Pedaços Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - André Bueno

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    Andr

    PEDAOS DO CAMINHO

    Antologia de passagens religiosas

    Rio de Janeiro

    Vero 2016

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    Andr [Andr Bueno] Pedaos do Caminho.

    Rio de Janeiro, Ebook, 2016.

    ISBN: 978-85-65996-35-8

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    ndice

    Introduo, 7

    Antologia, 13

    Mesopotmia,15

    Egito, 22

    Prsia, 29

    ndia, 33

    China, 43

    Japo, 54Tibete, 59

    Gregos e Romanos, 69

    Israel, 73

    Cristianismo, 76

    Islamismo, 83

    Yorub, 87

    Tupi, 87Referncias, 96

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    Introduo

    Em chins, a palavra Dao [Tao] significa Caminho, Via, Mtodo. No

    , porm, um Caminho qualquer: O Caminhopara uma viso maior e mais

    ampla do mundo. Na acepo dos antigos pensadores chineses do sculo -6,

    esse Dao constitua uma espcie de especulao filosfica e religiosa sobre as

    coisas. dessa condio que extraio a analogia do Caminho; presente em

    todos os lugares e culturas, uma via percorre o pensamento humano desde o

    tempo que podemos rastrear, por meio de seus textos antigos. a via dodivino, do pensar metafsico, que contempla uma dimenso maior da vida,

    tentando explicar o papel da humanidade em meio natureza e a potncias

    inteligentes que, muitas vezes, esto alm de sua compreenso.

    A construo dessa antologia se deu de modo espontneo, percorrendo

    textos diversos para colher imagens do Caminho. No h qualquer tipo de

    pretenso finalista aqui, mas to apenas, de ilustrar o sentimento humano de

    angstia, dvida, crena e f em algo maior. Mas, dentro da viso imperfeita,

    pois que humana, a pretenso a explicar o aspecto transcendental da

    existncia acaba sempre ficando incompleta, restrita ao ngulo da qual parte.

    No necessariamente equivocada, mas sempre inacabada; pois os pedaos do

    Caminhovo levando ao Caminho, que cabe ao estudioso juntar. Zhuangzi

    explicava isso em uma de suas parbolas:

    O Prncipe Mou recostou-se na mesa e suspirou. Depoisergueu os olhos para os cus e sorrindo disse - "Nuncaouviu falar do sapo na fontezinha? O sapo disse tartarugado Mar Oriental - "Que vida boa a minha! Pulo at aribanceira que cerca a fonte e vou descansar no buraco dealguns tijolos. Nadando, flutuo sobre os sovacos, pondomeu queixo justamente fora d'gua. Mergulhando nalama, enterro meus ps at as curvas e nenhum dos

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    mariscos, caranguejos ou rs que vejo ao meu redor,conseguem fazer o mesmo. Alm disso, morar em talcharco sozinho e possuir o recanto da nascente - ser feliz

    como ningum mais pode s-lo. Por que no vem visitar-me?"

    - Ora, antes que a tartaruga do Mar Oriental tivessedescansado no cho a perna esquerda, o joelho direito jtinha se enterrado profundamente na lama e ela o retiroudepressa, recuando e pedindo desculpas. Contou depois aosapo muita coisa sobre o mar, dizendo - "Mil li [milhas]no dariam para medir sua largura. nem mil braas daropara medir-lhe a profundidade. Nos dias do Grande Yuhavia nove anos de cheia, em dez: porm isso nadaacrescentava a ele. Nos dias de Tang, havia sete anos deseca, em oito; porm isso no fazia com que suas praiasrecuassem. No ser atingido pelo perpassar do tempo enem sofrer pelo aumento ou pela diminuio d'gua - tal a grande felicidade do Mar Oriental". Ante essa narrao, osapo da fonte ficou profundamente surpreso e sentiu-semuito pequeno, como algum que se tivesse perdido.

    Como simpticos sapinhos, ainda pululamos no mesmo lago em que

    habitamos. Cantamos para a Lua, saudamos a chuva, abenoamos as luzes

    dos vaga-lumes. Mas so as tartarugas velhas, encarquilhadas, com o rosto

    marcado pelo tempo, e o casco cheio de cicatrizes que alcanaram aexperincia libertadora de conhecer o mundo. Quem, pois, embarca na

    aventura da descoberta do Caminho?

    Os pedaos aqui coletados so os mais diversos, e vem desde o passado

    bastante remoto. No incio, temos a sabedoria das civilizaes

    mesopotmicas, na Epopeia de Gilgamesh e no hino da criao, o Enuma

    Elish. Provenientes, talvez, do sculo -20, nascem junto com o povo da

    Sumria, dando origem a uma multido de tradies do Oriente Mdio.

    Depois, dois Hinos do Egito, e um trecho de um livro de Sabedoria [As

    instrues de Merikara] com destaque para o hino de Aton, do sculo -14.

    Passamos aos Persas, que no sculo -9 ou -8 se deslumbraram com a

    sabedoria de Zaratustra, o primeiro pensador a falar de livre-arbtrio.

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    Os indianos nos trouxeram o Rig Veda, em algum momento do sculo -15,

    cujos hinos proporcionam suas primeiras elaboraes transcendentais sobrea reencarnao. Mas um hino sobre a criao que nos interessa nele. No

    seguir, a magnfica pea do Bhagavad Gita, a Cano do Senhor, no qual

    Krishna conversa com Arjuna sobre a Sabedoria e a vida eterna da alma. A

    ndia testemunhou tambm a vinda de Buda, no sculo -6, que nos fala da

    busca ideal do Sbio. Trazemos ainda um trecho do magnfico Milinda

    Panha, o famoso dilogo entre o rei grego Menandro e o sbio Budista

    Nagasena um fabuloso encontro intercultural na antiguidade.

    Da China, As Memrias da Cultura Liji nos explicam o Cu como

    fundamento de tudo. Confcio, do sculo -6, nos fala brevemente sobre

    foras espirituais; no texto do Wenzi, Laozi, contemporneo de Confcio,

    nos fala da importncia de nos desprendermos e retornarmos a uma

    natureza original humana. Zhuangzi [sc. -4], um de seus continuadores,

    nos revela gostosamente a prtica desse desprendimento. Ademais, o

    pensamento budista chins preservou e difundiu o Lankavatara sutra, um

    texto fundador do Chan [em japons, Zen]. Nele, vislumbramos uma

    detalhada explicao sobre o que nossa mente. Ali, bem de perto, trazemosas mximas do Xintosmo Japons, um cdigo de vida do Japo pr-bdico.

    Do mesmo pas, a maravilhosa experincia do Koan, uma histria curta e

    rpida, nos revela a rapidez sem barreiras da mente zen. E no se pode

    esquecer o roteiro da boa morte, o Bardo Thodol, do Budismo tibetano.

    Embora bastante posterior, ele est aqui, para ser lido e apreciado, posto que

    inserido nessa tradio.

    Gregos e romanos... No se poderia deix-los de lado. Mas essa antologia

    particular. Por isso, dois trechos sobre a questo da divindade: Epicuro e

    Aristteles. Sneca, invocado, nos fala brevemente sobre a constncia do

    Sbio; Marco Aurlio, o imperador, medita sobre o sentido da vida, e de

    como vivenci-la. Seus caminhos poderiam divergir dos outros e

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    paradoxalmente, mais uma razo para estarem aqui, pois todos so pedaos

    do Caminho...

    A cultura judaica nos brinda com o belssimo Livro da Sabedoria de Salomo

    que provavelmente no foi escrito por Salomo, mas quem liga pra isso? A

    sabedoria est l, e o autor, modesto, preferiu prestar tributo a um dos

    maiores pensadores de sua cultura. Tempos depois, Mateus ou

    provavelmente, algum em seu nome escreveu uma das mais belas pginas

    da histria humana, o Sermo da Montanha. Dois comentrios sobre o

    Sermo da Montanha resumem sua apreciao universal:

    Um dos monges do mestre Gasan visitou a universidadeem Tokyo. Quando ele retornou, ele perguntou ao mestrese ele jamais tinha lido a Bblia Crist."No," Gasanreplicou, "Por favor leia algo dela para mim." O mongeabriu a Bblia no Sermo da Montanha em So Mateus, ecomeou a ler. Aps a leitura das palavras de Cristo sobreos lrios no campo, ele parou. Mestre Gasan ficou emsilncio por muito tempo. "Sim," ele finalmente disse,"Quem quer que proferiu estas palavras um seriluminado. O que voc leu para mim a essncia de tudo oque eu tenho estado tentando ensinar a vocs aqui." [KoanZen]

    Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, es se salvasse o Sermo da Montanha, nada estariaperdido. [Mahatma Gandhi]

    Embora essas duas menes possam ser apcrifas, no vi qualquer um que as

    negasse a tradio de sua repetio as tornou verdades. Essa belssima

    passagem completada por aforismos do Evangelho de Tom esse sim, um

    texto apcrifo de fato mas que considerado por alguns como a fonte

    original dos evangelhos. No estou preocupado com isso. A questo que

    ele mantm a estrutura oriental de mximas curtas para a reflexo, e nos

    apresenta trechos profundamente bonitos.

