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RELATÓRIO FINAL E ORIENTAÇÕES PARA ORGANIZAÇÕES DE TRABALHADORES DO PROJECTO DA CRISE FINANCEIRA EZA 2009/ 2010 COM O APOIO FINANCEIRO DA COMISSÃO EUROPEIA

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RELATÓRIO FINAL E ORIENTAÇÕES

PARA ORGANIZAÇÕES DE TRABALHADORES

DO PROJECTO DA CRISE FINANCEIRA EZA 2009/ 2010

COM O APOIO FINANCEIRO DA COMISSÃO EUROPEIA

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CONTEÚDO I. INTRODUÇÃO 3 II. RESPOSTAS PARA AS PRINCIPAIS QUESTÕES 5

1a. Quais são os maiores problemas (sociais) nas diversas regiões resultantes da crise? 5

1b. Como é que estes problemas podem ser resolvidos a longo prazo com a ajuda da sua organização? 6

2. Os parceiros sociais e as organizações da sociedade civil participaram na elaboração de programas conjunturais nacionais e europeus nas diversas regiões? 7

3. Como é que o papel dos parceiros sociais pode ser consolidado no futuro? 9

4. Como é que se pode alcançar um crescimento a longo prazo, postos de trabalho a longo prazo e uma negociação responsável dentro da UE, tendo em conta a justiça social e uma correcta distribuição das prestações sociais? 9

III. ORIENTAÇÕES PARA ORGANIZAÇÕES DE TRABALHADORES 10

Meios de acção relativamente aos trabalhadores 10 Meios de acção relativamente às empresas 11 Meios de acção relativamente ao sistema financeiro 11 Meios de acção relativamente às instâncias estatais 12 Meios de acção relativamente à luta contra a pobreza 13 Meios de acção para o melhoramento do diálogo social 13 Meios de acção relativamente à “Estratégia UE 2020“ 13

IV. POR ÚLTIMO 14 V. FICHA TÉCNICA

Centro Europeu sobre as questões dos trabalhadores (EZA)

Johannes – Albers-Allee 2, D-53639 Königswinter

Telef. 0049 (0) 2223 299831, [email protected]

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I. INTRODUÇÃO A crise financeira global, desencadeada pela falência do banco de investimento nova-iorquino

Lehman Brothers em 2008, provocou, em 2009, uma crise económica a nível mundial,

contando com a pior recessão desde o pós-guerra. Entre 50 e 100 milhões de pessoas

perderam os seus empregos devido a esta crise económica e à crise de empregos daí

resultante. O resultado deste prejuízo económico é superior ao valor total de todos os bens e

prestações de serviços produzidos nos EUA no período de um ano, o que corresponde a uma

equivalência de cerca de 12,9 biliões de dólares americanos. A quarta onda da crise, a crise

do sobreendividamento, que foi provocada pelos programas de conjuntura, pelas perdas de

receitas fiscais e pelo aumento do endividamento na ordem dos mil milhões, atingiu (depois da

insolvência da Islândia) em 2008, devido ao massivo sobreendividamento da Grécia e de

outros países da UE, uma nova dimensão e representa principalmente a coesão dentro da

União Europeia face a novos desafios, visto que o princípio antigo “moeda comum – política

económica separada” está actualmente a ser repensado. Através da aprovação de um fundo

de apoio de 750 biliões da EU e do FMI, deverão ser apoiados os restantes candidatos

europeus com a Economia menos fortalecida e a moeda única protegida contra especulações

e quebras de curso acentuadas.

Além do “perigo de falência” de alguns Estados europeus, provocadas pelos salvamentos de

bancos e paquetes de conjuntura, a crise de sobreendividamento alberga, além disso, ainda

outros problemas, uma vez que a recuperação da economia europeia está dependente do

aumento da procura noutras partes do mundo.

A economia ainda não conseguiu lidar com a crise e, a nível mundial, muitos estados ficaram

sem recursos financeiros. De modo agravante, actua ainda também o arrastamento dos

empréstimos dos bancos, especialmente a pequenas e médias empresas (PME). Este dinheiro

falta para investimentos necessários, e é por isso que nos vemos confrontados com uma

estagnação económica, que ainda vai tornar mais difícil livrar-se do peso das dívidas dos

estados, estando as pessoas pertencentes à classe média, os contribuintes e os milhões de

trabalhadores ainda mais afectados. Muitas firmas e consumidores estão tão sobreendividados

como nunca antes, e, por este motivo utilizam cada vez mais uma maior parte das suas

receitas para cumprir com as suas dívidas.

