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PARANÁ
GOVERNO DO ESTADO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
Ficha para Catálogo Artigo Final
Professor PDE/2010
Título A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária.
Autor Vera Lúcia Savóia Capote
Escola de Atuação Escola Estadual Profª Hercília de Paula e Silva. EF.
Município da Escola Carlópolis - PR
Núcleo Regional de Educação Jacarezinho
Orientador Prof. Me. Ricardo Aparecido Campos
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP
Área do Conhecimento/Disciplina Geografia
Relação Interdisciplinar Artes, Língua Portuguesa e História
Público Alvo Alunos da 7ª série do Ensino Fundamental
Localização Escola Estadual Profª Hercília de Paula e Silva. EF. Avenida Elson Soares, n° 34
Resumo: Com o tema espaço rural e a modernização da agricultura este artigo justifica-se tendo em vista que com a mecanização na agricultura a paisagem brasileira sofreu sérias modificações provocando mudanças nas relações sociais de trabalho, destacando a desqualificação da mão-de-obra e o desemprego, gerando a expulsão de muitas famílias do campo. Com o êxodo rural as famílias se concentram nos centros urbanos, impulsionando o processo de favelização e subempregos, aumentando assim a violência, a criminalidade e a degradação ambiental. Neste contexto, o objetivo do artigo é apresentar as estratégias de ação do projeto de intervenção na escola como um dos requisitos do PDE assim como o resultado do
Grupo de Trabalho em Rede (GTR) elaborado com os professores da rede pública do Estado do Paraná. O projeto de implementação foi aplicado aos alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, trabalhado ao longo do 2º semestre do ano letivo de 2011 proporcionando aos alunos a compreensão da luta dos movimentos sociais pela reforma agrária no país, para que o trabalhador rural possa permanecer no campo. Por meio de dados bibliográficos, de fontes secundárias, fundamentou-se teoricamente em artigos, livros e banco de dados da internet em autores que tratam sobre o tema, assim como na pesquisa participante com alunos da escola de implementação. Leituras, interpretação de textos, confecção de cartazes, entrevista e mural foram estratégias utilizadas com os alunos para contribuir com o conhecimento sobre o tema.
Palavras-chave Mecanização no campo. Reforma agrária. Êxodo rural. Escola.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ
CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
CURSO DE GEOGRAFIA
VERA LÚCIA SAVÓIA CAPOTE
A RELAÇÃO DA MECANIZAÇÃO NO CAMPO COM O ÊXODO RURAL E A REFORMA AGRÁRIA
Artigo apresentado à Universidade Estadual do
Norte do Paraná, como requisito parcial para
conclusão do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE, da Secretaria Estadual de
Educação - SEED, sob a orientação da Prof Me.
Ricardo Aparecido Campos
CORNÉLIO PROCÓPIO-PR
2012
1
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
CAPOTE1, Vera Lúcia Savóia; CAMPOS, Ricardo Aparecido2, A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária. 13 p. Artigo (Trabalho de Conclusão de Curso) Programa de Desenvolvimento da Educacional: UENP/SEED, 2012.
Resumo
Com o tema espaço rural e a modernização da agricultura este artigo justifica-se
tendo em vista que com a mecanização na agricultura a paisagem brasileira sofreu
sérias modificações provocando mudanças nas relações sociais de trabalho,
destacando a desqualificação da mão-de-obra e o desemprego, gerando a expulsão
de muitas famílias do campo. Com o êxodo rural as famílias se concentram nos
centros urbanos, impulsionando o processo de favelização e subempregos,
aumentando assim a violência, a criminalidade e a degradação ambiental. Neste
contexto, o objetivo do artigo é apresentar as estratégias de ação do projeto de
intervenção na escola como um dos requisitos do PDE assim como o resultado do
Grupo de Trabalho em Rede (GTR) elaborado com os professores da rede pública
do Estado do Paraná. O projeto de implementação foi aplicado aos alunos da 7ª
série do Ensino Fundamental, trabalhado ao longo do 2º semestre do ano letivo de
2011 proporcionando aos alunos a compreensão da luta dos movimentos sociais
pela reforma agrária no país, para que o trabalhador rural possa permanecer no
campo. Por meio de dados bibliográficos, de fontes secundárias, fundamentou-se
teoricamente em artigos, livros e banco de dados da internet em autores que tratam
sobre o tema, assim como na pesquisa participante com alunos da escola de
implementação. Leituras, interpretação de textos, confecção de cartazes, entrevista
e mural foram estratégias utilizadas com os alunos para contribuir com o
conhecimento sobre o tema.