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    Os deuses ficaram para trs, disse Maom [sculo +7], e s h um Deus

    verdadeiro. A viso monotesta no admite no Judasmo, Cristianismo e

    Islamismo a existncia de outras imagens espirituais e divindades. O Isl,pode-se dizer, conclui esse processo. Trs pequenas passagens [como os

    Koan Zen], chamadas Hadiths,completam a apresentao do fragmento do

    Alcoro.

    Mesmo assim, muitas tradies esto vivas. Como pedaos desse

    pensamento transcendente, eles se espalham, se fundem, ou apenas

    sobrevivem. Da cultura Yorub, um lindo fragmento, salvo por Pierre

    Verger, nos conta uma passagem sobre a criao pelos Orixs. Por fim, os

    Tupis nos contam, pela boca do inestimvel antroplogo e indianista

    Orlando Villas Boas [+2002], a cerimnia do Kuarup.

    Em comparao com outras antologias por mim realizadas anteriormente,

    muito mais cientficas e tematicamente definidas, o presente texto parece

    solto, desconexo, ajuntando passagens sem um fio condutor definido. Quem

    pensar isso est correto. Esse conjunto de textos uma coleo, antes de

    tudo, de imagens do Caminho. No tem pretenso maior do que a de

    divulgar esses textos, esse saberes. Leiam, apreciem, viagem nos pedaos, econtemplem sua beleza, sua singela sabedoria. To distintos que so, entre si,

    no se pretendem indicar qualquer unidade, seno, de que so pedaos de

    algo maior.

    Vero de 2015

    Em meio ao voo das mariposas

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    A Antologia

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    Mesopotmia

    A angstia da Vida na

    Epopia de Gilgamesh

    Enquanto isso, Utnapishtim, confortavelmente instalado, observava tudo a

    distncia e, dentro de seu corao, meditava: "Por que o barco navega por

    aqui sem seu mastro e sem equipamento? Por que foram destrudas as

    pedras sagradas, e por que o barco no conduzido por seu capito? Aquele

    homem que chega no um dos meus; vejo um homem coberto com pele de

    animais. Quem este que vem pela praia atrs de Urshanabi, poiscertamente que no um dos meus homens?" Utnapishtim ento olhou para

    ele e disse: "Qual o teu nome, tu que chegas vestido de pele de animais,

    com as bochechas famintas e o rosto abatido? Aonde vais com pressa? Por

    que razo fizeste uma jornada to longa, atravessando mares cuja passagem

    to difcil? Dize-me a razo de tua vinda."

    Ele respondeu: "Gilgamesh meu nome. Sou de Uruk, da casa de Anu."

    Utnapishtim ento disse a ele: "Se s Gilgamesh, por que tens as faces to

    encovadas e o rosto to abatido? Por que trazes o desespero em teu corao,

    e por que teu rosto lembra o de algum que chega de uma longa jornada?

    Sim, por que tua face est queimada pelo calor e pelo frio, e por que chegas

    aqui vagando pelos pastos procura do vento?"

    Gilgamesh disse-lhe: "E por que meu rosto no haveria de estar encovado e

    abatido? Trago o desespero em meu corao; meu rosto lembra o de algum

    que chega de uma longa jornada e foi queimado pelo calor e pelo frio. Por

    que no haveria de vagar pelos pastos procura do vento? Meu amigo, meuirmo mais novo, que capturou e matou o Touro do Cu e derrubou

    Humbaba na floresta de cedro, meu amigo, algum que me era carssimo e

    que enfrentou muitos perigos ao meu lado, Enkidu, meu irmo, a quem

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    tanto amava, a morte o alcanou. Chorei por ele durante sete dias e sete

    noites, at os vermes tomarem-lhe o corpo. Por causa do meu irmo, tenho

    medo da morte; por causa do meu irmo, vagueio pelas matas e peloscampos. Seu destino pesa sobre mim. Como posso descansar, como posso

    ficar em paz? Ele virou p e tambm eu vou morrer e ser enterrado para

    sempre." Gilgamesh tornou a dizer, falando a Utnapishtim: "Foi para ver

    Utnapishtim, a quem chamamos o Longnquo, que fiz esta jornada. Por isso

    vagueei pelo mundo, atravessei tantas cordilheiras perigosas, cruzei os mares

    e me esfalfei viajando; minhas juntas doem e h muito que j no sei o que

    uma doce noite de sono. Minhas roupas se esfarraparam antes de chegar

    c asa de Siduri. Matei o urso e a hiena, o leo e a pantera, o veado e o cabrito

    montes, o tigre e todos os tipos de caa, e tambm as pequenas criaturas dos

    pastos. Comi sua carne e vesti suas peles; e foi assim que cheguei ao porto

    da jovem fabricante de vinho, que fechou contra mim seu porto de piche e

    betume. Mas recebi dela instrues sobre a jornada e cheguei ento at

    Urshanabi, o barqueiro, com quem atravessei as guas da morte.

    Oh, pai Utnapishtim, tu que te juntaste assembleia dos deuses, desejo

    fazer-te algumas perguntas sobre os vivos e os mortos: como encontrar a

    vida que estou buscando?"

    Utnapishtim disse: "No existe permanncia. Acaso construmos uma c asa

    para que fique de p para sempre, ou selamos um contrato para que valha

    por toda a eternidade? Acaso os irmos que dividem uma herana esperam

    mant-la eternamente, ou o perodo de cheia do rio dura para sempre?

    Somente a ninfa da liblula despe-se da larva e v o sol em toda a sua glria.

    Desde os dias antigos, no existe permanncia. Como so parecidos os

    adormecidos e os mortos, eles so como um retrato da morte. O que existe

    entre o servo e o senhor depois de ambos terem cumprido seus destinos?

    Quando os Anunnaki, os juzes do mundo inferior, se renem com

    Mammetum, a me dos destinos, juntos eles decidem a sorte dos homens.

    Eles distribuem a vida e a morte, mas o dia da morte eles no revelam."

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    A criao do Mundo no

    Enum a Elish

    Quando no havia firmamento, nem terra, alturas, profundezas ou sequernomes,

    Quando o Apsu estava sozinho,

    Ele, as guas doces, o iniciador da criao, e Tiamat, as guas salgadas, e

    tero do universo, quando no existiam os deuses....

    Quando as guas doces e as salgadas estavam juntas, misturadas,

    Os juncos no estavam tranados, ou galhos sujavam as guas,

    quando os deuses no tinham nome, natureza ou futuro, ento a partir de

    Apsu e Tiamat, nas guas dele e dela, foram criados os deuses, e para dentro

    das guas precipitou-se a terra [lama],

    Lahmu e Lahumu,

    eles foram ento chamados; nem bem velhos, nem bem crescidos [eles eram]

    quando Anshar e Kishar os dominou,

    e as linhas do cu e da terra se expandiram para onde os horizontes se

    encontram para separar o que era nuvem do que era terra.

    Dias seguiram outros dias, anos seguiram outros anos,At Anu, o firmamento vazio, herdeiro e conquistador,

    primognito de seu pai, imagem de sua prpria natureza,

    fez nascer Nudimud-Ea,

    intelecto, sabedoria, maiores do que o horizonte dos cus,

    o mais forte dentre seus pares.

    Discrdia rompeu entre os deuses, apesar de serem irmos, e a brigar eles

    comearam na barriga de Tiamat, fazendo o cu tremer, e se mexer como

    numa dana frentica, de tal forma que Apsu no pode silenciar o clamor

    dos jovens deuses, fazer cessar tal mal comportamento, altaneiro e

    orgulhoso.

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    Tiamat, ainda quieta se quedava, quando Apsu, o pai de todos os deuses,

    chamou por seu conselheiro:

    - Caro conselheiro, vem comigo at Tiamat.Eles assim o fizeram, e em frente de Tiamat eles se sentaram, falando sobre

    os jovens deuses, seus filhos primognitos, sendo que disse Apsu:

    - Os modos deles me revoltam, dia e noite, sem cessar, sofremos. Minha

    vontade destru-los, todos eles, para que possamos ter paz e dormir

    novamente.

    Quando Tiamat isto escutou, ela se sentiu atingida, e se retorceu, em

    solitria desolao, o corao cheio de paixo mantida em segredo. Disse

    Tiamat:

    - Por que devemos destruir os filhos que fizemos? Se os modos deles so o

    problema, esperemos um pouco mais.

    Ento Mumu aconselhou Apsu, e ele falou com maldade:

    - Pai, destrua-os todos numa rebelio de monta, e teremos paz durante odia, e noite, todos poderemos dormir.

    Quando Apsu ouviu que os dados haviam sido lanados contra seus filhos e

    filhas, sua face inflamou-se com o prazer do mal; mas a Mummu ele

    abraou, pendurou-se ao seu pescoo, colocou-o nos seus joelhos e o beijou.

