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Patricia Silva O Caso Da Iniciativa Dos Bairros Críticos No Bairro Do Lagarteiro
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COMUNIDADE EMPREENDEDORA:
O caso da Iniciativa dos Bairros Crticos no Bairro do Lagarteiro
Dissertao apresentada Universidade Catlica Portuguesa
para obteno do grau de mestre em Cincias da Educao
Especializao em Pedagogia Social
Por
Patrcia Carolina Silva
(Porto, Maro de 2012)
COMUNIDADE EMPREENDEDORA:
O caso da Iniciativa dos Bairros Crticos no Bairro do Lagarteiro
Dissertao apresentada Universidade Catlica Portuguesa
para obteno do grau de mestre em Cincias da Educao
Especializao em Pedagogia Social
Sob a orientao de
Professora Doutora Cristina Palmeiro
(Porto, Maro de 2012)
() o lugar antropolgico, simultaneamente princpio de sentido para os que
o habitam e princpio de inteligibilidade para aquele que o observa
Aug, 2005, p. 46
I
AGRADECIMENTOS
Agradeo Universidade Catlica Portuguesa, concretamente pessoa
do Professor Doutor Joaquim Azevedo, Presidente do CRP/UCP e
Professora Doutora Isabel Baptista, que nos acolheram desde o primeiro dia de
uma forma to envolvente, que nos fez acreditar em ns prprios e seguir os
caminhos neste estabelecimento de ensino.
Professora Doutora Cristina Palmeiro, um especial agradecimento,
expressado num sentimento de gratido, por toda a sua dedicao a este
desafio, pela pacincia para com a minha pessoa, pela sua constante
perseverana, pela sua incondicional disponibilidade que moveram em mim a
motivao, a fora e o acreditar necessrios ao longo deste percurso.
equipa da IBC Lagarteiro, Cludia Costa, Hlder Nogueira, Branco
Lima e Ftima Teixeira, um especial obrigado por me acolherem e desafiarem
as minhas competncias profissionais, bem como a todas as instituies
parceiras da IBC.
s minhas amigas que estaro sempre no meu corao e que juntas
ultrapassamos momentos de partilha de vrias emoes, crescemos juntas
nesta aventura, fomos fonte de inspirao mutua e a todas vs, Ana Cames,
Ana Ferreira, Sofia Chacim, Filomena Amorim, bem como a todo o grupo do
Mestrado em Pedagogia, o meu muito sincero OBRIGADO.
minha famlia, em especial ao Bruno Sousa, pela pacincia mas
sobretudo pela motivao e amor incondicional.
Aos meus pais e ao meu irmo, por acreditarem em mim.
II
III
RESUMO
O trabalho agora apresentado corresponde a uma investigao centrada
no estudo e reflexo sobre a Mediao Social e a Iniciativa Bairros Crticos,
nomeadamente no Bairro do Lagarteiro. O empreendedorismo social e a
mediao social so os eixos centrais da nossa ao e os fundamentos da
pesquisa emprica. Em termos conceptuais, esta dissertao enquadra-se no
domnio terico da Pedagogia Social e, nesse quadro, persegue os princpios
da Aprendizagem ao Longo da Vida e a lgica da valorizao e proximidade
humana. Os dados recolhidos durante o percurso de ao-investigao situam-
se numa atitude de avaliao formativa e decorrem entre Setembro de 2010 e
Outubro de 2011. Perodo em que assumimos o papel de mediadora e de
investigadora da medida 2.5. Neste quadro, sobressai a importncia da figura
do mediador social e, conforme se sustenta neste trabalho, muito
concretamente a figura do pedagogo-mediador, enquanto agente de
interveno e de desenvolvimento sociocomunitrio.
Palavras-chave: Pedagogia Social, aprendizagem ao longo da vida, mediao
social, empreendedorismo social
IV
ABSTRACT
The work presented corresponds to an investigation focused on the study
and reflection on the Mediation Neighborhoods Initiative and Social Critics,
including the District of Lagarteiro. Social entrepreneurship and social mediation
are the central pillars of our action and the foundations of empirical research.
Conceptually, this work fits into the theoretical domain of Social Pedagogy, and
in this context, pursues the principles of Lifelong Learning and the logic of
exploitation and human proximity. Data collected during the course of action-
research are an attitude of formative assessment and held between September
2010 and October 2011. Period in which we assume the role of "mediator" and
researcher of the measure 2.5. In this context, highlights the importance of the
figure of "social mediator" and, as this work argues, quite specifically the figure
of the teacher-mediator, as an agent of intervention and socio-communitarian
development.
Keywords: Social Pedagogy, lifelong learning, social mediation, social
entrepreneurship
V
ndice
AGRADECIMENTOS .......................................................................................... I
RESUMO .......................................................................................................... III
ABSTRACT ....................................................................................................... IV
Introduo .......................................................................................................... 1
PARTE I ENQUADRAMENTO TERICO
1. Os paradoxos da Sociedade Global ....................................................................... 3
1.1. A Sociedade em que vivemos ............................................................... 3
1.2. Uma poltica urbana diferente ................................................................ 5
1.3. A sociedade das novas oportunidades ................................................ 8
2. A insero na vida profissional: a responsabilidade de participar ..................... 9
2.1. A Pedagogia Social e os trajetos profissionais ................................... 9
2.2. Mediao e Interveno Comunitria ................................................. 11
2.3. O Empreendedorismo social ................................................................ 13
3. A Iniciativa Bairros Crticos .................................................................................... 16
3.1. Emergncia e marco ............................................................................. 16
3.2. A natureza e a misso do Programa .................................................. 20
3.3. Um Modelo de Gesto inovatrio ........................................................ 22
PARTE II ROTEIRO DA INVESTIGAO
1. A viso global da pesquisa ..................................................................................... 25
1.1. Abordagem metodolgica ..................................................................... 25
1.2. Questes e objetivos de investigao ................................................ 26
2. Populao do estudo ............................................................................................... 27
3. O Territrio de Interveno .................................................................................... 29
3.1. O Bairro do Lagarteiro ........................................................................... 29
VI
3.2. A Comunidade Empreendedora .......................................................... 30
3.3. Do roteiro s aes/atividades ............................................................ 31
4. A Metodologia do Projeto de Investigao .......................................................... 39
4.1. Estudo de Caso ...................................................................................... 39
4.2. Recolha de dados .................................................................................. 40
5. Apresentao dos Dados ....................................................................................... 42
5.1. Participantes/Amostra ........................................................................... 42
5.2. Coordenadora ..................................................................................... 48
5.3. Observao participante e o desafio do investigador/ator .............. 52
6. Discusso de dados ................................................................................................ 54
Concluso ....................................................................................................... 57
Bibliografia ..................................................................................................... 62
Anexo 1 ........................................................................................................... 69
Anexo 2 ........................................................................................................... 72
Anexo 3 ........................................................................................................... 73
ndice de Quadros
QUADRO 1- IBC. EIXOS DE AO ......................................................................... 30
QUADRO 2 - PLANO INTEGRADO DE FORMAO..................................................... 32
QUADRO 3- PARTICIPANTES/AMOSTRA ................................................................. 43
ndice de Grficos
GRFICO 1 PARTICIPANTES POR GRUPO ETRIO .................................................. 27
GRFICO 2 - HABILITAES LITERRIAS ................................................................ 28
VII
1
Introduo
O presente trabalho inscreve-se no trabalho subordinado ao tema
Comunidade Empreendedora: O caso da Iniciativa dos Bairros Crticos no
Bairro do Lagarteiro, desenvolvido no mbito do Mestrado em Cincias da
Educao, Especializao em Pedagogia Social e visa averiguar e
compreender de que forma a medida 2.5 Comunidade Empreendedora, atravs
da utilizao das estratgias de Mediao Sociopedaggica, contribuiu
efetivamente para a insero dos elementos desta comunidade na vida ativa.
O estudo que agora apresentamos nasce por consequncia do trabalho
que temos vindo a desenvolver no Gabinete da Iniciativa Bairros Crticos-
Lagarteiro, Porto, enquanto profissional da rea social e da necessidade de
melhor entender as razes que promovem a integrao na vida ativa e
sobretudo quais os mecanismos que podem desbloquear estas situaes.
Em termos metodolgicos, o processo de investigao foi sustentado
numa estratgia de natureza qualitativa e desenvolvido durante dez meses,
concretamente, entre Setembro de 2010 e Outubro 2011.
A Iniciativa Bairros Crticos um Programa Nacional promovido pela
Secretaria de Estado do Ordenamento do Territrio e Cidades, atravs do
Instituto da Habitao e da Reabilitao Urbana e constitui-se como um
instrumento da Poltica de Cidades para o desenvolvimento de solues de
qualificao de territrios urbanos que apresentam fatores de vulnerabilidade
crtica conforme Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005, de 2 de
Agosto publicada no DR,I Srie B, de 7 de Setembro de 20051. Inicialmente
desenhada para dois anos, foi objeto de prorrogao at 2013, mediante a
Resoluo do Conselho de Ministros n 189/2007, de 31 de Dezembro 20072.
1 Anexo 1
2 Anexo 2
2
Neste contexto foram desenvolvidas diversas aes, enquadradas em
dois eixos de interveno, um na rea da Requalificao urbanstica e
ambiental do bairro e outro na promoo de uma cidadania ativa. Vamos,
contudo, enfatizar o eixo relativo s questes da qualificao da populao
com dfice de integrao na vida ativa, nomeadamente, a medida 2.5-
Comunidade Empreendedora.
Em termos organizacionais, a dissertao encontra-se dividida em duas
partes. A primeira parte respeita fundamentao terica e abrange as
questes relativas sociedade global e incluso social, viso da Pedagogia
Social e o paradigma de aprendizagem na e com a vida, para melhor
empreender e equacionar as situaes-problema que esta populao
especifica enfrenta.
A segunda parte integra o enquadramento emprico e fundamenta as
questes e objetivos da investigao, a planificao e design da investigao,
apresentao dos dados, discusso e concluses (algumas).