1 Graduada em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Piraju; Pós Graduada em
História; atua na Escola Estadual Professora Hercília de Paula e Silva EF, como professora de Geografia. E-mail: [email protected] 2 Docente do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, Campus de Cornélio Procópio, Mestre em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UEL. E-mail: [email protected]
2
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
Palavras-chave: Mecanização no campo. Reforma agrária. Êxodo rural. Escola.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente com a mecanização os trabalhadores rurais estão sendo
expulsos de suas terras, gerando assim o que chamamos de êxodo rural. Com a
modernização da agricultura houve uma grande concentração fundiária, favorecendo
alguns produtos e produtores, fortalecendo assim a monocultura que é voltada para
exportação e tornando-a uma atividade empresarial seguindo o modelo capitalista de
produção.
Os trabalhadores rurais expulsos do campo dirigem-se para a cidade
e passam a ser assalariados e vão para a periferia, pois não possuem mão de obra
qualificada. Muitos moram na zona urbana, mas atuam no campo e são chamados
bóias-frias.
Faz-se necessário uma reforma agrária urgente, pois são os
pequenos e médios produtores que produzem para abastecer o mercado interno.
Sendo assim é necessário valorizar o homem do campo, qualificando-o e
incentivando-o para manter a sua permanência no campo.
As reflexões e as leituras com base no contexto elencado
anteriormente foram o suporte para o registro das ações do projeto de
implementação e nos debates no GTR. Optou-se como proposta, o método de
pesquisa para o desenvolvimento das ações, com embasamento teórico em autores
que nortearam este trabalho.
A pesquisa desenvolveu-se no decorrer do segundo semestre do
ano 2011 com alunos da 7ª série do ensino fundamental matutino, na Escola
Estadual Profª Hercília de Paula e Silva Ensino Fundamental no decorrer da terceira
etapa do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.
As atividades foram desenvolvidas por meio da leitura e
interpretação de textos, confecção de mural, cartazes, entrevistas e outras
atividades em que os alunos desenvolveram a compreensão das mudanças,
3
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
permanências e continuidades que configuram as questões sobre a modernização
do campo, da agricultura que consequentemente levam ao êxodo rural, permitindo-
lhes pensar, refletir e expressar suas experiências, opiniões e questionamentos
sobre essas questões.
Os recursos utilizados foram livros, textos, figuras e da utilização de
entrevista estruturada, elaborada pela professora, com os pais dos alunos.
A avaliação com os alunos ocorreu no contexto das atividades pela
participação e empenho nas propostas dadas, assim como a confecção dos
cartazes.
1.1 ÊXODO RURAL E REFORMA AGRÁRIA
A sociedade mundial e brasileira, atualmente, está se urbanizando
rapidamente, e gerando a industrialização no campo e, consequentemente, acabou
formando um grande número de trabalhadores rurais-urbanos, dando origem ao
chamado “bóia-fria”3 (GRAZIANO NETO, 1985).
Desse modo, o espaço rural brasileiro iniciou o então processo de
modernização, a qual apresentou desigualdades e privilégios. Trouxe um aumento
da economia nacional, beneficiando a produção para exportação, e aumentando os
lucros dos latifundiários, mas causando impactos ambientais, contribuindo para o
desemprego rural e, consequentemente, a saída do trabalhador do campo para a
cidade, movimento chamado de êxodo rural (BRUM, 1988).
