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  COMUNIDADE EMPREENDEDORA: O caso da Iniciativa dos Bairr os Críticos no Bairro do Lagarteiro Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação   Especialização em Pedagogia Social   Por Patrícia Carolina Silva (Porto, Março de 2012)

Patricia Silva O Caso Da Iniciativa Dos Bairros Críticos No Bairro Do Lagarteiro

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Patricia Silva O Caso Da Iniciativa Dos Bairros Críticos No Bairro Do Lagarteiro

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  • COMUNIDADE EMPREENDEDORA:

    O caso da Iniciativa dos Bairros Crticos no Bairro do Lagarteiro

    Dissertao apresentada Universidade Catlica Portuguesa

    para obteno do grau de mestre em Cincias da Educao

    Especializao em Pedagogia Social

    Por

    Patrcia Carolina Silva

    (Porto, Maro de 2012)

  • COMUNIDADE EMPREENDEDORA:

    O caso da Iniciativa dos Bairros Crticos no Bairro do Lagarteiro

    Dissertao apresentada Universidade Catlica Portuguesa

    para obteno do grau de mestre em Cincias da Educao

    Especializao em Pedagogia Social

    Sob a orientao de

    Professora Doutora Cristina Palmeiro

    (Porto, Maro de 2012)

  • () o lugar antropolgico, simultaneamente princpio de sentido para os que

    o habitam e princpio de inteligibilidade para aquele que o observa

    Aug, 2005, p. 46

  • I

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo Universidade Catlica Portuguesa, concretamente pessoa

    do Professor Doutor Joaquim Azevedo, Presidente do CRP/UCP e

    Professora Doutora Isabel Baptista, que nos acolheram desde o primeiro dia de

    uma forma to envolvente, que nos fez acreditar em ns prprios e seguir os

    caminhos neste estabelecimento de ensino.

    Professora Doutora Cristina Palmeiro, um especial agradecimento,

    expressado num sentimento de gratido, por toda a sua dedicao a este

    desafio, pela pacincia para com a minha pessoa, pela sua constante

    perseverana, pela sua incondicional disponibilidade que moveram em mim a

    motivao, a fora e o acreditar necessrios ao longo deste percurso.

    equipa da IBC Lagarteiro, Cludia Costa, Hlder Nogueira, Branco

    Lima e Ftima Teixeira, um especial obrigado por me acolherem e desafiarem

    as minhas competncias profissionais, bem como a todas as instituies

    parceiras da IBC.

    s minhas amigas que estaro sempre no meu corao e que juntas

    ultrapassamos momentos de partilha de vrias emoes, crescemos juntas

    nesta aventura, fomos fonte de inspirao mutua e a todas vs, Ana Cames,

    Ana Ferreira, Sofia Chacim, Filomena Amorim, bem como a todo o grupo do

    Mestrado em Pedagogia, o meu muito sincero OBRIGADO.

    minha famlia, em especial ao Bruno Sousa, pela pacincia mas

    sobretudo pela motivao e amor incondicional.

    Aos meus pais e ao meu irmo, por acreditarem em mim.

  • II

  • III

    RESUMO

    O trabalho agora apresentado corresponde a uma investigao centrada

    no estudo e reflexo sobre a Mediao Social e a Iniciativa Bairros Crticos,

    nomeadamente no Bairro do Lagarteiro. O empreendedorismo social e a

    mediao social so os eixos centrais da nossa ao e os fundamentos da

    pesquisa emprica. Em termos conceptuais, esta dissertao enquadra-se no

    domnio terico da Pedagogia Social e, nesse quadro, persegue os princpios

    da Aprendizagem ao Longo da Vida e a lgica da valorizao e proximidade

    humana. Os dados recolhidos durante o percurso de ao-investigao situam-

    se numa atitude de avaliao formativa e decorrem entre Setembro de 2010 e

    Outubro de 2011. Perodo em que assumimos o papel de mediadora e de

    investigadora da medida 2.5. Neste quadro, sobressai a importncia da figura

    do mediador social e, conforme se sustenta neste trabalho, muito

    concretamente a figura do pedagogo-mediador, enquanto agente de

    interveno e de desenvolvimento sociocomunitrio.

    Palavras-chave: Pedagogia Social, aprendizagem ao longo da vida, mediao

    social, empreendedorismo social

  • IV

    ABSTRACT

    The work presented corresponds to an investigation focused on the study

    and reflection on the Mediation Neighborhoods Initiative and Social Critics,

    including the District of Lagarteiro. Social entrepreneurship and social mediation

    are the central pillars of our action and the foundations of empirical research.

    Conceptually, this work fits into the theoretical domain of Social Pedagogy, and

    in this context, pursues the principles of Lifelong Learning and the logic of

    exploitation and human proximity. Data collected during the course of action-

    research are an attitude of formative assessment and held between September

    2010 and October 2011. Period in which we assume the role of "mediator" and

    researcher of the measure 2.5. In this context, highlights the importance of the

    figure of "social mediator" and, as this work argues, quite specifically the figure

    of the teacher-mediator, as an agent of intervention and socio-communitarian

    development.

    Keywords: Social Pedagogy, lifelong learning, social mediation, social

    entrepreneurship

  • V

    ndice

    AGRADECIMENTOS .......................................................................................... I

    RESUMO .......................................................................................................... III

    ABSTRACT ....................................................................................................... IV

    Introduo .......................................................................................................... 1

    PARTE I ENQUADRAMENTO TERICO

    1. Os paradoxos da Sociedade Global ....................................................................... 3

    1.1. A Sociedade em que vivemos ............................................................... 3

    1.2. Uma poltica urbana diferente ................................................................ 5

    1.3. A sociedade das novas oportunidades ................................................ 8

    2. A insero na vida profissional: a responsabilidade de participar ..................... 9

    2.1. A Pedagogia Social e os trajetos profissionais ................................... 9

    2.2. Mediao e Interveno Comunitria ................................................. 11

    2.3. O Empreendedorismo social ................................................................ 13

    3. A Iniciativa Bairros Crticos .................................................................................... 16

    3.1. Emergncia e marco ............................................................................. 16

    3.2. A natureza e a misso do Programa .................................................. 20

    3.3. Um Modelo de Gesto inovatrio ........................................................ 22

    PARTE II ROTEIRO DA INVESTIGAO

    1. A viso global da pesquisa ..................................................................................... 25

    1.1. Abordagem metodolgica ..................................................................... 25

    1.2. Questes e objetivos de investigao ................................................ 26

    2. Populao do estudo ............................................................................................... 27

    3. O Territrio de Interveno .................................................................................... 29

    3.1. O Bairro do Lagarteiro ........................................................................... 29

  • VI

    3.2. A Comunidade Empreendedora .......................................................... 30

    3.3. Do roteiro s aes/atividades ............................................................ 31

    4. A Metodologia do Projeto de Investigao .......................................................... 39

    4.1. Estudo de Caso ...................................................................................... 39

    4.2. Recolha de dados .................................................................................. 40

    5. Apresentao dos Dados ....................................................................................... 42

    5.1. Participantes/Amostra ........................................................................... 42

    5.2. Coordenadora ..................................................................................... 48

    5.3. Observao participante e o desafio do investigador/ator .............. 52

    6. Discusso de dados ................................................................................................ 54

    Concluso ....................................................................................................... 57

    Bibliografia ..................................................................................................... 62

    Anexo 1 ........................................................................................................... 69

    Anexo 2 ........................................................................................................... 72

    Anexo 3 ........................................................................................................... 73

    ndice de Quadros

    QUADRO 1- IBC. EIXOS DE AO ......................................................................... 30

    QUADRO 2 - PLANO INTEGRADO DE FORMAO..................................................... 32

    QUADRO 3- PARTICIPANTES/AMOSTRA ................................................................. 43

    ndice de Grficos

    GRFICO 1 PARTICIPANTES POR GRUPO ETRIO .................................................. 27

    GRFICO 2 - HABILITAES LITERRIAS ................................................................ 28

  • VII

  • 1

    Introduo

    O presente trabalho inscreve-se no trabalho subordinado ao tema

    Comunidade Empreendedora: O caso da Iniciativa dos Bairros Crticos no

    Bairro do Lagarteiro, desenvolvido no mbito do Mestrado em Cincias da

    Educao, Especializao em Pedagogia Social e visa averiguar e

    compreender de que forma a medida 2.5 Comunidade Empreendedora, atravs

    da utilizao das estratgias de Mediao Sociopedaggica, contribuiu

    efetivamente para a insero dos elementos desta comunidade na vida ativa.

    O estudo que agora apresentamos nasce por consequncia do trabalho

    que temos vindo a desenvolver no Gabinete da Iniciativa Bairros Crticos-

    Lagarteiro, Porto, enquanto profissional da rea social e da necessidade de

    melhor entender as razes que promovem a integrao na vida ativa e

    sobretudo quais os mecanismos que podem desbloquear estas situaes.

    Em termos metodolgicos, o processo de investigao foi sustentado

    numa estratgia de natureza qualitativa e desenvolvido durante dez meses,

    concretamente, entre Setembro de 2010 e Outubro 2011.

    A Iniciativa Bairros Crticos um Programa Nacional promovido pela

    Secretaria de Estado do Ordenamento do Territrio e Cidades, atravs do

    Instituto da Habitao e da Reabilitao Urbana e constitui-se como um

    instrumento da Poltica de Cidades para o desenvolvimento de solues de

    qualificao de territrios urbanos que apresentam fatores de vulnerabilidade

    crtica conforme Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005, de 2 de

    Agosto publicada no DR,I Srie B, de 7 de Setembro de 20051. Inicialmente

    desenhada para dois anos, foi objeto de prorrogao at 2013, mediante a

    Resoluo do Conselho de Ministros n 189/2007, de 31 de Dezembro 20072.

    1 Anexo 1

    2 Anexo 2

  • 2

    Neste contexto foram desenvolvidas diversas aes, enquadradas em

    dois eixos de interveno, um na rea da Requalificao urbanstica e

    ambiental do bairro e outro na promoo de uma cidadania ativa. Vamos,

    contudo, enfatizar o eixo relativo s questes da qualificao da populao

    com dfice de integrao na vida ativa, nomeadamente, a medida 2.5-

    Comunidade Empreendedora.

    Em termos organizacionais, a dissertao encontra-se dividida em duas

    partes. A primeira parte respeita fundamentao terica e abrange as

    questes relativas sociedade global e incluso social, viso da Pedagogia

    Social e o paradigma de aprendizagem na e com a vida, para melhor

    empreender e equacionar as situaes-problema que esta populao

    especifica enfrenta.