3
PARTE I ENQUADRAMENTO TERICO
1. Os paradoxos da Sociedade Global
1.1. A Sociedade em que vivemos
A sociedade em que vivemos , nas palavras de Daniel Innerarity, uma
sociedade invisvel, lotada de transformaes e contradies (2009). Mais,
continua o mesmo autor, no fcil entender a nossa sociedade (). Muitas
coisas deixaram de ser o que eram: o poder, a guerra, os territrios, a
comunicao, o medo, a economia (Idem, p.12). Ora, num tempo mpar de
avanos da cincia e da tecnologia, onde a nossa longevidade atinge ndices
jamais alcanados, a qualidade de vida e a o futuro das novas geraes cada
vez mais complexa e incerta. H riscos muito graves. Hoje existem centros de
poder econmico e financeiro que controlam economias inteiras e tendem a
controlar, ou condicionar, a economia mundial no seu todo (Patrcio, 2002, p.
73).
As informaes, como os capitais e as mercadorias, atravessam fronteiras.
O que estava distante aproxima-se. A evoluo que vivemos quase
desumana. Os terrorismos, inseguranas e desgovernao (Nobre, 2009,
p.81) so questes maiores da nossa poca.
Recentemente, as questes do desemprego (e o no emprego) fustigam de
forma indelvel alguns dos pases ditos desenvolvidos3. Portugal no
exceo. O problema quando a sociedade no consegue satisfazer as
necessidades das suas gentes e faz eclodir situaes de instabilidade e de
excluso. Nesse horizonte, o disfuncionamento do sistema origina situaes
complexas e inibe pleno exerccio da cidadania.
3 Os pases desenvolvidos so os pases que tm alto nvel de desenvolvimento econmico e
social, tomando como base o rendimento per capita, o valor do produto interno bruto per capita de cada pas e, mais recentemente, o ndice de desenvolvimento humano (IDH). Os pases desenvolvidos geralmente so os que apresentam IDH elevado, isto , indicadores de riqueza, educao e de esperana mdia de vida elevados.
4
O drama da misria e da fome no mundo, os conflitos e as guerras
civis, a degradao urbana, a difuso da criminalidade nas grandes
reas metropolitanas de tantas cidades, a degradao do trabalho
humano, so factores, entre outros, que no consentem uma plena
realizao dos projectos educativos, seja nas famlias seja nas
escolas (Azevedo, 2011, p. 155).
O homem, desde que nasce adquire hbitos, costumes e prticas que
aprende no contexto familiar e o auxilia a reproduzir as suas prticas
quotidianas. Todavia,
vivemos uma crise mais profunda que um acesso de medo ou de
desencanto; sentimos separar-se, dissociar-se, em ns e nossa
volta, por um lado o universo das tcnicas, dos mercados, dos
signos, dos fluxos, nos quais estamos mergulhados, e por outro
lado, o universo interior que chamamos cada vez mais
frequentemente o universo da nossa identidade (Touraine, 1998, p.
35).
A aprendizagem social segue um processo de determinismo recproco
entre o comportamento, as pessoas e o ambiente. Naturalmente, despertar
para a cidadania global complexo.
O desenvolvimento das estruturas cognitivas e da motivao para a
aprendizagem, na formao de padres de sensibilidade e de gosto,
na aquisio de linguagens especficas, traduzindo modos
peculiares de desempenhar os papis sociais, na incorporao de
saberes diversos (Queiroz e Gros, 2002, p.17).
E se os grandes desafios da nossa contemporaneidade so a misria, a
excluso e o desemprego. , igualmente, verdade que a formao pessoal e
5
social a melhor arma para combater os tempos de crise que abalam o
mundo. S uma atitude positiva e clere capaz de introduzir mudanas
significativas e valorizar as pessoas e o fortalecimento da democracia
participativa e, com ela, o compromisso interpessoal e interinstitucional.
As prticas tradicionais de formao so j insuficientes para responder de
forma cabal a questes tipo: Como responder as ambiguidades das sociedades
contemporneas? E, como podemos viver juntos de forma a combinar a
unidade de uma sociedade com a diversidade das nossas pessoalidades?
1.2. Uma poltica urbana diferente
O desenvolvimento urbano trouxe o florescimento individual, mas tambm,
a transformao radical da cidade, tendo-se superado atrasos estruturais e o
processo de decadncia legado. A juntar a este fenmeno, a atomizao
crescente da urbe, consequncia das coeses organizacionais, coloca em risco
o vnculo humano e o que nos une a todos na nossa humanidade. A maneira
como as pessoas se comportam umas com as outras e cada uma delas
consigo prpria, exige e obriga um maior esforo, no sentido de responder de
forma humana e eficiente s exigncias de uma populao cada vez mais
envelhecida e empobrecida (Palmeiro, 2009). Uma realidade que nos convoca
a melhor pensar na multiplicidade de situaes-problema que assolam o nosso
quotidiano e que carecem de melhores intervenes.
Na diversidade de espaos de sociabilidade, importante criar
condies de proximidade que ajudem a consolidar as relaes
de convivialidade para superar as condies de isolamento,
injustia e excluso (Bueno, Salles & Bastos, 2008, p. 107).
Nesse sentido necessrio promover uma poltica urbana diferente. A
falta de uma verdadeira cultura urbanstica requer uma interveno clere e
eficaz, caracterizada por medidas desenvolvimento adequadas s
necessidades dos cidados e salvaguarda do interesse pblico.
6
As polticas urbansticas a incrementar devero, assim, corrigir
fenmenos de segmentao funcional do territrio, proporcionando
espaos dimensionados e organizados de forma a garantir a mistura
de funes e a diversidade populacional, com especial
preponderncia para a organizao dos bairros (cf Forum Cidade4
Grupo 8, p.3).
Mais ainda quando o que est em causa so lugares cuja significao
est associada embora no exclusivamente a uma populao e/ou funo
particulares (bairros operrios, bairros residenciais, bairros comerciais,
bairros sociais (Gonalves, 1998, p. 17). O fenmeno da suburbanizao
evidente. A contrariar os ideais de convivialidade e centralidade, emergem,
agora, lugares despidos de contedo humano e onde se descontinuam as
relaes funcionais e de reunio social, outrora espaos privilegiados de
encontro, de festa e de lazer. A desorientao contempornea (Serroy e
Lipovetsky, 2010, p. 66), obriga a situaes de sociabilidade utpica
(Gonalves, 1998, 19), onde se deseja redescobrir uma cultura local e
conservar a memria social: restaurar e renovar, sem mudar nem os valores,
nem os costumes e prticas sociais, nem as populaes que correriam o risco
de perder a ligao com o passado (idem).
A vizinhana de populaes socialmente prximas umas das outras,
mas que insistem nas suas diferenas, no favorece a criao de
solidariedade (Gonalves, 1998,p. 23).
Na sociedade do hiperconsumo (Serroy e Lipovetsky, 2010, p. 121), as
imagens sobre os bairros ditos sociais ou ncleos habitacionais antigos e
(mais ou menos) desqualificados das cidades, no escapam com grande
regularidade a um profundo fechamento identitrio, normalmente rematado
com um conclusivo: ali so todos iguais (Pereira, s/d,p. 1). E, continua o
mesmo autor, sempre que surge mais uma ou outra crise social e poltica,
rapidamente se associa a igualdade previsvel daqueles que ali vivem a um
4 http://inet.sitepac.pt/ForumAnexo3PoliticaUrbana.pdf
7
carcter inevitavelmente problemtico e obrigatoriamente perigoso (idem).
Todavia, mudar de atitude envolve uma responsabilidade coletiva, situao
complexa na era da globalizao onde o que sobressai so laos e redes de
solidariedade ligados por infindveis fios invisveis e comunicaes suspensas
e a distncia (Palmeiro, 2009).
Para vivermos juntos sendo diferentes, respeitemos um cdigo de
boa conduta, as regras do jogo social. Esta democracia
processual no se contenta com regras formais; ela assegura o
respeito das liberdades pessoais e colectivas, organiza a
representao dos interesses, pe em forma o debate pblico,
institucionaliza a tolerncia (Touraine, 1998, p. 21).
Promover o desenvolvimento da pessoa na sua plenitude (deve ser) a
grande finalidade de qualquer projeto de interveno sociocomunitria e, nesse
sentido, a IBC - medida 2.5 comunidade empreendedora pretende, em primeiro
lugar, produzir novas competncias e capacidades de pensar e de agir,
individual e coletivamente e, assim, criar novas oportunidades de formao, de
participao e de empregabilidade.
Uma proposta desafiante e uma ao que procura uma liderana pblica
local eficaz e avaliada socialmente, uma aco territorial integrada num
projecto amplo, a concertao pblico-privada, a assuno de novas
competncias por parte dos municpios, e a criao e desenvolvimento de
todos os mecanismos possveis de comunicao e participao de cidadania
(Villar, 2001, p. 15), como a que julgamos ser a IBC, mormente, no Bairro do
Lagarteiro. E, assim, sendo, a educao, continua a mesma autora, no s
uma preocupao do sistema educativo mas sim um instrumento social e
cultural imprescindvel para a coeso comunitria e pessoal (Villar, 2001, p.
13). E, portanto, uma lgica que enfatiza o mximo aproveitamento dos
recursos existentes (idem).
8
1.3. A sociedade das novas oportunidades
O clima de descrdito em que vivemos , simultaneamente, um tempo de
esperana e de novas oportunidades. E, como refere Joaquim Azevedo,
responsabilidade, o foco! Solidariedade, a aco! (2011, p. 246). Na
escola ou na famlia, em casa ou na rua, na comunidade ou na cidade, os focos
so estes e a base educao de todos e ao longo de toda a vida (idem).
As necessidades de aprendizagem e o acesso aos benefcios
educacionais devem encontrar-se com ofertas abertas, estruturadas
e flexveis, processos criativos de educao e formao, com casas
de aprender, disponveis para o acolhimento, o re-conhecimento, o
desafio, a exigncia de investimento pessoa e institucional, espaos
sociocomunitrios aptos para favorecer o encontro, uns com os
outros e com o saber, para a criao de laos e para o dilogo
intercultural (Azevedo, 2011, p. 246-247)
O homem total resulta do exerccio da sua cidadania ativa e do
conhecimento construdo a partir da cultura e congruncia que formos capazes
de imprimir no nosso desenvolvimento pessoal e social (Barbosa, 1999, p. 82-
83).