Deve-se lembrar, também, que não é somente a modernidade e as
novas tecnologias no espaço rural que levou o trabalhador a deixar o campo, mas
também a busca de empregos com melhores remunerações, a fuga de desastres
naturais, incentivos agrícolas que são cortados, baixo preço dos produtos, entre
3 Bóia-fria é a designação popular do trabalhador rural, que se caracteriza pelo trabalho autônomo e
temporário. Bóia-fria porque essa categoria de trabalhador leva sua comida (bóia-comida) em marmitas a serem consumidas ao longo da jornada de trabalho, quase sempre quando já estão frias. Dessa contingência nasce a denominação bóia-fria, para caracterizar o trabalhador rural autônomo.(RISK, TERESO, ABRAHÃO, 2010, p.117).
4
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
outros, acarretando a migração rural – urbana e acentuando as desigualdades
sociais.
Após a ditadura4 do presidente Getúlio Vargas, camponeses e
trabalhadores rurais se organizaram em associações, surgindo as primeiras Ligas
Camponesas no Brasil. Foi com as ligas camponesas que a luta pela reforma agrária
tornou-se nacional (OLIVEIRA, 2007).
Esse movimento tinha o objetivo de lutar pela reforma agrária e a
posse da terra e deve se entendido como manifestação nacional pelas injustiças
sofridas pelos trabalhadores rurais e também com as grandes desigualdades do
desenvolvimento capitalista no Brasil. A partir daí o governo cria órgãos federais
para a execução da reforma agrária no país (OLIVEIRA, 2007).
O governo militar do Marechal Castelo Branco não tinha intenção de
fazer a reforma agrária, e sua implementação foi sendo adiada. Com a visita da FAO
– Food Agricultural Organization, órgão da ONU, foi sugerida a criação de um único
organismo para melhor programar a reforma agrária, nascendo assim o INCRA, com
o Decreto Lei nº 1.110, de 09/07/70 (OLIVEIRA, 2007).
Com o golpe militar de 1964, o projeto de reforma agrária acabou e
houve uma grande perseguição às lideranças sindicais que atuavam nas ligas
camponesas. (OLIVEIRA, 2007). “O desenlace da crise de 1964 teve como
decorrência a perda de uma das mais relevantes oportunidades para implantar a
reforma” (FERREIRA, ALVES, CARVALHO FILHO, 2012, p. 158).
Pressionado pela sociedade o Congresso Nacional criou uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), ficando comprovada a corrupção dos
órgãos coordenadores da reforma agrária no Brasil (FERREIRA, ALVES,
CARVALHO FILHO, 2012).
Durante os vinte anos de governos militares pouco foi feito pela
reforma agrária no Brasil. Somente na década de 1980 que o governo organizou o
Plano Nacional da Reforma Agrária (PRADO JÚNIOR, 2000).
4 Ditadura Militar - período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil. Esta época
vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar.
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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
No fim do período da ditadura militar ocorreu o agravamento do conflito fundiário, como uma das consequências do processo de modernização conservadora da agricultura brasileira (FERREIRA, ALVES, CARVALHO FILHO, 2012, p. 160).
Com os órgãos criados pelo governo começaram a surgir várias
denúncias pela mídia de grilagem e venda de terras para estrangeiros, sobretudo na
Amazônia mostrando assim para a sociedade a intensa corrupção nesses órgãos
que deveriam fazer a reforma agrária brasileira (OLIVEIRA, 2007).
No governo Sarney, ficou provado mais uma vez a demagogia
populista do governo com relação à reforma agrária e consolidando a estrutura
política agrária dos latifúndios brasileiros. Enfim, governo militar, Sarney, Collor de
Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique, Luís Inácio (Lula), nenhum deles
realmente tiveram a intenção de realizar a reforma agrária no Brasil (OLIVEIRA,
2007).
Com a concentração da propriedade privada da terra – latifúndios –
faz com que a luta pela posse de terra que os camponeses estão engajados, torne-
se cada vez mais violenta, fazendo com que muitos sejam expulsos da terra
dirigindo-se para as cidades tornando-se um assalariado (OLIVEIRA, 2007).