    Esta deciso chegou ao conhecimento dos deuses mais jovens, filhos e filhas

    de Tiamat e Apsu. Confuso instalou-se, e depois, um grande silncio, pois

    eles ficaram extremamente perturbados.

    O deus que a fonte da sabedoria, a inteligncia brilhante que [tudo]

    percebe e planeja, Nudimmud-Ea, examinou a questo, fazendo levantar o

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    tumulto do caos, e contra este o artfice do universo passou a elaborar um

    plano.

    Ele fez um encanto para as guas, e este encanto caiu sobre o Apsu, que caiu

    em sono profundo. As guas doces caram em sono profundo, Mummu foi

    ento derrotado, e Apsu, agora tomado por sono eterno, no mais se mexeu.

    Ea ento rasgou o manto de glria flamejante e a coroa de Apsu, apossando-

    se da aurola do rei. Quando Ea prendeu Apsu, ele o matou, e Mummu, o

    conselheiro traioeiro, Ea pegou pelo nariz, aprisionando-o [para sempre].

    Ea derrotou seus inimigos, pisando por cima deles. Agora que seu triunfo

    estava completo, completamente em paz, ele descansou, em seu palcio

    sagrado, Ea adormeceu. Por sobre o abismo, distncia, ele construiu sua

    casa e templo, e ali, com toda magnificncia, ele foi viver com sua esposa

    Damkina.

    Naquela sala, no ponto das decises onde o que deve vir a ser pr-

    determinado, ele foi concebido, o mais sagaz, aquele que veio do poder mais

    absoluto em ao.

    No abismo profundo ele foi concebido, Marduk foi concebido no corao

    do apsu, Marduk foi criado no corao do apsu sagrado. Ea seu pai e

    Damkina a ele deu luz, pai e me; ele foi amamentado pelas deusas, suas

    amas dotaram-no com grande poder.

    O corpo de Marduk era lindo; quando erguia seus olhos, luzes dele

    irradiavam, seu passo era majestoso, ele foi um lder desde seu primeiro

    momento.

    Quando Ea, seu pai, viu seu filho, ele se alegrou, ele ficou radiante e cheio de

    felicidade, pois como era perfeito o menino! O grande artfice multiplicou os

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    dons divinos do menino, para ser o primeiro dentre os primeiros, dentre

    todos, o de maior estatura..

    Os membros de Marduk eram imaculados, mostrando um mistrio

    amedrontador alm da compreenso, com olhos de viso sem limite que

    valiam por quatro, com ouvidos de audio to poderosos tambm que

    equivaliam a quatro, quando seus lbios se moviam, uma lngua de fogo se

    projetava. Membros fortes, titnicos, de p, ele ultrapassava em altura os

    outros deuses, to forte ele era, pois vestia a glria de dez [deuses], sendo

    que raios se projetavam ao redor de Marduk.

    - Meu filho, meu filho, filho do sol, e do sol do firmamento!

    A criao do Templo no Enuma Elish

    L onde todos iremos dormir uma estao do ano, no Grande Festival,

    quando todos reunidos em Assemblia, iremos construir altares para ti,

    iremos construir Parakku, o Santurio.

    Quando Marduk escutou [tais palavras] sua face brilhou como a luz do dia:

    - A Grande Torre de Babel deve ser construda de acordo com os desejos de

    todos vocs, os tijolos devero ser colocados em seus moldes e chama-la-

    emos de Parakku, o Santurio.

    Os deuses Anunaki pegaram suas ferramentas, e levaram um ano inteirinho

    para moldar os tijolos [necessrios]; no segundo ano, eles levantaram o

    Esagila, o templo da terra, o smbolo do cu infinito.

    Dentro, havia quartos para Marduk e Enlil e Ea. Com toda majestade,

    Marduk tomou seu lugar na presena deles todos, onde o topo do zigurate

    erguia-se por sobre a base.

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    Quando a construo do templo terminou, os Anunaki construram capelas

    para si; ento todos se reuniram, e Marduk ofereceu a todos um banquete.

    - Esta Babilnia, a cidade querida dos deuses, teu amado lar! Em

    comprimento e amplido, ela nossa, ns a possumos, alegrem-se com ela,

    pois ela sua!

    Quando todos os deuses se sentaram, houve vinho, festa e risos, e depois do

    banquete no lindo Esagila eles executaram a liturgia, os ritos sagrados, a

    partir dos quais o universo recebe sua estrutura, onde o oculto trazido s

    claras, [pois ] atravs do universo que aos deuses so atribudas as suas

    estaes.

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    Egito

    Ensinamentos de Merikara

    Sucedem-se as geraes humanas e o Senhor ocultou-se.

    Olha o ser interno

    e no despreza a mo do autor.

    Honra o Senhor em seus caminhos, seja feito de pedras preciosas

    ou de cobre.

    Como a onda sucede onda,no h rio que se possa esconder.

    A alma bavai para o seu prprio lugar.

    Cuida da tua morada no Ocidente,

    do teu aposento em um cemitrio, mediante a retido

    e o exerccio da justia.

    Nisso pode confiar o corao do homem.

    A virtude do reto corao

    agradvel ao Senhor,

    mais do que o boi

    de quem comete a injustia.

    Procede segundo a vontade do Senhor, que h de proceder,

    pensando em ti tambm.

    Isso tem o valor de oferta solene, de abundante oferta no altar

    e de inscrio que perpetua o teu nome.

    O Senhor sabe quem age em seu favor. Esto bem providos os homens,

    que parecem um rebanho do Senhor.

    Ele fez a terra e o cu para os homens. Repetiu o monstro das guas.Fez a respirao

    para que as narinas se movam. Os homens so a imagem

    da pessoa do Senhor,

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    que por eles ergue-se no cu. Fez para eles a relva,

    o gado, os pssaros, os peixes.

    Matou os inimigos do homem, aniquilou os seus filhos,que desejavam rebelar-se.

    Fez a luz, percorre os cus, navega nos cus para v-los.

    Construiu um santurio. Se os homens choram,

    o Senhor ouve-lhes o pranto.

    Gerou os reis, os soberanos para a proteo dos fracos.

    Deu-lhes a arma da magia,

    a fim de evitarem o ataque da sorte.

    Como o Senhor aniquilou os criminosos, durante a noite, durante o dia?

    O Senhor castiga

    como um pai castiga um filho por causa do irmo.

    Sabe o Senhor o nome de cada um.

    Hino de A khenaton

    Irradias beleza no horizonte,

    Aton, primeiro ser celeste vivo!

    Levas beleza a toda parte, Quando te levantas.s belo, grande, reluzente!

    Brilhas por cima de todas as naes!

    Teus raios se estendem sobre todas as terras, Sobre a tua criao inteira!

    Ests distante,

    Mas os teus raios se estendem sobre a terra inteira!

    Quando te deitas no ocidente,

    A terra escurece

    Como se estivesse morta

    E todos repousam nas camas,

    A cabea envolta em um pano.

    Nenhum v o outro.

    Se lhes tirassem o travesseiro, Eles no sentiriam.

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    Todos os lees saem da caverna,

    Todas as serpentes mordem,

    A terra est silenciosa.Tu, seu criador, escondeste-te no horizonte.

    A terra ilumina-se, quando surges na manh.

    Quando brilhas, Aton,

    Desaparecem as trevas.

    Quando soltas os teus raios,

    As Duas Terras enchem-se de alegria.

    Todos erguem-se do leito,

    Ficam de p,

    Lavam-se, vestem-se, erguem os braos, Adoram-te.

    Todos vo para o trabalho, O gado alegra-se no pasto,

    As rvores, a relva, reverdecem,

    Os pssaros saem dos ninhos,

    Louvando-te no adejo das asas.

    Pulam todos os cordeiros,

    As aves, todas as criaturas de asas,

    Vivem por que tu apareces no horizonte.

    Ento os barcos sobem e descem o rio,Abrem-se todos os caminhos,

    Saltam os peixes na gua do rio

    E os teus raios descem s profundezas do mar.

    Fazes nascer o fruto das entranhas da mulher.

    Sustentas vivo o filho no seio materno

    E, acalentando-o, para que no chore,

    Tu lhe ds o esprito,

    Quando ele sai do ventre materno,

    No dia em que nasce.

    Tu lhe abres a boca

    E lhe ds o necessrio sua existncia.

    Quando o pintinho pia na casca do ovo,

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    Tu lhe ds o ar para viver,

    A fora para quebrar a casca,

    De onde o pinto sai piando,A correr pelo cho.

    So muitas as tuas aes!

    Criaste a terra segundo o teu desejo!

    Tu somente criaste a terra,

    Com os homens,

    Os animais grandes e pequenos,

    Todos os que andam com os ps,

    Todos os que voam com as asas

    As Terras da Sria, da Nbia, do Egito,

    Tu criaste-as todas em seu lugar,

    Tudo quanto de que elas necessitam.

    Todos ns recebemos o alimento

    Com nossos dias contados,

    Falam-se diversos idiomas

    E os homens tm pele de cor diferente,

    Sim, tu crias os povos diversos.

