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PARANÁ · contexto, o objetivo do artigo é apresentar as estratégias de ação do projeto de intervenção na escola como um dos requisitos do PDE assim como o resultado do Grupo

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PARANÁ

GOVERNO DO ESTADO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Ficha para Catálogo Artigo Final

Professor PDE/2010

Título A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária.

Autor Vera Lúcia Savóia Capote

Escola de Atuação Escola Estadual Profª Hercília de Paula e Silva. EF.

Município da Escola Carlópolis - PR

Núcleo Regional de Educação Jacarezinho

Orientador Prof. Me. Ricardo Aparecido Campos

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP

Área do Conhecimento/Disciplina Geografia

Relação Interdisciplinar Artes, Língua Portuguesa e História

Público Alvo Alunos da 7ª série do Ensino Fundamental

Localização Escola Estadual Profª Hercília de Paula e Silva. EF. Avenida Elson Soares, n° 34

Resumo: Com o tema espaço rural e a modernização da agricultura este artigo justifica-se tendo em vista que com a mecanização na agricultura a paisagem brasileira sofreu sérias modificações provocando mudanças nas relações sociais de trabalho, destacando a desqualificação da mão-de-obra e o desemprego, gerando a expulsão de muitas famílias do campo. Com o êxodo rural as famílias se concentram nos centros urbanos, impulsionando o processo de favelização e subempregos, aumentando assim a violência, a criminalidade e a degradação ambiental. Neste contexto, o objetivo do artigo é apresentar as estratégias de ação do projeto de intervenção na escola como um dos requisitos do PDE assim como o resultado do

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Grupo de Trabalho em Rede (GTR) elaborado com os professores da rede pública do Estado do Paraná. O projeto de implementação foi aplicado aos alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, trabalhado ao longo do 2º semestre do ano letivo de 2011 proporcionando aos alunos a compreensão da luta dos movimentos sociais pela reforma agrária no país, para que o trabalhador rural possa permanecer no campo. Por meio de dados bibliográficos, de fontes secundárias, fundamentou-se teoricamente em artigos, livros e banco de dados da internet em autores que tratam sobre o tema, assim como na pesquisa participante com alunos da escola de implementação. Leituras, interpretação de textos, confecção de cartazes, entrevista e mural foram estratégias utilizadas com os alunos para contribuir com o conhecimento sobre o tema.

Palavras-chave Mecanização no campo. Reforma agrária. Êxodo rural. Escola.

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO

CURSO DE GEOGRAFIA

VERA LÚCIA SAVÓIA CAPOTE

A RELAÇÃO DA MECANIZAÇÃO NO CAMPO COM O ÊXODO RURAL E A REFORMA AGRÁRIA

Artigo apresentado à Universidade Estadual do

Norte do Paraná, como requisito parcial para

conclusão do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE, da Secretaria Estadual de

Educação - SEED, sob a orientação da Prof Me.

Ricardo Aparecido Campos

CORNÉLIO PROCÓPIO-PR

2012

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

CAPOTE1, Vera Lúcia Savóia; CAMPOS, Ricardo Aparecido2, A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária. 13 p. Artigo (Trabalho de Conclusão de Curso) Programa de Desenvolvimento da Educacional: UENP/SEED, 2012.