Até à data, ainda não pediram contas aos responsáveis da crise. Antes pelo contrário: os

principais causadores da crise – os grandes bancos de investimento – são, devido ao

cancelamento dos princípios de mercado, também os que lucram com a crise. Perante este

cenário, os trabalhadores europeus vêm-se confrontados com um aumento de desigualdade

nos vencimentos e a divergência daí resultante entre os pobres e ricos deixa de ser

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compreensível. Especialmente no que diz respeito à estabilização do sistema de bancos

existente através de investimentos na ordem de mil milhões de euros, em vez de uma reforma

duradoura do sistema financeiro, que acabou por não diminuir o perigo de surgir novamente

uma crise.

Como rede de organizações de trabalhadores sociais-cristãs (OdT), verificamos com grande

preocupação este desenvolvimento e particularmente as consequências na situação dos

trabalhadores. Também e precisamente nesta situação difícil, o empenho para a nossa

preocupação básica é particularmente relevante, incluídos estão a criação e obtenção de

postos de trabalhos a longo prazo, uma situação de vencimento dos trabalhadores segura e

justa, assim como a conservação dos sistemas de segurança social.

Neste contexto e a partir desta convicção, a EZA realizou, de Setembro de 2009 até Março de

2010, um projecto no âmbito da actual crise financeira, económica, de emprego e fiscal, em

colaboração com os nossos centros de sócios Onderzoeksinstituut voor Arbeid en

Samenleving (HIVA, Bélgica), Christelijk Nationaal Vakverbond (CNV, Países Baixos),

Fundaţia Naţională CORESI (F.N. CORESI, Roménia) e Fondazione Luigi Clerici (FLC, Itália). A finalidade deste projecto consistia em analisar e comparar, com a ajuda de três conferências

regionais, as diferentes consequências da crise na Europa Ocidental (Países Baixos,

Alemanha, França, Dinamarca, Bélgica), na Europa Oriental (Roménia, Bulgária, Hungria,

Polónia) e no sul da Europa (Itália, Portugal, Espanha, Malta). Neste sentido, as medidas

regionais deveriam ser avaliadas, as iniciativas que lidam com a crise bem sucedidas e – caso

se aplique – elaboradas, assim como iluminar as medidas potenciais para evitar uma crise

futura. Outro ponto principal foi a discussão sobre as futuras estratégias para as OdT, bem

como a elaboração e recomendações para as OdT.

Para poder elaborar comparações entre as diversas regiões, em todos os seminários foram

discutidas e dadas respostas a quatro questões centrais, que serão apresentadas de seguida.

Para além das apresentações dos referentes e das discussões dos participantes, este

documento baseia-se igualmente na publicação de investigação da HIVA sobre a crise

financeira e económica que analisa a crise, se ocupa com os regulamentos financeiros do

nosso sistema financeiro, para se confrontar com as estratégias de trabalho e as

consequências da crise no sistema social. As recomendações e soluções aqui apresentadas

referem-se particularmente aos trabalhadores e à participação dos nossos inúmeros centros

de sócios.

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II. RESPOSTAS PARA AS PRINCIPAIS QUESTÕES 1a. Quais são os maiores problemas (sociais) nas diversas regiões resultantes da crise? A crise financeira, que se tem vindo a desenvolver para uma crise de sobreendividamento,

apresenta algumas características específicas, que a distingue das crises anteriores: Ele levou

a uma crise das instituições financeiras (bancos, fundos de investimento, etc.), foi uma crise

global e não como as anteriores localmente delimitada, e também resulta da falha política

relativamente à desregulação do sector financeiro e à união das áreas dos bancos privados e

das áreas do investimento nos anos 90. Devido à falta de monitorização e controlo no sector

financeiro a nível nacional e internacional antes do desencadeamento da crise, as

consequências ainda foram mais intensificadas. Simultaneamente, o crescimento económico

foi financiado, nos últimos anos, particularmente nos EUA, Espanha, na Irlanda, na Grã-

Bretanha e na Europa Central e Oriental através de um endividamento massivo dos agregados

familiares. Este endividamento pode ser visto como a resposta dos consumidores à maior

parte dos vencimentos reduzidos e ao aumento do desemprego. Este tipo de crescimento não

conseguiu, deste modo, proporcionar um pleno emprego – este objectivo não foi atingido nas