    Criaste o Nilo, no mundo inferior,Fizeste-o fluir, segundo tua vontade,

    Para os homens se alimentarem,

    Tu, Senhor de todos ns!

    Tu criaste as terras longnquas,

    Colocaste um Nilo na altura

    Para tambm irrigar essas terras,

    Um Nilo de guas altas

    Como as ondas do mar,

    Para inundar os seus campos.

    Senhor da Eternidade,

    So timas as tuas intenes!

    O Nilo na altura,

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    Ofereceste-o terra das montanhas,

    aos animais que correm com as suas patas,

    em todas as terras montanhosas.Mas, o Nilo no mundo inferior,

    Ofereceste-o ao Egito.

    Criaste as estaes

    Para o renascimento das tuas obras,

    O inverno para refresc-las,

    O vero para que elas gozem de ti.

    Criaste o cu distante

    Para subires nele e de l veres tudo,

    Tu somente,

    Quando surges na forma de sol nascente,

    Subindo radioso, brilhante,

    Afastando-te, voltando.

    Tiraste de ti mesmo milhes de formas

    Cidades, aldeias, prados, estradas, e o rio,

    Todos te veem como o sol de cada dia.

    Ests em meu corao,

    Somente eu te conheo,Eu, teu filho Akhenaton!

    Tu lhe revelaste os teus desejos, a tua fora.

    Tens a terra e os homens em tuas mos.

    Se te levantas, eles vivem.

    Se te deitas, eles morrem.

    as a durao da nossa existncia

    E vivemos somente por ti.

    Todos Os olhos contemplam a tua beleza,

    At quando te deitas.

    Cessa todo trabalho, quando te deitas,

    Desde que fizeste a terra,

    Tu criaste os homens,

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    Para o teu filho nascido de ti mesmo,

    Para a sua real esposa bem amada,

    Que vive e reina para sempre,Eternamente.

    Hino Ptah

    O deus do mar

    Salve a ti!

    Tu s venervel, tu s antigo,

    Tatenen, pai dos deuses,

    deus primognito da primeira vez,

    modelador dos homens, que fez os deuses,

    que inaugurou a existncia como deus primordial,

    que fez o cu como criao do seu corao,

    que se ergueu no que sustm Chu,

    que fundou a terra pela sua prpria obra,

    que rodeia o mundo como Nun e o Muito Verde,

    que fez a Duat e faz repousar os cadveres

    e a faz circular R para que eles sejam revigorados.

    Ele regente da eternidade,

    vida, sade e fora,

    senhor da perenidade e senhor da vida.

    Ele faz respirar as gargantas,

    d o ar a todos os narizes,

    faz viver todo o homem pelos seus alimentos.

    Duradouro de vida, Chai e Renenutet acompanham-no.

    Vive-se daquilo que sai da sua boca.

    Ele faz oferendas para todos os deuses

    na sua manifestao de Nun, o venervel,

    senhor da eternidade e da perenidade.

  • 7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno

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    Os sopros de vida para todos os rostos acompanham-no.

    Ele o guia do rei para o seu assento venervel

    no seu nome de rei das Duas Terras.

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    Prsia

    Hino Ahura M azda

    Com as mos estendidas e humildemente oro ti meu Deus, que atravs do

    teu Esprito Santo concede a mim toda honestidade da ao e da boa mente,

    para que atravs disso eu possa trazer alegria alma da Criao.

    Ahura Mazda, eu em verdade me aproximo de ti, atravs da mente pura e do

    corao iluminado. , Criador, conceda-me nos dois mundos, corporal eespiritual, a recompensa que s pode ser alcanada atravs da verdade e da

    justia para que todos os fiis sejam felizes superando a rivalidade dos

    inimigos.

    Mazda, Asha (Esprito da Verdade), Vohuman (Esprito do bom

    pensamento) vou agora cantar msicas que ainda no foram ouvidas por

    ningum. Espero que atravs de vs, e seguindo sempre vossa vontade,

    possamos aumentar nossa f e o nosso auto-sacrficio. ,

    Deus Todo-Poderoso, por favor, aceite os nossos pedidos, venha ao nosso

    encontro e nos conceda a tua felicidade.

    Vou levar minha alma para o cu por meio do pensamento puro, e estar

    bem ciente das bnos que o Senhor Todo-Poderoso deixar cair sobre os

    que praticam boas obras, vou ensinar o povo a lutar pela verdade e seguir a

    justia.

    O smbolo da honestidade e pureza, quando verei a ti? smbolo do bompensamento, devo ser capaz de reconhecer-lo atravs do conhecimento da

    celestial verdade? Seria, eu, capaz de falar sobre o Todo- poderoso,

    obedecendo a voz da conscincia? Com a proclamao dessas palavras

  • 7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno

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    sagradas ns devemos fazer com que os maus se voltem amorosamente em

    direo a tua vontade, meu Deus.

    Meu Deus, venha a ns atravs do bom pensamento (vohuman) com o

    duradouro presente do Esprito da Verdade (Asha) concedido nas tuas

    palavras sublimes. Conceda Zaratustra e a todos ns Tua graciosa ajuda,

    Senhor, de modo que possamos Superar o mau dos errantes.

    Concedei-nos Esprito da Verdade, o fruto da Boa Mente. Conceda-me,

    Esprito da Piedade, a mim e aos que nos apoiam (e a Vishtaspa), nosso

    desejo para efetividade. E conceda, Mazda soberano Senhor, que ao recitar

    tuas palavras sagradas de revelao eu possa fazer tua feliz mensagem ser

    compreendida.

    A ti, Deus, de acordo com o Espirito da Verdade (Asha) peo para mim,

    para Frashoshta (amigo e discpulo de Zaratustra) e para todos os que

    buscam o bem o dom da Boa Mente.

    E abenoados com essas generosidades, ns que temos sempre oferecido

    canes de louvor a Ti, no queremos magoa-lo, Mazda, ou mesmo vocs Asha (o Esprito da verdade) e o Esprito da Melhor Mente. Vocs,

    que so os mais prestativos em promover o Domnio da Bem-aventurana.

    Aqueles que tu conheces como totalmente dignos por causa de sua

    Honestidade e da Boa Mente, para estes, Tu faz cumprir a realizao de seus

    desejo, Ahura Mazda, Pois eu sei bem que as palavras destas oraes se

    direcionadas aos corretos fins, tero seus felizes efeitos.

    A doutrina de Ahura M azda

    Hei de cantar as bondades de Ahura Mazda, falarei com gosto da Boa Mente

    e com reverncia sobre a vida dos retos. E, assim fazendo, mencionarei os

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    dois conceitos que preocupam os sbios.

    Oua com seus ouvidos aos melhores conselhos reflita sobre eles comjulgamento iluminado, deixe que cada um possa escolher seus credos. Com a

    mesma liberdade de escolha que todos devem ter em grandes eventos,

    voc, acorde para estes meus anunciamentos.

    No comeo havia dois princpios gmeos espontaneamente ativos. Esses

    eram Spenta Maynu(o Bem) e Angra Maynu (o mal) em pensamento, em

    palavra e ao. Entre esses dois, deixe Mazda escolher o correto. Seja bom,

    no neutro!

    E quando estas duas mentalidades Gmeas vieram juntas elas primeiramente

    estabeleceram a Vida e a Recusa da Vida; assim deve ser at o mundo durar.

    A m-aventurana a consequncia de seguir o mal, e o estado da Melhor

    Conscincia a recompensa dos justos.

    Desses Espritos Gmeos (em pensamento, palavra e ao), Angra Maynu

    escolhe fazer o pior, e o Esprito da Bondade (Spenta Maynu), se veste dos

    cus eternos, escolhendo a Verdade e a Justia. E ento, qual destes iriamagradar Ahura Mazda com boas aes, realizadas com f na Verdade?

    Entre esses dois Espritos os adoradores das falsas divindades no conseguem

    discernir o certo, eles a enganao veio na hora da deciso, e eles assim

    escolheram a Pior Mente, o medo e o dio, que a causa de todas as

    maldades, de modo a destruir a vida mental das pessoas.

    Aquele que for dotado de fora espiritual, bom pensamento, verdade e

    pureza, Dever receber firmeza e estabilidade de corpo de Armaiti (Amor,

    F, Serenidade). Essa pessoa ser, sem dvida, bem sucedida no caminho da

    vida, e deve ser considerada, meu Senhor, como bom teu servo.

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    Quando os pecadores recebem penas de seus pecados, Ahura Mazda, ento

    eles vo perceber Teu poder atravs da Boa mente (Vohuman). Eles vo

    aprender esta verdade a respeito de como eles devem se esforar para jogarfora a falsidade e a mentira, ajudando, assim a vitria da verdade e da

    pureza.

    Que sejamos servos sinceros Ti como aqueles que fazem o mundo

    renovado , Senhor da Vida e da Criao. Que possamos desfrutar de tua

    ajuda atravs da Verdade (ou Asha), de modo que sempre que renunciemos

    nossas dvidas, nossos coraes e pensamentos possam estar apontados para

    ti.

