se pode renunciar, e exprime a razão de ser das próprias obras, bem como a atitude interior dos co-laboradores mais envolvidos. Nesta perspectiva, a diferença de vocações converte a pluralidade em motivo de riqueza carismá-tica. Deste modo, os factos existenciais, os estados de vida e o âmbito do trabalho transformam-se em ocasiões e compromis-sos “ministeriais” (Carta de Identidade, 7.3.1).

“O nosso ponto de referência foi sempre o Direito Canónico. Apesar disso, e juntamente com ele, é possível encontrar fór-mulas que permitam novos modos de direcção de delegação e de participação” (Carta de Identidade, 5.3.2.5).

“Mas o mais importante é que o dom da hospitalidade recebi-do por João de Deus crie laços de comunhão entre os Irmãos e os Colaboradores que os estimulem a desenvolver a sua voca-ção cristã e a ser para o pobre e o necessitado manifestação do amor misericordioso de Deus para com os homens” (Carta de Identidade, 7.3.2.2).

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“Sentimo-nos depositários e responsáveis pelo dom da hos-pitalidade, que define a identidade da nossa Ordem. Este empenha-nos a viver com fidelidade o nosso carisma, a con-servá-lo, a aprofundá-lo e a desenvolvê-lo constantemente na Igreja. A nossa abertura ao Espírito, aos sinais dos tempos e às necessidades dos homens, indicar-nos-á como o havemos de encarnar de maneira criadora a cada instante e em cada situação. A própria riqueza do carisma recebido pressupõe a possibilidade de o exprimir em formas diferentes, de harmo-nia com as circunstâncias de tempo e de lugar. Precisamente por isto, vivemos em atitude de discernimento e de conver-são, para que a nossa missão na Igreja corresponda sempre à vontade de Deus a nosso respeito e manifeste o nosso senti-do de unidade” (Constituições, 6).

PISTAS DE REFLEXÃO E PROPOSTAS

A – Gestão carismática

2. 1. A gestão carismática da qual temos vindo a falar desde há muitos anos nem sempre é completamente levada a cabo nas nossas obras. Algumas Províncias e Centros, quer por parte dos religiosos quer dos colaboradores, encontram dificuldade em administrar as obras de acordo com os critérios fundamentais da Carta de Iden-tidade. As principais dificuldades de actuação dizem respeito aos aspectos administrativos, à gestão dos re-cursos humanos, aos problemas assistenciais e à parti-cipação dos colaboradores. Por isso, é necessária uma “formação do coração” específica (Deus caritas est, 31a) e uma preparação administrativa dos religiosos e/ou a incorporação de colaboradores competentes no sector. São ainda necessários, além disso, um espírito evangélico, uma capacidade de serena autocrítica, uma aproximação “unitária” à missão em que todos, religio-

Gestão

carismática

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sos e colaboradores, se sintam encorajados a oferecer o seu contributo através de um sentido crítico objec-tivo, e a propor soluções para superar as dificuldades actuais.

2.2. É importante, nos nossos Centros, conjugar as exigên-cias de gestão com o trabalho de evangelização. A ges-tão das nossas obras, para ser verdadeiramente evan-gélica, tem de evidenciar uma clara opção preferencial pelos pobres. A Ordem deverá por conseguinte desen-volver um papel activo em defesa destas pessoas, como por exemplo os doentes mentais, os doentes de SIDA, os idosos, os imigrantes, os doentes terminais, etc.

2.3. Para esse fim, é possível também prever novas formas de hospitalidade para responder aos novos desafios e as exigências assistenciais do mundo actual. Seria oportuno, nesse sentido, constituir modelos específi-cos que possam representar a ampla articulação das várias formas de hospitalidade: desde as mais simples “unidades de rua” – actuação moderna do que S. João de Deus fazia ao recolher os pobres pelas ruas –, até às mais sofisticadas estruturas de excelência, tais como os hospitais de elevada especialização ou os institutos de pesquisa.

2.4. Os religiosos não deveriam considerar-se como “pa-trões” ou “gerentes” da obra, mas, pelo contrário, sentir que estão “ao serviço da missão”, ser verdadeiros ani-madores e modelos vivos de hospitalidade, segundo o estilo de S. João de Deus, e trabalhar em sociedade com os colaboradores para o cumprimento da missão. Não necessariamente em funções administrativas, embora obviamente não possam ser delas excluídos se forem profissionalmente preparados para as desempenhar, os religiosos, tendo “um coração que vê” (Deus caritas est,

Opção

pelos pobres

Novas

formas de

hospitalidade

Serviço dos

religiosos

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31b), estejam inseridos naquelas situações que mais exigem a presença dos Irmãos de S. João de Deus, quer dentro quer fora das nossas obras, e, para garantir a fi-delidade à missão, as responsabilidades administrativas deverão ser confiadas a pessoas com provas dadas em termos de capacidade, quer sejam religiosos quer cola-boradores. Isto permitirá uma maior eficiência, além de facilitar o trabalho de grupo e uma aproximação mais di-nâmica e homogénea à missão.

2.5. Cada Província deveria formular um plano estratégico a médio prazo, ao qual ater-se depois na realização das es-colhas operacionais concretas. Para isso, é importante:

> que seja sempre evidente uma grande transpa-rência administrativa, a ser garantida e verifica-da – se for caso disso – também mediante orga-nismos externos especiailizados; se estes não estiverem disponíveis ou for difícil recorrer a eles, o controlo da gestão deveria ser realizado por pessoas para tal incumbidas pelo Provincial e pelo seu Conselho;

> separar claramente a gestão administrativa das nossos Obras da da Comunidade religiosa;

> se uma Obra se tornar “improdutiva”, não tanto no plano económico mas na relação entre este aspecto e a efectiva gestão carismática, deverá ser encerrada ou destinada a outra actividade;

> encontrar benfeitores (pessoas particulares ou entidades) que possam sustentar economica-mente as Obras da Ordem, reencontrando nesta modalidade uma nova maneira de repropor a antiga praxe da esmola.

Plano

estratégico

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2.6. Nós não nos devemos esquecer, além disso, que nalgu-mas das nossas obras (Lares da Terceira Idade, institu-tos psiquiátricos, residências para deficientes físicos, etc.) há pessoas que vivem nelas durante toda a sua vida sem terem voz activa na sua administração. É necessário neste sentido prestar mais atenção e, com prudência e mediante as formas possíveis, experimentar uma certa participação nas decisões por parte dos residentes nas obras que lhes prestam assistência. Esta ideia é já tra-duzida em prática nalguns países que reconhecem aos hóspedes uma maior participação nas decisões no que diz respeito às suas condições de vida, às necessidades de tipo recreativo ou de trabalho, etc.

B - Integração religiosos/colaboradores

2.7. Mantém-se actual, em todo o caso, o objectivo de en-contrar formas mais concretas de efectiva colaboração entre religiosos e leigos que permitam superar descon-fianças recíprocas e suspeitas que vêem no colaborador apenas um “assalariado” e no religioso o “proprietário empregador”. Caminhar em conjunto para um objectivo comum não poderá prescindir de constituir formas de envolvimento mais directo dos leigos na administração e direcção das Obras. Precisamente por isso, talvez seja necessário redefinir melhor e, ao mesmo tempo, relan-çar o conceito de “Família hospitaleira” ou de “Família de S. João de Deus”, participante do único carisma e igualmente responsável, entre os seus vários membros, pela sua transmissão.

2.8. Sem querer criar uma espécie de “círculo”, o Capítulo poderia considerar a possibilidade de alguns colabo-radores, caso o desejem, quer estejam comprometidos nos nossos Centros quer sejam benfeitores que contri-

Participação

dos residentes

nas decisões

Formas de

colaboração

Família

espiritual

de S. João

de Deus

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buem para a missão da Ordem através da oração e/ou de apoio económico, possam entrar numa comunhão espiritual mais profunda com a Ordem. Há diferentes for-mas de concretizar esta possibilidade. Por exemplo, as pessoas poderiam ser convidadas a fazer parte da Famí-lia espiritual de S. João de Deus (há experiências deste tipo nalgumas Províncias).

2.9. Para tal fim, pode-se pensar também em formas de compromisso mais vinculante por parte de alguns colaboradores mais sensíveis e mais comprometi-dos no carisma da Ordem. Pode-se estudar, nesta perspectiva, a constituição de um “Movimento de S. João de Deus” (Movimento SJD) específico, centrado num compromisso temporário e/ou permanente, cujo vínculo permite aos interessados viver o carisma da Ordem segundo o espírito do Fundador. Isso exigiria uma formação especial da pessoa interessada, além da redacção de linhas de orientação claras, de cri-térios e dos “estatutos” que regulamentam a filiação. Obviamente, dirigimo-nos a pessoas que conhecem a nossa missão e a nossa espiritualidade e que desejam estabelecer laços mais profundos com a Ordem como forma de exprimir a sua vocação, o seu compromisso ou estilo de vida.

2.10. É necessário fazer um grande esforço, por parte da Or-dem, para uma adequada transmissão do carisma, dos princípios e dos valores da nossa identidade. Dela de-pende, em parte grande, o futuro da missão dos nossos Centros. Para isso, além do testemunho pessoal, é im-portante que:

> os Centros, mas acima de tudo as Cúrias Provin-ciais, prestem uma atenção particular aos crité-rios de selecção e à admissão do pessoal, na qual

Formas de

compromisso

vinculante

Transmissão

do carisma

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não deve ficar de fora o Superior da Comunidade, cujo papel também é importante no acompanha-mento reservado ao novo pessoal admitido, na formação permanente do pessoal, etc. Mesmo nos Centros em que não estejam presentes reli-giosos, o Provincial deve proceder de forma que um Irmão seja destinado a desempenhar nesse Centro funções como conselheiro directivo para questões relativas ao carisma, à filosofia e ao ethos da Ordem;

> as funções directivas sejam preferivelmente as-sumidas por pessoas mais sensíveis ao carisma próprio da Ordem, embora esse não se deva tor-nar no critério único e muito menos prioritário;

> a transmissão dos valores não seja vista como uma responsabilidade exclusiva dos religiosos es-pecialmente nos Centros onde não há religiosos;

> a Cúria Geral institua uma Comissão especial para elaborar as linhas e os conteúdos funda-mentais para a transmissão dos valores da Or-dem; essa Comissão deveria depois actualizar periodicamente o referido plano tendo em conta as mudanças históricas e as novas exigências;

> os valores sejam transmitidos também no exte-rior, prestando grande atenção às dinâmicas da comunicação social, ou seja, com uma autênti-ca operação de marketing capaz de promover e transmitir a missão, a imagem da Ordem e o carisma de S. João de Deus, bem como o estilo de vida dos religiosos – de certa forma, podería-mos dizer: a “marca” S. João de Deus.

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2.11. Uma realidade específica que deve ser reconhecida é a possibilidade que nalgumas Províncias existam centros sem a presença de religiosos. Por conseguinte, nestas situações, os colaboradores têm a responsabilidade de vigiar sobre, testemunhar e transmitir os valores da Or-dem e a sua missão. Com a contínua expansão dos servi-ços fornecidos pela Ordem, para permitir que a sua mis-são responda às necessidades de tantas pessoas que se encontram em situações de dificuldade, é humanamente possível que, seguindo o exemplo e o espírito de S. João de Deus, esta tendência (trend) continue a afirmar-se e se difunda em toda a Ordem.

2.12. É importante reconhecer a realidade actual que vê os nos-sos colaboradores assumirem papéis importantes na rea-lização da missão da Ordem. Para esse fim, o Definitório Geral poderá nomear um “grupo de conselheiros”, consti-tuído por religiosos e colaboradores para os assuntos que tenham uma certa relevância para a missão da Ordem.

C – Transmissão dos valores da Ordem

2.13. A transmissão do carisma e o trabalho de evangelização devem estender-se também aos familiares dos assisti-dos e dos colaboradores. Esta necessidade deve ser sentida como uma exigência e um dever dos religiosos. O testemunho que, por intermédio das suas obras de ca-ridade e da sua própria vida, como pessoas consagradas na hospitalidade, se dá à sociedade e à Igreja, deve en-contrar precisamente nos familiares, imediatamente de-pois das pessoas a quem servimos nos nossos Centros e dos colaboradores, não só os primeiros destinatários mas também os sujeitos de uma ulterior transmissão do dom recebido.

Centros sem

religiosos

Grupo de

Conselheiros

Familiares

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2.14. A gestão das obras deve estar atenta a captar os desa-fios da modernidade, quer em sentido geral quer relati-vamente às especificidades das realidades locais. Aliás, para nos mantermos fiéis ao espírito inovativo do Funda-dor, é preciso, além disso, sermos proféticos, prevendo as tendências e as evoluções das realidades sócio-sa-nitárias em que trabalhamos para podermos prevenir e satisfazer a emergência de necessidades novas. Para tudo isto é necessário promover nos nossos centros as actividades de pesquisa, de acordo com as indicações da Carta de Identidade.

2.15. No caso da nova fundação de uma obra ou serviço, reco-menda-se vivamente que se receba inspiração da longa história da Ordem e da experiência adquirida no campo específico em que a nova iniciativa se irá inserir, de modo especial se o nível dos serviços disponíveis no País no qual se opera, e naquele campo especifico, são inferio-res aos que a Ordem fornece noutras partes do mundo. É necessário, então, pedir informação e apoio, especial-mente no que diz respeito à programação, aos critérios de actuação, à formação e à pesquisa, de forma que se possa fundar um serviço que não se destine apenas às necessidades de determinadas pessoas, mas que sirva de “modelo” ao qual os governos ou outras entidades locais possam fazer referência no futuro.

2.16. Poderia ser de grande utilidade para não dispersar o património de experiências adquirido pelos diversos Centros, instituir um banco de dados, de fácil acesso através da Internet, no qual se inserissem todos os elementos que possam ser úteis aos outros Centros, tanto no âmbito informativo como no plano opera-cional.

Desafios da

modernidade

Modelos

históricos

da Ordem

e novas obras

Banco

de dados

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2.17. A assistência espiritual e religiosa aos doentes e aos ne-cessitados constitui parte integrante da nossa missão hospitaleira, além de ser também um verdadeiro “direito do doente.” Para isto, deve existir um Serviço de Pas-toral formado por operadores pastorais preparados que possam fornecer a assistência espiritual aos doentes, às suas famílias e aos colaboradores, independentemente das suas crenças religiosas.

2.18. Um sector que requer certamente uma maior atenção e desenvolvimento é o da Bioética. São cada vez maiores, na realidade, as implicações éticas da assistência clíni-ca, da experimentação, da pesquisa, das intervenções sobre a vida no momento do nascimento e da morte. Além disso, tornam-se frequentemente problemáticas as relações entre a actividade das nossas instituições e as leis dos vários Países. Por isso, é necessária uma preparação específica, além de pessoas e organismos dedicados especificamente à resolução de tais proble-mas. Entre estes organismos, assume um relevo par-ticular a possível constituição de um grupo de conse-lheiros ou um departamento junto da Cúria Geral com funções de “observatório” bioético.

2.19. A actual estruturação de uma sociedade cada vez mais multiétnica e multicultural comporta uma atenção par-ticular dos nossos Centros, e a formação dos religiosos e colaboradores neste campo, a um maior conhecimen-to, bem como a um maior apreço e respeito pelos valo-res culturais e pelas diferenças religiosas, trabalhando com empenho em programas de abertura intercultural, também com iniciativas específicas. No plano especifi-camente religioso, é oportuno que se realizem gestos concretos de diálogo ecuménico e inter-religioso. A hos-pitalidade, vivida segundo o estilo de S. João de Deus, está por definição aberta a receber e a servir os homens

Assistência

espiritual

Bioética

Diálogo

intercultural

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e as mulheres de todas as crenças religiosas e também as pessoas que não acreditam, independentemente da sua bagagem cultural e ética. Além disso, dado que em algumas partes do mundo onde a Ordem está presen-te a Igreja ocupa uma posição de minoria na sociedade, pode constituir um desafio importante para a Ordem no futuro a incorporação e inculturação do carisma junto de outras culturas e tradições religiosas.

2.20. Para a avaliação global da efectiva correspondência das nossas obras à gestão carismática, poderão, final-mente, ser constituídos autênticos sistemas de avalia-ção da qualidade (Quality Assurance), análogos aos que se utilizam na avaliação das prestações clínicas. Neste caso, o objecto da verificação será a prática de actuação dos valores da Ordem.

3. COLABORAÇÃO EM REDE (networking)

REFERÊNCIAS

“Saúdam-vos as igrejas da Ásia. Áquila e Priscila, juntamente com a assembleia que se reúne em sua casa, enviam-vos muitas saudações no Senhor” (1 Cor 16,19).

“Dele posso testemunhar que trabalha muito por vós, assim como pelos que estão em Laodiceia e em Hierápoles. Saúda-vos Lucas, o caríssimo médico, bem como Demas. Saudai os irmãos de Laodiceia, assim como Ninfa e a igreja que se reúne em casa dela” (Cl 4, 13-15).

“Mas agora vou de viagem para Jerusalém, em serviço a favor dos santos. É que a Macedónia e a Acaia decidiram realizar um gesto de comunhão para com os pobres que há entre os santos de Jerusalém” (Rm 15, 25-26).

“É consolador, enfim, recordar que, no Sínodo, não só houve numerosas inter-venções acerca da doutrina da comunhão, mas foi grande também a satisfação

Garantia

de qualidade

(Quality

assurance)

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pela experiência de diálogo, vivida num clima de confiança e abertura recíproca entre os Bispos e os religiosos e religiosas presentes. Isto suscitou o desejo de que «tal experiência espiritual de comunhão e colaboração se estenda a toda a Igreja», depois do Sínodo. É um voto, que faço meu, pelo crescimento em todos da mentalidade e da espiritualidade de comunhão” (Vita Consecrata, n. 50).

“Antón Martín deixou Granada, ficaram no hospital outros Irmãos, de que adiante faremos menção, pois que, como discípulos de um tão grande santo, tornaram-se tais que a sua vida bem merece ser conhecida. Estes governavam e administravam o hospital conforme o sistema do seu mestre” (Castro, Biogra-fia, Cap. XXII).

“Promover uma cultura de pertença à Obra, à Província, à Ordem” (Carta de Identidade, 5.3.3.9).

“Se a Ordem quiser dar um contributo significativo no próximo século, terá de o fazer no âmbito de um trabalho coordenado e conjunto com a Igreja” (Carta de Identidade, 5.3.6.5)

“É necessário continuar a desenvolver esta linha de relações e de ligação com a Administração Pública que, da nossa parte, se baseará na honestidade, cla-reza e transparência” (Carta de Identidade, 5.3.6.6).

“A nossa Ordem na Igreja universal forma um único corpo constituído por co-munidades locais, províncias, vice-províncias, delegações gerais, delegações provinciais” (Constituições, n. 77).

“As atitudes de serviço e de abertura próprias da nossa missão levam-nos a cooperar com outros organismos, da Igreja ou da sociedade, no campo do nosso apostolado específico” (Constituições, n. 45e).

PISTAS DE REFLEXÃO E PROPOSTAS

3.1. O tema genérico da “colaboração” no contexto da glo-balização actual, das exigências sócio-eclesiais muda-

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das e do desenvolvimento dos meios de comunicação social (internet, correio electrónico, etc.) precisa de en-contrar formas novas e mais concretas de intercâmbio recíproco, seja dentro da Ordem seja entre a Ordem e as realidades externas. Os âmbitos principais a serem considerados são:

> Interprovincial, dentro de uma mesma região;> Interprovincial, no âmbito de regiões geográfi-

cas diferentes;> com outras instituições da Igreja;> com outras instituições, tais como administra-

ções públicas, instituições privadas de compro-misso social (sempre que haja interesses co-muns e respeito pelos princípios fundamentais da nossa filosofia assistencial).

3.2. A colaboração entre os centros, entre as Províncias e entre estas e a Cúria Geral não constitui apenas um ins-trumento operacional para melhorar a eficácia do traba-lho desenvolvido e optimizar os recursos, mas também uma oportunidade para apresentar de modo unitário a Ordem à sociedade. A sua universalidade constitui a sua grande força e o facto que ela se encarne depois em rea-lidades locais diversificadas é um recurso adicional que não contrasta, com a única realidade carismática que a Ordem preserva e da qual dá testemunho, mas que, an-tes, a enriquece.

3.3. A Cúria Geral desempenha um papel muito importante de promoção e coordenação destas relações dentro da Ordem. Por isso, é necessário avaliar e rever os projec-tos que se vão realizando tendo em vista melhorá-los e eventualmente infundir neles um novo vigor e levá-los a cabo. Além disso, é oportuno promover espaços de inter-câmbio e aprofundamento sobre temas como o pastoral

Apresentação

unitária

da Ordem

Papel da

Cúria Geral

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da saúde, a bioética, a formação, a gestão carismática, recorrendo também à colaboração com outras institui-ções específicas.

3.4. Desde há bastantes anos existe na Ordem a experiência das Comissões inter-provinciais, inter-regionais e inter-continentais. Trata-se de espaços abertos nos quais é possível reflectir, compartilhar, coordenar e estimular projectos em todos os âmbitos da vida das Províncias. O Capítulo Geral é um momento oportuno para rever, avaliar e projectar a colaboração interprovincial, tanto através das Comissões existentes como de outro modo. É necessário, além disso, estabelecer as premissas e criar a sensibilidade necessária para poder unir, caso seja oportuno, algumas Províncias (cf. também a parte IV deste documento).

3.5. Vemos com cada vez mais clareza as diversidades exis-tentes na Ordem ao nível das várias regiões e continen-tes. Por isso, durante o sexénio passado, foram orga-nizadas Encontros regionais para estudar e solucionar problemas concretos. Agora temos uma boa ocasião para avaliar quanto se fez e a oportunidade para apro-fundar no futuro estas dinâmicas operacionais.

3.6. Apesar de quanto se disse no ponto precedente, a Or-dem é uma só e devemos cuidar da comunhão universal. Estamos convictos de todos podemos ajudar-nos reci-procamente, compartilhando os nossos recursos, tendo como resultado um enriquecimento mútuo. Para isso, é necessário estudar formas concretas para realizar esta colaboração entre as diferentes regiões da Ordem: re-cursos humanos (religiosos e colaboradores), recursos materiais (económicos e assistenciais), formação e pre-paração espiritual, religiosa, pastoral, profissional, troca de experiências, etc. Tudo isto não deverá ser improvisa-

Órgãos de

colaboração

Avaliação dos

Encontros

Regionais

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51LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

do, mas adequadamente preparado através de progra-mas específicos.

3.7. Uma iniciativa interessante é constituída pela gemina-ção entre vários Centros ou entre estes e outras obras que não pertencem à Ordem. Estas iniciativas podem alargar as actividades assistenciais da Ordem e consti-tuir ao mesmo tempo um instrumento de conhecimento do seu carisma.

3.8. Deve ser prestada uma atenção particular às várias for-mas de cooperação internacional e à consequente an-gariação de fundos para essa finalidade. Nalguns casos, estas actividades (fundraising) podem ser centralizadas tendo em vista uma melhor gestão e transparência e serão possivelmente separadas da utilização dos fun-dos recolhidos (fund-spending). É oportuno que os re-ligiosos e os colaboradores tenham sensibilidade para apoiar as iniciativas neste sentido.

3.9. O Departamento das Missões tem a designação de De-partamento Solidariedade S. João de Deus. Coordenado por um Conselheiro Geral, ou por outra pessoa expres-samente nomeada pelo Definitório Geral, desempenha, entre outras, as seguintes tarefas:

> animação missionária da Ordem;> promoção e coordenação das várias iniciativas

de cooperação;> informação sobre a gestão do “Fundo para as

missões” que, a partir de agora, passa a chamar-se Fundo de Solidariedade S. João de Deus;

> trabalhar de modo conjunto com a “Aliança S. João de Deus para a angariação de fundos” [St. John of God Fundraising Alliance] e o gabinete de coordenação, do qual faz parte integrante.

Cooperação

internacional

Geminações

Departamento

Solidariedade

S. João de Deus

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3.10. A pertença eclesial da Ordem deverá tornar-se evidente também numa mais directa participação e colaboração nas realidades das igrejas particulares. Embora não fi-cando, efectivamente, sob a jurisdição episcopal, a co-locação de cada Centro numa realidade eclesial especí-fica, local e nacional, faz com que as suas actividades estejam estreitamente relacionadas com as actividades pastorais das mesmas.

3.11. Além disso, a colaboração da Ordem, tanto no plano central como local, poderá verificar-se também com ou-tras instituições eclesiais, para promover projectos co-muns, e poderá ser solicitada para a defesa dos direitos e a protecção do doente e das pessoas necessitadas. De modo particular, é importante também a colaboração in-tercongregacional em projectos de assistência, quer das nossas obras quer das de outras instituições.

3.12. Finalmente, a rede de colaboração não poderá recusar-se a estabelecer relações com todos os outros organismos eclesiais (hospitais civis, universidades, organismos de voluntariado, Organizações Não-Governamentais, órgãos políticos, etc.) que estejam de alguma forma envolvidos na assistência aos doentes e aos pobres. Esta colabora-ção pode enriquecer reciprocamente as realidades envol-vidas, fazendo-as crescer nas respectivas tipologias assis-tenciais. Trata-se de um desafio e de uma oportunidade muito importante na qual, salvaguardando os princípios fundamentais da nossa identidade, nos devemos abrir ao diálogo inter-religioso e ao diálogo entre ciência e fé para os quais a Igreja nos convida com insistência.

Colaboração

com as Igrejas

particulares

Colaboração

com outras

realidades

eclesiais

Colaboração

com

organismos

não eclesiais

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4. ASPECTOS JURÍDICOS

REFERÊNCIAS

“Adverti-los-ás dos preceitos e das instruções e dar-lhes-ás a conhecer o cami-nho que devem seguir e as obras que devem praticar” (Ex 18,20).

“Depois de muita confusão e de uma controvérsia bastante viva de Paulo e Barnabé contra eles, foi resolvido que Paulo, Barnabé e mais alguns outros subissem a Jerusalém para consultarem, sobre esta questão, os Apóstolos e os Anciãos. Então, depois de despedidos pela igreja, atravessaram a Fenícia e a Samaria, relatando a conversão dos pagãos, o que causava imensa alegria a todos os irmãos. Chegados a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos Apóstolos e Anciãos e contaram tudo o que Deus fizera com eles. Levantaram-se alguns do partido dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que era preciso circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. Os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão… (…) Então, os Apóstolos e os Anciãos, de acordo com toda a Igreja, resolveram escolher alguns de entre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé. Foram Judas, chamado Barsabas, e Silas, homens respeitados entre os irmãos. (…) Ao fim de algum tempo, receberam dos irmãos a paz da despedida, regressando para junto dos que os tinham enviado” (Act 15, 2-6. 22. 33).

“Os Institutos são convidados a repropor corajosamente o espírito de iniciativa, a criatividade e a santidade dos fundadores e fundadoras, como resposta aos sinais dos tempos visíveis no mundo de hoje. Este convite é, primariamente, um apelo à perseverança no caminho da santidade, através das dificuldades mate-riais e espirituais que marcam as vicissitudes diárias. Mas é, também, um apelo a conseguir a competência no próprio trabalho e a cultivar uma fidelidade dinâmica à própria missão, adaptando, quando for necessário, as suas formas às novas situações e às várias necessidades, com plena docilidade à inspiração divina e ao discernimento eclesial. Contudo, há que manter viva a convicção de que a ga-rantia de toda a renovação que pretenda permanecer fiel à inspiração originária está na busca de uma conformidade cada vez mais plena com o Senhor. Neste espírito, torna-se hoje premente em cada Instituto a necessidade de um reno-vado referimento à Regra, pois nela e nas Constituições se encerra um itinerário

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de seguimento, qualificado por um carisma específico e autenticado pela Igreja. Uma maior consideração pela Regra não deixará de proporcionar às pessoas con-sagradas um critério seguro para procurar as formas adequadas para um teste-munho capaz de responder às exigências actuais, sem se afastar da inspiração inicial” (Vita Consecrata, 37). “Princípio fundamental para se poder falar de vida consagrada é que os traços específicos das novas comunidades e formas de vida se apresentem fundados sobre os elementos essenciais, teológicos e canónicos, que são próprios da vida consagrada” (Vita Consecrata, 62).