Ora, num tempo em que predomina uma pobreza crescente, com um
carcter estrutural e persistente, fazem-se sentir com muito maior intensidade
os impactos dos processos econmicos e sociais que a sociedade portuguesa
est a viver. Em consequncia disso, tem-se assistido ao surgimento de novas
vulnerabilidades e a um agravamento dos dfices de integrao em domnios
essenciais, como a educao e o emprego, que tm contribudo para agravar
as antigas situaes de excluso e para produzir novas expresses do
fenmeno.
Nesta circunstncia, o Programa IBC, enquadra, apoia e complementa a
reabilitao do edificado no sentido de fazer deste processo um fator de
promoo individual e de desenvolvimento local, que so as grandes
finalidades da iniciativa e as condies indispensveis para combater e
9
prevenir a degradao do bairro e fomentar a insero na vida ativa,
promovendo condies para uma cidadania ativa.
O homem vive necessariamente em sociedade, partilhando cada
uma a sua vida com uma multido de outros homens e necessitando
de servios que recebe dos outros a cada instante. Todos so
interdependentes dos demais, ainda que desconhecidos e
trabalhando em longnquos pases. Nenhum ser humano, se pode
imaginar sozinho, vivendo cada um de ns do que recebe dos
demais, prximos ou distantes (Rodrigues, 2008, p. 66).
2. A insero na vida profissional: a responsabilidade de participar
2.1. A Pedagogia Social e os trajetos profissionais
Face a uma sociedade contempornea em processo acelerado de
mudana, a pedagogia social afigura-se pertinente e urgente.
O mundo contemporneo coloca-nos diante de cenrios novos,
luminosos e desafiantes do ponto de vista das prticas de cidadania,
mas sobre os quias paira tambm alguma nebulosidade. Nas
cidades deparamo-nos com a progressiva perda das virtudes cvicas
que tradicionalmente definem a chamada condio humana, como
o hibridismo cultural, os valores do desenraizamento, da privacidade
pessoal e da emancipao autnoma (Baptista,2007, p. 135)
O processo de socializao dos indivduos cada vez mais exigente e
estende-se para alm da famlia e da escola, em particular, no que respeita
insero na vida ativa. O desafio complexo e requer uma aprendizagem
contnua e uma estratgia de educao ao longo de toda a vida (Carneiro,
2001, p. 269).
10
O Desenvolvimento pessoal e social hoje paradigmtico e deseja-se
que se inicie desde a mais tenra infncia at ao seu ltimo dia.
Tanto a educao escolar como a educao familiar e social, em
geral, tm um papel central nas sociedades de hoje, pela
possibilidade e oportunidade que representam de favorecer este
desenvolvimento humano personalizado de todos e de cada um, ao
longo da vida e com a vida (Azevedo, 2011, p. 133).
Efetivamente um desafio enorme. Tanto mais que a universalizao da
educao, contrariamente s expetativas geradas, encerra em si paradoxos e
ambiguidades que inibem uma aprendizagem ativa e trajectos escolares bem
sucedidos (Queirz & Gros, 2002:42). A este propsito, Jos Lus Gonalves
(2007), refere que saber ler os ferimentos morais que atingem os socialmente
invisveis constitui um desafio tico, psicolgico e antropolgico irrenuncivel
em Pedagogia Social (p. 95). Na sua origem a Pedagogia Social tende a
privilegiar as modalidades de educao no-formal e informal dado
que estas modalidades se referem a uma aprendizagem que no ,
necessariamente, dispensada por um estabelecimento de ensino ou
de formao e que nem sempre conduz a uma certificao
reconhecida nos moldes tradicionais (Baptista, 2008, p. 15).
Visa, assim, conferir poder s pessoas de forma a que possam participar
de forma ativa na resoluo das suas circunstncias de vida, mormente nas
questes relativas ao mundo do trabalho.
A transio entendida como perodo que medeia entre a concluso
da formao inicial e a obteno de um emprego estvel, a tempo
inteiro, foi substituda por transies entre a sada do sistema de
ensino e de formao inicial e as menores ou maiores manifestaes
de instabilidade nos mercados de trabalho (Azevedo e Fonseca,
2007, p. 54).
11
Circunstncia que se complexifica medida que cresce o desemprego e
se exigem mais e maiores esquemas de apoio formao e ao emprego
(Idem). A insero na vida ativa cada vez mais difcil, sobretudo, se
pensarmos num trabalho estvel. Emprego estvel, pode significar para muitos
jovens uma misso impossvel, tal a sucesso de atividades e de empregos,
de contratos precrios que sucedem a outros tambm precrios (Azevedo e
Fonseca, 2007, p. 57).
Ora, pensando estas questes que a Pedagogia Social, por via da
mediao socioeducativa, se diferencia e seguindo uma lgica de organizao
de responsabilidade coltica e de progressiva autonomia dos sujeitos
(Carvalho e Baptista, 2004, p. 58), desconstri crculos viciosos e impe novos
princpios organizadores. O fundamento construir uma relao com a
mudana e em prol de uma atitude de autoestima e autoconceito positivos e, a
partir da, criar uma atitude pessoal ativa e comprometida com um projeto de
vida autntico e de cidadania ativa.
2.2. Mediao e Interveno Comunitria
Contrariamente s expetativas criadas com a evoluo das sociedades e
sucessivas medidas socioeducativas as sociedades modernas e democrticas
querendo-se integradoras, logo de lao social, continuam a construir e a
intensificar profundas desigualdades sociais e a deixar muitos indivduos,
famlias e grupos sociais merc dos imponderveis da vida (Leandro, 2011,
p. 30). A fragilidade das relaes interpessoais abordada por Bauman (2006)
sugere a necessidade de uma interveno comunitria assertiva e continuada.
Isto , uma interveno pautada pela mediao socioeducativa e na perspetiva
da ecologia social (Moos, 1979).
A lgica que o sujeito seja o autor do seu projeto de vida e gere a partir
de si as sinergias necessrias para o seu crescimento e desenvolvimento
pessoal e social. Porm, habitamos num cenrio sociopoltico e econmico
que se nutre das profundas desigualdades existentes no acesso aos recursos e
12
oportunidades potencialmente disponveis, excedendo os nveis tico e
moralmente suportveis. (Caride Gmez, J.; Freitas, M. & Callejas, G., 2008,
p.129). Circunstncia que requer uma interveno alargada, de matriz
humanista, centrada na pessoa e no seu pleno desenvolvimento. evidente
que desigualdades sociais, pobreza de muitos e riqueza de poucos sempre
existiram ao longo do tempo de vida do homem, mas o que torna este
fenmeno mais grave o facto de acontecer na sociedade atual, democrtica,
com poderes livremente eleitos e que quer integradora. Nesse sentido, importa
investir num combate feroz persistncia das desigualdades sociais (Leandro,
2011, p. 45-46) e adotar medidas capazes de contribuir para a formao de
sociedade de coeso social onde se possa viver com harmonia, confiana e
segurana (Idem). Nesta imensa malha de relaes e contradies, uma das
formas de potenciar uma melhor integrao passa pelo investimento em
educao/formao escreve Raquel Cruz (2010), isto porque, continua a
mesma autora, a revalidao de competncias atravs da aprendizagem ao
longo da vida permite uma integrao profissional que responda s
necessidades actuais do mercado (Idem).
Na base destas fragilidades est, naturalmente, o nmero crescente de
pessoas em situao de desemprego e de baixos ndices de escolaridade.
Estar desempregado significa estar a margem do sistema produtivo, na
periferia do mundo do consumo e em anormalidade social e cultural
caracterizada pela excluso social (Tedesco, 2000, p. 58).
O bem estar pessoal depende, evidentemente, de competncias pessoais
mas, tambm, da ao dos grupos sociais, instituies e comunidades. No
caso que a gora se estuda, o projeto de interveno IBC, combina sinergias
pessoais e sinergias comunitrias e institucionais. O objetivo fomentar a
interao entre as pessoas e entre estas e os contextos e, assim, intervir de
forma deliberada e intencional em dimenses que esto para alm da pessoa e
que tm a ver com formar para o trabalho e para a insero na vida ativa. Um
modelo que privilegia a interveno comunitria e convoca os referenciais
tericos da Pedagogia Social. O que significa propiciar e valorizar
competncias, capacidades e potencialidades das pessoas.
13
Em termos de estratgia, a interveno comunitria, favorece e promove
a mediao socioeducativa, porquanto, facilita a construo de hbitos e
atitudes positivas. A propsito, Isabel Baptista, reitera que a mediao
pedaggica, seja qual for o contexto de ao, permite estabelecer, ou
restabelecer, uma relao positiva consigo mesmo, como os outros, com o
mundo e com a vida em geral (Baptista, 2004). Significa tal que a mediao,
como prtica antropolgica ao servio de cada pessoa e numa perspetiva de
potenciar as suas possibilidades de acesso contemporaneidade (Cachada,
2008, p. 6) gera, efetivamente, situaes mpares de desenvolvimento pessoal
e profissional e, conjuntamente, situaes de grande proximidade
interinstitucionais.
A comunidade, inscrita num mbito mais geral de desenvolvimento
comunitrio, como sinnimo das dinmicas que desenvolvem a
implicao e os laos entre as pessoas e as instituies de uma
dada localidade, de um dado territrio, na sua imensa e rica
diversidade, e que visam, atravs da participao activa e solidria
de cada um, alcanar o bem estar de todos (Azevedo, 2008, p. 21).
2.3. O Empreendedorismo social
O empreendedorismo social na nossa atualidade um requisito vital para o
exerccio de uma cidadania ativa e estruturante para pensar modos de
aprender e de agir diferenciados. Assim, Barreto (2002) defende que
Empreendedorismo a habilidade de criar e construir algo a partir
de muito pouco ou do quase nada. () um acto criativo. () Mas
tambm a sensibilidade individual para perceber uma oportunidade
quando outros enxergam caos, contradio e confuso. o possuir
de competncias para descobrir e controlar recursos aplicando-os de
forma produtiva (in, Lopes, Marcelino de Sousa, 2009, p.222).
