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MAIO/2015 ALAGOAS ANO 1 Nº 01 Segunda maior cidade de Alagoas produz todo mês cerca de 8,6 mil toneladas de lixo, que sem tratamento devasta a vegetação, contamina o solo, o lençol freático e coloca em risco a saúde de centenas de pessoas que trabalham ou moram próximo ao maior lixão do Estado. Muitos cresceram no local e não se importam com a sujeira e o odor forte A MONTANHA DE LIXO POR TRÁS DO CRESCIMENTO DE ARAPIRACA CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHAM, BRINCAM E SONHAM EM DIAS MELHORES ESPECIAL MEIO AMBIENTE VIDA NOS RESTOS: CÍCERO SILVA, 62 ANOS E 40 NO LIXÃO

Pauta 1 Especial . Ed. 01

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Primeira publicação especial do Pauta 1. Jornal experimental dos cursos de Comunicação Social do Unit. Nesta primeira edição o tema é Meio Ambiente.

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MAIO/2015ALAGOAS ANO 1Nº 01

Segunda maior cidade de Alagoas produz todo mês cerca de 8,6 mil toneladas de lixo, que sem tratamento devasta a vegetação, contamina o solo, o lençol freático e coloca em risco a saúde de centenas de pessoas que trabalham ou moram próximo ao maior lixão do Estado.

Muitos cresceram no local e não se importam com a sujeira e o odor forte

A MONTANHA DE LIXO POR TRÁS DO CRESCIMENTO DE ARAPIRACA

CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHAM, BRINCAM E SONHAM EM DIAS MELHORES

ESPECIAL MEIO AMBIENTE

VIDA NOS RESTOS: CÍCERO SILVA, 62 ANOS E 40 NO LIXÃO

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MUDANÇA: JOSÉ BATISTA SAIU DO LIXÃO DE MACEIÓ PARA O DE ARAPIRACA

CATADORES ESPERAM ANSIOSOS PELA CHEGADA DO CAMINHÃO DO LIXOO cheiro de podridão, alimentos estragados e até descartes hospitalares não os assustam. Pelo contrário, muitos comemoram e brincam com o que vão encontrando. Quase ninguém usa luvas e a maioria está descalça ou usando chinelos comuns e velhos

Por Weverton Soares

As notícias que chegam do município de Arapiraca são animadoras. Segunda maior

cidade de Alagoas, contabiliza quase 230 mil habitantes segundo o censo do IBGE de 2014. No mês passado, o Mi-nistério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou os dados do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Ca-ged) no país. Entre as 20 cidades que mais geraram emprego, Arapiraca está em 12º lugar neste ranking.

É visível a expansão industrial, do comércio e de setores como o imobi-liário e o de serviços. Bons exemplos desse crescimento são o aumento da produção do Grupo Coringa, a chega-da de novas fábricas, a inauguração do primeiro shopping center do interior do Estado, a construção de condomí-nios habitacionais de luxo, prédios co-merciais e residenciais, a instalação do serviço de Call Center, além de deze-nas de empresas do setor de serviços e o anúncio da construção do gasoduto Penedo-Arapiraca, com investimento previsto de R$ 41 milhões.

Mas o avanço econômico costuma ser impiedoso com o meio ambiente. Arapiraca também é dona do maior lixão do Estado. Maceió perdeu essa liderança em 2010 com a inauguração do aterro sanitário no bairro do Bene-dito Bentes.

A reportagem do Pauta Especial percorreu cerca de 135 quilômetros de Maceió até região conhecida como Mangabeiras, onde mensalmente os arapiraquenses despejam cerca de 8,6 mil toneladas de resíduos, entre lixo domiciliar, hospitalar e entulhos. Des-se total, menos de 0,1% é reciclado. Os números são da Secretaria de Meio Ambiente e Saneamento de Arapiraca (Semasa).

O cenário é desolador e contrasta

com o ar de metrópole que há décadas a cidade tenta imprimir para atrair in-vestidores. Há poucos quilômetros do efervescente centro comercial e com vista para uma bela paisagem de vege-tação, o lixão está povoado de idosos, homens, mulheres e crianças à espera dos “valiosos” restos descartados pela Arapiraca que não para de crescer e parece não se importar com o destino do seu lixo.