Os camponeses brasileiros lutam para permanecerem na terra
produzindo alimento que é fundamental para a sociedade brasileira, pois os
latifundiários produzem para exportação e não para abastecer o mercado interno do
país. Assunto que Oliveira (2007, p. 134) destaca que
[...] a maioria dos filhos dos camponeses com superfície inferior a 10 hectares jamais terão condição de se tornarem camponeses nas terras de seus pais, a eles caberá apenas um caminho: a estrada [...] à cidade.
A luta pela terra é marcada desde a ocupação do Brasil e a violência
tem sido uma marca constante. Vale lembrar também que existem hoje no Brasil
vários movimentos de luta do campesinato5 e, sem dúvida nenhuma, o principal
deles é o Movimento dos Sem Terra (MST).
5 s.m. Conjunto de agricultores de uma região, de um Estado.Condição dos camponeses. Disponível
em: http://www.dicio.com.br/campesinato/. Acesso em: 10 jun. 2011.
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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
A modernização da agricultura veio acompanhada de crescente
concentração fundiária, seguindo o modelo capitalista favorece determinados
produtos e produtores, fortalecendo a monocultura, tornando-a uma atividade
empresarial, abrindo espaço para um mercado de consumo, para as indústrias de
insumos e máquinas agrícolas modernas favorecendo os grandes proprietários e
ficando cada vez mais distantes dos pequenos e médios produtores.
É na década de 1950 que se originou o processo de modernização
agrícola no Brasil, mas somente na década de 1960 que o setor industrial se voltou
para a produção de equipamentos e insumos agrícolas.
Segundo Brum (1988), as principais razões da modernização da
agricultura são:
a) Elevação da produtividade do trabalho visando o aumento do lucro;
b) Redução dos custos unitários de produção para vencer a
concorrência;
c) Necessidade de superar os conflitos entre capital e latifúndio, visto
que a modernização levantou a questão da renda da terra;
d) Possibilitar a implantação do complexo agroindustrial no país.
É através da modernização da agricultura que os produtores buscam
maior produtividade, visto que com o avanço tecnológico esperam alcançar maior
rentabilidade, pois com a mecanização poderá ampliar as áreas cultivadas e
aumentar a produção.
A partir da década de 1970, o setor agrário apresentou um maior
desenvolvimento e a agricultura passou a atender a sociedade urbana industrial e a
agricultura fica subordinada a indústria e a estrutura fundiária brasileira é voltada
para os latifúndios, marginalizando os pequenos e médios produtores rurais
(PRADO JÚNIOR, 2000).
Os trabalhadores que são expulsos do campo dirigem-se para as
áreas urbanas ou para outras regiões, formando os chamados sem-terras. Esses
7
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
trabalhadores que moram na zona urbana chamados de “bóias-frias”, vendem sua
força de trabalho no campo.
Assim o processo de modernização levou um grande número de
agricultores à decadência: forçou grande parte da força de trabalho rural a se
favelizar nas periferias urbanas, fez aumentar o número de pobres rurais, elevando a
níveis insuportáveis a violência, a destruição ambiental e a criminalidade (VEIGA,
2000). Com a modernização da agricultura ela vai se tornando cada vez mais cara e
teremos a exclusão dos produtores e trabalhadores menos favorecidos.
É somente na década de 90, que as lutas pela reforma agrária se
aprofundam. O desenvolvimento capitalista que chegou à zona rural concentra a
terra e expulsa o trabalhador do campo para a cidade, gerando uma grande
quantidade de pobres e miseráveis na sociedade brasileira (OLIVEIRA, 2007).
2 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
A partir de pesquisas e leituras, buscou-se fornecer um
embasamento teórico aos alunos da 7ª série sobre o modo de vida do homem do
campo assim como os movimentos que ocorreram e ainda acontecem para que este
consiga retornar ao campo e produzir alimentos, além da obtenção de conhecimento
sobre a Reforma agrária e a mecanização no campo.