14
Um fenmeno que convoca e interpela acadmicos, polticos e
profissionais dos diversos sectores da economia. E, embora a linguagem do
Empreendedorismo Social possa ser relativamente recente, o fenmeno em si
no o 5.
H, autores, entre os quais destacamos Gibb (2005) que advogam ser o
empreendedorismo o instrumento capaz de nos desafiar e provocar para a
criatividade, para a
motivao intrnseca e flexibilidade perante os factos da realidade; o
comunicar, decidir e liderar de um modo eficaz e conveniente; o agir
com determinao, mesmo em situaes de incerteza, a fim de
reconhecer as oportunidades (in, Lopes, Marcelino de Sousa, 2009,
p.233).
Neste desiderato, a inovao social pondera a resoluo do problema,
valorizando a criao de valor social para a sociedade6 e, arrogando-se de
uma lgica de capacitao e uma abordagem de compromisso em que os
destinatrios faam parte da soluo encontrada pelo empreendedor social,
contribuindo para que a mudana efectiva se realize7.
Nesta linha, o sujeito de ao desafiado a ser co-responsvel pela/na
construo do seu protejo de vida. Pinchot (1989), defende que
o empreendedor uma pessoa que transforma os sonhos em realidade
(cit. In tese de mestrado de Farfus, D. 2008, p.53),
Ma mesma linha de pensamento surge Filion (1993)
o empreendedor algum que imagina, desenvolve e realiza vises
(cit. In tese de mestrado de Farfus, D. 2008, p.53).
5 http://www.ies.org.pt/conhecimento/empreendedorismo_social/
6 http://www.ies.org.pt/conhecimento/empreendedorismo_social/
7 http://www.ies.org.pt/conhecimento/empreendedorismo_social/
15
Ativar a criatividade, a inovao e a capacidade para tomar as suas
decises, implica planificar e gerir de modo coerente e consistente os objetivos
que nos propomos atingir e, assim, derrubar mitos e esteretipos que nos
enclausuram. Beck et al, (2000) defendem que
Na sociedade actual a emergncia do risco e da incerteza gerou
uma insegurana e instabilidade latentes. A necessidade contnua
de uma atitude reflexiva sobre as escolhas e prticas tornou os
indivduos mais atentos (cit. Cruz, Raquel 2010, p.111).
A educao ao longo da vida , nas palavras de Palmeiro (2009), o
princpio capital das sociedades contemporneas, porquanto visa alcanar o
desenvolvimento total do individuo. E, nesse horizonte, foroso construir um
entendimento social eminentemente sustentvel em saberes e valores
pertinentes e geradores de um novo conhecimento (idem).
A excluso social acontece, normalmente, quando os indivduos se
encontram impossibilitados de exercer os seus direitos de cidadania e/ou
impossibilidade de aceder aos sistemas sociais bsicos (social, econmico,
institucional, territorial, simblico). Os habitantes urbanos - com particular
incidncia, os dos grandes aglomerados habitacionais - perdem paulatinamente
o sentido dos seus interesses coletivos e a capacidade de se mobilizarem em
torno de projetos comuns (Guerra, 2003, p. 74). A diferena somos ns
registam Stephen Stoer e Antnio Magalhes ao invocarem a importncia do
conhecimento como competncia e como exigncia para o eficiente
desempenho nas novas sociedades (2005, p. 37-38).
Albagli e Maciel (2002) reiteram a necessidade de se avanar para a
organizao da sociedade civil e a presso pelo empoderamento de
segmentos sociais excludos e regies marginalizadas projetam o
empreendedorismo social como expresso da capacidade de segmentos
e organizaes sociais, comunidades e instituies pblicas de organizar
e implementar iniciativas pertinentes melhoria das condies de vida
locais e abertura de oportunidades para grupos sociais menos
favorecidos (cit. In tese de mestrado de Farfus, D. 2008, p.60).
16
Ser cidado ser aprendente, aprender exercer a cidadania,
partilhar limitaes, ousar ir mais alm, ser mais, sempre em comum, porque
ningum aprende a ser sozinho (Azevedo, 2007, p. 10) e, nesse sentido,
preciso fomentar ambientes de humanidade, fortalecendo as
interdependncias de pessoas e instituies, as redes de proximidade e os
encontros que esbatem as fronteiras. (ibidem, p. 15).
O Bairro do ponto de vista da integrao social e urbana tem de ser
integrado dentro de um projeto estratgico estruturante para a cidade, de forma
a alcanar-se a necessria articulao entre a cidade e o urbano. A
Comunidade empreendedora disso um exemplo. Mais ainda, quando o que a
anima a capacitao dos seus atores e, tambm, o desenvolvimento da
prpria comunidade.
3. A Iniciativa Bairros Crticos
3.1. Emergncia e marco
A Iniciativa Bairros Crticos (IBC) inscreve-se no Programa do XVII
Governo Constitucional e um instrumento da Poltica das Cidades que resulta
do esforo da Secretaria de Estado do Ordenamento do Territrio e Cidades,
por via da ao do Instituto da Habitao e da Reabilitao Urbana8. Trata-se
assim de um Programa que
reconhece o papel decisivo das cidades no desenvolvimento das
sociedades contemporneas e a complexidade dos desafios
associados s cidades enquanto concentraes de recursos
8 Cf. Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005, de 2 de Agosto publicada no DR,I Srie
B, de 7 de Setembro de 2005. Inicialmente desenhada para vigorar durante 2 anos, foi objeto de prorrogao at 2013, mediante a Resoluo do Conselho de Ministros n 189/2007, de 31 de Dezembro 2007.
17
humanos e institucionais, onde coexistem problemas e
oportunidades (Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005).
A Iniciativa Operaes de Qualificao e Reinsero Urbana de Bairros
Crticos , por isso, considerado um Programa inovador, lanado pela
Secretaria de Estado do Ordenamento do Territrio e Cidades e constitui-se
como um instrumento da poltica de Cidades e coordenado pelo Instituto da
Habitao e da Reabilitao Urbana (IHRU)9.
A filosofia de ao que lhe est subjacente estrutura-se em oito princpios:
Projetos integrados de base scio territorial
Focalizao no territrio
Envolvimento e participao dos atores locais, na implementao mas
tambm na conceo
Mobilizao de novas formas de financiamento
Coordenao estratgica e parceria
Sustentabilidade e durabilidade dos resultados, designadamente
atravs da criao de redes que gerem sinergias e propiciem a
racionalizao de recursos
Intervenes orientadas para a inovao e com capacidade de
impacte estrutural
Avaliao on going e monitorizao
A IBC defende que o dilogo e os consensos das vontades e dos
recursos so a oportunidade para a concretizao dos programas de
interveno territorial. Naturalmente, este foi baseado num compromisso
partilhado e focalizado em cada territrio que exige um trabalho autnomo e
contnuo em proveito da mudana positiva e de empoderamento pessoal e
social de cada pessoa. Nesta lgica, a IBC, assume
uma abordagem em que o fortalecimento do sistema de actores se
configura como um passo prvio e basilar para o desenvolvimento
9 Cf. Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005
18
da mudana, numa lgica processual e dinmica assente em
pressupostos de reconhecimento e respeito mtuos, na construo
de condies de confiana, compromisso e capacitao para a
produo conjunta da aco10.
Trata-se, por isso, de uma iniciativa cuja finalidade se prende com a
necessidade de estimular e desenvolver iniciativas inovadoras, especialmente,
no que concerne a metodologias de interveno e instrumentos passveis de
incorporar na poltica de cidades mudanas de diferentes dimenses. De resto,
uma medida que recai sobre trs territrios muito especficos: 2 no sul (Vale de
Amoreira e Cova da Moura) e um no Norte (Bairro do Lagarteiro) e que
resultam da deciso do Ministrio da Ambiente, do Ordenamento do Territrio e
do Desenvolvimento Regional em articulao com as cmaras municipais, num
horizonte temporal de trs anos (2006-2013).
Contudo, o Protocolo de parceria do Bairro do Lagarteiro Porto, foi
assinado apenas em 29 de Maio de 2008 e a equipa tcnica entrou em funes
em Dezembro do mesmo ano11.
O propsito da IBC que a participao cvica seja a mxima a
desenvolver. Neste desafio, os grupos de trabalho (na fase de diagnstico)
organizaram o programa de interveno, integrando representantes da
administrao central, (Ordenamento do Territrio, Administrao Interna,
Trabalho e Solidariedade Social, Sade, Educao e Cultura), autarquias
(Cmaras Municipais e Juntas de Freguesia), Associaes e Instituies locais
e ainda, entidades com experincia de trabalho relevante no bairro e atores
locais. Tudo, em prol de medidas eficazes quer em termos de articulao, quer
em termos de participao e seguindo o Protocolo institucional12.
10
http://www.portaldahabitacao.pt/opencms/export/sites/ibc/pt/ibc/docs_pdf_ibc/publicacoes/brochura_10versao.pdf
11 O trmino est previsto para Dezembro de 2013.
12 Este protocolo define os objetivos, as estratgias e o programa de ao da interveno a
seguir em cada bairro, bem como, os compromissos assumidos por cada parceiro, os meios
19
A IBC , assim, uma medida que desponta da necessidade de
equacionar situaes-problema da nossa atualidade, nomeadamente, no
mbito da qualificao e reinsero urbana de reas crticas. Sendo,
inclusivamente, um dos quatro13 pilares da poltica de cidades que o governo
desenvolve (cf. Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005, de 2 de
Agosto, publicada no DR, I Serie - B, de 7 Setembro de 2005).
O Conselho de Ministros colocou especial ateno no domnio da
qualificao e reinsero urbana de reas crticas, porquanto se trata de um
eixo de vital importncia para o exerccio de uma cidadania plena e a
construo de uma sociedade solidria e educadora.
A concentrao de problemas sociais, pelo desfavorecimento e
menor capacitao das suas populaes, pela concentrao de
grupos mais vulnerveis s diferentes formas de discriminao, pelo
estigma social que lhes anda associado e pelo bloqueio de
oportunidades, estes espaos, por um lado, constituem o mais
urgente desafio em termos de promoo da cidadania e da coeso
social e, por outro, representam um grande risco no que respeita a
comportamentos que podem minar a qualidade de vida e a
competitividade das principais aglomeraes metropolitanas.