“Aqui não existe lixo, existe ouro”, afirma Cícero Caetano da Silva, um senhor de 62 anos de idade e 25 de trabalho como catador. Disputando espaço com urubus e os outros cata-dores, ele traz no corpo as marcas da lida diária. São pelo menos sete horas dentro do lixão em busca de materiais recicláveis que rendem, em média, R$ 400 por mês. “Não é fácil enfrentar o mau cheiro, o sol e o risco de doenças, mas a gente vai vivendo com a ajuda de Deus...”.

No lixão, o som mais esperado é o barulho do motor dos caminhões abar-rotados de lixo. É uma correria. Todos gritam, avisam aos outros e saem quase em procissão acompanhando o cami-nhão até o local da parada e do despejo de todo tipo de material. O cheiro de podridão, alimentos estragados e até descartes hospitalares não os assustam. Pelo contrário, muitos comemoram e brincam com o que vão encontrando. Quase ninguém usa luvas e a maioria está descalça ou usando chinelos co-muns e velhos.

Os catadores dizem já ter encon-trado restos humanos, fetos, material hospitalar usado e “todo tipo de baga-ceira”. O local também serve de “deso-va” de pessoas assassinadas. “A gente já está acostumado com essa situação. Eu venho para ajudar meus pais, ninguém usa nada para se proteger, a gente só faz

catar o lixo”, conta a adolescente de 15 anos, com uma naturalidade impres-sionante.

Apesar de a prefeitura ter acabado com a favela dentro do lixão, transfe-rindo as famílias para moradias do programa Minha Casa, Minha Vida, muitos catadores ainda moram no en-torno em barracos construídos a partir de madeira, papelão e tudo que for en-contrado no lixo e puder ser utilizado. É quase impossível imaginar que uma família consiga viver nessas condições.

Mas essa é a realidade enfrentada diariamente por seu José Cícero Batis-ta da Silva, 40 anos, a esposa grávida e cinco filhos. Ele veio parar em Ara-piraca depois do fechamento do lixão de Maceió e ainda precisou comprar o barraco para conseguir trabalhar no lixão da maior cidade do Agreste ala-goano. Numa quinzena boa ele diz que consegue R$ 250. “Estou cadastrado, mas ainda não recebo o Bolsa Família. O jeito é arrumar comida no lixo pra não passar fome”. Na casa da família, o armário improvisado guardava apenas dois pacotes de farinha, um de feijão e meia garrafa de óleo.

Para amenizar o sofrimento de pessoas como ele, há 11 anos a igreja católica mantém uma instituição de caridade chamada Cada da Esperança, localizada a menos de 100 metros do li-xão. No comando está dona Carmelita, de 61 anos. Ela e outras voluntárias ofe-recem alimentação e abrigo para os ca-tadores e outras pessoas que precisam de ajuda. A instituição se mantém de doações e das vendas de produtos fei-tos na própria comunidade, como do-ces e trufas de chocolate. “Alguns des-ses catadores sempre estão com fome ou precisam de um lugar para passar a noite. Nós abrimos as portas da nossa casa e ajudamos”.

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CRIME: UMA INFÂNCIA JOGADA NO LIXO

CRIANÇAS CERCADAS PELOS RESTOS DE ADULTOS IRRESPONSÁVEIS

Outra cena que choca é a quanti-dade de crianças e adolescentes que trabalham e brincam na imensidão do lixo descartado de forma irresponsável pelos adultos da segunda maior cidade de Alagoas. Muitos cresceram no local e não se importam com a sujeira, odor forte e perigo que os cercam. Quando não estão ajudando os pais a revirar o lixo em busca de material reciclável, se divertem com os brinquedos abando-nados por crianças que tiveram mais sorte da vida.

O jogo de futebol é certo. Uma bola surrada se torna a diversão de meia dúzia de garotos que fazem questão de mostrar a habilidades no esporte mais popular do Brasil.

Todos disseram que queriam uma oportunidade para jogar profissional-mente, ganhar dinheiro e tirar a família do lixão.

Pedro Amaro, de 16 anos, é um dos

mais esperançosos. Ele já enfrentou e venceu várias doenças adquiridas no li-xão. “Deus sempre me protegeu. Tenho certeza que um dia irei sair dessa vida e ajudar minha mãe. Meu pai foi em-bora e deixou a gente nessa situação. É daqui que sobrevivemos”. Emocionada, a mãe dele admite que é errado o filho crescer “nesse lugar de bicho, mas não tem outro jeito”.