últimas décadas. Antes pelo contrário, a situação financeira da maior parte dos Estados piorou

rapidamente devido aos baixos impostos, aos aumentos das despesas sociais e aos custos

para salvar o sector financeiro. Assim sendo, é necessário ter em consideração que os países,

cujos endividamentos privados são superiores ao do público, estão mais afectados pela crise. O problema o aumento do desemprego encarou-se como sendo o maior problema, também

para os jovens. O grau de formação desempenha, na consternação do desemprego, apenas

um papel secundário, dado que pessoas com uma óptima formação, ou seja, com um curso

superior também estão afectadas pela crise. Para além disso, através da redução dos

vencimentos, que está dependente da crise, (como por exemplo através de despedimentos ou

layoff), pode-se verificar um aumento do fenómeno dos “working poor” (população

trabalhadora pobre), assim como um aumento do sector informal, especialmente no sul e o

leste da Europa. Particularmente no sul da Europa, a agravação do problema demográfico foi, devido à crise,

considerado como sendo um problema central. Enquanto que a entrada da idade na reforma e

a expectativa de vida para o financiamento dos sistemas de segurança social continuam a

aumentar, verifica-se simultaneamente um decréscimo das taxas de natalidade e uma carência

de postos de trabalho para os jovens. Como consequência temos, por um lado, devido a

insuficientes perspectivas no mercado de trabalho, muitos jovens que decidiram por optar por

um curso superior e, por outro lado, a migração necessária dos trabalhadores e dos técnicos

especializados levou, em alguns países da EU, à xenofobia e ao racismo.

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Considera-se como outro problema fundamental a falta de comportamentos éticos no sector

financeiro, económico e social, bem como a perda de confiança em instituições estatais e não-

estatais, como por exemplo nos bancos. Os princípios éticos não foram considerados

suficientemente existentes, em particular no tratamento com os trabalhadores e no âmbito para

o mercado de trabalho. A desregulação dos mercados financeiros e do mercado, com focagem na maximização

dos lucros a curto prazo, foi compreendida como sendo uma das principais causas da crise.

Por um lado, assistimos, nos mercados de trabalho, desde os anos 90, ao aumento da

flexibilidade e à diminuição sistemática dos empregos com segurança social e à desregulação

dos mercados financeiros que, por outro lado, provocaram, a longo prazo, um aumento da

desigualdade social na sociedade. Directamente ligados a esta situação está o aumento de

trabalhos precários como o trabalho temporário e contratos de trabalho a termo certo. Os problemas sociais já existentes, tais como a falta de comportamento solidário e

responsável, são ainda agravados pela crise. Assiste-se, ainda, a uma forte solidariedade

relativa dentro da família, especialmente no sul da Europa. A solidariedade entre as gerações,

dentro da sociedade e face a minorias, é pouco perceptível. Foi apresentado como outro problema o aumento da dívida pública, a ausência de visões e

soluções políticas para superar a crise financeira, bem como o salvamento de um sistema

financeiro falhado, que levou a um aumento efectivo das já existentes grandes instituições

monetárias, através da aquisição de pequenas instituições monetárias endividadas. No sector da educação verificou-se uma falta de ligação entre os currículos e as exigências

no mercado de trabalho, bem como a falta de qualidade nos programas de formação contínua. Relativamente às PME, a falta de concessão de crédito da parte dos bancos foi identificado

como sendo um dos problemas principais, dado que, uma grande parte dos novos postos de

trabalho, são criados neste sector. A nível global, as medidas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos G201 para superar a crise, provocada pela forte focagem no sector

económico e fiscal e pelo desaparecimento da dimensão social da crise, foram vistas como

sendo insuficientes. Especialmente os países da Europa de Leste foram avisados de que os

investimentos públicos são completamente insuficientes para superar a actual crise.

1b. Como é que estes problemas podem ser resolvidos a longo prazo com a ajuda da sua organização? As soluções foram divididas em soluções a curto e a longo prazo. Em termos de curto prazo, os postos de trabalho deveriam, em primeiro lugar, ser protegidos

através de dinheiros públicos, tal como é praticado em alguns países de acordo com o

1 Reunião de ministros financeiros e dos chefes dos bancos centrais dos mais importantes vinte países industriais e em fase de crescimento.