    A segunda parte integra o enquadramento emprico e fundamenta as

    questes e objetivos da investigao, a planificao e design da investigao,

    apresentao dos dados, discusso e concluses (algumas).

  • 3

    PARTE I ENQUADRAMENTO TERICO

    1. Os paradoxos da Sociedade Global

    1.1. A Sociedade em que vivemos

    A sociedade em que vivemos , nas palavras de Daniel Innerarity, uma

    sociedade invisvel, lotada de transformaes e contradies (2009). Mais,

    continua o mesmo autor, no fcil entender a nossa sociedade (). Muitas

    coisas deixaram de ser o que eram: o poder, a guerra, os territrios, a

    comunicao, o medo, a economia (Idem, p.12). Ora, num tempo mpar de

    avanos da cincia e da tecnologia, onde a nossa longevidade atinge ndices

    jamais alcanados, a qualidade de vida e a o futuro das novas geraes cada

    vez mais complexa e incerta. H riscos muito graves. Hoje existem centros de

    poder econmico e financeiro que controlam economias inteiras e tendem a

    controlar, ou condicionar, a economia mundial no seu todo (Patrcio, 2002, p.

    73).

    As informaes, como os capitais e as mercadorias, atravessam fronteiras.

    O que estava distante aproxima-se. A evoluo que vivemos quase

    desumana. Os terrorismos, inseguranas e desgovernao (Nobre, 2009,

    p.81) so questes maiores da nossa poca.

    Recentemente, as questes do desemprego (e o no emprego) fustigam de

    forma indelvel alguns dos pases ditos desenvolvidos3. Portugal no

    exceo. O problema quando a sociedade no consegue satisfazer as

    necessidades das suas gentes e faz eclodir situaes de instabilidade e de

    excluso. Nesse horizonte, o disfuncionamento do sistema origina situaes

    complexas e inibe pleno exerccio da cidadania.

    3 Os pases desenvolvidos so os pases que tm alto nvel de desenvolvimento econmico e

    social, tomando como base o rendimento per capita, o valor do produto interno bruto per capita de cada pas e, mais recentemente, o ndice de desenvolvimento humano (IDH). Os pases desenvolvidos geralmente so os que apresentam IDH elevado, isto , indicadores de riqueza, educao e de esperana mdia de vida elevados.

  • 4

    O drama da misria e da fome no mundo, os conflitos e as guerras

    civis, a degradao urbana, a difuso da criminalidade nas grandes

    reas metropolitanas de tantas cidades, a degradao do trabalho

    humano, so factores, entre outros, que no consentem uma plena

    realizao dos projectos educativos, seja nas famlias seja nas

    escolas (Azevedo, 2011, p. 155).

    O homem, desde que nasce adquire hbitos, costumes e prticas que

    aprende no contexto familiar e o auxilia a reproduzir as suas prticas

    quotidianas. Todavia,

    vivemos uma crise mais profunda que um acesso de medo ou de

    desencanto; sentimos separar-se, dissociar-se, em ns e nossa

    volta, por um lado o universo das tcnicas, dos mercados, dos

    signos, dos fluxos, nos quais estamos mergulhados, e por outro

    lado, o universo interior que chamamos cada vez mais

    frequentemente o universo da nossa identidade (Touraine, 1998, p.

    35).

    A aprendizagem social segue um processo de determinismo recproco

    entre o comportamento, as pessoas e o ambiente. Naturalmente, despertar

    para a cidadania global complexo.

    O desenvolvimento das estruturas cognitivas e da motivao para a

    aprendizagem, na formao de padres de sensibilidade e de gosto,

    na aquisio de linguagens especficas, traduzindo modos

    peculiares de desempenhar os papis sociais, na incorporao de

    saberes diversos (Queiroz e Gros, 2002, p.17).

    E se os grandes desafios da nossa contemporaneidade so a misria, a

    excluso e o desemprego. , igualmente, verdade que a formao pessoal e

  • 5

    social a melhor arma para combater os tempos de crise que abalam o

    mundo. S uma atitude positiva e clere capaz de introduzir mudanas

    significativas e valorizar as pessoas e o fortalecimento da democracia

    participativa e, com ela, o compromisso interpessoal e interinstitucional.

    As prticas tradicionais de formao so j insuficientes para responder de

    forma cabal a questes tipo: Como responder as ambiguidades das sociedades

    contemporneas? E, como podemos viver juntos de forma a combinar a

    unidade de uma sociedade com a diversidade das nossas pessoalidades?

    1.2. Uma poltica urbana diferente

    O desenvolvimento urbano trouxe o florescimento individual, mas tambm,

    a transformao radical da cidade, tendo-se superado atrasos estruturais e o

    processo de decadncia legado. A juntar a este fenmeno, a atomizao

    crescente da urbe, consequncia das coeses organizacionais, coloca em risco

    o vnculo humano e o que nos une a todos na nossa humanidade. A maneira

    como as pessoas se comportam umas com as outras e cada uma delas

    consigo prpria, exige e obriga um maior esforo, no sentido de responder de

    forma humana e eficiente s exigncias de uma populao cada vez mais

    envelhecida e empobrecida (Palmeiro, 2009). Uma realidade que nos convoca

    a melhor pensar na multiplicidade de situaes-problema que assolam o nosso

    quotidiano e que carecem de melhores intervenes.

    Na diversidade de espaos de sociabilidade, importante criar

    condies de proximidade que ajudem a consolidar as relaes

    de convivialidade para superar as condies de isolamento,

    injustia e excluso (Bueno, Salles & Bastos, 2008, p. 107).

    Nesse sentido necessrio promover uma poltica urbana diferente. A

    falta de uma verdadeira cultura urbanstica requer uma interveno clere e

    eficaz, caracterizada por medidas desenvolvimento adequadas s

    necessidades dos cidados e salvaguarda do interesse pblico.

  • 6

    As polticas urbansticas a incrementar devero, assim, corrigir

    fenmenos de segmentao funcional do territrio, proporcionando

    espaos dimensionados e organizados de forma a garantir a mistura

    de funes e a diversidade populacional, com especial

    preponderncia para a organizao dos bairros (cf Forum Cidade4

    Grupo 8, p.3).

    Mais ainda quando o que est em causa so lugares cuja significao

    est associada embora no exclusivamente a uma populao e/ou funo

    particulares (bairros operrios, bairros residenciais, bairros comerciais,

    bairros sociais (Gonalves, 1998, p. 17). O fenmeno da suburbanizao

    evidente. A contrariar os ideais de convivialidade e centralidade, emergem,

    agora, lugares despidos de contedo humano e onde se descontinuam as

    relaes funcionais e de reunio social, outrora espaos privilegiados de

    encontro, de festa e de lazer. A desorientao contempornea (Serroy e

    Lipovetsky, 2010, p. 66), obriga a situaes de sociabilidade utpica

    (Gonalves, 1998, 19), onde se deseja redescobrir uma cultura local e

    conservar a memria social: restaurar e renovar, sem mudar nem os valores,

    nem os costumes e prticas sociais, nem as populaes que correriam o risco

    de perder a ligao com o passado (idem).

    A vizinhana de populaes socialmente prximas umas das outras,

    mas que insistem nas suas diferenas, no favorece a criao de

    solidariedade (Gonalves, 1998,p. 23).

    Na sociedade do hiperconsumo (Serroy e Lipovetsky, 2010, p. 121), as

    imagens sobre os bairros ditos sociais ou ncleos habitacionais antigos e

    (mais ou menos) desqualificados das cidades, no escapam com grande

    regularidade a um profundo fechamento identitrio, normalmente rematado

    com um conclusivo: ali so todos iguais (Pereira, s/d,p. 1). E, continua o

    mesmo autor, sempre que surge mais uma ou outra crise social e poltica,

    rapidamente se associa a igualdade previsvel daqueles que ali vivem a um

    4 http://inet.sitepac.pt/ForumAnexo3PoliticaUrbana.pdf

  • 7

    carcter inevitavelmente problemtico e obrigatoriamente perigoso (idem).

    Todavia, mudar de atitude envolve uma responsabilidade coletiva, situao

    complexa na era da globalizao onde o que sobressai so laos e redes de

    solidariedade ligados por infindveis fios invisveis e comunicaes suspensas

    e a distncia (Palmeiro, 2009).

    Para vivermos juntos sendo diferentes, respeitemos um cdigo de

    boa conduta, as regras do jogo social. Esta democracia

    processual no se contenta com regras formais; ela assegura o

    respeito das liberdades pessoais e colectivas, organiza a

    representao dos interesses, pe em forma o debate pblico,

    institucionaliza a tolerncia (Touraine, 1998, p. 21).

    Promover o desenvolvimento da pessoa na sua plenitude (deve ser) a

    grande finalidade de qualquer projeto de interveno sociocomunitria e, nesse

    sentido, a IBC - medida 2.5 comunidade empreendedora pretende, em primeiro

    lugar, produzir novas competncias e capacidades de pensar e de agir,

    individual e coletivamente e, assim, criar novas oportunidades de formao, de

    participao e de empregabilidade.

    Uma proposta desafiante e uma ao que procura uma liderana pblica

    local eficaz e avaliada socialmente, uma aco territorial integrada num

    projecto amplo, a concertao pblico-privada, a assuno de novas

    competncias por parte dos municpios, e a criao e desenvolvimento de

    todos os mecanismos possveis de comunicao e participao de cidadania

    (Villar, 2001, p. 15), como a que julgamos ser a IBC, mormente, no Bairro do

    Lagarteiro. E, assim, sendo, a educao, continua a mesma autora, no s

    uma preocupao do sistema educativo mas sim um instrumento social e

    cultural imprescindvel para a coeso comunitria e pessoal (Villar, 2001, p.

    13). E, portanto, uma lgica que enfatiza o mximo aproveitamento dos

    recursos existentes (idem).

  • 8

    1.3. A sociedade das novas oportunidades

    O clima de descrdito em que vivemos , simultaneamente, um tempo de

    esperana e de novas oportunidades. E, como refere Joaquim Azevedo,

    responsabilidade, o foco! Solidariedade, a aco! (2011, p. 246). Na

    escola ou na famlia, em casa ou na rua, na comunidade ou na cidade, os focos

    so estes e a base educao de todos e ao longo de toda a vida (idem).

    As necessidades de aprendizagem e o acesso aos benefcios

    educacionais devem encontrar-se com ofertas abertas, estruturadas

    e flexveis, processos criativos de educao e formao, com casas

    de aprender, disponveis para o acolhimento, o re-conhecimento, o

    desafio, a exigncia de investimento pessoa e institucional, espaos

    sociocomunitrios aptos para favorecer o encontro, uns com os

    outros e com o saber, para a criao de laos e para o dilogo

    intercultural (Azevedo, 2011, p. 246-247)

    O homem total resulta do exerccio da sua cidadania ativa e do

    conhecimento construdo a partir da cultura e congruncia que formos capazes

    de imprimir no nosso desenvolvimento pessoal e social (Barbosa, 1999, p. 82-

    83).