    A prtica do bem de acordo com a Verdade mesmo quando esta traz

    sofrimento para o praticante. A prtica do mal destrutiva mesmo ao

    produzir um proveito aparente. Prosperidade e alegria radiante so fruto de

    se entender isso.

    Se vs puderem perceber e compreender as leis da felicidade e da dor

    ordenado por Mazda, e se vocs aprenderem que os mentirosos e mpios

    tero uma punio longa, mas os piedosos e justos gozaro de duradouraprosperidade espiritual, ento vocs devem atingir a satisfao da real

    salvao, graas este princpio.

  • 7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno

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    ndia

    A Cano da Criao no

    Rig Veda

    Ento no existia o no-existente, nem o existente - no havia

    reino do ar, nem cu alm dele.

    o que encobria, e onde? E o que dava abrigo? Existia gua

    ali, urra profundidade insondvel de gua?

    No existia ento a morte, nem coisa alguma imortal - nohavia sinal, o divisor do dia e da noite.

    Aquela coisa nica, sem alento, respirou por sua prpria natureza

    - a no ser ela, no existia coisa alguma.

    Existia treva; de comeo oculto na treva, esse Tudo era caos

    indiscriminado.

    E tudo quanto existia ento era vazio e sem forma - pelo

    grande poder do calor nasceu aquela unidade.

    Da em diante surgiu o desejo no incio, Desejo, a semente e

    germes primevos do esprito.

    Sbios que buscavam com o pensamento e seus coraes

    descobriram o parentesco do existente no no-existente.

    Transversalmente sua linha de separao se estendeu - o que

    estava acima, ento, e abaixo?

    Existiam reprodutores, foras poderosas,

    ao livre aqui e energia acima, alm.

    Quem realmente sabe e quem pode declarar, de onde nasceu

    e de onde veio essa criao?

  • 7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno

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    Os deuses vieram depois da produo deste mundo. Quem sabe,

    portanto, de onde ele veio pela primeira vez?

    Ele, a primeira origem desta criao, tenha formado a mesma

    toda ou no a tenha formado,

    Cujo olho controla este mundo no cu mais alto, ele realmente

    sabe, ou talvez no saiba.

    No Nos Devemos Lamentar Pelo Imperecvel noBhagavad Gita

    O Senhor Bendito disse:

    Tu lamentas aqueles que no deverias lamentar, e no entanto

    dizes palavras sobre a sabedoria. Os homens sbios no se lamentam

    pelos mortos ou pelos vivos.

    Nunca houve uma poca em que eu no existisse, ou tu, ou esses

    senhores dos homens, nem tampouco vir uma poca no futuro em que

    deixaremos de existir.

    Assim como a alma vem ter a este corpo atravs da infncia, mocidade e

    madureza, do mesmo modo ela toma outro corpo. O sbio

    no fica perplexo com isso.Os contatos com seus objetos, filho de Kunti, do origem ao

    calor e frio, prazer e dor.

    Eles vm e vo e no duram para sempre, aprendem a resistir,

    Arjuna.

    homem que no se perturba com isso, Chefe de homens, que

    continua o mesmo na dor e no prazer e sbio, torna se capacitado

    para a vida eterna.

    Do no-existente no h vir-a-ser; do existente no h deixar de ser.

    A concluso para os dois casos j foi percebida pelos que buscam

    a verdade.

    Sabes tu que aquilo pelo qual tudo se acha impregnado

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    indestrutvel. Desse ser imutvel ningum pode causar a destruio.

    Diz-se que esses corpos da alma eterna que indestrutvel e

    incompreensvel chegam a um fim. Por isso, luta, Arjuna.Aquele que pensa que isto mata, e aquilo morto, deixa de

    perceber a verdade, pois nem se mata nem se morto.

    Ele nunca nasce, nem tampouco morre em qualquer ocasio, nem

    ainda tendo passado a ser uma vez, cessa de ser. Ele no nasce,

    eterno, permanente e primevo. Ele no morto quando o corpo

    abatido.

    Quem sabe ser ele indestrutvel e eterno, incriado e imutvel, como

    poder abater algum, Arjuna, ou fazer algum abater outrem?

    Assim como uma pessoa deita fora roupas usadas e pe outras

    novas, a alma deita fora corpos usados e toma outros que so novos.

    As armas no ferem esse eu, o fogo no o queima, as guas no

    o molham, nem o vento o faz secar.

    Ele indivisvel, Ele no pode ser queimado, nem tampouco molhado ou

    secado. Ele eterno, presente em tudo, imutvel e imvel.

    Ele o mesmo para sempre.

    Diz-se que imanifesto, inimaginvel e imutvel. Portanto, conhecendo-o

    como tal, tu no deves lamentar.

    No Nos Devemo s Lamentar Pelo Perecvel no

    Bhagavad Gita

    Mesmo que tu penses que o eu nasce e morre perpetuamente, ainda assim,

    Poderoso, no deves lamentar.

    Pois para quem nasce, a morte certa e certo o nascimento para

    quem morreu. Pelo que inevitvel, portanto, no te deves lamentar.

    Os seres so imanifestos em seus incios, manifestos no meio e

    novamente imanifestos em seus fins. Arjuna, que existe nisto para

    lamentar?

    H quem O veja como uma maravilha, outro fala d'Ele como uma

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    maravilha, outro ouve falar d'Ele como uma maravilha, e mesmo depois de

    ouvir, ningum O conheceu.

    O morador no corpo de todos, Arjuna, eterno e jamais podeser morto; portanto, no te deves lamentar por criatura alguma.

    As Caractersticas do Sbio Perfeito noBha gavad Gita

    Disse Arjuna:

    Qual a descrio do homem que possui essa sabedoria firmemente

    fundada, cujo ser firme em esprito, Krishna? Como fala

    o homem de inteligncia estabelecida, como se senta, como anda?

    O Senhor Bendito disse:

    Quando um homem pe de lado todos os desejos de sua mente,

    Arjuna, e quando seu esprito est contente em si prprio, ento se chama

    estvel em inteligncia.

    Aquele cuja mente no se perturba em meio s tristezas e est

    livre do desejo ansioso entre prazeres, aquele de quem a paixo, medo

    e raiva se afastaram, a este se chama um sbio de inteligncia estabelecida.

    Aquele que no tem afeio em qualquer lado, que no se rejubila ou detesta

    ao ter o bem ou o mal, tem uma inteligncia firmemente estabelecida nasabedoria.

    Aquele que retira os sentidos dos objetos do sentido em todos os

    lados, assim como uma tartaruga recolhe seus membros ao casco, tem

    uma inteligncia firmemente estabelecida na sabedoria.

    Os objetos do sentido se afastam da alma corporificada que se

    abstm de alimentar-se deles, mas o gosto por eles continua. At

    mesmo o gosto se afasta quando o Supremo visto.

    Embora um homem possa esforar-se pela perfeio e mostrar-se

    dono de discernimento, Filho de Kunti, seus sentidos impetuosos

    arrastaro sua mente fora.

    Tendo posto todos os sentidos sob controle, ele deve permanecer

    firme no intento Yoga em Mim, pois aquele cujos sentidos se acham

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    sob controle teia uma inteligncia firmemente estabelecida.

    Quando, em sua mente, um homem presta ateno aos objetos do

    sentido, produz-se sua ligao aos mesmos.Dessa ligao surge o desejo, e do desejo vem a raiva.

    Da raiva nasce a confuso, e desta a perda de memria; dessa

    perda de memria vem a destruio da inteligncia e desta ele perece.

    Um homem de mente disciplinada, no entanto, que se move entre

    os objetos de sentido com os sentidos sob controle e livre de ligao

    e averso, atinge a pureza de esprito.

    E nessa pureza de esprito produz-se para ele um fim de toda

    tristeza; a inteligncia de um homem de esprito puro assim logo se

    estabelece na paz do eu.

    No existe inteligncia para os incontrolados, nem tampouco para

    os incontrolados existe o poder de concentrao, enquanto para aquele

    que no tem concentrao no h paz, e como pode haver felicidade

    para quem no tem paz?

    Quando a mente persegue os sentidos nmades, leva consigo a

    compreenso, assim como o vento impele um navio sobre as guas.

    Aquele cujos sentidos estejam retirados de seus objetos, portanto,

    Poderoso, tem sua inteligncia firmemente estabelecida.

    O que noite para todos os seres o momento de despertar para

    a alma disciplinada, e o que momento de despertar para todos os

    seres a noite para o sbio que v.

    Aquele em quem todos os desejos entram como guas no mar e

    que, embora sendo sempre enchido, est sempre em movimento, atinge a

    paz e no Aquele que se abraa a seus desejos.

    Aquele que abandona todos os desejos e age livremente da saudade ou

    desejo, sem qualquer sentido de propriedade egosta ou egosmo, atinge a

    paz.

    Esse o estado divino, Arjuna, onde tendo chegado no h

    mais confuso e fixo nesse estado, na hora da morte, pode-se alcanar a

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    ventura de Deus.