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regulamento de layoff. Nos países do sul da Europa foi estimulada uma redução do sector

informal para a criação de novos postos de trabalho. Foi também sugerido evitar horas

extraordinárias para a criação de novos postos de trabalho. O sistema de layoff deveria ser

tanto ligado a programas de formação contínua como simultaneamente limitado no tempo.

Deveria ter lugar uma redução de custos não salariais, e as soluções deveriam ser talhadas no

contexto nacional, o que relativamente às medidas do Fundo Monetário Internacional (FMI)

não é o caso.

Em termos de longo prazo, deve-se implementar uma cooperação mais forte entre as escolas

e as empresas relativamente a combinações para estágios e formação, como também foi

salientada a importância de formação gratuita e de extrema qualidade. Como outra prioridade

foi salientada a consolidação do diálogo social em todos os stakeholder. As empresas

multinacionais em actuação alertaram para um cumprimento consequente da legislação de

trabalho e das directivas de trabalho, bem como para um empenho mais forte no sector das

“Corporate Social Responsibility“ (CSR) . Devido a um sem número de contratos de trabalho,

especialmente no sul e no leste da Europa, foi exigida a introdução de um regulamento legal. A

nível internacional, foi considerada fundamentalmente necessária a introdução de melhores

mecanismos de controlo e de monitorização para o sector financeiro. A criação de postos de

trabalho deve ser impulsionada, e outros investimentos estatais devem ser implementados no

sector do sistema de segurança social. Neste caso, o conceito apoiado pela UE “Flexicurity“

nos mercados de trabalho deve ser mais focado quanto à segurança e não primariamente

quanto à flexibilidade dos trabalhadores. Um objectivo importante para as OdT deve visar uma

inclusão mais forte dos jovens, das mulheres, dos migrantes e dos reformados nos seus

trabalhos, bem como a consolidação quantitativa dos conselhos de empresa europeus. Além

disso, foi instigado que, através de um investimento ético preciso das OdT, os bancos e as

empresas, que negoceiam com responsabilidade, possam ser especificamente apoiados.

2. Os parceiros sociais e as organizações da sociedade civil participaram na elaboração de programas conjunturais nacionais e europeus nas diversas regiões? Esta pergunta foi respondida nas três regiões de forma diferente: A nível europeu, a

confederação sindical europeia esteve parcialmente incluída na consulta relativamente à

elaboração de um programa conjuntural europeu. Isso foi promulgado pelo Conselho Europeu

dos Chefes de Estado e de Governo em Dezembro de 2008.

Na Europa Ocidental, as OdT estiveram, a nível nacional, incluindo os governos (tripartit) e, a

nível sectorial, incluindo os empregadores (bipartit), incluídos em negociações para a

elaboração dos programas conjunturais nacionais. Sublinhou-se, nesta região, a importância

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do diálogo social nacional para a resolução de problemas macroeconómicos, também para o

futuro. A importância do diálogo sectorial a nível empresarial foi salientada relativamente aos

sectores da educação e de formação. A solução para a situação da crise global necessita, no

entanto, de negociações, de acordos e de indicações a nível internacional, em que,

dependente de cada país e dos problemas que lá predominam, no contexto nacional devem

ser implementadas soluções adequadas de acordo com os vários países.

Na Europa Oriental, as OdT estiveram, de forma formal e nos media, incluídos nas

negociações com o governo para a elaboração de um programa conjuntural, mas, por fim, não

chegaram a existir negociações directas. Isto pode ser relacionado com a relativamente fraca

posição das OdT na Europa Oriental, bem como com a falta de experiência, de pessoal e de

possibilidades de formação contínua. Também por essa razão, foi considerado extremamente

importante consolidar as capacidades e a representação das OdT na Europa Oriental. Outro

problema prende-se com a ausência de um diálogo social sectorial. Em várias empresas, não

é permitido que os trabalhadores se organizem sindicalmente. Os sindicatos não são, de facto,

autorizados, o que constitui uma violação dos direitos fundamentais de liberdade de reunião.

Na opinião dos participantes da Europa de Leste, apenas é possível obter uma solução da

crise global através de acordos internacionais e corpos de regras com programas nacionais

específicos. Também foi salientado o facto de que a inclusão de empresas multinacionais e

dos grandes bancos é o único caminho para poder superar a crise, porque os governos não

dispõem dos meios necessários e as OdT são demasiadamente fracas para poder impor as

suas exigências.