    Ora, num tempo em que predomina uma pobreza crescente, com um

    carcter estrutural e persistente, fazem-se sentir com muito maior intensidade

    os impactos dos processos econmicos e sociais que a sociedade portuguesa

    est a viver. Em consequncia disso, tem-se assistido ao surgimento de novas

    vulnerabilidades e a um agravamento dos dfices de integrao em domnios

    essenciais, como a educao e o emprego, que tm contribudo para agravar

    as antigas situaes de excluso e para produzir novas expresses do

    fenmeno.

    Nesta circunstncia, o Programa IBC, enquadra, apoia e complementa a

    reabilitao do edificado no sentido de fazer deste processo um fator de

    promoo individual e de desenvolvimento local, que so as grandes

    finalidades da iniciativa e as condies indispensveis para combater e

  • 9

    prevenir a degradao do bairro e fomentar a insero na vida ativa,

    promovendo condies para uma cidadania ativa.

    O homem vive necessariamente em sociedade, partilhando cada

    uma a sua vida com uma multido de outros homens e necessitando

    de servios que recebe dos outros a cada instante. Todos so

    interdependentes dos demais, ainda que desconhecidos e

    trabalhando em longnquos pases. Nenhum ser humano, se pode

    imaginar sozinho, vivendo cada um de ns do que recebe dos

    demais, prximos ou distantes (Rodrigues, 2008, p. 66).

    2. A insero na vida profissional: a responsabilidade de participar

    2.1. A Pedagogia Social e os trajetos profissionais

    Face a uma sociedade contempornea em processo acelerado de

    mudana, a pedagogia social afigura-se pertinente e urgente.

    O mundo contemporneo coloca-nos diante de cenrios novos,

    luminosos e desafiantes do ponto de vista das prticas de cidadania,

    mas sobre os quias paira tambm alguma nebulosidade. Nas

    cidades deparamo-nos com a progressiva perda das virtudes cvicas

    que tradicionalmente definem a chamada condio humana, como

    o hibridismo cultural, os valores do desenraizamento, da privacidade

    pessoal e da emancipao autnoma (Baptista,2007, p. 135)

    O processo de socializao dos indivduos cada vez mais exigente e

    estende-se para alm da famlia e da escola, em particular, no que respeita

    insero na vida ativa. O desafio complexo e requer uma aprendizagem

    contnua e uma estratgia de educao ao longo de toda a vida (Carneiro,

    2001, p. 269).

  • 10

    O Desenvolvimento pessoal e social hoje paradigmtico e deseja-se

    que se inicie desde a mais tenra infncia at ao seu ltimo dia.

    Tanto a educao escolar como a educao familiar e social, em

    geral, tm um papel central nas sociedades de hoje, pela

    possibilidade e oportunidade que representam de favorecer este

    desenvolvimento humano personalizado de todos e de cada um, ao

    longo da vida e com a vida (Azevedo, 2011, p. 133).

    Efetivamente um desafio enorme. Tanto mais que a universalizao da

    educao, contrariamente s expetativas geradas, encerra em si paradoxos e

    ambiguidades que inibem uma aprendizagem ativa e trajectos escolares bem

    sucedidos (Queirz & Gros, 2002:42). A este propsito, Jos Lus Gonalves

    (2007), refere que saber ler os ferimentos morais que atingem os socialmente

    invisveis constitui um desafio tico, psicolgico e antropolgico irrenuncivel

    em Pedagogia Social (p. 95). Na sua origem a Pedagogia Social tende a

    privilegiar as modalidades de educao no-formal e informal dado

    que estas modalidades se referem a uma aprendizagem que no ,

    necessariamente, dispensada por um estabelecimento de ensino ou

    de formao e que nem sempre conduz a uma certificao

    reconhecida nos moldes tradicionais (Baptista, 2008, p. 15).

    Visa, assim, conferir poder s pessoas de forma a que possam participar

    de forma ativa na resoluo das suas circunstncias de vida, mormente nas

    questes relativas ao mundo do trabalho.

    A transio entendida como perodo que medeia entre a concluso

    da formao inicial e a obteno de um emprego estvel, a tempo

    inteiro, foi substituda por transies entre a sada do sistema de

    ensino e de formao inicial e as menores ou maiores manifestaes

    de instabilidade nos mercados de trabalho (Azevedo e Fonseca,

    2007, p. 54).

  • 11

    Circunstncia que se complexifica medida que cresce o desemprego e

    se exigem mais e maiores esquemas de apoio formao e ao emprego

    (Idem). A insero na vida ativa cada vez mais difcil, sobretudo, se

    pensarmos num trabalho estvel. Emprego estvel, pode significar para muitos

    jovens uma misso impossvel, tal a sucesso de atividades e de empregos,

    de contratos precrios que sucedem a outros tambm precrios (Azevedo e

    Fonseca, 2007, p. 57).

    Ora, pensando estas questes que a Pedagogia Social, por via da

    mediao socioeducativa, se diferencia e seguindo uma lgica de organizao

    de responsabilidade coltica e de progressiva autonomia dos sujeitos

    (Carvalho e Baptista, 2004, p. 58), desconstri crculos viciosos e impe novos

    princpios organizadores. O fundamento construir uma relao com a

    mudana e em prol de uma atitude de autoestima e autoconceito positivos e, a

    partir da, criar uma atitude pessoal ativa e comprometida com um projeto de

    vida autntico e de cidadania ativa.

    2.2. Mediao e Interveno Comunitria

    Contrariamente s expetativas criadas com a evoluo das sociedades e

    sucessivas medidas socioeducativas as sociedades modernas e democrticas

    querendo-se integradoras, logo de lao social, continuam a construir e a

    intensificar profundas desigualdades sociais e a deixar muitos indivduos,

    famlias e grupos sociais merc dos imponderveis da vida (Leandro, 2011,

    p. 30). A fragilidade das relaes interpessoais abordada por Bauman (2006)

    sugere a necessidade de uma interveno comunitria assertiva e continuada.

    Isto , uma interveno pautada pela mediao socioeducativa e na perspetiva

    da ecologia social (Moos, 1979).

    A lgica que o sujeito seja o autor do seu projeto de vida e gere a partir

    de si as sinergias necessrias para o seu crescimento e desenvolvimento

    pessoal e social. Porm, habitamos num cenrio sociopoltico e econmico

    que se nutre das profundas desigualdades existentes no acesso aos recursos e

  • 12

    oportunidades potencialmente disponveis, excedendo os nveis tico e

    moralmente suportveis. (Caride Gmez, J.; Freitas, M. & Callejas, G., 2008,

    p.129). Circunstncia que requer uma interveno alargada, de matriz

    humanista, centrada na pessoa e no seu pleno desenvolvimento. evidente

    que desigualdades sociais, pobreza de muitos e riqueza de poucos sempre

    existiram ao longo do tempo de vida do homem, mas o que torna este

    fenmeno mais grave o facto de acontecer na sociedade atual, democrtica,

    com poderes livremente eleitos e que quer integradora. Nesse sentido, importa

    investir num combate feroz persistncia das desigualdades sociais (Leandro,

    2011, p. 45-46) e adotar medidas capazes de contribuir para a formao de

    sociedade de coeso social onde se possa viver com harmonia, confiana e

    segurana (Idem). Nesta imensa malha de relaes e contradies, uma das

    formas de potenciar uma melhor integrao passa pelo investimento em

    educao/formao escreve Raquel Cruz (2010), isto porque, continua a

    mesma autora, a revalidao de competncias atravs da aprendizagem ao

    longo da vida permite uma integrao profissional que responda s

    necessidades actuais do mercado (Idem).

    Na base destas fragilidades est, naturalmente, o nmero crescente de

    pessoas em situao de desemprego e de baixos ndices de escolaridade.

    Estar desempregado significa estar a margem do sistema produtivo, na

    periferia do mundo do consumo e em anormalidade social e cultural

    caracterizada pela excluso social (Tedesco, 2000, p. 58).

    O bem estar pessoal depende, evidentemente, de competncias pessoais

    mas, tambm, da ao dos grupos sociais, instituies e comunidades. No

    caso que a gora se estuda, o projeto de interveno IBC, combina sinergias

    pessoais e sinergias comunitrias e institucionais. O objetivo fomentar a

    interao entre as pessoas e entre estas e os contextos e, assim, intervir de

    forma deliberada e intencional em dimenses que esto para alm da pessoa e

    que tm a ver com formar para o trabalho e para a insero na vida ativa. Um

    modelo que privilegia a interveno comunitria e convoca os referenciais

    tericos da Pedagogia Social. O que significa propiciar e valorizar

    competncias, capacidades e potencialidades das pessoas.

  • 13

    Em termos de estratgia, a interveno comunitria, favorece e promove

    a mediao socioeducativa, porquanto, facilita a construo de hbitos e

    atitudes positivas. A propsito, Isabel Baptista, reitera que a mediao

    pedaggica, seja qual for o contexto de ao, permite estabelecer, ou

    restabelecer, uma relao positiva consigo mesmo, como os outros, com o

    mundo e com a vida em geral (Baptista, 2004). Significa tal que a mediao,

    como prtica antropolgica ao servio de cada pessoa e numa perspetiva de

    potenciar as suas possibilidades de acesso contemporaneidade (Cachada,

    2008, p. 6) gera, efetivamente, situaes mpares de desenvolvimento pessoal

    e profissional e, conjuntamente, situaes de grande proximidade

    interinstitucionais.

    A comunidade, inscrita num mbito mais geral de desenvolvimento

    comunitrio, como sinnimo das dinmicas que desenvolvem a

    implicao e os laos entre as pessoas e as instituies de uma

    dada localidade, de um dado territrio, na sua imensa e rica

    diversidade, e que visam, atravs da participao activa e solidria

    de cada um, alcanar o bem estar de todos (Azevedo, 2008, p. 21).

    2.3. O Empreendedorismo social

    O empreendedorismo social na nossa atualidade um requisito vital para o

    exerccio de uma cidadania ativa e estruturante para pensar modos de

    aprender e de agir diferenciados. Assim, Barreto (2002) defende que

    Empreendedorismo a habilidade de criar e construir algo a partir

    de muito pouco ou do quase nada. () um acto criativo. () Mas

    tambm a sensibilidade individual para perceber uma oportunidade

    quando outros enxergam caos, contradio e confuso. o possuir

    de competncias para descobrir e controlar recursos aplicando-os de

    forma produtiva (in, Lopes, Marcelino de Sousa, 2009, p.222).

