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Ano 8 nº 58 - junho/julho de 2010 - R$ 12,00 COM A COMPRA DE USINAS SUCROALCOOLEIRAS POR GRANDES GRUPOS ESTRANGEIROS, O PARANÁ ENTRA NA ROTA DA CONCENTRAÇÃO E DESNACIONALIZAÇÃO DO SETOR, NO MOMENTO EM QUE O ETANOL ESTÁ PRONTO PARA DESLANCHAR VEJA TAMBÉM Tendo trabalhado em algumas das mais importantes produtoras de alimentos do Brasil, Helio Schorr fala sobre o mercado internacional da carne e suas tendências A CHEGADA DOS GIGANTES

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Com a Compra de usinas suCroalCooleiras por grandes grupos estrangeiros, o paraná entra na rota da ConCentração e desnaCionalização do setor, no momento em que o etanol está pronto para deslanChar veja também Ano 8 nº 58 - junho/julho de 2010 - R$ 12,00 Tendo trabalhado em algumas das mais importantes produtoras de alimentos do Brasil, Helio Schorr fala sobre o mercado internacional da carne e suas tendências

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Ano

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Com a Compra de usinas suCroalCooleiras por grandes grupos estrangeiros, o paraná entra na rota da ConCentração e desnaCionalização do setor, no momento em que o etanol está pronto para deslanChar

veja tambémTendo trabalhado

em algumas das mais importantes produtoras de alimentos do Brasil,

Helio Schorr fala sobre o mercado

internacional da carne e suas

tendências

a chegada dos gigantes

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a defesa do pequeno e médio frigorífico é essencial para

a pecuária brasileira.O Brasil possui atualmente um rebanho de 180 milhões de cabeças e, deste rebanho, são abatidos anualmente 40

milhões de animais. Do total produzido, 78% é destinado ao mercado interno, onde atuam os frigoríficos associa-

dos a Abrafrigo. O processamento de 31 milhões e 200 mil cabeças representa uma produção anual de 7 milhões

de toneladas de carne, com o que as empresas brasileiras têm reais condições de atender grandes e exigentes

mercados consumidores internacionais.

A Abrafrigo - Associação Brasileira de Frigoríficos, é uma associação civil que foi criada em 2004, justamente o

ano em que o Brasil assumiu o primeiro lugar no ranking de maior exportador do mundo de carne bovina em volu-

me e posteriormente em receita cambial, com seu rebanho de alta qualidade, onde predominam as raças zebuínas.

Av. Cândido de Abreu, 427 | Sala 1601-A e 1602Curitiba/PR - Brasil | Tel.: 55 41 3021 3221

www.abrafrigo.com.br

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As perspectivas de cres-cimento de 7,5% na eco-nomia brasileira neste ano está produzindo uma en-xurrada de boas notícias e novas necessidades na área de infra-estrutura. Há uma movimentação incontrolá-vel no mercado de usinas de álcool que passa por um momento de concentração interessante com a entrada de novos players neste mer-cado, com gigantes como a Shell e a Petrobras entrando decididamente no setor via aquisições. Como sempre acontece nestas situações - e que já se constatou isso no mercado de carnes - o espaço para os pequenos produtores de etanol vai fi-car cada vez mais reduzido. Outra notícia é a possibili-dade de Paranaguá receber navios maiores a partir da dragagem que foi realizada no Canal da Galheta e dos investimentos que ainda se-rão feitos no porto parana-ense que está com sua capa-cidade de crescimento cada vez mais limitada. Outra

A Revista Paraná&Cia é uma publicação bimensal da Editora Ecocidade.Rua XV de Novembro, 1700 cj 07 Alto da Rua XV - Curitiba/PR CEP - 80.045-125Tel (41) [email protected]ão - Gráfica Capital

Jornalista Responsável - Bernardo Staviski | [email protected] - Norberto Staviski, Luis Gaspar, Celsio Correato, José Eduardo Moskevicz, José Roberto da Silva e Souza e Oscar C. Dizzimoto. Assistente de Arte - Lucas Staviski

novidade é a Copel se tornar um grande player nacional no seu setor, a exemplo da mineira Cemig que já andou até ten-tando comprar a Celesc, estatal de energia catarinense no seu projeto de expansão pelo país.

Agora a Copel decidiu também seguir este caminho, o que é uma notícia alvissareira, já que uma atuação voltada somente ao Paraná não responderia pela necessidade futura de cresci-mento da empresa.

Também não poderia es-capar da pauta a recente inau-guração da FPT – Powertrain Technologies, em Campo Lar-

go, a mais moderna unidade produtora de motores mi-dsize da América Latina. Braço de motores e trans-missões da Fiat, a FPT foi rápida ao atropelar a GM, comprando a fábrica de mo-tores Tritec, joint-venture entre a Chrysler e a BMW. Aplicou R$ 250 milhões para revisar máquinas, pro-cessos e manufatura, apli-cou um conceito mundial de qualidade pelos parâmetros do WCM – World Class Manufaturing e deu senti-do ecológico às instalações. Impressionante.

A verdade é que o país está fervilhando de novos projetos, novos empreen-dedores e grandes obras e, além de tudo isso, há a campanha para as eleições presidenciais. Enquanto a Europa e Estados Unidos ainda se debatem na pro-cura de saídas para acelerar o crescimento, nós vamos aqui com o pé fundo no ace-lerador. Graças a Deus!

O Editor

Da Redação

Com pé no acelerador

Paraná&Cia

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Nesta Edição

Eles estão chegando!Com o mercado de etanol aquecido, grandes empresas mundiais iniciam processo de aquisições de empresas brasileiras do setor e o Paraná está na rota.

EntrevistaTendo trabalhado por muitos anos em algumas das mais importantes produtoras de alimentos do Brasil, Helio Schorr fala sobre o mercado internacional da carne e suas tendências.

Pulo do GatoCom a nova unidade da FPT, Campo Largo terá a mais moderna planta para produção de motores midsize na América Latina.

A estatal decide finalmente expandir para fora do Paraná e agora mira projetos em todo o país.

Copel vai ao Mercado

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Pág. 24

Índice

Agronegócio.......................................................16

Logística..............................................................28

Cooperativa........................................................30

Nicho de Mercado..............................................31

Energia................................................................32

Aftosa: Mesmo com movimentação intensa do Paraná e Rio Grande do Sul, ainda pode demorar que os dois estados sejam considerados como territórios livres de aftosa sem vacinação.

Porto de Paranaguá: Porto passa a receber navios com mais de 300 metros e, com isso, ganha escala e permitirá redução dos custos logísticos como um todo.

Crescendo lá fora: Há 14 anos no Paraguai, a cooperativa paranaense Lar inaugurou unidade própria em San Alberto, Alto Paraná, a oitava unidade naquele país.

Matéria-prima do Oeste: Situada em Marechal Cândido Rondon, onde processa soro de leite, transformando-o num pó utilizado por indústrias como Nestlé e Kraft Foods, a Sooro achou um novo e rentável nicho de mercado.

A brisa que dá lucro: Com grande potencial de geração, a energia eólica vem ganhando maior destaque no Brasil crescendo quase 80% em 2009.

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Entrevista

O futuro da indústria de proteínas animais

Helio Schorr

como pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e é experiente condu-tor de negócios em empresas do agronegócio, tendo trabalhado por muitos anos em produção de bovinos de corte e integrações de frango de corte em algumas das mais importantes coope-rativas e empresas produtoras de alimentos do Brasil. Nos últimos anos se dedicou mais for-temente ao comércio internacional de carnes de frango, suínos e bovinos. Hoje é requisitado analista dos mercados internacionais, fazendo palestras em fóruns técnicos no Brasil e em di-versos países da Europa, América do Norte e Ásia. A seguir, a sua entrevista sobre o mercado internacional e as tendências do setor:

Helio Schorr, médico veterinário formado pela UFPR em 1975, com mestrado em Economia e Administração pela Purdue University (USA), atuou algum tempo

PR&Cia▶ Como O Sr. está vendo o mercado para a carne bovina brasileira?Schorr▶ O Brasil está vaticina-do a ser o maior produtor de proteínas animais do mundo em muito pouco tempo e permane-cer assim por décadas. Temos solos férteis em abundância; clima muito adequado; empre-endedores arrojados e, muito importante: condição sanitária invejável. É bom lembrar que temos mais de 172 milhões de hectares de pastagens, que hoje são ocupadas por aproxi-madamente 195 milhões de ca-beças de bovinos. É ainda uma produtividade muito baixa. É certo que haverá, num futu-ro próximo, uma competição muito forte pelo uso do solo no Brasil. A pecuária de corte terá que se modernizar. Não há praticamente mais possibilidade de expansão horizontal. O cres-cimento da produção de grãos que fatalmente ocorrerá, será às custas de áreas de pastagens. A pecuária bovina terá, portanto, que obrigatoriamente melhorar seus níveis de produtividade.

PR&Cia▶ Isso é ruim para o setor?Schorr▶ Não. Isto só trará be-nefícios para o negócio carnes

no Brasil. Já me-lhoramos bastante. É bom lembrar que em 1970 tínhamos 78 milhões de ca-beças em 154 mi-lhões de hectares e que hoje temos 195 milhões de cabeças em 172 milhões de hectares. Pratica-mente dobramos a densidade em 40 anos. Precisamos

em 1970 o Brasil tinha 78 milhões de caBeças em 154 milhões de hectares. hoje

possui 195 milhões de caBeças em

172 milhões de hectares. praticamente

doBrou a densidade em 40 anos

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fazer muito mais. A competi-ção demandará investimentos em tecnologias que permitam crescimento com sustentabi-lidade e qualidade. A popula-ção mundial está crescendo, enriquecendo e envelhecendo. Demanda cada vez mais pro-teínas de melhor qualidade, saudáveis e práticas. Sustenta-bilidade, sanidade, segurança alimentar, rastreabilidade são os pontos cruciais para emba-sar este crescimento. Temos também que considerar que o mercado doméstico brasileiro é um dos mais importantes do mundo. Somos 190 milhões de habitantes consumindo 37 kg de carne bovina per capita. São mais de 7,2 milhões de tonela-das vendidas no Brasil. Quan-do olhamos para fora vemos que o Brasil exporta mais de 2 milhões de toneladas, gerando uma receita superior a 5 bilhões de dólares.

