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7/24/2019 Parecer Sobre o Core Da Cidade Universitria_Mrio Pedrosa
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6712[2003 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de ps-graduao do departamento de arquitetura e urbanismo eesc-uspr sco
Mrio Pedrosa
Parecer sobre o coredacidade universitria
onsideraes gerais
Ocoreda Cidade Universitria, embora tenha caracte-
rsticas comuns a qualquer core, no pode ser
confundido com o de uma cidade, de uma aldeia
ou mesmo de um bairro residencial ou o de um
grupo de ruas urbanas. Enquanto esses outroscores
so formados por uma escala de atividades as maisdiversas, dos crculos privados aos pblicos, e
freqentados pelos mais diferentes grupos de
cidados, quer do ponto de vista social, quer do
ponto de vista de idade, o da Cidade Universitria
se distingue pela homogeneidade social a que se
destina: os universitrios, alunos e professores. Esta
distino capital.
Outra diferenciao que, enquanto os outros centros
de comunidades urbanas so delimitados por lojas
comerciais, ruas residenciais, reparties pblicas,o nosso s o por unidades arquitetnicas de
destinao pblica. Em conseqncia disto, o perigo
de tal condicionamento torn-lo no um centro
realmente convivencial, mas um local frio, deserto,
sem vida, por lhe faltarem os recursos e as fontes
recreativas de uma comunidade urbana real. Assim,
o centro deixaria de exercer um de seus atributos
capitais: a fora de atrao sobre a comunidade,
sobre as gentes que devem habitar a cidade.
Na Cidade Universitria o core centro cvico (e sed nfase ao conceito), centro cultural, centro
artstico e tambm deve ser centro socialmente
atrativo e recreativo.
Assim, deve ser ele a corporificao de uma idia,
idia necessariamente de sntese, idia global por
espontaneamente evolar-se,1por si mesma, de uma
comunidade altamente qualificada, parcamente
diversificada e socialmente homognea: a Cidade
Universitria. Cabe-lhe expressar essa idia-sntese,
atravs [d]as atividades mesmas que formam o seutodo espacial. Com efeito, essa idia, como um gs,
C enche, toma o espao todo e, ao mesmo tempo,encarna-se aqui ou acol, neste ou naquele local,concretamente, diferenciando-se nesta ou naquela
atividade formativa docore, sem permitir, contudo,
que nenhuma delas se destaque,
individualisticamente isolada das outras. H, ao
contrrio, permanente relao entre elas.
Todo o seu espao constitudo de vazios e cheios,
como uma escala arquitetnica, para destacar ou
articular as atividades formativas do centro comu-
nitrio. que este no definido nem vitalizado
por mera relao de volumes no espao fechado,
ou apenas materialmente definido pelos edifcios
fsicos ali erigidos. -o, antes, pela inter-relao
dinmica das atividades, que se devem exprimir
nas formas arquitetnicas, nos espaos intervalares
interiores, nas perspectivas com que se defrontam,
nas finalidades a que se destinam. No se quer dizer,
porm, com isso que todas essas atividades se
definem pelas simples formas arquitetnicas indivi-
duais e isoladas, como smbolos estticos, que
acabam se convencionalizando, mas pelo dilogo
permanente de umas com outras, de modo que a
rea, em conjunto, exprima uma totalidade dinmica
no espao, dentro da qual cada elemento se afirme
sem violar-se, se integre sem sumir-se.
Atividades formativas do coreNo contando, intrinsecamente, com os fatores mais
atuantes sobre a convivncia social de outros centros
comunitrios, que so em geral dados pelo comrcio,
como num mercado de aldeia ou num centro
suburbano de intensa vida social e comercial, o
coreda Cidade Universitria acentua outros fatores.
No nosso corevo predominar, com efeito, os fatores
nobres, de pura natureza cultural ou desinteressada,
em detrimento relativo dos fatores aparentemente
mais frvolos, ou de natureza estritamente social e
1. Nota do editor: Na versoda revista GAMconsta: ...idia global porque espon-taneamente evolui, por simesma....
referncia
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Parecer sobre o core da cidade universitria
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recreativa. Para no haver desequilbrio, h ento
que tomar uma srie de medidas que o venha corrigir.