  • 14

    Um fenmeno que convoca e interpela acadmicos, polticos e

    profissionais dos diversos sectores da economia. E, embora a linguagem do

    Empreendedorismo Social possa ser relativamente recente, o fenmeno em si

    no o 5.

    H, autores, entre os quais destacamos Gibb (2005) que advogam ser o

    empreendedorismo o instrumento capaz de nos desafiar e provocar para a

    criatividade, para a

    motivao intrnseca e flexibilidade perante os factos da realidade; o

    comunicar, decidir e liderar de um modo eficaz e conveniente; o agir

    com determinao, mesmo em situaes de incerteza, a fim de

    reconhecer as oportunidades (in, Lopes, Marcelino de Sousa, 2009,

    p.233).

    Neste desiderato, a inovao social pondera a resoluo do problema,

    valorizando a criao de valor social para a sociedade6 e, arrogando-se de

    uma lgica de capacitao e uma abordagem de compromisso em que os

    destinatrios faam parte da soluo encontrada pelo empreendedor social,

    contribuindo para que a mudana efectiva se realize7.

    Nesta linha, o sujeito de ao desafiado a ser co-responsvel pela/na

    construo do seu protejo de vida. Pinchot (1989), defende que

    o empreendedor uma pessoa que transforma os sonhos em realidade

    (cit. In tese de mestrado de Farfus, D. 2008, p.53),

    Ma mesma linha de pensamento surge Filion (1993)

    o empreendedor algum que imagina, desenvolve e realiza vises

    (cit. In tese de mestrado de Farfus, D. 2008, p.53).

    5 http://www.ies.org.pt/conhecimento/empreendedorismo_social/

    6 http://www.ies.org.pt/conhecimento/empreendedorismo_social/

    7 http://www.ies.org.pt/conhecimento/empreendedorismo_social/

  • 15

    Ativar a criatividade, a inovao e a capacidade para tomar as suas

    decises, implica planificar e gerir de modo coerente e consistente os objetivos

    que nos propomos atingir e, assim, derrubar mitos e esteretipos que nos

    enclausuram. Beck et al, (2000) defendem que

    Na sociedade actual a emergncia do risco e da incerteza gerou

    uma insegurana e instabilidade latentes. A necessidade contnua

    de uma atitude reflexiva sobre as escolhas e prticas tornou os

    indivduos mais atentos (cit. Cruz, Raquel 2010, p.111).

    A educao ao longo da vida , nas palavras de Palmeiro (2009), o

    princpio capital das sociedades contemporneas, porquanto visa alcanar o

    desenvolvimento total do individuo. E, nesse horizonte, foroso construir um

    entendimento social eminentemente sustentvel em saberes e valores

    pertinentes e geradores de um novo conhecimento (idem).

    A excluso social acontece, normalmente, quando os indivduos se

    encontram impossibilitados de exercer os seus direitos de cidadania e/ou

    impossibilidade de aceder aos sistemas sociais bsicos (social, econmico,

    institucional, territorial, simblico). Os habitantes urbanos - com particular

    incidncia, os dos grandes aglomerados habitacionais - perdem paulatinamente

    o sentido dos seus interesses coletivos e a capacidade de se mobilizarem em

    torno de projetos comuns (Guerra, 2003, p. 74). A diferena somos ns

    registam Stephen Stoer e Antnio Magalhes ao invocarem a importncia do

    conhecimento como competncia e como exigncia para o eficiente

    desempenho nas novas sociedades (2005, p. 37-38).

    Albagli e Maciel (2002) reiteram a necessidade de se avanar para a

    organizao da sociedade civil e a presso pelo empoderamento de

    segmentos sociais excludos e regies marginalizadas projetam o

    empreendedorismo social como expresso da capacidade de segmentos

    e organizaes sociais, comunidades e instituies pblicas de organizar

    e implementar iniciativas pertinentes melhoria das condies de vida

    locais e abertura de oportunidades para grupos sociais menos

    favorecidos (cit. In tese de mestrado de Farfus, D. 2008, p.60).

  • 16

    Ser cidado ser aprendente, aprender exercer a cidadania,

    partilhar limitaes, ousar ir mais alm, ser mais, sempre em comum, porque

    ningum aprende a ser sozinho (Azevedo, 2007, p. 10) e, nesse sentido,

    preciso fomentar ambientes de humanidade, fortalecendo as

    interdependncias de pessoas e instituies, as redes de proximidade e os

    encontros que esbatem as fronteiras. (ibidem, p. 15).

    O Bairro do ponto de vista da integrao social e urbana tem de ser

    integrado dentro de um projeto estratgico estruturante para a cidade, de forma

    a alcanar-se a necessria articulao entre a cidade e o urbano. A

    Comunidade empreendedora disso um exemplo. Mais ainda, quando o que a

    anima a capacitao dos seus atores e, tambm, o desenvolvimento da

    prpria comunidade.

    3. A Iniciativa Bairros Crticos

    3.1. Emergncia e marco

    A Iniciativa Bairros Crticos (IBC) inscreve-se no Programa do XVII

    Governo Constitucional e um instrumento da Poltica das Cidades que resulta

    do esforo da Secretaria de Estado do Ordenamento do Territrio e Cidades,

    por via da ao do Instituto da Habitao e da Reabilitao Urbana8. Trata-se

    assim de um Programa que

    reconhece o papel decisivo das cidades no desenvolvimento das

    sociedades contemporneas e a complexidade dos desafios

    associados s cidades enquanto concentraes de recursos

    8 Cf. Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005, de 2 de Agosto publicada no DR,I Srie

    B, de 7 de Setembro de 2005. Inicialmente desenhada para vigorar durante 2 anos, foi objeto de prorrogao at 2013, mediante a Resoluo do Conselho de Ministros n 189/2007, de 31 de Dezembro 2007.

  • 17

    humanos e institucionais, onde coexistem problemas e

    oportunidades (Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005).

    A Iniciativa Operaes de Qualificao e Reinsero Urbana de Bairros

    Crticos , por isso, considerado um Programa inovador, lanado pela

    Secretaria de Estado do Ordenamento do Territrio e Cidades e constitui-se

    como um instrumento da poltica de Cidades e coordenado pelo Instituto da

    Habitao e da Reabilitao Urbana (IHRU)9.

    A filosofia de ao que lhe est subjacente estrutura-se em oito princpios:

    Projetos integrados de base scio territorial

    Focalizao no territrio

    Envolvimento e participao dos atores locais, na implementao mas

    tambm na conceo

    Mobilizao de novas formas de financiamento

    Coordenao estratgica e parceria

    Sustentabilidade e durabilidade dos resultados, designadamente

    atravs da criao de redes que gerem sinergias e propiciem a

    racionalizao de recursos

    Intervenes orientadas para a inovao e com capacidade de

    impacte estrutural

    Avaliao on going e monitorizao

    A IBC defende que o dilogo e os consensos das vontades e dos

    recursos so a oportunidade para a concretizao dos programas de

    interveno territorial. Naturalmente, este foi baseado num compromisso

    partilhado e focalizado em cada territrio que exige um trabalho autnomo e

    contnuo em proveito da mudana positiva e de empoderamento pessoal e

    social de cada pessoa. Nesta lgica, a IBC, assume

    uma abordagem em que o fortalecimento do sistema de actores se

    configura como um passo prvio e basilar para o desenvolvimento

    9 Cf. Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005

  • 18

    da mudana, numa lgica processual e dinmica assente em

    pressupostos de reconhecimento e respeito mtuos, na construo

    de condies de confiana, compromisso e capacitao para a

    produo conjunta da aco10.

    Trata-se, por isso, de uma iniciativa cuja finalidade se prende com a

    necessidade de estimular e desenvolver iniciativas inovadoras, especialmente,

    no que concerne a metodologias de interveno e instrumentos passveis de

    incorporar na poltica de cidades mudanas de diferentes dimenses. De resto,

    uma medida que recai sobre trs territrios muito especficos: 2 no sul (Vale de

    Amoreira e Cova da Moura) e um no Norte (Bairro do Lagarteiro) e que

    resultam da deciso do Ministrio da Ambiente, do Ordenamento do Territrio e

    do Desenvolvimento Regional em articulao com as cmaras municipais, num

    horizonte temporal de trs anos (2006-2013).

    Contudo, o Protocolo de parceria do Bairro do Lagarteiro Porto, foi

    assinado apenas em 29 de Maio de 2008 e a equipa tcnica entrou em funes

    em Dezembro do mesmo ano11.

    O propsito da IBC que a participao cvica seja a mxima a

    desenvolver. Neste desafio, os grupos de trabalho (na fase de diagnstico)

    organizaram o programa de interveno, integrando representantes da

    administrao central, (Ordenamento do Territrio, Administrao Interna,

    Trabalho e Solidariedade Social, Sade, Educao e Cultura), autarquias

    (Cmaras Municipais e Juntas de Freguesia), Associaes e Instituies locais

    e ainda, entidades com experincia de trabalho relevante no bairro e atores

    locais. Tudo, em prol de medidas eficazes quer em termos de articulao, quer

    em termos de participao e seguindo o Protocolo institucional12.

    10

    http://www.portaldahabitacao.pt/opencms/export/sites/ibc/pt/ibc/docs_pdf_ibc/publicacoes/brochura_10versao.pdf

    11 O trmino est previsto para Dezembro de 2013.

    12 Este protocolo define os objetivos, as estratgias e o programa de ao da interveno a

    seguir em cada bairro, bem como, os compromissos assumidos por cada parceiro, os meios

  • 19

    A IBC , assim, uma medida que desponta da necessidade de

    equacionar situaes-problema da nossa atualidade, nomeadamente, no

    mbito da qualificao e reinsero urbana de reas crticas. Sendo,

    inclusivamente, um dos quatro13 pilares da poltica de cidades que o governo

    desenvolve (cf. Resoluo do Conselho de Ministros n 143/2005, de 2 de

    Agosto, publicada no DR, I Serie - B, de 7 Setembro de 2005).

    O Conselho de Ministros colocou especial ateno no domnio da

    qualificao e reinsero urbana de reas crticas, porquanto se trata de um

    eixo de vital importncia para o exerccio de uma cidadania plena e a

    construo de uma sociedade solidria e educadora.