PR&Cia▶ Mas alguns países e a União Européia não reco-nhecem isso. Schorr▶ A maioria dos pro-blemas que temos, não somen-te com a União Européia, mas com outros importantes im-portadores não são de origem sanitária como alegado por eles. São barreiras comerciais travestidas de sanitárias. Mui-tas destas barreiras ainda virão. Teremos que ter tenacidade para ultrapassá-las. É bom lembrar que a Europa, na última déca-da foi assolada por febre aftosa e encefalopatia espongiforme (vaca louca),afora muitos outros problemas sanitários ainda mais graves do que os que tivemos no Brasil. Em nenhum momento o Brasil tomou partido da infeli-cidade deles para ter vantagens comerciais. A verdade é que a produção animal na Europa e

em muitos outros lugares do mundo está fadada ao fracas-so econômico. Não tem como competir com o Brasil ou a Argentina. O difícil é explicar para um fazendeiro irlandês que o seu negocio só sobrevive às custas dos subsídios pagos pelo cidadão comum. Não fosse isto, ele estaria quebrado.

Recentemente, uma missão de técnicos europeus esteve visitando as indústrias brasi-leiras e verificando o sistema

de controle sanitário e de ras-treabilidade implantado pelo Ministério da Agricultura. Sa-íram bastante impressionados. Espera-se que o relatório por eles apresentado venha a redu-zir um pouco a pressão sobre a indústria. Isto vai facilitar o fluxo de carnes do Brasil para aquele mercado.

PR&Cia▶ E como está a si-tuação em outros mercados?Schorr▶ Temos uma posição muito firme e sólida na Rússia e nos países árabes. Temos um trabalho muito grande para ser feito nos países asiáticos. Coréia e Japão só compram de regiões ou países livres de febre aftosa

sem vacinação. Por enquanto só temos Santa Catarina nesta condição e sabemos que não é exatamente um estado produtor de carne bovina. Nestes países temos também a concorrência e a pressão dos Estados Unidos que tem feito acordos comer-ciais importantes.

PR&Cia▶ E a China. Vamos conseguir fazer exportações diretas para lá?Schorr▶ A China é um mercado gigantesco, com uma população enorme que está aumentando significativamente a sua renda e, portanto, a demanda por proteínas de origem animal. Tem sido muito difícil vender carne diretamente para a Chi-na continental, embora haja plantas habilitadas. As tarifas e a burocracia são praticamente intransponíveis. O que se faz é negociar com Hong Kong, que é muito mais fácil. Outro ponto importante: A China demanda principalmente produtos de me-nor valor agregado.

PR&Cia▶ Há novos mercados naquela região?

Schorr▶ Outros países im-portantes na Ásia são: Indoné-sia, Malásia, Filipinas e outros do Sudeste Asiático. Nestes mercados sofremos concorrên-cia muito forte de fornecedores tradicionais como Austrália e Estados Unidos. São mercados essenciais. Tem grande popula-ção, renda crescente e consumo de carne bovina muito baixo. Devemos investir muito nestes mercados. Mercados também pouco explorados e com po-tencial muito grande são os da África. O Brasil tem desempe-nhado um papel diplomático importante na África. Precisa-mos transformar a diplomacia em resultados comerciais.

"Mercados também pouco explorados e com potencial muito grande são os da África. O Brasil tem desempenhado um papel diplomático importante na África. Precisamos transformar a diplomacia em resultados comerciais"

Entrevista Helio Schorr

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PR&Cia▶ E nossos competido-res como Austrália e Argenti-na, como estão?Schorr▶ A Austrália é talvez o mais tradicional exportador de carne bovina do mundo. Tem se aproveitado da sua condição sanitária privilegiada, sem febre aftosa, para atingir mercados em que o Brasil está bloqueado. Por isto e por sua localização, tem tratamento privilegiado nas trocas comerciais e obtém preços bem mais atraentes que o Brasil.

A Argentina está, ano a ano, perdendo competitividade. Nos últimos anos, tem se aproveita-do das taxas de câmbio favore-cidas em relação ao Brasil. Isto tem feito deles um competidor muito forte.

PR&Cia▶ Nesse mercado onde imperam grandes como a JBS Friboi, há espaço para peque-nos frigoríficos? Schorr▶ Certamente. O Brasil tem uma das indústrias de car-nes mais modernas do mundo. Temos padrões de qualidade, higiene e sanidade incompará-veis. Pequenas e médias empre-sas brasileiras são tão boas ou melhores que as melhores do mundo. Nosso problema não é de qualidade. Nossos problemas são comerciais.

Os frigoríficos menores tem todas as possibilidades. São tec-nologicamente adequados e tem uma agilidade comercial que os grandes algumas vezes perdem. Há nichos de mercado que os grandes produtores não querem ou simplesmente não podem atender. Sempre digo que a van-tagem dos pequenos é que ven-dem para produzir enquanto os grandes produzem para vender. Os pequenos tem, portanto, todas as condições de atender mais adequadamente as espe-

cificidades de cada mercado.

PR&Cia▶ As barreiras sani-tárias existentes hoje, podem ser superadas?Schorr▶ O mercado mundial de carnes é, para o Brasil, uma corrida de obstáculos. Toda vez que ultrapassarmos uma barrei-ra, outra maior será levantada. Não fosse assim, quebraríamos a indústria de carnes de quase todo o mundo. Há produtores

que só existem graças às bar-reiras sanitárias, comerciais a aos subsídios vergonhosos que existem. Graças a Deus a ao em-penho e dedicação do pecua-rista e do industrial brasileiro, o negócio de carnes no Brasil está com a musculatura de um atleta olímpico. Estamos pron-tos para derrubar barreiras cada vez mais fortes. Derrubá-las depende também de um apoio forte das autoridades. Traba-lhar sozinho nisto é uma luta inglória.

PR&Cia▶ E o futuro das ex-portações, como será?Schorr▶ Apesar das barreiras, o futuro da indústria de proteínas

animais do Brasil é brilhante. Não há nenhum país com as nossas condições de produção e a nossa capacidade de atender as demandas de uma população que cresce e enriquece. Precisa-mos andar para frente em ter-mos tecnológicos, melhorando índices de produtividade e pa-râmetros de qualidade. Prestar atenção à sustentabilidade tam-bém é fundamental.

PR&Cia▶ O mercado brasi-leiro está consolidado?Schorr▶ Ainda não. Podemos crescer muito. Há mercados importantes que podemos su-prir. Se melhorarmos o status sanitário, entraremos em novos e importantes mercados. Deve-mos também focar no aumen-to de valor agregado de nossos produtos. Mais que quantidade, devemos querer valor. Precisa-mos também ter uma postura comercial mais agressiva. Penso que o Brasil precisa deixar de ser comprado para ser vendi-do. O apoio das autoridades brasileiras é fundamental para continuarmos crescendo. A indústria de carne bovina no Brasil gera um produto total superior a R$ 50 bilhões e a sua cadeia de produção empre-ga mais 7,5 milhões de pessoas direta ou indiretamente. Não estamos falando de uma indús-tria qualquer. Estamos falando de um negócio altamente profis-sionalizado que gera empregos, renda, bem-estar. Diferente do que algumas autoridades pen-sam e erroneamente difundem, não é o boi o vilão ecológico do Brasil. Há espaço para um enorme crescimento sem que seja necessária a derrubada de uma árvore sequer. Há um mundo de pessoas que querem e precisam da carne produzida no Brasil ■

"A indústria de carne bovina no Brasil gera um produto total superior a R$ 50 bilhões e a sua cadeia de

produção emprega mais 7,5 milhões de

pessoas direta ou indiretamente. Não

estamos falando de uma indústria

qualquer"

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Capa mercado sucroalcooleiro

Com o mercado de etanol bastante aquecido, grandes empresas mundiais iniciam processo de aquisições de empresas brasileiras do setor e o Paraná entrou no roteiro por ser o segundo maior produtor do país. Por aqui, a Petrobras resolveu ingressar na área prometendo fazer oito aquisições milionárias, mas deve acontecer uma gradativa e enorme desnacionalização no setor.

ElEs EstãO ChEGANdO!

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refinaria de açúcar da Índia, Shree Renuka Sugars. O valor foi de US$ 82 milhões mais a absorção de dívidas na casa de US$ 240 milhões. Segun-do informações da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Para-ná (Alcopar), foi o primeiro ne-gócio com uma grande empre-sa internacio-nal ocorrido no estado. Mas outros deverão acontecer porque, a partir do momento que grandes players entram no mercado tudo muda, espaços são ocupados,

desde meados de 2009, o mercado sucroalco-oleiro tem passado por

um intenso processo de fusões e aquisições com a entrada de novos e grandes grupos inter-nacionais e com a movimen-tação cada vez mais agressiva da Petrobras no setor. Muito disso se deve a crise do setor e a posterior crise econômica internacional, quando diversas empresas enfrentaram escassez de crédito, baixa expectativa de crescimento e baixa produ-tividade das safras. O Paraná entrou efetivamente neste ro-teiro com a compra da pro-dutora paranaense de álcool e açúcar Vale do Ivaí, situada no Noroeste do estado pela maior

e resta pouco lugar para pe-quenos e médios empreendi-mentos. Uma característica do mercado paranaense aonde so-mente o grupo Santa Terezinha

possui condições de fazer frente aos novos gru-pos. De resto, é um quadro que se espalha pelo país.