No abrangendo ele, nem unidades residenciais,
nem privatistas ou comerciais (quanto a mercadorias
ou servios), vai caber ao setor que mais tem fora de
atrao sobre o pblico e, por suas atividades mesmas,
maior contato com ele o papel de criar e acentuar a
convivncia social do core. Qual este fator? Natural-
mente o setor das artes, sincretizado no seu museu.
Agora voltemos ainda ao conjunto das atividades
que o vo formar. Transunto de toda a vida de
idias, de estudos, de sentimentos e de valores e
ideais, que do carter verdadeiramente ecumnico
universidade, o core tudo isso concentrado num
espao privilegiado.
Nele se institucionalizam, ou formalizam, por assim
dizer, em unidades arquitetnicas, as atividades
fundamentais da Cidade Universitria, ou aquelas
que por sua natureza mais geral abarcam o princpio
ou a essncia de todas as outras, em todos os setores
cientficos, culturais e administrativos da cidade. Eis
assim a smula dessas atividades fundamentais que
devem estar representadas no core, ou form-lo.
I. Reitoria Conselho Universitrio Aula Magna
Como nas velhas comunas medievais ou na cidade
grega, representam as entidades acima os rgos
simblicos do poder, da cabea dirigente. Ser esse
conjunto o smbolo, tambm, exterior do prestgio
cultural, social e poltico do todo universitrio. rgo
de representao oficial, a reitoria o mediador
entre a comuna universitria, em sua vida interior
e intrnseca, autnoma, e o Estado. Dentro desse
conjunto, a Aula Magna a sede solene, externa,
do seu poder representativo, por assim dizer, de
seu Parlamento, ou o Conselho Universitrio.
Nesse conjunto, deve expressar-se a dignidade aliada
sobriedade, apangios de um poder fundado
no na fora, mas na idia.
Dentro da reitoria deve ser instalado o Centro de
Coordenao das Atividades Culturais Gerais e
externas, destinadas a atuar sobre o pblico ou a
representar o pensamento coletivo da universidade,
no campo:
a) educacional pedaggico;
b) museogrfico;
c) comunicao audiovisual;
d) recreativo-cultural;
e) educao fsica e desportiva;
f) editorial e publicaes.
No deve interferir o centro na autonomia adminis-
trativa das entidades especficas. Suas funes so
antes aconselhadoras e consultivas que normativas.
Ao lado desse Centro de Coordenao Geral, prev-
se a criao de Comisses Culturais Especficas:
Comisso Bibliotecria, Comisso Museogrfica,
Comisso de Comunicao udio-Cultural, Co-
misso Recreativa-Cultural, Comisso de Artes,Comisso de Esportes, para estudo dos problemas
comuns e o bom entrosamento das atividades e
servios.
sombra da reitoria, embora fora do permetro
do core, deve ser situada a Prefeitura Universitria,
com os Servios Administrativos.
Esses servios compem-se de:
a) Manuteno (restaurante, cantina, comrcio,
fornecimentos).
b) Abastecimento (gua, luz, energia, esgoto).
c) Conservao (oficinas de reparao, parques,
jardins, limpeza pblica).
d) Centro de Sade (assistncia social mdica e
dentria, pronto-socorro).
e) Comunicaes e transportes (correio, telgrafo,
transporte).
II. A Biblioteca Central
A Biblioteca Central a entidade por excelncia
representativa das atividades puramente intelectuais
da Cidade Universitria. Nela concentra-se toda a
soma dos conhecimentos cientficos e gerais
disposio da universidade e seus institutos. a
depositria da verdade cientfica acumulada, alm
de exercer funo de estmulo ao pensamento crtico
e criativo dos que a visitam, ou ali trabalham
estudantes, professores, pesquisadores em geral.
Diferentemente de outros estabelecimentos de instruir,
transmitir conhecimentos, educar (museus, por
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Figura 1: Proposta deimplantao do coreda Cida-de Universitria. Desenho de
Oswaldo Bratke, 1962.
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exemplo), seus mtodos por tal mister so os mais
tradicionais, pois se resumem essencialmente a livros,
a revistas, ao manuscrito e conferncia, e, por isso
mesmo, de utilizao necessariamente individual ou
para poucos. Diferenciando-se ainda de uma instituio
congnere como o museu, a instruo que ela ministra,
a educao que proporciona, no de natureza
coletiva, mas individual, no se exercendo sobre grupos,
mas sobre poucos, ou um a um, pois a conscincia
intelectual que aqui essencialmente estimulada.