    A concentrao de problemas sociais, pelo desfavorecimento e

    menor capacitao das suas populaes, pela concentrao de

    grupos mais vulnerveis s diferentes formas de discriminao, pelo

    estigma social que lhes anda associado e pelo bloqueio de

    oportunidades, estes espaos, por um lado, constituem o mais

    urgente desafio em termos de promoo da cidadania e da coeso

    social e, por outro, representam um grande risco no que respeita a

    comportamentos que podem minar a qualidade de vida e a

    competitividade das principais aglomeraes metropolitanas.

    Acresce que, por essas mesmas razes, estes so os espaos

    urbanos onde mais complexa a interveno, menos duradouros se

    apresentam os seus resultados e mais necessrio se torna encontrar

    formas inovadoras de interveno que assegurem um forte

    financeiros disponveis para a execuo das aes, assim como a composio da unidade de ao estratgica local com um modelo e composio ajustados s problemticas, natureza das parcerias, s capacidades de ao e s intervenes a implementar em cada bairro.

    13 Paralelamente, desenvolvem-se os eixos relativos qualidade de vida e funcionalidade,

    competitividade e inovao e reabilitao e reinsero urbana de reas crticas.

  • 20

    envolvimento local e resultem em maior capacitao das

    populaes14

    O facto de existirem em Portugal experincias precedentes em

    intervenes desta natureza, nomeadamente, o Programa de Iniciativa

    Comunitria Urban (I e II) e Interveno Operacional de Renovao Urbana,

    facilitam o reconhecimento de elementos fundamentais, tais como o

    desenvolvimento de parcerias numa perspetiva multidisciplinar, a participao

    das populaes, a criao de estruturas locais de execuo e o ajustamento

    das aes aos problemas especficos de cada uma das reas.

    Os princpios que lhe esto subjacentes respeitam a: i) aprendizagem

    coletiva; ii) avaliao e participao das parcerias; e iii) operacionalizao

    territorial dos protocolos.

    Morar num bairro, significa trabalhar, recrear, compartilhar espaos e, em

    particular, pressupes interaes e sociabilidades. E, ao mesmo tempo,

    tenses, esteretipos e momentos particularmente intensos de excluso.

    3.2. A natureza e a misso do Programa

    A natureza do Projeto, estrutura-se em prol de duas grandes dimenses: i)

    um percurso de aprendizagens conjuntas e ii) o tempo e os tempos da

    mudana. Pressupostos de base que, na primeira situao, elege o sistema de

    atores e de ao como objeto de ateno prioritria, fundamenta a natureza

    experimental da Iniciativa, que se prope envolver a participao coletiva e

    incentivar a criatividade e inovao das solues definidas para ultrapassar as

    dificuldades.

    A IBC distingue-se, assim, pelo seu carcter interministerial, pela estrutura

    de atores que envolve - desde o nvel ministerial a um nvel mais orgnico e

    14 Resoluo do Conselho de Ministros n 172/2005, publicada no DR,I Srie B, de 7 de

    Setembro de 2005

  • 21

    informal, em cada territrio - pelo seu modelo de gesto, pelo seu modelo de

    financiamento e ativao de recursos, e pela metodologia de desenvolvimento

    de que se socorre. Distingue-se tambm pela abordagem de participao, co-

    produo coletiva de solues e atuaes assente em compromissos

    assumidos em contextos de confiana mtua, suscetveis de consolidarem

    apropriaes coletivas e endgenas dos prprios projetos de interveno,

    contribuindo para a viabilizao de aes mais sustentveis na produo da

    mudana.

    No segundo domnio, o tempo e os tempos da mudana, exige-se tempo

    e tempos diversos de maturao. Exige-se, sobretudo, a todos os

    intervenientes, novas formas de organizao e de gesto dos calendrios de

    execuo, novas formas de estar nos projetos e novas prticas de

    desenvolvimento das aes; persistncia e aprofundamento da natureza

    experimental que caracteriza este desafio, bem como um modelo de

    monitorizao e avaliao de expectativas, resultados e impactos - tambm ele

    mais exigente e inovador face aos modelos tradicionais.

    Da sua natureza experimental, ressalta a necessidade de uma abordagem

    diferente e de natureza prtica, porquanto, nasce da perceo de que

    experincias anteriores se revelaram insuficientes nos seus graus de

    efetividade e sustentabilidade da mudana induzida, devido dificuldade de

    mobilizao dos diversos atores-chave, dificuldade em assegurar a coerncia

    e a concertao atempada das vrias aes, vontades e recursos bem como

    dificuldade em garantir a focalizao da ao conjunta nas dinmicas dos

    territrios durante e sobretudo - na ps-interveno.

    A IBC, orientada para a integrao scio-urbanstica de territrios que

    apresentam fatores de vulnerabilidade crtica, e tem como pressupostos a

    formalizao do envolvimento interministerial, de forma a garantir a

    concertao das iniciativas e a definio das prioridades; a participao dos

    Parceiros Locais na prpria definio e conceo dos Planos de Interveno o

    desenvolvimento de parcerias pblico-pblico e pblico-privadas, aos vrios

    nveis. A iniciativa concretiza-se localmente atravs projetos que so

    executados por uma parceria alargada e acompanhados por estruturas criadas

  • 22

    no mbito da iniciativa, tais como o Grupo de Trabalho Inter-ministerial (GTIM)

    e o Grupo de Parceiros Locais (GPL), a Comisso de Acompanhamento e a

    Comisso Executiva.

    A IBC afirma a sua vocao inovadora e experimental, assumindo a

    inteno de estimular e testar solues institucionais, procedimentais e

    tecnolgicas, inovadoras, integradas e participadas, e de procurar a

    concertao e otimizao dos atores e da ao pblica em intervenes

    integradas. A Iniciativa pretende testar solues inovadoras que possam ser

    transferidas e incorporadas noutros contextos e informar as polticas.

    A misso da IBC promover o desenvolvimento de solues de

    qualificao de territrios urbanos que apresentam fatores de vulnerabilidade

    crtica, atravs de intervenes scio - territoriais integradas. No presente,

    abrange trs territrios - 2 no centro e um no norte do pas.

    3.3. Um Modelo de Gesto inovatrio

    Concludo o diagnstico do territrio e assinado o protocolo de parceria que

    operacionaliza o programa de interveno (2008-2012). Em termos de

    administrao, a IBC adota um sistema de governana assente em parcerias

    (institucionais e locais) que compromete oito Ministrios/Secretarias de

    Estado (Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do

    Territrio; Solidariedade e Segurana Social; Administrao Interna; Educao

    e Cincia; Sade; Justia; Presidncia e Cultura) e mais de 90 entidades

    pblicas e organizaes/associaes locais.

    Em cada territrio, foi criada uma comisso executiva, constituda por sete

    entidades15 e uma comisso de acompanhamento que coadjuva a equipa de

    projeto na concretizao do Programa de Ao (Figura 1).

    15

    Comisso Executiva do Lagarteiro: Fundao Porto Social, em representao da Cmara Municipal do Porto; Junta de Freguesia da Campanh; Ministrio da Administrao Interna; Ministrio da Educao; Ministrio do Trabalho e da Solidariedade Social; Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto.

  • 23

    Figura 1. Modelo de Gesto

    Fonte: Adaptado do Modelo de Gesto Inovatrio

    16

    Relativamente composio da Comisso de Acompanhamento Local,

    cada comisso de acompanhamento local composta por representantes dos

    oito ministrios envolvidos e por representantes das entidades governamentais

    e no-governamentais que intervm localmente, num total de 30 entidades por

    territrio17.

    A lgica assegurar a coordenao de todas as iniciativas, facilitar e

    promover a implementao dos projetos constantes do programa de

    interveno. Paralelamente, a Comisso, desenvolve todo o processo de

    avaliao e monitorizao; garante a circulao de informao comunicao,

    evoluo e impacto do programa de interveno.

    Quanto Comisso de Acompanhamento, trata-se de uma comisso

    consultiva, constituda por 26 entidades, que tem como tarefa acompanhar a

    execuo do programa, facilitar a ligao entre projetos; assegurar a

    necessria produo de sinergias entre todos os parceiros, visando um melhor

    cumprimento dos objetivos do programa de interveno; prestar assistncia

    tcnica alargada e analisar e propor eventuais alteraes do Plano de ao.

    16

    http://www.portaldahabitacao.pt/opencms/export/sites/ibc/pt/ibc/docs_pdf_ibc/IBC_Modelo_Gestao.pdf

    17 Composio do Grupo de Trabalho Interministerial: a) represente do Secretrio de Estado do

    Ordenamento do Territrio e das Cidades; b) representante da Presidncia de Conselho de Ministros; c) representante do Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social; d) representante do Ministro da Sade; e) representante do Ministro da Cultura; f) representante do Ministro da Educao; g) representante do Ministro da Administrao Interna e h) representante do Ministro da Justia.

    Comisso de Acompanhamento

    Comisso Executiva

    Grupo Trabalho Interministerial

    Equipas de Apoio Local

    Grupo de Apoio Tcnico

  • 24

    Tambm o Grupo de Trabalho Interministerial constitudo por

    representantes dos oito ministrios e tem funes de follow-up. Rene

    periodicamente para garantir a articulao intersectorial efetiva e assegurar a

    tomada das decises necessrias disponibilizao dos instrumentos

    associados assuno das responsabilidades protocoladas.

    A Equipa de Projeto18 encarregue de operacionalizar o Plano de Ao de

    cada territrio constituda por tcnicos contratados pelo Instituto de Habitao

    e Reabilitao Urbana (IHRU), coordenados por um Chefe de Projeto, que

    articula com os demais parceiros.

    18

    Gesto do Projeto promove a coordenao da equipa tcnica e das parcerias executoras; reunies com todos os ministrios envolvidos na iniciativa e servios da administrao central para planeamento de todas as aes a dinamizar durante o ano de 2010.

  • 25

    PARTE II ROTEIRO DA INVESTIGAO

    1. A viso global da pesquisa

    1.1. Abordagem metodolgica

    Qualquer que seja a natureza da investigao, o principal objetivo

    produzir conhecimento sobre a realidade. Naturalmente, o modo de

    o conseguir difere do paradigma e das abordagens. Os

    investigadores de orientao interpretativa centram-se mais na

    descrio e compreenso do que nico e particular do sujeito do

    que naquilo que generalizvel. Pretendem desenvolver um

    conhecimento ideogrfico e aceitam que a realidade dinmica,

    mltipla e holstica (Barbosa, 1999, p. 145).

