9

PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

ENSI

NO M

ÉDIO

ENSINO MÉDIO

ORGANIZADORA EDIÇÕES SMObra coletiva concebida, desenvolvida e produzida por Edições SM.

André dos Santos Baldraia SouzaBianca Carvalho VieiraCarla Bilheiro SantiCarlos Henrique JardimFernando dos Santos SampaioGuilherme Antonio De BenedictisIvone Silveira Sucena

PART

E

1 4 5 2 0 2

SPG_FR1_LA_CAPA PARTE 1.indd 1 6/4/14 5:36 PM

Page 2: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

16

1CAPÍTULO

Capí

tulo

1 ■

A fo

rmaç

ão d

o m

undo

cap

ital

ista

O papel do trabalho na transformação da natureza

Em um mundo onde as informações cir-culam em velocidade cada vez maior, é pos-sível ver diferentes paisagens, mesmo de lo-cais distantes, que não conhecemos.

A paisagem é a parte visível (ruas, edifí-cios, rios, animais, plantas, etc.) do que se denomina espaço geográfico. Este é produ-zido e organizado pelo trabalho humano, quando se retiram da natureza elementos para uso individual ou coletivo. As ativida-des humanas agem sobre a natureza, trans-formando-a em espaço geográfico, onde ocorrem as relações sociais.

Ao longo dos séculos, desde muito antes de Cristo, diferentes sociedades, em diver-sos pontos da Terra, apropriaram-se dos so-los férteis e de outros recursos naturais para construir seu espaço de vivência, elaboran-do complexas organizações do seu espaço. Alguns exemplos são os egípcios (ao longo

do rio Nilo), os habitantes das margens do rio Amarelo (China), os da região dos rios Ti-gre e Eufrates (Mesopotâmia, atual Iraque) e também povos americanos pré-colombianos, como os maias, os incas e os astecas.

> As técnicas de trabalho Para o geógrafo Milton Santos, dá-se o

nome de técnica a um conjunto de meios instrumentais e sociais com os quais o ser humano realiza sua vida, produz e, ao mes-mo tempo, cria espaços.

A capacidade de transformação da natu-reza depende do desenvolvimento técnico de um grupo social. À medida que as inova-ções técnicas aumentam, diminui o peso da natureza sobre as atividades humanas. As primeiras civilizações, como a egípcia, de-pendiam do ritmo da natureza para produ-zir. Nas cheias dos rios, a natureza oferecia o húmus, que fertilizava o solo e possibili-tava o cultivo.

Quando a sociedade egípcia passou a uti-lizar a técnica de irrigação, houve um avan-ço considerável no cultivo da terra, pois o ritmo da produção passou a ser estabelecido pelos agricultores. Além disso, houve uma reorganização do espaço.

A criação e o avanço de técnicas aumen-tam a produtividade do trabalho, ou seja, aumentam a produção dos indivíduos e grupos. Das inovações tecnológicas destina-das a produzir bens ou serviços decorrem o aumento dos excedentes e uma nova forma de divisão do trabalho. Essa divisão acon-tece porque alguns membros do grupo fi-cam liberados para o desempenho de novas funções.

Nos últimos duzentos anos, o desenvol-vimento das técnicas tem se acelerado de maneira contínua e irreversível, promoven-do novos arranjos espaciais e a formação ou transformação do espaço geográfico. Em re-sumo, o espaço geográfico é histórico e di-nâmico, guardando profunda relação com o processo de trabalho nele desenvolvido.

LeiaNo livro História da riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos.

A formação do mundo capitalista

O que você vai estudar

� O trabalho na transformação da natureza.

� O renascimento do comércio e das cidades.

� As Grandes Navegações.

� Países centrais e países periféricos.

Geografia e literatura

Salve, Nilo!O rio Nilo era um recurso fundamental para a sobrevivência dos

antigos egípcios. Considerado um verdadeiro deus, o rio foi sauda-do no texto a seguir, atribuído à XIX dinastia (1300 a 1100 a.C.).

Salve, Nilo, resplandecente rio que dá vida a todo o Egito...Misterioso e secreto, faça crescer as plantações e dê vida aos

animais... [...]Prospere, Nilo, faça crescer os homens com os rebanhos e os

rebanhos, com as plantações...Escute nossa súplica e derrame suas águas sem nunca se

esgotar... [...]CHALABY, Abbas. Egipto. Florença: Bonechi, 1989. p. 5.