Muitos pro-jetos de novas us i na s fora m interrompidos

e cerca de 50 unidades foram colocadas à venda desde 2008. Somente em fevereiro de 2010 houve quatro importantes anúncios de negócios. O pri-

us$ 82 milhões

foi o valor pago pela produtora

paranaense, mais aBsorção de dívidas

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Bioenergia, braço da francesa Louis Dreyfus Commodities no Brasil, com a Santelisa Vale. Com o acordo, a francesa pas-sará a ter 60% da companhia, capaz de processar mais de 20 milhões de toneladas de cana-

-de-açúcar por safra, criando a segunda maior companhia mundial de açúcar, etanol e bioenergia. No fim de 2009 a multinacional Bunge finalizou

meiro, e um dos mais impor-tantes, foi a assinatura de um memorando de entendimentos entre a Shell e a Cosan para a criação de joint venture no Brasil. Além dos ganhos no mercado de combustíveis, a união das empresas, avaliada em US$ 12 bilhões, poderá tornar a Shell uma das maiores produtoras de etanol e açúcar do mundo. O segundo foi o anúncio da fusão da ETH Bio-energia e Brenco. O terceiro foi a aquisição, pelo principal produtor de açúcar indiano, o grupo Shree Renuka Sugars, de 50,8% da Equipav Açúcar e Álcool. A participação ma-joritária na brasileira foi com-prada por US$ 329 milhões e o negócio prevê renegociação de dívidas. O quarto anúncio foi a compra de 50% da Usina Vertente, do Grupo Humus, por parte da Açúcar Guarani, do grupo frances Tereos. A operação envolveu R$ 105 mi-lhões. O processo de fusões e aquisições começou com força em 2009 com a criação de uma joint venture, entre a LDC

"A predominância de grupos estrangeiros reflete o levantamento do Banco Central, de que entre janeiro de 2007 a junho de 2009, o Brasil recebeu cerca de Us$ 3,1 bilhões de investimentos estrangeiros na indústria do etanol"

Adriano Pires

a aquisição das ações do Grupo Moema, que possui uma usina de cana de açúcar em Orindi-úva (SP), além de participação em outras cinco. A transação de US$ 1,5 bilhão não envol-veu dinheiro, foi realizada através da troca de ações com os acionistas da Moema, que passaram a deter cerca de 9% das ações da Bunge na Bolsa de Nova York. Com a finalização das negociações, a Bunge ad-quiriu 100% de 4 das 5 usinas do Grupo Moema. Ficou de fora a Usina Vertente.

Pesquisa divulgada pela KPMG mostra que de 2000 ao terceiro trimestre de 2009, o setor sucroalcooleiro regis-trou 99 fusões e aquisições envolvendo empresas brasi-leiras, sendo que apenas nos últimos três anos, foram 45, dos quais 22 foram negócios de empresas de capital estrangei-ro adquirindo representantes nacionais. “Pode-se dizer que, hoje, os principais produtores brasileiros são grupos estran-geiros. Ou seja, a consolidação do setor esta se dando através de uma desnacionalização. A predominância de grupos es-trangeiros reflete o levanta-mento do Banco Central, de que entre janeiro de 2007 a junho de 2009, o Brasil rece-beu cerca de US$ 3,1 bilhões de investimentos estrangeiros na indústria do etanol”, expli-cou Adriano Pires, Diretor do Centro Brasileiro de Infraes-trutura (CBIE).

Mas os grupos paranaen-ses também estão se mexendo. Após meses de negociação, o grupo paranaense Santa Te-rezinha concluiu a compra da Usaciga Açúcar, Álcool e Energia Elétrica SA, perten-

A produtora paranaense de álcool e açúcar

Vale do Ivaí, comprada pela maior refinaria

de açúcar da Índia.

Capa mercado sucroalcooleiro

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cente à família Barea, com uma usina em Cidade Gaúcha (PR) e um projeto "greenfield", pa-ralisado, em Eldorado (MS). A empresa, que está entre os maiores grupos sucroalcoolei-ros do Centro-Sul, não reve-lou o valor do negócio mas os ativos industriais da Usaciga, que tem capacidade de moa-gem de 2,3 milhões de tonela-das de cana por ano, estavam avaliados em US$ 230 milhões - considerando o preço médio de US$ 100 por tonelada ins-talada. O roteiro foi o mesmo de todos os negócios do tipo: no ano passado, os sócios da Usaciga - família Barea (51%) e a empresa de investimentos Clean Energy Brasil (49%) - anunciaram ao mercado que

estavam em dificuldades finan-ceiras e que precisam de um sócio estratégico. A dívida era quase toda de curto prazo, sen-do R$ 100 milhões em moeda nacional e cerca de US$ 60 mi-lhões em moeda estrangeira.

Mas há ou-tros negócios possíveis no Pa-raná e a Santa Terezinha que concluir a com-pra da Coocarol (Cooperat iva Agroindustrial dos Produ-tores de Cana), de Rondon (PR), também arrendada em 2008 pela empresa, que tem uma estimativa de moagem de cana para esta safra, de 18 mi-

lhões de toneladas, ante as 14,2 milhões de 2009/10. Com mo-agem de 40% da cana parana-ense, o grupo Santa Terezinha tem participação majoritária em dois terminais portuários

- um de açúcar, a Pasa (Para-ná Operações Portuárias), e outro de álcool, o Álcool do Pa-raná Terminal Portuário SA, e também é acio-nista de uma das

maiores tradings nacionais, a CPA Trading.

O apetite demonstrado pe-los grandes players parece ser cada vez maior, assim como as cifras que envolvem cada nego-

Quatro importaNtES aNúNcioS dE NEgócioS No SEtor SucroalcolEiro No iNício dE 2010

o negócio no que resultou

Joint venture no Brasil entre a Shell e a Cosan

poderá tornar a Shell uma das maiores produtoras de etanol e açúcar do mundo, um negócio avaliado em US$ 12 bilhões

Fusão da ETH Bioenergia e Brenco.

O negócio, que envolve troca de ações, tem valor estimado em R$ 7 bilhões

Aquisição de 50,8% da Equipav Açúcar e Álcool pelo grupo indiano Shree Renuka Sugars.

A compra da fatia majoritária da Equipav é o segundo negócio do grupo indiano no Brasil. O negócio prevê a injeção de R$ 600 milhões na companhia sucroalcooleira e produtora de energia elétrica de biomassa. A empresa indiana assumirá, ainda, proporcionalmente, parte da dívida de R$ 1,5 bilhão da Equipav

Compra de 50% da Usina Vertente, do Grupo Humus, por parte da Açúcar Guarani, do grupo frances Tereos

A francesa passará a ter 60% da companhia, capaz de processar mais de 20 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, criando a segunda maior companhia mundial de açúcar, etanol e bioenergia

58foi o número de operações

envolvendo empresas Brasileiras

insolventes nos últimos 3 anos

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14. Revista Paraná&Cia | junho.julho de 2010

ciação. Depois de realizar a sua primeira aquisição no Paraná, o grupo indiano Shree Renuka Sugars Ltd. comprou a parte majoritária da Equipav Açúcar e Álcool, que tem usinas nas cidades paulistas de Promissão e Brejo Alegre. O negócio pre-vê a injeção de R$ 600 milhões na companhia sucroalcooleira e produtora de energia elétrica

de biomassa. A empresa india-na assumirá, ainda, proporcio-nalmente, parte da dívida de R$ 1,5 bilhão da Equipav, que será renegociada. No Paraná, há pelo menos mais três usinas em dificuldades que se encai-xam no perfil de futuras aqui-sições e, no país, nos últimos três anos, houve uma média de 1,52 operação desse tipo por mês. Foram 58 operações envolvendo mais de 100 das cerca de 400 usinas de açúcar, álcool e bioeletricidade brasi-leiras. Famílias como Biagi, Junqueira e Rezende Barbosa, até então sinônimos de usinei-ros, fizeram apostas erradas na crise, enfrentaram dificuldades e viraram acionistas minoritá-rios de grandes companhias. E com a entrada da Petrobras

no setor, a movimentação deve continuar quente.

Um player nacional

A maior empresa brasileira montou uma estratégia agres-siva para investir no mercado de etanol e deu um mandato ao Bradesco para comprar oito usinas de etanol procurando garantir a liderança no setor de biocombustível e evitar o problema de desabastecimen-to de etanol como o que ocor-reu no início do ano, com os problemas de quebra da safra de cana-de-açúcar provocados pelo excesso de chuva. O obje-tivo é da estatal passar a deter pelo menos 25% da produção nacional de etanol, e seu pri-meiro investimento no setor foi a compra de 40% da usina mineira Total, por R$ 150 mi-lhões.

Mas a mais importante até aqui foi a associação da Pe-trobras Biocombustível com o Grupo São Martinho com a formação da empresa Nova Fronteira Bioenergia S.A., com a qual projeta elevar a sua ca-pacidade de moagem de cana--de-açúcar de 20 milhões para até 30 milhões de toneladas por ano até 2014. A Nova Fronteira Bionergia controla a usina Boa Vista, atualmente em produ-ção, e o projeto SMBJ Agroin-dustrial S.A., ambos localiza-dos em Goiás. A Petrobras Biocombustível, que ficou com 49% das ações da nova socieda-

de, fez um aporte de R$ 420,8 milhões enquanto o Grupo São Martinho entrará com seus ati-vos. A usina de Boa Vista terá sua capacidade de moagem am-pliada dos atuais 2,5 milhões de toneladas de cana para 7 milhões de toneladas na safra 2014/15. A nova empresa terá um patrimônio líquido de R$

Petrobras firma parceria no setor de cana-de-açúcar: Em abril, a Petrobras já havia adquirido 45,7% do capital da Açúcar Guarani num negócio calculado em R$ 1,6 bilhão. A Guarani é a quarta maior processadora de cana de açúcar do Brasil.

"Estamos anunciando a construção de mais uma grande empresa brasileira de biocombustível. A parceria apresenta importantes sinergias com outros ativos do sistema Petrobras"

Miguel Rossetto

Capa mercado sucroalcooleiro

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858,8 milhões e dívida líquida de R$ 409,5 milhões. "Esta-mos anunciando a construção de mais uma grande empresa brasileira de biocombustível. A parceria apresenta importantes sinergias com outros ativos do sistema Petrobras", ressaltou Miguel Rossetto, presidente da Petrobras Biocombustível.