    Um conhecimento que tambm ns queremos construir a partir da

    realidade que nos foi dada viver enquanto profissional e investigadora. Nesse

    desafio, tambm ns, privilegiamos a metodologia de matriz qualitativa e

    assumimos o estudo de caso como a estratgia capaz de melhor compreender

    as questes que nos convocam para a investigao e, ainda, a reflexo

    enquanto exerccio de investigao na ao. A atitude reflexiva fruto de uma

    aprendizagem, de um querer compreender o exterior, o envolvimento, e

    fundamentalmente levar ao autoconhecimento, face a um trabalho que se

    deseja comunitrio e de valia para o desenvolvimento da pessoa. Importa, por

    isso, percorrer determinadas fases para orientar a atitude reflexiva e assim,

    colocar sequencialmente questes que conduzam, de uma forma

    sistematizada, reflexo (Hole,1999, p. 34).

    Nesta linha de pensamento, vamos combinar diferentes estratgias e

    recursos de investigao, numa lgica de implicar paradigmas investigativos

    plurais e fomentar uma abordagem holstica, assente numa mestiagem

    epistemolgica e metodolgica (Afonso, 2005, p. 11). E,

  • 26

    em vez da procura de leis que possam ser extensveis a toda a

    populao, os estudos deste tipo procuram compreender os

    mecanismos, o como funcionam certos comportamentos, atitudes e

    funes (Afonso, 2005, p. 31).

    1.2. Questes e objetivos de investigao

    tendo em ateno os princpios subjacentes criao da IBC,

    nomeadamente no Bairro do Lagarteiro e a proximidade com o objeto de

    estudo, porquanto l que desenvolvermos a nossa atividade profissional19,

    que optamos por iniciar a nossa investigao. Sendo que as questes de

    partida so:

    1) Como efetuada a integrao destes aprendentes na Comunidade

    Empreendedora?

    2) Qual o contributo das aes/atividades produzidas pelo GE na

    insero para a vida ativa?

    3) Quais as dificuldades sentidas pelo pblico-alvo para a afetiva

    insero profissional?

    Partindo das questes, definimos os seguintes objetivos:

    a) Identificar de que forma a medida 2.5. Comunidade Empreendedora,

    por via do Gabinete de Emprego (GE), contribui para melhorar as

    competncias de cidadania ativa;

    b) Explorar os sentimentos experienciados a partir da formao e

    insero vida ativa;

    c) Aferir sobre o impacto percebido por ao da Comunidade

    Empreendedora, mormente, pelo GE, para a insero profissional;

    19

    A nossa participao no projeto, em termos de prestao de servios, terminou em Outubro

    2011.

  • 27

    2. Populao do estudo

    A populao de estudo respeita ao nmero de pessoas que usufruram das

    atividades realizadas no mbito da valncia Comunidade Empreendedora, por

    via da ao do GE. Ao todo e, tendo em ateno o perodo de tempo a que nos

    reportamos (Setembro 2010 a Outubro 2011), a medida acolheu 205 pessoas.

    Destas, 99 so indivduos do gnero feminino e 106 do gnero masculino. Em

    termos etrios, verificamos que, regra geral, o grupo predominante, integra

    indivduos cujas idades variam entre 19 e 23 anos de idade (n= 61) (Grfico 1).

    Grfico 1 Participantes por grupo etrio

    Relativamente escolaridade, verificamos que a grande maioria possui

    como habilitaes escolares o 2 Ciclo do Ensino Bsico (n= 80) o que significa

    dizer que 39% desta populao no tem a escolaridade mnima obrigatria.

    Apenas 2% possui o ensino Secundrio e 15% (n=31) no tem qualquer nvel

    de escolaridade (Grfico 2).

    0 20 40 60 80

    16 - 18 Anos

    19 - 23 Anos

    24 - 30 Anos

    31 - 40 Anos

    +41 Anos

    Feminino

    Masculino

  • 28

    Grfico 2 - Habilitaes literrias

    Aleatoriamente, convidamos 10 pessoas. A amostra possvel, dadas as

    caractersticas da IBC e o tempo que disponhamos para concluir o estudo.

    Ainda assim, das pessoas convidadas, no final, apenas compareceram 5

    mulheres e 2 homens. Destes, 2 tm o ensino bsico concludo, 2 o 2 ciclo

    concludo; 2 tm o 9 ano e 1 o ensino secundrio completo. Em termos de

    faixa etria, as suas idades oscilam entre 18 e 44 anos.

    Um quadro complexo quando perspetivamos as exigncias escolares e de

    idade, para a insero na vida ativa. Claramente, um desafio quando o nmero

    de indivduos com menor nvel de escolaridade tem idades superiores a 18

    anos. De resto, uma situao-problema que inscreveu e reforou a

    necessidade da IBC e uma interveno sociocomunitria ativa. Os nveis de

    qualificao escolar so extremamente baixos, com uma populao residente

    que limitou a sua frequncia escolar ao ensino bsico e principalmente ao seu

    1 ciclo20.

    20

    http://www.portaldahabitacao.pt/pt/ibc/lagarteiro/

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Analfabetos

    EB/1 Ciclo

    EB/2 Ciclo

    EB/3 Ciclo

    Ens. Secund.

  • 29

    No campo da Formao, constatamos que as pessoas que solicitaram apoio

    so indivduos com idades superiores a 16 anos, com uma escolaridade inferior

    escolaridade mnima obrigatria e, portanto, fora dos parmetros da escola

    regular.

    3. O Territrio de Interveno

    3.1. O Bairro do Lagarteiro

    O BL um bairro perifrico da cidade do Porto e situa-se na freguesia de

    Campanh21. Constitudo por 446 fogos, acolhe mais de mil e setecentas

    pessoas22. Dadas as suas caractersticas, o bairro do Lagarteiro integra, desde

    os anos de 2008, o Plano de Ao Bairros Crticos.

    A iniciativa Bairros Crticos um Programa de Interveno que visa intervir

    em dois grandes eixos:

    i) Requalificao urbanstica e ambiental do bairro (Reabilitao e

    conservao dos Edifcios, Reabilitao e manuteno de Espaos

    de habitao, Novos espaos pblicos ou coletivos e Novos

    equipamentos no bairro e na envolvente do bairro) e

    ii) Promover uma cidadania ativa (Sade vida, Segurana ativa,

    Escola em rede, AN.I.M.A.R.- Atrair, Negociar, Incentivar, Mobilizar,

    Ativar, Reinserir e Comunidade Empreendedora).

    21http://www.portaldahabitacao.pt/opencms/export/sites/ibc/pt/ibc/docs_pdf_ibc/docs_lagarteiro/

    Diagnostico_Lagarteiro_proposta_final_1.pdf

    22 http://www.portaldahabitacao.pt/pt/ibc/lagarteiro/territorio.html

  • 30

    3.2. A Comunidade Empreendedora

    O Programa de Interveno para o Lagarteiro inicia a sua misso em

    Dezembro de 200823, centrando a sua ao em trs eixos (Quadro 1):

    Quadro 1- IBC. Eixos de ao

    IBC Medida Objetivos24

    Eixo 1 Requalificao Urbanstica

    e Ambiental do Bairro

    Requalificar o espao pblico, transformando-o num

    espao de encontro e de convvio da populao local e

    atraindo novas populaes para a envolvente ao

    bairro; Melhorar a imagem urbana do bairro.

    Eixo 2

    Sade Vida Melhorar os nveis da qualidade de vida e de auto

    realizao da populao atravs da promoo de uma

    vida saudvel nas vrias geraes.

    Segurana Ativa Desenvolver e promover um policiamento de

    proximidade, com partilha de responsabilidade e de

    relaes de parceria com outros atores centrais e

    locais.

    Escola em rede Fortalecer o quadro de competncias e de habilidades

    sociais da populao do bairro (com enfoque para os

    jovens), numa logica de afirmao face aos outros.

    ANIMAR (Atrair, Negociar,

    Incentivar, Mobilizar, Ativar,

    Reinserir)

    Fazer emergir novas oportunidades para a mudana

    social e para o desenvolvimento local: criar um espao

    aberto, indutor de inovao e de partilha de vivncias,

    interesses, atitudes e valores.

    Comunidade

    Empreendedora

    Reforar as condies de empregabilidade dos

    residentes socialmente fragilizados; Promover a ao

    empreendedora de base local e incentivar o regresso a

    atividades profissionais organizadas para pessoas com

    um afastamento muito elevado do mercado de trabalho

    e em estratgias de sobrevivncia em matria de

    rendimento e atividade profissional.

    Eixo 3 Questes operacionais Fomentar a participao, a proximidade e a

    informao.

    No presente estudo, o mbito da nossa pesquisa inscreve-se no eixo 2.

    Medida 2.5 Comunidade Empreendedora. Uma opo que resulta da nossa

    23 A equipa tcnica constituda em Maro de 2009.

    24 Cf. Plano de Ao

  • 31

    proximidade ao lugar e da vontade de melhor compreender as prticas, efeitos

    e sentimentos da sua ao. Efetivamente, a partir do exerccio da nossa

    funo que nos interpelamos sobre os resultados conseguidos (e sentidos) pela

    Comunidade Empreendedora, mormente, pela ao do Gabinete de Emprego.

    Na prtica, o estudo que agora se apresenta foi desenvolvido no

    Gabinete da IBC, sediado no Bairro do Lagarteiro (BL), durante o ano de

    201025. Promover uma cidadania ativa a grande meta. E, nesta circunstncia,

    os objetivos da medida so:

    i) elevar os nveis de escolaridade dos residentes do bairro;

    ii) reforar as condies de empregabilidade dos residentes

    socialmente mais fragilizados;

    iii) promover a ao empreendedora de base local e incentivar o

    regresso a atividades profissionais organizadas para pessoas com

    um afastamento muito elevado do trabalho e em estratgias de

    sobrevivncia em matria de rendimento e atividade profissional;

    iv) estruturar localmente uma base de servios que poder alargar-se

    envolvente do bairro.

    3.3. Do roteiro s aes/atividades

    Criada a equipa tcnica26, iniciaram-se as relaes com os parceiros (e.g.

    Segurana Social, Centro de Formao do Porto, Instituto de Emprego e

    Formao Profissional e GIP Campanh, Direo Regional de Educao do

    Norte), bem como com entidades privadas na rea da formao, com o

    propsito de cumprir o plano da medida e definir o roteiro de aes/atividades.

    Seguindo o cronograma de aes, a primeira ao foi construir uma Base

    25 O Protocolo de parceria do Bairro do Lagarteiro Porto, foi assinado em 29 de Maio de

    2008, a equipa tcnica entrou em funes em Dezembro do mesmo ano, o seu trmino, este previsto para Dezembro de 2013.

    26 A equipa do gabinete da Comunidade Empreendedora (CE) reformulou em conjunto com a

    direo do IEFP as aes previstas, dado o facto de a temporalidade de execuo estar distante da elaborao do Plano de Ao.