Colheita de linho. Pintura mural encontrada em uma câmara mortuária da XIX dinastia do Egito Antigo.

The

Art

Arc

hive

/Cor

bis/

Latin

stoc

k

1

3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 16 29/05/14 17:42

Page 3: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

17

Edimburgo

Bergen Estocolmo

Visby

Riga

Novgorod

KievCracóvia

DantzigLübeckBremen

LeipzigHamburgo

Reval

York

60°N

50°N

40°N

70°L60°L50°L40°L

30°L

30°L

20°L20°L 10°L10°L 0°L

Mar Cáspio

MarNegro

Mar doNorte

Mar Bál

tico

Bruges

LilleLendit

ProvinsTroyes

Lyon

Toulouse

Bordeaux

LondresWinchester

RouenParis

Bayonne

Santiago deCompostela

Lisboa

CórdobaCádiz

Ceuta

Valência

ToledoBarcelona

Marselha Gênova

Viena

VenezaBolonhaFlorençaSiena

RomaRagusa

Nápoles

Palermo Messina

Atenas

ConstantinoplaTessalônica

NurembergFrankfurt

Círculo Polar Ártico

OCEANOATLÂNTICO

Mar MediterrâneoÁFRICA

ÁSIA0 380 760 km

1 cm – 380 km

Cidades ou entrepostosda Liga Hanseática

Centros de atividadebancária

Grandes feiras

Rotas comerciais terrestres

Rotas marítimasde Venezada Liga Hanseáticade Gênova

O renascimento comercial e urbano Durante o período feudal*, que predo-

minou na Europa entre os séculos V e XV, o continente europeu foi, sobretudo, rural. Grande parte das antigas cidades, formadas durante o período romano, perdeu popula-ção para o campo.

O comércio restringia-se a atender à ne-cessidade de obter mercadorias que não eram produzidas nos feudos, como o sal, o vinho e os metais. Esse comércio era feito com a utilização de moedas e também por escambo.

Muitas cidades europeias, porém, per-maneceram ativas. Foi o caso de Veneza, o grande centro comercial da região do Medi-terrâneo (ver mapa ao lado).

No sistema feudal o poder era descentra-lizado. Os reis tinham pouca influência so-bre os senhores feudais, que exerciam poder sobre seus domínios.

A partir do século XII, começaram a ser definidas as fronteiras nacionais na Euro-pa Ocidental. Esse processo incluiu, entre outros elementos, o fortalecimento do po-der dos reis, a delimitação dos territórios e a consolidação de organizações políticas cen-tralizadas sob a forma de Estados. Portugal, França, Inglaterra e Espanha foram os pri-meiros Estados nacionais a serem constituí-dos. Seus territórios já eram muito seme-lhantes aos que apresentam atualmente.

Os novos Estados – os Estados modernos – tinham como características principais a unificação do território, a centralização do poder e a organização de um aparato admi-nistrativo formado por funcionários públi-cos e por um exército permanente.

Na mesma época, foram adotadas na agricultura algumas inovações tecnológicas, entre elas a charrua, um tipo de arado mais eficiente. Essas inovações, associadas à am-pliação das áreas agrícolas, excedentes, pas-saram a ampliar as atividades comerciais.

As cidades da península Itálica (Veneza, Gênova e Pisa) que mantinham comércio com o Oriente intensificaram suas ativida-des. Produtos como a seda e as especiarias foram largamente comercializados.

> O crescimento das cidades O desenvolvimento do comércio entre os

séculos XIII e XV fez crescer novamente as cidades na Europa. Em particular, as áreas onde se realizavam feiras serviram de polos de atração que deram origem a muitos cen-tros urbanos.

As cidades passaram a ser o local de um novo grupo social, que se formou com o de-senvolvimento do comércio: os burgueses. Ricos comerciantes, eles se tornaram o gru-po dominante. Com os burgueses, nas tro-cas, o valor de venda passou a ser sempre superior ao valor de compra. Essa diferença constituía o capital da burguesia.