Foto: Agência Petrobras

Em abril, a Petrobras já havia adquirido 45,7% do ca-pital da Açúcar Guarani num negócio calculado em R$ 1,6 bilhão. A Guarani é a quarta maior processadora de cana de açúcar do Brasil. Segundo Rossetto, os investimentos no Centro-Oeste, com o São Martinho, e o no Sudeste, com

a Guarani, são "os dois gran-des veículos de crescimento da companhia na área de etanol." "Estamos muito concentrados na consolidação dos dois inves-timentos", afirmou. A estatal projeta ter entre 4% e 5% da produção de etanol do país em 2014. Como se vê, muita coisa ainda irá acontecer ■

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Agronegócio aftosa

Mesmo com movimentação intensa dos governos e empresários do Paraná e Rio Grande do Sul, e de suas respectivas divisões sanitárias, ainda pode demorar que os dois estados sejam considerados pela OIE como territórios livres de aftosa sem vacinação.

Com o pé no freio

Conseguir o status de território livre de af-tosa sem vacinação

da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), é uma ambição que já foi declarada pelo Paraná e pelo Rio Grande do Sul. Há uma movimentação intensa dos governos e empre-sários do dois estados e de suas respectivas divisões sanitárias, mas a conclusão é a de que não deve existir precipitação sob pena de se repetir a experiên-cia ocorrida no Rio Grande do Sul, em abril de 2000. Naquela época os gaúchos deixaram de vacinar seu rebanho porque há sete anos não registravam casos da doença, situação pare-

cida com a de hoje. Porém, em agosto daquele mesmo ano, foi identificado um foco de aftosa no município de Jóia, no Norte do estado, que se espalhou ra-pidamente e obrigou ao sacri-fício de 11 mil animais pondo tudo a perder e trazendo muita frustração.

Conseguir este status, que hoje no Brasil somente Santa Catarina possui desde maio de 2007, no entanto, é algo possí-vel, embora ainda seja necessá-ria muita cautela. E gratificante pelas vantagens que traz para o setor, com a possibilidade de abertura de mercados como o dos Estados Unidos, Coréia do Sul e Japão para a carne in

natura brasileira e melhores preços para o produto.

“O status de região livre da doença sem vacinação é inte-ressante, mas o trabalho tem de ser muito bem estruturado e com garantias muito grandes”, afirma o presidente do Sindi-cato das Indústrias de Carnes do Rio Grande do Sul (Sicader-gs), Ronei Lauxen. “Nós temos consciência de que queremos isso, mas ainda não estamos preparados”, acrescenta o di-retor executivo da entidade, Zilmar Moussali.

“Tanto a Abrafrigo como o Sindicarnes-PR são favoráveis a obtenção deste status mas enquanto não tivermos estru-

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foram aprovados no concurso foram contratados 44. A Seab precisa de 65 médicos e 401 técnicos agrícolas. Foram cha-mados 48 médicos, mas apenas 15 se apresentaram. Do total de técnicos apareceram 25%.

Tudo isso é muito impor-tante porque nos dois estados, a partir de momento em que se reconhece o status, em relação ao trânsito de animais, não será mais permitida a entrada de bovinos e bubalinos vacinados e isso tem de ser controlado por meio das barreiras insta-ladas nas regiões de fronteira.

É por isso também, que o Rio Grande do Sul está procurando envolver nas discussões tanto o Uruguai como a Argentina. O primeiro país, por sinal, tam-bém está procurando trabalhar nesta direção. O Secretário es-

"O status de região livre da doença

sem vacinação é interessante, mas

o trabalho tem de ser muito bem

estruturado e com garantias muito

grandes"Ronei Lauxen

tura, equipes bem treinadas e fiscalização rigorosa, é melhor não fazer este tipo de tentati-va”, comenta o presidente das entidades, Péricles Salazar.

O Paraná estava mais avan-çado nestas tratativas mas dificilmente vai conseguir o reconhecimento de área livre de febre aftosa sem vacinação este ano como o estado pre-tendia porque não conseguirá cumprir todas as adequações exigidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento (Mapa) até novem-bro quando acontece a segunda etapa da campanha de imuni-zação deste ano. Os principais problemas, hoje, são a falta de pessoal e a necessidade de ade-quação de todas as barreiras sanitárias e ainda a construção de duas novas.

Durante reunião realizada em junho do Conselho de Sa-nidade Animal (Conesa), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), representantes de mais de 20 entidades tentaram escla-recer dúvidas sobre o processo, mas ficaram sem respostas. A avaliação do momento é que ainda não há data para suspen-der a vacinação dos animais.

O chefe do Departamen-to de Fiscalização e Defesa Agropecuária (Defis) da Seab, Marco Antonio Teixeira Pinto, disse que a secretaria é que será responsável pela fiscalização em parceira com a iniciativa privada, ou seja, com os pro-dutores. Hoje, há 394 Conse-lhos Municipais de Sanidade Agropecuária no Estado que podem ajudar neste trabalho.

Mas há necessidade de mais pessoal. Em 2006, o governo do estado realizou um concur-so para médicos veterinários e técnicos agrícolas. Dos 63 que

tadual de Agricultura gaúcho, Gilmar Tietböhl informa que possui um quadro de vigilân-cia sanitária com 400 técnicos e pede cautela. “Para garantir um sistema de vigilância durante 24 horas por dia esse contin-gente teria que ser dobrado”, garante ele.

No Paraná, o que se sabe, é que quando o estado estiver pronto para suspender a vaci-nação, o Mapa deverá realizar uma auditoria. Caso esteja tudo certo, após um ano é possível realizar a solicitação para a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que pode demorar até dois anos para apresentar o resultado.

O secretário estadual de Agricultura, Erikson Camargo Chandoha, diz, no entanto, que o Estado vai precisar ainda de uma estruturação das barrei-ras sanitárias. A ideia é fazer a licitação das obras onde é pos-sível e, onde não for, realizar parceria com a iniciativa priva-da. Hoje, há 33 barreiras sendo que 60% delas estão adequadas e o restante precisa de reforma e restruturação. Além disso, será necessário construir mais duas barreiras. Segundo ele, a parte que já está pronta é a informa-tização, compra de veículos e móveis, o que quer dizer que ainda falta muita coisa ■

Foto

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Aconteceu

No início de julho o Fun-do Monetário Internacional (FMI) elevou para 4,6% sua previsão de cresci-mento mundial para 2010, devido ao forte impulso da Ásia na primeira metade do ano, mas expressou preocupação sobre a crise das dívidas em países europeus.

O novo cálculo da entidade supera em quatro décimos o de abril e mantém sem mudanças sua previsão para 2011, de 4,3%.

Segundo o organismo, os países emergentes e as eco-nomias em desenvolvimento crescerão este ano meio ponto percentual a mais que o ante-riormente previsto. Este au-

Crescimento maior no planeta

mento foi liderado pelo Brasil, sobre o qual o FMI subiu sua previsão de crescimento em 1,6 pontos percentuais, para 7,1% este ano. Já a China terá um crescimento superior a 10% em 2010 e o da Índia está prestes a alcançar as duas cifras.

A Embraer anunciou que entregou 69 aviões no segundo trimestre de 2010, contra os 56 despachados no mesmo período de 2009. O aumento ocorreu com entre-gas maiores de jatos executi-vos e um volume menor de aviões comerciais enviados a clientes.

A carteira de pedidos firmes da empresa somava 15,2 bilhões de dólares em

Céu de brigadeiro na Embraer30 de junho, uma queda de 5 por cento sobre os 16 bilhões de dólares dos três primeiros meses do ano. Um ano antes, a carteira estava em 19,8 bilhões de dólares.

A empresa entregou 40 jatos executivos no segundo trimes-tre, mais que duas vezes o vo-lume de 19 aviões do segmento despachado no mesmo perío-do de 2009. A maior parte das entregas foi do pequeno

Phenom 100, somando 35 unidades. No semestre, fo-ram 59 envios. Na aviação comercial foram 29 aviões, contra 35 um ano antes, dos quais 15 do modelo 190. De janeiro a junho, a área acu-mula 50 entregas. No to-tal, a Embraer entregou no primeiro semestre um total 110 aviões, incluindo um Legacy 600 do segmento de defesa, contra 96 de janeiro a junho de 2009. A expecta-tiva de entregas para 2010 é

de 90 aviões comerciais e 137 jatos executivos. Em

2009, as entregas totaliza-ram 244 unidades, incluindo o segmento militar.

A Klabin está aportan-do R$ 60 milhões em uma linha de transmissão da futura hidrelétrica Mauá (PR), da Copel e de uma subsidiária da Eletrobras. A Klabin será consumido-ra de parte da energia da hidrelétrica. Além disso, futuramente, os dois próxi-mos grandes investimentos da Klabin, ainda sem data, serão no Paraná: uma linha de produção de celulose de 1,5 milhão de toneladas e uma máquina de papel de 400 mil toneladas de car-tões por ano integradas.

Klabin investe no Paraná para ampliar produtividade

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O Brasil ocupa a 4ª posição (de um total de 87) em um ranking elaborado pelo Banco Mundial com os países em que leva mais tempo para um estrangeiro abrir uma empresa.

Segundo o estudo, no país, o prazo médio para que todas as licenças necessárias ao fun-cionamento da companhia sejam emitidas é de 166 dias. À frente do Brasil no ranking estão Venezuela (179 dias), Haiti (212) e Angola (263). Dentre as nações em que a situação é melhor, estão o Vietnã (94 dias) e a Indonésia (86). Os países em que a legislação mais facilita a aber-tura de empresas por estrangeiros são Ruanda e Geórgia, com quatro dias cada, Canadá (6 dias) e Afeganistão (7). Nos Estados Unidos, o processo leva, em média, 11 dias.