“A esta casa de Granada foram enviadas cartas do Peru, do Panamá e Nome de Deus, de hospitais aí fundados, cujos directores pretendem sujeitar-se a subme-ter-se à obediência e orientação desta casa e à sua Ordem e Instituto, pedindo com muita insistência para que lhes enviassem o regulamento de vida, as consti-tuições dos Irmãos e a Bula que obtiveram” (Castro, Biografia, Cap. XXIII)

A “nova hospitalidade” deve expressar-se em dois sentidos: em obras de ino-vação na comunidade e em novas respostas às carências existentes (Carta de Identidade, 3.2.2).

“È portanto necessário rever a nossa maneira de agir e de pensar, para poder-mos transformar a nossa existência de Irmãos ou de Colaboradores e sermos realmente «transparentes», testemunhas vivas do amor misericordioso” (Carta de Identidade, 8.3).

“Os Estatutos Gerais contêm as normas práticas mais necessárias para a aplica-ção dos princípios contidos nas Constituições. As alterações que, com o tempo, se julgar oportuno introduzir, são reservadas ao Capítulo Geral, que deverá ma-nifestar a sua vontade, em cada caso, com pelo menos dois terços dos votos” (Constituições, n. 107).

“A erecção e a supressão das Províncias, Vice-Provinces e Delegações Gerais, e ainda as eventuais alterações nas respectivas delimitações, cabem ao Definitó-rio Geral, depois de ouvido o parecer dos Definitórios Provinciais interessados” (Constituições, n. 78 a).

“Cabe à autoridade competente do Instituto, segundo as constituições, dividir

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o instituto em partes, como quer que estas se designem, erigir novas, unir as já erectas ou circunscrevê-las de outro modo” (CIC, cân. 581).

“As demais normas estabelecidas pela autoridade competente do instituto sejam convenientemente coligidas noutros códigos, que podem ser revistos e convenientemente adaptados de acordo com as exigências dos lugares e dos tempos” (CIC, cân. 587 §4).

“Os Superiores sejam constituídos para um determinado e conveniente período de tempo de acordo com a natureza e a necessidade do instituto, a não ser que para o Moderador supremo e para os Superiores de uma casa autónoma as constitui-ções permitam outra coisa. O direito providencie com normas adequadas para que os Superiores, constituídos para um período definido, não permaneçam por longo tempo sem interrupção em cargos de governo” (CIC, cân. 624, §§ 1-2).

PISTAS DE REFLEXÃO E PROPOSTAS

4.1. O primeiro ponto sobre o qual importa discutir é a possível inte-gração de Províncias. Esta possível integração baseia-se na consideração da situação actual de algumas partes da Ordem caracterizada pela diminuição do número dos religiosos e pelo seu envelhecimento, pela escassez de vocações e pela com-plexidade de muitas obras apostólicas. Propõe-se, por conse-guinte, que o governo da Ordem constitua uma comissão ad hoc para estudar os desenvolvimentos em curso neste sentido e as possibilidades que se apresentam a seu respeito.

4.2. Uma segunda preocupação diz respeito à possibilidade de se proceder a uma diferente estruturação da Cúria Geral. Também esta proposta deriva das considerações gerais ex-postas ao parágrafo anterior. Nem o Código de Direito Canó-nico, nem o nosso direito próprio falam da estrutura da Cúria Geral. Historicamente, na Ordem, ela foi estruturada de modo diferente. No último Capítulo Geral decidiu-se que o número dos Conselheiros Gerais, não inferior a quatro, fosse

Integração

de Províncias

Estrutura da

Cúria Geral

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o que o Superior Geral propusesse durante o Capítulo Geral. Os números 113, 114 e 119 dos Estatutos Gerais falam de es-critórios, de outros organismos e de comissões “para cola-borar com o Governo Geral e assisti-lo nas suas actividades de guia e animação da Ordem” (Estatutos Gerais, 119). A nova estrutura da Cúria Geral que será proposta, além da funcionalidade, considerando os motivos expostos na intro-dução, deverá ter em conta a economia das pessoas. Recor-dando que os nossos Estatutos Gerais (n. 111g) estabelecem que a residência do Geral seja em Roma, mas nada dizem acerca da residência dos Conselheiros Gerais, e tendo em conta a prática e as experiências vividas nos últimos anos, bem como a facilidade alcançada nas comunicações graças às novas tecnologias, o Capítulo deverá estudar um modo novo de organizar a Cúria Geral.

4.3. Um outro ponto diz respeito à validade dos 2/3 para alte-rar os Estatutos Gerais. A proposta já tinha sido debatida no Capítulo Geral do ano 2000. Trata-se, em concreto, do n. 107 das nossas Constituições (acima citado). O que se propunha no Capítulo Geral de 2000 era que pudessem ser aprovadas as alterações a serem introduzidas nos Estatutos Gerais com a maioria absoluta (mais de metade) dos votos. Ao repropor a questão, considera-se oportuno sublinhar a possibilidade de haver uma maioria para as alterações que digam respeito às Constituições e outra, diferente, para a revisão dos Estatutos Gerais. Na realidade, em comparação com as Constituições, os Estatutos são um órgão mais ágil e flexível, desprovido daquele valor fundamental e fundante que, pelo contrário, têm as Constituições. De modo que a re-ferida proposta de abolição dos 2/3 poderia eventualmente aplicar-se apenas às alterações a introduzir nos Estatutos.

4.4. Propõem-se também períodos mais longos nas responsa-bilidades. Também este ponto já tinha sido discutido no Capítulo Geral anterior. Embora se possa demonstrar que,

Maioria para

alteração dos

Estatutos

Prolongamento

da duração

dos cargos

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na tradição da Ordem, os períodos determinados para os diferentes cargos e ofícios estiveram sempre vinculados ao triénio ou ao sexénio, é igualmente evidente que as “exigên-cias dos lugares e dos tempos” (CIC, cân. 587) e a realidade actual da Ordem, devido às circunstâncias de que já falá-mos no início, sugerem que sejam revistos os períodos dos mandatos dos Superiores. De modo particular, pelo que diz respeito aos cargos do Provincial e dos Superiores locais, sublinha-se que o período de três anos é excessivamen-te curto, não permitindo muitas vezes que se encarem de modo aprofundado os problemas: por isso, a duração deve-ria ser elevada pelo menos para quatro anos. Além disso, o número escasso de religiosos repropõe frequentemente as mesmas figuras que poderiam, pelo contrário, dispor de um período de tempo mais apropriado para desempenhar de modo mais profícuo o seu mandato.

4.5. Um último aspecto sobre o qual é preciso deliberar diz res-peito à manutenção, ou não manutenção, da postulação, isto é, daquele particular instituto jurídico previsto pelo direito canónico (cân. 180 §1) com o qual se “postula”, ou seja, se pede a concessão da dispensa de um impedimen-to que não permitiria a eleição de um superior:

> se se trata de um sacerdote;> se já tiver sido eleito consecutivamente para dois

mandatos.

Trata-se de duas situações diferentes que devem ser abordadas de modo diferente. As razões para tal propos-ta de alteração devem-se, no primeiro caso, às mudan-ças da eclesiologia depois do Concílio Vaticano II relati-vamente à natureza da vida consagrada; no segundo, a necessidades administrativas específicas presentes em algumas Províncias.

Prolongamento

da duração

dos cargos

Postulação

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Síntese do relatório sobre o estado da formação na ordem Prof. Pe. Renato MION, sdb (Instituto de Sociologia, Universidade Pontifícia Salesiana

- Faculdade de Ciências da Educação)

INTRODUÇÃOValor e desenvolvimento da nossa investigação sociológica Apresentamos seguidamente uma síntese do inquérito sobre o Estado da For-mação na Ordem, apresentado no passado LXVI Capítulo Geral da Ordem. Este inquérito pretende traçar uma radiografia precisa e pontual de alguns aspectos da Formação e da pastoral Vocacional. O valor de um inquérito sociológico, cientificamente elaborado, assume geralmente uma grande importância em todos os âmbitos da vida social, mas acima de tudo, se for aplicado à vida reli-giosa. Este estudo oferece elementos de avaliação e de juízo indispensáveis em vista das decisões que devem ser tomadas pelos responsáveis nas sedes mais oportunas. De facto, o inquérito garante resultados objectivos, uma vez que as perguntas não permitem interpretações subjectivas e interessadas.

O principal objectivo do inquérito sociológico consistiu em analisar e apro-fundar o estudo da melhoria qualitativa da formação e da pastoral vocacio-nal da Ordem, partindo de uma série de áreas específicas de análise, identi-ficadas em 7 capítulos diferentes, e com um apêndice sintético de propostas interessantes, livremente apresentadas por todos os Irmãos.

1. Análise estrutural e orgânica da Ordem, por idades, zonas geográ-ficas, cargos exercidos;

2. Identidade da consagração religiosa: vocação, motivações, aban-donos, votos;

3. Identidade carismática da missão: novos papéis, pastoral da saú-de, Colaboradores;

4. Comunidade religiosa: estilos de vida, relações interpessoais, in-serção dos jovens;

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5. Formação de formadores: preparação, projecto formativo, forma-ção permanente;

6. Pastoral vocacional: proposta de valores carismáticos, selecção, acompanhamento;

7. Pastoral Vocacional e novos desafios da hospitalidade: inovação/integração.

Tratou-se de um esforço de grande aprofundamento que permitiu desenvol-ver reflexões analiticamente mais apropriadas sobre as diferentes questões abordadas.

O texto que aqui se apresenta pretende ser, por conseguinte, a síntese de uma radiografia muito mais detalhada dos resultados, cujos textos comple-tos estão à disposição na Cúria Geral da Ordem, para os Irmãos que queiram consultá-los. Foi impressa uma versão em papel, de 260 páginas, e também uma versão em formato electrónico, com todos os quadros dos cruzamentos de cada um dos itens elaborados pela Universidade que será enviada a cada uma das Cúrias Provinciais e Delegações Gerais como instrumento indispen-sável para o estudo e a tomada de decisões nos próximos Capítulos Provin-ciais e nos anos sucessivos.

Em todas as secções do Estudo foram recolhidas sugestões e indicações pes-soais que os Irmãos forneceram respondendo às perguntas abertas do ques-tionário. Devido à brevidade da presente síntese, limitamo-nos a oferecer uma pequena amostra no capítulo sobre a pastoral vocacional.

Agradecemos o empenho do Ir. Luís Aldana, que coordenou este trabalho, as-sim como à Comissão ad hoc, que preparou o questionário, e ao Instituto de Sociologia da Universidade Pontifícia Salesiana, que elaborou e levou a cabo o Estudo que agora apresentamos.

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CAPÍTULO I – DESCRIÇÃO DA AMOSTRA UTILIZADA

Os 1012 questionários examinados foram enviados por todas as Províncias da Ordem nas seguintes percentagens, cujas somas completam 100% das res-postas, assim distribuídas:

> 37,5% (380): Europa Meridional – (Romana, Lombardo-Véneta, Francesa, Portuguesa, Aragonesa, Castelhana, Bética);

> 18,4% (189): Europa Central – (Polónia, Silésia, Baviera, Renânia, Boémia-Morávia, Áustria, Inglaterra, Irlanda);

> 8,4% (84): África – (B. Menni, R. Pampuri, Nossa Senhora da Mi-sericórdia)

> 17,1% (172): América Latina – (México e A.C., Colômbia, Brasil, América Latina Setentrional e América Latina Meridional);

> 12,6% (127): Ásia – (Índia, Coreia, Filipinas, Vietname, Japão); > 6% (60): E.U.A. – (Estados Unidos, Canadá, Austrália).

Mais de metade dos inquiridos desenvolvem o seu apostolado na Europa, Meridional e Central (52,3% = 535 Irmãos), 20% (=202 Irmãos) nas Améri-cas tomadas no seu conjunto, 8,5% (= 86 Irmãos) na África, e 15,3% (= 155 Irmãos) na Ásia e Oceânia.

Relativamente à idade, um quarto dos inquiridos tem menos de 36 anos, me-tade está abaixo dos 52 anos. Com menos de 70 anos há 806 Irmãos (79,64% dos que responderam). Com mais de 80 anos podem-se contar 55 Irmãos. Na África não há Irmãos com mais de 74 anos de idade e na Ásia há apenas 2.

Os Irmãos da Europa Meridional situam-se predominantemente entre 56 e 74 anos (47,4%), os da Europa Central entre 36 e 55 anos (36%), os da África entre 18 e 35 anos (46,4%), juntamente com os da Ásia (44,1%) e, em medida menor, os da América Latina (36%). Metade dos Irmãos dos Estados Unidos da América tem entre 56 e 74 anos de idade.

Os Irmãos actualmente ocupados nas actividades de formação e de pastoral vocacional (70 Irmãos) são predominantemente jovens: 44,3% têm menos de 35 anos, enquanto que 37,1% estão entre 36 e 55 anos. Têm frequentemente uma formação académica de nível superior, de tipo humanístico e teológico,

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como uma licenciatura ou mestrado eclesiásticos. Porém, 35,9% dos Irmãos só têm um diploma de qualificação profissional ou técnica. Vale a pena refe-rir a disponibilidade declarada por 25,9% dos inquiridos (= 262 Irmãos) no sentido de se prepararem para virem a ser formadores ou responsáveis pela pastoral vocacional, especialmente nos países da América Latina, da Ásia e da África: essa disponibilidade diz respeito a metade dos jovens entre 18 e 35 anos de idade, e a um terço dos que têm entre 36 e 55 anos de idade.

Entre os elementos problemáticos notámos a escassez de vocações jovens, especialmente na Europa Meridional, a escassez de habilitações literárias de nível superior, especialmente de natureza humanística e pedagógica, e ainda a acumulação de vários cargos entre os Irmãos que se dedicam à formação e à pastoral vocacional.

CAPÍTULO II – IDENTIDADE CARISMÁTICA DA CONSAGRAÇÃO

A exigência da fidelidade à nossa vocação e de um aprofundamento da nossa vida consagrada exige que defendamos e avaliemos a qualidade, a consistência, as dimensões e a orientação religiosa, a fim de corrigir incessantemente o nosso itinerário espiritual. Trata-se daquela “fidelidade dinâmica” ao próprio carisma que, perante os desafios da sociedade contemporânea, constitui a ideia que im-pulsiona o amadurecimento progressivo da nossa identidade religiosa.

Aspectos mais problemáticos Tendo em vista fortalecer a nossa consagração e identidade carismática, apresentamos os temas mais problemáticos que emergiram da investigação, referidos a 5 dimensões principais.

1. Em primeiro lugar, a necessidade de fortalecer a identidade da consa-gração para poder viver com coerência os conselhos evangélicos e a missão hospitaleira, frequentemente ameaçada por uma série de dificuldades que indicamos seguidamente: A identidade religiosa está ameaçada sobretudo por uma formação humana insuficiente (22,7%), cristã e religiosa (20,2%), que influi negativamente nos estilos de vida pessoais e comunitários, além de ser causa de dificuldades sérias na prática dos conselhos evangélicos, espe-

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cialmente da castidade, devido à imaturidade afectiva (33,9% dos casos, es-pecialmente dos mais jovens), pela incapacidade de viver autenticamente as relações interpessoais (33,9%, indicada pelos Irmãos de idade compreendida entre 36 e 74 anos) e de integrar oportunamente a dimensão afectiva e sexual na vida consagrada (32,7%, especialmente na África e pelos mais jovens). É urgente, de facto, a clarificação mais sincera de si mesmos face ao carisma re-ligioso da Ordem (15,6%) e a própria capacidade de assumir os compromissos da vida consagrada hospitaleira.

2. As maiores dificuldades para o desenvolvimento da identidade vocacio-nal residem na escassa vida de fé e de oração (26,5%), denunciada sobre-tudo pelos Irmãos da Ásia (51,2%), da África (28,6%), e da Europa Meridio-nal (24,5%) e também pelos mais jovens (31%). Mas, concretamente, essa dificuldade é invariavelmente acompanhada pelo descuido da vida espiritual (55,1%), que para metade dos Irmãos – especialmente os da Ásia (65,4%), os mais idosos (65,2%), os formadores (58,1%), os superiores locais (59%) e também para os jovens – é reconhecida como sendo a causa principal do abandono da vocação. Como antídoto, é preciso cultivar a vida interior, com a oração individual e comunitária, com a vida litúrgica intensamente apro-fundada e a interiorização pessoal da espiritualidade da Ordem.

Entre as outras causas de abandono da vocação surgem as dificuldades nas relações interpessoais na vida comunitária (37%), o cessar das motivações vocacionais (33,7%), o activismo que apaga a identidade dos consagrados (20,8%) e os problemas de carácter afectivo (18,3%).

3. Tudo isto exige um grande cuidado na formação inicial, de forma que esta se torne um verdadeiro período de intensa preparação, visando a descobrir e fortalecer as motivações de entrada na vida religiosa, que muitos reconhe-cem ter acontecido no encontro com um pobre ou com um doente (42,3%), ou pelo testemunho de algum Irmão no serviço prestado aos doentes (38%), ou mediante a própria vida fraterna dos Irmãos (18,1%).

É necessário, além disso, estudar e fortalecer a fragilidade pessoal dos candida-tos e dos formandos por meio de um acompanhamento real e eficaz, que é con-siderado um instrumento necessário de perseverança sobretudo pelos Irmãos

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mais jovens, como se confirma felizmente pela forte retoma da direcção espi-ritual, quer do director espiritual (39,9%) quer do confessor (38%), mas tam-bém pela sua forma simples e imediata da amizade de um Irmão (30,8%, que na África chega aos 59,5%). Parece de facto reemergir hoje a urgência e o valor do director espiritual como guia e companheiro espiritual, especialmente nas zonas onde predomina a presença dos jovens, como acontece na Ásia (59,8%), na África (42,9%) e na América Latina (59,8%).

4. O uso impróprio dos meios destinados à missão hospitaleira (38,2%), juntamente com a não separação dos bens da comunidade dos bens da obra (18,3%), parece constituir actualmente uma das dificuldades mais frequen-tes para a observância correcta do voto de pobreza, especialmente na África (63,1%) e na Ásia (62,2%).

Os problemas relacionados com a fidelidade ao voto de obediência são mais complexos. Teoricamente, parece que não há problemas a este respeito, mas na realidade e do ponto de vista prático, eles existem, como se pode inferir pelo quadro seguinte:

Que dificuldades encontramos hoje para viver o voto de obediência? %

1. Falta de comunicação profunda com os superiores

2. Incapacidade de renunciar às nossas ideias por um projecto comunitário

3. Forte procura da própria autonomia

4. O conceito da autoridade não é compreendido como serviço

5. A Comunidade reúne-se poucas vezes para discernir sobre o projecto de vida

6. Atitudes de orgulho e de arrogância pessoais

7. Pouca disponibilidade para acolher os pedidos do Superior

29,9

24,1

23,3

23,3

21,3

18,3

17,4

Sobre estes aspectos, muito individualistas e desagregadores, é necessário trabalhar muito intensamente ao nível da formação, quer inicial quer per-manente.

5. A análise sobre o voto de hospitalidade fez emergir alguns problemas de fron-teira, entre tradição e inovação, sensibilidade e profissionalismo, auto-estima do Irmão de S. João de Deus e cargos directivos assumidos pelos Colaboradores. As situações novas que se produzem põem em discussão modos precedentes de

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65LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

gestão das obras e, frequentemente, também a auto-estima e a adequação dos Irmãos relativamente aos cargos, muitas vezes directivos, confiados aos leigos (17,4%). Além disso, a formação recebida no passado é considerada por vezes inadequada às exigências da hospitalidade de hoje (16,1%).

De facto, o sector da saúde, na actual sociedade do bem-estar, mas também a diminuição progressiva do pessoal religioso, especialmente na Europa Me-ridional, induziu a abrir aos leigos cargos directivos que eram antes exercidos pelos Irmãos, o que provocou neles grandes problemas de adaptação. Torna-se por isso urgente uma acção de adaptação, que poderá verificar-se através dos oportunos recursos fornecidos pela formação permanente.

CAPÍTULO III – IDENTIDADE CARISMÁTICA DA MISSÃO

A missão na vida consagrada constitui um dos dois pólos de identidade. Somos religiosos dentro de um instituto, com a finalidade-missão de consagrar a nos-sa vida a Deus no serviço aos irmãos: um serviço que, na tradição secular da Igreja, se manifesta em dois grandes sectores – a educação e a caridade. A mis-são traduz em prática a consagração e manifesta a sua identidade típica, dife-renciando-a relativamente a todas as outras Ordens e Congregações da Igreja. Os Irmãos de S. João de Deus desempenham o seu papel no campo da saúde.

1. O “NOVO PAPEL” DO IRMÃO NA MISSÃO Caracteriza-se por cinco factores fundamentais que consistem em tornar-se e ser de modo mais explícito consciência crítica, guia moral, presença proféti-ca, aberta às novas necessidades, com um espírito renovado de integração com os Colaboradores.

Relativamente à identidade carismática da missão, os resultados obtidos nal-gumas regiões são muito bons, como resulta da investigação sociológica. Tor-na-se evidente que muitos Irmãos sentem que são guias morais, consciência crítica e presença profética. Cerca de 20% do Irmãos acreditam que, em geral, se fez uma assimilação muito boa, sobretudo relativamente à integração com os Colaboradores (41,9%). No entanto, uma percentagem de 25% a 30% dos Irmãos considera que ainda se fez “pouco”.

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Observa-se que há dificuldades relativamente ao novo papel que o Irmão de S. João de Deus deve desempenhar na sua missão. As principais razões para tais lacunas são devidas, acima de tudo, à falta de uma formação adequada (41,6%), ao medo perante as mudanças (30,4%), à força do tradicionalismo (29,2%), à escassa formação e preparação para desempenhar os novos pa-péis (20,8% + 18%). Para corrigir esta situação, é essencial procurar estra-tégias e metodologias adequadas para estimular a formação permanente, tendo em vista superar, entre outros aspectos, a escassa visão carismática que às vezes existe.

2. VALORIZAÇÃO E CENTRALIDADE DO CARISMA E DA VIDA DO FUNDADOR

Sendo S. João de Deus um factor de motivação para 88,2% dos Irmãos, é ur-gente e necessário promover a sua figura, a sua vida, o seu carisma e a sua obra junto dos Colaboradores, da sociedade e da Igreja. S. João de Deus repre-senta ainda hoje um dos valores centrais e mais atraentes no quadro das pro-postas vocacionais que é preciso apresentar aos jovens e aos nossos Colabo-radores. O seu carisma tem efectivamente um êxito muito alto, especialmente nas regiões da Ásia (90,5%) e da África (90,5%), seguindo-se a América Latina (88,4%), a Europa do Sul (87,9%), a Europa Central (87,8%) e, finalmente, os E.U.A. (83,3%). Uma adesão igualmente plebiscitária regista-se junto dos jo-vens (91,2%), dos diplomados (88,3%), bem como de 87,8% dos licenciados.

3. PASTORAL DA SAÚDE

É uma parte fundamental da nossa missão, mas não parece ser muito positiva devido à escassa participação dos membros da comunidade hospitaleira na sua realização no contexto social e eclesial do território: poucos Irmãos participam nela e, ainda menos, os Colaboradores e o pessoal externo. Pelas respostas dos Irmãos, fica-se com a impressão de ainda se estar a meio da travessia re-lativamente à sua integração territorial. Aqui, as apreciações situam-se a meio caminho entre o já feito (bastante) de uma integração bem iniciada (para 1 em cada 8 respostas já se realizou) e o que ainda está por fazer. Já se fez bastante a nível eclesial, mas muito mais resta por fazer ao nível civil da sociedade local.

Não há dúvida que é necessário realizar um trabalho mais difícil e envidar ul-teriores esforços, uma vez que se trata de um elemento fundamental da nossa missão na Igreja – o de evangelizar. É, por conseguinte, essencial que haja mais

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formação e educação neste sentido. Parece ser encorajador e significativo, do ponto de vista vocacional. Por outras palavras, o estudo evidencia uma maior atenção dos jovens e dos responsáveis pela pastoral vocacional à assistência pastoral dos mais necessitados. A experiência de cuidado e de encontro com um doente pobre e necessitado foi um dos impulsos mais fortes que motivaram os jovens a seguir a vocação de consagração especial na Ordem.

4. RELAÇÕES COM OS COLABORADORES Parece constituir uma das situações mais problemáticas a enfrentar, porque é fonte de um certo mal-estar, e requer, por isso, uma preparação mais cui-dadosa. Tanto mais que o desempenho dos Colaboradores se tornou hoje verdadeiramente urgente e insubstituível, sendo necessário favorecer a sua liderança.

Vemos através do inquérito que existem dois tipos de problemas: os que são atribuídos pelos Irmãos à categoria dos Colaboradores, e os que derivam dos próprios Irmãos. No primeiro caso, destaca-se a diferença de valores que não se coadunam com os da Ordem e a desconfiança em relação aos Irmãos, con-siderados como patrões.

No segundo caso, os próprios Irmãos reconhecem que têm um conhecimento escasso e pouca consideração pela vocação e identidade dos colaboradores (57,3%), mas sobretudo falta de formação para colaborar com eles (56,8%), resistência em aceitar os leigos em cargos directivos (56,4%) e a incapacida-de dos Irmãos em trabalhar em equipa (54,4%). Tudo isto evidencia uma falta de formação adequada da própria personalidade, da qual surge a exigência de organizar momentos formativos concretos, quer em termos de conteúdos e valores, quer no plano das relações.

5. DIFICULDADES PARA REALIZAR O EQUILÍBRIO ENTRE ACTIVISMO E VIDA INTERIOR

A falta deste equilíbrio reflecte-se em duas situações graves: no insuficiente cuidado da oração pessoal (29,1%, especialmente por parte dos jovens, dos Irmãos da Ásia e da África) e no enfraquecimento, desapego ou até mesmo no desaparecimento do sentido da vida espiritual (28,4%, especialmente no Sul da Europa e na América Latina), devido ao aburguesamento, ao secularismo e ao laicismo.

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Também não se deve descurar um projecto adequado de vida pessoal (23%), que constitui um factor de unificação da pessoa. É igualmente importante, porém, no âmbito da vida espiritual, que a própria comunidade seja estimu-lante e propositiva (23%), de forma a contrabalançar o excessivo activismo (22%) e os numerosos compromissos de trabalho (21,5%) frequentemente denunciados pelos mais jovens. Esta perspectiva parece amadurecer numa base de caos e desordem geral da própria vida, que parece ter perdido de vista as finalidades últimas do agir, e situa-se numa dimensão puramente fun-cional e instrumental que corre o risco de corroer até mesmo os mais belos ideais: uma situação estruturada no presente, sem perspectivas organizadas, quase à mercê de uma busca dos acontecimentos por medo de ficar fora das correntes de maioria. Trata-se de um fenómeno que é sentido especialmente na América Latina e em África, pelos mais jovens, os licenciados, os superio-res do Governo Geral e Provincial e pelos responsáveis pela pastoral vocacio-nal (34,5%) com 13 pontos acima da média.

6. A ATENÇÃO A PRESTAR À FORMAÇÃO INICIAL O compromisso com a formação inicial e a formação permanente constitui a parte fundamental e substancial da missão e na qual se concentram todos os esforços da Ordem. Além das Constituições, que dedicam todo o capítulo quarto (n. 53-73).

Um dos aspectos mais problemáticos, porque diz respeito à perseverança das vocações, é a inserção dos jovens nas Comunidades de trabalho e, sobretudo, o cuidado que é preciso colocar no seu processo formativo, tendo presente a es-trutura frágil da personalidade dos jovens (58,4%), que encontram dificulda-de em assumir compromissos a longo prazo (66,7%). Será portanto necessário focalizar com clareza as motivações religiosas da escolha (59%) e confrontar-se com uma série de obstáculos identificáveis no individualismo dos Irmãos (62,9%), na falta de acompanhamento (55,6%), na escassa visão carismática da missão (50,1%), na fraca formação dos formadores (50,1%), na inserção de-masiado precipitada dos jovens na missão (49,5%) e no contra-testemunho de alguns Irmãos (45,2%) e/ou da própria comunidade religiosa (41,2%).

Para melhorar a situação é urgente recorrer a uma série de factores que faci-litem a inserção dos Irmãos jovens na Ordem.