No sul da Europa, as OdT não participaram efectivamente na elaboração de programas

conjunturais nacionais. Por um lado, isto deve-se à falta de representação de muitos sindicatos

a nível nacional, por outro lado à ausência de uma estrutura para a implementação deste tipo

de negociações, bem como à selecção selectiva dos parceiros sociais da parte dos governos

regionais. O diálogo social é, de acordo com os participantes, apenas indevido para a

encenação medial do governo, e as soluções aspiradas espelham apenas o ponto de vista

político dos respectivos governos, mas não os interesses das OdT. Na opinião dos

participantes da Europa do Sul, apenas é possível obter uma solução da crise global através

de acordos internacionais e corpos de regras com programas de conjuntura nacionais

específicos, que tenham fortemente em consideração a dimensão social da crise. Além disso,

salientou-se o facto de que a credibilidade dos sindicatos, especialmente nesta situação

actual, é de importância fundamental e a colaboração entre as diversas organizações deveria

ser mais consolidada.

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3. Como é que o papel dos parceiros sociais pode ser consolidado no futuro? Foi apontado um ponto importante para uma melhor formação e formação contínua dos

colaboradores das OdT e dos seus negociadores, especialmente nos sectores da economia,

das finanças e das tecnologias da informação e da comunicação (TIC). Outro ponto

fundamental consistiu na colaboração mais forte entre as diversas OdT nacionais e

internacionais, para actuar contra a fragmentação existente e para atribuir mais peso às

organizações. Colaboradores voluntários e uma colaboração com parceiros, como por

exemplo organizações da sociedade civil, poderiam consolidar o conhecimento técnico e as

capacidades dos sindicatos. Neste contexto, o recrutamento de jovens também é de uma

relevância crucial, um sector no qual no passado não lhe foi atribuído a devida atenção. Os dinheiros dos sócios que as OdT gerem, devem ser directamente aplicados em bancos e

em empresas, que praticam o princípio do “Corporate Social Responsibility“ (CSR) e que

efectuam investimentos a longo prazo nos sectores sociais e ecológicos. Deste modo, as OdT

poderiam ter poder de decisão nas empresas e podiam decidir directamente sobre o efeito

social do dinheiro aplicado. Este é um reconhecimento importante, porque a maior parte das

empresas e dos investidores interessam-se pouco pelo conteúdo dos seus fundos, mesmo que

o capital, que foi investido de acordo com critérios éticos, não realizar rendimentos piores do

que outros investimentos de capitais. Neste contexto, deve-se mencionar o “Fórum Europeu de

Investimento Social“ (www.eurosif.org) que tenta expandir os investimentos a longo prazo no

sector financeiro e desenvolve-lo, sensibilizar o público para este tema, aconselhar e apoiar os

seus sócios neste sector e fornecer aos interessados informações sobre fóruns de

investimento nos diversos países europeus. Particularmente nos países da Europa de Leste, no futuro vai ser de enorme relevância

garantir a liberdade de reunião a nível sectorial das empresas e consolidar a reforma dos

trabalhadores em todos os Estados-membros. O desenvolvimento dos novos meios financeiros

podia realizar-se através do concurso directo aos meios dos fundos de estrutura europeus,

especialmente a partir dos fundos sociais europeus (FSE). De acordo com os participantes,

para o futuro é extremamente importante sensibilizar e consolidar a consciência dentro das

diversas organizações para os temas europeus.

4. Como é que se pode alcançar um crescimento a longo prazo, postos de trabalho a longo prazo e uma negociação responsável dentro da UE, tendo em conta a justiça social e uma correcta distribuição das prestações sociais? Para atingir estes objectivos, mencionou-se, como um ponto extremamente importante, a

consolidação dos componentes sociais do mercado económico. Com base no conceito inicial,

o objectivo do crescimento económico e do desenvolvimento económico devem ser o homem

e o bem-estar do homem, em vez da acumulação de lucros e menos a prosperidade de

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alguns. Foi salientado que deveria ser novamente encontrado um balanço entre a competição,

a solidariedade e a justiça. Neste contexto, foi alertado para uma melhor e efectiva regulação

do sistema financeiro e económico. A criação de postos de trabalho decentes com descontos

para a segurança social e com uma remuneração justa e proporcional, em vez da criação de

empregos precários e empregos ocasionais, foi mencionado como uma demais prioridade que

apresenta um investimento importante para o futuro. No sector da formação, foi proposto, a

nível europeu, o financiamento e a implementação de uma política da "Aprendizagem vitalícia".