A produção agrícola global precisa dobrar até 2050 para que a segurança alimentar mundial seja garantida, infor-ma a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O diretor-geral assistente da FAO e representante regional para Ásia e Pa-cífico, Hiroyuki Konuma, disse que a estimativa se baseia na previsão de que a população do mundo somará 9,1 bilhões de habitantes em 2050. A expectativa da FAO é de que o Brasil eleve sua produ-ção em 40% até 2019, enquanto China, Índia e Rússia deverão expandir as sa-fras em 20%. Se concretizados, esses au-mentos resultarão em produção agrícola global 1,8% maior. Konuma disse que, para atingir o objetivo, os investimentos agrícolas na região da Ásia e do Pacífico precisariam somar US$ 120 bilhões por ano, nos próximos 40 anos. Em escala global, os investimentos devem totalizar US$ 200 bilhões por ano.

Mais comidademora Injustificada

estimativas apontam que

sejam gerados 700 empregos

diretos

Companhia petrolífera líder na América latina quer investir no Porto de Antonina

Repsol em Antonina

Empresários argentinos da companhia petrolífera Repsol, uma das dez maiores empre-sas energéticas do mundo e a maior companhia privada do setor na América Latina, visi-taram no começo de julho o termi-nal paranaense de Antonina interes-sados na instalação de uma fábrica de plataformas de pe-tróleo que atenda a Petrobrás na exploração do petróleo em alto mar, além da criação de um porto naval para reparo de na-vios e rebocadores. Estimativas da companhia apontam que, so-mente na fábrica de plataformas petrolíferas, sejam gerados 700

empregos diretos.A localização geográfica e

a infraestrutura do terminal portuário de Antonina foram destacadas pelo grupo como “extremamente favoráveis

para o desenvol-vimento dos pro-jetos”. Segundo o gerente de fábrica da Repsol, Ariel Pozzi, uma avalia-ção detalhada das

características gerais do por-to paranaense será feita nos próximos meses e as consi-derações iniciais são bastante positivas. “Estamos anima-dos para fechar esta parceria e aproveitar todo o potencial que foi apresentado”, afirma

Foto APPA

Pozzi. “É uma atividade de longo

prazo, para a produção de na-vios plataformas que atuam em alto mar na retirada de petró-leo da camada pré-sal”, disse o diretor da empresa Bueno En-genharia, Avelino Bueno, que acompanha o grupo argentino.

Klabin investe no Paraná para ampliar produtividade

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Investimentos Fpt

A FPT, uma das empresas do Grupo Fiat, inaugura sua nova unidade industrial a partir da compra de uma das fábricas de motores mais modernas do mundo, instalada na antiga Tritec Motors, em Campo Largo/PR. O local será sede da maior e mais moderna planta para produção de motores midsize na América Latina, em um investimento de R$250 milhões.

O Pulo do Gato

Foi uma grande jogada do grupo FIAT. Apro-veitou a briga da BMW

com a Chrysler e comprou uma das fábricas de motores mais modernas do mundo em Campo Largo, região metro-politana de Curitiba. Com a tecnologia que veio junto com a aquisição, a empresa preten-de alavancar maiores vendas no mercado mundial, já que os motores produzidos na antiga fábrica da Tritec em-barcavam veículos de sucesso mundial como os Mini Coo-per e foram considerados por

revistas especializas como os melhores do mundo. Após dois anos de investimentos em intervenções tecnológicas, o Grupo Fiat deu início oficial-mente à linha de produção da FPT (Fiat Powertrain Tech-nologies) de Campo Largo/PR, a mais moderna unidade produtora de motores midsize da América Latina. Com in-vestimento de R$ 250 milhões em adaptações na planta, a empresa aumenta sua capaci-dade de produção de motores e câmbios em 20% no Mer-cosul, atingindo um poten-

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nova unidade A unidade industrial da

FPT em Campo Largo produzirá a família de

novos motores E.torQ da Fiat, que serão utilizados

no Punto 2011

cial produtivo de 2,5 milhões de sistemas de propulsão por ano. “Antes da aquisição, a produção dessa planta era vol-tada exclusivamente para a ex-portação, o que atesta o cará-ter global dos novos motores E.torQ. Hoje estamos prontos para atender não só ao merca-do brasileiro e sul-americano, mas também clientes dos cin-co continentes, pertencentes ou não ao Grupo Fiat, o que é um grande passo na estratégia da FPT”, diz Franco Ciranni, superintendente da FPT para o Mercosul.

A fábrica, que fica a 20 mi-nutos de Curitiba, produzirá apenas a família de novos mo-tores E.torQ da Fiat, que se-rão utilizados no Punto 2011. A produção da FPT Campo Largo teve início em feverei-ro, com capacidade inicial de

330 mil motores por ano, com previsão de chegar a 400 mil em 2012. Segundo o principal executivo do grupo na Améri-ca Latina, Cledorvino Belini, os investimentos no braço de propulsores e peças da multi-

nacional italiana teve início em 2008 e acompanha outra série de aportes em vista de ampliar os resultados. "Com isso, pre-vemos crescimento da Fiat na América Latina de dois dígitos para este ano. No Brasil, pre-tendemos crescer 8%", destacou Belini, sem falar de valores.

Melhorias para a região

A aquisição desta planta por parte da FPT deve gerar cerca de 500 novos empregos diretos e 1.500 novos empre-gos indiretos, impulsionando o crescimento econômico da ci-dade de Campo Largo, do pólo industrial local e do estado do Paraná. Alfredo Altavilla, CEO da FPT, afirmou que “a compra da unidade industrial de Cam-po Largo permitirá à empresa o alcance de dois importantes

"O Paraná já tem um parque automotivo

muito sólido, bastante avançado.

Nosso objetivo é, gradativamente,

contribuir para seu crescimento,

tentando trazer fornecedores que

hoje são de outras regiões do país"

Alfredo Altavilla

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objetivos estratégicos: o pri-meiro deles é a ampliação da atual gama de produtos, ofe-recendo ao mercado motores extremamente modernos e competitivos. O segundo, por conseqüência, é o de ampliar ainda mais as nossas vendas para novos clientes potencial-mente interessados neste novo produto”.

“O Paraná já tem um par-que automotivo muito sólido, bastante avançado. Nosso ob-jetivo é, gradativamente, con-tribuir para seu crescimento, tentando trazer fornecedores que hoje são de outras regiões

do país. É um trabalho que será feito aos poucos, de modo proporcional ao crescimento dos volumes pro-duzidos”, explica Ciranni. “Essa fá-brica nunca pro-duziu mais de 200 mil motores por ano, e essa marca vamos alcançar já em 2011, passan-do numa segunda etapa a 330 mil e, depois, a 400 mil. Naturalmente, os fornece-dores verão que é interessante se incorporar a essa oportuni-dade.”

Quando a FPT concretizou a aquisição da Tritec Motors, a porcentagem de componen-

tes importados nos motores era de 30%. A em-presa, então, rea-lizou um grande trabalho de mo-bilização de for-necedores, a fim de reduzir esse percentual – hoje

em 10% – sem jamais abrir mão da excelência dos propulsores. "No próximo ano vamos chegar a 5%", diz Alfredo Altavilla, principal executivo da FPT. A

Investimentos Fpt

é o número de motores por ano que a fpt

campo largo deve produzir até 2012

400 mil

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A FPT é uma das empresas do Grupo Fiat especialista em motores e transmissões. A companhia está presente em dez países, possui 22 fábricas e 14 centros de pesquisas. Com um total de 20 mil empregados em todo o mundo, produzindo 2,6 milhões de motores e 2,4 milhões de transmissões, registrou em 2009, um faturamento total de € 5 bilhões. Além de produtos para a Fiat, a FPT também desenvolve peças para outras montadoras.

A FPT

a fpt campo largo ficou responsável pela fabricação da família de propulsores e.torq, nas versões 1.6l 16v e 1.8l 16v, flex e a gasolina.

meta da empresa é, em 2011, fa-bricar os motores E.torQ com 95% de componentes nacionais. Segundo Altavilla, um traba-lho que chama de reengenha-ria abriu espaço para ampliar as

compras de peças no mercado brasileiro. "O parque de forne-cimento de motores do Brasil é um dos melhores do mun-do", afirma. Dessa maneira, a empresa também impulsiona a

Concebida com o conceito de produção enxuta, a FPT Campo Largo considera aspectos como ecologia, qualidade, alto nível do corpo profissional, gestão, produtos e processos – com elevado índice de automação e alta tecnologia incorporada.

economia local. A projeção é de que, em médio prazo, poderá se formar um novo polo industrial automotivo nas imediações de Campo Largo, a exemplo do que ocorreu em Betim após a chegada da Fiat – o que signi-fica empregos e riquezas para a região, além de melhorar a competitividade e o desenvol-vimento industrial ■

E.torQ 1.6l 16v

E.torQ1.8l 16v

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Expansão copel

Mesmo com atraso, a Copel decide finalmente expandir para fora do estado e agora mira projetos em todo o país. Exemplo disso é uma concorrência forte que venceu em São Paulo por novas linhas de transmissão.

