34
Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA Joana Alexandra Carvalho Guimarães Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar / Centro Hospitalar do Porto [email protected] Orientador: Prof. Doutor Manuel Vilanova Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar / Centro Hospitalar do Porto Universidade do Porto Porto, Junho 2011

PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

  • Upload
    doannhi

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

Artigo de Revisão Bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina

PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA

PAPEL DA IMUNIDADE INATA

Joana Alexandra Carvalho Guimarães

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar / Centro Hospitalar do Porto

[email protected]

Orientador:

Prof. Doutor Manuel Vilanova

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar / Centro Hospitalar do Porto

Universidade do Porto

Porto, Junho 2011

Page 2: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

1

RESUMO

Introdução: A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) sistémica apresenta-se clínica e laboratorialmente como uma

doença inflamatória multissistémica, em que a ausência de marcadores específicos torna difícil o seu

diagnóstico, apesar de ter complicações graves como a síndrome de activação macrofágica (SAM). Ao

contrário de outros tipos de AIJ, na artrite sistémica não se identificaram auto-anticorpos ou células B e T

auto-reactivas, nem associações ao HLA. Assim, os estudos publicados colocam esta doença mais próxima

das síndromes auto-inflamatórias, pondo em evidência o papel da imunidade inata na sua patogénese.

Objectivos: Este estudo tem como objectivo uma sistematização do conhecimento sobre o papel da auto-

imunidade inata na patogénese da AIJ sistémica, tendo em consideração a contribuição da investigação

para o diagnóstico, monitorização e para os avanços no tratamento da doença.

Desenvolvimento: A investigação tem levantado a possibilidade da sua patogénese se associar a

mecanismos de auto-imunidade inata relacionados com as vias de sinalização dos Toll-like receptors

(TLRs) e dos NOD-like receptors (NLRs) associados aos inflamassomas. Identificaram-se moléculas

(proteínas S100) que podem ser possíveis factores endógenos activadores dessas vias e alterações em

citocinas, como a IL-1β e IL-18, que reforçam a integração da patologia no grupo das inflamassomopatias.

No entanto, os estudos não são totalmente conclusivos. Há ainda evidência da influência de outras

citocinas pro-inflamatórias na doença, mas mantém-se a controvérsia acerca do seu papel como causa ou

consequência da desregulação do sistema imunitário inato. Por outro lado, os casos de SAM levantam a

hipótese de existirem similaridades entre a patogénese desta doença e outras linfohistiocitoses

hemofagocíticas.

Conclusão: A investigação da AIJ sistémica incidiu especialmente em estudos de expressão genética, que

apesar de identificarem alterações associados ao sistema imune inato, permitem apenas fazer inferências

acerca do papel da auto-imunidade inata na sua patogénese. As infecções não ficam excluídas como

possível factor etiológico e os polimorfismos genéticos identificados não são específicos da doença e

carecem de estudos de prevalência na população geral. De qualquer modo, a investigação reforça um

papel preponderante das vias da imunidade inata na patogénese da doença, devendo esta direccionar-se

para a compreensão desses mecanismos.

PALAVRAS-CHAVE

AIJ sistémica; auto-imunidade inata; inflamassomas; proteínas S100; síndrome activação macrofágica.

Page 3: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

2

ABSTRACT

Introduction: Systemic Juvenile Idiopathic Arthritis (JIA) presents clinically and biochemically as a

multisystemic inflammatory disease, in which the absence of specific markers makes it difficult to

diagnose, despite severe complications such as macrophage activation syndrome (MAS). Unlike other

types of JIA, in systemic arthritis there were not identified self-antibodies or self-reactive B and T cells,

neither HLA associations. Thus, published studies place this disease closer to auto-inflammatory

syndromes emphasizing the role of innate immunity in its pathogenesis.

Objectives: This study aims to systematize the knowledge about the role of innate autoimmunity in the

pathogenesis of systemic JIA, taking into account the contribution of research to the diagnosis, monitoring

and progress in the treatment of the disease.

Development: Research has raised the possibility that its pathogenesis could be related to innate

autoimmunity mechanisms associated with signaling pathways of Toll-like receptors (TLRs) and NOD-

like receptors (NLRs) related with inflammasomes. There were identified molecules (S100 proteins) that

may be possible endogenous factors activators of these pathways and modifications in cytokines such as

IL-1β and IL-18, which strengthen the integration of this pathology in the group of inflammasome`s

diseases. However, studies are not entirely conclusive. There is also evidence of the influence of other pro-

inflammatory cytokines in the disease, but remains the controversy about their role as the cause or

consequence of the innate immune system deregulation. Moreover, SAM cases make us suppose that there

are similarities between the pathogenesis of this disease and other hemophagocytic lymphohistiocytosis.

Conclusion: Systemic JIA research focused particularly on studies of gene expression which, despite

identifying changes associated with the innate immune system, only allow us to make inferences about the

role of innate autoimmunity in its pathogenesis. The infections are not excluded as a possible

etiological factor and genetic polymorphisms identified are not specific to the disease lacking studies

about its prevalence in the general population. In any case, the research reinforces an important role of the

pathways of innate immunity in the pathogenesis of the disease, and is being directed to the understanding

of these mechanisms.

KEYWORDS

Systemic JIA; innate autoimmunity; inflamassomes; S100 proteins; macrophage activation syndrome.

Page 4: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

3

INTRODUÇÃO

A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) representa um conjunto de artrites persistentes com

duração superior a seis semanas, de etiologia desconhecida, com aparecimento antes dos 16 anos

(Woo et al, 2007). A International League of Associations for Rheumathology (ILAR) descreve 7

subtipos: oligoarticular, poliarticular factor reumatoide (FR) positivo, poliarticular FR negativo,

artrite sistémica, artrite relacionada com entesite, artrite psoriática juvenil e artrite indiferenciada.

A AIJ sistémica é um subtipo deste grupo, apresentando, além da artrite, características de uma

doença inflamatória multissistémica, nomeadamente, artrite com um ou dois picos de febre

diários de 39ºC durante mais de duas semanas, acompanhada por pelo menos um dos seguintes

sinais: linfadenopatia, serosite, hepatosplenomegalia e rash (Petty & Cassidy, 2005). O FR é

negativo (Woo et al, 2007). Para a sua classificação devem-se ainda excluir características como

psoríase ou história de psoríase no doente ou parente em 1º grau; artrite num doente sexo

masculino com HLA-B27 positivo e mais de 6 anos de idade; espondilite anquilosante, artrite

relacionada com entesite, sacroileíte com doença inflamatória intestinal, síndrome de Reiter,

uveíte anterior ou história de uma destas patologias em parente 1º grau (Petty & Cassidy, 2005).

A artrite sistémica é o tipo menos comum e dos mais graves de artrite crónica na infância,

constituindo cerca de 10% de todos os casos de AIJ (Schneider & Laxer, 1998). A incidência nos

caucasianos é semelhante nos dois sexos (ao contrário das outras categorias de AIJ, em que o

sexo feminino é mais afectado), sendo à volta de 0,4-0,8 casos/100.000 (Woo et al, 2007). Surge

entre as idades de 1 e 5 anos, embora se possa manifestar só na adolescência ou, mais raramente,

na idade adulta sendo conhecida como Doença de Still (Petty & Cassidy, 2005). Embora alguns

estudos refiram uma variação sazonal (Lindsley, 1987), esta não foi comprovada (Feldman et al,

1996; Uziel et al, 1999).

Frequentemente as manifestações iniciais da doença são extra-articulares podendo

sobrepor-se ou preceder a artrite, o que enfatiza a sua natureza sistémica (Petty & Cassidy, 2005).

Habitualmente a criança apresenta-se com picos febris diários e um rash eritematoso ou rosa-

salmão macular/urticariforme que pode dar prurido (Woo et al, 2007). Relativamente à artrite, o

aparecimento geralmente é oligoarticular (menos de 4 articulações), mas a progressão é

poliarticular. As articulações mais frequentemente envolvidas são o joelho, pulso e tornozelo. No

entanto, a artrite pode ocorrer na anca, pequenas articulações das mãos e no esqueleto axial.

Verificam-se alterações radiográficas precoces. Cerca de 10% das crianças também têm

Page 5: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

4

tenosinuvite (Petty & Cassidy, 2005).

O risco de envolvimento das serosas é maior nos primeiros anos da doença, sendo mais

frequente o envolvimento pericárdio (Petty & Cassidy, 2005).

A linfadenopatia e a esplenomegalia surgem em 70 a 85% dos casos, sendo menos comum

a hepatomegalia (Petty & Cassidy, 2005). As características laboratoriais típicas são a leucocitose

polimorfonuclear, a trombocitose e elevação da proteína C reactiva e da velocidade de

sedimentação (VS) (Woo et al, 2007).

Há uma grande variedade na gravidade dos sintomas, desde febre e rash durante duas a

três semanas seguidos de artrite ligeira, até ao aparecimento simultâneo de todos os sintomas

supracitados (Woo et al, 2007). O curso da doença é variável, podendo remitir quase

completamente em cerca de metade dos casos, mas, nas crianças com doença persistente a

destruição articular, pode ser progressiva e precoce: 30% têm doença activa que continua depois

de 10 ou mais anos desde o diagnóstico (Ogilvie et al, 2007).

Nos casos graves pode-se desenvolver a síndrome de activação macrofágica (SAM), uma

complicação ameaçadora de vida muito rara nas outras artrites juvenis. É causada pela activação

de macrófagos e pela activação e proliferação excessiva de linfócitos T, que conduzem a uma

reacção inflamatória sistémica (Grom, 2004). A SAM é caracterizada pelo rápido

desenvolvimento de febre, hepatosplenomegalia, linfadenopatia e falência hepática com icterícia,

encefalopatia, púrpura e hemorragia das mucosas. Os achados laboratoriais indicam citopenias,

especialmente trombocitopenia; elevação das enzimas hepáticas; hipoalbuminemia; elevação dos

triglicerídeos e elevação da ferritina (Petty & Cassidy, 2005). No que respeita à coagulação, os

tempos de protrombina e tromboplastina são prolongados e os níveis de factores da coagulação

dependentes da vitamina K descem. A VS é paradoxalmente baixa, reflectindo possivelmente a

hipofibrinogenia devido à coagulopatia de consumo e coagulação intravascular disseminada

(CID) (Grom, 2004). A hemofagocitose pelos macrófagos no exame da medula óssea, neste

contexto, é diagnóstica (Petty & Cassidy, 2005).