A responsabilidade das empresas no sector social deveria, através de uma estratégia CSR a

nível europeu e internacional, ser verificada e avaliada e eventualmente sancionada através do

comportamento e do empenho das empresas. Além disso, deve-se fazer face ao aumento da

desigualdade na sociedade, que ainda se cristaliza mais com a actual crise, através dos meios

supra mencionados. Para poder controlar, no futuro, mais eficazmente as especulações nos

mercados financeiros e travar as especulações a curto prazo, que são responsáveis pelas

oscilações das cotações, discutiu-se e sugeriu-se a introdução do imposto sobre as

transacções financeiras. As receitas provenientes deste imposto são para ser utilizadas no

combate à pobreza e à desigualdade social e ir contra à separação da economia financeira e

da economia real. Além disso, sugeriu-se uma maior participação dos trabalhadores nas mais-

valias das empresas realizadas, bem como na expansão dos direitos de participação. A

compatibilidade da família e do emprego devem, além disso, ser continuamente melhoradas.

No final, constatou-se de que actividades voluntárias, especialmente no sector social, devem

ter maior reconhecimento e devem ser “pagas” de livre vontade. Devem-se especialmente

educar as famílias e as instituições de formação para obterem um maior sentido de

responsabilidade.

III. ORIENTAÇÕES PARA ORGANIZAÇÕES DE TRABALHADORES Como já foi formulado na Declaração de Munique, as OdT dispõem, em vários níveis, sobre

importantes margens de manobra. Devem emergir consolidadas desta crise, para que, no

futuro, possam ser vistas como parceiros de negociação a nível nacional, europeu e

internacional. Por esse motivo, as seguintes recomendações, baseadas na Declaração de

Munique e nos resultados das conferências regionais, apresentam orientações concretas para

as OdT.

Meios de acção relativamente aos trabalhadores As OdT deveriam, com o apoio das associações patronais, propulsionar a implementação de

ordenados mínimos legais ou contratuais e tarifas, para assegurar condições de trabalho com

qualidade, assim como remunerações adequadas e justas. Para além disso, deveriam dialogar

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com o estado com o intuito de aliviar as remunerações baixas e médias, expandir os apoios

aos desempregados e liga-los a programas de formação contínua, propulsionar a expansão de

ofertas para obter qualificações para trabalhadores, bem como obrigar as empresas a

implementar uma estratégia de aprendizagem vitalícia para os trabalhadores. Além disso,

deveriam reclamar ao estado os empréstimos dos bancos que têm apoio do estado a

agregados familiares privados. Especialmente as OdT deveriam consolidar as suas

capacidades no sector económico e financeiro para poderem enviar mais profissionais

especializados às consultas a nível político.

Meios de acção relativamente às empresas As OdT deveriam, em acordo mútuo, motivar as empresas para que, em vez de

despedimentos, optassem por horários de trabalho variáveis e programas de formação, bem

como reclamar empréstimos dos bancos com suporte do estado para as empresas que

merecem os empréstimos, especialmente as PME. As OdT também deveriam fazer com que o

estado garantisse a propulsão das possibilidades para a consolidação da criação do próprio

capital de empresas através da participação de capital dos trabalhadores e levar a cabo mais

possibilidades de participação dos trabalhadores nas empresas. Além disso, a compatibilidade

das famílias e os empregos devem ser mais fomentadas por parte das empresas. A liberdade

de reunião e a organização sindical dos trabalhadores, que é garantida em todos os estados

da UE, não deve ser enfraquecida pelas diversas empresas. As empresas devem ampliar a

sua estratégia CSR e propulsionar a consolidação do capital humano dos trabalhadores para

evitar a falta de trabalhadores qualificados após de superar a crise.