Resumo

Com o tema espaço rural e a modernização da agricultura este artigo justifica-se

tendo em vista que com a mecanização na agricultura a paisagem brasileira sofreu

sérias modificações provocando mudanças nas relações sociais de trabalho,

destacando a desqualificação da mão-de-obra e o desemprego, gerando a expulsão

de muitas famílias do campo. Com o êxodo rural as famílias se concentram nos

centros urbanos, impulsionando o processo de favelização e subempregos,

aumentando assim a violência, a criminalidade e a degradação ambiental. Neste

contexto, o objetivo do artigo é apresentar as estratégias de ação do projeto de

intervenção na escola como um dos requisitos do PDE assim como o resultado do

Grupo de Trabalho em Rede (GTR) elaborado com os professores da rede pública

do Estado do Paraná. O projeto de implementação foi aplicado aos alunos da 7ª

série do Ensino Fundamental, trabalhado ao longo do 2º semestre do ano letivo de

2011 proporcionando aos alunos a compreensão da luta dos movimentos sociais

pela reforma agrária no país, para que o trabalhador rural possa permanecer no

campo. Por meio de dados bibliográficos, de fontes secundárias, fundamentou-se

teoricamente em artigos, livros e banco de dados da internet em autores que tratam

sobre o tema, assim como na pesquisa participante com alunos da escola de

implementação. Leituras, interpretação de textos, confecção de cartazes, entrevista

e mural foram estratégias utilizadas com os alunos para contribuir com o

conhecimento sobre o tema.

1 Graduada em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Piraju; Pós Graduada em

História; atua na Escola Estadual Professora Hercília de Paula e Silva EF, como professora de Geografia. E-mail: [email protected] 2 Docente do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, Campus de Cornélio Procópio, Mestre em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UEL. E-mail: [email protected]

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

Palavras-chave: Mecanização no campo. Reforma agrária. Êxodo rural. Escola.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente com a mecanização os trabalhadores rurais estão sendo

expulsos de suas terras, gerando assim o que chamamos de êxodo rural. Com a

modernização da agricultura houve uma grande concentração fundiária, favorecendo

alguns produtos e produtores, fortalecendo assim a monocultura que é voltada para

exportação e tornando-a uma atividade empresarial seguindo o modelo capitalista de

produção.

Os trabalhadores rurais expulsos do campo dirigem-se para a cidade

e passam a ser assalariados e vão para a periferia, pois não possuem mão de obra

qualificada. Muitos moram na zona urbana, mas atuam no campo e são chamados

bóias-frias.

Faz-se necessário uma reforma agrária urgente, pois são os

pequenos e médios produtores que produzem para abastecer o mercado interno.

Sendo assim é necessário valorizar o homem do campo, qualificando-o e

incentivando-o para manter a sua permanência no campo.

As reflexões e as leituras com base no contexto elencado

anteriormente foram o suporte para o registro das ações do projeto de

implementação e nos debates no GTR. Optou-se como proposta, o método de

pesquisa para o desenvolvimento das ações, com embasamento teórico em autores

que nortearam este trabalho.

A pesquisa desenvolveu-se no decorrer do segundo semestre do

ano 2011 com alunos da 7ª série do ensino fundamental matutino, na Escola

Estadual Profª Hercília de Paula e Silva Ensino Fundamental no decorrer da terceira

etapa do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

As atividades foram desenvolvidas por meio da leitura e

interpretação de textos, confecção de mural, cartazes, entrevistas e outras

atividades em que os alunos desenvolveram a compreensão das mudanças,

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

permanências e continuidades que configuram as questões sobre a modernização

do campo, da agricultura que consequentemente levam ao êxodo rural, permitindo-

lhes pensar, refletir e expressar suas experiências, opiniões e questionamentos

sobre essas questões.

Os recursos utilizados foram livros, textos, figuras e da utilização de

entrevista estruturada, elaborada pela professora, com os pais dos alunos.

A avaliação com os alunos ocorreu no contexto das atividades pela

participação e empenho nas propostas dadas, assim como a confecção dos

cartazes.

1.1 ÊXODO RURAL E REFORMA AGRÁRIA

A sociedade mundial e brasileira, atualmente, está se urbanizando

rapidamente, e gerando a industrialização no campo e, consequentemente, acabou

formando um grande número de trabalhadores rurais-urbanos, dando origem ao

chamado “bóia-fria”3 (GRAZIANO NETO, 1985).