A AIJ sistémica está integrada no grupo de outras AIJ, mas apresenta aspectos muito

distintos. Como referido, apresenta uma forte associação à SAM que é muito rara nas outras

artrites juvenis. Enquanto a doença articular domina o quadro das outras AIJ, na sistémica, a

clínica é marcada por manifestações iniciais extra-articulares e não pela artrite. Mesmo esta

Page 6: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

5

diferencia-se pela sua destruição precoce. Analiticamente, a AIJ sistémica distingue-se pela

leucocitose marcada, trombocitose e elevação de proteinas de fase aguda. Não se verifica

preferência de sexo na incidência da doença. Em relação à patogénese, não há evidência de

associação entre alelos HLA e AIJ sistémica, ao contrário de outros subtipos de AIJ. Também não

se verifica elevação de auto-anticorpos ou células B e T auto-reactivas (Ogilvie et al, 2007).

Assim, verifica-se que a AIJ sistémica tem uma clínica distinta das outras AIJ, associada a

alterações imunológicas distintas.

Apesar da sua morbilidade e das complicações ameaçadoras de vida, a AIJ sistémica é

encarada como um diagnóstico de exclusão, por um lado porque exige o diagnóstico diferencial

com infecções, doenças inflamatórias e neoplásicas, por outro, pela falta de marcadores

específicos da doença.

Os estudos que têm sido publicados acerca da AIJ sistémica colocam esta doença mais

próxima dos síndromes auto-inflamatórios do que das doenças, como as outras artrites juvenis,

em que a auto-imunidade clássica parece ter um papel preponderante na patogénese. A

sistematização do conhecimento sobre o papel da auto-imunidade inata na patogénese da AIJ

sistémica poderá contribuir para um diagnóstico atempado (identificando potenciais marcadores),

monitorização da doença e para os avanços no seu tratamento.

Page 7: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

6

PAPEL DA IMUNIDADE INATA NA ETIOPATOGENIA DA AIJ SISTÉMICA

As características clínicas, analíticas e imunológicas da AIJ sistémica, sugerem que o

papel do sistema imunitário adaptativo pode ser limitado quando comparado com as outras

artrites juvenis, tendo ênfase a contribuição da imunidade inata. A AIJ sistémica parece tratar-se

de uma doença com um componente de inflamação estéril que não é patogenicamente dependente

de células auto-reactivas e autoanticorpos.

O estudo dos Toll-like receptors (TLRs) e suas vias de sinalização tem levantado questões

acerca do seu papel na inflamação estéril. Assumindo que os TLRs podem desencadear uma

resposta inflamatória perante estímulos exógenos e reconhecer moléculas endógenas sem essa

resposta, alterações neste mecanismo poderão conduzir a um estado de “auto-imunidade inata”

(Beutler, 2004), seja por activação aberrante de sensores ou falência de mecanismos inibitórios.

Assim sendo, e de acordo com esta ideia, a auto-imunidade pode ser dividida em essencialmente

clássica (adaptativa) e inata, baseada no contributo da imunidade adaptativa e inata. Quando há

alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

se verificam associações ao complexo de histocompatibilidade principal (MHC) classe II e não

aparecem títulos elevados de auto-anticorpos ou células T auto-reactivas. Predominarão os

monócitos, neutrófilos e células natural killer (NK) como células efectivadoras da resposta

(Beutler, 2004; Vastert et al, 2009). A nível clínico, as manifestações inflamatórias não se

associam a infecção e malignidade, devendo estas ser sempre excluídas (Vastert et al, 2009). Não

se pretende, contudo, excluir os agentes infecciosos da etiopatogenia de doenças com um papel

preponderante da autoimunidade inata. O desafio coloca-se em saber até que ponto poderão ser

estes agentes, ou moléculas endógenas, os responsáveis pelo desenvolvimento de uma sinalização

via TLR aberrante e sustentada. Há também síndromes inflamatórias relacionadas com mutações

nas vias de sinalização.

No que diz respeito à AIJ sistémica, têm sido desenvolvidos estudos de expressão de

genes numa tentativa de identificar genes específicos da doença, distanciando-a de outras artrites

juvenis, doenças auto-imunes, inflamatórias e infecciosas. Num estudo desenvolvido por Ogilvie

e colaboradores (2007), comparou-se o perfil de expressão de genes nas células mononucleares

do sangue periférico (PBMCs) de doentes com AIJ sistémica com os dados dos perfis de outras

doenças auto-imunes e inflamatórias (AIJ poliarticular; Síndrome articular, cutâneo, neurológico

Page 8: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

7

infantil crónico; doença de Kawasaki; lúpus eritematoso sistémico-LES). Foram identificados

286 genes, significativamente sobre-regulados na doença activa, dos quais 85 % eram específicos

da AIJ sistémica (não se sobrepondo com os genes das doenças supracitadas, incluindo a AIJ

poliarticular). Outro estudo, comparando o perfil de expressão de genes desta doença com o LES

e infecções virais ou bacterianas, identificou também um conjunto de 12 genes específicos

(Allantz et al, 2007). Também em relação às outras AIJ se verificou que a expressão de genes dos

doentes com AIJ sistémica (sem terapêutica prévia) é diferente (Barnes et al, 2009).

Tendo em consideração as características sistémicas da doença e a sua especificidade, é

fundamental analisar os mecanismos que desencadeiam e perpetuam esse estado inflamatório

cujos resultados, como referido, podem ser devastadores.

Para sistematizar o conhecimento sobre doenças auto-inflamatórias, podem-se definir seis

categorias (Masters et al, 2009). As doenças de activação da IL-1β (inflamassomopatias) são o

Tipo 1. Os inflamassomas são complexos multiproteicos intracelulares que requerem input das

vias de sinalização dos TLRs e dos NOD-like receptors (NLRs). As inflamassomopatias são

doenças desses complexos macromoleculares que depois de activados, actuam sobre a caspase-1

iniciando o processamento da IL-1β e IL-18 (Church et al, 2008). As inflamassomopatias podem

ser intrínsecas (alterações nas proteínas do complexo) ou extrínsecas (alterações de elementos

reguladores). O Tipo 2 corresponde a sindromes de activação do factor de transcrição NF-κB,

como por exemplo a doença de Crohn, em que ocorrem mutações que comprometem esta

activação em resposta a produtos intracelulares e levam à formação de granulomas. Do Tipo 3

fazem parte doenças do processamento alterado de proteínas das células do sistema imunitário

inato, como o receptor do TNF (levando a activação celular aberrante ou produção inadequada de

citocinas). O Tipo 4 são doenças com alteração na regulação do complemento e o Tipo 5

distúrbios na sinalização de citocinas. As síndromes de activação macrofágica (Linfohistiocitose

Hemofagocítica) integram o Tipo 6.

Relativamente à AIJ Sistémica há múltiplos mecanismos a serem estudados, o que ainda

não permite encaixar esta patologia num destes tipos. Identificaram-se moléculas que podem ser

possíveis factores endógenos activadores das vias dos TLRs e NLRs. Veremos também que têm

sido implicadas na patogénese as vias de sinalização de citocinas como a IL-1β, o que poderia

implicar a integração da patologia no grupo das inflamassomopatias. No entanto, os estudos não

Page 9: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

8

são totalmente conclusivos. Por outro lado, os casos da SAM levantam a hipótese de existirem

similaridades entre a patogénese desta doença e outras em que este está presente.

Auto-imunidade inata e a AIJ sistémica: importância das vias do TLR

O sistema imune inato, para cumprir a sua função de defesa, está equipado com receptores

de reconhecimento de padrões (PRRs) que reconhecem padrões moleculares associados a

patogéneos (PAMPs). A activação destes receptores resulta na secreção de citocinas e

quimiocinas que iniciam e amplificam a resposta inflamatória. Há também ligandos endógenos,

padrões moleculares associados a lesão (DAMPs), que quando libertados em resultado de lesão

celular ou secretados por células activadas são reconhecidos por PRRs. Estas moléculas

desencadeiam mecanismos imunes através dos NLRs, dos TLRs e dos receptors for advanced

glycation end products (RAGE) (Church et al, 2008; Foell et al, 2007).

Os TLRs têm um domínio extracelular para os ligandos e um domínio intracelular que

medeia as interacções com moléculas de sinalização, o domínio Toll- Receptor da Interleucina-1

(TIR). Há duas vias principais que podem ser activadas pelos TLR (Figura 1): a via MyD88 (de

activação dos factores de transcrição NF-kB e activating protein 1 - AP-1) e a via dependente do

Toll-receptor-associated activator of interferon (TRIF) (Becker & O'Neill, 2007).

Além do reconhecimento de padrões associados

a patogéneos, os TLRs podem reconhecer proteínas do

próprio e ácidos nucleicos endógenos. A activação

inapropriada destas vias pode desencadear ou perpetuar

respostas auto-imunes e a lesão tecidual (Sidiropoulos

et al, 2008).

Alguns dos estudos de expressão de genes em

doentes com AIJ sistémica têm identificado uma sobre-

expressão de genes da resposta imune inata,

nomeadamente, uma sobre-representação da via do TIR

e expressão aumentada de péptidos antimicrobianos

induzidos pela sinalização dessa via (Fall et al, 2007; Figura 1: Vias do TLR

Page 10: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

9

Barnes et al, 2009). Também se verificou expressão aumentada de genes envolvidos na regulação

negativa da resposta inflamatória inata mediada pelo TIR, nomeadamente de um marcador da via

alternativa de diferenciação dos macrófagos (SOCS3) e da IL-10 (Ogilvie et al, 2007; Barnes et

al, 2009). Além destes estudos genéticos, foram identificadas DAMPs libertadas por

fagócitos activados e reconhecidas pelo TLR4 dos monócitos: as proteínas S100A8 e S100A9

(Ehrchen et al, 2009), que se apresentam em níveis elevados na AIJ sistémica.

Auto-imunidade inata e a AIJ sistémica: identificação de DAMPs

As proteínas S100 fazem parte do grupo de moléculas pro-inflamatórias, as DAMPs

(Foell et al, 2007). A S100A8 (denominada também calgranulina A e MRP8-myeloid related

protein 8), a S100A9 (calgranulina B, MRP14) e a S100A12 (calgranulina C, proteina ligada ao

RAGE) estão especificamente ligadas a funções imunes inatas pela sua expressão em células de

origem mieloide. Estas proteínas específicas dos fagócitos, são moléculas citosólicas que se

ligam ao cálcio, e são secretadas por uma via alternativa à via clássica do reticulo endoplasmático

e complexo de Golgi (Rammes et al, 1997). Participam na resposta imune inata amplificando

reacções inflamatórias desencadeadas por factores derivados dos patogéneos, no caso da

infecção, ou desencadeadas por factores endógenos em estados auto-inflamatórios.

As proteínas S100A8 e S100A9 formam um complexo (ligação não covalente) com

funções distintas a nível intra e extracelular. Intracelularmente este complexo parace interagir

com os microtúbulos do citosqueleto dos fagócitos tendo um papel importante na sua migração.