Meios de acção relativamente ao sistema financeiro As OdT têm a obrigação de solicitar aos bancos para que negoceiem com responsabilidade

face à sociedade, para poderem garantir a paz social e as condições de trabalho a longo prazo

para a maioria da população. Devem, por este motivo, propor aos governos que criem

entidades para a regulação financeira, capazes de agir e para implementar um sistema de

controlo eficiente e independente a nível nacional, europeu e internacional. As OdT deveriam igualmente apoiar um limite de investimentos de consumo, apoiar fundos de

pensões e de seguros nos sectores altamente regulados, exigir uma elevada regulamentação

de capitais dos bancos bem como a divisão entre as funções bancárias tradicionais e entrar no

sector de investimento, assim como apoiar a proibição da negociação dos bancos por conta

própria2. Além disso, deveriam exigir a criação de um acordo sobre a repartição de prejuízos

2 As OdT deveriam igualmente apoiar um limite de investimentos de consumo, apoiar fundos de pensões e de seguros nos sectores altamente regulados, exigir uma elevada regulamentação de capital dos bancos, bem como a divisão entre as funções bancárias tradicionais e entrar no sector de investimento, assim como apoiar a proibição da negociação dos bancos por conta própria.

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para bancos privados e o estado deveria exigir a certificação de produtos do mercado

financeiro. Os bancos deveriam, pelo estado, ser encarregados com uma contribuição para os

próximos 15 a 20 anos, para assegurar de que uma parte dos danos provocados por eles

pudesse ser reembolsada. Para amortizar das bolhas de especulação e para a redução da

velocidade e do volume nos mercados financeiros, as OdT deveriam apoiar e exigir uma

tributação de transacções de curto prazo e especulativas através da introdução de um imposto

sobre as transacções financeira (http://www.makefinancework.org)3. As OdT deveriam fazer

com que as agências de rating fossem, de acordo com critérios compreensíveis, reguladas e

monitorizadas, limitando consequentemente os ordenados dos gestores e fazer face a esta

situação através de um imposto sobre rendimentos progressivo. O pagamento de bónus

deveria der abolido devido à falta de transparência e guia de percurso. As OdT deveriam, para

além disso, solicitar aos G20 que anunciassem as suas intenções e reformar o sistema

financeiro, bem como propor ao FMI a colocação da dimensão social nas suas soluções em

primeiro plano. Além disso, os estados devem ser solicitados a ”diminuir” os bancos que se

tornaram maiores (too big to fail) para que estes, no futuro, não coloquem o sistema de

pagamentos mais em perigo e para que o estado não seja chantageado.

Meios de acção relativamente às instâncias estatais As OdT deveriam travar os estados de atingir a economia social de mercado a longo prazo,

tendo em consideração o modelo da economia social para o futuro e, face a este contexto,

implementar eficientemente os programas conjunturais estatais a nível local, nacional e

europeu. Para além de aspectos económicos, os aspectos sociais, tais como os investimentos

na formação, aprendizagem vitalícia e saúde também devem ser um ponto central nos

programas. Além disso, os sectores da ciência e da investigação, bem como os projectos de

infra-estruturas a longo prazo devem ser fomentados. Um modelo orientado para o futuro, que

determina a relação do PIB e das despesas sociais e que, deste modo, contribui para a

garantia no futuro dos sistemas de segurança social, deveria igualmente ser discutido nas

OdT. O estado deveria, além disso, propulsionar a criação de novos postos de trabalho em

sectores com orientação para o futuro, bem como fomentar as energias renováveis. Deve-se

exigir a criação de um sistema de impostos simples e justo, que inclui a isenção das empresas

e dos bancos, e proíbe completamente as transacções e os lucros. Para além disso, as OdT

deveriam solicitar aos governos e à Comissão Europeia, a obtenção da competência das OdT

na reforma do sistema financeiro e não incluir apenas consultores do sector financeiro.

3 Para tal, também existe uma iniciativa a nível mundial na base da sociedade civil, que através de assinaturas em http://www.makefinancework.org solicita os G20, no seu encontro de 26 e 27 de Junho de 2010 em Toronto no Canadá, a deliberação desse imposto.

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Meios de acção relativamente à luta contra a pobreza Apelam-se as OdT na Europa para participarem activamente no “Ano Europeu para a luta

contra a pobreza e da exclusão social”. Manter especialmente no centro das atenções a

situação de desempregados e dos “working poor”. O aumento da redução dos “empregos

normais” através de contratos a termo certo, mini empregos, „Outsourcing“, etc. deveria ser

travado com a negociação de tarifas e acordos a nível empresarial. As OdT deveriam fazer para que os governos aumentassem a parte combinada na ajuda no

desenvolvimento no vencimento ilíquido até 2015 para 0,7 por cento e manter-se no Millenium

Development Goals das Nações Unidas. Outra proposta prende-se com a introdução de um

imposto sobre as transacções financeiras, que deveria ser apoiado por parte dos parceiros

sociais. Uma parte destas receitas provenientes do imposto poderiam entrar como meios

suplementares nos sectores de cooperação para o desenvolvimento e para a luta contra a

pobreza.