Nesta perspectiva, foram desenvolvidas diversas atividades no
decorrer do mês de agosto até novembro, sendo trabalhadas em duas aulas
semanais compreendendo um total de trinta aulas.
Inicialmente socializou-se o projeto de intervenção aos professores
da escola explicando os objetivos e propostas de ações. Depois reuniu-se os alunos
público alvo da intervenção para conhecerem as propostas e solicitar o empenho
dos mesmos para obtenção de sucesso no projeto.
8
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
Após o comprometimento dos alunos deu-se início às atividades
propriamente ditas com a leitura do texto "O menino que não chorava"6. Essa leitura
foi feita pela professora e depois em forma de jogral dialogado com a participação
dos alunos. Na sequência, a professora procedeu à interpretação oral, com o
objetivo de compreensão do texto.
Para complementar a atividade inicial os alunos responderam a dez
questões descritivas sobre o entendimento do texto estudado.
Propôs-se um debate entre duas equipes, sendo uma representando
o homem do campo e outra o homem da cidade, em que cada uma usou
argumentos defendendo seu modo de vida; fez-se o registro das conclusões e
posterior leitura do mesmo.
Com o objetivo de entenderem as atividades desenvolvidas pelo
homem do campo disponibilizou-se na Tv pendrive o filme “Homenagem ao homem
do campo”, com a música de Don e Ravel7. Depois fez-se comentários comparando
com as atividades das aulas anteriores para reflexão. Solicitou-se que os alunos
desenhassem uma das cenas vista no filme e escrevessem uma frase.
Também, com o objetivo de trabalhar a contextualização com os
conteúdos de Língua Portuguesa disponibilizou-se aos alunos a letra da música de
Don e Ravel com o título “Obrigado ao homem do campo”8, abaixo, em que
buscaram o significado das palavras que desconheciam, grifaram as rimas em cada
estrofe, separaram os verbos e fizeram a interpretação da música.
Obrigado ao homem do campo Pelo leite o café e o pão Deus abençoe os frascos que fazem O suado cultivo do chão
Obrigado ao homem do campo O boiadeiro e o lavrador O patrão que dirige a fazenda O irmão que dirige o trator
E obrigado ao homem do campo Que deu a vida pelo Brasil Seus atletas, heróis e soldados Que a santa terra já cobriu
Obrigado ao homem do campo Pela carne, o arroz e feijão Os legumes, verduras e frutas E as ervas do nosso sertão
Obrigado ao homem do campo O estudante e o professor A quem fecunda o solo cansado Recuperando o antigo valor
Obrigado ao homem do campo Que ainda guarda com zelo a raiz Da cultura, da fé, dos costumes E valores do nosso país
Obrigado ao homem do campo Pela madeira da construção
Obrigado ao homem do campo
Obrigado ao homem do campo Pela semeadura do chão
6 PORTELA; VESENTINI. Êxodo rural e urbanização. 17 ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 9.
7 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=iLWvOtFaof0
8 Disponível em: http://letras.terra.com.br/dom-ravel/487572/
9
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
Pelo cocho de fios das roupas Que agasalham a nossa nação
Do oeste, do norte e do sul Sertanejo da pele queimada Do sol que brilha no céu azul
E pela conservação do folclore Empunhando a viola na mão
Apresentou-se o texto Êxodo rural que tratou da definição da
palavra, as causas, consequências e o caminho histórico desde Roma Antiga até o
Brasil na década de 50 e 60. Foi feita a leitura, interpretação oral e o preenchimento
de uma palavra cruzada pesquisada no texto.
Na continuidade das atividades a professora distribuiu perguntas
para que os alunos fizessem uma entrevista com alguém que eles conhecessem e
que foram ou ainda são moradores da zona rural/no campo ou que migraram para a
cidade.
Esta atividade não ficou completa porque poucos alunos retornaram
o resultado da entrevista, entretanto as respostas dadas por três pessoas revelam a
dificuldade de o homem viver no campo e também de ter saído de lá para viver na
cidade.