Sendo a biblioteca-mestra da cidade, a Biblioteca
Central deve manter, por intermdio [de] canais admi-
nistrativos e tcnicos apropriados, aferentes e recepti-
vos, uma corrente permanente de comunicao com
as bibliotecas especializadas ou de referncia dos
vrios setores institucionais da cidade.
Anexo a ela, deve-se instalar a Faculdade de Biblio-
teconomia. Uma aparelhagem completa de mi-
crofilmagem deve, tambm, servir de principal
instrumento de conservao de manuscritos, de
enriquecimento documentrio e de intercmbio
de servios, de mbito nacional e internacional,
entre os institutos congneres, arquivos histricos
e bibliotecas do Brasil e do mundo.
A Imprensa Universitria, que deve compreender
toda a aparelhagem necessria a atender s ativi-
dades editoriais e grficas da Cidade Universitria,
instituio que deve estar sombra da Biblioteca
Central e prxima ao setor do museu [d]e arte.
III.O museu e adjacncias
O terceiro grande conjunto arquitetnico docore deve
ter, como centro, pelas razes acima expostas, um
museu destinado ao cultivo das artes visuais. Para
reforar esse desideratumj conta a universidade com
estupenda coleo de obras de arte (pintura, esculturas,
gravuras e desenhos) que lhe foi doada pelo sr. Francisco
Matarazzo Sobrinho, fundador e atual presidente do
Museu de Arte Moderna de So Paulo, o qual, desde
a sua fundao, o depositrio da mesma coleo,
ento pertencente quele benemrito cidado.
A referida coleo encontra-se, alis, em exposio
permanente, ao lado da tambm excelente coleo de
obras de arte do prprio museu, no local onde este se
acha instalado, no prdio Armando de Arruda Pereira,
no parque Ibirapuera. Como se sabe, essa entidade,
por convnio j aprovado pelo Conselho Universitrio,
dever ser transferida para ocampusda universidade,
onde lhe ser construdo uma sede prpria. Com as
duas colees, a Cidade Universitria contar, imedia-
tamente, em seucore, com um museu que, j pelo seu
acervo, , no gnero, sem rival na Amrica Latina, dada
a elevada categoria internacional desse mesmo acervo.
Ser ele, assim, um dos centros de atrao artstica e
social de maior destaque na Cidade Universitria.
Quanto localizao do museu no coreda Cidade
Universitria, a proposio se impe por si mesma:
aquela instituio abrange, com efeito, tanto funes
culturais e artsticas eminentes, como seu papel
social e mesmo recreativo nocoreda cidade decisivo.
Por suas funes precpuas, a instituio-museu ,
em si mesma, sobretudo quando de arte e pelo
prprio mbito de suas atividades, o maior centro
de experincias, pesquisas culturais e artsticas que
se conhece na civilizao contempornea.
A tarefa educacional do museu moderno de arte,
por sua vez, merece, com efeito, consideraes
especiais. prprio dele toda uma tcnica especial
pedaggica que uma grande autoridade chamou
de o terceiro meio de aprendizado, e reputa a
mais apropriada educao do pblico. Esse meio
difere tanto das velhas tcnicas acadmicas dos livros
e das conferncias, eficazes apenas para uns poucos,
quanto das novssimas, que so as tcnicas mecnicas
do filme, do rdio, da televiso. Estas, to apropriadas
moderna sociedade industrial de massa, so
indispensveis pelo impacto e pelo formidvel poder
de alcance e extenso que tm, mas trazem em si
um perigo, alis, inerente s caractersticas mesmas
daquela sociedade: o de acentuar o papel crescen-
temente passivo do indivduo no processo de
aprendizado. Tende-se a abolir o esforo individual
na conquista dos conhecimentos.
Eis por que Molly Harrison destaca esse terceiro
caminho, que vem retificar, precisamente, esse perigo
de passividade. Ele se caracteriza por ser um processo
visual ativo, prtico, que s a tcnica do museu oferece.
Com efeito, o trao distintivo nico desse papel
educador que, por suas colees, suas exposies,
seu apelo constante, ininterrupto, a todo o complexo
sensorial do visitante, o museu d primazia ou
prioridade absoluta ao contato real do homem com
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Figura 2:Vista do conjunto,nvel da praa. Desenhos deOswaldo Bratke, 1962.