Quando secretado por fagócitos activados durante processos inflamatórios, funciona como uma

molécula de sinalização (Ehrchen et al, 2009). Este complexo é um ligando endógeno do TLR-4

o que poderá explicar a semelhança da resposta inflamatória com infecções graves (Frosch et al,

2009).

Estas proteínas são expressas em granulócitos e monócitos/macrófagos em estádios

precoces de diferenciação (Roth et al, 2003). A sua interacção com o endotélio activado é um

importante estímulo para a secreção de S100A8 e A9 que se podem ligar especificamente às

células endoteliais aumentando a capacidade de ligação dos leucócitos à ICAM-1 endotelial

(Newton et al, 1998 cit in Foell et al, 2007). Também induzem quimiocinas proinflamatórias e

molećulas de adesão (VCAM-1 e ICAM-1) que favorecem uma resposta trombogénica e

Page 11: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

10

inflamatória nas células endoteliais (Viemann et al, 2005).

Numa tentativa de clarificar a contribuição do S100A8/S100A9 para a patogénese de

diferentes tipos de artrite, verificou-se que ratinhos deficientes em S100A9 (S100A9-/-

)

apresentam menos edema articular e infiltração leucocitária em situações de artrite induzida por

antigénios (van Lent et al, 2008). A deficiência S100A8-A9 parece também ser protectora em

relação à depleção de proteoglicanos, morte dos condrócitos e destruição da cartilagem. A

injecção de S100A8 na articulação do joelho de ratinhos resultou na sobre-regulação de citocinas

e metaloproteinases da matriz bem como na depleção de proteoglicano (van Lent et al, 2008).

Estes resultados reforçam o papel amplificador da resposta inflamatória e a actuação como

DAMPs destas proteínas.

As proteínas S100 poderão estar também implicadas nas manifestações cutâneas de

doenças auto-imunes. Na verdade, a sua sobre-expressão epidérmica durante o rash na AIJ

sistémica, parece estar relacionada com níveis séricos elevados dessas proteínas e maior

actividade da doença. O mesmo parece acontecer na artrite psoriática e no LES (Ehrchen, 2009).

A expressão de proteínas S100A8, S100A9 e S100A12 reforça o papel da imunidade inata

na patogénese da AIJ sistémica, uma vez que estas são secretadas especificamente durante a

activação de monócitos e neutrófilos. A sua concentração é elevada particularmente nas fases de

doença activa (Frosch et al, 2009) e os genes destas proteínas integram o grupo de genes

específicos sobre-regulados na doença (Olgivie et al, 2007). Para além da relação que apresentam

com o estado inflamatório exuberante da doença, estas proteínas são importantes marcadores no

diagnóstico diferencial com doenças infecciosas e inflamatórias (artrites, LES, Kawasaki,

vasculite sistémica), uma vez que apresentam concentrações significativamente mais elevadas na

AIJ sistémica (Frosch et al, 2009).

De relevo é o facto da proteína S100A9 induzir a secreção de IL-1β em monócitos

humanos, in vitro, podendo mesmo tratar-se do factor responsável pela sua libertação na AIJ

sistémica. A secreção é bloqueada por anticorpos anti-S100A9. Nos doentes, após tratamento com

IL-1Ra (antagonista do receptor da IL-1), as concentrações do complexo S100A8/A9 diminuem a

par com a diminuição da actividade da doença (Frosch et al, 2009). Estas observações sugerem

uma relação entre a IL-1β e este complexo. A IL-1β é activada através da caspase 1. Esta pode ser

activada por inflamassomas (sensíveis a DAMPs, como as proteínas S100) clivando a pro-IL1β e

activando a IL-18. Subsequentemente são secretadas numa via alternativa à via clássica do Golgi.

Page 12: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

11

Como as proteinas S100 também são secretadas por uma via alternativa, mas não dependem da

caspase 1, Frosch e cols. (2009) levantam a possibilidade de que esteja subjacente um mecanismo

de desregulação da via secretora que se segue à activação da caspase 1.

A S100A12 também apresenta concentrações elevadas no soro dos doentes com AIJ

sistémica. É expressa por granulócitos, também é secretada pela via secretora alternativa e liga-se

ao RAGE induzindo respostas pro-inflamatórias nos leucócitos e células endoteliais (Foell et al,

2006). Parece ser um bom marcador para o diagnóstico diferencial com doenças infecciosas e

inflamatórias, no entanto, não permite a diferenciação com a Febre Mediterrânea Familiar (FMF)

(Wittkowski et al, 2008). Uma vez que a FMF apresenta alterações na via dos inflamassomas

(Church et al, 2007) reforça-se a ideia de que a AIJ sistémica poderá integrar o grupo de doenças

auto-inflamatórias, aproximando-a do grupo das inflamassomopatias, sendo a sua patogénese

associada a mecanismos de imunidade inata alterados.

Inflamassomas e autoimunidade inata: interacção das vias TLR-NLR

Para além da via do TLR4 e das proteínas S100, têm sido implicadas na patogénese da AIJ

sistémica as vias de sinalização dos NLRs. Há vários tipos de NLRs diferenciados pelos seus

domínios estando alguns deles associados aos inflamassomas (NALP1, NALP2, NALP3 e IPAF)

(Becker & O'Neil, 2007). Estruturalmente o

inflamassoma é constituído por uma proteína NLR,

uma ou mais proteínas adaptadoras e uma ou mais

caspases inflamatórias actuando como efectivadoras

da resposta (Figura 2). A caspase 1 é o efectivador

central do inflamassoma, clivando e activando as

citocinas pro-inflamatórias IL-1β e IL-18

(Sidiropoulos et al, 2008).

Os TLRs e NLRs apresentam semelhanças na sua

estrutura e componentes, e interagem a nível de

sinalização. Por exemplo, após activação da caspase 1

pela via do inflamassoma, as citocinas IL-1β e IL-18

actuam através dos seus receptores. Estes, tal como os Figura 2: Estrutura dos inflamassomas

Page 13: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

12

TLRs, possuem um domínio TIR e usam a via MyD88. Por outro lado, a activação do TLR4 leva

à activação NF-kB via MyD88, que é necessária para induzir a expressão de pro-IL-1β (Becker &

O'Neil, 2007). Há, assim, uma cooperação entre as vias dos TLRs e os inflamassomas (Figura 3).

Figura 3: Interacção das vias TLR-NLR

Algumas doenças inflamatórias estão associadas a mutações em componentes do

inflamassoma, como por exemplo a FMF, com mutações num gene que codifica a pirina (um

componente regulador do inflamassoma NALP3), e as criopirinopatias que apresentam mutações

num domínio do inflamassoma NALP3 que resulta em processamento e secreção desregulada da

IL-1β (Church et al, 2008). Também a gota e pseudogota têm estas vias implicadas na sua

patogénese uma vez que os cristais de urato e pirofosfato de cálcio activam o inflamassoma

NALP3 elevando os níveis de IL-1β e IL-18 (Sidiropoulos et al, 2008).

Em relação à AIJ sistémica, embora ainda não se tenham identificado mutações em

componentes do inflamassoma, vários estudos têm implicado as citocinas IL-1β e IL-18 na sua

patogénese.

Page 14: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

13

IL-1

A IL- 1β parece ter um papel preponderante no sistema imune inato como mediador da

inflamação, sendo que a sua produção resulta da interacção de vias do TLR e NLR. Pascual e

cols. (2005) desenvolveram um estudo avaliando o papel da IL-1 na patogénese da AIJ sistémica,

comparando doentes (n=23) com controlos saudáveis. Através da análise de microarrays e da

polymerase chain reaction (PCR) em tempo real demonstraram que o soro dos doentes induzia a

transcrição de vários genes da imunidade inata e vários membros da família da IL-1 e IL-1R (IL-

1β, IL-1α, IL-1R1, IL-1R2), nas PBMCs do grupo controlo. Verificava-se ainda que, nestas

condições, o soro induzia a produção de IL-1β, especialmente o dos doentes febris. Nas células

dos doentes verificava-se uma elevação da transcrição da IL-1β e do receptor decoy da IL-1 (IL-

1R2) e um aumento da secreção de IL-1β após estimulação com PMA-ionomicina. Note-se que

no soro dos doentes, sem estimulação, os níveis de IL-1 não se diferenciaram do grupo controlo.

Os investigadores incluíram ainda no mesmo estudo, o tratamento com Anakinra (rIL-1Ra) de 9

doentes com doença activa resistente ao tratamento, tendo todos respondido positivamente a nível

clínico e laboratorial (dois com resposta incompleta). Concluíram que a desregulação da IL-1

teria um papel crucial na patogénese da doença, defendendo que o nível sérico de citocinas não

pode ser confundido com o seu papel na patogénese.

Há estudos que contrapõem a importância desta citocina na etiopatogenia da AIJ

sistémica. Entre os genes sobre-regulados na doença activa, parece não existir uma assinatura da

IL-1 (Ogilvie et al, 2007). Allantz e cols. (2007) verificaram que o tratamento com Anakinra não

alterou a expressão dos genes que identificaram como específicos da AIJ sistémica, o que pode

indicar que o bloqueio da IL-1 pode silenciar os sintomas, mas não ser suficiente para modificar a

assinatura molecular da doença. Quanto à resposta clínica ao bloqueio da IL-1 (Anakinra), parece

haver heterogeneidade entre os doentes, com quase metade apresentando uma resposta

incompleta. Aqueles com boa resposta apresentam menor número de articulações activas e um

aumento da contagem absoluta de neutrófilos (Gattorno et al, 2008). Os resultados parecem, no

entanto, ser melhores quando este tratamento é iniciado mais precocemente, antes da doença

articular estar estabelecida (Nigrovic et al, 2011). O tratamento e a actividade da doença parecem

não influenciar a secreção in vitro de IL1β e IL18, através da activação de monócitos com

ligandos dos TLRs, não se verificando um aumento da sua secreção (Gattorno et al, 2008). Note-

se que o método usado para estimulação celular é diferente do estudo de Pascual e cols. (2005).

Page 15: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

14

Estudos mais recentes identificaram as proteínas inflamatórias S100 como as possíveis indutoras

da secreção de IL-1, destacando novamente o papel da mesma na patogénese da doença (Frosh et

al, 2009). Mais uma vez, parece que os níveis de citocinas não se devem confundir com o papel

das suas vias na patogénese.