Anderson Wesley, de apenas seis anos, é a terceira geração da família a viver entre o lixo. Ele mora com os pais e avós num dos barracos de papelão e madeira. Todos são catadores.

De aparência saudável, é uma criança alegre e já aprendeu a iden-tificar o lixo que pode se transformar em dinheiro para a família. O pequeno Anderson está sempre acompanhado do primo Flávio, apenas um ano mais velho.

A prefeitura de Arapiraca e o Mi-

nistério Público do Trabalho realizam campanhas e fiscalizações para comba-ter o trabalho infantil no lixão. “Essas atividades prejudicam o desenvolvi-mento físico, mental e psicológico. Daí a importância da escola em tempo integral, com esporte, teatro, música, dança e muito aprendizado. Acredi-tamos ser esse um caminho possível e que vai garantir um futuro melhor para nossas crianças e adolescentes”, disse a procuradora Maria Roberta Rocha.

A catadora Josefa dos Santos diz não acreditar na conversa “bonita” dos gestores públicos. “Eles vêm aqui dizer que estamos estragando o futuro dos nossos filhos, mas não oferecem nada além de conversa. É muito difícil con-seguir creche e escola para eles, além do preconceito que sofrem por serem filhos do lixão. É melhor eles aqui perto da gente do que fazendo coisa errada por aí”.

“DEUS SEMPRE ME PROTEGEU.

TENHO CERTEZA

QUE UM DIA IREI SAIR

DESSA VIDA E AJUDAR

MINHA MÃE.”

Adolescente nasceu e cresce a margem do desenvolvimento de Arapiraca.

Maria de Lourdes na espera do Bolsa Família; cria os filhos com dinheiro do lixo.

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Enquanto aguarda os recursos para construção do aterro sanitário através de consórcio com outros 19 municí-pios da região, a prefeitura de Arapira-ca afirma que chega a gastar até R$ 200 mil por mês com a coleta do lixo e que já implementou diversas ações para melhorar as condições de trabalho dos catadores, como a cessão de um prédio na zona rural para o funcionamento da sede da associação dos catadores e um veículo para recolher o material reci-clado do comércio local.

De acordo com a prefeitura, tam-bém estão em andamento projetos de reurbanização do bairro de Mangabei-ras (onde fica o lixão) que estão sendo avaliados e discutidos com líderes da comunidade. Porém, explica, que en-quanto os projetos não entrarem em prática, nada pode ser feito para as pes-soas que moram na região e são pre-judicadas com a proximidade do lixão.

“Só prometem mudanças na época da eleição. Moro aqui há 18 anos, mas nada muda. Nós limpamos nossas ca-

sas para viver num bom ambiente, mas não adianta. Mesmo com tudo bem limpo, sempre tem moscas, mosquitos, ratos, escorpiões e baratas”, reclamou seu Luiz Aldo da Silva, 57 anos.

O secretário do Meio Ambiente de Arapiraca, Ivens Barbosa, disse a re-portagem que o lixão ganhou melho-rias de controle dos prejuízos ambien-tais. Segundo ele, a entrada de pessoas no local é controlada e agora existe a captação do gás produzido na decom-posição dos resíduos para a prevenção de explosões, além da compactação do lixo e cobertura com argila.

A intenção é minimizar o mau cheiro e o impacto visual, além de evi-tar a proliferação de insetos e animais. Porém não há impermeabilização de base (o que evitaria que o material con-tamine o solo e lençol de água), nem sistema de tratamento do chorume (líquido formado pela decomposição da matéria orgânica e que é altamente poluidor).

Mas o lixo começa a ser jogado pe-

los moradores já no caminho que leva ao lixão. São pequenos amontoados em vários pontos da comunidade de Man-gabeiras. “A prefeita Célia Rocha con-seguiu recursos para elaborar projetos que consistem em melhorar vários aspectos no local, como infraestrutu-ra, drenagem, esgoto, pavimentação, energia elétrica e abastecimento. Agora vamos buscar recursos para colocá-los em prática”, explicou o secretário.

A solução definitiva, ou seja, a construção e o funcionamento do ater-ro sanitário de Arapiraca ainda não tem prazo, mas não pode ultrapassar 2019, última data dada pelo governo Federal para que os lixões sejam ex-tintos em território brasileiro. Para os municípios com até 50 mil habitantes o limite é 2017.