Desse modo, o espaço rural brasileiro iniciou o então processo de

modernização, a qual apresentou desigualdades e privilégios. Trouxe um aumento

da economia nacional, beneficiando a produção para exportação, e aumentando os

lucros dos latifundiários, mas causando impactos ambientais, contribuindo para o

desemprego rural e, consequentemente, a saída do trabalhador do campo para a

cidade, movimento chamado de êxodo rural (BRUM, 1988).

Deve-se lembrar, também, que não é somente a modernidade e as

novas tecnologias no espaço rural que levou o trabalhador a deixar o campo, mas

também a busca de empregos com melhores remunerações, a fuga de desastres

naturais, incentivos agrícolas que são cortados, baixo preço dos produtos, entre

3 Bóia-fria é a designação popular do trabalhador rural, que se caracteriza pelo trabalho autônomo e

temporário. Bóia-fria porque essa categoria de trabalhador leva sua comida (bóia-comida) em marmitas a serem consumidas ao longo da jornada de trabalho, quase sempre quando já estão frias. Dessa contingência nasce a denominação bóia-fria, para caracterizar o trabalhador rural autônomo.(RISK, TERESO, ABRAHÃO, 2010, p.117).

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

outros, acarretando a migração rural – urbana e acentuando as desigualdades

sociais.

Após a ditadura4 do presidente Getúlio Vargas, camponeses e

trabalhadores rurais se organizaram em associações, surgindo as primeiras Ligas

Camponesas no Brasil. Foi com as ligas camponesas que a luta pela reforma agrária

tornou-se nacional (OLIVEIRA, 2007).

Esse movimento tinha o objetivo de lutar pela reforma agrária e a

posse da terra e deve se entendido como manifestação nacional pelas injustiças

sofridas pelos trabalhadores rurais e também com as grandes desigualdades do

desenvolvimento capitalista no Brasil. A partir daí o governo cria órgãos federais

para a execução da reforma agrária no país (OLIVEIRA, 2007).

O governo militar do Marechal Castelo Branco não tinha intenção de

fazer a reforma agrária, e sua implementação foi sendo adiada. Com a visita da FAO

– Food Agricultural Organization, órgão da ONU, foi sugerida a criação de um único

organismo para melhor programar a reforma agrária, nascendo assim o INCRA, com

o Decreto Lei nº 1.110, de 09/07/70 (OLIVEIRA, 2007).

Com o golpe militar de 1964, o projeto de reforma agrária acabou e

houve uma grande perseguição às lideranças sindicais que atuavam nas ligas

camponesas. (OLIVEIRA, 2007). “O desenlace da crise de 1964 teve como

decorrência a perda de uma das mais relevantes oportunidades para implantar a

reforma” (FERREIRA, ALVES, CARVALHO FILHO, 2012, p. 158).

Pressionado pela sociedade o Congresso Nacional criou uma

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), ficando comprovada a corrupção dos

órgãos coordenadores da reforma agrária no Brasil (FERREIRA, ALVES,

CARVALHO FILHO, 2012).

Durante os vinte anos de governos militares pouco foi feito pela

reforma agrária no Brasil. Somente na década de 1980 que o governo organizou o

Plano Nacional da Reforma Agrária (PRADO JÚNIOR, 2000).

4 Ditadura Militar - período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil. Esta época

vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar.

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

No fim do período da ditadura militar ocorreu o agravamento do conflito fundiário, como uma das consequências do processo de modernização conservadora da agricultura brasileira (FERREIRA, ALVES, CARVALHO FILHO, 2012, p. 160).

Com os órgãos criados pelo governo começaram a surgir várias

denúncias pela mídia de grilagem e venda de terras para estrangeiros, sobretudo na

Amazônia mostrando assim para a sociedade a intensa corrupção nesses órgãos

que deveriam fazer a reforma agrária brasileira (OLIVEIRA, 2007).