Nascia, assim, a primeira fase do capitalis-mo – o capitalismo comercial ou mercantil.

* As palavras em azul são explicadas no Glossário, nas páginas 196 a 200.

AssistaO mercador de Veneza (EUA, 2004, 138 min), de Michael Radford. O filme, cuja história se passa no século XVI, é uma adaptação da peça homônima de Shakespeare.

Saiba mais

O nascimento do sistema bancárioDesde o século IX, mercadores europeus já realizavam opera-

ções de crédito e câmbio. À medida que o comércio crescia, alguns mercadores se espe-

cializaram em operações financeiras, e foram desenvolvidos al-guns tipos de papéis, como as letras de câmbio. Esses contratos escritos serviam de pagamento e tornavam desnecessário viajar com dinheiro. Um fator que fez os bancos crescerem foi o fim da condenação à usura (empréstimo a juros). Essa prática, condenada durante muito tempo pela Igreja, tornou-se cada vez mais aceita.

Principais rotas comerciais – Século XIV

Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. 17. ed. São Paulo: Ática, 2005. p. 17.

ID/B

R

3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 17 29/05/14 17:42

Page 4: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

18

Capí

tulo

1 ■

A fo

rmaç

ão d

o m

undo

cap

ital

ista

As Grandes Navegações e a conquista do Novo Mundo

Diante de um cenário de efervescência comercial e urbana, os capitais se acumula-vam nas mãos dos burgueses. Barcos carre-gados de mercadorias cruzaram o Mediter-râneo até 1453, quando os turcos ocuparam Constantinopla (atual Istambul, na Tur-quia), dificultando a circulação dos navios e modificando o comércio entre a Europa e o Oriente. Tornaram-se necessárias novas ro-tas comerciais que garantissem o suprimen-to de mercadorias para a Europa.

> As inovações tecnológicas e a cartografia Um conjunto de inovações técnicas e cien-

tíficas possibilitou aos europeus o desenvol-vimento de novas práticas. A bússola, in-venção chinesa conhecida na Europa desde o século XII, permitia a definição de rumos em alto-mar; o astrolábio possibilitava a determinação das coordenadas terrestres, o que favorecia a navegação de longa distância; a caravela, criada e aperfeiçoada pelos por-tu gueses, era leve e ágil, capaz de navegar com qualquer vento.

Em fins do século XIII, começaram a ser produzidos pelos cartógrafos os portulanos (ver ao lado exemplo dessas cartas de nave-gação). Traziam as rotas traçadas no próprio mapa por meio de linhas que ligavam um porto a outro.

Em termos geográficos, uma grande re-volução foi o reconhecimento da esferici- dade da Terra. Isso permitia supor que, sain-do da Europa e viajando sempre na mesma direção, seria possível dar a volta à Terra e retornar ao lugar de origem.

Seguindo rotas diferentes, espanhóis e portugueses navegaram pelo Atlântico para alcançar as Índias. Com grande domínio das técnicas de navegação, no século XV os

portugueses já haviam chegado às ilhas dos Açores, da Madeira e de Cabo Verde e alcan-çado o sul da África. Navegando próximo à costa africana, foram estabelecendo várias feitorias no continente.

No final do século XV, Cristóvão Colom-bo, a serviço da Coroa da Espanha, atingiu as Antilhas, na América Central. Em 1500, uma esquadra portuguesa chegou à costa do atual território brasileiro. A posse e a ocupa-ção dessas novas terras representaram uma importante medida para consolidar a políti-ca mercantilista.

A partir do século XVI, teve início a colo-nização das terras que viriam a ser chama-das de Novo Mundo. Esse processo foi feito à base de pilhagem de metais preciosos, ex-ploração dos recursos naturais e extermínio ou escravização dos nativos.

A colonização organizou espaços de pro-dução e definiu o papel das novas colônias na economia mundial.

O extremo oriente do Mediterrâneo e parte do mar Negro, em mapa do Atlas- -portulano veneziano, do cartógrafo francês J.-F. Roussin, 1673.

AssistaO filme 1492: a conquista do paraíso (EUA, 1992, 154 min), de Ridley Scott, narra a viagem de Cristóvão Colombo à América, os preparativos da travessia, o cotidiano da tripulação, suas dificuldades e motins.