A prazo inicial se expirou em 2 de agosto no ano passado de acordo com a Lei 12.305, de 2010. Mas uma medida provisória da presidência da República deu mais tempo aos municípios que alegam falta de recursos para implan-

tar o novo modelo de tratamento dos resíduos sólidos. Cinco anos após a sanção da lei, apenas Maceió fez o de-ver de casa.

Segundo a Associação dos Municí-pios Alagoanos, que auxilia as cidades ao longo desse processo, as normas da Lei não foram cumpridas devido à fal-ta de recursos financeiros. “Isso custa milhões e as prefeituras não podem arcar, principalmente com relação à manutenção. Poderiam até conseguir construir, mas não manter”, explica a assessoria jurídica da AMA.

Mas o governo federal avisa que o município que não se adequar à Políti-ca Nacional de Resíduos Sólidos pode ser multado em até R$ 50 milhões, além de ficar proibido de receber qual-quer investimento com verbas federais. Para não sofre as penalidades, estão sendo formados consórcios entre os municípios para construção de aterros sanitários. Arapiraca faz parte do Con-sórcio Regional de Resíduos Sólidos do Agreste (Conagreste), que foi formado ano passado e reúne 20 municípios da região.

De acordo com a diretora de Pla-nejamento da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídri-cos, Elaine Melo, a região possui uma população estimada em 600 mil pes-soas, que produzem a cada mês cerca de 500 toneladas de resíduos sólidos. Ainda não existe um valor do custo da construção e funcionamento do aterro que irá atender a toda região.

“Já começamos a etapa da capaci-tação para, em breve, traçarmos o diag-nóstico que será apresentado, indivi-dualmente, a cada prefeito ou prefeita a situação de cada município que está inserido no consórcio, que é o segundo maior de Alagoas, depois da capital”, explicou Elaine Melo.

O engenheiro ambiental da prefei-tura de Arapiraca, Genaldo Souza, diz que mais de 30 áreas foram analisadas para a implantação do aterro, mas ape-nas duas foram classificadas como ade-quadas. “Os municípios, isoladamente, não têm condições financeiras de pla-nejar e construir seus aterros, uma vez que o valor é muito elevado. Estamos contando com o empenho do governo estadual e esperamos também contar com o apoio do governo federal para a execução completa desse plano”, disse o gestor, durante encontro dos integran-tes do consórcio para discutir os novos rumos do projeto.

Enquanto são realizadas inúmeras reuniões, discutidos, feitos e refeitos projetos; Arapiraca e mais 100 muni-cípios alagoanos continuam jogando toneladas e mais toneladas de lixo na natureza, que irá precisar de décadas para se recuperar dos efeitos devasta-dores desse consumo desenfreado e da falta de educação ambiental. Sabe-se que a educação se faz também em casa e no convívio social.

PROMESSA: TRABALHADORES DO LIXÃO AGUARDAM AS POLÍTICAS PÚBLICAS

AFIRMAÇÕES, EXPLICAÇÕES, JUSTIFICATIVAS E PROJETOS DA PREFEITURA DA PREFEITURA DE ARAPIRACA

“ISSO CUSTA MILHÕES E AS

PREFEITURAS NÃO PODEM ARCAR,

PRINCIPALMENTE COM RELAÇÃO À MANUTENÇÃO. PODERIAM ATÉ

CONSEGUIR CONSTRUIR, MAS

NÃO MANTER.”

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EQUIPAMENTOS QUEBRADOS: SEDE DO BPA SE TRANSFORMOU EM DEPÓSITO

HOMENS E MULHERES A SERVIÇO DO MEIO AMBIENTEPoliciais do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) enfrentam não só os crimes contra a fauna e flora como também a falta de estrutura para continuar trabalhando e os riscos que estão expostos no exercício da profissão

Início da manhã do dia 29 de abril de 2015. Policiais do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) discutem

com o delegado do 24º DP, João Mar-celo, detalhes da operação para inves-tigar a denúncia de dragagem irregular numa Área de Preservação Permanen-te (APP) no município de Rio Largo. Também participam da ação Ermi Fer-rari, do Instituto do Meio Ambiente (IMA), e um representante do Depar-tamento Nacional de Produção Mine-ral em Alagoas.

A reportagem do Pauta Especial foi autorizada pelo comandante do BPA, tenente-coronel José Carlos Duarte, a acompanhar o trabalho conjunto.Fo-ram quase duas horas para chegar ao local. Parte do trajeto de carro e outra a pé por uma trilha que levou ao leito do Rio Mundaú.