    A busca ideal no Budismo Indiano no

    M ojjhima N ikaya

    Quando estais reunidos, monges, de duas coisas uma podeis fazer: seja

    falar do dhamma, ou guardar o silncio nobre. Estas, monges, so as duas

    buscas: a busca nobre e a busca no-nobre. Em que consiste a busca no-

    nobre? Tomai o caso de um homem que, sujeito ao nascimento, devido ao

    eu, busca o que igualmente sujeito ao nascimento: uma mulher e filhos,

    escravos de ambos os sexos, ovelhas, cabras, galos e porcos, elefantes, gado,

    cavalos e gua, ouro e prata; e que, sujeito velhice, ao declnio, morte,

    dor, impureza, sempre devido ao eu, busca o que est igualmente sujeito a

    estes estados [enumerao como esta acima, exceto o ouro e a prata que so

    omitidos dos casos de declnio, de morte, e de dor]. Eis a a busca no-

    nobre. E qual, , ento, a busca nobre? Neste caso um homem sujeito ao

    nascimento devido ao eu, mas tendo percebido o perigo no que igualmente

    sujeito ao nascimento, busca o no-nascido, a mais absoluta segurana

    contra a escravido, o nirvana. Um homem, sujeito velhice devido ao

    eu...busca o que no envelhece, a mais absoluta segurana contra a

    escravido, o nirvana. Um homem sujeito, dor devido ao eu... busca o queno conhece a dor, a mais absoluta segurana contra a escravido, o nirvana.

    Um homem sujeito impureza devido ao eu, tendo visto o perigo no que

    igualmente sujeito impureza, busca imaculado, a mais absoluta

    segurana contra a escravido, o nirvana. Eis a a busca nobre.

    Eu tambm, monges, antes do meu total despertar, quando era ainda

    bodhisatta, no totalmente desperto, e pelo fato de que estava sujeito ao

    nascimento, devido ao eu, buscava o que estava igualmente sujeito ao

    nascimento, etc. Veio-me esta ideia: Por que, sujeito ao nascimento devido

    ao eu, busco o que igualmente sujeito ao nascimento?.. etc. Se [sendo]

    sujeito ao nascimento devido ao eu, tendo percebido o perigo no que

    igualmente sujeito ao nascimento, buscasse o no nascido, a segurana

    absoluta contra a escravido, o nirvana; E se, sujeito velhice, morte,

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    dor, impureza devido ao eu, tendo percebido o perigo no que est

    igualmente sujeito a estes estados, eu buscasse o que sem velhice, sem

    morte, sem dor, sem mcula, a segurana absoluta contra a escravido, onirvana?

    Ento abandonei meu lar para viver sem lar, em busca do que bom,

    buscando a incomparvel vereda da paz. Eu me dirigi primeiro para junto de

    Alra Klma, depois para Uddaka Rmaputta; mas do dhamma e da

    disciplina destes dois [mestres] compreendi o seguinte: este dhamma no

    conduz indiferena, impassibilidade, cessao, tranquilidade, ao

    conhecimento superior, ao despertar, ao nirvana, mas somente com Alra,

    at o plano de aniquilamento do eu; com Uddaka, at o plano de nem

    percepo nem no percepo. Ento, buscando o que bom, buscando a

    incomparvel vereda da paz, e percorrendo a p o Magadha, terminei por

    chegar a Uruvel, a Povoao do Campo. Ali eu vi uma deliciosa extenso de

    terreno plano, um bosque encantador, um rio que corria com guas bem

    claras; no muito longe havia uma aldeia onde era possvel viver. Pensei: a

    um jovem que est resolvido a fazer esforos, que mais necessitaria para seus

    esforos? Sentei-me, pois, ali, achando o local conveniente para meus

    esforos. Ento, monges, sujeito ao nascimento devido ao eu, tendopercebido o perigo no que est igualmente sujeito ao nascimento, e

    procurando o no-nascido, a segurana absoluta contra a escravido, o

    nirvana, encontrei meu caminho at o no nascido, at a segurana absoluta

    contra a escravido, o nirvana... procurando o que no envelhece... o que

    no morre... o que sem dor... encontrei meu caminho at o que no

    conhece nem velhice, nem morte, nem dor. Ento sujeito impureza devido

    ao eu, tenho percebido o perigo no que est igualmente sujeito impureza,

    buscando o imaculado, a segurana absoluta contra a escravido, o nirvana,

    consegui o imaculado, a segurana absoluta contra a escravido, o nirvana.

    Conhecimento e viso surgiram em mim: inabalvel minha liberdade, este

    meu ltimo nascimento, no mais existe novo porvir.

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    Com o atingir a iluminao

    , no M ojjhima N ikaya

    Prncipe, existem cinco fatores de esforo. Quais so? Eis um religioso de fno Despertar do Descobridor da Verdade; ele pensa: "Em verdade, este

    senhor um Perfeito, um totalmente Desperto, dotado de saber e da boa

    conduta, caminhando no bem, conhecendo os mundos, incomparvel,

    condutor dos homens que devem ser domados, mestre dos devas e dos

    homens, o Desperto, o Senhor". O religioso sem doenas, sem

    indisposies; dotado de uma boa digesto que no fria nem muito

    aquecida, mas mdia, favorvel aos esforos. Ele no nem velhaco nem

    enganador, mostra-se tal como verdadeiramente a seu mestre ou a um

    companheiro inteligente no caminhar com Brahma. Segue seu caminho

    empregando energia para afastar os maus estados e para estabelecer bons;

    fiel, poderoso no esforo, perseverante na busca dos estados que so bons.

    Chega a ser sbio, dotado de uma sabedoria que nobre, do discernimento

    no que concerne origem e ao trmino, e isto leva destruio completa de

    todo o mal. Tais so, prncipe, os cinco fatores do esforo. Dotado destes

    cinco fatores do esforo, o religioso que toma o Descobridor da Verdade por

    guia, que compreendeu pelo seu saber superior este fim supremo do

    Caminhar com Brahma, para o qual os jovens tm razo de abandonar o lare de se tomarem sem lar, este religioso, afirmo, pode caminhar para o seu

    objetivo.

    A Sabedoria noM ilinda Panha

    Nagasena, quais so as caractersticas da sabedoria?

    A ciso, qual j me referi, e a iluminao.

    Como?

    A sabedoria dissipa as trevas da ignorncia, produz a clareza da cincia,

    faz brilhar a luz do conhecimento, revela as santas verdades. Por ela o asceta

    adquire o perfeito entendimento da impermanncia, da dor e da

    impersonalidade.

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    D uma comparao.

    Se entrarmos em uma casa com uma luz acesa, a luz dissipando as trevas

    produz a claridade no interior da casa, de forma que se mostram as coisasque esto l. Assim procede a sabedoria.

    [...]

    Nagasena, esses estados de alma diversos produzem um mesmo

    resultado? Sim, todos tm por objetivo destruir as paixes.

    Como assim? D um exemplo.

    Assim como os diversos elementos de um exrcito concorrem para um sresultado, a derrota do inimigo, do mesmo modo os diferentes estados de

    alma tm um nico objetivo: a destruio das paixes.

    [...]

    Nagasena, quem renasce? A mesma pessoa ou outra?

    Nem a mesma pessoa, nem outra. D-me uma comparao.

    Quando criana frgil, eras como hoje, que ests grande?

    No, Venervel. Eu era outra pessoa.

    Sendo assim, no tens nem pai, nem me, nem preceptor. No pudeste

    aprender as artes, adquirir virtudes, sabedoria! Haver pois uma me para

    cada fase do embrio, uma me para a criana, outra para o homem feito.

    Quem se instrui uma pessoa, quem se instrui outra. Um o autor do

    crime, outro o indivduo a quem se cortam as mos e os ps.

    De modo nenhum, Venervel. E tu que dizes?

    J fui criana e agora sou homem, eu mesmo.

    O ser humano, em suas diversas fases, tem sua unidade no corpo.

    D uma comparao.

    Quando se acende um facho, este pode queimar a noite inteira?

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    De certo.

    E a chama da ltima noite a mesma da segunda, esta a mesma da

    primeira?No.

    H ento um facho diferente em cada noite?

    No, o mesmo facho queimou a noite inteira.

    Assim, Maharaj, o encadeamento dos Kharmas contnuo. Um surge,

    quando o outro desaparece. De algum modo, no h nem antecedente, nem

    consequente. Portanto, no o mesmo, nem o outro, que acusa o ltimo ato

    de conscincia.

    D outro exemplo.Quando o leite transforma-se em coalhada, manteiga fresca, depois

    manteiga refinada, pode-se dizer que o leite fresco o mesmo que a

    manteiga ou a manteiga refinada?

    No, mas todos procedem do mesmo leite.