Acresce que, por essas mesmas razes, estes so os espaos
urbanos onde mais complexa a interveno, menos duradouros se
apresentam os seus resultados e mais necessrio se torna encontrar
formas inovadoras de interveno que assegurem um forte
financeiros disponveis para a execuo das aes, assim como a composio da unidade de ao estratgica local com um modelo e composio ajustados s problemticas, natureza das parcerias, s capacidades de ao e s intervenes a implementar em cada bairro.
13 Paralelamente, desenvolvem-se os eixos relativos qualidade de vida e funcionalidade,
competitividade e inovao e reabilitao e reinsero urbana de reas crticas.
20
envolvimento local e resultem em maior capacitao das
populaes14
O facto de existirem em Portugal experincias precedentes em
intervenes desta natureza, nomeadamente, o Programa de Iniciativa
Comunitria Urban (I e II) e Interveno Operacional de Renovao Urbana,
facilitam o reconhecimento de elementos fundamentais, tais como o
desenvolvimento de parcerias numa perspetiva multidisciplinar, a participao
das populaes, a criao de estruturas locais de execuo e o ajustamento
das aes aos problemas especficos de cada uma das reas.
Os princpios que lhe esto subjacentes respeitam a: i) aprendizagem
coletiva; ii) avaliao e participao das parcerias; e iii) operacionalizao
territorial dos protocolos.
Morar num bairro, significa trabalhar, recrear, compartilhar espaos e, em
particular, pressupes interaes e sociabilidades. E, ao mesmo tempo,
tenses, esteretipos e momentos particularmente intensos de excluso.
3.2. A natureza e a misso do Programa
A natureza do Projeto, estrutura-se em prol de duas grandes dimenses: i)
um percurso de aprendizagens conjuntas e ii) o tempo e os tempos da
mudana. Pressupostos de base que, na primeira situao, elege o sistema de
atores e de ao como objeto de ateno prioritria, fundamenta a natureza
experimental da Iniciativa, que se prope envolver a participao coletiva e
incentivar a criatividade e inovao das solues definidas para ultrapassar as
dificuldades.
A IBC distingue-se, assim, pelo seu carcter interministerial, pela estrutura
de atores que envolve - desde o nvel ministerial a um nvel mais orgnico e
14 Resoluo do Conselho de Ministros n 172/2005, publicada no DR,I Srie B, de 7 de
Setembro de 2005
21
informal, em cada territrio - pelo seu modelo de gesto, pelo seu modelo de
financiamento e ativao de recursos, e pela metodologia de desenvolvimento
de que se socorre. Distingue-se tambm pela abordagem de participao, co-
produo coletiva de solues e atuaes assente em compromissos
assumidos em contextos de confiana mtua, suscetveis de consolidarem
apropriaes coletivas e endgenas dos prprios projetos de interveno,
contribuindo para a viabilizao de aes mais sustentveis na produo da
mudana.
No segundo domnio, o tempo e os tempos da mudana, exige-se tempo
e tempos diversos de maturao. Exige-se, sobretudo, a todos os
intervenientes, novas formas de organizao e de gesto dos calendrios de
execuo, novas formas de estar nos projetos e novas prticas de
desenvolvimento das aes; persistncia e aprofundamento da natureza
experimental que caracteriza este desafio, bem como um modelo de
monitorizao e avaliao de expectativas, resultados e impactos - tambm ele
mais exigente e inovador face aos modelos tradicionais.
Da sua natureza experimental, ressalta a necessidade de uma abordagem
diferente e de natureza prtica, porquanto, nasce da perceo de que
experincias anteriores se revelaram insuficientes nos seus graus de
efetividade e sustentabilidade da mudana induzida, devido dificuldade de
mobilizao dos diversos atores-chave, dificuldade em assegurar a coerncia
e a concertao atempada das vrias aes, vontades e recursos bem como
dificuldade em garantir a focalizao da ao conjunta nas dinmicas dos
territrios durante e sobretudo - na ps-interveno.
A IBC, orientada para a integrao scio-urbanstica de territrios que
apresentam fatores de vulnerabilidade crtica, e tem como pressupostos a
formalizao do envolvimento interministerial, de forma a garantir a
concertao das iniciativas e a definio das prioridades; a participao dos
Parceiros Locais na prpria definio e conceo dos Planos de Interveno o
desenvolvimento de parcerias pblico-pblico e pblico-privadas, aos vrios
nveis. A iniciativa concretiza-se localmente atravs projetos que so
executados por uma parceria alargada e acompanhados por estruturas criadas
22
no mbito da iniciativa, tais como o Grupo de Trabalho Inter-ministerial (GTIM)
e o Grupo de Parceiros Locais (GPL), a Comisso de Acompanhamento e a
Comisso Executiva.
A IBC afirma a sua vocao inovadora e experimental, assumindo a
inteno de estimular e testar solues institucionais, procedimentais e
tecnolgicas, inovadoras, integradas e participadas, e de procurar a
concertao e otimizao dos atores e da ao pblica em intervenes
integradas. A Iniciativa pretende testar solues inovadoras que possam ser
transferidas e incorporadas noutros contextos e informar as polticas.
A misso da IBC promover o desenvolvimento de solues de
qualificao de territrios urbanos que apresentam fatores de vulnerabilidade
crtica, atravs de intervenes scio - territoriais integradas. No presente,
abrange trs territrios - 2 no centro e um no norte do pas.
3.3. Um Modelo de Gesto inovatrio
Concludo o diagnstico do territrio e assinado o protocolo de parceria que
operacionaliza o programa de interveno (2008-2012). Em termos de
administrao, a IBC adota um sistema de governana assente em parcerias
(institucionais e locais) que compromete oito Ministrios/Secretarias de
Estado (Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do
Territrio; Solidariedade e Segurana Social; Administrao Interna; Educao
e Cincia; Sade; Justia; Presidncia e Cultura) e mais de 90 entidades
pblicas e organizaes/associaes locais.
Em cada territrio, foi criada uma comisso executiva, constituda por sete
entidades15 e uma comisso de acompanhamento que coadjuva a equipa de
projeto na concretizao do Programa de Ao (Figura 1).
15
Comisso Executiva do Lagarteiro: Fundao Porto Social, em representao da Cmara Municipal do Porto; Junta de Freguesia da Campanh; Ministrio da Administrao Interna; Ministrio da Educao; Ministrio do Trabalho e da Solidariedade Social; Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto.
23
Figura 1. Modelo de Gesto
Fonte: Adaptado do Modelo de Gesto Inovatrio
16
Relativamente composio da Comisso de Acompanhamento Local,
cada comisso de acompanhamento local composta por representantes dos
oito ministrios envolvidos e por representantes das entidades governamentais
e no-governamentais que intervm localmente, num total de 30 entidades por
territrio17.
A lgica assegurar a coordenao de todas as iniciativas, facilitar e
promover a implementao dos projetos constantes do programa de
interveno. Paralelamente, a Comisso, desenvolve todo o processo de
avaliao e monitorizao; garante a circulao de informao comunicao,
evoluo e impacto do programa de interveno.
Quanto Comisso de Acompanhamento, trata-se de uma comisso
consultiva, constituda por 26 entidades, que tem como tarefa acompanhar a
execuo do programa, facilitar a ligao entre projetos; assegurar a
necessria produo de sinergias entre todos os parceiros, visando um melhor
cumprimento dos objetivos do programa de interveno; prestar assistncia
tcnica alargada e analisar e propor eventuais alteraes do Plano de ao.
16
http://www.portaldahabitacao.pt/opencms/export/sites/ibc/pt/ibc/docs_pdf_ibc/IBC_Modelo_Gestao.pdf
17 Composio do Grupo de Trabalho Interministerial: a) represente do Secretrio de Estado do
Ordenamento do Territrio e das Cidades; b) representante da Presidncia de Conselho de Ministros; c) representante do Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social; d) representante do Ministro da Sade; e) representante do Ministro da Cultura; f) representante do Ministro da Educao; g) representante do Ministro da Administrao Interna e h) representante do Ministro da Justia.
Comisso de Acompanhamento
Comisso Executiva
Grupo Trabalho Interministerial
Equipas de Apoio Local
Grupo de Apoio Tcnico
24
Tambm o Grupo de Trabalho Interministerial constitudo por
representantes dos oito ministrios e tem funes de follow-up. Rene
periodicamente para garantir a articulao intersectorial efetiva e assegurar a
tomada das decises necessrias disponibilizao dos instrumentos
associados assuno das responsabilidades protocoladas.
A Equipa de Projeto18 encarregue de operacionalizar o Plano de Ao de
cada territrio constituda por tcnicos contratados pelo Instituto de Habitao
e Reabilitao Urbana (IHRU), coordenados por um Chefe de Projeto, que
articula com os demais parceiros.
18
Gesto do Projeto promove a coordenao da equipa tcnica e das parcerias executoras; reunies com todos os ministrios envolvidos na iniciativa e servios da administrao central para planeamento de todas as aes a dinamizar durante o ano de 2010.
25
PARTE II ROTEIRO DA INVESTIGAO
1. A viso global da pesquisa
1.1. Abordagem metodolgica
Qualquer que seja a natureza da investigao, o principal objetivo
produzir conhecimento sobre a realidade. Naturalmente, o modo de
o conseguir difere do paradigma e das abordagens. Os
investigadores de orientao interpretativa centram-se mais na
descrio e compreenso do que nico e particular do sujeito do
que naquilo que generalizvel. Pretendem desenvolver um
conhecimento ideogrfico e aceitam que a realidade dinmica,
mltipla e holstica (Barbosa, 1999, p. 145).
Um conhecimento que tambm ns queremos construir a partir da
realidade que nos foi dada viver enquanto profissional e investigadora. Nesse
desafio, tambm ns, privilegiamos a metodologia de matriz qualitativa e
assumimos o estudo de caso como a estratgia capaz de melhor compreender
as questes que nos convocam para a investigao e, ainda, a reflexo
enquanto exerccio de investigao na ao. A atitude reflexiva fruto de uma
aprendizagem, de um querer compreender o exterior, o envolvimento, e
fundamentalmente levar ao autoconhecimento, face a um trabalho que se
deseja comunitrio e de valia para o desenvolvimento da pessoa. Importa, por
isso, percorrer determinadas fases para orientar a atitude reflexiva e assim,
colocar sequencialmente questes que conduzam, de uma forma
sistematizada, reflexo (Hole,1999, p. 34).