LeiaÁfrica: terra, sociedades e conflitos (Moderna, 2004), de Nelson Bacic Olic e Beatriz Canepa. A obra traz informações sobre povos, etnias e tradições antigas do continente, além de descrever seu processo de colonização.

Saiba mais

O mercantilismoVários Estados europeus passaram a adotar, entre os séculos XV e XVIII, uma política econômica denominada

mercantilismo. Um dos princípios básicos dessa política era o acúmulo de riqueza (metais preciosos) pelos Estados.Outro princípio fundamental do mercantilismo era manter a balança comercial favorável, ou seja, exportar mais

do que importar e, portanto, reter parte dos ganhos e acumular capital. Uma das peças-chave do mercantilismo foi o Pacto Colonial: as colônias eram obrigadas a exportar metais preciosos, produtos agrícolas e matérias-primas para as metrópoles europeias e a importar delas artigos manufaturados.

Font

e de

pes

quis

a: O

teso

uro

dos

map

as -

A c

arto

graf

ia n

a fo

rmaç

ão d

o B

rasi

l/Tex

to e

cu

rado

ria P

aulo

Mic

eli.

São

Pau

lo: I

nstit

uto

Cul

tura

l Ban

co S

anto

s, 2

002.

p. 6

6.

3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 18 29/05/14 17:42

Page 5: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

19

Centro e periferia no sistema capitalistaA partir do século XVIII, o sistema de

produção europeu passou por significati-vas transformações. A Revolução Industrial, processo de profundas inovações tecnológi-cas, acompanhadas de intensas mudanças econômicas e sociais, teve início na Ingla-terra, país europeu que obteve os melhores resultados com as políticas mercantilistas.

A Revolução Industrial deu novo impul-so e significado ao sistema capitalista, inau-gurando a fase do capitalismo industrial. A começar pela Inglaterra, o sistema capita-lista foi adotado pela maioria dos países da Europa Ocidental e pelos Estados Unidos, expandindo-se para grande parte do mundo nos séculos XIX e XX.

Foi no contexto dessa segunda fase do sistema capitalista que ocorreu a expansão imperialista. A necessidade de matérias--primas e de novos mercados consumido-res para as indústrias europeias levou à or-ganização de novos espaços de produção na África e na Ásia.

No final do século XIX, nos países cen-trais do sistema capitalista, ou seja, nos paí-ses já industrializados, teve início a formação de monopólios. Grandes empresas começa-ram a passar por um processo de fusão com o objetivo de controlar o mercado. Era o nas-cimento das empresas multinacionais.

Novamente, o sistema capitalista se refor-mulava. Os bancos e as instituições finan-ceiras assumiram um papel dominante, e as empresas abriram seu capital com a venda de ações nas bolsas de valores. Dessa ma-neira, teve início a fase do capitalismo mo-nopolista ou financeiro, na qual vivemos ainda hoje.

> Características do sistema capitalista

� Predomínio da propriedade privada dos meios de produção, ou seja, terras, fábri-cas, minas, bancos, etc. Em alguns países, existem empresas estatais.

� Divisão da sociedade em classes. Há ba-sicamente uma grande divisão: os capi-talistas, donos dos meios de produção, e os trabalhadores, que vendem sua força de trabalho para os capitalistas. Essa di-visão em classes é fator de concentração de renda, que se intensifica em países menos desenvolvidos.

� Mecanismos de mercado regidos pelos grandes grupos capitalistas. Há uma bus-ca constante pelo lucro, que é usado no investimento em novas tecnologias para a obtenção de maior rentabilidade e, con-sequentemente, de maiores lucros. Em alguns países ou em certos momentos, o Estado interfere no mercado, por exem-plo, controlando alguns preços.

� Crises cíclicas que ocorrem em determi-nados momentos históricos devido a fa-tores relacionados à superprodução ou a problemas políticos. No final do século XIX (1874) e no começo do século XX (1929), duas fortes crises abalaram o sis-tema. Em 2008, teve início nos Estados Unidos uma nova crise, que estremeceu o capitalismo no mundo todo.

� Relações de trabalho com o predomínio do trabalho assalariado. Os que não são donos dos meios de produção vendem sua força de trabalho em troca de salário.