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Entre os factores que facilitam a inserção na Missão, assinalam-se de for-ma muito explícita os seguintes: a presença de uma pessoa que acom-panhe a inserção dos jovens na missão da Ordem (81,6%, E.U.A., Europa Central), o reforço constante das motivações da própria vocação (80,5%, E.U.A., Europa Central, África), uma boa comunicação entre jovens e ido-sos (80,1%, África, E.U.A., Europa Central) e, finalmente, tempos de ora-ção bem preparados e fixos (79,6%, E.U.A., África, Ásia, Europa Central). A tudo isto servirá de apoio a programação eficaz de uma comunidade bem ordenada e organizada (74%), o trabalho considerado interessante e rico em significado (62,5%), a ajuda de uma boa apresentação do Irmão à equipa dos Colaboradores (67,4%), além da amizade e confiança de algum Irmão (68,1%).

Concluindo, queremos sublinhar o valor do acompanhamento espiritual como pressuposto fundamental para se chegar ao discernimento vocacional, por-que se forma assim aquela relação especial na fé e na caridade entre duas pessoas: uma vivendo o tempo da maturidade da fé e a outra, pelo contrário, caminhando para a maturidade da fé.

7. IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO PERMANENTE O inquérito pôs em evidência a existência de lacunas muito grandes e um escasso interesse dos Irmãos (55,3%, Europa Meridional, Europa Central e América Latina), falta de um programa orgânico para a formação permanen-te (35% especialmente na África), adaptado às várias fases da vida religiosa (28,4%, Ásia).

Em conclusão, apesar de diversos Irmãos a valorizarem de forma positiva, a formação permanente ainda não parece ter sido assumida de modo profundo, sistematizado e institucional, segundo a opinião de alguns Irmãos. Diversas resistências bloqueiam-na, quer no plano qualitativo – escasso interesse, mentalidade ainda demasiado individualista, idade avançada, segurança de uma vida estável e tranquila –, quer no plano organizativo: falta de planifi-cação orgânica, diferenciada e específica por faixas etárias, escassa atenção por parte dos superiores locais, organização do trabalho excessivamente ba-seada na eficiência e na necessidade de satisfazer as exigências imediatas e quotidianas da instituição.

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70 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

CAPÍTULO IV – ESTILO DE VIDA DA COMUNIDADE

O tema da comunidade é fundamental para favorecer a pastoral vocacional e a formação inicial e permanente. De facto, a consagração religiosa e a missão apostólica encontram o seu húmus natural de crescimento e desenvolvimen-to na comunidade.

1. A COMUNIDADE DE FÉ E DE ORAÇÃO A vida de fé e de oração da Comunidade é avaliada muito positivamente e como sendo intensa pelos Irmãos. Além da oração pessoal, emergem três níveis de participação na vida de oração da comunidade relativos às práti-cas quotidianas (muito alta, ao redor de 85%), nas práticas mensais e anuais (bastante frequentadas, à volta de 70%), e um terceiro nível de assiduidade na preparação da liturgia, que deixa um pouco a desejar.

Os maiores problemas verificam-se sobretudo nas zonas da Europa Meridio-nal e nos E.U.A. A busca de equilíbrio entre vida de oração e vida activa é um objectivo que dentro das comunidades se procura realizar, mas que encontra uma certa dificuldade nas zonas da África e entre os Irmãos com 36-55 anos de idade, sobre os quais recai o peso da maior parte da actividade quotidiana e da missão apostólica.

2. COMUNIDADE DE AMOR FRATERNO E CORDIALIDADE NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

É importante que a comunidade seja acolhedora, fraterna (73,1%), cordial (71,5%), que viva com alegria a consagração na hospitalidade, que facili-te a comunicação profunda; que o seu estilo de animação seja compreen-sivo (68,7%), aberto ao diálogo (64,2%), de amizade (57,6%), de comu-nhão (63,3%), de participação (64,3%), capaz de criar um clima de abertura (65,3%), de relações interpessoais maduras, de atenção cuidadosa (60%), de intercâmbio, de diálogo e avaliação. Frequentemente, as apreciações não são excelentes, mantendo-se numa mediania suficiente e mínima, sem excessivas satisfações: satisfeitos, sim, mas não entusiastas. As opiniões mais positivas são expressas pelos Irmãos da América Latina, da Europa Central e dos E.U.A., bem como pelos mais jovens. A principal preocupação parece residir precisa-mente no individualismo (53,5%), acompanhado pela indiferença (38,2%) e em situações de conflituosidade (28,1%). Estes aspectos verificam-se espe-

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71LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

cialmente nas comunidades dos E.U.A. e da Ásia, bem como nos Irmãos de meia-idade, embora um pouco mais de metade considere que ela ainda não está presente de maneira predominante.

Tudo isto pressupõe o desenvolvimento das capacidades de relação, colabo-ração e de prestar atenção aos outros, assim como o crescimento na corres-ponsabilidade comunitária para construir o bem comum e saber viver respei-tando o pluralismo das opiniões.

3. A COMUNIDADE COMO VALOR FUNDAMENTAL PARA ACOLHER AS NOVAS VOCAÇÕES A comunidade de amor fraterno e de serviço apostólico tem uma influência substancial, relevante para 56% e determinante para 19,1% dos Irmãos, em termos de acolhimento das novas vocações e para a sua projecção na mis-são. De facto, ela é chamada a criar e apoiar os jovens no seu discernimento (65,6%) e os formandos no sentido de pertença, de amizade e de confiança mútua. Por isso, ela é muito apreciada na sua missão apostólica por mais de 2/3 (68,5%) dos Irmãos, especialmente na África, América Latina, Ásia e Eu-ropa Meridional; no entanto, as opiniões expressas indicam que há grandes dificuldades no momento de se exprimirem sobre cada um dos papéis especí-ficos que o inquérito propunha.

Quanto aos papéis desempenhados pela comunidade, alguns são positiva-mente valorizados, como ser guia moral (59,5%) e voz profética (54,5%, espe-cialmente na Ásia e na América Latina, por parte dos mais jovens, entusiastas, e idosos). Outros, pelo contrário, exigem um compromisso adicional de apro-fundamento e interiorização. Os Irmãos consideram que é preciso incremen-tar os papéis de consciência crítica (51,4%) e de inovação (45,3%).

CAPÍTULO V – FORMAÇÃO DOS FORMADORES

Este e o próximo capítulo são o núcleo central da investigação, apesar de mais de um terço dos Irmãos ter declarado não poder responder a estes temas (35,2%). Neste capítulo evidencia-se a importância que têm uma selecção adequada e a formação dos Formadores, para serem verdadeiras testemunhas.

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72 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

1. APROFUNDAMENTO DO “NOVO PAPEL” TAMBÉM POR PARTE DOS FORMADORES

É evidente que falta de uma formação adequada para o “novo papel” dos Irmãos proposto pela Ordem, verificável também ao nível do papel dos for-madores.

A falta de formação adequada (41,6%) é a maior dificuldade referida por um número notável de Irmãos, equivalente a 2/5 dos inquiridos – concretamen-te, mais de metade dos que trabalham da Ásia (59,1%) e da África (58,3%), bem como dos mais jovens e dos adultos jovens. Há formas de resistência e incerteza perante o futuro, especialmente na África (38,1%). Há também uns 20% que afirmam não terem ainda compreendido completamente a validade do novo papel (20,8%) e Irmãos que não se sentem suficientemente prepara-dos para o desempenharem (18%). Trata-se de uma mentalização ainda in-completa e por operacionalizar a nível geral. São também preocupantes as declarações de alguns dos formadores vocacionais.

2. ESCASSA QUALIDADE DA SUA FORMAÇÃO Quando se fala de fragilidade vocacional dos jovens deve-se também falar de fragilidade ou fraqueza formativa dos educadores, de escassa preparação para as responsabilidades institucionais, de obscurecimento das metas da vida religiosa e de superficialidade imperdoável perante os graves desafios do momento histórico actual.

Metade dos Irmãos (49,8%) reconhece positivamente que, na sua Província, há formadores, escolhidos expressamente para desempenharem essa tarefa, especialmente nos países de missão. Em contrapartida, levantam-se reservas quanto à qualidade da sua preparação. Segundo os superiores locais e os Ir-mãos adultos jovens, ela é bastante qualificada no campo da espiritualidade da Ordem (67,1%), mas é-o um pouco menos no plano teológico-espiritual (56,1%), e muito escassa a preparação dos formadores no âmbito das ciên-cias humanas e das respectivas competências (47,7%).

Cerca de um terço dos Irmãos observa uma carência de conteúdos na prepa-ração dos formadores (insatisfação). Devemos prestar uma atenção especial à interiorização do “Projecto Formativo”, uma vez que mais de um terço dos Irmãos (37,4%) não o conhece e/ou não o aprofundou; mais de 40% inte-

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73LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

riorizaram-no e/ou aplicaram-no na prática muito pouco. É pois necessário trabalhar mais para aprofundar e pôr em prática este Documento.

3. PERSPECTIVAS NA FORMAÇÃO FUTURA E APOIO DAS COMUNIDADES Para uma reflexão mais cuidadosa sobre o tema da formação dos formadores, será oportuno aprofundar as respostas à pergunta: Consideras que os forma-dores estão a promover uma formação adequada às várias problemáticas?

A avaliação fornecida pelos Irmãos não é a este respeito das melhores. Colo-ca-nos num nível de suficiência medíocre. Os formadores obtiveram opiniões favoráveis quanto à educação para a responsabilidade pessoal dos jovens (59,8%) e na educação para a adaptabilidade requerida pela missão hospita-leira (58,5%). Mas a satisfação diminui relativamente à formação para a obe-diência e a mobilidade que ela requer (52,3%), em que as críticas se tornam mais consistentes, subindo até 27,7%.

O consenso sobre a formação que considera a especificidade cultural dos jo-vens (47,5%), é mais fraca, e as respostas negativas atingem 33,3% enquan-to que a percentagem de excelência desce para mínimos absolutos (9%). Há também insatisfação quanto à formação para a vida das comunidade, carac-terizada entretanto pela variedade étnica dos Irmãos (49,1%).

CAPÍTULO VI – PASTORAL VOCACIONAL: O QUE PENSAM OS IRMÃOS

Chegámos agora ao ponto chave do nosso estudo, em que abordámos a feno-menologia e a descrição da situação de facto da pastoral vocacional nas suas diferentes articulações. Devido à importância deste tema, apresentamos nes-te capítulo algumas contribuições e sugestões de entre as muitas recolhidas pelo inquérito, e que são fornecidas pelos Irmãos sobre diferentes questões relacionadas com a Pastoral Vocacional:

1. PASTORAL VOCACIONAL

> Ir ao encontro dos jovens dando-lhes a conhecer a pessoa de S. João de Deus, abrindo as nossas casas às pessoas que desejam conhecer-nos, organizando Jornadas de “portas abertas”. Procurar

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assiduamente o contacto com os jovens, favorecendo experiências de vida de comunidade com eles, convidando-os através da im-prensa, da rádio e da televisão para as celebrações das festas da Ordem e para os nossos congressos/simpósios, e desenvolvendo uma estratégia de catequese.

> Utilização de meios adequados acompanhada pelo testemunho. > Maior abertura das comunidades aos jovens, criando comunidades

que acolham os candidatos.

2. PASTORAL JUVENIL

A Pastoral vocacional não é mais do que o amadurecimento do fruto da Pas-toral Juvenil.

> Encorajar as vocações, estando próximos dos jovens e da sua cultura, de forma que possam aproximar-se de nós; os formado-res devem conhecer profundamente os problemas dos jovens; ir ao encontro dos jovens de todas as condições sociais, mesmo das classes mais desfavorecidas.

> Deveríamos dar a possibilidade aos jovens que desejam comparti-lhar o carisma da Ordem de formar uma comunidade para viverem juntos durante um determinado tempo; dessa comunidade pode-riam surgir novos Irmãos ou voluntários.

3. ITINERÁRIOS FORMATIVOS E PEDAGÓGICOS PARA A FORMAÇÃO DOS CANDIDATOS > A Pastoral Vocacional deverá oferecer aos jovens experiências for-

tes, mas, antes de mais, deverá contar com a disponibilidade dos Irmãos sacerdotes para trabalhar neste sector, e desenvolver uma cultura positiva em relação à vida e ao futuro.

> Proporcionar uma adequada formação psico-sexual dos Irmãos, na formação inicial e também na permanente, para evitar problemas futuros.

> O responsável pela Pastoral Vocacional deveria trabalhar com ou-tros responsáveis, quer a nível local quer nacional. O formador vo-cacional deve dispor de tempo suficiente para acompanhar e escu-tar os jovens.

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75LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

4. SELECÇÃO DOS CANDIDATOS, DISCERNIMENTO E ACOMPANHAMENTO > Operar um discernimento sério sobre os candidatos que se apresen-

tam, apesar da escassez de novas vocações (qualidade antes da quan-tidade). Estar disponíveis para acolher os jovens que encontram difi-culdades em decidir.

> Acompanhamento personalizado e fraterno até à profissão solene.> Conhecer a família, o ambiente social e cultural e a sua participação

activa na vida da Igreja local.

CAPÍTULO VII – PASTORAL VOCACIONAL: FENOMENOLOGIA E PERSPECTIVASAbordámos agora o tema de modo mais sistemático, rigorosamente analítico e científico, por partes, segundo os sete aspectos problemáticos que passa-mos a analisar:

1. Podemos indicar os factores que determinam a escassez de vocações nas diferentes regiões e Províncias na seguinte tabela:

1. Ambiente social desfavorável (secularização)

2. Perda do sentido religioso da vida

3. Dificuldade dos jovens em fazer projectos a longo prazo

4. Os jovens têm hoje muitas outras possibilidades e alternativas

5. Falta de testemunhos positivos por parte de alguns membros da Igreja

6. Problemas familiares (divórcios, ausência de valores, etc.)

7. Carência de propostas válidas e atraentes por parte da Ordem

8. Diminuição dos nascimentos

9. Falta de pessoas que se dediquem à pastoral vocacional

52,9 %

42,7 %

35,4 %

30,5 %

27,3 %

22,4 %

20,6 %

18,6 %

16,7 %

Das respostas dos Irmãos deduz-se que a razão principal não se deve à falta de pessoas dedicadas à Pastoral Vocacional: só 16,7% consideram ser essa a razão. Surgem factores muito mais complexos, devidos a problemas socio-culturais de fundo.

Mais de metade dos Irmãos indicaram como primeira razão para a falta das vocações o ambiente social desfavorável de secularização e consumismo

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76 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

(52,9%, especialmente na Europa Meridional e Central, na América Latina e na Ásia). Desse ambiente deriva a perda do sentido religioso da vida (42,7%, especialmente nos E.U.A. e na África). A estas razões sociológicas externas, acrescentam-se, com 8 pontos de diferença, os motivos mais especificamente psicológicos e interiores derivados da frágil estrutura da personalidade dos jovens de hoje, que se exprime na dificuldade em fazerem projectos a longo prazo (35,4%, E.U.A., Europa Meridional e Central). Além disso, os jovens têm hoje muitas outras possibilidades e alternativas de carreira (30,5%, especial-mente na Ásia).

Quanto às diferentes zonas de proveniência, podemos ver melhor, nesta ta-bela, algumas dificuldades próprias e específicas de cada região.

ÁREAS GEOGRÁFICAS

TOTAL das

respostas

Europa do Sul

EuropaCentral África América

Latina ÁsiaE.U.A.

CanadáAustrália

TOTAISPercentagem sobre o total

1012100,0

38037,5

18918,7

848,3

17217,0

12712,5

605,9

Não responde 2,5 3,7 2,1 1,2 2,3 0,8 1,7

Ambiente social desfavorável 52,9 65,5 56,1 28,6 47,7 41,7 35,0

Problemas familiares 22,4 17,1 29,1 29,8 27,9 15,7 23,3

Diminuição dos nascimentos 18,6 27,1 15,9 0,0 4,7 32,3 10,0

Perda do sentido religioso 42,7 47,1 36,5 36,9 46,5 33,9 50,0

Dificuldade para projectos

longo prazo35,4 38,9 38,6 34,5 34,3 19,7 40,0

Falta de pessoal para

a Pastoral Vocacional16,7 8,4 15,9 34,5 23,3 24,4 11,7

Falta de propostas válidas 20,6 20,5 14,8 26,2 18,6 26,8 23,3

Jovens têm outras alternativas 30,5 28,7 31,7 19,0 27,3 41,7 40,0

Não testemunho da Igreja 27,3 17,4 22,8 50,0 29,1 45,7 28,3

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77LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

2. EMPENHAMENTO DAS PROVÍNCIAS NA PASTORAL VOCACIONAL

O interesse e o envolvimento concreto variam de Província para Província. Em primeiro lugar, pouco menos de 3/4 dos Irmãos consideram que o pro-blema da Pastoral Vocacional é enfrentado nas diversas Províncias com pre-ocupação (72,9%), o que é confirmado, a contrariis, por aqueles escassos 17% de Irmãos que acham que ele é encarado com indiferença, relativamen-te aos 67,3% que, pelo contrário, discordam dessa opinião.

Como conclusão, a Pastoral Vocacional está hoje geralmente confiada a uma equipa de Irmãos, em 60,7% dos casos, especialmente na América latina e na Europa Meridional. Porém, nalgumas Províncias, ocupa-se dela apenas um Ir-mão, em quase metade dos casos só a tempo parcial, e em 21,5% é chamado em certas ocasiões. Apenas em 25% dos casos os Irmãos evidenciam situa-ções consideradas perfeitas, nas quais este animador vocacional se dedica a esta tarefa a tempo cheio.

A nível de propostas, tudo isto faz pensar na exigência de um notável e significativo salto de qualidade para suscitar uma maior consciência e interesse nos Irmãos em relação à pastoral vocacional. Isso contribuirá para reforçar a nossa imagem e iden-tidade, mesmo religiosa, face à sociedade, além de difundir e manter viva a sensibi-lidade vocacional também junto dos Colaboradores.

3. A PASTORAL VOCACIONAL CONSTITUI UM PROBLEMA REAL A maioria dos Irmãos reconhece-o, e considera que ele se deve a uma sé-rie de carências objectivas que variam de uma zona geográfica para outra. Emerge, antes de mais, um background cultural de base muito inteligente que conduz ao núcleo substancial da natureza da Pastoral Vocacional. De facto, concebe-se principalmente e de forma apropriada, principalmente como um acompanhamento constante e atento dos candidatos que pedem com urgência um apoio adequado no seu caminho de crescimento.

De facto, o problema principal, é o acompanhamento insuficiente dos can-didatos (37%), acompanhado pela desmotivação dos Irmãos, causada pelos escassos resultados dos seus esforços (33,3%). Apresentamos uma nova ta-bela que indica por áreas geográficas as principais carências verificadas na Pastoral Vocacional.

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78 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

Em conclusão, sintetizando por ordem de importância os primeiros três gran-des problemas nas diferentes áreas geográficas, obtemos o seguinte quadro:

ÁREAS GEOGRÁFICAS

TOTAL das

respostas

Europa Meri- dional

EuropaCentral África América

Latina ÁsiaE.U.A.

CanadáAustrália

TOTAISPercentagem sobre o total

1012100,0

38037,5

18918,7

848,3

17217,0

12712,5

605,9

Não responde 10,0 13,7 11,1 3,6 6,4 5,5 11,7

Cargos improvisados 31,1 27,6 29,1 32,1 47,1 29,9 15,0

Escasso acompanhamento 37,0 33,2 23,3 58,3 43,6 51,2 25,0

Pressa em enviar para o

Postulantado20,7 15,8 16,9 26,2 34,3 25,2 6,7

Pastoral Vocacional =

Recrutamento33,0 34,2 26,5 42,9 25,6 42,5 33,3

Não integração na Igreja local 26,2 22,4 25,9 35,7 29,7 31,5 16,7

Pouca abertura da Igreja local 33,0 32,1 31,7 29,8 32,6 42,5 28,3

Irmãos desmotivados 33,3 41,6 30,2 20,2 18,0 35,4 48,3

Primeiro Segundo Terceiro

Europa MeridionalDesmotivação dos Irmãos

PV como recrutamento

Escasso acompanhamento

Europa CentralFechamento da igreja local

Desmotivação dos Irmãos

Cargos improvisados

América LatinaCargos improvisados

Escasso acompanhamento

Pressa para o Postulantado

ÁsiaEscasso acompanhamento

Fechamento da igreja local

PV como recrutamento

E.U.A.Desmotivação dos Irmãos

PV como recrutamento

Fechamento da igreja local

ÁfricaEscasso acompanhamento

PV como recrutamento

Não integração na igreja local

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79LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

4. PAPEL DO RESPONSÁVEL PELA PASTORAL VOCACIONAL E DO FORMADOR

A importância destes papéis é fundamental na formação para a vida reli-giosa. Das respostas dos Irmãos emergem imediatamente dois objectivos considerados prioritários: apresentar, de modo claro e compreensível, os valores e o estilo de vida do Irmão de S. João de Deus (62,2%) e dar a co-nhecer a missão da Ordem dentro da Igreja e a sociedade (63,1%).

Outros compromissos focalizam-se na necessidade de existirem critérios válidos de selecção (46,6%) e em realizar um acompanhamento adequado dos jovens (49,5%), colaborando com a Igreja local (47,1%) e envolvendo os Irmãos na corresponsabilidade da Pastoral Vocacional. Para o conseguir, será necessário adquirir uma série de competências educacionais de tipo cognitivo do mundo dos jovens (47,3%) e das famílias (31,3%), bem como de tipo prático no uso dos meios de comunicação (46,2%).

5. CAUSAS DE ABANDONO DA ORDEM Querendo resumir as diferentes causas de abandono da Ordem, parece-nos que elas se possam reconhecer especialmente nas seguintes carências:

> dificuldades nas relações interpessoais no âmbito da comunidade, > individualismo dos Irmãos, > isolamento e solidão no próprio trabalho e na comunidade, > enfraquecimento do carisma do Fundador, > desaparecimento das motivações vocacionais e dos ideais de vida, > falta de maturidade afectiva, > formação humana, cristã e religiosa inadequadas,> perda do sentido religioso da vida, fraqueza na fé,> falta de sentido espiritual, negligência na oração pessoal…, e indi-

cam-se também:> a atribuição prematura de cargos de responsabilidade, > a falta de acompanhamento individual e comunitário, > a pouca clareza sobre a identidade da vocação hospitaleira,> a incapacidade para assumir os compromissos da vida consagrada

hospitaleira, > o activismo que apaga a identidade de consagrados.

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80 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

6. A COMUNIDADE RELIGIOSA, SUJEITO PRIMÁRIO DA PASTORAL VOCACIONAL A Comunidade é o sujeito primário da Pastoral Vocacional em virtude do acompanhamento que oferece aos Irmãos mais jovens e porque favorece a sua inserção segundo os valores carismáticos da Ordem. É fundamental o tes-temunho de toda uma Comunidade no processo formativo dos candidatos.

Entre os factores positivos que numa comunidade podem favorecer o surgir de novas vocações, os Irmãos destacam o grande valor atribuído ao serviço da caridade fraterna (80,7%) e à oração pelas vocações (75,1%), a um estilo de vida sóbrio, simples e acolhedor (73,3%), num clima de vida espiritual in-tensa (69,9%), permeado pela alegria da própria vocação visível e contagiosa (64,8%), num espírito de verdadeira fraternidade (64,4%).

Sem dúvida, há os factores complementares, dos quais se sente a necessida-de, nomeadamente um melhor conhecimento dos jovens e da sua linguagem para melhor responder também aos seus ritmos e às suas expectativas.

7. VALORES CARISMÁTICOS DA ORDEM PROPONÍVEIS AOS JOVENS DE HOJE

Os valores carismáticos obtiveram uma grande adesão e uma avaliação muito positiva. A figura e o carisma do Fundador são fundamentais (88,2%), junta-mente com a missão da Ordem de cuidar das pessoas doentes, sem distinção de raça, religião e nacionalidade (89,7%), especialmente das que vivem em maiores necessidades (89%). Estes três elementos parecem constituir a Carta de Identidade da Ordem, a sua imagem mais directa e imediata com que ela se apresenta à sociedade. Hoje em dia, o valor da pessoa, especialmente da mais necessitada, surge de forma mais acentuada do que nunca na sociedade. Além disso, há que acrescentar o valor da solidariedade (80,7%), e outras duas características da Ordem: a autenticidade de uma vida fraterna alegre (80,5%) e a intensidade da vida espiritual, quer individual quer comunitária (70,8%).

Em conclusão, parece que podemos considerar com suficientes razões de mé-rito que o carisma do Fundador e, acima de tudo, a visibilidade da sua missão, se exprimem directamente no serviço da caridade, do assumir o cuidado dos outros, e numa sociedade que padece fortemente de individualismo e subjecti-vismo interessado, continuem a ser um ponto de referência evidente, concreto e fascinante, para quantos desejam dedicar a própria vida ao serviço da comu-

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81LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

nidade e das pessoas que vivem em situações de necessidade e sofrimento. O espírito da consagração parece vir em segundo plano, mas, na realidade, é ele que sustenta a missão e constitui a própria força da Ordem. Disso estão plena-mente convictos quase todos os Irmãos.

CONCLUSÃO Nestes valores, indicados por quase todos os Irmãos como os mais significa-tivos e importantes, parece concentrar-se por conseguinte a visibilidade do Fundador e o seu carisma específico da caridade social.

Um carisma que foi recentemente sublinhado também pelo actual Pontífice na sua primeira encíclica “Deus charitas est”, ao recordar, no capítulo sobre a prática do amor, que o amor de Deus se concretiza para o seu povo. Encarna-se nas obras de caridade da Igreja, e é traduzido em prática através dos seus filhos mais generosos, os santos da caridade, como S. João de Deus. É este o ícone que o mundo de hoje parece reconhecer como distintivo dos Irmãos: o serviço da caridade, exercido sobretudo em benefício dos doentes mais ne-cessitados e apoiado numa espiritualidade profunda.

É esta a síntese que desde há muito tempo passou para o imaginário popular e que foi amplamente interiorizada pelas pessoas como característica funda-mental do carisma da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus.

A fim de que tudo isto possa converter-se efectivamente em grande benefício e num bem para a sociedade e o Reino de Deus na missão evangelizadora da Ordem, é necessário reforçar com força a Pastoral Vocacional, fortemente relacionada com uma eficaz pastoral juvenil e, sempre e onde for possível, constituindo também uma integração fecunda e generosa com outros insti-tutos e movimentos de vida consagrada.

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82 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

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83LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Em nome do Governo Geral, foi pedido ao grupo dos Colaboradores leigos convidados a participar no Capítulo que formulasse algumas indicações como contributo para o discernimento dos Padres Capitulares na eleição do novo Superior Geral e do seu Conselho.

Em primeiro lugar, nós, os colaboradores, queremos agradecer ao Superior Geral e ao Conselho Geral a oportunidade que nos deram de participar nes-te Capítulo. É a primeira vez que um Capítulo Geral tem uma tão numerosa participação de colaboradores leigos e este facto é já de per si um sinal de abertura e esperança. Por outro lado, o tema do relacionamento entre Colabo-radores e Religiosos foi talvez o mais debatido no Capítulo. Registamos esta mudança cultural irreversível que certamente marcará o futuro da Ordem.

Além disso, se nós hoje nos encontramos aqui e somos sensíveis aos proble-mas que estamos a enfrentar, devemo-lo ao facto de os Irmãos terem sido para nós, sob diversas formas, mediadores do carisma de S. João de Deus. E também por isto vos queremos agradecer.

Depois que de nos termos confrontado entre nós, emergiram as seguintes indicações específicas, que passamos a propor à reflexão do novo Superior Geral e do seu Conselho:

1) Reconhecimento do carismaPedimos que seja reconhecida a participação de alguns leigos no carisma de S. João de Deus como já estando presente e actual. O carisma, como se disse, é um dom que o Espírito, “que sopra onde quer”, faz à Igreja. Por isso, há já alguns leigos que participam dele. Trata-se, pois, apenas de o aceitar e actuar mais plenamente, e de o partilhar mais com os religiosos, nos modos e formas que o novo governo Geral da Ordem achar mais oportuno, reconhecendo para alguns deles, de modo oficial, uma autêntica “vocação para a hospitalidade”.