Duas famílias entrevistadas vivem no campo em torno de 20 anos e
a outra migrou para a cidade. No que se refere a vantagem e desvantagem de morar
no campo ou na cidade, as famílias que moram no campo disseram que ali é melhor
porque tem sua própria terra, pode plantar e tem o que comer e que mesmo com a
mecanização no campo ainda há condições de trabalho pela necessidade de mão
de obra e de que há melhor qualidade de vida do que na cidade.
A família que migrou para a cidade indica que não aconteceu o que
esperava quando foi para a cidade em busca de emprego e poder morar em uma
casa melhor, no entanto, não foi o que encontrou. Pensam muito em retornar ao
campo porque ali poderão plantar e criar animais e assim ter o que comer.
Nas aulas seguintes, a proposta foi fazer o levantamento das
entrevistas que retornaram concluindo o que se relatou acima.
Na sequência, na distribuição das últimas aulas trabalhou-se com
pesquisa em revistas e jornais as notícias que tratassem sobre o tema Reforma
Agrária no Brasil. Os alunos trouxeram alguns recortes que foram lidos para a turma
10
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
e coladas em um cartaz com o objetivo de provocar a conscientização da
comunidade escolar para o tema.
Programou-se uma visitar a Fazenda Machado, seguindo um roteiro
elaborado em conjunto, alunos e professora PDE, entretanto por condições
climáticas e falta de transporte em outra data não agendada não foi possível que
acontecesse.
Distribuiu-se um texto sobre o Movimento dos Sem Terra (MST) que
tratava de explicar o significado de tal movimento, sua origem e causa. O assunto
gerou um debate acirrado acerca do direito a posse de terras, do confisco de terras
ociosas enfim, a divergência de ideias foi intensa. A discussão sobre o assunto é
inesgotável e o consenso difícil de se alcançar.
Depois foi proposto um exercício com atividade de marcar
verdadeiro ou falso em questões, caça palavras e questões sobre o assunto.
Para finalizar o projeto com os alunos fez-se uma avaliação das
atividades que foram feitas no decorrer do semestre em que cada aluno falou sobre
o que aprendeu, e elencaram os aspectos positivos e negativos.
No decorrer do projeto também, paralelamente, acontecia o Grupo
de Trabalho em Rede (GTR) com a participação de professores da rede pública
estadual do Paraná em que seguiram-se debates, ideias, sugestões sobre o tema
desse artigo.
Na participação dos professores houve várias contribuições
importantes por parte dos professores que participaram e que revelaram a
importância de discutir um assunto delicado, sério e necessário para a população
rural e urbana.
No decorrer dos trabalhos o processo de avaliação foi contínua e
formativa com objetivos de o aluno fosse capaz de perceber as mudanças ocorridas
a partir do êxodo rural; sensibilizar-se de maneira a entender e a valorizar o trabalho
do homem do campo e sua luta pela terra e de sua participação no contexto das
atividades propostas, demonstrando interesse. Desta forma, a avaliação procede
conforme as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica (2008, p. 78) que indica
11
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
"a avaliação deve estar a serviço da aprendizagem de todos os alunos, permeando o
conjunto das ações pedagógicas, e não como elemento externo a este processo".
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil é palco de uma intensa urbanização. O campo está cada
vez mais vazio, pois, à procura de novas oportunidades, famílias o abandonam e se
encaminham para as cidades (cada vez mais atrativas). Como consequência tem-se
o acúmulo de pessoas em determinados lugares, em detrimento de outros; com isso
os problemas também se avolumam: violência, poluição e outros.
Para que isso seja evitado, projetos e discussões acerca do assunto
devem ser viabilizados a fim de que o espaço rural seja de fato, uma opção viável à
famílias e que as mesmas possam ali mesmo construir sua vida, ter conforto, lazer e
tranquilidade financeira.
Diante desse quadro procurou-se neste trabalho sugestões de
atividades que visaram a conscientização e de fornecer ideias para que os alunos
moradores do campo possam vencer financeiramente ali mesmo, no espaço de
vivência.