No governo Sarney, ficou provado mais uma vez a demagogia

populista do governo com relação à reforma agrária e consolidando a estrutura

política agrária dos latifúndios brasileiros. Enfim, governo militar, Sarney, Collor de

Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique, Luís Inácio (Lula), nenhum deles

realmente tiveram a intenção de realizar a reforma agrária no Brasil (OLIVEIRA,

2007).

Com a concentração da propriedade privada da terra – latifúndios –

faz com que a luta pela posse de terra que os camponeses estão engajados, torne-

se cada vez mais violenta, fazendo com que muitos sejam expulsos da terra

dirigindo-se para as cidades tornando-se um assalariado (OLIVEIRA, 2007).

Os camponeses brasileiros lutam para permanecerem na terra

produzindo alimento que é fundamental para a sociedade brasileira, pois os

latifundiários produzem para exportação e não para abastecer o mercado interno do

país. Assunto que Oliveira (2007, p. 134) destaca que

[...] a maioria dos filhos dos camponeses com superfície inferior a 10 hectares jamais terão condição de se tornarem camponeses nas terras de seus pais, a eles caberá apenas um caminho: a estrada [...] à cidade.

A luta pela terra é marcada desde a ocupação do Brasil e a violência

tem sido uma marca constante. Vale lembrar também que existem hoje no Brasil

vários movimentos de luta do campesinato5 e, sem dúvida nenhuma, o principal

deles é o Movimento dos Sem Terra (MST).

5 s.m. Conjunto de agricultores de uma região, de um Estado.Condição dos camponeses. Disponível

em: http://www.dicio.com.br/campesinato/. Acesso em: 10 jun. 2011.

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

A modernização da agricultura veio acompanhada de crescente

concentração fundiária, seguindo o modelo capitalista favorece determinados

produtos e produtores, fortalecendo a monocultura, tornando-a uma atividade

empresarial, abrindo espaço para um mercado de consumo, para as indústrias de

insumos e máquinas agrícolas modernas favorecendo os grandes proprietários e

ficando cada vez mais distantes dos pequenos e médios produtores.

É na década de 1950 que se originou o processo de modernização

agrícola no Brasil, mas somente na década de 1960 que o setor industrial se voltou

para a produção de equipamentos e insumos agrícolas.

Segundo Brum (1988), as principais razões da modernização da

agricultura são:

a) Elevação da produtividade do trabalho visando o aumento do lucro;

b) Redução dos custos unitários de produção para vencer a

concorrência;

c) Necessidade de superar os conflitos entre capital e latifúndio, visto

que a modernização levantou a questão da renda da terra;

d) Possibilitar a implantação do complexo agroindustrial no país.

É através da modernização da agricultura que os produtores buscam

maior produtividade, visto que com o avanço tecnológico esperam alcançar maior

rentabilidade, pois com a mecanização poderá ampliar as áreas cultivadas e

aumentar a produção.

A partir da década de 1970, o setor agrário apresentou um maior

desenvolvimento e a agricultura passou a atender a sociedade urbana industrial e a

agricultura fica subordinada a indústria e a estrutura fundiária brasileira é voltada

para os latifúndios, marginalizando os pequenos e médios produtores rurais

(PRADO JÚNIOR, 2000).

Os trabalhadores que são expulsos do campo dirigem-se para as

áreas urbanas ou para outras regiões, formando os chamados sem-terras. Esses

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

trabalhadores que moram na zona urbana chamados de “bóias-frias”, vendem sua

força de trabalho no campo.

Assim o processo de modernização levou um grande número de

agricultores à decadência: forçou grande parte da força de trabalho rural a se

favelizar nas periferias urbanas, fez aumentar o número de pobres rurais, elevando a

níveis insuportáveis a violência, a destruição ambiental e a criminalidade (VEIGA,

2000). Com a modernização da agricultura ela vai se tornando cada vez mais cara e

teremos a exclusão dos produtores e trabalhadores menos favorecidos.