De longe já era possível ver balsas de dragagem extraindo sedimentos do fundo do rio. Armados, os policiais se aproximaram dos trabalhadores que, surpreendidos, não tentaram fugir nem reagiram.

O dono das embarcações, identifi-cado como Francisco Quintela, não es-tava no local. O funcionário da empre-sa, José Bernardo da Silva, apresentou

licença ambiental para a realização do trabalho. Mas, segundo o IMA, a em-presa não estava seguindo as condicio-nantes exigidas para manter as dragas em funcionamento. O trabalho foi sus-penso e a empresa notificada. A pena para esse tipo de infração ambiental varia de seis meses a 1 ano de prisão, além de multa que pode chegar até R$ 50 mil.

“O proprietário das dragas, Fran-cisco Quintela, terá que se apresentar em 24 horas no IMA para se justificar. Caso contrário será multado. A última multa aplicada nesse tipo de crime foi de R$ 21 mil”, explicou o diretor do IMA, Ermi Ferrari.

Essa ação faz parte da rotina dos 100 policiais que trabalham no BPA. São homens e mulheres que desde 1989 que têm como missão planejar, coorde-nar e executar o policiamento ostensi-vo terrestre e aquático.

“Agimos de forma integrada com outros órgãos para realizarmos traba-lho preventivo e repressivo visando a proteção dos recursos hídricos, flora, recursos minerais e fauna aquática e terrestre; buscando sempre a conscien-tização, o desenvolvimento sustentá-vel e a qualidade de vida”, enfatiza o

comandante do BPA, tenente-coronel Duarte.

Em média, o BPA recebe dez de-núncias por dia de várias regiões do Es-tado. Entre os meses de janeiro e março deste ano as ações contabilizaram 451 pássaros apreendidos, 1049 animais apreendidos e 334 ocorrências policiais referentes a vários crimes ambientais.

De acordo com a soldado Karilân-de, existe prioridade para atender as denúncias devido ao reduzido número do efetivo. “Entre um desmatamento e a apreensão de aves caseiras iremos priorizar o desmatamento devido os graves prejuízos ao meio ambiente. Por causa dessa situação, muita gente acha que não vamos atender porque não queremos. Não é verdade. Trabalha-mos muito todos os dias”.

Ela também ressalta os riscos que estão expostos no exercício da profis-são. No combate as rinhas de galo já houve troca de tiros com os infratores. “Em uma viatura foram quatro poli-ciais para conter 25 homens ingerindo bebida alcoólica e portando armas de fogo ilegais. Quando avistam nossa viatura respondem atirando; aí fica complicado conter essas pessoas paci-ficamente”.

Por André Miranda e Rafael Guedes

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Balsa que fazia dragagem irregular flagrada durante operação no Rio Mundaú.

Embarcações quebradas se amontoam pelo Batalhão de Polícia Ambiental.

Polícia Civil, BPA e IMA durante investigação de denúncia de crime ambiental.

SARGENTO FÁBIO: DEDICAÇÃO E ORGULHO DO TRABALHO

Os policiais do BPA também preci-sam enfrentar desafios dentro da pró-pria corporação. O primeiro é o espaço onde trabalham. A sede do Batalhão de Polícia Ambiental de Alagoas foi instalada na década de 80 num antigo clube próximo a famosa Ladeira do Catolé, no bairro Clima Bom II, e até hoje, segundo os militares mais antigos que trabalham no local, nunca passou por uma reforma, foram feitos apenas alguns reparos.

É fácil constatar o que eles dizem. A primeira impressão ao entrar no Ba-talhão é de abandono. A antiga piscina do clube continua aberta e acumulando sujeira e capim; embarcações e equipa-mentos quebrados estão por todos os lados e não existe espaço apropriado para descanso, refeições e o trabalho administrativo.

O BPA só conta com quatro carros para atender os quase 28 mil metros quadrados do estado. Apenas um dos veículos (modelo S10) tem tração nas rodas para chegar a lugares de difícil

acesso. Os outros são do modelo Palio Weekend da Fiat. Também existe uma caminhonete Amarok fruto do convê-nio com a Casal, mas a viatura é exclu-siva para o policiamento na região da Área de Proteção Ambiental (APA)do Catolé, que abrange os municípios de Satuba, Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte.