Nesta linha de pensamento, vamos combinar diferentes estratgias e
recursos de investigao, numa lgica de implicar paradigmas investigativos
plurais e fomentar uma abordagem holstica, assente numa mestiagem
epistemolgica e metodolgica (Afonso, 2005, p. 11). E,
26
em vez da procura de leis que possam ser extensveis a toda a
populao, os estudos deste tipo procuram compreender os
mecanismos, o como funcionam certos comportamentos, atitudes e
funes (Afonso, 2005, p. 31).
1.2. Questes e objetivos de investigao
tendo em ateno os princpios subjacentes criao da IBC,
nomeadamente no Bairro do Lagarteiro e a proximidade com o objeto de
estudo, porquanto l que desenvolvermos a nossa atividade profissional19,
que optamos por iniciar a nossa investigao. Sendo que as questes de
partida so:
1) Como efetuada a integrao destes aprendentes na Comunidade
Empreendedora?
2) Qual o contributo das aes/atividades produzidas pelo GE na
insero para a vida ativa?
3) Quais as dificuldades sentidas pelo pblico-alvo para a afetiva
insero profissional?
Partindo das questes, definimos os seguintes objetivos:
a) Identificar de que forma a medida 2.5. Comunidade Empreendedora,
por via do Gabinete de Emprego (GE), contribui para melhorar as
competncias de cidadania ativa;
b) Explorar os sentimentos experienciados a partir da formao e
insero vida ativa;
c) Aferir sobre o impacto percebido por ao da Comunidade
Empreendedora, mormente, pelo GE, para a insero profissional;
19
A nossa participao no projeto, em termos de prestao de servios, terminou em Outubro
2011.
27
2. Populao do estudo
A populao de estudo respeita ao nmero de pessoas que usufruram das
atividades realizadas no mbito da valncia Comunidade Empreendedora, por
via da ao do GE. Ao todo e, tendo em ateno o perodo de tempo a que nos
reportamos (Setembro 2010 a Outubro 2011), a medida acolheu 205 pessoas.
Destas, 99 so indivduos do gnero feminino e 106 do gnero masculino. Em
termos etrios, verificamos que, regra geral, o grupo predominante, integra
indivduos cujas idades variam entre 19 e 23 anos de idade (n= 61) (Grfico 1).
Grfico 1 Participantes por grupo etrio
Relativamente escolaridade, verificamos que a grande maioria possui
como habilitaes escolares o 2 Ciclo do Ensino Bsico (n= 80) o que significa
dizer que 39% desta populao no tem a escolaridade mnima obrigatria.
Apenas 2% possui o ensino Secundrio e 15% (n=31) no tem qualquer nvel
de escolaridade (Grfico 2).
0 20 40 60 80
16 - 18 Anos
19 - 23 Anos
24 - 30 Anos
31 - 40 Anos
+41 Anos
Feminino
Masculino
28
Grfico 2 - Habilitaes literrias
Aleatoriamente, convidamos 10 pessoas. A amostra possvel, dadas as
caractersticas da IBC e o tempo que disponhamos para concluir o estudo.
Ainda assim, das pessoas convidadas, no final, apenas compareceram 5
mulheres e 2 homens. Destes, 2 tm o ensino bsico concludo, 2 o 2 ciclo
concludo; 2 tm o 9 ano e 1 o ensino secundrio completo. Em termos de
faixa etria, as suas idades oscilam entre 18 e 44 anos.
Um quadro complexo quando perspetivamos as exigncias escolares e de
idade, para a insero na vida ativa. Claramente, um desafio quando o nmero
de indivduos com menor nvel de escolaridade tem idades superiores a 18
anos. De resto, uma situao-problema que inscreveu e reforou a
necessidade da IBC e uma interveno sociocomunitria ativa. Os nveis de
qualificao escolar so extremamente baixos, com uma populao residente
que limitou a sua frequncia escolar ao ensino bsico e principalmente ao seu
1 ciclo20.
20
http://www.portaldahabitacao.pt/pt/ibc/lagarteiro/
0
10
20
30
40
50
60
Analfabetos
EB/1 Ciclo
EB/2 Ciclo
EB/3 Ciclo
Ens. Secund.
29
No campo da Formao, constatamos que as pessoas que solicitaram apoio
so indivduos com idades superiores a 16 anos, com uma escolaridade inferior
escolaridade mnima obrigatria e, portanto, fora dos parmetros da escola
regular.
3. O Territrio de Interveno
3.1. O Bairro do Lagarteiro
O BL um bairro perifrico da cidade do Porto e situa-se na freguesia de
Campanh21. Constitudo por 446 fogos, acolhe mais de mil e setecentas
pessoas22. Dadas as suas caractersticas, o bairro do Lagarteiro integra, desde
os anos de 2008, o Plano de Ao Bairros Crticos.
A iniciativa Bairros Crticos um Programa de Interveno que visa intervir
em dois grandes eixos:
i) Requalificao urbanstica e ambiental do bairro (Reabilitao e
conservao dos Edifcios, Reabilitao e manuteno de Espaos
de habitao, Novos espaos pblicos ou coletivos e Novos
equipamentos no bairro e na envolvente do bairro) e
ii) Promover uma cidadania ativa (Sade vida, Segurana ativa,
Escola em rede, AN.I.M.A.R.- Atrair, Negociar, Incentivar, Mobilizar,
Ativar, Reinserir e Comunidade Empreendedora).
21http://www.portaldahabitacao.pt/opencms/export/sites/ibc/pt/ibc/docs_pdf_ibc/docs_lagarteiro/
Diagnostico_Lagarteiro_proposta_final_1.pdf
22 http://www.portaldahabitacao.pt/pt/ibc/lagarteiro/territorio.html
30
3.2. A Comunidade Empreendedora
O Programa de Interveno para o Lagarteiro inicia a sua misso em
Dezembro de 200823, centrando a sua ao em trs eixos (Quadro 1):
Quadro 1- IBC. Eixos de ao
IBC Medida Objetivos24
Eixo 1 Requalificao Urbanstica
e Ambiental do Bairro
Requalificar o espao pblico, transformando-o num
espao de encontro e de convvio da populao local e
atraindo novas populaes para a envolvente ao
bairro; Melhorar a imagem urbana do bairro.
Eixo 2
Sade Vida Melhorar os nveis da qualidade de vida e de auto
realizao da populao atravs da promoo de uma
vida saudvel nas vrias geraes.
Segurana Ativa Desenvolver e promover um policiamento de
proximidade, com partilha de responsabilidade e de
relaes de parceria com outros atores centrais e
locais.
Escola em rede Fortalecer o quadro de competncias e de habilidades
sociais da populao do bairro (com enfoque para os
jovens), numa logica de afirmao face aos outros.
ANIMAR (Atrair, Negociar,
Incentivar, Mobilizar, Ativar,
Reinserir)
Fazer emergir novas oportunidades para a mudana
social e para o desenvolvimento local: criar um espao
aberto, indutor de inovao e de partilha de vivncias,
interesses, atitudes e valores.
Comunidade
Empreendedora
Reforar as condies de empregabilidade dos
residentes socialmente fragilizados; Promover a ao
empreendedora de base local e incentivar o regresso a
atividades profissionais organizadas para pessoas com
um afastamento muito elevado do mercado de trabalho
e em estratgias de sobrevivncia em matria de
rendimento e atividade profissional.
Eixo 3 Questes operacionais Fomentar a participao, a proximidade e a
informao.
No presente estudo, o mbito da nossa pesquisa inscreve-se no eixo 2.
Medida 2.5 Comunidade Empreendedora. Uma opo que resulta da nossa
23 A equipa tcnica constituda em Maro de 2009.
24 Cf. Plano de Ao
31
proximidade ao lugar e da vontade de melhor compreender as prticas, efeitos
e sentimentos da sua ao. Efetivamente, a partir do exerccio da nossa
funo que nos interpelamos sobre os resultados conseguidos (e sentidos) pela
Comunidade Empreendedora, mormente, pela ao do Gabinete de Emprego.
Na prtica, o estudo que agora se apresenta foi desenvolvido no
Gabinete da IBC, sediado no Bairro do Lagarteiro (BL), durante o ano de
201025. Promover uma cidadania ativa a grande meta. E, nesta circunstncia,
os objetivos da medida so:
i) elevar os nveis de escolaridade dos residentes do bairro;
ii) reforar as condies de empregabilidade dos residentes
socialmente mais fragilizados;
iii) promover a ao empreendedora de base local e incentivar o
regresso a atividades profissionais organizadas para pessoas com
um afastamento muito elevado do trabalho e em estratgias de
sobrevivncia em matria de rendimento e atividade profissional;
iv) estruturar localmente uma base de servios que poder alargar-se
envolvente do bairro.
3.3. Do roteiro s aes/atividades
Criada a equipa tcnica26, iniciaram-se as relaes com os parceiros (e.g.
Segurana Social, Centro de Formao do Porto, Instituto de Emprego e
Formao Profissional e GIP Campanh, Direo Regional de Educao do
Norte), bem como com entidades privadas na rea da formao, com o
propsito de cumprir o plano da medida e definir o roteiro de aes/atividades.
Seguindo o cronograma de aes, a primeira ao foi construir uma Base
25 O Protocolo de parceria do Bairro do Lagarteiro Porto, foi assinado em 29 de Maio de
2008, a equipa tcnica entrou em funes em Dezembro do mesmo ano, o seu trmino, este previsto para Dezembro de 2013.
26 A equipa do gabinete da Comunidade Empreendedora (CE) reformulou em conjunto com a
direo do IEFP as aes previstas, dado o facto de a temporalidade de execuo estar distante da elaborao do Plano de Ao.
32
Dados27 e, assim, identificar as pessoas com baixas qualificaes e em
situao de desemprego28. O nmero de pessoas com este tipo de situaes-
problema foi de 205 (populao que viria a constituir-se como ponto de
referncia para a nossa amostra). Identificada a populao, foi elaborado o
plano de interveno29.