É somente na década de 90, que as lutas pela reforma agrária se

aprofundam. O desenvolvimento capitalista que chegou à zona rural concentra a

terra e expulsa o trabalhador do campo para a cidade, gerando uma grande

quantidade de pobres e miseráveis na sociedade brasileira (OLIVEIRA, 2007).

2 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

A partir de pesquisas e leituras, buscou-se fornecer um

embasamento teórico aos alunos da 7ª série sobre o modo de vida do homem do

campo assim como os movimentos que ocorreram e ainda acontecem para que este

consiga retornar ao campo e produzir alimentos, além da obtenção de conhecimento

sobre a Reforma agrária e a mecanização no campo.

Nesta perspectiva, foram desenvolvidas diversas atividades no

decorrer do mês de agosto até novembro, sendo trabalhadas em duas aulas

semanais compreendendo um total de trinta aulas.

Inicialmente socializou-se o projeto de intervenção aos professores

da escola explicando os objetivos e propostas de ações. Depois reuniu-se os alunos

público alvo da intervenção para conhecerem as propostas e solicitar o empenho

dos mesmos para obtenção de sucesso no projeto.

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

Após o comprometimento dos alunos deu-se início às atividades

propriamente ditas com a leitura do texto "O menino que não chorava"6. Essa leitura

foi feita pela professora e depois em forma de jogral dialogado com a participação

dos alunos. Na sequência, a professora procedeu à interpretação oral, com o

objetivo de compreensão do texto.

Para complementar a atividade inicial os alunos responderam a dez

questões descritivas sobre o entendimento do texto estudado.

Propôs-se um debate entre duas equipes, sendo uma representando

o homem do campo e outra o homem da cidade, em que cada uma usou

argumentos defendendo seu modo de vida; fez-se o registro das conclusões e

posterior leitura do mesmo.

Com o objetivo de entenderem as atividades desenvolvidas pelo

homem do campo disponibilizou-se na Tv pendrive o filme “Homenagem ao homem

do campo”, com a música de Don e Ravel7. Depois fez-se comentários comparando

com as atividades das aulas anteriores para reflexão. Solicitou-se que os alunos

desenhassem uma das cenas vista no filme e escrevessem uma frase.

Também, com o objetivo de trabalhar a contextualização com os

conteúdos de Língua Portuguesa disponibilizou-se aos alunos a letra da música de

Don e Ravel com o título “Obrigado ao homem do campo”8, abaixo, em que

buscaram o significado das palavras que desconheciam, grifaram as rimas em cada

estrofe, separaram os verbos e fizeram a interpretação da música.

Obrigado ao homem do campo Pelo leite o café e o pão Deus abençoe os frascos que fazem O suado cultivo do chão

Obrigado ao homem do campo O boiadeiro e o lavrador O patrão que dirige a fazenda O irmão que dirige o trator

E obrigado ao homem do campo Que deu a vida pelo Brasil Seus atletas, heróis e soldados Que a santa terra já cobriu

Obrigado ao homem do campo Pela carne, o arroz e feijão Os legumes, verduras e frutas E as ervas do nosso sertão

Obrigado ao homem do campo O estudante e o professor A quem fecunda o solo cansado Recuperando o antigo valor

Obrigado ao homem do campo Que ainda guarda com zelo a raiz Da cultura, da fé, dos costumes E valores do nosso país

Obrigado ao homem do campo Pela madeira da construção

Obrigado ao homem do campo

Obrigado ao homem do campo Pela semeadura do chão

6 PORTELA; VESENTINI. Êxodo rural e urbanização. 17 ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 9.

7 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=iLWvOtFaof0

8 Disponível em: http://letras.terra.com.br/dom-ravel/487572/

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

Pelo cocho de fios das roupas Que agasalham a nossa nação

Do oeste, do norte e do sul Sertanejo da pele queimada Do sol que brilha no céu azul

E pela conservação do folclore Empunhando a viola na mão

Apresentou-se o texto Êxodo rural que tratou da definição da

palavra, as causas, consequências e o caminho histórico desde Roma Antiga até o

Brasil na década de 50 e 60. Foi feita a leitura, interpretação oral e o preenchimento

de uma palavra cruzada pesquisada no texto.