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os objetos, as coisas. A experincia do aprendizado
assim necessariamente ativa, viva. Somente por
esse processo, e s nele, as noes abstratas, as
palavras, as teorias e explicaes intelectuais ou
conceituais vm aposteriori, isto , aps experincia
sensorial, vivencial, consumada. A reside a formidvel
funo educadora da arte e sua influncia para
desembotar as sensibilidades. Esse processo ativo
educacional, que s o museu pode dar, o nico
meio de compensar o perigo dos processos infor-
madores e influenciadores dos grandes meios de
comunicao da massa, como o rdio, a televiso, o
cinema. E tambm o nico, num plo oposto, de
contrabalanar o excesso de intelectualismo que a
educao livresca bibliotecria d.
O museu, diz ainda a professora Harrison, por
sua natureza mesma, deveria ser o prprio solo
germinatrio de experincias nesses novos mtodos
de educao; seu objeto primordial no s de ser,
mas de dar, margem da educao formal, uma
contribuio prtica para a soluo dos mltiplos
problemas resultantes do presente desentendimento
da famlia humana.
Outra caracterstica do museu ser um instrumento
excepcional de pesquisa, como precipuamente o
a prpria universidade, com seus institutos. Ainda
a esse respeito, o prof. H. Daifuku, muselogo e
antroplogo eminente, hoje dos quadros da Unesco,
teve ocasio de mostrar como no campo do inqurito
crtico e da experincia, que visa descobrir fatos novos,
interpret-los para da rever concluses, teorias ou
leis aceitas, os programas de pesquisas mais ativas
so os dos grandes museus, assim como os museus
que pertencem s instituies educacionais ou que
a elas se ligam. ( precisamente o nosso caso.)
Para ele, as monografias eruditas publicadas pelos
museus so do mesmo gnero que as que publicam
as universidades. O que as distingue que o museu
d tambm a conhecer o resultado de suas pesquisas,
expondo-as diante do pblico, sem tardana.
Este, com efeito, no conserva suas pesquisas no
crculo estreito dos especialistas, mas antes as mostra
ao pblico para que tenham impacto imediato sobre
a sensibilidade geral. Da a tremenda fora dinmica
dos esforos educacionais do museu. Com relao
ao museu de arte, ainda o dr. Daifuku assim define
os seus programas: tem por tarefa interpretar os
resultados de suas pesquisas na inteno do profano.
Assim como entre as atribuies dos museus cien-
tficos est a de interpretar os princpios que
alicercem o desenvolvimento cientfico, em funo
do que os seus visitantes possam compreender,
assim tambm devem proceder os museus de arte
em relao arte contempornea. Do contrrio,
teramos de aceitar o atraso em matria de cultura
como inevitvel. Mas para o prof. Daifuku o
conservador de um museu de arte, inspirando-se
nas tendncias atuais, , ou deveria ser, consciente
dos fatores que influem na criao artstica con-
tempornea.
Um tal museu dinmico, atuante, vivo, tem de se
inspirar, tomar conscincia das tendncias criadoras
do homem de hoje (tanto no domnio artstico como
no cientfico), se quer cumprir sua misso educacional
de catalisador de todos os fatores que, estimulando
ou determinando os impulsos criativos, formam
ou transformam a sensibilidade contempornea.
Ao nosso museu cabe precisamente preencher essa
misso.
Museu e formao artstica
O museu torna-se, assim, naturalmente, o centro
de um feixe de atividades artsticas e culturais que
se ligam, direta ou indiretamente. Por seu papel
eminente no campo da educao, da pesquisa e
da atuao sobre o pblico, comanda ele todo o
setor das atividades artsticas. Por isso mesmo, o
museu deve prever, em seu recinto, todo um
departamento destinado ao aprendizado e for-
mao profissional no plano artstico. De um lado
prover um curso de iniciao artstica, no qual o
homem aprender a ver, a estimar as obras e objetos
de arte e, ao mesmo tempo, ensaiar-se livremente
com os materiais tradicionais.
Depois, h toda a convenincia de que o instituto
de arte se faa dentro dele, em virtude dos processos
educacionais, experimentais e de pesquisas prprias
do museu, conforme j acima mostramos. A razo
que tudo o que se faz neste tem valor educacional
e esttico. Assim, a apresentao das obras, a
qualidade artstica das instalaes e do material, a
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montagem e tcnica de exposies e apresentao
grfica, e tudo isso, por sua vez, depende, em ordem
direta, da tcnica de comunicao visual e da teoria
da informao, objetivos imprescindveis, hoje, de
uma escola profissional para artfices, artistas,
decoradores, arquitetos e at engenheiros.