A Copel vai ao mercado

sempre muito fechada dentro de si mesma e sem grandes arroubos

de imaginação, nos últimos anos a Copel se ateve ao mer-cado local, enquanto sua grande concorrente em termos de de-sempenho, a Cemig, de Minas Gerais, deu saltos gigantes ao ocupar fatias do mercado brasi-leiro concorrendo com as gran-des empresas estrangeiras que entraram no setor. A estratégia da empresa, no entanto, deve estar mudando com as trocas de diretoria pelas quais pas-sou. No dia 11 de junho, por exemplo, a subsidiária de ge-ração e transmissão da Copel foi um dos grandes destaques no leilão da Aneel realizado em São Paulo, para a concessão de novas obras de transmissão de energia elétrica. A Companhia arrematou a concessão de dois empreendimentos, ambos no interior do estado de São Pau-lo e integrantes do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), que reforçarão a rede básica do Sistema Interligado Nacional mediante investimentos estima-dos em cerca de R$ 270 milhões. Outro sinal: quando a Cemig fez uma oferta para adquirir a problemática Celesc, do vizi-nho estado de Santa Catarina, a Copel também fez a sua e não deixou a mineira ocupar um es-paço que, em tese, deveria ser seu. Na verdade, a Copel perdeu tempo e capacidade de expansão entre as energéticas, ao não ver simplesmente o que acontecia lá fora. O resultado é que não há

como confrontar a nossa estatal com a Cemig, cujas ações valem o dobro da regional por uma ra-zão muito simples: ela só per-de no Brasil para a Eletrobras. Minas Gerais, sem alarde, nos últimos cinco anos investiu R$ 5 bilhões em cinco aquisições do setor; comprou a italiana Terna e avançou em ne-gociações com a Light; conta com 63 usinas e capa-cidade de geração de 6,7 MW e o va-lor de mercado de suas ações, nego-ciadas no Brasil, Nova York e Es-panha, é da ordem de R$ 20 bilhões, o triplo do que valiam no início do governo Aé-cio Neves

Talvez não seja tarde para empatar essa disputa, já que a Copel está muito capitaliza-

da com seus bons lucros e há ausência de bons projetos para investimentos no Paraná, devi-do ao esgotamento do potencial energético. Seja como for, esta foi a primeira vez que a Copel disputou em leilão a concessão de empreendimentos em São

Paulo. “É uma conquista do Pa-raná, consequên-cia da orientação que nos deu o go-vernador Orlando Pessuti de procu-rar expandir os negócios da Co-pel para que ela se fortaleça e possa continuar cres-cendo”, observou

o presidente da estatal para-naense, Ronald Ravedutti. “A meta é consolidar uma posição de destaque para a Companhia dentro dos setores de geração e transmissão de energia elétrica

é o valor estimado para as concessão de dois empreendimentos

em sp arrematados pela copel

r$ 270 milhões

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O presidente da estatal paranaense, Ronald Ravedutti: aposta na expansão.

no País, e as duas obras que ar-rematamos no leilão registram de forma marcante a concreti-zação do desejo do governador, que é de ver a Copel disputando novos empreendimentos com mais ousadia e arrojo”.

Segundo Ravedutti, o suces-so da Copel no leilão de trans-missão “reafirmou a força e a competitividade da Companhia e, mais do que isso, a qualifi-cação e a competência de todo o seu quadro”. A estatal para-naense vai construir e operar uma nova linha de transmissão com 356 quilômetros de ex-tensão conectando, na tensão de 500 mil volts, as subesta-ções Araraquara 2 e Taubaté, e uma subestação com 300 MVA (megavolts-ampères) de capa-cidade na cidade de Cerquilho, localizada na região centro-leste do estado, a 150 quilômetros da capital paulista. O prazo para a entrada em operação dos dois empreendimentos é de 24 meses, contados a partir da outorga das concessões, cuja validade é de 30 anos. O primeiro dos dois empreendimentos arremata-dos pela Copel no leilão foi a construção e operação de uma linha de transmissão em 500 mil volts e 356 quilômetros de extensão entre as subestações Araraquara 2 e Taubaté, colo-cado em disputa com o teto de R$ 31,2 milhões de remunera-

ção anual máxima permitida. O lance vencedor apresentado pela Copel, de R$ 21 milhões, significou deságio de 36% sobre o máximo permitido.

Essa linha de transmissão, segundo a Aneel, vai possibilitar o escoamento pleno da energia proveniente das usinas do rio Madeira (Jirau e Santo Antônio) até os principais centros de car-ga na região Sudeste. “Essa refe-rência ilustra bem a importância dessa linha de transmissão que iremos construir”, sublinha Ro-nald Ravedutti. “As usinas do rio Madeira estão entre os prin-cipais reforços com que conta o

Sistema Elétrico Interligado nos próximos anos, e o transporte dessa energia até os centros de consumo é uma etapa crucial do processo”.

Estimativas preliminares da Copel indicam que essa obra de-verá demandar investimentos da ordem de R$ 230 milhões, apro-ximadamente. Já a Aneel calcula que as obras possam gerar cer-ca de 900 empregos diretos. A cidade paulista de Cerquilho tem aproximadamente 40 mil habitantes e está localizada nas proximidades de Piracicaba, So-rocaba e Campinas, região que vem registrando forte cresci-mento nos níveis de consumo de energia elétrica por estarem

sendo incorporadas novas ati-vidades do setor industrial na região. Lá, onde já operam duas subestações, a Copel irá construir a terceira, na tensão de 230 mil volts e com 300 MVA de potência de transformação, adicionando mais eletricidade para o suprimento de toda a região.

Novo mercadoSegundo nota da empresa, a

conquista de dois lotes no leilão de transmissão realizado hoje marcou o ingresso da estatal pa-ranaense Copel no mercado de energia do Estado de São Paulo. Na disputa, a empresa ganhou a concessão da linha de transmis-são (LT) Araraquara 2 - Taubaté e da subestação Cerquilho III, vencendo empresas estabeleci-das no mercado paulista, como Cteep e Furnas. "Para nós, a entrada em São Paulo é estra-tégica", disse o diretor de enge-nharia da Copel, Edson Sardeto, após conclusão da licitação, pro-movida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Segundo ele, o ingresso da Copel já reflete a nova dire-triz da companhia de ser mais agressiva nos leilões promovidos pelo governo federal, postura incorporada com o ingresso de Ronald Ravedutti na presidência da companhia recentemente.

Sobre a participação em no-vos leilões, o executivo disse que a Copel tem interesse em linhas de transmissão no Sul e no Su-deste. "Mas o nosso interesse não se restringe à transmissão. Queremos recuperar mercado em geração também", disse o executivo. Segundo Sardeto, a participação da Copel em gera-ção caiu de 5%, em 2002, para 3,5%, em 2010. Além de dispu-tar os leilões de novas usinas, a estatal não descarta aquisições de ativos existentes ■

"Mas o nosso interesse não se restringe à transmissão.

Queremos recuperar mercado em geração

também"Edson Sardeto

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O aumento de 4,2% no emprego in-dustrial em maio em comparação a igual mês do ano passado representou a maior variação neste quesito apurada pelo Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde outubro de 2004, quando a expansão foi da mesma magnitude. O re-sultado de maio representou a quarta taxa positiva consecutiva na ocupação do setor e em termos regionais, ante maio de 2009, houve aumento do emprego na indústria em todas as 14 regiões pesquisadas pelo IBGE, com destaque de influência positiva para São Paulo, que contribui com cerca de 40% da ocupação nacional do setor e re-gistrou expansão de 3,3% nesse confronto.

Emprego em alta

Bússola

Bebendo para esquecer a crise

O consumo de uísque do tipo scotch vem batendo recordes no mundo todo e, em 2009, as exportações da Escócia atingiram algo próximo a US$ 5 bilhões. As explicações para isso são várias, mas as mais criativas apontam que na Europa e Estados Unidos se bebeu muito mais para esquecer a crise do ano passado, enquanto que nos países emergentes se consumiu mais scotch justa-mente para comemorar bons resultados das economias diante das dificuldades. Segun-do as agências de notícias internacionais, as vendas no ano passado em, relação a 2008, aumentaram 44% no Brasil, 7% na África do Sul e 13% nos Estados Unidos e na Fran-ça. Para atender à demanda, empresas como Pernod Ricard e Diageo fizeram investimentos de cerca de US$ 890 milhões de dólares nos últimos três anos em ampliação da ca-pacidade de produção e construção de no-vas destilarias.

A busca dos consumidores brasileiros por crédito cresceu 16,6% no primeiro semestre do ano em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a Serasa Experian, empresa especializada em informações financeiras. No mês de junho, houve alta de 4,1% na demanda por crédito em relação ao mesmo mês de 2009 e queda de 10,2% diante de maio deste ano. A queda na comparação men-sal, de acordo com a Serasa Experian, está ligada à realização de três jogos da seleção na Copa do Mundo em dias úteis de junho, o que reduziu as operações de crédito. Além disso, o Dia das Mães, co-memorado em maio, tradicionalmente gera mais operações de crédito que o Dia dos Namorados, em junho.

No semestre, a alta foi puxada pelos consumidores de baixa renda que apre-sentaram aumento de 26,6% na demanda por crédito.

Crédito continua aquecido

Foto: SECS

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Conab estima colheita recorde de 8,6% a mais que as 135,13 milhões toneladas da última safra

A safra de grãos no Brasil, ciclo 2009/10, foi estimada pela Conab no início de julho em 146,75 milhões de toneladas no seu 10º levantamento, o que sig-

nifica uma colheita recorde de 8,6% a mais que as

135,13 milhões toneladas

da última safra. Com relação ao levantamento de junho, houve uma redução de 168,4 mil tone-ladas. O motivo é a correção na área de plantio e na pro-dutividade do feijão terceira safra, afe-tado pelo clima, no estado da Bahia.

é quanto deve ser o crescimento da próxima safra de

soja

20,2%

Outra supersafra

A paranaense Standard Logística investiu R$ 15 milhões na construção de uma unidade de armaze-nagem frigorificada e na ampliação da infraestrutu-ra do Terminal Intermodal Rodoferroviário em Cambé para operar com a América Latina Logística (ALL) e o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP). O arma-zém vai funcionar como Redex-Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação, transpor-

standard logística se alia a All e ao terminal de contêineres

A soja deve alcançar 68,7 milhões toneladas, 20,2% ou

11,5 milhões to-neladas a mais que na safra ante-rior. Para o milho segunda safra, o crescimento pre-visto é de 11,9%, com um total de 19,41 m i l hõe s

toneladas. A produção total do cereal deverá atingir 53,46 milhões toneladas, somadas a primeira e a segunda safras, com ganho de 4,8% em relação ao período passado. O total de área plantada é de 47,34 milhões de hectares, inferior em 0,7% (338,9 mil ha) à safra 2008/09.

tando a carga da ferrovia direto para o navio.

A unidade aguarda li-beração do Ministério da Agricultura na primeira quinzena de agosto para trabalhar com produtos de origem animal da Big Fran-go e Seara. O armazém tem capacidade para cinco mil posições palets numa pri-meira fase e deve alcançar a 15 mil posições na segunda etapa. São 34 mil metros quadrados de área total, contemplando o armazém

Foto:APPA

para cargas frigorificadas e se-cas, pátio com 60 tomadas para contêineres reefer e depósito para 700 contêineres vazios.