  • 32

    Dados27 e, assim, identificar as pessoas com baixas qualificaes e em

    situao de desemprego28. O nmero de pessoas com este tipo de situaes-

    problema foi de 205 (populao que viria a constituir-se como ponto de

    referncia para a nossa amostra). Identificada a populao, foi elaborado o

    plano de interveno29.

    Um plano exigente, centrado na formao profissional e estruturado em

    prol de Plano Integrado de Formao e seguindo uma atitude cuja finalidade

    melhorar a qualidade de vida, reforar as competncias de/para a

    empregabilidade e, cumulativamente promover o empreendedorismo laboral e

    social (Quadro 2).

    Quadro 2 - Plano Integrado de Formao

    Aes Tipo Pessoas

    sinalizadas inscritas

    Atendimento Personalizado 205 205

    Aes Sensibilizao30

    Modalidade de Formao 65 26

    Formao

    Alfabetizao 31 31

    Formao Tecnologias Informao31

    205 84

    Curso de Educao e Formao Jovens32

    67 57

    RVC 39 39

    Cursos Educao Formao Adultos 23 21

    (RE)Agir no feminino/

    Gesto Domstica e

    Financeira

    Candidatura POPH 21 17

    27

    Esta ao contou com o contributo da Segurana Social e GIP de Campanh.

    28 Da anlise desta base, excluram-se todas as pessoas que, teriam de passar por outros

    projetos de vida prioritrios, nomeadamente tratamentos de sade

    29 Este processo foi realizado em conjunto com o GIP de Campanh, nomeadamente o balano

    de competncias, expectativas e necessidades do grupo.

    30 Realizadas no IEFP

    31 Em articulao com o Projeto Lagarteiro e Mundo do Programa Escolhas.

    32 A entidade gestora de dois dos Cursos de Informtica Tipo 1 que confere a certificao do

    terceiro ciclo (9 ano), foi a Associao Juvenil C.A.O.S. - Coragem Acima de Outras Situaes, parceira da IBC.

  • 33

    Atendimento

    No quadro do Atendimento Personalizado, as aes requisitadas foram,

    sobretudo, ao nvel da (i) criao de um curriculum vitae; (ii) elaborao de

    cartas de motivao; (iii) redao de candidaturas espontaneas; (iv) procura de

    emprego; (v) procura de formao profissional especifica; e (vi) direitos e

    deveres dos trabalhadores.

    Aes de sensibilizao

    A Comunidade Empreendedora do IBC, em parceria com o Centro de

    Formao do Porto, realizou trs Aes de Sensibilizao com o objetivo de

    informar sobre a tipologia das modalidades formativas e facilitar o processo de

    escolha e/ou incluso na modalidade selecionada. Para o efeito, convocaram-

    se todas as pessoas inscritas (n=205). Destas compareceram 65 pessoas (35

    jovens e 30 adultos). E, apenas, 26 foram integrados em ofertas formativas no

    Centro de Formao. As restantes, recusaram a oferta (n= 30)

    Formao Tecnolgica de Informao

    Formao Tecnologias de Informao correspondem cursos bsicos

    de competncias de informtica, ministrados no Cid@net - Centro de Incluso

    Digital, Programa Lagarteiro e o Mundo do Programa Escolhas. Trata-se de

    um Espao de formao de natureza ldico-pedaggico para os mais jovens na

    rea da informtica e de apoio escolar com as ferramentas digitais, de

    utilizao livre. A frequncia deste curso atingiu os 41% do nmero total das

    pessoas inscritas: 46 mulheres e 38 homens. Em termos etrios, a maioria, tem

    idades compreendidas entre os 24 e os 40 anos.

    Neste domnio, os participantes (n= 84) tiveram acesso Formao33,

    nomeadamente: i) Curso Bsico das Tecnologias de Informao34; ii) Curso de

    33

    Servio articulado com o CID NET do Progarma Escolhas.

  • 34

    Literacia Digital; e iii) Formao Cisco35. Estas formaes visam aumentar as

    competncias relacionais e niveis de conhecimentos informticos. O Curso de

    Literacia Digital, tem a durao de 2 meses e abrange o funcionamento do

    Hardware e Software. Para a frequncia do Curso de Formao CISCO, foi

    exigio o 9ano e conhecimentos da Lngua Inglesa. O objetivo da formao

    munir a pessoa, cada pessoa, com ferramentas que lhe(s) permita desenvolver

    competncias de procura ativa de emprego e de maiores distrezas de

    comunicao.

    Cursos de Educao e Formao

    Os Cursos de Educao e Formao para Jovens tm como objectivo

    a recuperao dos dfices de qualificao, escolar e profissional,

    destes pblicos, atravs da aquisio de competncias escolares,

    tcnicas, sociais e relacionais, que lhes permitam ingressar num

    mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo36.

    Destinam-se a a jovens, com idade igual ou superior a 15 anos e inferior a 23

    anos, data de incio do curso, em risco de abandono escolar ou que j

    abandonaram a via regular de ensino.

    34

    O curso tem durao de 20h.

    35 Em articulao com o Programa Escolhas Lagarteiro e o Mundo.

    36www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosJovens/Paginas/CursosJovens.aspx

  • 35

    Ao todo, foram sinalizados para frequentar este curso 67. A razo era,

    quase sempre, por situaes-problema de absentismo e/ou abandono escolar.

    Destes 45 so do gnero masculino e com idades entre os 16 e os 23 anos; e

    22 do gnero feminino com idades entre os 16 e os 22 anos.

    O primeiro curso CEF - Instalao e Operao de Sistemas Informticos,

    teve inicio no ms de Outubro e resulta da ao da Associao CAOS. Trata-se

    de uma formao para jovens (n=15), com idades entre os 15 e os 22 anos e

    cuja escolaridade era inferior ao 9 ano de escolaridade. Importa dizer que esta

    formao foi possvel graas s parcerias estabelecidas entre vrias

    instituies de formao publicas e privadas. Paulatinamente, os jovens foram

    sendo integrados de acordo com a sua orientao vocacional. Mesmo assim,

    10 no concluiram a formao (um por questes de sade e 9 por terem

    atingido o limite de faltas).

    Nesta altura, dezembro de 2011, somente 50 (dos 67 jovens

    sinalizados) continuam a frequentar os cursos (17 raparigas e 33 rapazes). De

    registar que os CEF se encontra situada ao nvel das medidas estratgicas

    para potenciar as condies de empregabilidade e de transio para a vida

    activa e assume-se como uma resposta prioritria para o perfil destes jovens37.

    E, por isso mesmo, adapta a estrutura curricular componente

    profissionalizante (e.g. sociocultural, cientfica, tecnolgica e prtica em

    contexto de trabalho). Estes jovens podero ainda, em situaes particulares e

    sempre que a rea de formao o aconselhe, serem integrados em estgios

    complementares, com uma durao mxima de seis meses.

    Revalidao de Competncias

    Relativamente ao processo de revalidao de competncias, fso

    exigidos requisitos prprios (e.g. ser maior de 18 anos e ter experincia

    profissional comprovada no mnimo de 3 anos). Fatores que dificultam o

    37

    www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosJovens/Paginas/CursosJovens.aspx

  • 36

    acesso de um nmero significativo de pessoas pois, muito destes jovens no

    possuem experincia profissional capaz de facilitar o processo de validao de

    competncias.

    Um processo que exige motivao e um trabalho individual constante.

    Das 39 pessoas inscritas, maiores de 18 anos (24 mulheres e 15 homens), 9

    abandonaram o percurso de formao, 18 esto a frequentar e 8 aguardam

    colocao em turmas a iniciar. No fim, apenas 4 pessoas terminaram a

    formao.

    Cursos de Educao Formao de Adultos

    Os Cursos de Educao Formao de Adultos38 dirigem-se a pessoas

    com idade igual ou superior a 18 anos ( data de incio da formao), sem a

    qualificao adequada para efeitos de insero ou progresso no mercado de

    trabalho ou sem a concluso do ensino bsico ou do ensino secundrio. A

    finalidade elevar os nveis de habilitao escolar e profissional da populao

    portuguesa adulta, atravs de uma oferta integrada de educao e formao

    que potencie as suas condies de empregabilidade e certifique as

    competncias adquiridas ao longo da vida39.

    Para esta modalidade foram admitidas 23 pessoas (15 mulheres e 8

    homens). Destes, 9 aguardam colocao, 1 abandonou e 2 abandonaram por

    terem atingido o limite de faltas40.

    38 Cf. Despacho Conjunto n. 650/2001, de 20 de Julho; Despacho n. 26401/2006, de 29 de

    Dezembro; Portaria 817/2007, de 27 de Julho; Portaria 230/2008, de 7 de Maro. In http://www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosAdultos/Paginas/CursosAdultos.aspx

    39ttp://www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosAdultos/Paginas/CursosAdultos.asp

    40 Importa referir que, data da nossa investigao, Dezembro de 2011, estas nove pessoas

    aguardavam apenas o incio formal da Formao, tendo para isso sido submetidos a entrevistas de seleo.

  • 37

    Candidaturas ao Programa Operacional do Potencial Humano

    O Curso de Formao para a Incluso emerge da falta de resposta para

    um pblicos prprio (15 mulheres a receber o RSI) e da candidatura ao

    Programa Operacional do Potencial Humano - Eixo Prioritrio 6 Cidadania,

    Incluso e Desenvolvimento Social, denominado (Re)Agir no Feminino41.

    Importa referir que a efetivao desta candidatura, resulta do trabalho

    cooperativo entre a Liga Portuguesa de Profilaxia Social (LPPS) e as

    instituies do Atendimento Integrado da IBC. Criar oportunidades de

    desenvolvimento pessoal foi o objetivo que presidiu esta candidatura.

    Delineado para um grupo de 15 mulheres do Bairro do Lagarteiro, com

    baixas qualificaes escolares, longos percursos de desemprego e abrangidas

    pela medida de Rendimento Social de Insero42, o programa curricular,

    estruturou-se para um perodo de 6 meses e integrou um estgio em contexto

    de trabalho a realizar em instituies da grande rea do Porto (e.g.

    infncia/juventude, lares/Centros de acolhimentos, cabeleireiros, servios de

    cantinas). O Curso iniciou-se em Julho de 2011 e terminou em Dezembro do

    mesmo ano43.