O instituto de arte, separado do contexto mu-
seogrfico e da ambincia da obra viva, tende a
congelar-se num processo de ensino como outro
qualquer. preciso que seus estudantes nunca
ouam falar apenas nas obras, mas tenham ocasio
freqente de v-las, se possvel no original, de ter
contato constante com elas. Instruo e educao,
em matria de arte, jamais podem ser apartadas,
assim como no deve existir separao da teoria e
da prtica. Pois na fuso dos dois elementos, no
ativismo do processo instrutivo e educacional
que reside o principal mrito da educao e
preparao artstica dadas no museu.
Um instituto de arte , por sua natureza mesma, o
instrumento da formao histrica do estudante.
Seu objetivo principal colocar numa continuidade
no tempo a criao artstica. descobrir, para cada
obra, as fontes de sua criao, situ-la no seu tempo,
deduzi-la, quando possvel, do contexto de uma
cultura ou de uma civilizao.
Da a necessidade de, no estudo da histria da
arte, levar-se em conta dois elementos fundamentais:
no se dar curso separado de histria da pintura,
digamos, gtica, sem curso paralelo de arquitetura
da mesma poca, bem como das outras artes, msica,
teatro, etc. A histria simultnea e comparada delas
servir para fazer refluir do estudo e da investigao
o Zeitgeist, isto , o esprito do tempo, que irmana
ou afina todas as manifestaes de uma poca.
O segundo fator o momento histrico: em pases
velhos, de tradio sedimentada, o ensino rotineiro
parte, em geral, de um momento que se proclama
privilegiado na Itlia, por exemplo, do Renasci-
mento. Hoje, tal critrio no se justifica. Nossas
concepes histricas e estticas no admitem mais
esses momentos privilegiados na curva da evoluo
histrica artstica ou cultural da humanidade, ou
mesmo civilizaes privilegiadas no plano de criao
artstica. No h nenhuma cultura ou civilizao
que no tenha gerado grandes obras, obras-primas,
altssimos monumentos.
Em face dessas consideraes e, sobretudo, em pases
jovens como o nosso, ainda sem sedimentao cultural,
e aberto ao futuro, deve-se partir para o estudo da
histria da arte, das artes de hoje, isto , do esforo
realizador e criativo que se faz na atualidade.
O homem moderno participa do mesmo drama
criador dos homens de outras eras, e vive de mitos e
motivaes semelhantes aos do passado. Ora, partir
do estudo do fenmeno artstico de nosso tempo
significa precisar de um convvio permanente e perene
com os produtos criados e fabricados hoje, com os
meios, as possibilidades e os talentos de hoje.
Eis por que no aconselhvel que o instituto de
arte se desloque do ambiente e do recinto do nosso
Museu de Arte Moderna. Dele e das criaes
contemporneas que se tem de caminhar at,
atravs das idades, s expresses artsticas mais
recuadas, como a arte das cavernas.
Centro artstico da universidade
Anexos ainda ao museu, embora no integrados
em seu recinto, devem ser situados os postos centrais
de rdio e televiso, com seus estdios, auditrios,
locais de programao, etc. O museu, com seus
servios, deve ter participao ativa ou supervisionar
a formulao dos programas e manifestaes
radiofnicas e televisora. E manter programas de
televiso dentro dele, destinados iniciao do pblico.
Esses poderosos meios de comunicao no podero
ser deixados ao acaso das improvisaes e facilidades,
que os levam s abjees ditas culturais e recreativas
que se vem por a.
Assim, museu, instituto de artes (destinados
histria das artes plsticas, da arquitetura, da msica,
do teatro, cinema, etc.), Escola de Comunicao
Visual e Auditiva, desenho industrial, teoria de
informao representam o conjunto arquitetnico
do prprio museu. A seu lado devem ser erigidos
os estdios de televiso e rdio, com seus auditrios,
orquestras, etc., alm da imprensa universitria,
nas vizinhanas.
O todo constituir o que poder compreender-se
como o Centro Artstico da Universidade.
So Paulo, 14 de novembro de 1962