Na continuidade das atividades a professora distribuiu perguntas

para que os alunos fizessem uma entrevista com alguém que eles conhecessem e

que foram ou ainda são moradores da zona rural/no campo ou que migraram para a

cidade.

Esta atividade não ficou completa porque poucos alunos retornaram

o resultado da entrevista, entretanto as respostas dadas por três pessoas revelam a

dificuldade de o homem viver no campo e também de ter saído de lá para viver na

cidade.

Duas famílias entrevistadas vivem no campo em torno de 20 anos e

a outra migrou para a cidade. No que se refere a vantagem e desvantagem de morar

no campo ou na cidade, as famílias que moram no campo disseram que ali é melhor

porque tem sua própria terra, pode plantar e tem o que comer e que mesmo com a

mecanização no campo ainda há condições de trabalho pela necessidade de mão

de obra e de que há melhor qualidade de vida do que na cidade.

A família que migrou para a cidade indica que não aconteceu o que

esperava quando foi para a cidade em busca de emprego e poder morar em uma

casa melhor, no entanto, não foi o que encontrou. Pensam muito em retornar ao

campo porque ali poderão plantar e criar animais e assim ter o que comer.

Nas aulas seguintes, a proposta foi fazer o levantamento das

entrevistas que retornaram concluindo o que se relatou acima.

Na sequência, na distribuição das últimas aulas trabalhou-se com

pesquisa em revistas e jornais as notícias que tratassem sobre o tema Reforma

Agrária no Brasil. Os alunos trouxeram alguns recortes que foram lidos para a turma

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

e coladas em um cartaz com o objetivo de provocar a conscientização da

comunidade escolar para o tema.

Programou-se uma visitar a Fazenda Machado, seguindo um roteiro

elaborado em conjunto, alunos e professora PDE, entretanto por condições

climáticas e falta de transporte em outra data não agendada não foi possível que

acontecesse.

Distribuiu-se um texto sobre o Movimento dos Sem Terra (MST) que

tratava de explicar o significado de tal movimento, sua origem e causa. O assunto

gerou um debate acirrado acerca do direito a posse de terras, do confisco de terras

ociosas enfim, a divergência de ideias foi intensa. A discussão sobre o assunto é

inesgotável e o consenso difícil de se alcançar.

Depois foi proposto um exercício com atividade de marcar

verdadeiro ou falso em questões, caça palavras e questões sobre o assunto.

Para finalizar o projeto com os alunos fez-se uma avaliação das

atividades que foram feitas no decorrer do semestre em que cada aluno falou sobre

o que aprendeu, e elencaram os aspectos positivos e negativos.

No decorrer do projeto também, paralelamente, acontecia o Grupo

de Trabalho em Rede (GTR) com a participação de professores da rede pública

estadual do Paraná em que seguiram-se debates, ideias, sugestões sobre o tema

desse artigo.

Na participação dos professores houve várias contribuições

importantes por parte dos professores que participaram e que revelaram a

importância de discutir um assunto delicado, sério e necessário para a população

rural e urbana.

No decorrer dos trabalhos o processo de avaliação foi contínua e

formativa com objetivos de o aluno fosse capaz de perceber as mudanças ocorridas

a partir do êxodo rural; sensibilizar-se de maneira a entender e a valorizar o trabalho

do homem do campo e sua luta pela terra e de sua participação no contexto das

atividades propostas, demonstrando interesse. Desta forma, a avaliação procede

conforme as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica (2008, p. 78) que indica

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

"a avaliação deve estar a serviço da aprendizagem de todos os alunos, permeando o

conjunto das ações pedagógicas, e não como elemento externo a este processo".