Saiba mais

Crises do século XXIEm apenas duas décadas, o sistema capitalista já apresentou

várias crises. Algumas delas, embora localizadas, tiveram reflexos em várias regiões do mundo.

No esquema, o tamanho das figuras é proporcional aos emprés-timos fornecidos pelas instituições internacionais, como o FMI, para a superação da crise.

Fonte de pesquisa: LE MONDE DIPLOMATIQUE. L’Atlas Histoire: Histoire critique du XXe siècle. Paris: Vuibert, 2012. p. 95.

Crises

AssistaDirigido por Richard Attenborough, o filme Gandhi (EUA, 1982, 191 min) retrata a vida de Mohandas Gandhi e a colonização britânica da Índia, até sua independência.Já o filme Entre dois amores (EUA, 1985, 161 min), de Sydney Pollack, aborda a colonização britânica da África, com base em livro autobiográfico de Karen Blixen.As montanhas da Lua (EUA, 1990, 136 min), de Bob Rafelson, mostra a expedição em busca da nascente do rio Nilo e discute a experiência colonialista dos britânicos na África.

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Crise financeira mundialAtentados de 11 de Setembro

Turquia

TurquiaCrise daIslândia

Crise grega e expansão para a zona do euroArgentina

BrasilUruguai

ID/B

R

3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 19 29/05/14 17:42

Page 6: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

20

Capí

tulo

1 ■

A fo

rmaç

ão d

o m

undo

cap

ital

ista

A formação do mundo capitalista

> A dificuldade de caracterizar os países periféricosSão chamados de países centrais aqueles que concentram os maio-

res volumes de capital e, portanto, exercem influência sobre os de-mais países. É o caso dos Estados Unidos, do Japão e de vários paí-ses da Europa Ocidental, que desempenham poder hegemônico sobre um grande grupo de nações que dependem deles. Esses países cen-trais assemelham-se a planetas orbitados por satélites. Alguns, mais próximos, constituem uma semiperiferia; outros, mais distantes, constituem os países periféricos, conforme mapa ao lado.

Essas diferenças socioeconômicas e tec-nológicas entre os países começaram a ser mais percebidas e discutidas no final da Se-gunda Guerra Mundial (1939-1945). Nesse momento, em que se consolidava o capita-lismo financeiro, tornou-se evidente que um grande grupo de países estava à margem do sistema e, portanto, apresentava característi-cas diferentes das dos paí ses centrais.

A partir da década de 1960, vários cien-tistas sociais, entre eles importantes geó-grafos, passaram a discutir a formação dos países periféricos e lhes atribuíram certas ca-racterísticas: predomínio de técnicas agrí-colas primitivas, fraca industrialização, ex-portações com base em matérias-primas agrícolas ou minerais, predomínio de população rural, forte dependên-cia econômica e tecnológica.

No entanto, diversos fatores de ordem histórica, política e econômica promoveram mudanças em alguns países periféricos, estremecendo o con-junto de características atribuídas a eles. Como considerar, por exemplo, o Brasil e o México países de fraca industrialização? Ou como atribuir ao Brasil ou à Argentina a característica de detentores de agricultura com téc-nicas primitivas?

Há ainda um grande número de países que continua a apresentar es-sas características, como na década de 1960. Há outro grupo, porém, que apresentou intensa evolução econômica, do qual são exemplos a China, o Brasil, a Índia e o México, que em 2012 estavam na lista dos 15 maiores PIB (Produto Interno Bruto, soma de toda a riqueza gerada em um país) do mundo.

Os países centrais estão predominantemente localizados no hemis-fério Norte (com exceção da Austrália e da Nova Zelândia). Entre esses países há estreitas ligações econômicas e financeiras, e os Estados Uni-dos, o Japão e o bloco da União Europeia formam os três grandes po-los econômicos do mundo.

A situação de desenvolvimento dos demais países não é uniforme. Alguns se destacam por apresentarem maiores condições de desenvol-vimento e grande importância econômica. Constituem a semiperiferia e também são chamados de emergentes. Alguns desses emergentes for-mam o grupo designado como Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa, em inglês).

Os demais países apresentam maior número de problemas socioeco-nômicos e, portanto, são a periferia propriamente dita do sistema.