Declaração dos colaboradores que participaram no capítulo

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2) Consulta dos leigosComo afirma um dos textos mais importantes da teologia sobre o laicado (“A consulta dos crentes em matéria de doutrina”, do Card. Newmann), con-sultar os leigo também em assuntos doutrinais, mas sobretudo nas ques-tões pastorais, não é uma possibilidade opcional ou uma concessão, mas um dever concreto. Trata-se de todos se reconhecerem como povo de Deus, percorrendo os caminhos da hospitalidade, respeitando embora as diferen-tes vocações e os estados de vida. Já se fez muito, na Ordem, neste sentido. Pedimos ao novo governo que continue nesta direcção, tornando-a ainda mais fecunda.

3) Mensagem de confiançaAo novo Governo Geral, justamente preocupado com o futuro da Ordem e a diminuição das vocações, gostaríamos de enviar uma mensagem tranquili-zadora. Talvez não se trate de deficiências humanas em conseguir concre-tizar uma adequada pastoral vocacional, mas antes da vontade de Deus. Precisamente por isso, queremos enviar-vos uma mensagem de confiança: a Ordem não se irá extinguir, mesmo com a escassez actual e futura de reli-giosos, enquanto houver leigos que, responsavelmente, participem no seu carisma, o guardem e concretizem.

4) Apreço pelos ColaboradoresO novo governo terá certamente que testemunhar a proximidade da Ordem aos doentes, mas também a quantos cuidam deles com respeito e consi-deração, indo ao seu encontro, dirigindo-lhes palavras de encorajamento, proximidade nos momentos difíceis, etc. Os Colaboradores leigos poderão assim ver o rosto da caridade não só na ajuda aos necessitados, mas tam-bém na proximidade com a sua vida pessoal que decorre em grande parte precisamente nos lugares de trabalho. Todos, então – Colaboradores e Re-ligiosos – deveremos aprender a elogiar e não só a criticar-nos ou a culpar--nos reciprocamente.

5) Partilha e integraçãoPedimos que sejam definitivamente superadas as lógicas “de propriedade”: S. João de Deus quis ter um hospital “seu” – não para si mesmo, mas para o doente. É necessário passar da lógica da propriedade à da partilha e da

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comparticipação. Todos aqueles que, por títulos diversos e com diversos ní-veis de compromisso existencial, participam no carisma de S. João de Deus, têm que sentir o dever de ajudar a nossa obra a desenvolver-se com um sen-tido de verdadeira pertença a ela. É tempo de os leigos serem plenamente integrados na vida da Ordem, embora com um diferente grau de participa-ção e envolvimento.

6) A coragem do riscoÉ necessário que a Ordem saiba reconhecer e acolher as novidades, mesmo correndo riscos. Embora a hagiografia nos apresente apenas os “sucessos” de S. João de Deus, houve também muitos fracassos na sua vida. Até ao fim, quando se lança ao rio Genil para salvar um jovem que estava quase a afogar. No plano humano, também este é um insucesso: não salvou o rapaz e ele próprio viria a morrer, como consequência desse acto. Mas ele arriscou sem hesitar, mesmo à custa de errar. Também a coragem do risco, de abrir novos caminhos, de se ser criativos, é um dom de Deus que invo-camos para a Ordem e as suas opções, especialmente as que afectarem os Colaboradores leigos.

7) Valorizar a humanizaçãoComo se disse, é necessário manifestar um apreço especial pelo Cola-borador que trabalha ao lado do doente, mais do que por quem angaria fundos para a estrutura e aqueles que estão mais preparados. Isto não pretende subestimar a competência profissional, que é o primeiro requi-sito para uma humanização autêntica, mas antes valorizar, se necessário através de sistemas de avaliação adequados, aquela especificidade hu-manizante que deve constituir uma condição indispensável das nossas Obras.

8) Encontros internacionaisÉ importante institucionalizar momentos de encontro internacional para os colaboradores leigos, para além dos breves intercâmbios que ocorrem nos Capítulos, para que eles possam confrontar as suas ideias e enquadrar os problemas da Ordem numa perspectiva laica, considerando, por um lado, a sua dimensão universal e, por outro, as especificidades regionais das suas Províncias.

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9) Obras geridas por leigosComo já acontece nalgumas Províncias, é necessário que em toda a Ordem a administração completa de algumas Obras seja confiada a leigos preparados e participantes no carisma, em nome e por conta da Ordem. Será uma pre-sença multiplicadora das actividades apostólicas da Ordem e, a longo prazo, parece-nos que isso poderá ser também um fecundo recurso vocacional. Esta perspectiva não se pode considerar relacionada apenas com o futuro da Or-dem: nalgumas partes do mundo existe já a urgente necessidade de concre-tizar tudo isto em breve tempo. Por conseguinte, por um lado, é precisa uma visão estratégica geral e, por outro, a concretização in loco, desde já, para algumas das realidades.

10) Escola da hospitalidadePrecisamente para que haja um grupo de leigos preparados e participantes no carisma que, como fez até agora a Ordem, possam dar um sentido unitário à sua múltipla difusão no mundo, poder-se-ia pensar na criação de uma au-têntica “Escola da Hospitalidade”, central (com sucessivas expressões perifé-ricas), que constitua a forja dos novos colaboradores leigos capazes de gerir as Obras de acordo com o espírito e em nome de S. João de Deus.

O que nós pedimos aos Padres Capitulares para o próximo momento eleitoral está contido nas indicações que acabamos de expor. Em breve vos deixare-mos entregues aos vossos deveres canónicos mas, antes de partirmos, que-remos dizer-vos que, também neste momento electivo, estaremos em comu-nhão convosco, acompanhando-vos com o nosso afecto e as nossas orações ao Espírito Santo.

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Tempo para a liderança Discernimento e Eleição do Novo Governo Geral Ir. Helena O’Donoghue

“Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debai-xo do céu” (Ecl 3,1).Este é o tempo em que... ireis escolher e consagrar a vossa nova liderança.Qual é o chamamento, o desafio, o serviço almejado? Neste tempo?Um tempo para plantar?... Um momento para colher?... Um tempo para des-truir?... Um tempo para construir?Um tempo para receber inspiração e poder do Espírito de Deus que actua no tempo, no passado e nos dias de hoje, desde a tradição e a partir de agora.

A LIDERANÇA NESTE TEMPOAssim, dirigimos a nossa mente para a questão que estamos a abordar – a liderança. O papel e a natureza da liderança ocuparam as mentes dos povos em toda parte e em todos os campos: grupos, negócios e nações do mundo inteiro – e também nós próprios, num contexto da Igreja. Como líderes nos nossos próprios campos, somos filhos do nosso tempo e não estamos imu-nes às questões e perspectivas predominantes. Hoje, a autonomia individual goza de uma grande consideração; as pessoas investidas de autoridade são frequentemente olhadas com suspeição, e delas esperam-se graus de partici-pação tão elevados – que, por vezes, são mesmo exigidos –, que a liderança parece estar muitas vezes virtualmente impossibilitada. No entanto, nos nos-sos momentos de maior lucidez, sabemos que precisamos de orientação, de agir, de coesão, de planeamento e de decisões, e assim procuramos – chega-mos mesmo a clamar por – liderança em tempos de crise ou confusão.

Em tempos de maior desconforto e de grandes transformações, a liderança tor-nou-se na questão crucial. Vivemos nesse tempo. O vosso documento –“Cami-nho de Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus” centra muito bem o problema: estamos numa “mudança de época”, mais do que numa época de mudança. Como podemos comprovar pela nossa experiência, a mudança situa-se frequentemente algures no horizonte, mas parece que ainda não che-gou verdadeiramente. As pessoas podem aperceber-se dela, mas não podem

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descrevê-la plenamente. Surgem então tensões entre as forças que impelem à mudança e as que defendem a estabilidade. Por vezes, nesses momentos, a liderança é essencial, na medida em que tem que se ocupar destas forças, bem como lidar com as esperanças e os receios relativamente ao futuro que inevi-tavelmente afectarão as pessoas. Se a liderança falha nesta tarefa prevalecerá então a conservação sobre a missão, e mesmo a morte pode prevalecer sobre a vida. Frases do tipo: “deixa as coisas como estão, não se pode fazer nada, fecha os olhos e espera que tudo se resolva”, são atitudes da fraqueza, do laxismo, de indiferença e medo. Quando surge alguém que assume esse desafio assus-tador, e guia o barco através de tais águas turbulentas, essa pessoa emerge e é considerada como um líder dotado. Nós encontramo-nos actualmente nesse tempo – na vida religiosa, na igreja e na Humanidade, que clama por uma lide-rança que seja visionária, estratégica, autorizada e clemente.

LIDERANÇA E VISÃO RELIGIOSAS Os diversos estilos e modos de liderança foram debatidos em muitas confe-rências e textos, nos últimos dez anos. Não pretendo descrevê-los aqui, nem seleccionar aqueles que mais se adaptam aos nossos tempos. Mas propo-nho-me focalizar o cerne subjacente à liderança no contexto cristão, a come-çar pelo lugar da visão. Algumas formas de visão entram em acção quando um povo escolhe algumas pessoas às quais, livremente, confere poder ou autoridade para que elas conduzam o grupo, tendo em vista a consecução da sua visão e das suas metas. Quando a esse grupo falta uma visão de futuro, quem for investido de autoridade acaba por perdê-la, não chega a afirmar-se, a ser apreciada ou a tornar-se efectiva. “A soberba precede a ruína, e a presunção precede a queda” (Pr 16). Vós articulastes a visão de quem sois, e onde sois chamados a estar, nos vossos admiráveis documentos e no vosso trabalho neste Capítulo. Trata-se de uma visão esculpida no poder do amor, da misericórdia e da hospitalidade, para marcar a diferença e contribuir para um mundo melhor. Os que detêm autoridade são identificados como pessoas que encarnam essa visão com paixão, para caminhar como amigos de Deus, com capacidade para interpretar e narrar a história sagrada da presença de Deus nos eventos que afectam o grupo, e inspirar os membros com um signi-ficado compartilhado que lhe dá energia e desperta para o seu enlevo e es-perança na fidelidade de Deus. Os líderes de hoje, como sempre no passado, são chamados a caminhar nas pegadas do seu grupo, a vestir a sua roupa, a

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reflectir os seus anseios e a erguer-se em sua defesa perante os seus inqui-sidores. A liderança é um chamamento a erguer-se na brecha, porventura de muitos modos inesperados, à medida que o grupo progride na sua caminhada ao longo de uma estação que representa uma mudança de época. Trata-se de um papel que é próprio de Cristo. “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo” (Jo 13,1). Este é o núcleo e o ideal da visão cristã e da tradição, quando se constitui e se assume a auto-ridade; é esta a base da liberdade sagrada do povo de Deus.

Este é então o tempo em que pode muito bem ser fundamental olhardes para o vosso Pai Fundador, S. João de Deus, nesse contexto. A sua visão, que emer-ge dos seus próprios sofrimentos, moldada e motivada pelos sofrimentos dos pobres desamparados ao seu redor, alimentada e aperfeiçoada pelo seu amor total por Deus, que o tornou um líder sensível daquela inspiração que vós aqui representais, como seus Irmãos e colaboradores, cerca de 500 anos de-pois. A visão é algo semelhante a um mapa geral que não necessariamente fornece todos os detalhes do caminho a percorrer, nem indica os possíveis desenvolvimentos concretos que poderão emergir no futuro. Visão é um aler-ta constante para o sofrimento que permite colher a oportunidade imediata, e a capacidade de captar a possibilidade que dessa forma poderá surgir. A visão representa os olhos de uma paixão profunda que não será extinguida enquanto a dor não for aliviada ou erradicada.

ESTRATÉGIA E LIDERANÇA Visão e estratégia caminham juntas. S. Tiago diz-nos que “a fé e as obras caminham juntas, e que fé sem obras é estéril” (Tg 2, 7). Do mesmo modo, a verdadeira visão conduzirá a uma estratégia. Pode começar por pequenos coisas, como transportar os pobres abandonados para debaixo de pórticos e entradas de casas em Granada, para cuidar deles, ou pode progredir até aos elevados níveis de tecnologia médica, ou às elevadas competências de muitos admiráveis colaboradores, permitindo que os marginalizaram de hoje encontrem abrigo e esperança no átrio de uma casa moderna que garanta cuidados médicos e uma nova vida.

Talvez a dimensão mais crítica e onerosa de liderança seja a necessidade de haver uma estratégia, uma planificação cuidadosa e perspicaz, tomar deci-

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sões e, por vezes, correr riscos e disponibilizar recursos para prosseguir em frente no sentido da visão. A maioria das outras áreas de liderança (adminis-tração, pastoral, gestão) podem ser delegadas ou confiadas a outros, mas isso não é possível em relação a área de inspiração – a estratégia não pode realmente ser transferida para outras pessoas. Quem ocupa cargos importan-tes em qualquer instituição não pode esquivar-se à grande responsabilidade de definir estratégias e de tomar decisões. A nossa consciência global tornou-nos profundamente consciente de que a forma do amanhã será em grande parte o resultado das decisões assumidas hoje – ou da falta delas. Se quisés-semos criticar os nossos próprios tempos, do ponto de vista político, social e mesmo eclesial, o elemento claramente ausente da liderança é provavelmen-te a falta de uma estratégia. Porque estamos numa época de mudanças rápi-das e extraordinárias, a estratégia tornou-se mais vital do que nunca, para a missão e o ministério, para uma boa planificação e gestão dessa mudança em prol do Reino. A estratégia, que deve brotar de uma consciência informada da realidade de hoje e de uma sede de compartilhar a misericórdia de Deus e a hospitalidade, será efectiva e poderá manifestar-se na reconfiguração da Ordem e dos seus ministérios, mediante uma reconfiguração que fornecerá constantemente respostas aos nossos tempos, de hoje e amanhã.

LIDERANÇA COM FORÇA DE AUTORIDADEA verdadeira liderança confere autoridade, por vezes de modo surpreendente. Olhemos para Jesus e os seus apóstolos, inconstantes, que viriam a tornar-se evangelizadores e arautos da Boa Notícia até à sua morte. Todos os nossos Fundadores foram pessoas que reuniram e incentivaram companheiros que continuaram a encorajar e a formar os seus Colaboradores. Como uma Ordem atinge o seu ápice no ciclo de vida, sucede frequentemente que esta dimen-são parece ficar debilitada e desgastada. Todos pensam saber o que devem fazer – sem necessidade de mais ensino ou formação! Este desenvolvimento pode diminuir e diluir a coesão do grupo, toldar a sua visão, enfraquecer a estratégia, e apercebemo-nos então que precisamos de aprender pela forma mais dura, que é necessário motivar e conferir de novo autoridade uns aos outros. Um verdadeiro amor e apreço pelo líder por parte dos membros, jun-tamente com uma boa comunicação, abrem o caminho à autoridade. A con-vicção do Líder de que o Espírito de Deus e o carisma da Ordem residem nos seus membros, conduz a muitos esforços diferentes para libertar e encorajar

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esse Espírito, de forma que cada um, conforme os seus talentos, possa ser criativo e responsável na promoção e concretização da visão e das metas.

Como nos empenhamos nas questões e lutas do nosso tempo, os membros precisam de se empenhar num diálogo directo com ele, para serem capazes de ler e interpretar os seus sinais e para, depois, influenciados pelo Espírito, estarem preparados para ver e imaginar como deverão ser, de forma mais completa e autêntica, responsáveis em relação à época em que vivem. Es-cutando o Espírito (e, como Maria, perguntando ao anjo “como é que isso é possível?”), é fundamental que os líderes estimulem a imaginação inspirada dos membros, especialmente de dois modos magistrais: o primeiro consiste em despertar de novo, de modo mais profundo, a paixão pela misericórdia e a hospitalidade, dentro de cada um e em todo o grupo; o segundo traduz-se no encorajamento a ir com simplicidade, e sem demora, para as áreas de neces-sidades particulares, juntamente com outros, abrindo portas de liberdade, esclarecimento, paz e vida a quantos vivem no sofrimento.

Esta é sem dúvida uma viagem através de um terreno acidentado que requer nos dias de hoje uma imaginação inspirada e autorizada. Durante muito tem-po, as nossas instituições de ministério eram a plataforma a partir da qual procurávamos ser levedura de misericórdia e testemunhas de um Deus cuida-doso no meio de nós. À medida que abandonámos algumas das nossas insti-tuições ministeriais e partimos para novos empreendimentos de colaboração, a questão que se coloca e o desafio que se nos apresenta são: como podemos nós assegurar que o apelo a “coisas mais profundas”, do coração e da alma, que estão no centro da vida humana, pelo carácter especial da herança de S. João de Deus, penetre nos novos ambientes? Precisamos de novas plata-formas, de novos “vãos de escadas” e de novos pórticos. Onde é que eles se encontram – novos odres para vinho novo? Poderá ser necessário explorar e reunir a nossa consciência colectiva do Evangelho e apresentá-lo com outros, em diversos formatos novos e em várias configurações, em todos os lugares onde trabalhamos e no mais vasto mundo de hoje? Tentar percorrer este ca-minho é certamente uma viagem por um terreno acidentado e implicará novas competências, generosidade, planificação e recursos. Não duvidamos que o Espírito de S. João de Deus está convosco, que o seu carisma está vivo entre vós, e que o Espírito do Senhor trabalha convosco, que sóis verdadeiramente

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os “predilectos”, apesar dos defeitos e insucessos que possam ocorrer. É com esta perspectiva que o líder ganha confiança e define as linhas no mapa do seu caminho.

LÍDER MISERICORDIOSONunca como nos dias de hoje houve tanta necessidade de liderança compas-siva. Vivemos num mundo cruel, exigente e frequentes vezes rude, que de-monstra pouca consideração ou compreensão pela luta do homem, pela sua fraqueza e as suas imperfeições. Na sua história, S. João de Deus compendia a compreensão divina por todas as formas de fraqueza humana. As nossas comu-nidades, as nossas Ordens, já aguentaram muito do calor do dia, abandonaram uma grande parte das estruturas que uniam as paredes frágeis do nosso imatu-ro desenvolvimento, e experimentamos por isso muitas limitações nas nossas capacidades actuais. Este é o tempo em que os fracos são confundidos com os fortes, em que Deus se serve do que é pequeno para realizar os seus desígnios. Se de alguma coisa nos podemos orgulhar, só poderá ser, como S. Paulo, da nossa fraqueza, das nossas comunidades fragilizadas, dos nossos fracos esfor-ços. Há a este respeito um vasto espaço para nos esforçarmos! Ser compassi-vo não significa basearmo-nos no princípio do menor esforço, e muito menos desculpar o que está errado. Mas a compaixão nasceu da misericórdia – um elemento fundamental da vossa espiritualidade (e também da minha) – uma misericórdia que é fonte de perdão, de cura e recuperação; um poder que é maior do que o mal, o pecado ou a morte. É a bondade (delicadeza amorosa) de Deus em acção. A misericórdia abre o caminho da justiça e da paz; a misericór-dia é a compreensão mais completa da natureza do nosso Deus. João Paulo II declarou que a misericórdia é o outro nome de Deus! Segundo Meister Eikhert, podemos afirmar que Deus é amor, podemos dizer que Ele é bondade, mas o nome mais profundo de Deus é compaixão. A minha congregação foi fundada em 24 de Setembro de 1827, Festa de Nossa Senhora da Misericórdia ou, como então se dizia, de Nossa Senhora do Resgate. Esta festa comemora o sacrifício dos cristãos que, durante a perseguição muçulmana no Sul de Espanha, resga-tavam os escravos sofrendo o martírio em vez deles, na época medieval. Mise-ricórdia significa, pois, “tomar o lugar de alguém”, dar a própria vida em troca da vida e do sofrimento do outro, ser e representar Cristo que tomou sobre Si a nossa dor e o nosso pecado. Misericórdia é uma poderosa palavra de recriação e redenção proferida em Cristo. É uma ferramenta disponível para o líder reli-

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gioso. É fácil constatar que compaixão não é um traço característico dos líderes actuais do mundo dos negócios, da política, das profissões ou do comércio. As regras férreas da competitividade não a toleram. Um líder compassivo é uma testemunha de outro Deus, alguém que permite a reabilitação e a recuperação de muitas pessoas.

CONCLUSÃO Finalmente, um Líder pode receber encorajamento e inspiração de Moisés, chamado a servir e libertar o seu povo num momento de grande mudança e movimento, um Êxodo! O cardeal Carlo Maria Martini escreveu palavras muito belas, há quase 20 anos, sobre este tema, e as suas reflexões são ainda hoje pertinentes e esclarecedoras. Moisés é principalmente o Servo do Deus da Misericórdia: “Eu bem vi a opressão do meu povo…, e ouvi o seu clamor… Desci a fim de o libertar” (Ex 3,7). Tudo aquilo que Moisés fará dali em diante tem por fim tornar realidade este sonho de Deus. Martini fala de cinco modos principais que fazem de Moisés um grande líder:

1) conduziu o povo pelo deserto garantindo a sua sobrevivência, for-necendo-lhe alimento e água;

2) responsabilizou-se pelo seu povo, assumindo as suas tensões, preocupações e discordâncias;

3) rezou e intercedeu por ele, com um índice elevado de ousadia; 4) transmitiu-lhe uma palavra de consolação que era muito mais do

que simples simpatia humana; e finalmente, 5) levou aos filhos de Israel a palavra de Deus com tal convicção que

“…tudo o que o Senhor tinha ordenado a Moisés, assim fizeram” (Nm 1, 54).

Moisés tinha encontrado graça junto de Deus e tornou-se seu amigo íntimo. Ele foi chamado para ser líder num tempo de imensa importância na história sagrada do Povo de Deus.

A fundadora das Irmãs da Misericórdia, Catherine McAuley, escreveu a uma das suas jovens delegados: “Ser uma boa líder (madre superiora) é a melhor coisa que podes fazer nesta vida!” Julgo que temos aqui conteúdos de sobra para que todos possamos reflectir neste tempo, que é de mudança de época.

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PRIORIDADES DA HOSPITALIDADE PARA O SEXÉNIO 2006-2012

Fruto do trabalho de reflexão e análise pessoal, em grupos e em assembleia, a partir do estudo do documento capitular “Instrumentum Laboris”, o LXVI Capítulo Geral da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus aprovou o seguinte Documento com as prioridades, linhas de acção e objectivos que servirão de base à elaboração do Programa do Sexénio por parte do Governo Geral

1. VIDA DOS IRMÃOS

A – PROMOÇÃO DA PASTORAL VOCACIONAL

1. Dar mais importância à pastoral vocacional em cada Província da Ordem, principalmente naquelas onde ela é deficitária, utilizando meios apropriados, confiando essa missão a pessoas bem pre-paradas e motivadas, servindo-se do Estudo sobre o Estado da Formação na Ordem e aplicando os critérios e directrizes sobre a pastoral vocacional que esse estudo apresenta.

2. Instituir comissões vocacionais a nível provincial e/ou regional e designar animadores da promoção vocacional preparados para avaliar a personalidade, a maturidade psicossexual e a orientação das pessoas interessadas em fazer parte da Ordem. Os animado-res da promoção vocacional deverão apresentar a nossa vocação como um chamamento para viver a vida consagrada na Hospitali-dade no futuro.

3. Promover a vida consagrada hospitaleira partindo da pastoral ju-venil, estando abertos a colaborar com outros grupos da Igreja, especialmente os que se dedicam à promoção vocacional a nível paroquial e diocesano, e participando nas iniciativas de formação do pessoal clínico, nos serviços de acção social, caridade e volun-tariado.

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B – FORMAÇÃO NA ORDEM 1. Cuidar da selecção, personalização e acompanhamento nos pro-

cessos formativos, para que os formandos sejam religiosos equi-librados, sob os pontos de vista psíquico e afectivo, íntegros e competentes.

2. Formular estratégias para o intercâmbio de pessoal formativo entre as diferentes Províncias e criar centros de formação inter-provinciais, regionais ou internacionais, promovendo os que já existem.

3. Durante o período de formação inicial, começar a aprender uma outra língua para além da própria (inglês, espanhol ou italiano), favorecer a comunicação e as relações no âmbito da Ordem, espe-cialmente nos encontros internacionais.

4. Promover uma adequada “selecção e formação de formadores” que os ajude e lhes permita dedicar-se a transmitir o ideal da vida con-sagrada em hospitalidade, com uma mentalidade de abertura, no meio de uma sociedade multicultural, sabendo dialogar de forma competente com o mundo laico dos Centros e Obras Apostólicas.

5. Identificar Colaboradores que possam ser assessores no âmbito da formação da Ordem, especialmente dos Irmãos.

6. Promover a formação permanente, motivando e elevando a consci-ência da sua necessidade e importância como elemento que ajude a manter a fidelidade e a identidade na Ordem. Entre outras inicia-tivas, deverão ser incluídos cursos – de carácter geral, interpro-vincial ou provincial – de preparação para a Profissão Solene, e outros que sejam considerados necessários, especialmente para os Irmãos mais velhos, a fim de os ajudar na sua adaptação à vida não laboral quando chegarem à idade da reforma.

C – VIDA FRATERNA E NOVAS FORMAS DE VIDA EM COMUNIDADE VIDA FRATERNA

1. Aprofundar a vida espiritual, aplicando quanto estabelecido no Li-vro sobre a Espiritualidade da Ordem.

2. Viver a consagração hospitaleira com integridade, responsabilida-de e coerência, sentindo-se todos os Irmãos corresponsáveis na construção da comunidade fraterna.

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3. Acolher, compreender, cuidar e acompanhar os Irmãos mais ve-lhos, valorizando e aceitando positivamente a contribuição criati-va dos Irmãos jovens, indispensável para manter a Ordem viva e dinâmica.

4. Crescer na comunhão entre os Irmãos através do diálogo e do intercâmbio nos diferentes momentos comunitários, incluindo o tempo livre passado em comunidade (recreio, férias, etc.), com-partilhando a vida (origem e história da própria vocação), a fé, a experiência de Deus e a missão hospitaleira, a fim de superar e impedir o individualismo nas nossas comunidades.

5. Rever a missão do Superior como animador religioso-hospitaleiro da Comunidade ou Obra, e fazer uma descrição das qualidades essenciais que ele deveria possuir.

NOVAS FORMAS DE VIDA EM COMUNIDADE 6. Encontrar a maneira de as comunidades serem abertas e estarem

dispostas a compartilhar aspectos diferentes da sua vida com os Colaboradores, os Doentes ou os Residentes que o desejarem.

7. Velar para que cada Irmão, seja qual for a sua missão apostólica, tenha uma referência comunitária e esteja efectivamente ligado a uma comunidade, especialmente os Irmãos que têm um compro-misso apostólico mais específico fora do centro e da comunidade, ou porque, a título excepcional, vivem sós.

8. Impulsionar experiências de Comunidades intercongregacionais (com religiosos de outros institutos de vida consagrada ou socie-dades de vida apostólica) ou ecuménicas (com membros de ou-tras confissões cristãs).

9. Criar Comunidades temporárias instituídas para animar projectos específicos dentro e fora da Ordem, que se deveriam dissolver quando o projecto estivesse concluído.

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100 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

2. MISSÃO DA ORDEM

A – GESTÃO CARISMÁTICA

1. Perceber que, para ser realmente “carismática”, a gestão tem que ter a evangelização como seu principal objectivo e ser realizada de acordo com os valores e o espírito de S. João de Deus, procurando um equilíbrio constante nos nossos Centros entre critérios de ges-tão e conteúdos carismáticos.

2. Promover, a nível da Ordem e das Regiões ou Províncias, um ciclo de formação sobre gestão carismática, para Irmãos e Colaboradores, principalmente para os directores e responsáveis intermédios, de forma que eles sejam depois os transmissores desta filosofia a to-dos os níveis dos Centros, no desenvolvimento da sua actividade.

3. Fazer uma reflexão de carácter geral, após vários anos de expe-riência na administração carismática na Ordem e nas Províncias, de maneira a adquirir uma aplicação real dos critérios da Carta de Identidade e para que eles sejam utilizados nas diferentes Provín-cias da Ordem de modo apropriado e adaptado à situação social, laboral, legal e organizacional.

4. Implementar em cada Província um plano estratégico que nos aju-de a progredir e a alcançar os objectivos propostos pela Carta de Identidade. Para isso contamos com alguns instrumentos próprios (Visitas canónicas, Conferências Provinciais, etc.) e com outros ex-ternos, inclusive auditorias que nos garantam melhores níveis de participação, transparência e viabilidade nos Centros, tendo em vista uma melhoria contínua.