Na família de genes da IL-1 foram identificados alguns polimorfismos que poderão

associar-se a uma maior susceptibilidade à doença (Stock et al, 2008). Verificaram-se

polimorfismos na região de ligandos da IL-1 (próximos de genes que codificam a ILα e o IL-1Ra)

e um polimorfismo da região de receptores da IL-1 (na região do IL-1R2). No estudo é sugerido

que, como a IL1α de membrana se correlaciona com a gravidade da artrite (Niki et al, 2004), as

alterações na IL-1α podem estar associadas a perpetuação da inflamação articular e que

alterações no IL-1Ra podem intensificar a sinalização celular da IL-1. A alteração na codificação

do IL-1R2, pode levar a que o seu nível de expressão afecte o nível de actividade da IL-1 durante

a inflamação, dado que este actua como molécula decoy (sequestrando a IL-1 que não se irá ligar

ao IL-1R1). Note-se que os polimorfismos poderão afectar a susceptibilidade mas não ser causa

directa da patologia. Há estudos de expressão de genes que evidenciam o envolvimento da

sinalização TLR/IL-1R e aumento da expressão IL-1Ra que poderão eventualmente estar

associados a modificações de genes deste tipo (Fall et al, 2007; Barnes et al, 2009).

Num estudo recente respeitante ao envolvimento articular da doença, foi destacado o

papel da IL-1β na estimulação da secreção de uma proteína pró-inflamatória produzida por

células da matriz articular e que contribui para a artrite (Follistatin-like-protein-1: FSTL-1). Esta

proteína é específica da AIJ sistémica (Wilson et al, 2010).

Em conjunto, estes estudos apontam para a heterogeneidade provável da doença com

necessidade de analisar os subgrupos, numa tentativa de melhor compreender o papel das vias

associadas à IL-1 na AIJ sistémica. Deve-se ainda ter em consideração que só foram analisadas

células do sangue periférico e não noutros tecidos.

IL-18

Esta citocina promove a activação e proliferação de células T e NK, e favorece uma

resposta Th1. A IL-18 parece ter níveis aumentados quer no plasma quer no líquido sinovial dos

doentes com AIJ sistémica, sendo este aumento mais expressivo nas fases activas da doença (De

Jager et al, 2007). Os seus níveis correlacionam-se com a elevação de marcadores inflamatórios

Page 16: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

15

como a proteína C reactiva, desidrogenase láctica, ferritina, VS, mantendo-se elevados mesmo

nos períodos de remissão. Esta elevação não acontece noutros tipos de AIJ (Shimizu et al, 2010;

De Jager et al, 2007).

Nos doentes que desenvolvem SAM no contexto de AIJ sistémica, também se verifica

uma elevação significativa da IL-18 no plasma, aspecto distinto de outras doenças auto-

inflamatórias como a doença de Kawasaky e a linfohistiocitose hemofagocitica (HLH) induzida

por EBV (Shimizu et al, 2010). O papel da IL-18 na SAM poderá estar associado à influência na

actividade celular citolítica pois, a IL-18 activa as células NK, mas a sua elevação crónica pode

deprimir actividade das mesmas quer por exaustão, quer por diminuição da sua sensibilidade (De

Jager et al, 2007). Quando comparados com doentes com AIJ poliarticular, os doentes com AIJ

sistémica apresentam níveis de NK diminuídos no sangue periférico e um fenótipo distinto do

receptor dessas células. Evidenciam uma falha na regulação do IFNγ e de moléculas citolíticas

como a perforina após estimulação com IL-18, e não induzem a fosforilação de várias MAP

cinases. Estes aspectos parecem dever-se a defeitos na fosforilação na cadeia β do receptor da IL-

18 que poderão ser importantes na patogénese da doença (De Jager et al, 2009).

Quanto à patogénese, os níveis elevados de IL-18 poderão estar relacionados com as

alterações nas vias de sinalização comuns à IL-1. Como vimos, quando se bloqueia a via IL-1 há

doentes com boa resposta clínica. Assim, as alterações associadas à IL-1β e IL-18 poderão sugerir

um papel das vias TLRs e NLRs no desenvolvimento da doença, muito embora este até ao

momento não esteja esclarecido.

A IL-18 pode ser um importante mediador da doença, podendo ser útil para monitorização

da actividade da doença e para diferenciação de outras doenças inflamatórias.

Outras citocinas implicadas na patogénese da AIJ sistémica

Para além da IL-1 e da IL-18, há outras citocinas que têm sido implicadas na patogénese da AIJ

sistémica contribuindo para a desregulação da imunidade inata e para a resposta inflamatória

exuberante da doença. Os achados mais consistentes apontam para polimorfismos que poderão

indicar susceptibilidade genética, associados ao MIF e IL-6 e alterações na regulação da IL-10. O

efeito da interacção entre proteínas pró e anti-inflamatórias é provavelmente a chave das

características clínicas desta AIJ (Woo et al, 2007).

Page 17: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

16

TNF-α

O TNF-α (factor de necrose tumoral) é uma citocina pro-inflamatória potente associada à

artrite inflamatória, cujos níveis se encontram elevados no sangue de doentes com AIJ. Na AIJ

sistémica esta elevação verifica-se especialmente nos períodos de actividade intensa da doença,

mas nem sempre está presente aquando da elevação de outros marcadores inflamatórios (Mangge

et al, 1995; Mangge et al, 1999). Os níveis circulantes do receptor solúvel do TNF-α (sTNFR) 55

e 75 encontram-se elevados, sendo os níveis de sTNFR55 significativamente superiores àqueles

encontrados nos doentes com AIJ oligo e poliarticular (Muzaffer et al, 2002). A presença de

níveis elevados destes receptores nas AIJ, fez com que se tornassem alvos terapêuticos, tendo-se

usado o etanercept, proteína de fusão do sTNFR75, no tratamento dos doentes. No entanto,

resultados retrospectivos nos doentes com AIJ sistémica (N=82), especialmente naqueles com

doença refractária ao tratamento com corticoides, revelam má resposta à terapêutica em cerca de

metade dos doentes, podendo mesmo ocorrer um evento adverso como o SAM (Kimura et al,

2005). Um estudo multicêntrico prospectivo realizado em doentes com AIJ evidenciou uma taxa

de resposta ao etanercept mais baixa nos doentes com AIJ sistémica do que naqueles com AIJ

oligo e poliarticular (Quartier et al, 2003; Horneff et al, 2004). O uso de outros agentes anti-TNF,

como os anticorpos monoclonais do TNF-α (infliximab e adalimumab) também revelou respostas

variáveis, muito embora possa ser alternativa quando o etanercept falha (Russo et al, 2009). Os

resultados destes estudos sugerem que o TNF poderá ter um papel mais modesto na patogénese e,

consequentemente, no tratamento destes doentes do que inicialmente se esperava.

Foram investigadas alterações genéticas associadas ao TNF, tendo-se verificado uma

maior frequência do alelo 308-A nos doentes com AIJ FR- (Schmeling et al, 2006), especialmente

na AIJ sistémica. Estes doentes apresentam níveis mais elevados de TNF, maior actividade

inflamatória articular e incapacidade funcional. Contudo, a frequência do polimorfismo não

difere do grupo controlo, o que indica que este não confere susceptibilidade à doença, podendo

no entanto associar-se à exuberância do quadro inflamatório (Modesto et al, 2005; Mourão et al,

2009).

MIF

O MIF (factor inibidor da migração dos macrófagos) induz a produção de citocinas pro-

inflamatórias pelos macrófagos (IL-6, IL-1, IL-8, TNF-α) e parece contra-regular os efeitos

Page 18: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

17

inibitórios dos corticoides. Os estudos com ratinhos deficientes na produção de MIF (MIF-/-

)

revelaram que os macrófagos apresentavam uma redução da resposta inflamatória (com

diminuição dos níveis de IL-1, TNF e prostaglandinas) e maior indução da apoptose (Gregersen

& Bucala, 2003). Este potencial pro-inflamatório do MIF revelado por estudos in vivo e in vitro,

gerou interesse no estudo de possíveis alterações genéticas. Ainda não se identificaram variantes

alélicas no gene, mas foram encontrados alguns polimorfismos: na posição -173 e repetição

CATT -796 (Gregersen & Bucala, 2003).

O MIF encontra-se elevado no plasma dos doentes com AIJ na doença activa e no período

de remissão clínica (Woo, 2002; De Jager et al, 2007). Esta elevação é marcada no caso da AIJ

sistémica, verificando-se quer no plasma quer no líquido sinovial dos doentes (Meazza et al,

2002). Os níveis de MIF nos doentes com AIJ sistémica parecem estar associados com a presença

do polimorfismo -173 no gene MIF. Este polimorfismo foi estudado em famílias com doentes

com AIJ, estando presente nos doentes de diferentes subgupos de AIJ e conferindo

susceptibilidade à inflamação crónica (Donn et al, 2004). Na verdade, os portadores têm maior

elevação plasmática e sinovial, maior duração do tratamento diário com corticoides e maior

envolvimento articular do que os doentes sem o polimorfismo (Benedetti et al, 2003). Embora

nem os níveis de MIF nem o seu polimorfismo sejam um marcador específico da doença, uma

vez que se encontram noutras AIJ e noutras doenças auto-imunes, antevê-se que estas alterações

possam ser úteis como potenciais preditores de mau prognóstico, tendo em consideração que o

maior efeito do MIF reside na gravidade, progressão da doença e resposta ao tratamento

(Gregersen & Bucala, 2003).

IL-6

Nos doentes com AIJ sistémica, e de acordo com os estudos de expressão de genes, a IL-6

parece ser produzida preferencialmente por monócitos e células B (Ogilvie et al, 2007) e

encontra-se elevada no plasma e líquido sinovial (De Jager et al, 2007).

A IL-6 apresenta níveis elevados que se correlacionam com marcadores da actividade da

doença como a proteina C reactiva, VS e trombocitose. Eleva a sua concentração no plasma a par

com o pico febril diário que ocorre na AIJ sistémica e os seus valores caem com o retorno à

temperatura corporal normal. Os níveis do receptor solúvel da IL-6 (sIL-6R) também apresentam

esse padrão (Keul et al, 1998). O antagonista do receptor da IL-1 também aumenta, mas cerca de

Page 19: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

18

1h depois, provavelmente em resposta à IL-6. Mais tarde verificam-se elevações do TNF-α

(Prieur et al, 1996 cit in Fishman et al, 1998). Este padrão da IL-6 está especialmente associado a

um polimorfismo do gene da IL-6 (-174G), identificado em estudos de caso-controlo, com testes

de desequilíbrio de transmissão (TDT), conferindo maior susceptibilidade à exacerbação da

resposta inflamatória por sobreprodução da citocina (Fishman et al, 1998). Este polimorfismo

tem ainda um padrão de transmissão familiar nalguns doentes com AIJ sistémica de aparecimento

depois dos 5 anos de idade, sugerindo alguma heterogeneidade entre os doentes. Esta alteração

genética surge também noutras doenças auto-imunes com componente inflamatório não sendo

específico desta doença (Ogilvie et al, 2003).