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Porto de Paranaguá passa a receber navios com mais de 300 metros e, com isso, ganha escala e permitirá redução dos custos logísticos como um todo.

Embarcando Gigantes

No começo de julho, o Porto de Paranaguá recebeu o navio Cap

Scott, com 295 metros de com-primento, 32 metros de largura e capacidade para 5.047 uni-dades de contêineres, a maior embarcação já recebida no ter-minal paranaense. Embarca-ções deste tipo, denominadas de Pós-Panamax devido a seu tamanho ultrapassar o limi-te das comportas do Canal do Panamá, são consideradas de grande porte e permitem dimi-nuir custos de frete e aumentar a quantidade de carga transpor-tada. Seu uso é uma tendência mundial, e quem não se adap-tar a ela pode começar a perder carga e receita. A liberação para a entrada deste tipo de embar-cação foi assinada pelo superin-tendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antoni-na, Mario Lobo Filho, levando em consideração uma portaria publicada pela Capitania dos Portos do Paraná. Daqui para frente, o Porto de Paranaguá está autorizado a receber navios com até 301 metros de compri-mento e 40 metros de largura. Até aqui, a norma de navegação vigente só permitia a entrada

de navios com no máximo 285 metros de comprimento.

De acordo com o capitão dos portos do Paraná, Marcos Antônio Nóbrega Rios, “a dra-gagem feita no ano passado foi importante para possibilitar a atracação de embarcações maio-

res, assim como a implantação e manutenção de melhorias e nor-mas de segurança exigidas pela Marinha do Brasil”.

As vantagens de poder re-ceber navios de grande porte são destacadas pelo diretor--superintendente do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), Juarez Moraes e Silva. “Teremos maior oferta de carga

reefer (congelados) já que estes navios são mais modernos. Além disso, a decisão mantém Parana-guá como um porto estratégico para a América Latina”, afirmou.

“Este ganho de escala permi-tirá redução dos custos logísticos como um todo, a ser refletido em toda a cadeia de suprimentos. A expectativa é de que os navios se-guirão crescendo, demandando para 2011 portos estruturados para receber embarcações acima de 330 metros de cumprimento. O desafio será investir na expan-são dos berços existentes, em equipamentos de última geração e principalmente em dragagem, para calado acima de 14 metros”, disse Silva.

Segundo Mário Lobo Filho, a medida deve garantir maior competitividade ao terminal paranaense e atrair novos usu-ários. “Os navios Pós-Panamax são resultado da modernização do comércio internacional e o Porto de Paranaguá, como um dos mais importantes do Brasil, acompanha esta evolução. Com a movimentação de grandes vo-lumes de carga nossas operações ficam mais dinâmicas e lucrati-vas para exportadores e impor-tadores” ■

Logística porto de paranaguá

"A dragagem feita no ano passado

foi importante para possibilitar

a atracação de embarcações

maiores, assim como a implantação

e manutenção de melhorias"

Marcos Antônio Nóbrega Rios

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Até o início da década de 2000 a média de capacidade dos navios que passavam pela costa brasileira era de 2,5 mil TEU’s ( medida equivalente a um contêiner de 20 pés). Nos últimos anos, porém, esta capaci-dade vem dando saltos: chegou a 3,8 mil TEU’s em 2005; subiu logo para 3,8 mil TEU’s e hoje está em 5,9 mil TEUS. No final do ano, a principal empresa de navegação que trabalha com contêineres na América Latina, a Hamburg Süd, pretende colocar em operação o primeiro de uma série de navios com capacidade de 7,1 mil TEUS. Um navio como este não entra em Paranaguá com seu calado atual. Para 2014, a empresa planeja

navios de 9 mil TEUS e está construindo seu próprio terminal de contêineres privativo, o Tecon Santa Catarina, junto com o Grupo Battistella, em Itapoá, Santa Catarina, jus-

tamente para receber este tipo de embarcação. O novo porto deve ser inaugurado no final do ano e trabalhará como “hub port”, ou seja, receberá carga dos navios maiores e distribuirá para o restan-te do país em navios menores ou por outros modais. Mas Paranaguá não está sozinha nas dificuldades para receber este tipo de embarca-

ção: Santos e maioria dos portos brasileiros enfrentam o mesmo problema de como se preparar para o futuro da navegação.

Embarcações do tipo Pós-Panamax (foto), que Porto de Paranaguá começa a receber, são uma tendência mundial, e quem não se adaptar a ela pode começar a perder carga e receita.

Um pouco do histórico e perspectivas

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a empresa planeja colocar

em operação navios de 9 mil

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Cooperativa lar

Há 14 anos no Paraguai, a cooperativa paranaense Lar inaugurou unidade própria em San Alberto, Alto Paraná. A oitava unidade naquele país.

Crescendo fora da fronteira

Fundada há 46 anos por um grupo de agriculto-res que buscavam maio-

res vantagens e competitivida-de na aquisição de insumos agrícolas e na comercialização de sua produção, a Cooperati-va Agroindustrial Lar cresceu mais do que seus pioneiros podiam imaginar, chegando até mesmo a cruzar fronteiras.

Presente no Paraguai desde 1996, a cooperativa inaugurou no final de junho uma unidade própria no município paraguaio de San Alberto, Alto Paraná. A estrutura conta com a capaci-dade estática de armazenagem superior a 30.000 toneladas, alta capacidade de beneficia-mento e secagem de grãos e ainda com um depósito central

de agroquímicos, 3 silos metáli-cos com capacidade individual de 10 toneladas, balança para 100 toneladas, tombador de 80 toneladas, secador de 130 to-neladas/hora e es-trutura de recepção de 33 mil toneladas. O total de inves-timentos chega a US$ 3.500.000. "A proposta em implantar unida-des em outro país além da expansão econômica, gera a integração entre culturas e disponibiliza oportunidades de emprego e renda, o que con-tribui com o crescimento local e internacional de ambos os pa-íses", disse o diretor presidente da cooperativa, Irineo da Costa

RodriguesCom mais de 8.500 associa-

dos hoje e grande investimento em estrutura e equipamentos, a marca Lar é exemplo em cresci-mento e expansão. A primeira das unidades inauguradas no Paraguai, há 14 anos, foi a de Mbaracayú, um marco inicial de vendas e recepção de grãos. A essa unidade, se somam ou-tras sete e o escritório central em Ciudad del Este. Atualmen-te são mais de 700 clientes, a área de atuação é superior a 100 mil hectares cultivados e 300 mil toneladas de grãos que são recebidos e comercializados.

Além da diretoria executiva da Coopearativa Lar, a cerimô-nia de inauguração foi presti-giada pelo vice-ministro da In-dústria do Paraguai, Salvador Imbernice; pelo prefeito de San Alberto, Romildo Maia; auto-ridades militares e eclesiásticas, além de um grande número de produtores rurais. A unidade está em funcionamento, e já recebendo a produção do mi-lho segunda safra. "Estamos prontos para desempenhar um ótimo trabalho, até porque esta é a estrutura mais ampla e mo-derna da Cooperativa", garantiu o gerente da Lar no Paraguai,

Ovídio Zanquet.

No BrasilA sua área de

ação está centrada na Região extre-mo-oeste Para-naense, atuando em 12 municípios.

Conta com 14 unidades de re-cepção de produtos agropecu-ários, com industrialização de soja, mandioca, vegetais conge-lados, aves e 13 postos de venda de insumos e supermercados onde também são realizadas as atividades administrativas ■

a nova estrutura conta com a capacidade estática de

armazenagem superior a 30.000

toneladas

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Há pouco mais de cinco anos o BRDE liberou R$ 3,8 milhões para que a empresa iniciasse suas atividades. E, de lá para cá, a So-oro não parou de crescer, com-provando a visão que Willian e Esméria tinham do negócio. Tanto que, em meados de ju-nho, o BRDE liberou mais R$

7 milhões destina-dos à implantação de uma Unidade de Processamento de Concentrado Protéico de Soro que irá duplicar a capacidade da em-presa e vai triplicar

seu faturamento hoje na casa dos R$ 20 milhões. Com essa operação, a empresa, de origem familiar, poderá se transformar na maior fabricante de soro de leite em pó do Paraná.

Os sócios da empresa , William da Silva e Leandro Tenfem, disseram que com essa linha de crédito vão ampliar a capacidade de produção. Com isso, acreditam que, em cinco anos, vão dobrar a produção de soro de leite em pó das atuais 36

Nicho de Mercado Sooro

Situada em Marechal Cândido Rondon, onde processa soro de leite, transformando-o num pó utilizado por indústrias como Nestlé e Kraft Foods, a Sooro achou um novo e rentável nicho de mercado.

Matéria-prima do Oeste

Criada por dois ex-fun-cionários da Coope-rativa Central Frime-

sa, Willian da Silva e Esméria Engels, a Concentrado Indús-tria de Produtos Lácteos, mais conhecida como Sooro, está situada em Marechal Cândido Rondon, no Oeste paranaense onde processa soro de leite (subpro-duto da fabricação do queijo), trans-formando-o num pó que é utilizado por indústrias de alimentos do porte da Nestlé e Kraft Foods. É um nicho de mercado que foi percebido pelos empre-endedores quando ainda tra-balhavam na cooperativa que, por sinal, chegou a iniciar um projeto nesta área, ao qual não chegou a dar seqüência.

“Nós fundamos a nossa em-presa a partir da desistência da Frimesa de investir no setor por-que havia muitas oportunida-des para crescer já que boa par-te deste tipo de matéria-prima é importada”, conta Willian da Silva. E O BRDE foi a institui-ção escolhida pelos empreende-dores para o primeiro contato em direção a um financiamento que permitisse o início da ativi-dade que, inclusive, possui um impacto ambiental positivo, uma vez que, quando o soro não é industrializado ou convenien-temente tratado, representa um grande risco ao meio ambiente uma vez que seu potencial polui-dor é cerca de cem vezes maior que o esgoto doméstico.

toneladas por dia em equivalen-te pó para 70 toneladas por dia em equivalente pó. Atualmente, são fornecedores para grandes indústrias de alimentos que fa-bricam achocolatados e sorvetes, principalmente. A própria Kraft Foods se interessou em asses-sorar a empresa no seu projeto de ampliação para transformá-la em seu fornecedor brasileiro.