5. Estudar, por parte do Governo Geral da Ordem, a criação de um sinal distintivo ou “marca” característica para toda a Ordem de S. João de Deus.

6. Manter sempre uma transparência administrativa, garantida e comprovada – se necessário, recorrendo a auditorias externas. Caso não existam ou seja difícil recorrer a elas, o controle da ges-tão deverá ser garantido por pessoas nomeadas pelo Provincial e o seu Conselho.

7. Separar de modo claro a gestão administrativa das nossas Obras da gestão da Comunidade religiosa.

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8. Avaliar diversas possibilidades, antes de proceder ao encerra-mento de uma Obra Apostólica por razões carismáticas ou eco-nómicas, de modo que ela possa continuar a realizar a missão de Hospitalidade como parte do ministério evangelizador da Igreja:

a). Destinando-a a outra actividade apostólica tendo em con-ta as necessidades do meio ambiente, seguindo os critérios provinciais.

b). Definir uma estrutura jurídica nova.c). Confiar a sua gestão a outra entidade que partilhe os crité-

rios fundamentais da Ordem.9. Identificar benfeitores (pessoas ou entidades) que ajudem a sus-

tentar economicamente as Obras Apostólicas da Ordem na acti-vidade desenvolvida a favor dos mais necessitados, retomando assim a sua antiga natureza mendicante.

10. Implementar um sistema de qualidade carismática, homologa-da, que nos ajude a avaliar o carisma e os valores da Ordem na missão que se realiza em cada Centro, de acordo com a Carta de Identidade da Ordem.

B – OPÇÃO PELOS POBRES, DOENTES E NECESSITADOS

1. Dar resposta, movidos pela nossa sensibilidade em relação a no-vas formas de Hospitalidade, às necessidades dos grupos mais desfavorecidos do nosso meio ambiente, principalmente em favor dos que vivem abandonados ou oprimidos.

2. Encorajar os Colaboradores, partindo da administração dos nos-sos Centros, a serem sensíveis e a responder às necessidades não satisfeitas dos pobres.

3. Promover a opção a favor dos pobres e doentes nas nossas Obras Apostólicas tradicionais e criar outras para assistir os novos ne-cessitados.

C – IRMÃOS E COLABORADORES UNIDOS NA MISSÃO E NO CARISMA

1. Integrar Irmãos e Colaboradores a partir dos três níveis seguintes:a). trabalho profissional bem feito,b). compromisso com o projecto hospitaleiro da Ordem, c). compromisso de fé.

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102 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

2. Constituir, de forma institucional e flexível, pela Cúria Geral, a Fa-mília Hospitaleira e/ou o Movimento S. João de Deus, a partir das diferentes experiências que se verificam nas Províncias.

3. Impulsionar, por parte do Governo Geral, novas formas de maior comunhão espiritual com a Ordem para alguns Colaboradores. Elaborar estatutos ou um regulamento e um protocolo de afiliação que permita às Províncias que o desejarem poderem receber pedi-dos dos Colaboradores que queiram viver com um empenhamento mais sério a sua fé cristã segundo o estilo de S. João de Deus.

4. Prestar uma atenção especial aos critérios de selecção e contrata-ção do pessoal dos Centros e das Cúrias Provinciais, especialmente para as tarefas de direcção. É necessário que neste processo, quan-do as Províncias não dispuserem de outras indicações, o Superior da Comunidade, cujo papel é importante no acompanhamento do novo pessoal e na sua formação permanente, participe ou tenha co-nhecimento dele. Nos Centros onde não houver Irmãos, o Provincial deverá fazer todo o possível para nomear um Irmão para o Centro, na qualidade de Conselheiro Directivo para as questões que digam respeito ao carisma, à filosofia e à ética da Ordem.

D – TRANSMISSÃO DOS VALORES DA ORDEM

1. Criar, por parte da Cúria Geral, uma Comissão para elaborar as di-rectrizes e os conteúdos fundamentais para a transmissão dos va-lores da Ordem, a qual deverá actualizá-los periodicamente tendo em conta as mudanças históricas e as novas exigências.

2. Promover a transmissão dos valores da Ordem partindo do com-promisso dos Irmãos e dos Colaboradores comprometidos, princi-palmente nos Centros nos quais não há Irmãos.

3. Impulsionar a transmissão dos valores da Ordem para o exterior, prestando muita atenção à dinâmica de comunicação, com um marketing apropriado, capaz de promover a missão, a imagem da Ordem, o carisma de S. João de Deus e o estilo de vida dos Irmãos. Poderíamos definir isso como a “marca” de S. João de Deus.

4. Planificar a transmissão dos valores da Ordem ao nível geral, pro-vincial e local, identificando os que são prioritários, seleccionando e formando os agentes transmissores desses valores, identifican-

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do os destinatários e utilizando os instrumentos apropriados de forma actualizada.

5. Promover a formação de mediadores culturais ou outras iniciativas que sejam expressão da hospitalidade e do respeito pela multicul-turalidade, tendo em conta o actual pluralismo das nossas Obras Apostólicas e dos nossos modelos assistenciais.

E – PASTORAL DA SAÚDE E SOCIAL

1. Desenvolver a pastoral da saúde e social nos nossos Centros no âmbito da pastoral de conjunto, local e diocesana.

2. Potenciar e, onde não existam, constituir equipas de Pastoral e/ou de acompanhamento espiritual e religioso, de maneira que a sua acção se possa integrar dentro dos modelos e equipas assisten-ciais nos Centros.

3. Difundir o conceito de acompanhamento espiritual como termo abrangente, referido às necessidades espirituais da pessoa integral, seja qual for a sua opção ou posição religiosa, que também inclui.

F – BIOÉTICA 1. Criar em todas as Províncias Comités ou Comissões de Bioética, de

modo que promovam a reflexão e o debate sobre temas éticos em cada realidade assistencial e de investigação da Ordem.

2. Constituir, ao nível da Cúria Geral, um órgão de ligação, consulta ou um observatório, que permitam reflectir a nível da Ordem, para aconselhar as Províncias, documentar tudo quanto se vive nos Comités de Éticas e/ou de Bioética da Ordem e partilhar as infor-mações com o maior número possível de pessoas, especialmente com as que não dispõem deste tipo de Comités e devem enfrentar problemas semelhantes.

3. Procurar assessoria por parte das Províncias e dos Centros que preci-sam de ajuda em questões relacionadas com a Bioética nos Comités Bioéticos existentes na Ordem, ou outros Comités nacionais e dioce-sanos, desde que estejam em sintonia com os valores da Ordem.

4. Promover a formação em Ética e Bioética, de forma que estas ma-térias se tornem uma parte essencial do Plano de Formação da Ordem.

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3. COLABORAÇÃO (Networking)

1. Impulsionar a colaboração nos seguintes âmbitos da Ordem: a. interprovincial, dentro de uma mesma região;b. interprovincial, entre várias regiões geográficas;c. com outras instituições da Igreja;d. com outras instituições: administrações públicas, institui-

ções privadas com vocação social (sempre que haja interes-ses em comum e respeitando os princípios fundamentais da nossa Ordem).

2. Ponderar a possibilidade do nosso reconhecimento formal e de representação ao nível do Parlamento Europeu como entidade promotora da saúde e beneficiar dos fundos europeus económi-co-financeiros.

3. Manter e intensificar os encontros regionais para criar progres-sivamente uma verdadeira identidade regional, com o acompa-nhamento de um Conselheiro Geral.

4. Revitalizar, rever e reforçar as dinâmicas das Comissões Inter-provinciais.

5. Constituir um “banco de dados” com informação sobre os Cola-boradores da Ordem que desejem colocar as suas competências profissionais ao serviço das Obras Apostólicas com necessida-des muito específicas.

6. Intensificar e encorajar as Geminações entre Centros ou entre Províncias: geminações de tipo cultural e profissional entre Cen-tros que proporcionem o mesmo tipo de assistência clínica e ge-minações no sentido de ajudas humanitárias entre o Norte e o Sul.

7. Instituir um banco de dados actualizado a ser utilizado por toda a Ordem: experiências, investigações, informações e qualquer outro assunto interessante que represente um património a compartilhar, respeitando sempre as leis sobre a protecção de dados pessoais.

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8. Descentralizar a recolha de fundos para a cooperação interna-cional, deixando algumas iniciativas às Províncias. No entanto, as Províncias deverão transmitir a informação à Cúria Geral, de forma que ela disponha de toda a documentação sobre o conjun-to dos projectos financiados e apoiados pelas Províncias, pelos Centros e Associações ou ONGs da Ordem, e a possa comunicar a toda a Instituição.

9. Propor o título de “Departamento de Missões e Cooperação In-ternacional” para a entidade da Ordem a nível geral responsável pela gestão dos assuntos relacionados com as Missões e a Coo-peração Internacional.

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Propostas diversas

No capítulo das Propostas apresentadas ao Capítulo, algumas foram aprova-das mediante a respectiva votação, outras deram lugar a recomendações di-rigidas ao Governo Geral para que as tome em consideração e, para as imple-mentar, realize as acções que considere oportunas, e outras não chegaram a receber apoio suficiente para serem aprovadas. Transcrevemos seguidamen-te as correspondem às duas primeiras categorias, deixando de parte as que não foram aprovadas:

1. Criar uma Comissão para a revisão dos Estatutos Gerais e os as-pectos das Constituições que derivem das eventuais alterações aos Estatutos Gerais.

2. Adoptar como línguas oficiais da Ordem o italiano, o inglês e o espanhol.

3. Estudar a situação da Comunidade e do Hospital S. João de Deus de Nazaré (Israel) tentando promover e renovar a presença da Or-dem neste lugar.

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108 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

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109LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Discurso de encerramento Ir. Donatus Forkan

PREÂMBULO

O nosso LXVI Capítulo Geral está quase a terminar os seus trabalhos. O lema sob o qual o celebrámos, “Paixão pela hospitalidade de S. João de Deus hoje no mundo”, foi para nós nestes dias como que um marco de luz ou uma cons-tante evocação das razões por que estávamos aqui reunidos. Certamente que sentíamos entre nós a presença do nosso santo Fundador, S. João de Deus, e, em várias ocasiões, houve eventos e pessoas que nos fizeram lembrar a dura realidade da pobreza e do mundo do sofrimento nos dias de hoje, no qual ainda vivem e morrem tantas pessoas em situações de grande abandono.

O Capítulo foi para todos nós uma experiência de Pentecostes – um momen-to repleto de graça, não só para o Capítulo, mas para a Ordem inteira. Dou graças a Deus por Ele ter iluminado e guiado os nossos trabalhos por meio do Espírito Santo. Dou também graças ao Senhor por a nossa Ordem ter sido fundada por S. João de Deus, para continuar o seu ministério de cura na Igre-ja. Obrigado, Senhor, por todos os Irmãos e Colaboradores que fazem, ou que fizeram no passado, parte desta grande missão de misericórdia.

Os trabalhos do Capítulo foram mais frutuosos, e focalizados, tendo um INS-TRUMENTUM LABORIS, o documento de trabalho do Capítulo que orientou o seu desenvolvimento. Este Instrumentum foi elaborado por uma Comissão Preparatória, depois de ter recebido contribuições das Conferências Regionais e do Congresso de Jovens Hospitaleiros realizado em Granada, bem como de alguns Irmãos a título pessoal. Desejo agradecer aos membros dessa Comis-são pelo seu trabalho que serviu tão bem o Capítulo.

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110 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

Desejo agora agradecer, de modo muito especial, a todos e cada um de vós, Irmãos e Colaboradores, que participastes no Capítulo, pelo modo como cada um realizou o seu trabalho. A atmosfera de diálogo, sincero e aberto, e de escuta respeitosa durante as discussões e intercâmbios, permitiu que todos fossem ouvidos e pudessem expressar francamente, sem medo, as diversas perspectivas e os respectivos pontos de vista.

RECONHECIMENTO DO TRABALHO REALIZADO PELO IR. PASCUAL PILES

O afecto da Ordem pelo IRMÃO PASCUAL pôde ser reconhecido no prolongado aplauso que ele recebeu na Sala Capitular no momento em que resignou do seu mandato como Superior Geral para permitir a eleição de um novo Superior Geral. A mesma manifestação de afecto foi visível quando todos os Capitulares o cumprimentaram pessoalmente, de forma calorosa, para lhe manifestarem a própria gratidão e afecto, como Irmão e pela grandio-sa obra que ele realizou em favor da Ordem. A liderança que o Ir. Pascual imprimiu à Ordem como Superior Geral durante os últimos doze anos, e como Conselheiro Geral nos seis anos anteriores, foi inspirada pela sua fé profunda, pelo seu amor por S. João de Deus e pela sua paixão pela hospitalidade.

A capacidade revelada pelo Irmão Pascual em articular perspectivas teoló-gicas e espirituais – especialmente nas áreas da nossa vocação e na mis-são hospitaleira, bem como no modo de vida como pessoas consagradas – nas suas cartas, nos seus escritos e nas homilias e discursos que pro-feriu – enriqueceu imenso o património da Ordem. O seu mandato como Superior Geral ficará durante muito tempo associado ao facto de ele ter deixado à Ordem dois documentos, muito importantes e fundamentais: a Carta de Hospitalidade e o Caminho de Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus. Estes documentos constituem um importante recurso que continuará a guiar a Ordem na sua renovação e no desempenho da sua missão de hospitalidade ao longo do caminho de S. João de Deus, de forma consistente e coerente com a sua longa história e as suas tradições, para respondermos eficazmente às necessidades das pessoas de hoje.

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Pessoalmente, na minha já longa experiência de vida religiosa, posso afirmar com sinceridade que nunca trabalhei tão de perto com nenhum outro Irmão. Nunca vi noutro Irmão semelhante capacidade de trabalho, uma inteligência tão perspicaz, uma disposição tão aberta, tolerante e compassiva. Haveria muito mais coisas que poderia dizer, e gostaria de o fazer, em louvor do Irmão Pascual, como Irmão, com líder e como amigo, mas, por agora, limito-me a referir o enorme apreço e a admiração que por ele compartilho com toda a Or-dem. Desejo para o Irmão Pascual abundantes bênçãos divinas, paz e alegria, ao regressar à sua Espanha nativa e à Província de Aragão, para aí continuar o seu ministério no serviço de hospitalidade.

RECONHECIMENTO AOS OUTROS MEMBROS DO GOVERNO GERAL QUE CESSARAM AS SUAS FUNÇÕES

Gostaria agora de reconhecer e agradecer, em meu nome próprio e de toda a Ordem, ao IRMÃO EMERICH STEIGERWALD que durante mais de 22 anos prestou o seu serviço no Governo Geral da Ordem, como Conselheiro e Ecónomo Geral, pelo longo e fiel serviço prestado à Ordem, e pelo modo como desempenhou as suas funções. Desejo ao Irmão Emerich muitas bênçãos no momento em que regressa à sua Província na Alemanha.

O Irmão LUÍS MARIA ALDANA prestou serviço no Governo Geral durante doze anos e foi responsável pela promoção da Formação no âmbito da Ordem. Em toda a Ordem o Irmão Luís é provavelmente, depois do Ir. Pascual, a figura mais conhecida da Cúria Geral. Ele organizou com perseverança para os Irmãos dez cursos de formação como forma de preparação para a Profissão Solene. Acompanhou, deu assistência fraterna e orientação aos jovens Irmãos que participaram nestes cursos ao longo dos anos.

O Estudo sobre o Ministério Pastoral das Vocações e a Formação na Ordem, efectuado pelo Prof. Renato Mion, do Departamento de Sociologia da Facul-dade de Ciências da Educação da Universidade Pontifícia Salesiana, teve como principal responsável o Irmão Luís, que se dedicou incansavelmente a assegurar que o projecto fosse levado a cabo da melhor maneira possível e o compartilhou com a Ordem durante as Conferências Regionais e nestes dias

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do Capítulo Geral. O estudo foi um importante contributo para este Capítulo e será igualmente um importante documento de referência para as Províncias que se preparam para os Capítulos Provinciais.

Agradeço ao Irmão Luís, em nome da Ordem, e desejo-lhe os melhores êxitos e bênçãos no seu futuro ministério na sua Província de origem, a Colômbia.

O IR. PIETRO CICCINELLI trabalhou com o Conselho Geral durante seis anos. Um dos numerosos cargos de responsabilidade que desempenhou, além de ser Vice-presidente da Organização Não-Governamental da Ordem “AFMAL”, foi o de Vice-presidente Executivo do Hospital de S. João Calibita, na Ilha Tiberina. Ele desempenhou o seu trabalho com dedicação, empenho e in-tegridade. O Hospital da Ilha Tiberina, como é localmente conhecido, está desde sempre identificado com a presença da Ordem em Roma e celebrá-mos o 4º centenário dessa nossa presença em 1984. Foi sede do Governo Geral da Ordem durante muitíssimo tempo. Ao agradecer ao Ir. Pietro, em nome de toda a Ordem, pela grande contribuição que ele deu ao trabalho do Governo Geral, desejamos para ele muitas bênçãos no seu regresso à Província Romana.

O IR. LEOPOLDO GNAMI também foi membro do Conselho Geral durante seis anos e foi o primeiro Irmão africano a ser eleito para Conselheiro Geral. Neste perí-odo, ele foi também Delegado Geral da Delegação Geral Africana de S. Ricardo Pampuri, cargo que continuará a desempenhar. Como africano, do Benin, o Ir-mão Leopoldo trouxe ao Governo Geral sensibilidades, ideias e experiências, necessidades e desafios, bem como as oportunidades que a Ordem vive em África. O seu contributo ajudou o Governo Geral a lidar mais eficazmente com as questões que dizem respeito à presença da Ordem na África. Desejamos ao Ir. Leopold todas as bênçãos no prosseguimento das suas funções como Delegado Geral.

O IR. JOSÉ LUÍS MUÑOZ desempenhou o cargo de Secretário Geral nos últimos seis anos, mas prestou esse serviço à Cúria Geral pela segunda vez. O Ir. José Luís Muñoz foi uma presença constante na Cúria Geral quando o Superior Geral e os Conselheiros viajavam pelas Províncias no exercício do seu ministério. Pelo conhecimento que possui do Direito Canónico e graças à sua experiência

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como Provincial da Andaluzia, o Irmão José Luís foi uma preciosa ajuda, não só para o Superior Geral, mas também para os Provinciais. Os numerosos ta-lentos do Ir. José Luís foram por ele compartilhados com grande generosidade e contribuíram imenso para que o Governo Geral da Ordem pudesse funcionar de forma eficaz, eficiente e exaustiva. Em nome do Governo Geral, e de toda a Ordem, agradecemos ao Irmão José Luís e desejamos-lhe todas as bênçãos, paz e sucesso no seu ministério futuro, quando se reinserir na sua própria Província.

Naturalmente, além de mim, um outro Irmão permaneceu no Conselho Geral – o IR. VINCENT KOCHAKUNNEL. Dado que ele não nos abandona, não me vou deter a elogiar as suas muitas qualidades. Contarei com ele para apoio ao longo do próximo sexénio – mas, especialmente nos primeiros dias de organização do novo Governo Geral. Sei como ele me poderá ser útil, recordando a forma harmoniosa como nós ambos trabalhámos nos últimos seis anos na área da missão da Ordem “ad gentes”.

Outro Irmão que fez parte da Cúria Geral como Procurador Geral vai também regressar à sua Província de origem, na Ásia Austral: é o IR. FABIAN HYNES. O Irmão Fabian prestou serviço à Santa Sé durante mais de 50 anos como Direc-tor da Farmácia do Vaticano. Nessa qualidade, e também enquanto foi Supe-rior da Comunidade da Ordem da Cidade Vaticano, ele representou o que de melhor há na nossa vocação de Irmãos Hospitaleiros, na nossa missão e no nosso carisma, precisamente no coração da Igreja.

O Ir. Fabian fez com que o serviço prestado pela Farmácia do Vaticano, par-tindo de uma “pequeníssima drogaria” assumisse as dimensões que ela atingiu nos dias de hoje. Foi também Conselheiro Geral da Ordem e, durante muitos anos, Procurador Geral. O Ir. Fabian serviu a Santa Sé durante os pontificados de seis Papas e, provavelmente, é a pessoa mais conhecida e procurada em toda a Cidade Vaticano – depois do próprio Papa, obviamen-te! O Ir. Fabian é um farmacêutico profissional e, como tal, prestou serviço nas equipas médicas que assistiram os Papas e outras personalidades da hierarquia da Igreja na Cidade do Vaticano, sempre que necessário. Uma condecoração do mais alto prestígio conferida pela Comunidade dos Esta-dos da Ásia Austral, A Ordem da Austrália, foi atribuída ao Irmão Fabian

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como reconhecimento pela forma como ele, enquanto cidadão australiano que vive no estrangeiro, representou o seu país e sempre esteve disponível para os australianos e outros peregrinos que vinham a Roma e precisavam de assistência durante a sua estadia na Cidade Eterna.

Ao reconhecer o seu serviço, em nome não só de toda a Ordem mas também, estou certo, da Santa Sé, agradecemos a enorme contribuição que ele deu à Igreja e à Ordem em Roma, e formulamos para ele os melhores votos de bên-çãos, paz e alegria no momento em que retorna à sua Pátria e à sua Província, depois de tantos anos a viver no estrangeiro.

ELEIÇÃO DO NOVO SUPERIOR GERAL E DO CONSELHO GERAL

Os meus primeiros sentimentos ao ser eleito Superior Geral são de indignida-de e consciência das minhas muitas limitações para desempenhar este alto cargo. Ao mesmo tempo, porém, experimento igualmente uma grande paz in-terna que é, creio eu, um dom do Espírito Santo. A nossa amada Ordem, com a sua longa história de serviço na Igreja, é uma pérola de “valor inestimável” para a Igreja, que a própria Igreja aprecia e deseja preservar. O ministério que a Ordem desempenha, promove e defende é também altamente apreciado pelos países e as respectivas sociedades em que ela está presente. Mas são as pessoas doentes, pobres ou marginalizadas e as suas famílias que mais apreciam o que a Ordem representa e procura realizar em seu benefício nos momentos de necessidade. Mesmo não conseguindo prestar a assistência de forma tão perfeita como gostaríamos, é a avaliação deste segundo grupo de pessoas que avaliza os nossos serviços que mais nos agrada registar, e que nos impele a prosseguir no sentido de fazermos mais por eles, para sermos mais para eles.

Ser chamado para liderar, proteger e fazer avançar a missão da Ordem no início do Terceiro Milénio – que acaba de começar – é verdadeiramente uma tarefa assustadora. Confio totalmente na força de Deus que habita em mim, pois, como disse o cardeal Newman, “Foi a graça de Deus que me conduziu até onde me encontro e é a Sua graça que continuará a guiar-me.” Eu sei que S. João de Deus me guiará e me acompanhará. Sinto-me motivado pelo

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que conheço, na minha mente e no meu coração, sobre este homem ex-traordinário, apóstolo da caridade, seguidor fiel de Jesus, grande pioneiro – poderíamos até mesmo dizer: um revolucionário para o seu tempo.

Dedicar-me-ei inteiramente ao exercício do meu ministério e, com a vos-sa ajuda e as vossas orações, Irmãos e Colaboradores, prosseguirei na mesma linha do que foi sendo feito na Ordem em termos de renovação desde o Concílio Vaticano II, durante os mandatos de Superiores Gerais dos Irmãos Maria Alfons Gauthier, Pierluigi Marchesi, Brian O’Donnell e Pascual Piles. Em conjunto, construiremos um futuro para a nossa Ordem capaz de assegurar que o sonho e a visão de S. João de Deus continuem a afirmar-se e a desenvolver-se. Ainda que só conseguíssemos fazer avançar a missão de Deus num grau infinitesimal, isso já seria um grande êxito, um enorme privilégio! Encaro por isso o futuro cheio de esperança e também com alguns sonhos.

Elegemos também seis Conselheiros Gerais e eu designei um Secretário Ge-ral. Encaro as nossas funções como um trabalho em equipa. A seu tempo as diversas responsabilidades serão compartilhadas de acordo com a experiên-cia e as competências de cada Conselheiro. Oportunamente estas novidades serão comunicadas a toda a Ordem. Quero também trabalhar de modo cole-gial com os Provinciais e os Delegados Gerais.

LEMA DO CAPÍTULO

Desejo voltar ao lema do Capítulo – “Paixão pela hospitalidade de S. João de Deus hoje no mundo”.

PAIXÃO A palavra “paixão” tem uma variedade de conotações que vão desde o ardor e zelo até à cólera e fúria. Paixão é um sentimento emocional muito forte ca-paz de levar as pessoas a viverem manifestações exteriores dela que podem mesmo tornar-se violentas. Observamos grandes paixões manifestarem-se no mundo do desporto, nas ruas das nossas cidades, em púlpitos e em par-lamentos.

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Para nós, cristãos, a palavra “paixão” tem um significado particular: o da Pai-xão de Cristo. O Papa, no discurso da audiência em que participámos no dia 18 de Outubro de 2006, sublinhou que, do mesmo modo que a traição de Je-sus por Judas “entregou” o Seu Filho nas mãos de homens dispostos a pecar, também o Pai entregou o Seu Filho – não à morte, mas à condição humana, com todos os seus riscos e perigos – pela nossa salvação. Desta forma, o Pai manifestou a extensão do Seu amor por nós, seus filhos. “O Senhor libertou--me porque me quer bem” (Salmo 18, 20).

A HOSPITALIDADE DE S. JOÃO DE DEUS

Uma paixão pela Hospitalidade de S. João de Deus surgiu de uma consciência profunda do amor de Deus pelos seus filhos que sofrem por Ele manifestada de modo especial no tempo através de S. João de Deus. A forma como João de Deus se tornou hospitalidade para os outros mostrou de maneira explícita e em termos claros o amor e a compaixão que Deus tem pelo seu Povo, espe-cialmente em tempos de necessidade.

Foi isso o que Jesus fez durante a sua vida terrena, e no momento da sua morte. Na piscina de Siloé, por exemplo, perguntou a um homem paralítico, tão inválido que não conseguia entrar a tempo na água da piscina: “Queres ficar são?” (Jo 5,6). O homem disse a Jesus que queria ficar são, e que desde havia 38 anos tentava entrar na piscina, mas não tendo quem o ajudasse, outros se antecipavam a ele quando as águas se agitavam. Precisando dessa ajuda, olhou para Jesus com olhos implorantes e cheio de confiança. Jesus se-gurou-o pela mão, ergueu-o e ele ficou curado. Então, esse homem começou a correr, a dançar, a nadar na água. As amarras que o mantinham prisioneiro, a doença que deformara os seus ossos, a paralisia de espírito de que sofria, tudo isso se desfez. Tinha-se tornado num homem livre. “Eu vim – disse Jesus – para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10)

Penso que foi S. Irenéu quem fez a seguinte afirmação: “A glória de Deus é o ser humano completamente vivo”. Jesus restituiu a vida a esse homem aleijado e pobre.

Foi este modelo, o “modelo de Jesus”, que S. João de Deus seguiu na sua mis-são. Foi este modelo que se tornou o seu estilo e a marca do seu ministério.

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117LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Quando S. João de Deus se encontrava com uma pessoa que tinha alguma necessidade particular, ele começava a falar com ela e, dependendo da ne-cessidade, oferecia-lhe livremente a sua ajuda. Também neste caso, S. João de Deus aproximava-se das pessoas, às quais ele reconhecia um valor sagra-do – por serem filhas de Deus –, do mesmo modo que Moisés se aproximou da sarsa ardente: descalço, com profunda humildade, respeito e compaixão. S. João de Deus estava tão convencido da dignidade própria de todo o ser humano e da nossa unicidade como irmãos e irmãs em Cristo, que acredi-tava que, ao tentar ajudá-los, estava a amar e a curar o seu Senhor. S. João de Deus teria viajado até aos fins da terra para ajudar algum irmão ou irmã que estivessem em necessidade. Era assim a paixão de João, uma paixão por Cristo crucificado – cuja imagem ele trazia sempre consigo sob forma de um crucifixo – e uma paixão pela humanidade sofredora. Numa carta dirigida a Gutierres Lasso, ele exprimia a própria dor: ”ao ver tantos pobres meus ir-mãos e próximos, com tantas necessidades, tanto do corpo como da alma, fico muito triste por os não poder socorrer” (2ª GL, 8).