Meios de acção para o melhoramento do diálogo social A crise deixou claro de que os métodos e a estrutura do diálogo social deverá ser mais efectivo

no futuro para poder garantir uma participação efectiva das OdT nas situações de crise. Por

um lado, os parceiros sociais deveriam elaborar conjuntamente um quadro de orientação

adequado com propostas concretas, simultaneamente os governos juntamente com os peritos

internacionais deveriam ser solicitados a sondar as opções de negociação para propulsionar

uma solução conjunta bem como a sua implementação. Os parceiros sociais estariam, assim,

capazes de elaborar e de concretizar, a nível nacional e sectorial, as suas propostas de

solução e incluir as prioridades dos trabalhadores nos programas nacionais. Como pré-

requisito, necessita-se o acesso real de todas as OdT para o diálogo nacional, que não está

assegurado em todos os países da UE.

Meios de acção relativamente à “Estratégia UE 2020“ Perante este cenário da actual crise, é necessário um procedimento coordenado a nível global,

regional, nacional e local, incluindo tanto os parceiros sociais como as organizações da

sociedade civil. A utilização de alguns princípios centrais e éticos, como a criação e obtenção

de postos de trabalho a longo prazo, uma situação de vencimento dos trabalhadores justa,

bem como a conservação dos sistemas de segurança social, é para o futuro da UE

particularmente relevante e tem de ser um componente central da “Estratégia UE 2020“.

Especialmente o apoio dado por parte das OdT para condições de trabalho a longo prazo, que

estão ligadas a três estratégias de crescimento inteligentes, interactivas e duradouras, que são

compreendidas como sendo parte integrante da “Estratégia UE 2020“. Deve ser, para além

disso, uma estratégia do mercado económico a longo prazo, que admite os aspectos sociais e

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que liga a dimensão ecológica, social e económica e leva-a para a sociedade. As orientações

supra mencionadas e a inclusão das OdT na implementação de uma “Estratégia UE 2020“

duradoura, são de relevância fundamental. IV. POR ÚLTIMO A crise actual e a perda de confiança, das pessoas no sistema financeiro económico, que está

inerente à crise, não levaram, até à data, a uma reforma da arquitectura financeira. Antes pelo

contrário: parece que os bancos ainda gostem mais do risco. Em 2009, os mercados

financeiros dispunham novamente do mesmo volume de capital como em 2007, antes do surto

da crise. As especulações estão novamente em acção e os créditos são novamente utilizados

para especulações, como comprovam por exemplo as especulações sobre a capacidade de

pagamento da Grécia. São novamente atingidos lucros astronómicos, os bancos lançam

também novamente elevados pagamentos de bónus e nem a UE nem os G20 conseguiram

impor reformas sérias. A separação do crescimento da economia real e financeira não foram,

até à data, igualmente enfrentadas e o papel do sistema financeiro dentro da economia é,

como sempre, enorme. Se observarmos as consequências provocadas pela crise do ponto de vista dos trabalhadores,

como por exemplo o desemprego, o trabalho precário, e os agregados familiares endividados,

pode-se constatar uma perda de confiança nas autoridades e nas empresas. Não se pode

afirmar que se passe novamente para ordem de trabalhos, se como não tivesse acontecido

nada, e não é aceitável que os trabalhadores tenham de suportar os custos da crise, para os

quais não são responsáveis. O sector financeiro tem que se comprometer a reembolsar os

custos para o salvamento do estado. A obrigação das organizações de trabalhadores consiste

em travar estado e intervir a favor da implementação das sugestões supra mencionadas e

tentar que as mesmas sejam implementadas, para que futuramente se possa implementar um

mercado económico duradouro.

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Königswinter, 1 Junho 2010

Michael Schwarz, Colaborador Científico de EZA

em colaboração com

Judit Czuglerne Ivany, Coordenador Regional de Europa Oriental

Henry Acquaviva, Coordenador Regional de Sul da Europa

Sönke Siegmann, Coordenador Regional de Europa Ocidental