No líquido sinovial os níveis de IL-6 também são muito elevados, numa percentagem

muito superior à artrite oligoarticular. Este dado, associado a inflamação prolongada, parece

explicar a maior inflamação articular associada a lesão cartilagínea e óssea, nos doentes

(Benedetti & Martini, 2005).

Os efeitos marcantes desta citocina na actividade da doença levaram ao desenvolvimento

de um anticorpo anti-IL-6R que compete com os receptores da IL6 de membrana e solúveis, inibe

a formação de complexos IL-6/sIL-6R e bloqueia a transdução de sinal via gp130 (proteína de

membrana associada à transdução de sinal através de tirosinas-cinase JAK). O tratamento parece

associar-se à remissão dos picos de febre e da artrite e a uma diminuição das proteínas de fase

aguda. A longo prazo melhora a mineralização óssea e contribui para o crescimento das crianças,

sendo que este último é muito afectado pelo tratamento agressivo com corticóides (Yokota et al,

2004).

O crescimento também é afectado pelos próprios níveis de IL-6 (Benedetti & Martini,

2005). Estudos com ratinhos transgénicos com sobreexpressão de IL-6, revelaram uma

diminuição de IGF-1 (apesar da produção hepática ser normal) e diminuição da proteína de

ligação do IGF-1 (IGFBP3) com aumento da sua proteólise (Benedetti et al, 2001). Nos doentes

com AIJ sistémica tembém se verificou uma diminuição do IGF-1 e da IGFBP3, que poderá

assim ser atribuída à sobreprodução de IL-6 (Benedetti et al, 2001).

Yokota e cols. (2008) têm vindo a demonstrar a efectividade do tratamento com anticorpo

anti-IL-6R (tocilizumab) nas crianças com AIJ sistémica. Verificaram que o turnover da

cartilagem de crescimento está suprimido na fase activa da doença, melhorando na fase de

remissão depois de iniciar o tratamento com tocilizumab. Acrescentaram que os valores da

Page 20: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

19

proteína da matriz oligomérica da cartilagem (COMP) poderão revelar-se um bom marcador da

actividade da doença e da alteração de crescimento das crianças, bem como da eficácia do

tratamento implementado (Yokota et al, 2008; Nakajima et al, 2009).

Apesar da evidência demonstrar níveis elevados da IL-6 em diferentes tecidos e uma boa

resposta ao tratamento com antagonistas do seu receptor, ainda não está clarificado se esta

citocina tem um papel na etiopatogenia da doença ou se está alterada em consequência de outros

mecanismos desregulados que interferem com as suas vias de sinalização.

IL-10

A IL-10 é um supressor potente das citocinas pro-inflamatórias (incluindo IL-1, IL-6, TNF-α).

Nos doentes com AIJ sistémica, os níveis de produção de IL-10 (por estimulação com

LPS) parecem apresentar um nível subóptimo quando comparados com os controlos (Woo,

2002). Além disso, entre os doentes com AIJ sistémica, aqueles com baixa produção de IL-10 têm

associado um polimorfismo do gene da IL-10 (IL10-1082), sendo que este apresenta uma

associação significativa com outro alelo: IL20-468. Considera-se que esta associação, a par com

os baixos níveis da citocina, poderá favorecer uma resposta Th2 e comprometer a diferenciação

das células T reguladoras (Treg) (Fife et al, 2006; Moller et al, 2010). Os estudos de expressão

genética de PBMCs têm verificado uma sobre-regulação desta citocina (Barnes et al, 2009;

Ogilvie et al, 2007). Esta sobre-expressão revela-se na fase activa da doença, sendo expressa

essencialmente por monócitos e não células T (Ogilvie et al, 2007).

Embora ainda pouco esclarecedores do papel desta citocina na patogénese da doença, os

estudos têm vindo a demonstrar alterações na produção e expressão genética da mesma,

sugerindo que poderá estar implicada uma desregulação ao nível das células Treg, contribuindo

para uma resposta pro-inflamatória exacerbada e descontrolada.

Na análise por citometria de fluxo as células Treg surgem com uma proporção aumentada

na fase quiescente (Macaubas et al, 2010), embora outros estudos refiram uma frequência baixa

no sangue periférico dos doentes com AIJ sistémica (comparando com controlos saudáveis e

doentes com AIJ oligoarticular) (Kleer et al, 2006). O seu número é restaurado depois de

transplante autólogo de células estaminais, verificando-se uma remissão parcial ou total da

doença. Uma vez que os defeitos genéticos não podem ser restaurados via transplante, pode-se

depreender que estão associados factores ambientais, factores relacionados com a própria doença

Page 21: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

20

e com o tratamento imunossupressor (Kleer et al, 2006).

Embora escassos, os dados apontam para uma desregulação das células Treg

aparentemente reversível com transplante autólogo e para uma alteração na expressão de IL-10,

sendo esta citocina produzida sobretudo nos monócitos e não nas células Treg.

Síndrome de activação macrofágica: implicações na patogénese da AIJ sistémica

A síndrome de activação macrofágica (SAM) pode apresentar-se em várias doenças

reumáticas como LES e espondilite anquilosante. A sua clínica e expressão laboratorial foram

descritas anteriormente. Ocorre de forma grave em cerca de 7% dos doentes com AIJ sistémica,

mas pensa-se que, pela semelhança clínica com os critérios da AIJ sistémica e pela evidência de

hemofagocitose no aspirado de medula óssea em cerca de 50% dos doentes, haja uma prevalência

e um espectro clínico mais alargado da síndrome entre os doentes (Behrens et al, 2007).

A clínica da síndrome, os achados laboratoriais, especialmente os elevados níveis de

ferrtina, e a hemofagocitose levam a crer que se trate de uma linfohistiocitose hemofagocítica

(HLH) secundária. A HLH pode ser familiar ou adquirida, podendo surgir como complicação de

doenças reumáticas ou malignidade. Pode ser desencadeada por agentes infecciosos, alterações ao

tratamento mas, na maioria dos casos, desconhece-se o factor desencadeante. É uma condição

ameaçadora da vida, com hiperinflamação causada por uma proliferação de linfócitos activados e

histiócitos secretando grandes quantidades de citocinas (IL-1β, IL-6, IL-8, IL-18, IL-10, IL-12,

GM-CSF, IFNγ, TNFα) (Grom, 2004; Janka, 2006). Verifica-se uma função diminuída ou ausente

das células NK e função anormal das T citotóxicas, geralmente devido a mutações no gene da

perforina (Grom, 2004). O desenvolvimento de HLH na presença da mutação da perforina parece

estar dependente da presença de células T CD8+ citotóxicas e da produção de IFN γ (Jordan et al,

2004). Neste contexto, surge um modelo explicativo em que a apresentação de um antigénio às

células T CD8+ resulta na sua activação, não ocorrendo depois a morte da célula apresentadora de

antigénio (APC) por defeito da resposta citotóxica. A apresentação de antigénio e a activação

celular perpetuam-se conduzindo a uma superprodução de citocinas e resposta inflamatória

sistémica (Behrens, 2008).

No caso da AIJ sistémica há evidência de disfunção das células NK, facto que a distingue

de outras AIJ. Nalguns doentes há também alterações na expressão de perforina conferindo um

Page 22: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

21

risco acrescido de desenvolver SAM (Villanueva et al, 2005). O número de células NK parece ser

normal (Macaubas et al, 2010). Ao analisar mutações do gene da perforina (PRF1) verificou-se

heterozigotia em mutações missense do gene (11 de 56 doentes), sendo mais prevalente nos

doentes com história de SAM (Vastert et al, 2010). Para além desta mutação, 10-30% dos doentes

com HLH familiar apresentam mutação no gene MUNC13-4, que compromete o transporte

intracelular de perforina. Nos doentes com AIJ sistémica e história de SAM, alguns apresentam a

mesma mutação e outros apresentam polimorfismos que podem estar associados a maior risco de

SAM (embora não esteja comprovada a relação dos polimorfismos com alterações na função da

proteína) (Zhang et al, 2008).

Além destas mutações, entre os doentes com AIJ sistémica, parece haver um grupo de

doentes com ferritina muito elevada (aspecto característico dos síndromes hemofagocíticos),

apresentando características distintas no perfil de expressão de genes de PBMCs. Verificou-se

que os doentes com níveis elevados de ferritina apresentavam expressão aumentada de genes

envolvidos na via citolítica (SH2D1A e Rab27a), que têm mutações associadas a síndromes

genéticas hemofagocíticas primárias (Fall et al, 2007).

Além destes factores, foi já referido que poderão existir alterações das células NK devido

a exaustão por hiperestimulação da IL-18 (De Jager et al, 2007). Recentemente, verificou-se que

as células NK dos doentes com AIJ sistémica falham na sobre-regulação de perforina e IFNγ após

estimulação com IL-18 devido à ausência de fosforilação do receptor IL-18Rβ (De Jager et al,

2009).

No que diz respeito ao papel dos macrófagos no SAM, nos doentes com AIJ sistémica,

especificamente naqueles com ferritina elevada, verifica-se uma expressão elevada de marcadores

de monócitos que seguem a via alternativa de diferenciação (GPR84, MS4A4A, CD163),

provavelmente devido à influência de cascatas anti-inflamatórias associadas ao SOCS3 e IL-1Ra

que alteram a resposta ao IFNγ (Fall et al, 2007). No SAM verifica-se assim, a expansão

persistente de macrófagos hemafagocíticos que expressam CD163, um receptor scavenger que

reconhece complexos de haptoglobina-hemoglobina (Fall et al, 2007; Bleesing et al, 2007). O seu

uptake leva à produção de heme-oxidase 1 (HO-1), proteína com efeito protector contra o stress

celular devido à inflamação, e que se encontra muito elevada no soro dos doentes com AIJ

sistémica activa (Takahashi et al, 2009). Nas síndromes HLH, para além da hiperferritinemia,

também se verifica a expressão de CD163 nos macrófagos e a expressão aumentada de HO-1, o

Page 23: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

22

que poderá eventualmente estar associado a um papel anti-inflamatório destas células em resposta

à inflamação sistémica, sendo a hemofagocitose requerida para a produção de grandes

quantidades de HO-1 (Behrens, 2008). Este papel anti-inflamatório é reforçado se pensarmos na

sobre-expressão de IL-10 em monócitos nos estudos de expressão de genes (Ogilvie et al, 2007).

Outra característica importante dos monócitos na AIJ sistémica é a sua resistência à

apoptose. Embora os mecanismos anti-apoptóticos ainda não estejam esclarecidos, verificam-se

alterações na indução do Fas-L e sobre-regulação de genes anti-apoptóticos como o BCL2a1 e

subregulação dos pro-apoptóticos como TP53. Estas alterações podem relacionar-se com

mediadores no plasma dos doentes já que a exposição de monócitos normais conduz a uma

redução da apoptose. Alguns dos mediadores que poderão estar implicados são: IL-1β, TNF-α,

MIF, S100A12 (Srivastava, 2010). Para além dos defeitos citolíticos, parece que a resistência à

apoptose contribui para a permanência de macrófagos activados.