É a este o tipo de hospitalidade que nos referimos quando falamos de hos-pitalidade “segundo o estilo de João de Deus”: ela está enraizada numa con-vicção que o carácter sagrado de cada ser humano é algo que nem a pobreza, nem a doença, nem a condição social ou o isolamento podem destruir ou di-minuir.

A esperança é frequentemente manifestada entre nós dizendo que as nossas comunidades podem ser “Escolas de Hospitalidade”. Não se trata de algo ir-racional, pois a primeira vez que ouvimos a expressão “hospitalidade segun-do o estilo de S. João de Deus” e a experimentámos foi na comunidade. Nós ouvimos outras expressões de Hospitalidade, de Irmãos e Colaboradores, quando fomos a algum Hospital ou Centro da Ordem, mas foi na comunidade que demos os nossos “primeiros passos hospitaleiros”. Fizemos isso ao ser-viço da comunidade e vimos que era bom.

Nalguns países a igreja está sob observação, vive sob suspeições e é desa-fiada a mostrar como exerce a sua liderança, é alvo de acusações por alegada falta de abertura e transparência, com o resultado de que a fé de alguns cren-tes é posta à prova e a própria Igreja é cada vez mais marginalizada. É nestas

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118 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

circunstâncias que as comunidades religiosas, e de modo particular a nossa, podem demonstrar um modo novo de ser Igreja, pode revelar um “novo rosto” da Igreja – um semblante de abertura, acolhedor, compassivo, hospitaleiro e atencioso.

Em virtude da nossa consagração como religiosos demonstramos uma paixão por Cristo, com um estilo de vida que “afirma a primazia de Deus e dos bens futuros, como transparece do seguimento e imitação de Cristo casto, pobre, obediente e hospitaleiro” (Partir de Cristo, 8). Esse estilo de vida será verda-deiramente evangélico por sua natureza e terá um profundo impacto de afir-mação sobre as pessoas, especialmente naquelas a quem convidamos para entrarem nas nossas casas, para verem as nossas comunidades.

Penso que também é bom recordarmos as palavras proferidas pelo santo Pa-dre Bento XVI durante a Audiência Geral em que participámos durante o Ca-pítulo, quando ele declarou, ao referir-se a Judas, que o facto de uma pessoa viver com Jesus não a torna necessariamente santa. Por outras palavras, não é por viverem debaixo do mesmo telhado numa casa religiosa, mesmo tendo exposto o Santíssimo Sacramento, que as pessoas se tornam santas. Precisa-mos de passar tempo com aquele a quem amamos, Jesus, de o ouvir, de falar com ele e, por vezes, simplesmente de estar em silêncio na sua presença. Oração, pessoal e comunitária, reflectindo sobre a Palavra de Deus guardada na Sagrada Escritura, é um alimento essencial para a vida espiritual de cada um. Foi dito que o religioso de vida apostólica de hoje precisa de ter a Bíblia numa mão e o jornal diário na outra. Precisamos de estar em contacto com Deus e em contacto com a realidade do mundo à nossa volta, para podermos levar ao mundo de hoje a Boa Notícia, usando uma linguagem que seja com-preensível, numa forma que seja respeitosa e humilde, com um amor que a todos consuma.

O MUNDO DE HOJE Durante as nossas discussões ao longo do Capítulo falámos de muitas coisas, e algumas delas estão reflectidas nas Resoluções do Capítulo; mas houve ou-tros momentos, em que pessoas e eventos nos recordavam que “a hospitali-dade segundo o estilo de S. João de Deus” continua a ser necessária mais do que nunca no mundo de hoje. Incumbe sobre cada um de nós a responsabi-

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lidade de sermos, enquanto Irmãos consagrados em hospitalidade, “verda-deiramente consciência crítica, guias morais, presença profética, abertos às novas necessidades, num renovado espírito de integração com os Colabora-dores (Estudo sobre “O Estado da Formação na Ordem”, Capítulo III, 1.)

Nós vivemos e exercemos o nosso ministério de hospitalidade num mundo no qual a hostilidade se manifesta em actos de violência, terrorismo, exploração de menores, movimento de massa das pessoas de países pobres para outros onde as condições de vida são melhores, guerras e formas radicais de funda-mentalismo. A Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus como antí-tese deste estado de coisas é o antídoto de que o mundo de hoje precisa.

O instrumento de violência que designamos com a expressão “granada de mão” tem uma forma muito semelhante à do nosso símbolo de Hospitalidade – a romã. Os actos daqueles que matam e provocam danos nas pessoas quan-do lançam “granadas de mão” destruidoras, ou bombas, sobre multidões e sítios onde se juntam muitas pessoas, ou lugares de culto religioso, estão em flagrante contraste para a acção de João de Deus que projectou para o mundo a sua romã de Hospitalidade. Da mesma forma que a “granada de mão” se desfaz numa chuva de projécteis que ferem, a romã da Hospitalidade difunde as sementes do amor de Deus que cura. Todo o acto de Hospitalidade realiza-do por um Irmão ou Colaborador responde a um acto de violência que ocorre nalgum lugar no mundo, matando ou provocando feridas.

Julgo que esta imagem descreve bem a forma como a nossa vocação de hos-pitalidade se pode aplicar de modo significativo às necessidades e à situação do mundo de hoje. Mas ela desafia-nos a abandonar as nossas áreas de con-forto, a correr riscos por causa do Evangelho, a ir para onde ninguém quer ir ou se preocupa em ir, a substituir a “granada de mão” do ódio, da discrimina-ção, desumanização e violência, com a romã do amor.

No contexto do mundo de hoje, o tema da Bioética merece maior atenção e desenvolvimento. Esta questão foi levantada repetidamente durante o Capí-tulo. Vamo-nos esforçar por promover a formação e uma melhor compreensão dos ensinamentos da Igreja, bem como os aspectos humanitários e psicológi-cos das questões éticas com que a Ordem se confronta em toda a parte.

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120 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

Há uma grande preocupação dentro da Ordem, por parte dos Irmãos e Cola-boradores, sobre a diminuição das vocações e a idade avançada dos Irmãos – especialmente nos países industrializados. Enquanto o envelhecimento é um processo natural que as pessoas podem aceitar, o problema do futuro da Ordem em termos de novas vocações constitui uma séria preocupação. Tam-bém esta questão foi longamente debatida durante o Capítulo.

Em vez de encarar esta situação como um “problema” que deve ser resolvido, interpretando os sinais dos tempos e guiados pelos ensinamentos de Concílio Vaticano II e pela nossa própria experiência das últimas quatro décadas, reco-nhecemos agora que também homens e mulheres leigos recebem um chama-mento para oferecerem hospitalidade a pessoas em necessidade segundo o estilo de S. João de Deus. Chamamos a essas pessoas nossos Colaboradores na Missão. Sim: nós precisamos de continuar a olhar para novas formas e ini-ciativas que tornem conhecidos na Igreja o nosso modo de vida e o nosso mi-nistério como Irmãos de S. João de Deus, e convidamos as pessoas, quando ponderarem as próprias opções de vida, a encararem como possível para elas também a nossa maneira de viver. Temos que planear, com o mesmo cuidado, como levar a cabo a nossa Missão de Curar através da hospitalidade por meio de um envolvimento cada vez maior de Colaboradores leigos.

A experiência da Ordem diz-nos muito claramente, através da diminuição do número de vocações e do envelhecimento das nossas comunidades, que pre-cisamos de ser criativos na busca de estruturas novas, capazes de garantir que a missão de hospitalidade, que tão significativamente contribui para o ministério de curar da Igreja, irá continuar no futuro. No passado, foram lan-çadas as estruturas de vida comunitária e da missão para salvaguardar a mis-são da hospitalidade. Porém, essas estruturas, quando já não correspondem às suas finalidades, devem ser mudadas. Como dizia a Irmã Helena Donohue: “À medida que abandonámos algumas das nossas instituições ministeriais e partimos para novos empreendimentos de colaboração, a questão que se coloca e o desafio que se nos apresenta são: como podemos nós assegurar que o apelo a “coisas mais profundas”, do coração e da alma, que estão no centro da vida humana, pelo carácter especial da herança de S. João de Deus, penetre nos novos ambientes? Precisamos de novas plataformas, de novos “vãos de escadas” e de novos pórticos”.

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121LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

No relatório que preparei para o Capítulo, intitulado “Os Colaboradores de S. João de Deus”, escrevi que os Irmãos e Colaboradores procuram hoje respon-der em conjunto às necessidades das pessoas que sofrem ou são marginali-zadas, por vezes com recursos limitados. O confronto sobre as diferenças, o diálogo sincero e aberto, com um “coração que escuta”, pode conduzir a uma maior compreensão e aproximar mais intimamente as pessoas, como fizeram João de Deus e Angulo. A participação de 21 Colaboradores neste Capítulo e a contribuição que eles deram aos debates, confirmam certamente esta afir-mação. Na sua mensagem ao Capítulo, os Colaboradores declararam, como grupo “Gostaríamos de oferecer ao novo Governo Geral, que muito justa-mente está preocupado com o futuro da Ordem e a diminuição de vocações, uma mensagem que tranquilize o seu espírito. Talvez não se trate apenas da incapacidade humana de se identificar com formas inadequadas de promo-ção de vocações, mas da vontade de Deus. É precisamente por isso que de-sejamos dirigir à Ordem uma mensagem de confiança e esperança: ela não desaparecerá, mesmo com a actual e futura escassez de Irmãos, enquanto houver leigos que participarem responsavelmente no seu carisma, preser-vando-o e promovendo-o.” A nossa confiança em enfrentar o futuro baseia-se por conseguinte na prometida ajuda e cooperação que nos são oferecidas pelos nossos Colaboradores.

Os Irmãos e Colaboradores que trabalham em conjunto em todos os níveis no âmbito da Ordem são a nossa garantia para o futuro da hospitalidade de S. João de Deus no mundo de hoje. Para assegurar essa colaboração, a formação dos Irmãos e Colaboradores para desempenharem uma missão integrada é uma das pedras basilares que garantirão no futuro a capacidade de as Obras da Ordem exercerem com eficácia a hospitalidade de S. João de Deus. A pre-paração espiritual e profissional dada aos Irmãos tem constituído tradicional-mente uma base para assegurar que as Obras ou serviços sejam eficazes e capazes de evangelizar. Precisaremos de estender estas oportunidades tam-bém aos nossos Colaboradores.

Parece-me que há necessidade de um maior empenhamento da Ordem na formação dos nossos Colaboradores e isso poderia ser feito mediante um de-partamento constituído junto da Cúria Geral com a finalidade de promover o lugar e a formação dos Colaboradores na vida da Ordem.

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122 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

CONCLUSÃO

Precisamos de iniciar a nossa procura de uma visão de futuro para a Ordem e a sua missão ao lado das pessoas que sofrem. O ponto de partida para essa procura de significado, da missão e para modelar uma visão tem de ser o lugar onde as pessoas vivem e sofrem. Há tantas pessoas que sofrem de tão diversas maneiras, devido a novas formas de marginalização, desuma-nização, solidão e isolamento, que nós não podemos descansar; temos que descortinar formas novas e criativas de chegar até essas pessoas. Na nossa perspectiva actual, desenvolvemos uma maior cooperação nos planos inter-provincial e internacional, trabalhando em rede, fazendo geminações. Esta visão propõe-se não só alcançar o maior número possível de pessoas que sofrem, mas também garantir que elas sejam tratadas, ajudadas e cuidadas de uma forma que S. João de Deus não deixaria de aprovar. Sei que isso se faz nos nossos centros, mas não podemos ceder à tentação de auto-complacên-cia ou de inércia. A obra está apenas no início, o caminho é longo, às vezes difícil, e constitui sempre um desafio, mas “é o amor de Deus que nos impele” (S. Paulo).

Na minha primeira comunicação ao Capítulo disse que os meus pensamentos e as minhas orações estavam com todos quantos trabalham, ou ajudam, os Serviços de Saúde de S. João de Deus, em qualquer parte do mundo. Desejo agora reafirmar novamente, a todos e a cada um, que nós, Irmãos e Colabora-dores, estamos aqui para vós. A nossa missão na vida, como Ordem religiosa da Igreja católica, é caminhar com pessoas como vós nos momentos de ne-cessidade, perscrutando as causas das vossas dores e do vosso sofrimento, mobilizando a ajuda que vos dê alívio. Tende coragem e oxalá que o nosso Deus misericordioso vos possa curar e dar esperança.

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EXPRESSÃO DO MEU AGRADECIMENTO

Passo agora àquela parte das minhas observações que sempre causa nas pes-soas na minha situação alguma ansiedade. Desejo agradecer a todos aqueles que contribuíram de alguma maneira para o sucesso do Capítulo – embora eu saiba por experiência que fica sempre alguém de fora, que me vou esquecer de mencionar alguém. Se for o caso de algum de vós, peço-lhe desde já que aceite a minha garantia de que nós lhe estamos gratos, mesmo se por fragi-lidade humana me esquecer de mencionar a sua contribuição. Dito isto, em nome dos Capitulares, e, na realidade, da Ordem inteira, desejo registar o nosso obrigado, sem uma ordem específica de prioridade:

> aos Irmãos e Colaboradores que fizeram parte da Comissão Pre-paratória,

> ao Secretário Geral e o pessoal da Secretaria da Cúria Geral e da Secretaria do Capítulo,

> ao Moderador do Capítulo, senhor Álvaro Diaz,> ao Secretário do Capítulo, Irmão Giancarlo Lapic´,> aos Colaboradores que se uniram a nós no Capítulo e nos dirigi-

ram uma mensagem cheia de inspiração e desafiadora – e àque-les Colaboradores que ficaram em casa para ajudar a manter viva e activa a nossa missão,

> à Irmã Helena O’Donohue, que nos ajudou no nosso discernimen-to antes das eleições,

> ao Presidente do Capítulo na sessão em que fui eleito e aos escru-tinadores que ajudaram em todo do processo de eleição,

> aos vários líderes da Igreja que visitaram o Capítulo e celebraram connosco a Eucaristia,

> aos Irmãos sacerdotes que presidiram às nossas liturgias Euca-rísticas,

> aos Irmãos que prepararam e apresentaram as reflexões espiritu-ais no começo das sessões, de manhã e de tarde,

> à senhora Kathleen Elslander e à sua equipa de intérpretes,> aos moderadores e secretários dos grupos linguísticos e regio-

nais,> aos capitulares que serviram nas várias Comissões do Capítulo,

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124 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

> às Províncias e Irmãos que nos apresentaram vários aspectos da vida da Ordem nas sessões da noite,

> às pessoas que falaram ao Capítulo sobre diversas questões,> aos Irmãos que abrilhantaram a atmosfera do Capítulo com os

seus desenhos sobre “O outro Capítulo”, publicados nos placares fora da Sala do Capítulo,

> aos fotógrafos – ao oficial, da Ilha Tiberina, Sr. Arnaldo Lucianetti, e aos paparazzi do Capítulo que fizeram com que nós tivéssemos um registo fotográfico do Capítulo muito variado e rico,

> aos técnicos de som e das votações,> ao Santo Padre, por nos ter recebido em Audiência e pelos ensi-

namentos do seu discurso sobre a necessidade de não julgarmos e termos plena confiança na infinita misericórdia de Deus,

> às Comunidades da Ordem em Roma, pela sua hospitalidade e por se terem unido a nós em ocasiões especiais,

> à Comunidade de S. Egídio, por ter recebido um grupo represen-tativo de capitulares,

> aos motoristas, que nos transportaram até aos lugares onde tí-nhamos compromissos – mesmo se, de vez em quando, eles de-sapareciam com os seus autocarros dos sítios onde nós esperá-vamos encontrá-los!...,

> às Províncias que nos ofereceram presentes – especialmente as que conseguiram manter o peso dos objectos oferecidos abaixo dos 10 quilos...,

> aos Irmãos que, nas Províncias, mantiveram os serviços a funcio-nar enquanto nós estivemos aqui em Roma,

> aos pobres, doentes e necessitados – que poderiam ter sido aju-dados mais se tivéssemos conseguido reduzir algumas das des-pesas relacionadas com a realização do Capítulo – pela sua pa-ciência para connosco e pelo exemplo de fé e hospitalidade que muitas vezes nos dão,

> à administração e ao pessoal do Salesianum,> e, finalmente, o meu muito obrigado para vós, e para os Irmãos

que vos elegeram como Superiores Maiores ou Vogais, pela vossa presença e participação no Capítulo.

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125LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Mesmo numa lista tão longa como esta de pessoas às quais devemos a nossa gratidão é possível que não tenha sido expressamente referido alguém que a merece. Contudo, tentei expressar o meu reconhecimento a todos quantos contribuíram para a planificação e realização do Capítulo, porque acredito que um sentido profundo e sincero de gratidão por quanto recebemos faz parte da nossa espiritualidade como Ordem, e procurei por isso dar expressão a este valor nestas minhas palavras conclusivas.

Mas, para terminar, desejo agradecer a quantos me apoiaram durante estes primeiros dias como Superior Geral da nossa querida Ordem, com as suas orações e as muitas mensagens de apoio vindas de toda a Ordem. Peço, por favor, que continueis a apoiar-me, a mim e ao novo Conselho Geral, com as vossas orações.

Quando regressardes às vossas Províncias levai a minha saudação afectuosa e fraterna a todos os Irmãos, especialmente àqueles que podem estar doen-tes ou a sofrer devido às debilidades próprias do processo de envelhecimen-to. Envio igualmente uma saudação especial e a expressão do meu apreço aos nossos numerosos Colaboradores em todo o mundo: como também vós recebestes o dom da hospitalidade de S. João de Deus para levar a cabo a sua missão, encorajo-vos a tê-lo como vosso modelo e guia no exercício da vossa profissão nos diversos serviços da Ordem. A Ordem, da qual também vós fa-zeis parte, depende de vós para trabalhar com os Irmãos, com o objectivo de tornar realidade no nosso tempo o sonho de João de Deus. Desta forma, será possível dar a uma multidão incontável de pessoas em necessidade esperan-ça e cura, e a muitas outras uma oportunidade de vida melhor.

Obrigado.

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127LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

Carta de apresentação do programa do sexénio Ir. Donatus Forkan

Esta Carta de apresentação do programa do sexénio segue o mesmo esquema da que foi escrita no sexénio anterior com o mesmo propósito

PARA A ORDEM INTEIRA

É com alegria que me dirijo a toda a Ordem para apresentar a programação do sexénio após a celebração do LXVI Capítulo Geral.

Os últimos dois meses do ano passado foram para mim muito intensos: tive oportunidade de cumprimentar e conversar com muitos Irmãos e Colaborado-res na Itália, Irlanda, Coreia, China, no Vietname, nas Filipinas ou em França, de me dirigir a vós através de algumas mensagens e de trabalhar com o Conselho Geral na preparação e programação da vida da Ordem para os próximos anos.

Sinto que a responsabilidade que a Ordem depositou em mim é muito grande, mas vivo-a como um chamamento de Deus, como um apelo a trabalhar pelo seu Reino no ministério e no serviço de governo e animação da nossa Ordem, mas principalmente um chamamento de serviço e disponibilidade em relação a todos, para fazer com que vivamos e transmitamos com verdadeira paixão o projecto evangélico de hospitalidade iniciado por S. João de Deus, actuali-zando-o todos os dias.

Embora o empreendimento seja grande, não me sinto só. Estou acompanhado pelo Espírito do Senhor e pela presença contínua e próxima de Nossa Senhora do Bom Conselho, e também pelo nosso Fundador, verdadeiro inspirador da hospitalidade que somos chamados a tornar continuamente nova. Sinto a pre-sença e o apoio de toda a Ordem, dos Irmãos e Colaboradores. Sem vós e sem o vosso apoio o meu ministério ficaria vazio de sentido e desprovido de vida.

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128 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

De um modo muito especial, sinto-me acompanhado pelos Irmãos que inte-gram o Conselho Geral e a Equipa da Cúria Geral. A todos nós foi confiado este serviço de governo e animação e, em conjunto, formando uma verda-deira Equipa e trabalhando em colegialidade, procuraremos levar por diante, com total dedicação e entrega, a missão que nos foi confiada.

O LXVI Capítulo Geral decorreu sob o seguinte lema: “Paixão pela hospita-lidade de S. João de Deus hoje no mundo”. Foi um Capítulo muito rico em vivências, experiências, reflexões e linhas de futuro. Desejo que esta paixão pela hospitalidade de S. João de Deus seja realmente vivida no mundo intei-ro onde a Ordem está presente. Desejo que durante os próximos anos nos empenhemos nisso, partindo da rica e vasta experiência que temos, que a alarguemos ainda mais e a desenvolvamos, transmitindo-a às novas gerações e a todos os nossos Colaboradores.

As conclusões do Capítulo Geral, a que chamaremos Prioridades, têm este pano de fundo e convidam-nos a comprometermo-nos com determinação por uma hospitalidade segundo S. João de Deus, que seja verdadeiramente ex-pressão da misericórdia de Deus para as pessoas doentes e necessitadas do mundo de hoje, exercida com os meios modernos e efectivos da época em que vivemos e com o amor tornado hospitalidade de sempre, tal e como S. João de Deus a viveu. Nesta linha, pensámos e preparámos a programação do sexénio que seguidamente apresentamos. Fazemo-lo com grande expectativa e esperança, sabendo que se trata de uma oportunidade que o Senhor nos oferece para renovarmos a nossa vida e a vida da Ordem.

1. “NASCER DE NOVO, NASCER DO ESPÍRITO” (CF. JO 3,3-6)

Este trecho evangélico é próprio do tempo pascal e, na minha opinião, muito apropriado para o momento que vivemos. O Senhor ressuscitado convida-nos a renovar a nossa vida e a da Ordem inteira, incita-nos a nascer de novo, não de qualquer forma, mas a nascer do Espírito que tudo renova e recria, que nos aponta novos itinerários e novos desafios para os novos tempos em que nos cabe viver. Trata-se de um compromisso permanente, para a Igreja e para nós, especialmente quando se celebra o 40º aniversário Concílio Vaticano II,

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129LXVI CAPÍTULO GERAL • DECLARAÇÕES

uma exigência que eu quero que tenhamos bem presente, na perspectiva da comemoração do cinquentenário desse mesmo Concílio, em 2015.

De facto, a Ordem vive continuamente esta experiência pascal e são já muitas as realidades novas e os projectos que nascem constantemente, assim como as pessoas que se unem à nossa Família. No entanto, existem também entre nós sinais de fadiga, de imobilidade e de atonia. Depois de tantos anos a falar de renovação e mudança, talvez estas palavras estejam demasiado gastas e seja forte a tentação de não lhes prestarmos a atenção devida. Quantas vezes já ouvimos e lemos reflexões como esta, mesmo baseadas até neste mesmo texto evangélico, ou noutros, e às vezes fizemos mesmo o firme propósito de alcançar este ideal, embora sem sucesso. Neste momento, podemos dizer que não é fácil mudar ou que não temos forças para tentar de novo. Em mui-tos casos, inclusivamente, podemos pensar que não precisamos de mudar nada, porque já temos a nossa vida organizada e tudo está bem como está.

É possível que tudo isto nos aconteça, tanto a nível pessoal como comunitá-rio, e que nos interroguemos: como é que uma pessoa pode nascer de novo, quando já está velha, sem forças, seguindo as suas rotinas e tendo tudo or-ganizado? Mas a resposta do Senhor é clara: O Senhor diz-nos: “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus”.

Por fidelidade ao Espírito divino e a S. João de Deus, o qual, depois de se en-contrar com o Senhor, a partir das palavras de S. João de Ávila, nasceu nova-mente, mudou a sua vida e se tornou num homem novo para Deus ao serviço dos pobres e dos doentes, nós devemos abrir o nosso coração e o nosso es-pírito ao Senhor, neste processo permanente de nascermos e de renovarmos as nossas vidas e a vida da Ordem inteira.

No momento actual o mapa da Ordem mudou substancialmente. Tanto do ponto de vista geográfico como no plano funcional e, principalmente, quan-to às pessoas. Estamos nos cinco continentes com uma presença cada vez maior fora da Europa, embora este continue o ser o continente da nossa maior presença. Os centros e as Obras apostólicas são muito criativos e abertos a qualquer necessidade em todo o mundo. Com algumas lacunas, que temos de superar, a sua gestão é feita segundo critérios de qualidade, eficiência e hu-

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manização. Quanto às pessoas, é evidente o desequilíbrio entre o número de Irmãos, de modo desigual, segundo os continentes, e o dos Colaboradores, em crescimento constante.

Por conseguinte, a Ordem tem actualmente um rosto mais universal e mais global. Referindo-se aos Colaboradores, o Capítulo Geral quis falar de união, termo cujo significado vai para além de uma simples aliança e integração. A Ordem é formada por todos – Irmãos e Colaboradores –, unidos no caris-ma, na espiritualidade e na missão. Cada um com a sua vocação própria: os Irmãos, a partir da sua consagração religiosa; os Colaboradores, com a sua vida laical, mas todos vivendo a Hospitalidade.

Sei que nem todos os Colaboradores vivem a sua vida e o seu trabalho tendo como referência a fé cristã. Seríamos ingénuos se pensássemos que sim, ten-do em conta a realidade religiosa e social do nosso tempo. Mas muitos, sem dúvida, vivem a Hospitalidade partindo de um compromisso cristão e outros comprometem-se com a Ordem através do seu trabalho profissional bem feito e, em muitos casos, partindo da sua opção pessoal do projecto hospitaleiro de S. João de Deus. Todos eles, em níveis diferentes, fazem parte da nossa querida Ordem.

Devemos olhar para a Ordem tendo em conta este novo mapa, que mudou imenso e que provavelmente já não é o mesmo que era quando começámos o nosso caminho; é mesmo possível que haja coisas de que não gostamos. Apesar disso, esta nova realidade está cheia de vida, de oportunidades, e chegamos aqui após muitos anos de trabalho e inspiração, guiados pelo Se-nhor. De novo, somos solicitados a pormo-nos em marcha e a nascer de novo. Não tenhamos medo! Aquele que nos chama está connosco e é o guia do caminho.

Esta nova perspectiva da Ordem deve levar-nos a revê-la e a renová-la em todos os aspectos: a vida dos Irmãos e das Comunidades, a administração e o estilo das nossas Obras, a pastoral vocacional e a formação, a pastoral da saúde, a bioética, as estruturas e a forma de trabalhar em rede, tirando melhor proveito do conhecimento de todos ao serviço da Igreja, das pessoas doentes e necessitadas.

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Esta visão da realidade, compartilhada e consensualmente com o Conselho Geral, é consequência das reflexões e conclusões do Capítulo Geral recen-temente concluído, que valoriza com satisfação o rico património espiritual, cultural e assistencial da Ordem e, embora reconheça as suas sombras e lacu-nas, está convicto de que a opção da mesma não pode ser a de nos retirarmos ficando a aguardar que termine a sua existência, mas, pelo contrário, deve abrir-se a formas novas e possibilidades, de modo que a hospitalidade de S. João de Deus se fortaleça e continue a difundir-se, para maior glória de Deus e o bem da Igreja, das pessoas doentes e necessitadas.

Constitui para nós um forte desafio, um chamamento do Espírito de Deus ao qual temos que responder sem demora e sem duvidar. O projecto de hospita-lidade de S. João de Deus é um dom do Senhor para a Igreja e para o mundo do sofrimento do qual nós, por amor e responsabilidade, temos que cuidar e difundir, encorajar e fortalecer. Seria doloroso que, seguindo o exemplo do servo preguiçoso guardássemos e enterrássemos o nosso talento, tornando-o improdutivo; este seu comportamento foi censurado pelo Senhor (Cf. Mt 25, 14-30).

Desejo, por conseguinte, convidar a Ordem inteira – Irmãos e Colaboradores – a empenharem-se durante os próximos anos num movimento de renovação e compromisso, com as bases que acabei de enunciar, como o principal e mais geral objectivo a realizar, para o qual fazer convergir todas as outras acções e finalidades que se forem apresentando. Este é um convite a olharmos para a Ordem com muito amor e a forma concreta de podermos tornar realidade hoje a paixão pela hospitalidade de S. João de Deus no mundo.