OCEANOÍNDICO

OCEANO

PACÍFICO

OCEANO

ATLÂNTICO

OCEANO

PACÍFICO

NIGÉRIA

LÍBIAARÁBIA

SAUDITA

ÁFRICADO SUL

IRÃPAQUISTÃO

ÍNDIA

INDONÉSIA

AUSTRÁLIA

NOVA ZELÂNDIA

JAPÃO

CHINA

RÚSSIA

TURQUIA

UNIÃOEUROPEIA

BRASIL

ARGENTINA

MÉXICOESTADOSUNIDOS CANADÁ

Os três grandes polos

Trocas e inter-relações

A Tríade

Maiores potências

Outros Estados centrais

Países centrais

Rússia e ex-integrantesdo bloco socialista nãomembros da UE

Países com aceleradodesenvolvimentograças ao petróleo

Situações intermediárias

Potências importantes

Outros Estados

Países periféricos

NOTA: Em mapas como este, emprojeção azimutal oblíqua, não épossível indicar orientação.

0 3667 7334 km

1 cm – 3667 km

Países centrais e países periféricos

Fonte de pesquisa: MATHIEU, Jean-Louis. Géographie – L’ espace mondial. Paris: Nathan, 2004. p. 32.

ConexãoO crescimento da classe média no Brasil

Na primeira década do século XXI, 32 milhões de brasileiros ascenderam à classe média, que tem renda fami-liar mensal entre mil e 4 mil reais. De acordo com dados do IBGE, em 1992 a classe média correspondia a 35% da população brasileira, número que passou para mais de 50% em 2010.

A parcela pobre da população (com renda mensal per capita entre 70 e 134 reais) diminuiu de 28 milhões para 18 milhões de pessoas, entre 2003 e 2009.

Essa mudança no perfil socioeco-nômico do país deve-se em grande parte à estabilidade econômica e às políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família. No entanto, em 2010 mais de 16 milhões de pessoas ainda viviam em condições de extre-ma pobreza, com menos de 70 reais mensais. � Em grupo, discuta o que significa para o Brasil o aumento da popula-ção de classe média.

ID/B

R

3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 20 29/05/14 17:42

Page 7: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

21

Informe

A ocupação colonial[...] A África só começou a ser ocupada pelas potên-

cias europeias exatamente quando a América se tornou independente, quando o antigo sistema colonial ruiu, dando lugar a outras formas de enriquecimento e de-senvolvimento das economias mais dinâmicas que se industrializavam e ampliavam seus mercados consumi-dores. Nesse momento foi criado um novo tipo de colo-nialismo, implantado na África a partir do final do sécu-lo XIX, depois da Conferência de Berlim, que em 1885 dividiu o continente africano entre Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Bélgica.

A divisão, contudo, não foi feita de uma só vez. Se pensarmos em termos amplos, em tempos longos, em processos que passaram por muitas etapas, a ocupação da África por alguns países europeus teve as sementes lançadas desde o início do comércio atlântico. Os acor-dos diplomáticos entre os países que participaram da Conferência e decidiram nas mesas de negociação europeias quem ficaria com que áreas estabelece-ram que estas seriam definidas pelos pontos de ocupação já existentes na vasta costa africana. As-sim, foi a partir desses pontos, nos quais atuavam há séculos, que os países europeus começaram a tomar conta do continente.

Além das relações diplomáticas e comerciais que existiam entre chefes e comerciantes africanos e os europeus desde o século XVI, outros fatores foram decisivos na ocupação colonial do continente afri-cano. O primeiro deles foi a exploração do seu in-terior pelos europeus, que conheciam bem a cos-ta, mas quase nada além dela. Os mapas anteriores ao século XIX mostram a geografia imaginária que eles construíram, feita de relatos fragmentados e de induções a partir do que conheciam na cos-ta. O aumento de interesse pelas matérias-primas que o continente poderia oferecer para alimentar as novas necessidades das indústrias levou os em-presários da época de olho nos recursos naturais a investir em expedições de exploração que uniam seus interesses à curiosidade de alguns cientistas e aventureiros.