Potenciais marcadores para o diagnóstico e monitorização da AIJ sistémica

Apesar do conhecimento acerca da patogénese da AIJ sistémica ser ainda escasso, os

estudos que se desenvolveram contribuiram para a identificação de potenciais marcadores de

diagnóstico e prognóstico, aspecto fundamental numa doença grave e com complicações

ameaçadoras de vida, possibilitando uma intervenção mais precoce.

As proteínas S100 revelaram-se bastante promissoras como marcadores, com elevada

especificidade e sensibilidade, para diferenciar os doentes com AIJ sistémica de outras causas de

febre de origem desconhecida (infecções, leucemias agudas, doença inflamatória multissistémica

de aparecimento neonatal – NOMID) (Wittkowski et al, 2008; Frosch et al, 2009). Também a

elevação da HO-1 poderá ser um importante marcador para diferenciar os doentes com AIJ

sistémica de outras doenças inflamatórias onde esta não se encontra tão elevada como AIJ

poliarticular, LES e Kawasaki (Takahashi et al, 2009).

Para diferenciar os doentes com AIJ sistémica de outras AIJ, a análise do plasma e líquido

sinovial de grupos de citocinas MIF, CCL2, CCL3, CXCL9 e 10, IL-18 poderá ser útil (De Jager

et al, 2007). A IL-18, para além do seu potencial para diagnóstico diferencial, pode ser um

marcador importante de monitorização da actividade da doença. Recentemente foi identificado

um novo potencial marcador da AIJ sistémica, a FSTL-1, elevada no plasma e no líquido sinovial

Page 24: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

23

de doentes com AIJ sistémica (sobretudo na fase activa), mas não em doentes com AIJ

oligoarticular e poliarticular. Como referido, esta proteína é secretada por células da matriz

articular em resposta à IL-1β (Wilson et al, 2010).

Os elevados níveis de ferritina poderão revelar-se importantes não só para diferenciar os

doentes com AIJ sistémica de outras AIJ, mas também para identificar aqueles que poderão

desenvolver doença mais grave, e monitorizar o possível desenvolvimento de SAM. O estudo de

Fall et al (2007) revelou heterogeneidade nos doentes com AIJ sistémica, tendo o grupo da

ferritina elevada apresentado níveis elevados de sCD163 e o sIL2Rα, maior expressão de genes

associados a alterações da via citolítica (SH2D1A, Rab27a) e maior associação à assinatura

genética da eritropoiese. Estes dados conferem a este grupo um risco acrescido de complicações

como o SAM.

Os dados acerca do SAM são ainda pouco esclarecedores relativamente à sua patogénese.

De momento, importa salientar o papel de marcadores como o sCD163, o sIL2Rα (que se

encontram elevados nos doentes com AIJ sistémica complicada com SAM) (Bleesing et al, 2007)

e a HO-1 como potenciais marcadores futuros para o diagnóstico atempado do mesmo.

Nesta doença têm sido identificados vários polimorfismos com o intuito de apoiar a

compreensão da sua patogénese e contribuir para o diagnóstico, prognóstico e risco de

desenvolvimento de complicações. Em relação ao SAM, as mutações no gene da perforina

(Vastert et al, 2010) e os polimorfismos do MUNC13-4 (Zhang et al, 2008), poderão informar

sobre o risco desta complicação. Foram também identificados alguns polimorfismos em citocinas,

mas não são específicos desta doença, o que restringe o seu uso para informação diagnóstica. Este

é o caso dos polimorfismos na famila de genes da IL-1 (Stock et al, 2008), da IL-6 (174-G)

(Ogilvie et al, 2003) e da IL-10 (Fife et al, 2006). Apesar de estar presente noutras doenças, o

polimorfismo -173 do MIF e a avaliação dos seus níveis, poderão ser úteis como preditores de

prognóstico (Benedetti et al, 2003).

Implicações no Tratamento

O tratamento estabelecido para a AIJ sistémica é iniciado com anti-inflamatórios não

esteróides e corticoterapia sistémica. O metotrexato é primeira escolha como tratamento de 2ª

linha (Petty & Cassidy, 2005).

Page 25: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

24

Com os avanços na terapia biológica, baseados nos conhecimentos acerca das citocinas

envolvidas na patogénese da doença, têm sido propostas novas linhas de orientação no tratamento

da AIJ sistémica. Bader-Meunier e cols. (2010) elaboraram guidelines para o diagnóstico e

tratamento desta doença, estabelecendo como tratamento de 2ª linha o Anakinra quando há sinais

persistentes sistémicos apesar do tratamento com corticoides. Aconselham também o tocilizumab

uma vez que já há estudos que têm mostrado a sua eficácia (Yokota et al, 2008). O etanercept,

apesar de não ser tão eficaz como noutras artrites juvenis, é recomendado em casos de

envolvimento poliarticular resistente ao tratamento (Kimura et al, 2005), podendo o ajuste da

dose, num regime de alta dose, favorecer a resposta ao tratamento (Takei et al, 2001).

Relativamente ao anakinra (IL1- Ra), como foi referido, pode haver heterogeneidade na

resposta ao tratamento (Gattorno et al, 2008), que poderá estar associada à excreção rápida do

antagonista ou por ineficácia na ocupação de todos os receptores (Vastert et al, 2009). Têm sido

desenvolvidos novos agentes para bloqueio da IL-1: o rilonacept (proteína de fusão do receptor

IL-1) e canakinumab (anticorpo monoclonal anti-IL-1β) que poderão ser promissores (Bader-

Meunier et al, 2010).

O tratamento da AIJ sistémica parece estar a direccionar-se para o uso de agentes que

bloqueiam a IL-1 e IL-6. Abrem-se também novas perspectivas face ao papel da IL-18 e proteínas

S100 no estado inflamatório persistente que a doença apresenta.

Page 26: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

25

CONCLUSÃO

A evolução na compreensão da patogénese da AIJ sistémica tem permitido avanços para

um diagnóstico atempado e um melhor tratamento dos doentes, apesar das dificuldades da

investigação tendo em conta que se trata de uma doença rara, o que compromete a significância

estatística dos estudos (amostras pequenas).

Quanto à patogénese da doença, abrem-se várias perspectivas no sentido de a classificar

como uma doença da auto-imunidade inata, muito embora não estejam esclarecidos os

mecanismos que poderão levar a uma desregulação favorecendo uma resposta inflamatória

exuberante e prolongada.

As suas características clínicas e a falha na identificação de auto-anticorpos e células T

auto-reactivas tem aproximado esta AIJ das doenças auto-inflamatórias. Os estudos de citocinas,

ao implicarem a IL-1 e a IL-18, trouxeram ainda a possibilidade de que esta artrite sistémica se

integrasse no grupo das inflamassomopatias. No entanto, os estudos são inconsistentes quanto à

relevância das mesmas na patogénese da doença. Até ao momento, os estudos permitem apenas

fazer inferências, não existindo ainda dados objectivos que sustentem o papel dos inflamassomas

e suas vias na etiopatogénese da doença. Por outro lado, a complicação do SAM e as semelhanças

encontradas a nível clínico, laboratorial e genético com a HLH deixam em aberto a possibilidade

de se tratar de uma doença histiocítica.

Os estudos da AIJ sistémica, pela sua gravidade e pela fatalidade das suas complicações,

centraram-se na tentativa de identificar marcadores e alvos terapêuticos para um diagnóstico e

tratamento precoces. Tendo-se verificado inicialmente a elevação das citocinas pro-inflamatórias

IL-6 e TNF, o etanercept tornou-se um candidato ao tratamento da doença refractária. A baixa

taxa de resposta e as complicações associadas ao mesmo, direccionaram esforços para a

identificação de novos alvos terapêuticos, sendo exemplos disso o anakinra e o tocilizumab.

Os estudos de expressão de genes desenvolvidos retratam bem a necessidade de procurar

marcadores de diagnóstico, prognóstico e alvos terapêuticos, mas não são suficientes para a

compreensão da patogénese da doença. Apesar da identificação de genes específicos que

distanciam a AIJ sistémica de doenças inflamatórias e infecciosas, ainda não está totalmente

esclarecido o papel das infecções na sua etiologia. A raridade da doença dificulta o

desenvolvimento de estudos epidemiológicos das infecções que possam preceder a artrite

Page 27: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

26

sistémica, mas a avaliação retrospectiva em doentes com diagnóstico recente seria uma

possibilidade. Poderia abrir-se caminho para, posteriormente, avaliar possíveis situações de

mimetismo molecular e reactividade cruzada que interfiram nas vias TLR, reforçando ou

enfraquecendo a teoria da auto-imunidade inata no contexto desta doença. Seria também um bom

ponto de partida para depois avaliar se estão presentes mutações genéticas que contribuam para a

disfunção do sistema imune e, a existirem, se por si só podem causar doença. Estes estudos

poderiam também esclarecer até que ponto as proteínas S100 são causa da activação destas vias

ou, se são produzidas e se elevam reagindo a factores externos.

Quanto ao perfil genético de susceptibilidade da AIJ sistémica é fundamental tecer

algumas considerações. A identificação de polimorfismos não é suficiente, uma vez que estes

podem encontrar-se na população em geral sem causar doença. A investigação carece de estudos

populacionais que avaliem a prevalência dos polimorfismos identificados relativamente à IL-6,

IL-1 e IL-10, podendo esclarecer até que ponto estes poderão ou não conferir susceptibilidade

para o desenvolvimento de doenças associadas a alterações da imunidade. Na investigação do

SAM não fica esclarecido se serão os polimorfismos a ditar a etiopatogénese ou, se a

histiofagocitose surge como consequência da tentativa de instalar uma resposta anti-inflamatória

que contrabalance a intensa inflamação sistémica.

De um modo geral, e apesar de algumas inconsistências, a investigação tem revelado um

papel preponderante de citocinas associadas ao sistema imune inato e os estudos de expressão de

genes têm identificado perfis associados à imunidade inata que necessariamente irão direccionar

a investigação para o estudo dos mecanismos inatos que poderão estar desregulados.