Com a linha de crédito no valor de R$ 7 milhões, os inves-timentos da Sooro somam R$ 10,8 milhões, somente em re-cursos do BRDE. O empresário adiantou que com os recursos pretende investir na construção de sistemas de produção e torre de secagem mais modernos. Se-gundo Silva, a fabricação desse tipo de produto é muito comum na Europa e Estados Unidos, mas o Brasil costuma utilizar matéria-prima importada. A fá-brica gera em torno de 120 em-pregos diretos e com a expansão decorrente do financiamento do BRDE, pretende ampliar o nú-mero de empregos diretos para algo entre 150 a 170 postos de trabalho ■

Instalações da Concentrado Indústria de Produtos Lácteos, mais conhecida como Sooro, situada no Oeste paranaense

com os novos empréstimos do Brde, a empresa

pretende duplicar a capacidade e triplicar seu faturamento

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Energia Energia Eólica

Com grande potencial de geração, a energia eólica vem ganhando maior destaque no Brasil crescendo quase 80% em 2009.

A brisa que dá lucro

A crescente demanda no consumo de ener-gia elétrica devido ao

crescimento econômico desses últimos anos e a expansão da rede elétrica, que proporciona um maior acesso à energia, tor-nou necessário investimentos no setor em novas alternativas. Tenta-se hoje, de forma ainda modesta, expandir a oferta de energia com novas concessões para construção e exploração de usinas hidrelétricas ou com a retomada do projeto de cons-trução de uma terceira usina nuclear, ou mesmo com as fon-tes alternativas de energia que vêm sendo destaque devido ao baixo impacto ambiental. E é nessa terceira alternativa que se vislumbra maior crescimento.

Ganhando maior destaque no país, a energia eólica aumen-tou no Brasil 77, 7% em 2009, em relação ao ano anterior. Com isso, o país passou a ter uma capacidade instalada de 606 megawatts (MW), contra os 341 MW de 2008, segundo dados divulgados pelo Conse-

lho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), mostrando que o país cresceu mais do que o dobro da média mundial que foi de 31%.

Tratando-se das formas al-

ternativas de produção, o Brasil se destaca por seu grande po-tencial eólico, sendo estimado em 143.000 MW, ou o equiva-lente a quase oito itaipus se-gundo o Ministério de Minas e Energia. Atualmente, somente uma parte irrisória é utilizada.

A importância de tal recur-so é tanta que estima-se que com ela é possível produzir aproximadamente 12% da energia mundial, representan-do a não emissão de 10 bilhões de toneladas de dióxido de car-bono na atmosfera conside-rando um período de 12 anos, sendo que parte significante dos 12% está concentrada por aqui.

O Brasil se destaca em nú-meros porque cresceu mais, por exemplo, que os EUA, que

"O Brasil tem ainda muito terreno para crescer na energia eólica, sendo importante por complementar o potencial hidráulico. Inclusive porque ela não consome água, que é um bem cada vez mais escasso"

Pedro Perrelli

capacidade mundial de utilização de energia eólica

180,000

160,000

140,000

120,000

100,000

80,000

60,000

40,000

20,000

0itaipu 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

O crescimento da energia eólica no mundo tem sido vertiginoso. Em 2008 a capacidade total instalada atingiu a marca dos 115.000 MW, equivalente a cerca de 8 usinas de Itaipu. Entre 1998 e 2007 a média anual de crescimento ultrapassou os 28% ao ano!

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teve aumento de 39%, a Índia (13%) e a Europa (16%), mas menor que o da China, cuja ca-pacidade de geração ampliou--se em 107%. Entretanto o país cresceu menos do que a média da América Latina, cujo aumento foi de 95%, puxado, em grande parte, pelas expan-sões de capacidade do México (137%), Chile (740%), da Costa Rica (67%) e Nicarágua (que saiu de zero para 40 MW).

De acordo com a pesquisa, a capacidade da América La-tina passou de 653 MW para 1,27 gigawatt (GW ou 1.270 MW), enquanto a capacidade do mundo ampliou-se em 37,5 GW, chegando a 157,9 GW. Em termos absolutos, os Estados Unidos têm uma capacidade de

35 GW, a China, de 25 GW, a Índia, de 11 GW e a Europa, de 76 GW.

O Brasil responde por cerca da metade da capacidade insta-lada na América Latina, mas re-presenta apenas 0,38% do total mundial. Para o diretor-executi-vo da Associa-ção Brasileira de Energia Eólica (A BE E ó l i c a) , Pedro Perrelli, o desenvolvimento do parque eólico do país só não é maior porque o Brasil tem muita capacidade hidrelétrica ins-talada e potencial. Segundo ele, apesar disso, o Brasil

é o potencial eólico estimado do Brasil, ou o equivalente a

quase oito itaipus

143 mil mW

tem ainda muito terreno para crescer na energia eólica, sendo importante por complementar o potencial hidráulico. Inclu-sive porque ela não consome

água, que é um bem cada vez mais escasso e vai ficar cada vez mais controlado, d isse Perrel l i . De acordo com a ABEEólica, a capacidade ins-talada de energia eólica no Brasil

deve crescer ainda mais nos próximos anos. Isso porque um leilão realizado no ano passado comercializou 1.805 MW que devem ser entregues

até 2012 ■

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moiNHoS dE ENErgiaOs países com maior participação eólica no

consumo de energia elétrica (em porcentagem do total)

Dinamarca ............. 21,4%Espanha ................... 8,8%Portugal ....................... 7%Alemanha...................... 7%Índia .......................... 1,7%Inglaterra .................. 1,5%Itália .......................... 1,3%Estados Unidos ......... 0,8%França ....................... 0,7%BRASIL .................. 0,23

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Exatamente um ano depois da Gazeta Mercantil circular com sua última edição e fechar definitivamente

O quebrador de jornais

suas portas depois de 83 anos de existência, o empresário baia-no Nelson Tanure comunicou oficialmente que o centenário Jornal do Brasil vai deixar de circular e ficar somente com suas páginas na Web. Tanu-re um dia sonhou em ser um grande empresário de comuni-cação, mas vai é ficar marcado como o empresário que mais prejudicou o setor, um Midas ao contrário que tudo que toca vira pó. Especialista apenas em adquirir empresas quebradas para depois passá-las adiante, não teve talento para levantar tanto a Gazeta Mercantil como o Jornal do Brasil e contribuiu efetivamente para o seu final melancólico. Ressalve-se, no entanto, que parte da culpa da quebra de dois dos maiores e mais tradicionais veículos de comunicação do país também é da nossa legislação trabalhista que, entre multas e sentenças desenxabidas, deixou a Gaze-ta Mercantil com um passivo impagável de R$ 200 milhões. O total de dívidas do Jornal do Brasil estima-se em R$ 100 milhões, mas o desfecho des-tas ações todo mundo já sabe: muita pouca gente vai receber alguma coisa.

O mais triste de tudo isso

é ver um exemplo do que de melhor já se produziu no jorna-lismo brasileiro simplesmente naufragar. O Jornal do Brasil, até a década de 80, era o nosso New York Times até na mode-lagem dos textos com “lead” de no máximo cinco linhas. In-dependente, sem interferências dos proprietários, a Condessa Carneiro Pereira e sua família, o jornal tinha a melhor equipe e a melhor linha editorial do país. Se algum jornalista aparecia como promessa no mercado, o JB ia lá contratá-lo pagando sempre

mais do que o dobro do que ele ganhava. E sempre inovava: criou o primeiro caderno de cultura do país - o Caderno B - e foi o primeiro jornal a ter uma edi-toria de economia, além de ter um projeto gráfico anos luz na frente de seus concorrentes como o Globo e Estadão. A Folha de São Paulo, muito atrelada ao regime militar da época, sequer existia como jornal. Problemas financeiros decorrentes de uma aventura de tentar ingressar no segmento de TV na época do go-verno Geisel fizeram com que o jornal começasse a soçobrar. Sua independência, de certa manei-

ra, ameaçava a ditadura militar e o projeto de TV foi vetado por Geisel, mas a dívida ficou. Enquanto isso, o Globo, que sempre esteve do lado da dita-dura, passou a receber mais e mais ajuda e a crescer até ultra-passar o JB. Nos últimos anos, o Jornal do Brasil era apenas uma caricatura de veículo em-bora ainda assombrasse a mídia com alguns “furos” como o do mensalão, o qual foi o primeiro a denunciar. Mas era um jornal meio sem cor, meio marrom e meio sério, um tipo de veícu-lo em extinção no mundo por causa da Internet. Dizem que os jornais impressos vão desa-parecer em 2043, mas aqui eles começaram a sumir bem antes disso por culpa de empresários como Tanure que, em realida-de, não são assim tão diferentes dos Frias, Civitas, Marinho e dos Mesquita. São empresas familiares que defendem seus interesses, e seus jornalistas não defendem os fatos, e sim a linha editorial proposta pelo patrão. Talvez, por isso, a cir-culação de jornais no Brasil tenha caído tanto, a ponto da Folha de São Paulo ter uma tiragem de menos de 300 mil exemplares diários quando, em bons tempos de seriedade, saia com mais de 1 milhão. O leitor não é tão burro como acham os donos da mídia, me parece. Para quem trabalhou no JB nos seus áureos tempos como eu, isso dói profundamente, mas acho que o fim de algum jor-nal em alguma parte do mundo será notícia corriqueira neste futuro próximo ■

por Norberto Staviski

Artigo

"O mais triste de tudo isso é ver um exemplo do

que de melhor já se produziu no

jornalismo brasileiro simplesmente

naufragar"

Norberto Staviski, ex-diretor da gazeta mercantil no paraná, é

jornalista em curitiba

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