A situação é ainda pior no quesi-to embarcações. Apenas um pequeno barco de alumínio de motor de 15HP, cedido pela secretaria municipal de Meio Ambiente, está funcionando. Os outros estão quebrados e espalhados pela sede do BPA.

Segundo o sargento Flávio, para fa-zer o patrulhamento das lagoas Mun-daú e Manguaba eles contam o auxílio da Colônia de Pescadores e da Capita-nia dos Portos de Alagoas, que cedem embarcações. “Sem a ajuda desses ór-gãos não poderíamos fazer nosso tra-balho diário nas lagoas”.

Ele também conta que faltam di-versos equipamentos de uso diário.

“Alguns policiais doam materiais de trabalho para o próprio Batalhão. É o caso do cabo Viana. É ele quem cons-trói armadilhas de captura de animais silvestres”, afirmou.

O armamento é fornecido pelo go-verno do Estado, muitas vezes em par-ceria com o governo Federal. Uma vez por ano os policiais recém R$ 800 para investir no compra do uniforme de cor verde rajado e de manga longa para ca-muflagem em área de mata fechada e proteger de espinhos e galhos, além do do chapéu para proteger do sol.

Segundo o tenente Wenderson, nos últimos dois anos a preocupação com a capacitação dos militares do BPA aumentou. Existem cursos internos oferecidos pela corporação e cursos externos de algumas instituições fora do estado. “Infelizmente temos um dé-ficit de cursos ambientais ofertados em Alagoas. Por isso, sempre que pode-mos, mandamos alguns policiais para outros estados e depois eles repassam o conhecimento para os outros”.

FALTA ESTRUTURA E SOBRA FORÇA DE VONTADE

“SEM A AJUDA DESSES

ÓRGÃOS NÃO PODERÍAMOS FAZER NOSSO

TRABALHO DIÁRIO NAS

LAGOAS.”

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O otimista tenente-coronel Duarte está no comando do BPA há poucos meses.

SEDE DO BPA: MUITO ESPAÇO E POUCA INFRAESTRUTURA

BPA TERÁ NOVA SEDE E NOVOS VEÍCULOS

Há pouco mais de seis meses no comando do BPA, o tenente-coronel Duarte diz que a tarefa não é fácil e existem muitos desafios a serem supe-rados. Segundo ele, além de proteger o meio ambiente, os policiais do BPA es-tão trabalhando também nas ruas para ajudar na redução da criminalidade.

“Estamos atuando também em jo-gos de futebol, trabalhando na Unida-de de Detenção Masculina de Menores e patrulhando as ruas seis horas por dia. Essa nova rotina faz com que a gente não cumpra a nossa vasta mis-são de proteger o meio ambiente de forma eficaz. Mas é política de governo

e ordem do comando geral, temos que cumprir”. Mas, apesar dos problemas, ele está otimista e garante que está tra-balhando para o conserto de cinco em-barcações e a construção da nova sede do BPA e do pelotão aquático. “Uma construtora foi multada por construir um condomínio numa APA. A multa será revertida para construção do nova sede, que vai ficar na mesma área ter-ritorial do atual BPA e vai ter cerca de 700 m², atendendo toda as exigências administrativas”.

De acordo com o comandante, a construtora terá oito meses para fina-lizar a obra, além de doar duas viaturas

Mitsubishi L200 Triton. “Outro projeto que vai ser realizado em convênio com a Braskem será a construção do pelo-tão aquático para combater a pesca predatória nas lagoas”. Enquanto tan-tos projetos não sem do papel, o que existe de fato exite em abundância no BPA é a paixão dos policiais pelo meio ambiente e a disposição para continuar trabalhando. “O resgate de um simples animal silvestre em perigo já é motivo para comemorar. Temos muito orgu-lho do nosso trabalho”, afirma o sar-gento Flávio, que está no BPA há cinco anos. “Essa é a minha missão. É a mi-nha contribuição para Alagoas”.

Editor GeralRoberto Amorim

Textos e FotosAndré Miranda Rafael GuedesWeverton Soares

Editor Gráfico Carlos André

RevisãoBeto Macário

ReitorDário Arcanjo

Diretora AdministrativaEdriene Teixeira

Diretor AcadêmicoCristiano Montenegro

Coordenação de JornalismoRaphael Araújo

EXPEDIENTE© 2015 Grupo Tiradentes

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