  • 7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno

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    China

    O Cu como fundam ento de tudo

    Mem rias da Cultura Liji)

    Portanto a li baseia-se no Cu, padroniza-se na Terra, trata do culto aos

    espritos e estende-se aos rituais e cerimnias fnebres, sacrifcios em honra

    aos ancestrais, arco e flecha, conduo de veculos, investidura, npcias, e

    audincias na corte ou troca de visitas diplomticas. Por isto o Sbio

    apresenta ao povo o princpio de uma ordem social racionalizada e atravs

    dele todas as coisas vo bem no seio da famlia, na cidade e no mundo. [...]

    A criatura humana produto das foras do cu e da terra, da unio dos

    princpios yin e yang, encarnao da substncia e da essncia dos cinco

    elementos (metal, madeira, gua, fogo e terra). Por isso a criatura humana

    o centro do universo resultante mxima dos cinco elementos, criada para

    fruir alimento, cor e som. [...]

    O culto ao Cu tem por fim reconhecer os supremos desgnios celestes. O

    culto ao deus terrestre tem por fim demonstrar a produtividade da terra. O

    culto no templo ancestral tem por fim patentear a linhagem do homem. O

    culto s montanhas e aos rios tem por fim atender aos diferentes espritos.

    Os cinco sacrifcios tm por fim celebrar as atividades humanas. Para isto h

    Sacerdotes no templo. Trs Altos Ministros na corte, trs Superiores no

    colgio. O arauto coloca-se em p adiante do rei, o historiador oficial em p

    atrs do rei, ao passo que o sacerdote incumbido dos orculos e o mestre de

    msica e seus assistentes colocam-se sua direita e sua esquerda; o

    soberano fica ao centro, sentado, com o corao tranquilo - guardio (ousmbolo) da suprema perfeio de todas as coisas.

    Quando se observa Li [princpios culturais] no culto ao Cu, os vrios

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    deuses atendem s respectivas atribuies. Quando se observa Li no culto a

    Terra, os bens terrenos crescem e se multiplicam. Quando se observa Li no

    templo ancestral, a afeio e a piedade filiais prevalecem. Quando se observaLi nos cinco sacrifcios, as medidas padres so estabelecidas. Portanto o

    culto ao Cu, Terra, aos antepassados, s montanhas e aos rios, e os cinco

    sacrifcios, visam preservar as condies da existncia humana e constituem

    a configurao de Li.

    Li tem sua origem na Taiyi (Unidade Primeira), que se dividiu em Cu e

    Terra, transformando-se em yin e yang, atuando atravs das estaes do ano

    e tomando forma segundo os diferentes espritos. A vontade dos deuses

    manifesta-se como destino, sob controle do Cu.

    Assim deve Li ter o Cu por fundamento, exerce na Terra a sua ao e

    aplica-se s diferentes atividades humanas, mudando de acordo com as

    estaes do ano e os vrios ofcios. No ser humano, Li surge como princpio

    vital e manifesta-se no trabalho, no comrcio, no convvio social, no comer e

    no beber, na cerimnia da "investidura" do que atinge maioridade, no

    casamento, nos funerais e nos sacrifcios aos mortos, na carreira das armas,

    na conduo de veculos, e nas audincias em palcio.

    Os ditames de Li constituem, portanto, os princpios fundamentais da vida

    humana, servindo para promover a confiana mtua e a harmonia social,

    fortalecendo as ligaes sociais e os laos de amizade; constituem os

    princpios fundamentais do culto aos espritos, da subsistncia dos vivos e

    das oferendas aos mortos. Li um vasto canal atravs do qual seguimos os

    desgnios do Cu e conduzimos ao bem as expresses do corao humano.

    Por isto, somente o Sbio reconhece que Li indispensvel. Para destruir um

    reino, arruinar uma famlia ou perder um homem - o que tendes a fazer em

    primeiro lugar extirpar-lhes o senso de Li.

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    O poder das foras espirituais

    A Justa Medida Zhong Yong)

    Confcio observou - "O poder das foras espirituais no Universo - como sefaz sentir por toda a parte! invisvel aos olhos, e impalpvel aos sentidos,

    inerente a todas as coisas e nada escapa sua influncia".

    fato que existem essas foras que fazem com que os homens de todos os

    pases jejuem e se purifiquem e com solenidade de roupas instituam servios

    de sacrifcio e de adorao religiosa. Tal como o mpeto das guas poderosas,

    a presena dos Poderes invisveis se faz sentir; algumas vezes sobre ns,

    outras ao redor de ns.

    Diz o "Livro dos Cnticos":

    "A presena do Esprito: No pode ser imaginada sem fundamento, como

    ento pode ser ignorada!"

    Tal a evidncia das coisas invisveis que impossvel duvidar da natureza

    espiritual do homem.

    A busca da natureza essencial no

    Wen zi

    Laozi disse:

    Quando as pessoas perdem sua natureza essencial por seguir desejos, as suas

    aes nunca so corretas. Governar uma nao dessa maneira resulta em

    caos; governar a si mesmo deste modo resulta em decadncia.

    Portanto aqueles que no ouvem o Caminho no tm meios de retornar

    sua natureza essencial. Aqueles que no compreendem as coisas no podem

    ser claros e calmos.

    A natureza essencial do ser humano original no tem perverso ou

    degenerao, mas depois de uma longa imerso em coisas ela muda

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    facilmente; assim ns esquecemos nossas razes e nos adaptamos natureza

    aparente.

    A natureza essencial da gua gosta de claridade, mas o cascalho a polui. A

    natureza essencial da humanidade gosta de paz, mas os desejos habituais a

    danificam. S os sbios podem deixar as coisas e voltar ao ser interior.

    Portanto os sbios no usam o conhecimento para explorar as coisas e no

    deixam os desejos romperem a harmonia. Quando esto felizes no ficam

    eufricos, e quando sofrem no ficam irremediavelmente abalados. Assim,

    eles no esto em perigo mesmo quando em posies elevadas; esto seguros

    e estveis.

    Desse modo o planejamento imediato ao ouvir boas palavras algo que

    mesmo o ignorante sabe o suficiente para admirar; a ao elevada de acordo

    com as virtudes dos sbios algo que mesmo aquele que no digno

    conhece o suficiente para olhar com satisfao.

    Mas enquanto aqueles que admiram isso so muitos, os que o aplicam so

    poucos; e enquanto aqueles que olham isso com satisfao so numerosos,

    os que o pem em prtica so raros. A razo disso que eles se agarram scoisas e esto atados ao que mundano.

    Por isso se diz: Quando eu no planifico nada, as pessoas evoluem por si.

    Quando eu no me esforo por nada, as pessoas prosperam por si. Quando

    eu gozo de tranquilidade, as pessoas corrigem a si mesmas. Quando no

    tenho desejos, as pessoas so naturalmente sinceras.

    A clara serenidade a realizao da virtude. A tolerncia flexvel a funo

    do Caminho. A calma vazia o ancestral de todos os seres. Quando esses trs

    so postos em prtica, voc entra na condio do que no tem forma. A

    condio do que no tem forma significa unidade; unidade significa unir-se

    com o mundo sem preocupaes.

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    Aprendendo a viver no

    Zhuan gzi

    Zixi, de Nanpo, estava viajando pela colina de Shang quando viu umaenorme rvore que muito o surpreendeu. Mil carros com quatro animais

    atrelados poderiam abrigar-se sob sua sombra.

    - "Que rvore essa?" Exclamou Zixi. "Certamente h de ser de finssima

    madeira". Em seguida olhando para cima, viu que seus galhos eram tortos

    demais para fazer vigas; e olhando para baixo verificou que a madeira era

    muito cheia de ns, o que a tornava imprestvel para fazer atade. Provou

    uma das folhas e pensou que lhe tinham arrancado a pele dos lbios; e o

    odor era to forte que bastaria para intoxicar um homem durante trs dias

    seguidos.

    - "Ah!" Disse Zixi, "essa rvore realmente no serve para nada e foi por isso

    que chegou at essa idade. Um homem de esprito bem pode seguir seu

    exemplo de inutilidade".

    Desprendiment no

    Zhuan gzi

    Uma vez, Zhuang zi pescava no rio Pu, quando o prncipe Chu mandou dois

    altos funcionrios convid-lo para assumir um cargo de administrador do

    estado Chu. Zhuang zi continuou pescando, e sem virar a cabea disse: ouvi

    falar que h uma tartaruga sagrada que morreu h mais de trs mil anos, e

    que o monarca a guarda cuidadosamente num cofre no altar de seus

    ancestrais. Para essa tartaruga seria melhor estar morta e ver seu restos

    venerados ou estar viva e arrastar a cauda na lama? seria melhor estar viva e

    arrastando sua cauda na lama, responderam os dois. Ento, gritou Zhuang

    zi: saiam! Eu tambm irei arrastar minha cauda na lama..

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    O que a mente?

    Lankavatara sutra Bu dismo Chins)

    Ento Mahamati disse ao Santificado:Abenoado suplicamos te que nos digas: o que se entende por mente

    (citta)?