Enfim, o aluno deve ter em mente que não precisa sair do campo
para vencer, que pode e deve continuar seus estudos e aplicá-los na melhoria desse
espaço e de sua vida.
Durante a efetivação do projeto várias ações foram implementadas,
tais como, leitura de texto, interpretação oral e escrita, exercícios, confecção de
cartazes, uso do vídeo e debates.
Foram diversos aspectos positivos durante a execução do projeto,
entretanto ressalta-se a importância da conscientização de que o espaço rural deve
ser valorizado pela sociedade, sobretudo pelos seus moradores e que ali há
infinidade de possibilidades de ascensão econômica e social. Vale ainda dizer que
as máquinas nunca irão funcionar sozinhas e, portanto o ser humano não deixará de
ser essencial ao processo.
12
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
Como ponto negativo pode-se citar que apesar do belo discurso feito
pelos representantes e governantes a questão do campo, muitas vezes não sai da
simples teoria, a burocracia que ronda os financiamentos governamentais, os jogos
de interesses são enormes e o que poderia estimular o homem do campo a ficar ali
e crescer, muitas vezes tem efeito contrário. Vencido pelo cansaço da burocracia,
ele procura outro espaço para prover seu sustento.
Há que se ater ainda a questão de que é uma tarefa árdua ao
pequeno e médio produtor rural manter sua propriedade com os impostos abusivos,
as exigências sob o ponto de vista ambiental, que são cada vez mais rigorosos,
insumos agrícolas caríssimos, as intempéries do clima e em contrapartida os baixos
preços dos produtos rurais. Tudo somado desencanta o trabalho e a vida no campo.
Outrossim, apesar dos problemas acima descritos a luta pela
melhoria da vida no campo e a diminuição do êxodo rural devem continuar, só assim
é possível que com o tempo não haja mais essa disparidade tão grande entre
campo/cidade.
A escola deve ser um organismo disseminador e construtor de
conhecimento, voltada a atender as demandas da comunidade, sendo um veículo
fundamental para a melhoria da qualidade de vida, construindo um projeto de
inclusão social para o homem da terra, para que o aluno se sinta valorizado e projete
na sua vivência comunitária um novo caminho para o desenvolvimento do campo.
4 REFERÊNCIAS
BRUM, Argemiro J. Modernização da Agricultura: Trigo e Soja. Petrópolis: Vozes, 1988.
FERREIRA, Brancolina; ALVES, Fábio; CARVALHO FILHO, José Juliano de. Constituição Vinte Anos: caminhos e descaminhos da reforma agrária – embates (permanentes), avanços (poucos) e derrotas (muitas). Políticas Sociais: acompanhamento e análise. Cap. 3. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/bpsociais/bps_17/volume02/06_capt03.pdf. Acesso em: 20 maio 2012.
GONÇALVES NETO, Wenceslau. Estado e Agricultura no Brasil. São Paulo:
13
A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária
Hucitec, 1997.
GRAZIANO NETO, Francisco. Questão Agrária e Ecologia: Crítica da Agricultura Moderna. São Paulo: Brasiliense, 1985.
MOREIRA, Ruy. Formação do espaço agrário brasileiro. São Paulo, Brasiliense, 1990.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Modo Capitalista de Produção, Agricultura e Reforma Agrária. 1. ed. São Paulo: Labur Edições, 2007.
PARANÁ. SEED. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Geografia. Estado do Paraná. Curitiba, 2008.
PORTELA, Fernando; VESENTINI, José William. Êxodo rural e Urbanização. 17 ed. São Paulo: Ática, 2004.
PRADO JR, Caio. A Questão Agrária no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1978.
RISK, Eloah Nazaré Varjal de Melo; TERESO, Mauro José Andrade; ABRAHÃO, Roberto Funes. O perfil do bóia-fria: uma abordagem sócio-antropológica. Cad. CERU [online]. 2010, v. 21, n.1, p. 113-128.
SILVA, José Graziano da. A Nova Dinâmica da Agricultura Brasileira. São Paulo: Editora da Unicamp, 1996.