Page 28: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

27

LISTA DE ABREVIATURAS AIJ - Artrite Idiopatica Juvenil

AP 1 - Activating protein 1

APC - Antigen presenting cell

Bcl2a1 - B-cell lymphoma 2 (Bcl2) related

protein A1

CCL2 - Chemokine (C-C motif) ligand 2

CCL3 - Chemokine (C-C motif) ligand 3

CID - Coagulacao intravascular disseminada

COMP - Cartilage oligomeric matrix protein

CXCL9 - Chemokine (C-X-C motif) ligand 9

DAMP - Damage associated molecular pattern

EBV - Epstein Barr virus

Fas-l - Fas (CD95) ligand

FMF - Febre mediterranea familiar

FR - Factor reumatoide

FSTL-1 - Follistatin-like-protein-1

GM-CSF - Granulocyte-macrophage colony

stimulating factor

gp130 - Glycoprotein 130

HLA - Human leucocyte antigen

HLH - Hemophagocytic lymphohistiocytosis

HO-1 - Heme-oxidase 1

ICAM-1 - Inter-Cellular Adhesion Molecule 1

IFN - Interferon

IGF1 - Insulin-like grouth factor 1

IGFBP3 - Insulin-like growth factor binding

protein 3.

IL - Interleucina

IL-1R - Interleukin-1 receptor

IL-1Ra - Interleukin-1 receptor antagonist

IL-6R - Interleukin-6 receptor

ILAR - International League of Associations

for Rheumathology

IPAF - Interleukin 1β converting enzyme

protease-activating factor

JAK - Janus associated kinase

LES - Lupus eritematoso sistemico

MAP - Mitogen activated protein

MHC - Major histocompatibility complex

MIF - Macrophage migration inhibitory factor

MyD88 - Myeloid differentiation primary

response gene (88)

NALP - Nacht domain, Leucine-rich repeat

domain, and Pyrin domain-Containing Protein

NF-kB - Nuclear factor-kappa B

NK - Natural killer

NLR- NOD-like receptor

NOMID - Neonatal onset multisystem

inflammatory disease

PAMP - Pathogen associated molecular pattern

PBMC - Peripheral blood mononuclear cell

PCR - Polymerase chain reaction

PMA - Phorbol myristate acetato

PRR - Pattern recognition receptor

Rab27a – Membro da familia de oncogenes

Ras. Rab (Ras associated binding).

RAGE - Receptor for advanced glycation end

products

rIL-1Ra - Recombinant human interleukin-1

receptor antagonist

SAM - Sindrome de activacao macrofagica

sCD163 - Soluble cell determinant 163

SH2D1A - Src Homology 2 (SH2) domain

containing 1A

sIL2Rα - Soluble interleukin 2 receptor alpha

sIL6R - Soluble Interleukin-6 receptor

SOCS3 - Suppressor of cytokine signaling 3

sTNFR - Soluble tumor necrosis factor

receptor

TDT - Teste de desequilibrio de transmissao

Th1 - T helper type one

Th2 - T helper type two

TIR - Toll - interleucine-1 receptor

TLR - Toll-like receptor

TNF - Tumor necrosis factor

TP53 - Tumor protein p53

Treg - Regulatory T cell

TRIF - Toll-receptor-associated activator of

interferon

VCAM-1 - Vascular cell adhesion molecule 1

VS- Velocidade de sedimentacao

Page 29: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

28

BIBLIOGRAFIA

Allantz F, Chaussabel D, Stichweth D, Bennet L, Allman W, Mejias A, et al (2007). Blood leukocyte

microarrays to diagnose systemic onset juvenile idiopathic arthritis and follow the response to IL-1

blockade. J Exp Med 204 (9): 2131-2144.

Bader-Meunier B, Wouters C, Job-Deslandre C, Cimaz R, Hofer M, Pillet P, Quartier P (2010).

Recommandations pour la prise en charge de la forme systemique l'arthrite juvénile idiopathique

(maladie de Still). Archives de Pédiatrie 17:1090-1094.

Barnes M, Grom A, Thompson S, Griffin T, Pavlidis P, Itert L et al (2009). Subtype specific peripheral

blood gene expression profiles in recent onset juvenile idiopathic arthritis. Arthritis Rheum 60(7):

2102-2112.

Behrens E (2008). Macrophage activation syndrome in rheumatic disease: what is the role of the antigen

presenting cell? Autoimmun Rev 7: 305-308.

Behrens E, Beukelman T, Paessler M, Cron R (2007). Occult macrophage activation syndrome in patients

with systemic juvenile idiopathic arthritis. J Rheumatol 34(5):1133-1138.

Benedetti F, Martini A (2005). Targeting the IL-6 receptor: a new treatment for systemic juvenile

idiopathic arthritis. Arthritis Rheum 52: 687-693.

Benedetti F, Meazza C, Oliveri M, Pignatti P, Vivarelli M, Alonzi T et al (2001). Effect of IL-6 on IGF

Binding Protein-3: A Study in IL-6 Transgenic Mice and in Patients with Systemic Juvenile

Idiopathic Arthritis. Endocrinology 142(11):4818 – 4826.

Benedetti F, Meazza C, Vivarelli M, Rossi F, Pistorio A, Lamb R et al (2003). Functional and prognostic

relevance of the -173 polimorphism of the macrophage migration inhibitory factor gene in systemic-

onset juvenile idiopathic arthritis. Arthitis Rheum 48: 1398-1407.

Bleesing J, Prada A, Siegel D, Villanueva J, Olson J, Ilowite N et al (2007). The Diagnostic significance

of soluble CD163 and soluble interleukine-2 receptor α-chain in macrophage activation syndrome

and new-onset systemic juvenile idiopathic arthritis. Artrhtis Rheum 56: 965-971.

Church L, Cook G, McDermott M (2008). Primer: inflammassomes and interleukin 1β in inflammatory

disorders. Nat Clin Pract Rheumatol 4: 34-42.

De Jager W, Hoppenreijs E, Wulffraat N, Wedderbun L, Kuis W, Prakken B (2007). Blood and synovial

fluid cytokine signatures in patients with juvenile idiopathic arthritis: a cross-sectional study. Ann

Rheum Dis 66: 589-598.

De Jager W, Vastert S, Beekman J, Wulffraat N, Kuis W, Coffer P, Prakken B (2009). Defective

phosphorylation of interleukin-18 receptor β causes impaired natural killer cell function in systemic-

onset juvenile idiopathic arthritis. Arthritis Rheum 60: 2782-2793.

Page 30: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

29

De Kleer I, Vastert B, Klein M, Teklenburg G, Arkesteijn G, Yung GP et al (2006). Autologous stem cell

transplantation for autoimmunity induces immunologic self-tolerance by reprogramming autoreactive

T cells and restoring the CD4+ CD25+ immune regulatory network. Blood 107: 1696-1702.

Donn R, Alourfi Z, Zeggini E, Lamb R, Jury F, Lunt M et al (2004). A Functional Promoter Haplotype of

Macrophage Migration Inhibitory Factor Is Linked and Associated With Juvenile Idiopathic Arthritis.

Arthritis Rheum 50 (5): 1604–1610.

Fall N, Barnes M, Thornton S, Luyrink L, Olson J, Ilowite N et al (2007). Gene expression profiling of

peripheral blood from patients with untreated new-onset systemic juvenile idiopathic arthritis reveals

molecular heterogeneity that may predict macrophage activation syndrome. Arthritis Rheum 56 (11):

3793-3804.

Feldman B, Birdi N, Boone JE, et al (1996). Seasonal onset of systemic onset juvenile rheumatoid

arthritis. J Pediatr 129: 513-519.

Fife M, Gutierrez A, Ogilvie E, Stock C, Samuel J, Thomson W, Mack L, Lewis C, Woo P (2006). Novel

IL-10 gene family associations with systemic juvenile idiopathic arthritis. Arthritis Res. Ther. 8:R148

( http://arthritis-research.com/content/8/5/R148).

Fishman D, Faulds G, Jeffery R, Mohamed-Ali V, Yudkin J, Humphries S, Woo P (1998). The effect of

novel polimorphisms in the IL-6 gene on IL-6 transcription and plasma Il-6 levels, and an association

with systemic-onset juvenile chronic arthritis. J Clin Invest 102: 1369-1376.

Foell D, Wittkowski H, Vogl T, Roth J (2007). S100 proteins expressed in phagocytes: a novel group of

damage-associated molecular pattern molecules. J Leukoc Biol 81: 28-37.

Frosch M, Ahlmann M, Vogl T, Wittkowski H, Wulffraat N, Foell D, Roth J (2009). The myeloid-related

proteins 8 and 14 complex, a novel ligand of Toll-like receptor 4 and interleukin-1β form a positive

feedback mechanism in Systemic-onset juvenile idiopathic arthritis. Arthritis Rheum 60 (3): 883-891.

Frosch M, Metze D, Foell D, Vogl T, Sorg C, Sunderkötter C, Roth J (2005) Early activation of cutaneous

vessels and epithelial cells is characteristic of acute systemic onset juvenile idiopathic arthritis.

Experimental Dermatology. 14(4):259-65.

Gattorno M, Piccini A, Lasiglie D, Tassi S, Brisca G, Carta S et al (2008). The pattern of response to

antiinterleukin-1 treatment distinguishes two subsets of patients with systemic-onset juvenile

idiopathic arthritis. Arthritis Rheum 58 (5):1505–1515.

Gregersen PK, Bucala R (2003). Macrophage Migration Inhibitory Factor, MIF Alleles, and the

Genetics of Inflammatory Disorders: Incorporating Disease Outcome Into the Definition of

Phenotype. Arthritis Rheum 48 (5): 1171–1176.

Grom A (2004). Natural Killer Cell Dysfunction: a common pathway in Systemic-onset Juvenile

Rheumatoid Arthritis, Macrophage Activation Syndrome, and Hemophagocytic Lymphohistiocytosis?

Page 31: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

30

Arthritis Rheum, vol 50, 3: 689-698.

Hinze C, Fall N, Thornton S, Mo J, Aronow B, Layh-Schmitt G et al (2010). Immature cell populations

and an erythropoiesis gene-expression signature in systemic juvenile idiopathic arthritis: implications

for pathogenesis. Arthritis Res Ther, 12: R123.

Horneff G, Schmeling H, Biedermann T, Foeldvari I, Ganser G, Girschick HJ et al (2004). The German

Etanercept Registry for Treatment of Juvenile Idiopathic Arthritis. Ann Rheum Dis 63:1638-44.

Janka G (2007). Familial and acquired hemophagocytic lymphohistiocytosis. Eur J Pediatr 166: 95-109.

Jordan M, Hildeman D, Kappler J, Marrack P (2004). An animal model of hemophagocytic

lymphohistiocytosis (HLH): CD8+ T cells and interferon gamma are essencial for the disorder. Blood

104 (3): 735-743.

Keul R, Heinrich P, Muller-Newen G, Muller K, Woo P (1998). A possible role for soluble IL-6 receptor in

the pathogenesis of systemic onset juvenile chronic arthritis. Cytokine 10: 729-734.