Os percursos dos principais rios da África, como o Nilo, o Senegal, o Níger e o Congo, só foram reve-lados aos europeus no século XIX, depois de várias expedições de exploração. Na maior parte das vezes elas eram bancadas por sociedades de geografia se-

diadas em Londres, Lisboa e Paris e a partir das quais se buscava ampliar o conhecimento sobre as regiões até en-tão desconhecidas dos homens do Ocidente. Nessa época o exotismo, ou seja, a maneira de viver e as expressões de outras culturas, era valorizado na Europa [...].

Além do interesse por matérias-primas e mercados, do maior conhecimento do interior do continente e suas ro-tas de penetração, da descoberta de que o quinino ajuda-va na cura da malária, um fator decisivo para a ocupação da África foi a invenção do rifle. [...] Esse conjunto de fa-tores pouco a pouco venceu a resistência africana, e os exércitos europeus abriram caminho à força para a pene-tração dos comerciantes e dos administradores coloniais, agentes de poderes distantes que iam subjugando as so-ciedades locais e impondo a sua dominação. [...]MELLO E SOUZA, Marina. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. p. 153-155.

ANGOLA

UGANDA

QUÊNIA

ETIÓPIANIGÉRIA

LIBÉRIA

ARGÉLIA

TUNÍSIA

LÍBIAEGITO

E U R O P A

Á S I A

RIO MUNI

SUAZILÂNDIA

MOÇAMBIQUE

MADAGASCAR

CAMARÕES

ERITREIA

SERRA LEOA

TO

GO

M a r M e d i t e r r â n e o

OCEANOATLÂNTICO

OCEANOÍNDICO

MARROCOSESPANHOL

RIO DO OURO

GÂMBIA

GUINÉPORTUGUESA

COSTA DO OURO

COSTADO

MARFIM

ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA

MARROCOS

BECHUANA-LÂNDIA

BAÍA DEWALVIS

ÁFRICA DO SUDOESTE

UNIÃOSUL-AFRICANA

RODÉSIADO NORTE

ÁFRICAORIENTAL

ALEMÃ

RODÉSIADO SUL

SOMÁLIAITALIANA

SOMÁLIABRITÂNICA

SOMÁLIAFRANCESA

ÁFRICA E

QUATORI

AL

FRA

NC

ES

A

CONGOBELGA

SUDÃOANGLO-EGÍPCIO

BASUTOLÂNDIA

Trópico de Capricórnio

Trópico de Câncer

0° 20°L20°O 40°L

0°Equador

França

Império Britânico

Bélgica

Portugal

Espanha

Itália

Alemanha

Independente

Mer

idia

no d

e G

reen

wic

h

Mar Verm

elho

0 1035 2070 km

1 cm – 1035 km

Imperialismo europeu na África – 1914

Fonte de pesquisa: SCALZARETTO, R.; MAGNOLI, D. Atlas: geopolítica. São Paulo: Scipione, 1996. p. 13.

Para discutir1. Quais fatores levaram à partilha da África?2. Além da conquista pelas armas, os colonizadores utilizaram-se da estratégia de ensinar a sua língua e a

religião cristã aos africanos. O que se pretendia com isso? Explique.

ID/B

R

3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 21 29/05/14 17:42

Page 8: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

Capí

tulo

1 ■

A fo

rmaç

ão d

o m

undo

cap

ital

ista

22

Atividades

1550

1450

Reprodução de planisférios de 1450 e 1550

a) Quais são os cinco países destacados? Que con-junto eles formam?

b) Quais são as características comuns a esses países?c) Dê um título ao mapa.

12. Analise a tabela e responda às questões.

Os dez maiores PIBs – 2011

País PIB (bilhões de dólares)

1 Estados Unidos 15 094

2 China 7 298

3 Japão 5 869

4 Alemanha 3 577

5 França 2 776

6 Brasil 2 492

7 Reino Unido 2 417

8 Itália 2 198

9 Rússia 1 850

10 Canadá 1 736

Fonte de pesquisa: FMI. Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2012/01/weodata/weorept.aspx?sy=2011&ey=2011&ssd=1&sic=1&sort=country&ds=%2C&br=0&pr1.x=38&pr1>. Acesso em: 2 ago. 2012.

a) Identifique os países centrais.b) Após analisar os dados, reflita sobre a afirma-

ção: “Atualmente, há certos países que estão na semiperiferia do sistema capitalista, e a eles não cabem mais as tradicionais características de paí-ses periféricos”. Você concorda com a afirmação? Justifique.