Um plano exigente, centrado na formao profissional e estruturado em
prol de Plano Integrado de Formao e seguindo uma atitude cuja finalidade
melhorar a qualidade de vida, reforar as competncias de/para a
empregabilidade e, cumulativamente promover o empreendedorismo laboral e
social (Quadro 2).
Quadro 2 - Plano Integrado de Formao
Aes Tipo Pessoas
sinalizadas inscritas
Atendimento Personalizado 205 205
Aes Sensibilizao30
Modalidade de Formao 65 26
Formao
Alfabetizao 31 31
Formao Tecnologias Informao31
205 84
Curso de Educao e Formao Jovens32
67 57
RVC 39 39
Cursos Educao Formao Adultos 23 21
(RE)Agir no feminino/
Gesto Domstica e
Financeira
Candidatura POPH 21 17
27
Esta ao contou com o contributo da Segurana Social e GIP de Campanh.
28 Da anlise desta base, excluram-se todas as pessoas que, teriam de passar por outros
projetos de vida prioritrios, nomeadamente tratamentos de sade
29 Este processo foi realizado em conjunto com o GIP de Campanh, nomeadamente o balano
de competncias, expectativas e necessidades do grupo.
30 Realizadas no IEFP
31 Em articulao com o Projeto Lagarteiro e Mundo do Programa Escolhas.
32 A entidade gestora de dois dos Cursos de Informtica Tipo 1 que confere a certificao do
terceiro ciclo (9 ano), foi a Associao Juvenil C.A.O.S. - Coragem Acima de Outras Situaes, parceira da IBC.
33
Atendimento
No quadro do Atendimento Personalizado, as aes requisitadas foram,
sobretudo, ao nvel da (i) criao de um curriculum vitae; (ii) elaborao de
cartas de motivao; (iii) redao de candidaturas espontaneas; (iv) procura de
emprego; (v) procura de formao profissional especifica; e (vi) direitos e
deveres dos trabalhadores.
Aes de sensibilizao
A Comunidade Empreendedora do IBC, em parceria com o Centro de
Formao do Porto, realizou trs Aes de Sensibilizao com o objetivo de
informar sobre a tipologia das modalidades formativas e facilitar o processo de
escolha e/ou incluso na modalidade selecionada. Para o efeito, convocaram-
se todas as pessoas inscritas (n=205). Destas compareceram 65 pessoas (35
jovens e 30 adultos). E, apenas, 26 foram integrados em ofertas formativas no
Centro de Formao. As restantes, recusaram a oferta (n= 30)
Formao Tecnolgica de Informao
Formao Tecnologias de Informao correspondem cursos bsicos
de competncias de informtica, ministrados no Cid@net - Centro de Incluso
Digital, Programa Lagarteiro e o Mundo do Programa Escolhas. Trata-se de
um Espao de formao de natureza ldico-pedaggico para os mais jovens na
rea da informtica e de apoio escolar com as ferramentas digitais, de
utilizao livre. A frequncia deste curso atingiu os 41% do nmero total das
pessoas inscritas: 46 mulheres e 38 homens. Em termos etrios, a maioria, tem
idades compreendidas entre os 24 e os 40 anos.
Neste domnio, os participantes (n= 84) tiveram acesso Formao33,
nomeadamente: i) Curso Bsico das Tecnologias de Informao34; ii) Curso de
33
Servio articulado com o CID NET do Progarma Escolhas.
34
Literacia Digital; e iii) Formao Cisco35. Estas formaes visam aumentar as
competncias relacionais e niveis de conhecimentos informticos. O Curso de
Literacia Digital, tem a durao de 2 meses e abrange o funcionamento do
Hardware e Software. Para a frequncia do Curso de Formao CISCO, foi
exigio o 9ano e conhecimentos da Lngua Inglesa. O objetivo da formao
munir a pessoa, cada pessoa, com ferramentas que lhe(s) permita desenvolver
competncias de procura ativa de emprego e de maiores distrezas de
comunicao.
Cursos de Educao e Formao
Os Cursos de Educao e Formao para Jovens tm como objectivo
a recuperao dos dfices de qualificao, escolar e profissional,
destes pblicos, atravs da aquisio de competncias escolares,
tcnicas, sociais e relacionais, que lhes permitam ingressar num
mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo36.
Destinam-se a a jovens, com idade igual ou superior a 15 anos e inferior a 23
anos, data de incio do curso, em risco de abandono escolar ou que j
abandonaram a via regular de ensino.
34
O curso tem durao de 20h.
35 Em articulao com o Programa Escolhas Lagarteiro e o Mundo.
36www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosJovens/Paginas/CursosJovens.aspx
35
Ao todo, foram sinalizados para frequentar este curso 67. A razo era,
quase sempre, por situaes-problema de absentismo e/ou abandono escolar.
Destes 45 so do gnero masculino e com idades entre os 16 e os 23 anos; e
22 do gnero feminino com idades entre os 16 e os 22 anos.
O primeiro curso CEF - Instalao e Operao de Sistemas Informticos,
teve inicio no ms de Outubro e resulta da ao da Associao CAOS. Trata-se
de uma formao para jovens (n=15), com idades entre os 15 e os 22 anos e
cuja escolaridade era inferior ao 9 ano de escolaridade. Importa dizer que esta
formao foi possvel graas s parcerias estabelecidas entre vrias
instituies de formao publicas e privadas. Paulatinamente, os jovens foram
sendo integrados de acordo com a sua orientao vocacional. Mesmo assim,
10 no concluiram a formao (um por questes de sade e 9 por terem
atingido o limite de faltas).
Nesta altura, dezembro de 2011, somente 50 (dos 67 jovens
sinalizados) continuam a frequentar os cursos (17 raparigas e 33 rapazes). De
registar que os CEF se encontra situada ao nvel das medidas estratgicas
para potenciar as condies de empregabilidade e de transio para a vida
activa e assume-se como uma resposta prioritria para o perfil destes jovens37.
E, por isso mesmo, adapta a estrutura curricular componente
profissionalizante (e.g. sociocultural, cientfica, tecnolgica e prtica em
contexto de trabalho). Estes jovens podero ainda, em situaes particulares e
sempre que a rea de formao o aconselhe, serem integrados em estgios
complementares, com uma durao mxima de seis meses.
Revalidao de Competncias
Relativamente ao processo de revalidao de competncias, fso
exigidos requisitos prprios (e.g. ser maior de 18 anos e ter experincia
profissional comprovada no mnimo de 3 anos). Fatores que dificultam o
37
www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosJovens/Paginas/CursosJovens.aspx
36
acesso de um nmero significativo de pessoas pois, muito destes jovens no
possuem experincia profissional capaz de facilitar o processo de validao de
competncias.
Um processo que exige motivao e um trabalho individual constante.
Das 39 pessoas inscritas, maiores de 18 anos (24 mulheres e 15 homens), 9
abandonaram o percurso de formao, 18 esto a frequentar e 8 aguardam
colocao em turmas a iniciar. No fim, apenas 4 pessoas terminaram a
formao.
Cursos de Educao Formao de Adultos
Os Cursos de Educao Formao de Adultos38 dirigem-se a pessoas
com idade igual ou superior a 18 anos ( data de incio da formao), sem a
qualificao adequada para efeitos de insero ou progresso no mercado de
trabalho ou sem a concluso do ensino bsico ou do ensino secundrio. A
finalidade elevar os nveis de habilitao escolar e profissional da populao
portuguesa adulta, atravs de uma oferta integrada de educao e formao
que potencie as suas condies de empregabilidade e certifique as
competncias adquiridas ao longo da vida39.
Para esta modalidade foram admitidas 23 pessoas (15 mulheres e 8
homens). Destes, 9 aguardam colocao, 1 abandonou e 2 abandonaram por
terem atingido o limite de faltas40.
38 Cf. Despacho Conjunto n. 650/2001, de 20 de Julho; Despacho n. 26401/2006, de 29 de
Dezembro; Portaria 817/2007, de 27 de Julho; Portaria 230/2008, de 7 de Maro. In http://www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosAdultos/Paginas/CursosAdultos.aspx
39ttp://www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosAdultos/Paginas/CursosAdultos.asp
40 Importa referir que, data da nossa investigao, Dezembro de 2011, estas nove pessoas
aguardavam apenas o incio formal da Formao, tendo para isso sido submetidos a entrevistas de seleo.
37
Candidaturas ao Programa Operacional do Potencial Humano
O Curso de Formao para a Incluso emerge da falta de resposta para
um pblicos prprio (15 mulheres a receber o RSI) e da candidatura ao
Programa Operacional do Potencial Humano - Eixo Prioritrio 6 Cidadania,
Incluso e Desenvolvimento Social, denominado (Re)Agir no Feminino41.
Importa referir que a efetivao desta candidatura, resulta do trabalho
cooperativo entre a Liga Portuguesa de Profilaxia Social (LPPS) e as
instituies do Atendimento Integrado da IBC. Criar oportunidades de
desenvolvimento pessoal foi o objetivo que presidiu esta candidatura.
Delineado para um grupo de 15 mulheres do Bairro do Lagarteiro, com
baixas qualificaes escolares, longos percursos de desemprego e abrangidas
pela medida de Rendimento Social de Insero42, o programa curricular,
estruturou-se para um perodo de 6 meses e integrou um estgio em contexto
de trabalho a realizar em instituies da grande rea do Porto (e.g.
infncia/juventude, lares/Centros de acolhimentos, cabeleireiros, servios de
cantinas). O Curso iniciou-se em Julho de 2011 e terminou em Dezembro do
mesmo ano43.
Numa primeira fase, o objetivo foi proporcionar novas experincias fora
do contexto do bairro bem como promover a aquisio de competncias
bsicas ao nvel do saber ser e saber estar. Os contedos programticos desta
formao foram delineados no sentido de tornar este curso como uma pr
formao, antes de estarem aptos a puderem integrar formaes qualificadas
de nvel 1 ou 2. Estes contedos foram classificados nas seguintes disciplinas:
O Auto e o Htero Conhecimento; Incio da Construo do Plano Individual de
Formao; Introduo s TIC; O meu retrato de competncias; Lidar com o
41
A candidatura ao Programa Operacional do Potencial Humano (2 edio), contou com o apoio da Associao Juvenil C.A.O.S. e, teve como intuito promover uma Formao ao nvel da Gesto Domstica e Financeira.