Kimura Y, Pinho P, Walco G, Higgins G, Hummel D, Szer I et al (2005). Etanercept treatment in patients

with refractory systemic onset juvenile rheumatoid arthritis. J Rheumatol 32(5):935-42.

Lindsey CB (1987). Seasonal variation in systemic onset juvenile rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum

30: 838-839.

Macaubas C, Nguyen K, Deshpand C, Phillips C, Peck A, Lee T et al (2010). Distribution of circulating

cells in systemic juvenile idiopathic arthritis across disease activity states. Clinical Immunology 134:

206-216.

Mangge H, Kenzian H, Gallistl S, Neuwirth G, Liebmann P, Kaulfersch W et al (1995). Serum cytokines

in juvenile rheumatoid arthritis : correlation with conventional inflammation parameters and clinical

subtypes. Arthritis Rheum 38 (2): 211-220.

Mangge H, Gallistl S, Schauenstein K (1999). Long-term follow-up of cytokines and soluble cytokine

receptors in peripheral blood of patients with juvenile rheumatoid arthritis. J Interferon Cytokine Res

19:1005-10.

Masters SL, Simon A, Aksentijevich I, Kastner DL (2009). Horror Autoinflammaticus: The Molecular

Pathophysiology of Autoinflammatory Disease. Annu Rev Immunol 27:621–668.

Meazza C, Travaglino P, Pignatti P, Magni-Manzoni S, Ravelli A, Martini A (2002). Macrophage

migration inhibitory factor in patients with juvenile idiopathhic arthritis. Arthritis Rheum 46: 232-

237.

Möller JC, Paul D, Ganser G, Range U, Gahr M, Kelsch R et al (2010). IL10 promoter polymorphisms are

associated with systemic onset juvenile idiopathic arthritis (SoJIA). Clin Exp Rheumatol 28(6):912-

918.

Muzaffer MA, Dayer JM, Feldman BM, Pruzanski W, Roux-Lombard P, Schneider R et al (2002).

Page 32: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

31

Differences in the profiles of circulating levels of soluble tumor necrosis factor receptors and

interleukin 1 receptor antagonist reflect the heterogeneity of the subgroups of juvenile rheumatoid

arthritis. J Rheumatol 29(5):1071-8.

Nakajima S, Naruto T, Miyamae T, Imagawa T, Mori M, Nishimaki S, Yokota S (2009). Improvement of

reduced serum cartilage oligomeric matrix protein levels in systemic juvenile idiopathic arthritis

patients treated with the anti-interleukin-6 monoclonal antibody tocilizumab. Mod Rheumatol 19:42-

46.

Nigrovic P, Mannion M, Prince F, Zeft A, Rabinovich C, Rossum M et al Anakinra as first-line disease

modifying therapy in systemic juvenile idiopathic arthritis . Arthritis Rheum 62 (2): 545-555.

Niki y, Yamada H, Kikuchi T, Toyama Y, Matsumoto H, Fugikawa K et al (2004). Membrane-associated

IL1 contributes to chrnic synovitis and cartilage destruction in human IL1 alpha transgenic mice. J

Immunol 172: 577-584.

Ogilvie E, Fife M, Thompson SD, Twine N, Tsoras M, Moroldo M et al (2003). The -174G allele of

the interleukin-6 gene confers susceptibility to systemic arthritis in children: a multi-center study

using simplex and multiplex juvenile idiopathic arthritis families. Arthritis Rheum 48: 3202–3206.

Ogilvie ME, Khan A, Hubank M, Kellam P, Woo P (2007). Specific Gene Expression Profiles in Systemic

Juvenile Idiopathic Arthritis. Arthritis Rheum 56 (6): 1954-1965.

Pascual V, Allantz F, Arce E, Punaro M, Banchereau J (2005). Role of interleukine-1 (IL-1) in the

pathogenesis of systemic inset juvenile idiopathic arthritis and clinical response to IL-1 Blockade. J

Exp Med 201(9): 1479-1486.

Petty RE, Cassidy JT (2005). Systemic Arthritis. In: Textbook of Pediatric Rheumatology. 5th Ed. Edited

by Cassidy JT, Petty RE, Laxer RM, Lindsley CB. Elsevier Saunders. 291-303.

Quartier P, Taupin P, Bourdeaut F, Lemelle I, Pillet P, Bost M et al (2003). Efficacy of Etanercept for the

Treatment of Juvenile Idiopathic Arthritis According to the Onset Type. Arthritis Rheum 48 (4):

1093–1101.

Rammes A, Roth J, Goebeler M, Klempt M, Hartmann M, Sorg C (1997). Myeloid-related protein (MRP)

8 and MRP14, calcium biding proteins of the S100 family, are secreted by activated monocytes via a

novel, tubulin dependent pathway. Journal Biol Chem 272: 9496-9502.

Roth J, Vogl T, Sorg C, Sunderkotter C (2003). Phagocyte-specific S100 proteins: a novel group of pro-

inflammatory molecules. Trends Immnunol 24:155-158.

Russo RA, Katsicas MM (2009). Clinical Remission in patients with systemic juvenile idiopathic arthritis

treated with anti-tumor necrosis factor agents. J Rheumatol 36:1078.

Schmeling H, Wagner U, Peterson A, Horneff G (2006). Tumor necrosis factor alpha promoter

polymorphisms in patients with juvenile idiopathic arthritis. Clin Exp Rheumatol 24 (1):103-8.

Page 33: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

32

Schneider R, Laxer RM (1998). Systemic onset juvenile arthritis. Baillieres Clinical Rheumatology, 12:

245-271.

Shimizu M, Yokoyama T, Yamada K, Kaneda H, Wada H, Wada T et al (2010). Distinct cytokine profiles

of systemic-onset juvenile idiopathic arthritis-associated macrophage activation syndrome with

particular emphasis on the role of interleukin-18 in its pathogenesis. Rheumatology 49 (9): 1645-

1653.

Smolewska E, Stanczyk J, Brozik H, Biernacka-Zielinska M, Cebula B, Robak T, Smolewski P (2008).

Distribution and clinical significance of blood dendritic cells in children with juvenile idiopathic

arthritis . Ann Rheum Dis 67: 762-768.

Sotck C, Ogilvie E, Samuel J, Fife M, Lewis C, Woo P (2008). Comprehensive association study of

genetic variants in the IL-1 gene family in systemic juvenile idiopathic arthritis. Genes Immun 9:

349-357.

Srivastava S, Macaubas C, Deshpande C, Alexander H, Chang S, Sun Y et al (2010). Monocytes are

resistant to apoptosis in systemic juvenile idiopathic arthritis. Clinical Immunology 136: 257–268.

Takahashi A, Mori M, Naruto T, Nakajima S, Miyamae T, Imagawa T, Yokota S (2009). The role of heme

oxydase-1 in systemic-onset juvenile idiopathic arthritis. Mod Rheumatol 19: 302-308.

Takei S, Groh D, Bernstein B, Shaham B, Gallagher K, Reiff A (2001) Safety and efficacy of high dose

etanercept in treatment of juvenile rheumatoid arthritis. J Rheumatol 28:1677-80.

Uziel Y, Pomeranz A, Brik R, Navon P, Mukamel M, Press J, et al (1999). Seasonal variation in systemic

onset juvenile rheumatoid arthritis in Israel. J Rheumatol 26: 1187-1189.

van Lent PL, Grevers LC, Blom AB, Arntz O, van de Loo FA, van der Kraan P et al (2008). Stimulation of

chondrocyte-mediated cartilage destruction by S100A8 in experimental murine arthritis. Arthritis

Rheum 58, 3776-3787.

van Lent PL, Grevers LC, Blom AB, Sloetjes A, Mort JS, Vogl T et al (2008). Myeloid-related proteins

S100A8/S100A9 regulate joint inflammation and cartilage destruction during antigen-induced

arthritis. Ann Rheum Dis 67, 1750-1758.

Vastert SJ, Kuis W, Grom A (2009). Systemic JIA: new developments in the understanding of the

pathophysiology and therapy. Best Pract Res Clin Rheumatol 23: 655-664.

Vastert S, Wijk R, D’Urbano L, Vooght K, de Jager W, Ravelli A et al (2010). Mutations in the perforin

gene can be linked to macrophage activation syndrome in patients with systemic onset juvenile

idiopathic arthritis. Rheumatology 49 (3):441-449.

Viemann D, Strey A, Janning A, Jurk K, Klimmek K, Vogl T (2005). Myeloid-related proteins 8 and 14

induce a specific inflammatory response in human microvascular endothelial cells. Blood 105: 2955-

2962.

Page 34: PATOGÉNESE DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL SISTÉMICA PAPEL DA IMUNIDADE INATA · alterações na imunidade inata, podem-se desenvolver síndromes auto-inflamatórias, em que não

33

Villanueva J, Lee S, Giannini E, Graham T, Passo M, Filipovich A, Grom A (2005). Natural killer cell

dysfunction is a distinguishing feature of systemic onset juvenile rheumatoid arthritis and

macrophage activation syndrome. Arthritis Res Ther 7 (1): R30-37.

Wilson D, Marinov A, Blair H, Bushnell D, Thompson S, Chaly Y, Hirsch R (2010). Follistatin-like-

protein-1 is a mesenchyme-derived inflammatory protein and may represent a biomarker for

systemic-onset juvenile rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum DOI 10.1002/art.27485.

Wittkowski H, Frosch M, Wulffraat N, Goldbach-Mansky R, Kallinich T, Kuemmerle-Deshner J et al

(2008). S100A12 is a novel molecular marker differentiating systemic-onset juvenile idiopathic

arthrtitis from other causes of fever of unknown origin. Arthritis Rheum 58 (12): 3924-3931.

Woo P (2002). Cytocines and Juvenile Idiopathic Arthritis. Curr Rheumatol Rep 4: 452-457.

Woo P, Laxer RM, Sherry DD (2007). Pediatric Reumathology in Clinical Practice. London: Springer-

Verlag.

Yokota S, Imagawa T, Mori M, Miyamae T, Aihara Y, Takei S et al (2008). Efficacy and safety of

tocilizumab in patients with systemic-onset juvenile idiopathic arthritis: a randomized, double-blind,

placebo-controlled, withdrawal phase III trial. Lancet 371 (9617): 987-97.

Yokota S, Miyamae T, Tomoyuki I, Iwata N, Katakura S, Mori M (2004). Inflammatory cytokines an

systemic-onset juvenile idiopathic arthritis. Mod Rheumatol 14:12-17.

Zhang K, Biroschak J, Glass D, Thompson S, Finkel T, Passo M et al (2008). Macrophage activation

syndrome in patients with systemic juvenile idiopathic arthritis is associated with MUNC13-4

polymorphisms. Arthritis Rheum 58 (9): 2892-2896.