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil é palco de uma intensa urbanização. O campo está cada

vez mais vazio, pois, à procura de novas oportunidades, famílias o abandonam e se

encaminham para as cidades (cada vez mais atrativas). Como consequência tem-se

o acúmulo de pessoas em determinados lugares, em detrimento de outros; com isso

os problemas também se avolumam: violência, poluição e outros.

Para que isso seja evitado, projetos e discussões acerca do assunto

devem ser viabilizados a fim de que o espaço rural seja de fato, uma opção viável à

famílias e que as mesmas possam ali mesmo construir sua vida, ter conforto, lazer e

tranquilidade financeira.

Diante desse quadro procurou-se neste trabalho sugestões de

atividades que visaram a conscientização e de fornecer ideias para que os alunos

moradores do campo possam vencer financeiramente ali mesmo, no espaço de

vivência.

Enfim, o aluno deve ter em mente que não precisa sair do campo

para vencer, que pode e deve continuar seus estudos e aplicá-los na melhoria desse

espaço e de sua vida.

Durante a efetivação do projeto várias ações foram implementadas,

tais como, leitura de texto, interpretação oral e escrita, exercícios, confecção de

cartazes, uso do vídeo e debates.

Foram diversos aspectos positivos durante a execução do projeto,

entretanto ressalta-se a importância da conscientização de que o espaço rural deve

ser valorizado pela sociedade, sobretudo pelos seus moradores e que ali há

infinidade de possibilidades de ascensão econômica e social. Vale ainda dizer que

as máquinas nunca irão funcionar sozinhas e, portanto o ser humano não deixará de

ser essencial ao processo.

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

Como ponto negativo pode-se citar que apesar do belo discurso feito

pelos representantes e governantes a questão do campo, muitas vezes não sai da

simples teoria, a burocracia que ronda os financiamentos governamentais, os jogos

de interesses são enormes e o que poderia estimular o homem do campo a ficar ali

e crescer, muitas vezes tem efeito contrário. Vencido pelo cansaço da burocracia,

ele procura outro espaço para prover seu sustento.

Há que se ater ainda a questão de que é uma tarefa árdua ao

pequeno e médio produtor rural manter sua propriedade com os impostos abusivos,

as exigências sob o ponto de vista ambiental, que são cada vez mais rigorosos,

insumos agrícolas caríssimos, as intempéries do clima e em contrapartida os baixos

preços dos produtos rurais. Tudo somado desencanta o trabalho e a vida no campo.

Outrossim, apesar dos problemas acima descritos a luta pela

melhoria da vida no campo e a diminuição do êxodo rural devem continuar, só assim

é possível que com o tempo não haja mais essa disparidade tão grande entre

campo/cidade.

A escola deve ser um organismo disseminador e construtor de

conhecimento, voltada a atender as demandas da comunidade, sendo um veículo

fundamental para a melhoria da qualidade de vida, construindo um projeto de

inclusão social para o homem da terra, para que o aluno se sinta valorizado e projete

na sua vivência comunitária um novo caminho para o desenvolvimento do campo.

4 REFERÊNCIAS

BRUM, Argemiro J. Modernização da Agricultura: Trigo e Soja. Petrópolis: Vozes, 1988.

FERREIRA, Brancolina; ALVES, Fábio; CARVALHO FILHO, José Juliano de. Constituição Vinte Anos: caminhos e descaminhos da reforma agrária – embates (permanentes), avanços (poucos) e derrotas (muitas). Políticas Sociais: acompanhamento e análise. Cap. 3. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/bpsociais/bps_17/volume02/06_capt03.pdf. Acesso em: 20 maio 2012.

GONÇALVES NETO, Wenceslau. Estado e Agricultura no Brasil. São Paulo:

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A Relação da mecanização no campo com o Êxodo Rural e a Reforma Agrária

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