11. Analise o mapa e responda às questões. ❚ Revendo conceitos

1. Qual é a relação entre o desenvolvimento técnico e a transformação da natureza?

2. O que é espaço geográfico?

3. Como se pode definir a divisão do trabalho?

4. Quando e como teve início a formação dos Estados modernos?

5. Por que, durante séculos, as rotas comerciais maríti-mas ficaram concentradas na região banhada pelo mar Mediterrâneo?

6. Qual foi o papel das colônias para a consolidação do mercantilismo?

7. Como estão divididas as classes sociais no sistema capitalista?

8. Quais são as principais características dos países centrais?

9. Como se define a semiperiferia do sistema capi-talista?

❚ Lendo mapas e tabelas

10. Os dois mapas a seguir representam o mundo co-nhecido pelos europeus, respectivamente, por volta de 1450 e 1550. Compare-os e apresente as causas de sua ampliação.

Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 32.

Fonte de pesquisa: BENDJEBBAR, André; BESNIER, Martine. Multilivre. Paris: Hachette, 1996. p. 53.

ID/B

R

Equador

Trópico de Capricórnio

OCEANO PACÍFICO

Mer

idia

no

de

Gre

enw

ich

OCEANO ATLÂNTICO

OCEANO ÍNDICO

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO

OCEANO PACÍFICO

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

45°N

45°S

Círculo Polar Antártico

Círculo Polar Ártico

180°135°L90°L45°L0°45°O90°O135°O180°

Trópico de Câncer

limite internacional0 5 110 10 220 km

1 cm – 5 110 km

ID/B

R

3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 22 29/05/14 17:42

Page 9: PARTE - smbrasil.com.br · riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos

23

15.  Analise, na paisagem representada a seguir, a rela-ção entre técnica e transformação da natureza.

❚ Interpretando textos e imagens

13. Compare as duas imagens do Largo da Carioca na cidade do Rio de Janeiro. Aponte os fatores que po-dem explicar as diferenças de organização do espa-ço geo gráfico no mesmo lugar.

14. Observe a charge e apresente suas conclusões sobre o que a personagem diz. De que ponto de vista ela utiliza a expressão “presença benéfica”?

16.  Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

A crise financeira na Europa não é mais um pro-blema restrito a economias pequenas e periféricas como a Grécia. O que está acontecendo neste mo-mento é uma corrida em grande escala aos bancos nas economias muito maiores da Espanha e da Itá-lia. Atualmente os países em crise respondem por cerca de um terço do produto interno bruto da zona do euro, de forma que a própria moeda comum euro-peia encontra-se diante de uma ameaça existencial.KRUGMAN, Paul. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/paul-krugman/2011/09/13/crise-financeira-na-europa-nao-e-mais-um-problema-restrito-a-economias-perifericas.htm>. Acesso em: 25 abr. 2014.

a) Explique por que a Grécia é apresentada como um país de economia pequena e periférica na Europa.

b) Identifique a importância dos bancos na atual fase do capitalismo financeiro.

c) Associe sistema capitalista e crise.

17. O texto a seguir expõe diferenças entre os países centrais e os países periféricos do capitalismo. Ex-plique com exemplos essas diferenças.

A diferença entre países do centro do capitalismo e aqueles da periferia, quanto à proteção social, é gritante. Na periferia, houve dificuldade em com-pletar o Estado de Bem-Estar Social, assim como as elites locais barraram os avanços da democracia.POCHMANN, Marcio. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000200002>. Acesso em: 25 abr. 2014.

Início do século XX. Rodovia dos Imigrantes, que liga a cidade de São Paulo à Baixada Santista, interligando o planalto (750 m de altitude) à orla litorânea. Foto de 2010.

Início do século XXI.

Tradução: “Se nossa presença era tão benéfica, por que eles nos deixaram partir?”

The

Gra

nger

Col

lect

ion/

Oth

er Im

ages

K. W

eich

ert/

Tyba

Des

enho

de

Pla

ntu/

Le M

onde

Luci

ano

Ber

gam

asch

i/Fut

ura

Pres

s

3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 23 29/05/14 17:42