42 Durante o curso as pessoas auferiram uma bolsa de formao no valor do salario mnimo
nacional, pelo que existiu a necessidade de ajustarem os valores das prestaes de RSI durante este tempo.
43 Por dificuldades de espao e equipamento este curso iniciou-se nas Antas, passando depois
para as instalaes da LPPS na Rua Santa Catarina.
38
stress; Vivncia dos afetos; Metodologia do Projeto: da Teoria Prtica;
Gesto do Tempo; Ser Assertivo; Etiqueta, cortesia e Imagem Pessoal; Ser e
Estar em Famlia; Viver em Comunidade; Sade, Higiene e Segurana; O
mundo do trabalho; Expresso Dramtica e Corporal; Expresso Plstica e
Musical; Tcnicas de Leitura e de Escrita; Plano de Incluso; Avaliao final da
Formao.
Todo o contacto com as instituies que acolheram os estgios foram
diretamente acompanhados pelos tcnicos do gabinete de emprego e pelas
tcnicas de acompanhamento da LPPS. Das 15 senhoras inscritas, 14
terminaram a formao.
A fim de dar cumprimento a outras situaes-problema diagnosticadas,
foi necessrio pensar e estruturar uma segunda candidatura. Desta vez a
medida surgiu por via da Associao Juvenil C.A.O.S. e visou a criao de uma
Formao em Gesto Domstica e Financeira, com a durao de 6 meses,
para 15 pessoas (foram integradas 3 pessoas do bairro do Lagarteiro, sendo as
restantes provenientes de outros locais da cidade do Porto). A formao
decorreu entre os meses de Julho e Dezembro de 2011. Durante a formao 4
pessoas foram excludas por terem atingido os limites de faltas justificadas.
Alfabetizao
O Curso de Alfabetizao de Adultos44, teve incio em Setembro de
2010 e contou com a participao de 31 alunos (15 Homens e 16 Mulheres),
cuja mdia de idades de 34 anos, distribudos por 4 turmas (uma por cada
ano letivo)45. A fim de monitorizar e avaliar o projeto foi constitudo um grupo de
reflexo46 cuja misso foi avaliar a interveno e realizar o ponto de situao
dos participantes (e.g. assiduidade, pontualidade, justificao de faltas,
44
II Edio
45 O curso de alfabetizao decorre na Escola EB1 / JI do Lagarteiro.
46 Constitudo por representantes da DREN e da Segurana Social bem como os parceiros do
Atendimento Integrado da rea da educao mais concretamente a Associao Nortevida, o Programa Escolhas.
39
passagem ou reteno dos alunos) e, em particular, aferir do impacto e/ou da
necessidade de dar continuidade ao processo e, assim, projetar (ou no) os
anos seguintes.
4. A Metodologia do Projeto de Investigao
A abordagem metodolgica assumida para o nosso projeto de investigao,
tal como j foi referida, de natureza qualitativa e assume, neste estudo, a
forma de Estudo de Caso. E, como tal, trata-se de uma pesquisa que
compreende a utilizao de mtodos e o estabelecimento de procedimentos
didticos, metodolgicos e tcnicos especficos (Oliveira, 2012, p. 43).
4.1. Estudo de Caso
O Estudo de Caso um esquema de investigao apropriado a estudar
uma situao-problema, num determinado perodo de tempo. A vantagem
deste tipo de investigao radica no facto de permitir ao investigador
concentrar-se num caso especfico ou situao e identificar os diferentes
processos interativos. No nosso caso vamos assumir o Estudo de Caso
Observacional e nesse propsito estudar o caso da Comunidade
Empreendedora enquanto medida da IBC na/para a promoo da insero na
vida ativa, a partir da nossa prpria ao e das representaes de dois grupos
de pessoas inquiridas.
No Estudo de Caso Observacional, a tcnica de recolha de dados
a observao participante, sendo o objeto de estudo uma
determinada organizao, um aspecto particular de uma instituio,
uma actividade da escola ou a combinao de todos estes aspectos
(Barbosa, 1999, p. 148).
Uma opo que tem a ver com o facto de a investigadora ter relaes de
mbito profissional assistente social com o territrio e o pblico que agora
estuda e, conjuntamente, o papel de investigadora.
40
4.2. Recolha de dados
O processo de recolha de dados combinou a anlise documental
(documentos externos e registos internos), a auscultao, a observao
participante e entrevistas de grupo.
a) Anlise documental
A recolha de informao foi feita a partir da anlise e interpretao de
documentos normativos que definem e estruturam o labor e as medidas
implementadas nas IBC e, em especial, no Bairro do Lagarteiro. A inteno que
lhe subjaz pretende averiguar princpios e lgicas de ao, nomeadamente a
partir da anlise dos: 1) normativos legais; 2) protocolos de parceria; 3) boletins
da Iniciativa e 4) relatrios intercalares de monitorizao47 e, assim, conhecer
os factos verdicos com a maior objectividade e o menor nmero de distores,
dentro da situao particular que estuda (Sousa, 2005, p. 88).
b) Entrevistas
A entrevista seguiu uma estratgia no diretiva, do tipo semiestruturada e
foi aplicada a um grupo de pessoas de diferentes idades e sexo. O instrumento
privilegiado, porquanto permite estabelecer com as pessoas entrevistadas
uma conversa amena e agradvel no decurso da qual o entrevistado vai
proporcionando as informaes que o entrevistado espera (Sousa, 2005, p.
247). E, uma modalidade que nos permite de modo natural e no decorrer da
conversao inquirir sobre os porqus e os esclarecimentos circunstanciais
que possibilitam uma melhor compreenso das respostas, das motivaes e da
linha de raciocnio que lhe esto inerentes (Idem). Mais, porque nos permite
averiguar sentimentos, opinies, factos, atitudes, decises e/ou motivaes
(Selltiz et al, 2006).
A opo pela entrevista semi-dirigida, tem a ver com o facto de querermos
uma viso global e, nesse propsito, honrar a linha de raciocnio, intervindo
47
Realizados de trs em trs meses, sempre que se realiza uma Comisso de Acompanhamento, ou pontualmente caso se justifique.
41
apenas nos momentos em que o sujeito possa estar a desviar-se do assunto
em questo (Ibidem, p. 249).
Para as entrevistas selecionamos 10 pessoas e agendamos as entrevistas
para os dias 22 e 29 de Dezembro de 2011. Para alm destas, entrevistamos
ainda a Coordenadora da medida 2.5 Comunidade Empreendedora
Gabinete de Emprego. A realizao das entrevistas, seguiu o guio elaborado
para o efeito cujo referencial visava inquirir sobre (1) as expetativas geradas
com a criao do gabinete e da medida 2.5. Comunidade Empreendedora;
(2) aferir das mudanas percebidas ao nvel da relao pessoal e social das
pessoas implicadas na medida; (3) as aprendizagens feitas por ao da medida
e os efeitos prticos deste roteiro na/para a sua insero na vida ativa.
As entrevistas foram realizadas, entre os dias 22 e 29 de dezembro de
2011, na sede da IBC Lagarteiro. Das 10 pessoas chamadas a participar,
compareceram apenas 7. Trs no primeiro dia e, portanto no dia 22 de
Dezembro e 4 no segundo, ou seja, no dia 29 de Dezembro. Os restantes
faltaram sem que fosse participada qualquer explicao. A durao mdia de
cada entrevista foi de cerca de 40 minutos e decorreu no gabinete da equipa e
portanto na comunidade de residncia dos entrevistados.
O primeiro cuidado foi criar um ambiente agradvel e assim um clima de
dilogo franco e respeitoso. Clarificado o mbito da entrevista e assumindo a
confidencialidade dos dados, solicitamos autorizao para registrar as
respostas em suporte udio.
A entrevista Coordenadora da medida aconteceu j no decorrer no ano de
2012. Tambm, neste caso, inquirimos sobre os domnios e efeitos do
gabinete. E, principalmente, sobre o percebido, em termos de impacto, na vida
das pessoas que por l passaram.
c) Observao Participante
A observao e auscultao enquanto mtodo de anlise resulta da ao
direta do investigador e, cumulativamente, das reunies realizadas no mbito
42
do trabalho desenvolvido enquanto profissional a exercer a funo de
dinamizadora da/na Comunidade Empreendedora. Uma oportunidade que se
revelou fundamental para enriquecer o dilogo com a informao recolhida nas
entrevistas. A observao em educao destina-se essencialmente a
pesquisar problemas, a procurar respostas para questes que se levantem e a
ajudar na compreenso do processo pedaggico (Sousa, 2005, p. 109). Nesta
lgica, continua o mesmo autor, a observao permite efectuar registos de
acontecimentos, comportamentos e atitudes, no seu contexto prprio e sem
alterar a sua espontaneidade (Idem).
d) Anlise de Contedo
A anlise de contedo uma tcnica que permite, nas palavras de Adrito
Barbosa (1999), inferir sobre a fonte e condies de contexto em que se
produziu o material a estudar (p. 150). O propsito obter por procedimentos
sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores
(quantitativos ou no) que permitam, a inferncia de conhecimentos relativos
s condies de produo das mensagens. Em qualquer caso, a anlise de
contedo incide sobre a captao de ideias e de significaes da comunicao
(Almeida e Pinto, 1976, p. 96). Uma tcnica que exigiu o registo dos dados
conforme as referncias tericos e as categorias convocadas para a anlise.
5. Apresentao dos Dados
Este estudo apresenta trs corpus: um relativo s entrevistas com os
utentes do GE; um segundo relativo entrevista com a Coordenadora e um
terceiro referente observao participante desenvolvida no mbito da nosso
trabalho enquanto profissional e enquanto investigadora.
5.1. Participantes/Amostra
Para as entrevistas, tal como j referimos, convidamos 10 pessoas (6
pessoas do sexo feminino e 4 do sexo masculino).