Volto ao texto de S. João: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Por-ventura poderá entrar no ventre de sua mãe outra vez, e nascer? Jesus res-pondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus».” Como é que podemos levar a cabo todo este movimento? Há tantas dificuldades, somos poucos e idosos, há poucas vocações, a Igreja vai perdendo a sua força como referência para muitas pessoas… Mesmo Deus, por vezes, parece estar ausente face a tantas dificuldades, perante tantas súplicas que parecem não ter resposta… Poderí-amos continuar a enumerar outras situações…

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Tudo isto é verdade, Irmãos e Colaboradores. No entanto, o nosso é um pro-jecto do Senhor e, à luz da fé e do Espírito, é possível descobrir a dinâmica do amor e a hospitalidade de Deus que, na medida em que se abre e entrega, se torna maior e mais forte. Temos os exemplos do nosso Fundador e de tantos Irmãos e Colaboradores que viveram e deram testemunho disso ao longo da história.

Com fé e humildade, reconhecendo que precisamos da misericórdia de Deus, sintamos novamente no coração a necessidade de nos convertermos ao Se-nhor e nos abrirmos à sua luz, para descobrirmos a vida noutra dimensão – a dimensão do Reino de Deus. O reino de Deus começa aqui, no meio de nós, na medida em que tornarmos possível que Ele reine num mundo em que haja paz, justiça e hospitalidade. Deve ser esse o nosso horizonte: que os últimos sejam os primeiros, que as pessoas doentes e excluídas sejam as predilectas, que os assistidos o sejam com mais carinho e recuperem a sua dignidade, que nenhum ser humano escravize ou domine o seu irmão, porque todos somos filhos de Deus e irmãos em Jesus Cristo.

É grande a responsabilidade e grandes são os desafios que temos pela frente. São muitos os obstáculos que teremos de vencer. Mas são desafios belos e grandes, por eles vale a pena deixar tudo e seguir o Senhor que nos chama. Na medida em que formos capazes de nascer de novo, diariamente, da água e do Espírito, experimentaremos isto como uma realidade.

É, portanto, um tempo de esperança que se abre para a nossa Ordem e para todos quantos a formamos, um tempo de sonho, alegria e compromisso. So-mos chamados a viver, poderíamos dizer, um tempo de Páscoa, no qual tudo se renova e no qual o Senhor triunfa sobre o pecado, a injustiça, o sofrimento e a morte. É a vida que triunfa. Também nós temos que passar por momentos de purificação, mas, insisto, se decidirmos nascer de novo, da água e do Es-pírito, a nível pessoal, comunitário e institucional, a vida será o fruto precioso para todos, para a Ordem inteira.

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2. RELATÓRIO SOBRE O ESTADO DA FORMAÇÃO NA ORDEM

Foi apresentado no LXVI Capítulo Geral. Trata-se de um estudo sociológico, re-alizado pelo Instituto de Sociologia da Universidade Pontifícia Salesiana, de Roma, e cujo objectivo principal foi estudar e aprofundar a forma de melhorar a qualidade da formação e da pastoral vocacional da Ordem. É um instrumento que nos proporciona dados e reflexões muito interessantes sobre a pastoral vocacional e a formação, a nossa vida consagrada e comunitária, a identidade carismática e a missão apostólica, que nos hão-de ajudar neste processo de renovação ao qual me referi. No presente documento vamos apresentar-vos apenas uma breve síntese desse estudo, pois todas as Províncias irão dispor do trabalho completo para o estudarem a aplicarem. Desejo, no entanto, fazer aqui algumas reflexões acerca dele.

Precisamos de cuidar e fortalecer a nossa consagração hospitaleira. O Rela-tório revela diversas dificuldades que temos de enfrentar com decisão. Uma delas, e das principais, refere-se à escassa vida de fé e de oração e ao descui-do da vida espiritual, que também incide, como é lógico, na vida apostólica dos Irmãos e, por vezes, na vida de comunidade. Trata-se de um aspecto fun-damental e basilar, sem o qual não é possível prever um futuro de esperança para a Ordem.

A vida espiritual, quer dizer a vida no Espírito de Deus, é a fonte onde bebe-mos e refazemos a nossa vida, onde encontramos luz e descanso, misericór-dia e energia. A oração pessoal, diária, a oração comunitária e a celebração dos sacramentos, especialmente da Eucaristia e da Reconciliação, são as fon-tes que levam a seiva às raízes da nossa consagração e da nossa vida pessoal, comunitária e apostólica. Só vivendo uma intensa vida espiritual, experimen-taremos a alegria da vida consagrada e da hospitalidade. O documento Cami-nho de Hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus é um bom guia de espiritualidade que devemos aprofundar e viver.

São igualmente apontadas dificuldades para viver os votos religiosos, expres-são da nossa consagração. O individualismo, a falta de comunicação profun-da com os superiores, a imaturidade afectiva e, por vezes, a não integração, de modo apropriado, da dimensão afectivo-sexual, o uso inadequado dos

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meios à nossa disposição, problemas de auto-estima do Irmão em relação aos novos papéis assumidos pelos Colaboradores, são algumas das dificul-dades assinaladas.

A consagração religiosa só faz sentido se for vivida com alegria, de forma po-sitiva, como caminho espiritual de realização e plenitude. É verdade que isso implica renúncias, como acontece com qualquer outra opção. É certo que, por vezes, achamos difícil de entender algumas expressões e formas, e é mesmo necessário fazer leituras teológicas apropriadas, tendo em conta as diferen-tes culturas onde vivemos. Mas também é verdade que os problemas indica-dos pelo Relatório reflectem e são expressão de alguns desajustamentos e lacunas, pessoais e comunitárias, aos quais devemos prestar muita atenção, de forma que o nosso coração fique integralmente disponível para Deus e para a sua causa, a hospitalidade.

Os tempos mudam e as formas também: seguramente, o nosso papel na missão é hoje diferente do passado, e às vezes temos que ceder o lugar aos Colaboradores, mas isso não retira absolutamente nada à profundidade e ao valor do nosso voto de hospitalidade que, em todo o caso, exige actu-almente novas expressões e formas de o viver, cheias de conteúdo e vitali-dade. Isso requer o devido cuidado espiritual, ascético e formativo, que de-verá ser diligentemente acompanhado pelos superiores e, especialmente, pelos formadores.

Tudo quanto acabo de dizer há-de levar-nos a dedicar uma grande atenção à formação dos Irmãos, quer inicial quer permanente. É necessário potenciar e descobrir as motivações que os levaram a entrar na vida religiosa, assim como conhecer e ajudar a superar a fragilidade pessoal dos candidatos e dos formandos através de um acompanhamento real e eficaz. Apresenta-se esta acção como uma exigência iniludível para o futuro das nossas vocações e dos nossos Irmãos, o que implica igualmente p reforço da figura do director es-piritual.

Sobre o acompanhamento e a direcção espiritual fala-se frequentemente mas, à semelhança do que acontece com a vida espiritual, evidenciam-se nestes campos muitas lacunas. Não há dúvida que é necessário fortalecer

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esta figura na formação inicial e tomar o compromisso de ir assumindo este objectivo por parte de todos os Irmãos. Não se trata simplesmente de um acto de humildade, o de ser-se acompanhado pelo director: trata-se de uma necessidade para o bem de cada pessoa, que se sente confirmada, fortale-cida, animada e, por vezes, confrontada e sempre feliz no desenvolvimento espiritual e pessoal da sua vida.

Em relação à identidade carismática da missão assinalam-se no Relatório algumas dificuldades, nomeadamente o novo papel que os Irmãos devem desempenhar na missão, por vezes as relações com os Colaboradores, as di-ficuldades em encontrar um equilíbrio entre as actividades desenvolvidas e a vida interior, a inserção dos formandos nas Comunidades e na missão, e ainda a atenção que é necessário prestar ao seu processo formativo, tendo em conta a estrutura frágil da personalidade dos jovens que encontram difi-culdades em tomar compromissos a longo prazo.

Verifico com satisfação que a maioria de Irmãos assume muito bem o papel que hoje nos cabe desempenhar na nossa missão, aceitando o que compe-te aos Colaboradores, mantendo com eles, em geral, boas relações. No en-tanto, isso nem sempre acontece e por isso precisamos de progredir neste sentido. Somos chamados a ser consciência crítica, guias morais e presenças proféticas nas nossas Obras apostólicas e, em geral, na missão que a Ordem desempenha. Temos também de saber que a autoridade moral se conquista mediante a sensibilidade, a dedicação e o compromisso permanente com a hospitalidade, juntamente com os nossos Irmãos e Colaboradores.

Para melhorar a nossa identidade carismática a partir da missão, o Relatório re-fere que é necessário prestar uma atenção especial à formação inicial e perma-nente dos Irmãos, fazendo o acompanhamento adequado, sem nunca deixar-mos os jovens sozinhos no seu itinerário formativo. A vida de comunidade, vivi-da com alegria, sentido de pertença, identidade carismática, níveis elevados de identidade e paixão pela missão, constituem o combustível indispensável para uma vida religiosa fervorosa e um zelo generoso e altruísta pela missão.

Relativamente à formação de formadores, o Relatório avalia a sua importân-cia e dedicação, mas aponta igualmente algumas lacunas, entre as quais a

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falta de formação e a escassa qualidade da mesma são evidenciadas como sendo as mais importantes; por isso, temos também que falar em fragilidade formativa dos próprios formadores. A formação é mais fraca principalmente no campo das ciências humanas e das respectivas competências.

Os formadores realizam na Ordem um serviço indispensável e absolutamente necessário. Apesar das dificuldades, devemos reconhecer e agradecer o es-forço e a dedicação que eles realizam. Porém, temos que tomar consciência da necessidade de apostar numa boa selecção e na formação adequada dos formadores, que devem ser acompanhados na sua missão por todos os Ir-mãos, especialmente pelos Superiores.

Esta missão tem que ser realizada pelos Irmãos, não podendo neste caso serem substituídos pelos Colaboradores, embora por vezes eles possam dar o seu apoio e assessoria neste campo. A nomeação de Irmãos muito jovens, ou com pouca experiência de vida religiosa, para desempenharem a função de forma-dores, as múltiplas tarefas que lhes são confiadas, a falta de preparação para poderem desempenhar bem o seu papel, a solidão em que às vezes eles vivem e a pouca disposição que por vezes manifestam para a actualização formati-va…, são algumas das lacunas que frequentemente se verificam e que muito gostaríamos de resolver – pelo menos, teremos de procurar superá-las.

Temos à disposição O Livro da Formação dos Irmãos de S. João de Deus, que nos oferece os critérios fundamentais para a formação dos Irmãos, incluindo a dos formadores. Todos o receberam mas nem todos o conhecem e o assimila-ram. Trata-se de um instrumento preciosíssimo que temos de viver em toda a sua extensão, tomando o compromisso de o pôr em prática em toda a Ordem.

O último capítulo do inquérito, que é o mais extenso, faz o estudo sociológi-co da Pastoral Vocacional. Previamente, do mesmo modo que nos capítulos anteriores, recolhe e apresenta as diversas sugestões e observações feitas pelos Irmãos que responderam ao questionário. São analisadas em primeiro lugar as causas que determinam a escassez de vocações na Ordem, que re-sultam ser, entre outras, as seguintes: um ambiente secularizado, a perda do sentido religioso da vida, a dificuldade dos jovens em fazer projectos e assu-mir compromissos a longo prazo, a falta de testemunhos positivos.

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São igualmente analisadas as principais carências da nossa Pastoral Vocacio-nal, nomeadamente: um acompanhamento insuficiente dos candidatos, des-motivação dos Irmãos perante os escassos resultados obtidos, improvisação dos cargos para este serviço, confusão de pastoral vocacional com recruta-mento de vocações. Apesar das dificuldades, tanto internas como externas, o próprio Relatório fornece algumas chaves essenciais para promover a pastoral vocacional. Uma delas é a comunidade religiosa, chamada a acompanhar, cuidar e promover o aparecimento de novas vocações, desde que nela se viva a caridade frater-na, a oração pelas vocações, um estilo de vida sóbrio, simples e acolhedor, um clima intenso de vida espiritual e, em definitivo, um vivência gozosa da vocação.

Uma outra chave de leitura é a atracção que os jovens sentem pelos valores próprios da Ordem, entre os quais se destacam a figura e o carisma do Fun-dador, a missão universal da Ordem de cuidar das pessoas doentes, princi-palmente as mais necessitadas, o valor da solidariedade, a autenticidade de uma vida fraterna, em clima de alegria, e a vida espiritual.

A Pastoral Vocacional deve ser para nós uma preocupação e um desafio que temos de viver com serenidade. É verdade que, neste campo, atravessamos tempos de Inverno. As vocações não são abundantes e, às vezes, somos tentados a deixar-nos levar pelo pessimismo. Mas o nosso projecto perten-ce ao Senhor e Ele pede-nos que continuemos a lançar as redes – Duc in altum –, e a lançar a semente da vida consagrada hospitaleira. Pede-nos que ofereçamos aos novos candidatos acolhimento, acompanhamento no discernimento e formação, de forma que possam ir consolidando a sua vo-cação. O compromisso pessoal de cada Irmão e a sua vida jovial e dedicada é o primeiro e mais importante dos meios para uma renovação da pastoral vocacional, para além das que já mencionei.

Na Pastoral Vocacional temos que observar também uma outra dimen-são importante, coerentemente com quanto tenho vindo a dizer até ago-ra. Precisamos de incorporar e envolver nesta missão os Colaboradores. Eles serão sem dúvida uma fonte de renovação para a nossa pastoral vocacional. Todos unidos, Irmãos e Colaboradores, temos que trabalhar

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para promover a vocação cristã da hospitalidade, tanto na vida consa-grada como na dos leigos. A missão é a mesma e não há dúvida que também o serão muitas estratégias e projectos: acolhamos com deter-minação esta oportunidade que o Senhor e a própria Ordem colocam nas nossas mãos. O Relatório encerra em si mesmo todo um programa cheio com desafios para a Ordem, neste sexénio que agora começa. Enfrentemo-los sem medo, com a coragem de quem se dispõe a nascer de novo, cheios de esperança e con-fiança no Senhor, que é o guia e o companheiro privilegiado no caminho da nossa vida.

3. PRIORIDADES DA HOSPITALIDADE PARA O SEXÉNIO

Acabamos de celebrar o LXVI Capítulo Geral, sob o lema “Paixão pela Hos-pitalidade de S. João de Deus hoje no mundo”. Realizámo-lo baseando-nos principalmente no Instrumentum laboris, no Relatório sobre o Estado da Formação na Ordem, na Carta de Identidade da Ordem e no documento Ca-minho de hospitalidade segundo o estilo de S. João de Deus: Espiritualida-de da Ordem.

As reflexões, o trabalho de grupo e os debates nas diferentes fases do Capí-tulo deram lugar à aprovação do Documento Final com os objectivos funda-mentais e as grandes linhas de acção que a Ordem irá trabalhar nos próximos anos. Denominámos este documento, seguindo a mesma terminologia do se-xénio anterior, Prioridades da Hospitalidade.

O Conselho Geral, reunido nos dias 30 de Novembro e 1º de Dezembro de 2006, elaborou este documento e fez a planificação geral que se-guidamente vos apresentamos. Trata-se de uma planificação de longo prazo, não exaustiva, que será continuada mais tarde, à medida que os diferentes grupos e comissões forem conhecendo melhor a realidade da Ordem.

Realizámos principalmente a distribuição das responsabilidades por Re-giões e Províncias, por áreas, serviços e comissões que deverão ser ani-

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madas a partir da Cúria Geral, e programámos algumas acções concretas, que já podem ser previstas, sempre em sintonia com o documento das Prioridades e com tudo quanto até agora aqui ficou exposto.

Desejo agora fazer alguns comentários sobre o documento Prioridades da Hospitalidade, que nos ajudem a pô-lo em marcha e a integrá-lo na vida das Províncias a partir dos próximos Capítulos Provinciais.

3.1. PRIORIDADES NA VIDA DOS IRMÃOS Esta parte do documento refere-se aos temas específicos da vida dos Irmãos, embora em muitos deles tenhamos também que estar abertos aos Colabora-dores e a outras realidades eclesiais e sociais. Trata-se, concretamente, dos temas da promoção da pastoral vocacional, da formação e da vida fraterna.

No ponto anterior, ao comentar o Relatório sobre o Estado da Formação na Ordem, já me referi a alguns deles, de modo que vou ser agora mais breve neste ponto.

A Pastoral vocacional é um desafio para nós, não só porque assistimos a um momento baixo em termos de vocações para a vida consagrada hospitaleira, mas principalmente porque temos de encontrar os meios humanos e mate-riais apropriados para acolher e formar adequadamente as novas vocações. O acompanhamento e o discernimento são particularmente importantes nesta etapa, principalmente para avaliar a maturidade humana e afectiva e as ver-dadeiras motivações vocacionais dos candidatos.

A pastoral vocacional deverá entroncar na pastoral juvenil, o que implica um esforço para colaborar com outros grupos eclesiais e trabalhar com os Cola-boradores jovens que, devido à própria profissão, ao seu compromisso como voluntários ou por qualquer outra razão se aproximam das nossas Casas, apresentando-lhes a vocação cristã para a hospitalidade a partir da vida con-sagrada e do laicado.

Quanto à Formação, além de tudo quanto acima ficou dito, é necessário in-sistir na Formação Permanente. Sabemos que ela é necessária, mas a realida-de diz-nos que devemos ser mais cuidadosos com ela. Nem sempre existem

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programas nas Províncias e, frequentemente, nota-se falta de motivação e desinteresse. Este é um desafio ao qual não podemos escapar. Da formação permanente depende em grande parte o nosso futuro.

A formação permanente, entendida correctamente, para além dos diplomas académicos, torna possível o nosso crescimento pessoal, humano, religioso e hospitaleiro. Por isso, em todas as idades e fases da vida, ela torna-se im-prescindível, não para se obter novos diplomas, mas para vivermos a nossa consagração ao Senhor permanentemente renovada. Todos somos chamados a realizar um esforço notável neste sentido durante o sexénio, especialmente as Províncias, as Comunidades e cada Irmão em particular.

A Cúria Geral não deixará também de promover algumas acções, entre as quais cabe destacar os Cursos de preparação para a profissão solene, desde que exista um número suficiente de Irmãos. Aproveito esta ocasião para en-corajar todas as Províncias a enviar os seus Irmãos a estes cursos. Sei que fica caro, em todos os sentidos, mas trata-se de uma experiência vocacional, for-mativa e hospitaleira única, pela qualidade dos cursos, pela universalidade da Ordem que se vive, e pela possibilidade de rever e fazer um discernimento e uma síntese antes da profissão solene.

Sobre a Vida de fraternidade o Documento apresenta dois capítulos: um re-fere-se propriamente à Vida fraterna, o outro fala das Novas formas de vida em comunidade. No primeiro caso, são apontadas linhas verdadeiramente importantes para a nossa vida, tendo em conta que a Vida de Comunidade constitui um elemento essencial da nossa consagração hospitaleira.

A vida espiritual, como base e fundamento, é o primeiro aspecto sobre o qual também insiste o documento das Prioridades. A insistência justifica-se porque, apesar de o sabermos e de o repetirmos, este é um dos pontos que precisamos de fortalecer na nossa vida pessoal e comunitária. Se naufraga a vida espiritual, tudo falha, incluindo a vida fraterna. Trata-se do fundamento para que possamos viver a nossa consagração hospitaleira com integridade. Por ele somos responsáveis todos e cada um, pessoalmente, mas também a Comunidade o é, na medida em que deve acompanhar, integrar, ajudar e favorecer a vida espiritual e consagrada dos Irmãos.

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A comunidade fraterna é um espaço privilegiado que alimenta a vida de cada Irmão. Mas ela só é possível se a comunidade se alimentar de forma permanente e corresponsável, com todos os seus elementos, por meio da contribuição dos seus dons e dos seus valores. A comunidade deve ser um espaço vital, acolhedor e plural, no qual os jovens e os mais idosos, saudá-veis ou doentes, defendendo ideias diversas, possam viver fraternalmente, porque o que nos une não é basicamente isso, mas o amor de Deus e o seu chamamento a viver a hospitalidade, que devemos praticar também com os nossos irmãos.

Um factor importante para promover a vida fraterna é a comunicação entre os Irmãos, tanto ao nível da fé e da experiência de Deus como da missão apostólica e, em geral, de toda a nossa vida. No Relatório sobre o Estado da Formação na Ordem são reveladas algumas insatisfações a este respeito, que somos chamados a superar. Quando apenas se partilham coisas importantes ou quando a comunicação entre os Irmãos se detém numa dimensão super-ficial, a comunidade debilita-se e prevalece o individualismo que, a longo an-dar, produz uma vida pautada por valores e índices de desempenho mínimos, quer por parte dos Irmãos quer das comunidades.

Temos que promover entre nós espaços de mais e mais profunda comunica-ção de fé e de vida, o que, sem dúvida, contribui para o fortalecimento e o crescimento da vida comunitária. Todos somos chamados a promover a vida de comunidade para testemunhar perante o mundo o valor da fraternidade. Cada um, partindo da sua responsabilidade; o superior, como animador, ser-vidor e autoridade; os demais Irmãos, como membros activos e comprometi-dos com a comunidade, compartilhando e contribuindo cada um com o que tem em benefício de todos.

O Capítulo Geral quis dar um passo em frente, tendo em conta a nova reali-dade que a Ordem é e experimenta nos dias de hoje. Por isso, as Prioridades convidam-nos a promover Novas formas de vida em comunidade que respon-dam às novas exigências que se apresentam na actualidade; que mantenham vivo o espírito e o sentido da vida de comunidade, tal e como a descrevem as Constituições da Ordem, mas que dêem a oportunidade de viver a fraternida-de com os Colaboradores, os doentes e os utentes que o desejarem; que tor-

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nem possível a criação de comunidades intercongregacionais e comunidades temporárias, criadas para viabilizarem projectos concretos.

Cada vez mais, a vida de comunidade deve ser avaliada não tanto pela quan-tidade de actos e momentos em que os seus membros estão juntos, mas pela qualidade dos mesmos. Referimo-nos, concretamente, aos que estão ligados à oração comunitária, à formação permanente, às reuniões comunitárias apos-tólicas e de família, aos retiros exercícios espirituais e a alguns momentos de convívio e às festividades. Desta forma, podemos entender e aceitar que al-guns Irmãos possam levar a cabo a sua missão em circunstâncias concretas fora da comunidade, tendo-a no entanto como referência e compartilhando com ela momentos significativos e específicos de qualidade.

3.2. PRIORIDADES NA MISSÃO DA ORDEM A missão da Ordem aumenta cada vez mais, como resultado da sua fecundi-dade e graças às contribuições de todos quantos a constituímos. Nem podia ser de outro modo, porque a hospitalidade é dinâmica e activa. É desejável e previsível que esta corrente de hospitalidade evangélica continue no futuro. Isso faz com que a complexidade das Obras seja cada vez maior, e que de-vamos geri-las de acordo com critérios de qualidade e eficiência, mantendo contudo sempre o estilo e a filosofia próprios da Ordem; além disso, pressu-põe também uma grande abertura aos Colaboradores e uma grande respon-sabilidade da Ordem para transmitir a quantos fazem parte das nossas Obras o carisma, o estilo e os valores da nossa Instituição. Para tudo isso, a Carta de Identidade da Ordem é uma referência fundamental.

A gestão carismática ocupa um lugar importante nas Prioridades para o sexé-nio. É uma expressão retirada da Carta de Identidade e estivemos a trabalhar nela durante todo o sexénio anterior. Já foram feitos progressos interessan-tes, mas é necessário continuar a trabalhar nela, se possível ainda com mais empenho, principalmente nalgumas regiões da nossa Ordem. Será necessário promover encontros de formação que ajudem as Províncias a gerir as Obras de acordo com os princípios indicados nesse Documento. Sob este aspecto, temos que ser responsáveis e transparentes, porque está em jogo, em parte, uma grande parte do crédito da Instituição e principalmente a possibilidade de cumprir bem a missão que a Igreja nos confia. O documento Prioridades

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da Missão da Ordem oferece pontos e acções muito concretos que todos de-vemos seguir e levar a cabo.

A participação dos Colaboradores devidamente seleccionados e formados em cargos de direcção e tarefas de responsabilidade é desde há muito tempo uma realidade positiva na Ordem, principalmente nalgumas Províncias. É ne-cessário implementar esta possibilidade, quando for necessário, superando medos e incompreensões. Muitos estão a assumir cargos importantes de res-ponsabilidades e a tornar possível o desenvolvimento da missão da Ordem. Fazem-no na qualidade de leigos, plenamente unidos e comprometidos com o projecto de hospitalidade de S. João de Deus.

Na administração das nossas Obras apostólicas devemos incluir a qualidade carismática e a avaliação dos valores da Ordem na missão que cada uma de-las realiza, de forma que a gestão carismática não seja apenas um desejo ou um ideal válido só para os capítulos e os encontros, mas uma realidade que, embora visando à excelência da hospitalidade, procede segundo os critérios lógicos e actuais da gestão.

A opção pelos pobres, doentes e necessitados é uma prioridade que devemos manter sempre viva na nossa Ordem. Isso denota a permanente sensibilida-de para responder às novas necessidades que surgem e para estarmos pre-sentes junto dos doentes e dos pobres mais abandonados. Trata-se de uma riqueza que herdámos do nosso Fundador, que temos de potenciar sempre e que pertence ao núcleo essencial do nosso ser. Nela precisamos de envolver cada vez mais os Colaboradores e todas as Obras, incluindo as que incorpo-ram as tecnologias mais avançadas, para promover espaços de atenção aos doentes e necessitados em estado precário, ajudando ao mesmo tempo as outras Obras da Ordem que precisam do apoio.

Irmãos e Colaboradores unidos na missão e no carisma. Não se trata só de um título, mas do modo de entender a presença dos Colaboradores na Ordem. Unidos significa “fazer parte” da Ordem. Não estamos a falar de aliança, nem de integração, porque isso implica a necessidade de os Irmãos quererem ou decidirem torná-los participantes. Também eles constituem a Ordem, na me-dida que desejam comprometer-se com ela no seu projecto hospitalidade.

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Irmãos e Colaboradores somos uma expressão rica e fecunda da Igreja, cha-mada a encarnar o amor misericordioso de Deus segundo o espírito e o estilo iniciados por S. João de Deus na cidade de Granada.

Já me referi amplamente e várias vezes a este tema e desejo agora fazer só mais uma observação. Entre as Prioridades aqui mencionadas consta o con-vite a estudar formas e a definir estruturas novas para a implementação da Família hospitaleira ou do Movimento de S. João de Deus, e para estabelecer novos laços de maior comunhão espiritual entre os Colaboradores e a Ordem. Esta é mais uma prova do desejo que existe para crescermos em todos estes aspectos. Nalguns lugares da Ordem estão a ser feitas algumas experiências e tentativas de constituir estruturas que favorecem a consecução destes ob-jectivos. Creio que devemos dar passos em frente neste sentido, com prudên-cia, mas, ao mesmo tempo, com muita confiança e decisão. Encorajo por isso todas as Províncias a reflectir e a promover estes movimentos, como faremos também na Cúria Geral, compartilhando e, se for caso disso, aprovando os estatutos e regulamentos considerados oportunos.

Transmissão dos valores da Ordem. Trata-se de uma exigência à qual deve-mos prestar muita atenção e dedicação. À medida que aumenta o número de Obras e, principalmente, de Colaboradores, este aspecto torna-se imprescin-dível. Na quase totalidade das nossas Obras a presença dos Irmãos é mínima, em termos quantitativos e proporcionalmente ao número de Colaboradores, e é de prever que no futuro esta tendência não só se mantenha mas que se acentue. Por isso, e com o propósito de manter vivo o espírito de S. João de Deus, temos de nos esforçar para que os nossos Colaboradores conheçam e amem a nossa filosofia, de forma que, conhecendo-a, se comprometam em vivê-la e transmiti-la. Disso dependerá em grande parte o futuro de muitas das nossas Obras e da própria Ordem.