    Numa primeira fase, o objetivo foi proporcionar novas experincias fora

    do contexto do bairro bem como promover a aquisio de competncias

    bsicas ao nvel do saber ser e saber estar. Os contedos programticos desta

    formao foram delineados no sentido de tornar este curso como uma pr

    formao, antes de estarem aptos a puderem integrar formaes qualificadas

    de nvel 1 ou 2. Estes contedos foram classificados nas seguintes disciplinas:

    O Auto e o Htero Conhecimento; Incio da Construo do Plano Individual de

    Formao; Introduo s TIC; O meu retrato de competncias; Lidar com o

    41

    A candidatura ao Programa Operacional do Potencial Humano (2 edio), contou com o apoio da Associao Juvenil C.A.O.S. e, teve como intuito promover uma Formao ao nvel da Gesto Domstica e Financeira.

    42 Durante o curso as pessoas auferiram uma bolsa de formao no valor do salario mnimo

    nacional, pelo que existiu a necessidade de ajustarem os valores das prestaes de RSI durante este tempo.

    43 Por dificuldades de espao e equipamento este curso iniciou-se nas Antas, passando depois

    para as instalaes da LPPS na Rua Santa Catarina.

  • 38

    stress; Vivncia dos afetos; Metodologia do Projeto: da Teoria Prtica;

    Gesto do Tempo; Ser Assertivo; Etiqueta, cortesia e Imagem Pessoal; Ser e

    Estar em Famlia; Viver em Comunidade; Sade, Higiene e Segurana; O

    mundo do trabalho; Expresso Dramtica e Corporal; Expresso Plstica e

    Musical; Tcnicas de Leitura e de Escrita; Plano de Incluso; Avaliao final da

    Formao.

    Todo o contacto com as instituies que acolheram os estgios foram

    diretamente acompanhados pelos tcnicos do gabinete de emprego e pelas

    tcnicas de acompanhamento da LPPS. Das 15 senhoras inscritas, 14

    terminaram a formao.

    A fim de dar cumprimento a outras situaes-problema diagnosticadas,

    foi necessrio pensar e estruturar uma segunda candidatura. Desta vez a

    medida surgiu por via da Associao Juvenil C.A.O.S. e visou a criao de uma

    Formao em Gesto Domstica e Financeira, com a durao de 6 meses,

    para 15 pessoas (foram integradas 3 pessoas do bairro do Lagarteiro, sendo as

    restantes provenientes de outros locais da cidade do Porto). A formao

    decorreu entre os meses de Julho e Dezembro de 2011. Durante a formao 4

    pessoas foram excludas por terem atingido os limites de faltas justificadas.

    Alfabetizao

    O Curso de Alfabetizao de Adultos44, teve incio em Setembro de

    2010 e contou com a participao de 31 alunos (15 Homens e 16 Mulheres),

    cuja mdia de idades de 34 anos, distribudos por 4 turmas (uma por cada

    ano letivo)45. A fim de monitorizar e avaliar o projeto foi constitudo um grupo de

    reflexo46 cuja misso foi avaliar a interveno e realizar o ponto de situao

    dos participantes (e.g. assiduidade, pontualidade, justificao de faltas,

    44

    II Edio

    45 O curso de alfabetizao decorre na Escola EB1 / JI do Lagarteiro.

    46 Constitudo por representantes da DREN e da Segurana Social bem como os parceiros do

    Atendimento Integrado da rea da educao mais concretamente a Associao Nortevida, o Programa Escolhas.

  • 39

    passagem ou reteno dos alunos) e, em particular, aferir do impacto e/ou da

    necessidade de dar continuidade ao processo e, assim, projetar (ou no) os

    anos seguintes.

    4. A Metodologia do Projeto de Investigao

    A abordagem metodolgica assumida para o nosso projeto de investigao,

    tal como j foi referida, de natureza qualitativa e assume, neste estudo, a

    forma de Estudo de Caso. E, como tal, trata-se de uma pesquisa que

    compreende a utilizao de mtodos e o estabelecimento de procedimentos

    didticos, metodolgicos e tcnicos especficos (Oliveira, 2012, p. 43).

    4.1. Estudo de Caso

    O Estudo de Caso um esquema de investigao apropriado a estudar

    uma situao-problema, num determinado perodo de tempo. A vantagem

    deste tipo de investigao radica no facto de permitir ao investigador

    concentrar-se num caso especfico ou situao e identificar os diferentes

    processos interativos. No nosso caso vamos assumir o Estudo de Caso

    Observacional e nesse propsito estudar o caso da Comunidade

    Empreendedora enquanto medida da IBC na/para a promoo da insero na

    vida ativa, a partir da nossa prpria ao e das representaes de dois grupos

    de pessoas inquiridas.

    No Estudo de Caso Observacional, a tcnica de recolha de dados

    a observao participante, sendo o objeto de estudo uma

    determinada organizao, um aspecto particular de uma instituio,

    uma actividade da escola ou a combinao de todos estes aspectos

    (Barbosa, 1999, p. 148).

    Uma opo que tem a ver com o facto de a investigadora ter relaes de

    mbito profissional assistente social com o territrio e o pblico que agora

    estuda e, conjuntamente, o papel de investigadora.

  • 40

    4.2. Recolha de dados

    O processo de recolha de dados combinou a anlise documental

    (documentos externos e registos internos), a auscultao, a observao

    participante e entrevistas de grupo.

    a) Anlise documental

    A recolha de informao foi feita a partir da anlise e interpretao de

    documentos normativos que definem e estruturam o labor e as medidas

    implementadas nas IBC e, em especial, no Bairro do Lagarteiro. A inteno que

    lhe subjaz pretende averiguar princpios e lgicas de ao, nomeadamente a

    partir da anlise dos: 1) normativos legais; 2) protocolos de parceria; 3) boletins

    da Iniciativa e 4) relatrios intercalares de monitorizao47 e, assim, conhecer

    os factos verdicos com a maior objectividade e o menor nmero de distores,

    dentro da situao particular que estuda (Sousa, 2005, p. 88).

    b) Entrevistas

    A entrevista seguiu uma estratgia no diretiva, do tipo semiestruturada e

    foi aplicada a um grupo de pessoas de diferentes idades e sexo. O instrumento

    privilegiado, porquanto permite estabelecer com as pessoas entrevistadas

    uma conversa amena e agradvel no decurso da qual o entrevistado vai

    proporcionando as informaes que o entrevistado espera (Sousa, 2005, p.

    247). E, uma modalidade que nos permite de modo natural e no decorrer da

    conversao inquirir sobre os porqus e os esclarecimentos circunstanciais

    que possibilitam uma melhor compreenso das respostas, das motivaes e da

    linha de raciocnio que lhe esto inerentes (Idem). Mais, porque nos permite

    averiguar sentimentos, opinies, factos, atitudes, decises e/ou motivaes

    (Selltiz et al, 2006).

    A opo pela entrevista semi-dirigida, tem a ver com o facto de querermos

    uma viso global e, nesse propsito, honrar a linha de raciocnio, intervindo

    47

    Realizados de trs em trs meses, sempre que se realiza uma Comisso de Acompanhamento, ou pontualmente caso se justifique.

  • 41

    apenas nos momentos em que o sujeito possa estar a desviar-se do assunto

    em questo (Ibidem, p. 249).

    Para as entrevistas selecionamos 10 pessoas e agendamos as entrevistas

    para os dias 22 e 29 de Dezembro de 2011. Para alm destas, entrevistamos

    ainda a Coordenadora da medida 2.5 Comunidade Empreendedora

    Gabinete de Emprego. A realizao das entrevistas, seguiu o guio elaborado

    para o efeito cujo referencial visava inquirir sobre (1) as expetativas geradas

    com a criao do gabinete e da medida 2.5. Comunidade Empreendedora;

    (2) aferir das mudanas percebidas ao nvel da relao pessoal e social das

    pessoas implicadas na medida; (3) as aprendizagens feitas por ao da medida

    e os efeitos prticos deste roteiro na/para a sua insero na vida ativa.

    As entrevistas foram realizadas, entre os dias 22 e 29 de dezembro de

    2011, na sede da IBC Lagarteiro. Das 10 pessoas chamadas a participar,

    compareceram apenas 7. Trs no primeiro dia e, portanto no dia 22 de

    Dezembro e 4 no segundo, ou seja, no dia 29 de Dezembro. Os restantes

    faltaram sem que fosse participada qualquer explicao. A durao mdia de

    cada entrevista foi de cerca de 40 minutos e decorreu no gabinete da equipa e

    portanto na comunidade de residncia dos entrevistados.

    O primeiro cuidado foi criar um ambiente agradvel e assim um clima de

    dilogo franco e respeitoso. Clarificado o mbito da entrevista e assumindo a

    confidencialidade dos dados, solicitamos autorizao para registrar as

    respostas em suporte udio.

    A entrevista Coordenadora da medida aconteceu j no decorrer no ano de

    2012. Tambm, neste caso, inquirimos sobre os domnios e efeitos do

    gabinete. E, principalmente, sobre o percebido, em termos de impacto, na vida

    das pessoas que por l passaram.

    c) Observao Participante

    A observao e auscultao enquanto mtodo de anlise resulta da ao

    direta do investigador e, cumulativamente, das reunies realizadas no mbito

  • 42

    do trabalho desenvolvido enquanto profissional a exercer a funo de

    dinamizadora da/na Comunidade Empreendedora. Uma oportunidade que se

    revelou fundamental para enriquecer o dilogo com a informao recolhida nas

    entrevistas. A observao em educao destina-se essencialmente a

    pesquisar problemas, a procurar respostas para questes que se levantem e a

    ajudar na compreenso do processo pedaggico (Sousa, 2005, p. 109). Nesta

    lgica, continua o mesmo autor, a observao permite efectuar registos de

    acontecimentos, comportamentos e atitudes, no seu contexto prprio e sem

    alterar a sua espontaneidade (Idem).

    d) Anlise de Contedo

    A anlise de contedo uma tcnica que permite, nas palavras de Adrito

    Barbosa (1999), inferir sobre a fonte e condies de contexto em que se

    produziu o material a estudar (p. 150). O propsito obter por procedimentos

    sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores

    (quantitativos ou no) que permitam, a inferncia de conhecimentos relativos

    s condies de produo das mensagens. Em qualquer caso, a anlise de

    contedo incide sobre a captao de ideias e de significaes da comunicao

    (Almeida e Pinto, 1976, p. 96). Uma tcnica que exigiu o registo dos dados

    conforme as referncias tericos e as categorias convocadas para a anlise.

    5. Apresentao dos Dados

    Este estudo apresenta trs corpus: um relativo s entrevistas com os

    utentes do GE; um segundo relativo entrevista com a Coordenadora e um

    terceiro referente observao participante desenvolvida no mbito da nosso

    trabalho enquanto profissional e enquanto investigadora.

    5.1. Participantes/Amostra

    Para as entrevistas, tal como j referimos, convidamos 10 pessoas (6

    pessoas do sexo feminino e 4 do sexo masculino).