Neste trabalho, todos têm que se empenhar: os Irmãos e os Colaboradores, especialmente os que desempenham cargos de maior responsabilidade, ao nível directivo e de autoridade intermédia. São necessários bons departa-mentos de recursos humanos, com planos de selecção, acolhimento, acom-panhamento e avaliação, em que trabalhem pessoas com uma formação que inclua a filosofia, a história e a realidade da Ordem, e preparadas noutros

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aspectos próprios de cada situação e lugar concretos. A coerência e a trans-parência na administração, de acordo com os princípios que proclamamos, devem acompanhar todos os aspectos expostos, sob pena de não sermos verdadeiramente eficazes. Além disso, o testemunho pessoal dos Irmãos e dos Colaboradores é também um instrumento indispensável para uma trans-missão apropriada dos valores da Ordem.Somos chamados a promover a “marca de S. João de Deus”, quer dizer, aquilo que nos caracteriza e pelo qual queremos ser conhecidos, dentro e fora das nossas Obras, na Igreja e na sociedade em geral. Para além de constituir uma espécie de logótipo, essa “marca” de referência deve expressar o conteúdo do projecto de hospitalidade de S. João de Deus, o seu estilo e a sua imagem, o seu carisma e a sua missão. É precisamente isso que temos de transmitir para o exterior da Ordem, servindo-nos dos meios de comunicação e das técnicas que hoje temos à disposição, com o fim último de impulsionar o carisma, a espiritualidade e a missão da Ordem.

A Pastoral da Saúde e Social. É um campo que nos pertence de modo muito especial, ao qual sempre dedicámos os melhores cuidados e do qual somos promotores em muitas partes do mundo. A assistência espiritual e religiosa prestada às pessoas doentes e necessitadas, às suas famílias e às dos Co-laboradores, constitui o espaço fundamental da pastoral nas nossas Obras. Durante o novo sexénio gostaríamos de impulsionar esta dimensão para a reforçar e renovar em toda a Ordem, tendo em conta as novas circunstâncias que vivemos actualmente e as características concretas de cada realidade onde estamos presentes.

É necessária uma pastoral organizada e implementada em Equipa, com pes-soas adequadamente formadas, que inclua os cuidados pastorais baseados numa visão alargada da evangelização, não só, nem exclusivamente, sacra-mental. Que seja ecuménica e aberta ao pluralismo religioso, capaz de com-preender o acompanhamento espiritual em sentido abrangente, seja qual for a opção ou a posição religiosa das pessoas. Que seja capaz de trabalhar numa equipa interdisciplinar com os restantes profissionais e serviços clínicos, com o único objectivo de oferecer às pessoas doentes e necessitadas uma assis-tência integral. Que partilhe com os profissionais de saúde e sociais alguns

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instrumentos de trabalho, como os protocolos de assistência e a documenta-ção clínica, entre outros. Só deste modo os Serviços de assistência espiritual e religiosa conseguirão encontrar nas nossas Obras o espaço necessário para a sua acção, poderão ser aceites e compreendidos e, o que é muito importan-te, poderão dialogar com os profissionais e criar uma cultura de assistência espiritual e religiosa junto dos Colaboradores.

Este é um compromisso que todos devemos assumir neste sexénio, as Provín-cias e cada uma das Obras apostólicas em concreto. Também na Cúria Geral iremos empenhar-nos com dedicação neste campo e, para isso, nomeámos um Conselheiro Geral que promova e anime a pastoral da saúde e social em toda a Ordem.

Por fim, a Bioética é outro tema de grande actualidade. Os progressos da téc-nica médica, a investigação, os riscos da medicina desumanizada, a própria gestão dos recursos humanos e económicos, as graves situações sociais com que somos confrontados e muitas outras circunstâncias, apresentam-nos di-lemas éticos de modo permanente que devemos ser capazes de enfrentar, procurando tomar decisões acertadas.

Por vezes, os dilemas éticos são de mais vasto alcance, afectando os princí-pios éticos da Igreja e da Ordem, às vezes promovidos pelas leis dos Estados, outras, fruto de exigências sociais ou de pessoas concretas que exigem de nós um estudo profundo e um debate ético. De tudo isso teve perfeita consci-ência o Capítulo Geral que, nas Prioridades da Missão da Ordem, dedicou um capítulo específico a este tema.

Temos que trabalhar com determinação no campo da Bioética nos próximos anos. A formação dos Irmãos e Colaboradores neste campo, a constituição de Comités de Bioética Assistencial e de Investigação são dois âmbitos em que todas as Províncias deverão trabalhar, com o objectivo não só de criar um gru-po de peritos que procurem resolver os dilemas bioéticos, mas também para incutir em todo o pessoal das nossas Obras a sensibilidade e o sentido ético da gestão, da investigação e da assistência aos doentes e necessitados, em particular, e da vida, em geral.

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A partir da Cúria Geral promoveremos a criação de um Observatório Bioético com a finalidade de, entre outras coisas, promover a formação em Bioética e a criação de Comités de Bioética na Ordem, dar assessoria às Províncias, reflectir e promover o diálogo bioético, partilhar informações e promover par-cerias com as Províncias. Um Conselheiro Geral assumirá a responsabilidade por esta área, ficando também incumbido de criar e fazer funcionar o Obser-vatório Bioético.

3.3. PRIORIDADES NA COLABORAÇÃO EM REDE (networking) A universalidade e globalização são actualmente duas características muito presentes na realidade da Ordem. Nos últimos anos trabalhou-se e promo-veu-se com sucesso a colaboração graças à qual foi possível implementar muitos projectos e acções em todo o mundo.

A importância da Colaboração neste contexto é cada vez maior, como foi reconhecido pelo Capítulo Geral que sentiu a necessidade para incluir entre as Prioridades do sexénio um capítulo exclusivamente dedicado ao tema, em níveis diferentes: interprovincial, no âmbito de uma mesma região, in-terprovincial, entre várias regiões geográficas da Ordem, com outras insti-tuições da Igreja e, em geral, com outros organismos de carácter público e privado, desde que sejam respeitados os princípios fundamentais da nossa Instituição.

É certo que já se fez muito, mas também é verdade que ainda temos muito caminho a percorrer. Na Ordem existem muitas possibilidades, muito conhe-cimento (know-how) e muita experiência acumulada que temos de compar-tilhar para o crescimento e o desenvolvimento da Ordem inteira, para tornar possíveis novos projectos e acções em lugares onde as necessidades são ver-dadeiramente urgentes.

O Departamento das Missões e a Cooperação Internacional são um primeiro espaço de colaboração iniciado no sexénio anterior e é preciso promovê-lo para favorecer a solidariedade e a cooperação, especialmente com as Obras da Ordem nos países em vias de desenvolvimento. A sua missão consistirá em gerir todos os temas relacionados com as Missões e a Cooperação In-ternacional, em coordenação com as Províncias, as Associações e as ONGs

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da Ordem, as quais deverão continuar a manter a sua actividade e a sua colaboração.

Intensificar e promover as Geminações entre Centros ou Províncias. Trata-se de uma outra forma de colaboração, ainda na sua fase inicial, que encorajo todos a implementar, pois as experiências já realizadas são muito positivas e esta é uma forma actual e eficiente de colaborar, não só e basicamente no plano financeiro, mas também nos âmbitos cultural e profissional. E não só geminações de países desenvolvidos com países em desenvolvimentos, mas também em sentido oposto, tendo principalmente em conta os tempos de hoje em que se verificam tantos movimentos migratórios.

Manter e intensificar os Encontros regionais. Juntamente com a universali-dade e a globalidade, verifica-se também no mundo de hoje a necessidade de promover as realidades locais e regionais. É certo que no âmbito da uni-versalidade da Ordem existem características específicas em cada lugar e é aconselhável tomá-las em consideração. Com essa finalidade, foram organi-zados no sexénio anterior Encontros regionais, basicamente por continentes, para estudar problemas concretos e encontrar respostas mais próximas e adaptadas às realidades de cada região. Consideramos que é acertado pros-seguir nesta direcção, e por isso previmos e programámos vários encontros regionais de Superiores Maiores, com a intenção de trabalhar a nível regional aqueles aspectos que forem mais específicos ou que requeiram um estudo mais concreto e pormenorizado em cada região.

Comissões Interprovinciais. São as que funcionam desde há mais tempo e em geral foram muito positivas para a vida da Ordem. Precisamente por isso, precisamos de as revitalizar, rever os aspectos que for necessário, mudar as dinâmicas conforme se achar oportuno e valorizar o seu conteúdo, superando as dificuldades e os receios que porventura ainda existam, e procurar o bem comum das Províncias envolvidas e o da Ordem em geral.

Nestas iniciativas e noutras propostas pelo documento capitular das Priorida-des, o Conselho Geral estará envolvido com a sua presença, animação e apoio às Províncias e Regiões e com a criação das Comissões e grupos de trabalho que forem necessários para o correcto cumprimento dos objectivos traçados.

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4. GOVERNO E ANIMAÇÃO DA ORDEM

Entendo o governo e a animação como um serviço prestado à Ordem para viver em fidelidade criativa o carisma, a espiritualidade e a missão de hospita-lidade iniciada por S. João de Deus e da qual somos depositários. Trata-se de um serviço à Ordem para implementar as grandes linhas de acção que o LXVI Capítulo Geral aprovou para os próximos seis anos.

Governar e animar a Ordem implica guiar, escutar, dialogar, decidir e, por ve-zes, corrigir. Trata-se de uma missão e de um serviço verdadeiramente difí-ceis, que assumo com humildade e baseando-me na hospitalidade; ao mesmo tempo, porém, peço a todos, Irmãos e Colaboradores, compreensão, apoio, disponibilidade e abertura para escutar e aceitar os apelos que o Espírito do Senhor não deixará de dirigir a todos, ao longo deste tempo.

Quero que uma das características do meu serviço de governo e animação da Ordem sejam o trabalho em equipa e a colegialidade. Com o Conselho Geral, formamos uma verdadeira comunidade fraterna e apostólica e uma autêntica equipa de trabalho, distribuindo e compartilhando as diferentes responsabi-lidades e tarefas que temos de realizar. Deste modo, assumo uma linha de acção do Capítulo Geral que solicita que sejam delegadas maiores responsa-bilidades nos Conselheiros Gerais.

A partir da Cúria Geral, serão promovidas diferentes Comissões de traba-lho, algumas das quais já foram aqui indicadas, que irão procurar, de modo dinâmico, abordar os diferentes temas, com a participação de Irmãos e Co-laboradores de toda a Ordem. Os meios modernos de comunicação permi-tem contar com a ajuda de muitas pessoas, sem que elas precisem de se deslocar fisicamente a Roma ou aos lugares onde decorrem as reuniões de trabalho.

Por outro lado, o Conselho Geral, duas vezes por ano, realizará um Conselho Alargado, com a presença de vários Colaboradores, que serão os mesmos du-rante pelo menos três anos, sendo no entanto possível que outros participem de modo pontual para temas específicos. Os Conselhos Alargados terão a du-ração de pelo menos dois dias e neles haverá um espaço de tempo reservado

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ao Conselho Geral para abordar aspectos estritamente canónicos. Creio que é necessária esta abertura de forma que os Colaboradores também participem nos órgãos máximos da Ordem e para que nos ajudem e aconselhem em mui-tos temas nos quais não somos especialistas.

Desejo igualmente que a colegialidade e o trabalho em equipa, logicamente a outro nível, se verifiquem também com os Superiores Provinciais para o bom governo da Ordem. Também esta foi uma linha de acção aprovada pelo Capí-tulo. Para isso, previmos todos os anos um encontro com eles, quer a nível da Ordem inteira, quer a nível regional. Além destes encontros, é meu desejo que os Provinciais se mantenham em contacto permanente com o Conselhei-ro Geral nomeado para a sua Província e naturalmente, sempre que queiram, comigo mesmo.

Todos juntos, iremos trabalhando e estudando os temas que se apresenta-rem, de modo a ajudar o Conselho Geral a encontrar as melhores soluções. Um dos muitos temas a estudar será a possível reorganização de algumas es-truturas da Ordem. Apesar de esta reestruturação ser uma hipótese delicada e difícil, que requer muita prudência e diálogo, nalguns casos teremos prova-velmente que ponderar essa possibilidade. O próprio Capítulo Geral, entre as Prioridades aprovadas, pediu à Cúria Geral e às Províncias que realizassem esse movimento, respeitando obviamente a nossa legislação. Esta linha de acção, bem como as outras duas que acabo de indicar, não foram incluídas no documento de Prioridades precisamente para constarem neste documento de Governo e animação da Ordem.

5. CONCLUSÃO

Concluo esperando ter-vos esclarecido com estas reflexões e que elas vos aju-dem a iniciar o sexénio com visão e esperança.

O programa é vasto e muitos são os desafios, como podeis ver; por isso, con-vido todos vós, Irmãos e Colaboradores, a trabalhar com empenho e com-promisso nesta nova etapa da vida da Ordem, mantendo viva a paixão pela hospitalidade de S. João de Deus no mundo de hoje.

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Como referi no início, desejo que este seja para todos um tempo favorável de Páscoa no qual tudo renasça e se torne novo, graças ao Espírito do Senhor. Encetemos a nossa caminhada, ousemos nascer de novo, atrevamo-nos a re-avivar a chama da hospitalidade, sinal e expressão da presença do Reino de Deus no mundo.

Confio em S. João de Deus e em todos os nossos santos e beatos, que coloco como nossos intercessores privilegiados diante de Deus. Confio em Maria, Nossa Senhora do Bom Conselho, que estará permanentemente connosco, encorajando a nossa caminhada. Confio em Deus, Nosso Senhor, que hoje se encarna em Jesus Cristo, nascendo em Belém para ser luz no meio das trevas, paz no meio das guerras e da violência que assola o mundo de hoje, hospita-lidade no nosso mundo tantas vezes hostil e inospitaleiro.

Sempre unidos em S. João de Deus,

Roma, 25 de Dezembro de 2006.

Solenidade do Natal do Senhor

Ir. Donatus Forkan

Superior Geral

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PROGRAMAÇÃO DO SEXÉNIO 2006-2012

1. INTRODUÇÃO

Apresentamos seguidamente a programação do sexénio, relativamente ao calendário dos Capítulos Provinciais, às Visitas Canónicas, às reuniões com os Superiores Gerais e a outros encontros importantes, e ainda às áreas de responsabilidade do Governo da Ordem.

Trata-se das datas mais importantes e de referência para a vida das Provín-cias. Temos consciência de que este é um calendário incompleto, dado que as diferentes Comissões e os grupos de trabalho, que estão a ser implementa-dos a partir do Governo Geral, irão imprimir um forte dinamismo à Ordem, o que implicará reuniões e encontros de diferentes níveis que serão programa-dos e anunciados oportunamente.

O programa de animação do Governo Geral terá duas vertentes: por um lado, a geográfica, em que um ou dois Irmãos Conselheiros Gerais levarão a cabo a animação das diferentes Regiões da Ordem, em contacto e coordenação com os Superiores Provinciais. Dessa forma, e através de encontros com as Comis-sões Interprovinciais e Regionais, poderão também ser definidos programas de trabalho concretos para cada Região ou Comissão Interprovincial. Por ou-tro lado, a vertente que se refere às áreas de animação próprias da Ordem: a Pastoral Vocacional e a Formação, a Gestão Carismática e a Economia, a Bioética, a Pastoral da Saúde, as Missões e a Cooperação Internacional. Am-bas estas vertentes – a geográfica e a de animação – vão também pressupor encontros e reuniões que serão oportunamente programados.

Do mesmo modo, o Superior Geral dirigir-se-á à Ordem inteira – Irmãos e Co-laboradores –, através de Mensagens e Cartas escritas por ocasião de circuns-tâncias pontuais e acontecimentos relevantes para a vida da Ordem.

Desejamos que toda a Ordem – Irmãos e Colaboradores – acolham com ale-gria esta programação do sexénio, assim como os ideais, a esperança e a vida que queremos depositar nela. Pedimos a colaboração e disponibilidade de todos para podermos concretizar todo este programa de acção.

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2. CALENDÁRIO DOS CAPÍTULOS PROVINCIAIS: 2007

Fevereiro 12-15 Província Inglesa

Fevereiro 20-24 Província da Índia

Fevereiro 27-03 Março Província do Vietname

Março 12-16 Província da Austrália

Março 19-23 Província da Coreia

Março 27-31 Província Romana

Abril 11-15 Província Lombardo-Véneta

Abril 17-21 Província de Aragão

Abril 23-27 Província Bética

Abril 30 Delegação da Renânia

Maio 01-06 Província da Baviera

Maio 08-12 Província da Áustria

Maio 14-16 Província da Boémia-Morávia

Maio 21-25 Província de Castela

Maio 28-01 Junho Província da França

Junho 04-08 Província da Irlanda

Junho 11-15 Província Portuguesa

Junho 19-23 Província da América Latina Meridional

Junho 27-01 Julho Província da América Latina Setentrional

Julho 05-09 Província Colombiana

Julho 12-16 Província do México

Julho 19-21 Delegação Geral do Canadá

Julho 24-28 Província dos Estados Unidos da América

Julho 31-04 Agosto Província da Polónia

Agosto 06-08 Delegação Geral da Silésia

Agosto 13-17 Delegação Geral de S. Bento Menni – África

Agosto 21-25 Delegação Geral de S. Ricardo Pampuri – África

Agosto 27-31 Província Nª. Sª. da Misericórdia – África

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3. CALENDÁRIO DOS CAPÍTULOS PROVINCIAIS: 2010

Fevereiro 15-18 Província Inglesa

Fevereiro 22-26 Província da Índia

Março 01-05 Província do Vietname

Março 09-13 Província da Austrália

Março 16-20 Província da Coreia

Abril 12-16 Província Romana

Abril 12-16 Província de Aragão

Abril 12-16 Província da Baviera

Abril 19-23 Província Lombardo-Véneta

Abril 19-23 Província Bética

Abril 19-23 Província da Áustria

Abril 26-30 Província da Irlanda

Abril 26-30 Província de Castela

Maio 03-07 Província da França

Maio 03-07 Província da Polónia

Maio 10-14 Província Portuguesa

Maio 10-14 Província dos Estados Unidos da América

Maio 10-12 Delegação Geral da Silésia

Maio 18-20 Delegação Geral do Canadá

Maio 24-28 Província da América Latina Meridional

Maio 31-04 Junho Província da América Latina Setentrional

Maio 31-04 Junho Delegação Geral de S. Benito Menni – África

Junho 07-11 Província Colombiana

Junho 15-19 Província do México

Junho 15-19 Delegação Geral de S. Ricardo Pampuri – África

Junho 22-26 Província Nª. Sª. da Misericórdia – África

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4. VISITAS CANÓNICAS

Ano de 2008Província de N. S. da Misericórdia: 07.01-23.02 – Encerramento: 25.02

Ir. Vincent Kochamkunnel e Ir. Robert Chakkana. Província Bética: 10.03-26.04 – Encerramento: 26.04

Ir. Jesús Etayo Província Lombardo-Véneta: 31.04-14.06 – Encerramento: 14.06

Ir. Elia Tripaldi. Província do México e América Central: 07.04 -10.05 – Encerramento: 31.07

Ir. Daniel Márquez Província da França: 05.05-06.06 – Encerramento: 06.06

Ir. Jesus EtayoProvíncia da Polónia: 19.05-28.06 – Encerramento: 14.07

Ir. Rudolf KnoppDelegação Geral da Silésia: 30.06 – Encerramento: 12.07

Ir. Rudolf KnoppProvíncia Romana: 16.06-17.07 – Encerramento: 19.07

Ir. Elia Tripaldi Província Colombiana: 12-05-14.06 – Encerramento: 28.07

Ir. Daniel Márquez Delegação Provincial de Papua-Nova Guiné: 20.06-05.07 – Encerramento: 05.07

Ir. Vincent KochamkunnelProvíncia da Ásia Austral: 18.06-08.07 – Encerramento: 08.07

Ir. Donatus Forkan Província da América Latina Setentrional: 18.06-25.07 – Encerramento: 25.07

Ir. Daniel Márquez Província da Coreia: 1.09-29.09 – Encerramento: 29.09

Ir. Vincent Kochamkunnel

Ano de 2009Província de Castela: 23.03-09-05 – Encerramento: 09.05

Ir. Jesús Etayo

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Ano de 2011Província de Aragão: 07.01-26.02 – Encerramento: 26.02

Ir. Jesús Etayo Delegação Geral Africana de S. Bento Menni: 24.01-19.02 – Encerramento 19.02

Ir. Vincent Kochamkunnel e Ir. Robert Chakana Província de Inglaterra: 01.02-12.02 – Encerramento: 12.02

Ir. Donatus Forkan Província da Baviera: 07.02-26.03 – Encerramento: 26.03

Ir. Rudolf Knopp Delegação Geral Africana de S. Ricardo Pampuri: 01.03-19.03 – Encerra-mento: 19.03

Ir. Vincent Kochamkunnel e Ir. Robert Chakana Província dos Estados Unidos da América: 01.03-12.03 – Encerramento:12.03

Ir. Donatus ForkanProvíncia Irlandesa: 01.06-01.07 – Encerramento: 01.07

Ir. Donatus Forkan Província da Índia: 01.06-30.06 – Encerramento: 13.08

Ir. Vincent Kochamkunnel Província da América Latina Meridional: 01.06-02.07 – Encerramento: 09.07

Ir. Daniel MárquezDelegação Geral do Canadá: 04.07-07.07 – Encerramento: 07.07

Ir. Daniel Márquez Delegação Provincial do Japão: 04.07-09.07 – Encerramento: 10.08

Ir. Vincent KochamkunnelDelegação Provincial das Filipinas: 11.07-16.07 – Encerramento: 08.08

Ir. Vincent KochamkunnelProvíncia do Vietname: 18.07-05.08 – Encerramento: 05.08

Ir. Vincent Kochamkunnel Província da Áustria: 19.09-12.11 – Encerramento: 12.11

Ir. Rudolf Knopp Delegação Provincial do Brasil: 01.10-10.10 – Encerramento: 10.10

Ir. Jesús Etayo Província de Portugal: 13.10-16.11 – Encerramento: 16.11

Ir. Jesús Etayo

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5. ÁREAS GEOGRÁFICAS DE ANIMAÇÃO

Região da Europa: Ir. Rudolf Knopp e Ir. Jesús Etayo Região da Ásia-Pacífico: Ir. Vincent Kochamkunnel e Ir. Donatus ForkanRegião da África: Ir. Robert Chakana e Ir. Rudolf KnoppRegião da América: Ir. Daniel Márquez e Ir. Jesús Etayo

6. ÁREAS DE ANIMAÇÃO E GOVERNO

Processo de Renovação (Vida dos Irmãos, Colaboradores, Formação, Pastoral Vocacional):Ir. Jesús Etayo

Animação das três Comunidades da Cúria Geral: Ir. Jesús Etayo

Gestão Carismática, Ecónomo, Património Cultural, Estatísticas e Administração, Hospital da Ilha Tiberina, Hospital de Nazaré:

Ir. Rudolf KnoppBioética: Ir. Jesús Etayo e Ir. Elia TripaldiPastoral da Saúde: Ir. Elia Tripaldi e Ir. Jesús Etayo Postulador Geral: Ir. Félix Lizaso e Ir. Elia TripaldiMissões e Cooperação Internacional:

Ir.Vincent Kochamkunnel, Ir. Robert Chakana e Ir. Daniel Márquez.Informação e Comunicação: Ir. Daniel Márquez e Ir. José M. Chávarri.Procurador Geral: Ir. José María Chávarri Secretário Geral: Ir. José María Chávarri

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7. REUNIÕES DE SUPERIORES MAIORES

Ano 2007: 26-30 de Novembro Reunião Geral Ano 2008: Outubro-Novembro Reunião Regional Ano 2009: 9-22 de Novembro Capítulo Geral Extraordinário (Aprovação dos novos Estatutos Gerais)Ano 2010: Setembro Reunião Geral Ano 2011: Abril-Maio Reunião Regional Ano 2012: Janeiro-Fevereiro Reunião Regional

8. LXVII CAPÍTULO GERAL

2012: de 1 a 21 de Outubro, a celebrar na América Latina

9. CURSOS DE PREPARAÇÃO PARA A PROFISSÃO SOLENE

2008: 28 Janeiro-09 de Março 2009: 02 Fevereiro-15 de Março 2010: 01 Fevereiro-14 de Março 2011: 31 Janeiro-13 de Março 2012: 30 Janeiro-11 de Março

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Biografias

SUPERIOR GERAL DA ORDEM HOSPITALEIRAIRMÃO DONATUS FORKAN

O Ir. Donatus Forkan – William (Guilherme) foi o nome recebido no Baptismo –, nasceu a 5 Abril de 1942 em Swinford, condado de Mayo, na Irlanda, Diocese de Achonry. Tem três irmãos e uma irmã.

O Ir. Donatus entrou para o Juniorato em 1957, fez a primeira profissão religiosa a 8 de Setembro de 1960 e a Profissão Solene no dia 28 de Agosto de 1966.

O Ir. Donatus é enfermeiro qualificado e diplomado pelo Colégio Internacional da Ordem, em Roma. Completou também estudos no Colégio Franciscano de Seul, República da Coreia, e no Colégio Missionário do Espírito Santo de Kim-mage Mannor, em Dublin (Irlanda).

O Ir. Donatus viveu vinte e um anos da sua Vocação Hospitaleira na Coreia e desempenhou diversos cargos no âmbito da Promoção Vocacional e da For-mação e foi Delegado Provincial desde 1989 até 1992.

O Ir. Donatus foi eleito Provincial da Província da Imaculada Conceição (Irlan-da) em 1992 e, em 1994, Conselheiro Geral. Foi reeleito Conselheiro Geral no dia 18 de Novembro de 2000 e foi Primeiro Conselheiro Geral durante os últi-mos seis anos. Entre os cargos de responsabilidade que desempenhou, como Conselheiro Geral, o Ir. Donatus coordenou o Departamento das Missões da Ordem. Foi presidente do Congresso dos Jovens Hospitaleiros (Granada, No-vembro de 2005) e da Comissão Preparatória do Capítulo Geral de 2006.

CONSELHEIROS GERAISIR. RUDOLF KNOPPNasceu em Kahl (Alemanha), a 18 de Janeiro de 1958, emitiu a profissão tem-porário no dia 15 de Agosto de 1981 e a solene a 12 de Outubro de 1986.

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162 ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS

IR. JESÚS ETAYO ARRONDO, SAC.Nasceu em Fustiñana – Pamplona (Espanha) no dia 26 de Maio de 1958. Emi-tiu a profissão temporária a 29 de Setembro de 1977 e a solene a 12 de Outu-bro 1983. Ordenado sacerdote no dia 21 de Setembro de 1985.

IR. VINCENT KOCHAMKUNNELLNasceu em Mattakkara (Índia), a 30 de Janeiro de 1959. Emitiu a profissão temporária a 2 de Fevereiro de 1978 e a solene em 25 de Agosto de 1985.

IR. ELIA TRIPALDI, SAC.Nasceu em Uggiano Montefusco – Taranto (Itália), no dia 4 de Maio de 1939. Emitiu a profissão temporária no dia 13 de Outubro de 1957 e a so-lene no dia 13 de Outubro de 1963. Ordenado sacerdote no dia 19 de De-zembro de 1970.

IR. ROBERT CHAKANANasceu em Lubwe (Zâmbia), no dia 20 de Abril de 1960. Emitiu a profissão temporária no dia 15 de Agosto de 1992 e a solene no dia 11 de Abril de 1999.

IR. DANIEL ALBERTO MÁRQUEZ BOCANEGRANasceu em Bogotá (Colômbia), no dia 28 de Novembro de 1960. Emitiu a profis-são temporária no dia 1 de Julho de 1984 e a solene no dia 8 de Março de 1991.

SECRETÁRIO GERALIR. JOSÉ M. CHÁVARRI IMAÑANasceu em Leiva (La Rioja, Espanha) no dia 19 de Setembro de 1953. Emitiu a profissão temporária no dia 29 de Setembro de 1972 e a solene no dia 24 de Setembro de 1978.

SECRETÁRIO PESSOAL DO SUPERIOR GERALIR. GIAN CARLO LAPIC, SAC.Nasceu em Sinj (Croácia) no dia 2 de Abril de 1968. Emitiu a profissão tempo-rária no dia 9 de Fevereiro de 1997 e a solene no dia 6 de Outubro de 2002. Ordenado sacerdote no dia 9 de Outubro de 2004.