    O Santificado respondeu:

    Todas as coisas deste mundo, sejam elas aparentemente boas ou ruins,

    defeituosas ou sem defeito, produtoras de efeito ou no produtoras de efeito,

    receptivas ou no receptivas, podem ser divididas em duas classes: as ms

    emanaes e as boas no emanaes. Os cinco elementos do apego que

    compem os agregados da personalidade, denominados, forma, sensao,

    percepo, discriminao, e conscincia, e que se imagina ser bom ou ruim,

    tm o seu aparecimento na energia do hbito do sistema mental, so as ms

    emanaes da vida. As realizaes espirituais e as alegrias dos Samadhis e a

    frutificao dos Samapatis inerente ao sbio, atravs da sua auto realizao

    da Sabedoria Nobre e que culmina no seu regresso e participao nas

    relaes do mundo triplo, so chamadas as boas no emanaes.

    O sistema mental que a fonte das ms emanaes, consiste nos rgos dos

    cinco sentidos e da sua acompanhante, a mente dos sentidos (Vijnanas),sendo todos eles unificados na mente discriminativa (manovijnana). H

    uma sucesso interminvel de conceitos sensoriais que fluem nesta

    discriminao ou mente pensante, que os combinam, os separam e os

    julgam pela sua bondade ou maldade. Ento segue-se a averso ou o desejo

    deles, para o apego e a ao; e assim os movimentos do sistema completo,

    movem-se contnua e firmemente unidos. Mas fracassa em ver e entender,

    que o que v, discrimina e se apega s uma manifestao da sua prpria

    atividade e que no tm qualquer fundamento, e assim a mente vai

    percebendo erradamente, separando diferenas de formas e qualidades, sem

    permanecer calma e uniforme durante um minuto.

    No sistema mental distinguem-se trs modelos de atividade: as mentes

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    sensoriais que funcionam enquanto permanecem na sua natureza original,

    as mentes sensoriais como produtoras de efeitos, e as mentes sensoriais

    como desenvolvimento.

    No seu normal funcionamento, as mentes sensoriais apegam-se aos

    elementos apropriados do seu mundo externo, pelo qual, a sensao e a

    percepo surgem imediatamente e por extenso, em todos os rgos e em

    todas as mentes sensoriais, nos poros da pele, e at mesmo nos tomos que

    compem o corpo; pelo qual o campo inteiro apreendido como um

    espelho que reflete objetos, e no percebendo que o prprio mundo externo

    s uma manifestao de mente.

    O segundo modelo de atividade, produz efeitos pelos quais estas sensaes

    reagem na mente discriminativa, produzindo percepes, atraes, averses,

    apegos, aes e hbitos.

    O terceiro modelo de atividade, tem que ver com o crescimento,

    desenvolvimento e transcurso do sistema mental, quer dizer, o sistema

    mental est sujeito sua prpria energia do hbito acumulada desde o

    tempo sem princpio, como por exemplo: o "olhar" no olhar que predispeao apego e que se prende a mltiplas formas e aparncias. Deste modo as

    atividades do sistema mental evoluindo por causa da sua energia do hbito

    incita as ondas da objetividade, diante da Mente Universal, o qual uma aps

    outra, condicionam as atividades e o desenvolvimento do sistema mental.

    Aparncia, percepo, atrao, apego, ao, hbito, reao, condicionam-se

    uns aos outros incessantemente, e assim o funcionamento das mentes

    sensoriais, a mente discriminativa e a Mente Universal, so desta forma

    entrelaadas. Assim, por causa desta discriminao que por natureza como

    Maya, a falsa imaginao irreal e o raciocnio errneo acontecem, a ao

    progride e a sua energia do hbito acumula-se, poluindo atravs disso a face

    pura da Mente Universal, e como consequncia o sistema mental entra em

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    funcionamento e o corpo fsico tem a sua gnese. Mas a mente

    discriminativa no pensa que pelas suas discriminaes e apegos est

    condicionando todo o corpo e assim as mentes sensoriais e a mentediscriminativa vo-se mutuamente relacionando e mutuamente

    condicionam-se de uma forma cada vez mais ntima e construindo um

    mundo de relaes fora das atividades da sua prpria imaginao. Como um

    espelho que reflete as formas, os sentidos da percepo, percebem as

    aparncias que a mente discriminativa conjuntamente recolhe, e procede

    discriminao, nomeando as (dando-lhes nomes) e pegando-se a elas. Entre

    estas duas funes no h nenhum espao, no obstante, elas surgem

    mutuamente condicionantes.

    Os sentidos da percepo apegam-se ao que eles tm afinidade, e h uma

    transformao que tem lugar na sua estrutura pelo qual a mente tem como

    resultado; combinar, discriminar, notificar, e atuar; ento prosseguir na sua

    energia do hbito institucionalizando a mente e a sua continuidade.

    A mina de onde extrada a discriminao, devido sua capacidade para

    discriminar, julgar, selecionar e argumentar sobre, tambm chamada a

    mente pensante, ou a mente intelectual.

    H trs divises da sua atividade mental: o pensamento que funciona em

    relao ao apego a objetos e ideias, o pensamento que funciona em relao a

    ideias gerais, e o pensamento que examina a validade destas ideias gerais.

    O pensamento que funciona em relao ao apego, a objetos e ideias

    derivadas da discriminao, separa a mente dos seus processos mentais e

    aceita as suas ideias como sendo reais e apega-se a elas. Chega-se assim a

    uma variedade de falsos julgamentos sobre multiplicidade, individualidade,

    valor, etc., e um forte apego toma lugar, o qual perpetuado pela energia do

    hbito e assim a discriminao vai-se afirmando a ela mesma.

    Estes processos mentais, do origem a concepes gerais de calor, fluidez,

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    mobilidade e solidez, como caracterizando os objetos de discriminao,

    enquanto a tenaz sustentao para estas ideias gerais, d origem

    proposio, razo, definio e ilustrao, todos os quais conduzem safirmaes de conhecimento relativo e ao estabelecimento da confiana no

    nascimento, natureza prpria, e um eu alma.

    Por pensamento como uma funo examinadora, significa o ato intelectual

    de examinar essas concluses gerais sobre a sua validade, significao, e

    veracidade. Esta a faculdade que conduz ao entendimento, conhecimento

    correto e aponta o caminho auto realizao.

    O sistema mental no

    Lankavatara sutra Budismo Chins)

    Ento Mahamati disse ao Santificado:

    Abenoado imploramos-te que nos fales sobre a Mente Universal e a sua

    relao com o sistema mental inferior.

    O Santificado respondeu:

    As mentes sensoriais e a sua mente discriminativa, esto relacionadas com o

    mundo externo, que uma manifestao de si mesmo e dado a perceber,discriminar, e apegar-se s suas aparncias, da mesma forma que Maya. A

    Mente Universal (Alaya Vijnana) transcende toda a individualizao e

    limites. A Mente Universal completamente pura na sua natureza essencial,

    conservando-se inalterada e livre de faltas de impermanncia, imperturbvel

    pelo egosmo, livre de emoes, agitaes ou tenses nervosas, distines,

    desejos ou averses.

    A Mente Universal como um grande oceano, a sua superfcie agitada por

    ondas e pelo aumento repentino destas, mas as suas profundezas

    permanecem sempre impassveis. Em si mesma destituda de

    personalidade e de tudo aquilo que a esta pertence, mas por causa da

    constante poluio, a sua face como um ator que representa uma variedade

  • 7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno

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    de papeis entre os quais, uma mutua funo toma lugar e o sistema mental

    nasce. O princpio do pensamento torna-se dividido e as funes mentais da

    mente, as ms emanaes da mente, assumem a individualidade. Os setepassos graduais da mente aparecem: isto , auto realizao intuitiva,

    pensamento desejo discriminativo, vista, ouvido, gosto, cheiro, tacto, e todas

    as suas interaes e reaes levam ao seu aumento.

    A mente discriminativa a causa das mentes sensoriais e quem as mantm,

    quem com elas preserva o seu funcionamento como descrito e torna-se presa

    ao mundo dos objetos, e por onde atravs da sua energia do hbito a Mente

    Universal se conspurca. Assim a Mente Universal torna-se o armazm e o

    rgo centralizador de todos os produtos acumulados do processo do

    pensamento e da ao desde o tempo sem principio.

    Entre a Mente Universal e a mente discriminativa individual est a mente

    intuitiva (manas) que dependente da Mente Universal para as sua causas e

    manuteno, e na relao com ambas. Participa da universalidade da Mente

    Universal, compartilha a sua pureza, e como ela, est alm da forma e dos

    momentos fugazes. pela mente intuitiva que a m emanao emerge,

    manifestado e percebido.

    Afortunadamente essa intuio no momentnea, porque se o

    esclarecimento que vem da intuio fosse momentneo, o sbio perderia a

    sua "sabedoria", coisa que no acontece. Mas a mente intuitiva entra em

    relaes com o sistema mental, compartilha as suas experincias e reflete-se

    nas suas atividades.

    A mente intuitiva una com a Mente Universal por causa da sua

    participao na Inteligncia Transcendental (Arya jnana), e una com o

    sistema mental pela sua compreenso do conhecimento diferenciado

    (Vijnana). A mente intuitiva no tem corpo prprio, nem qualquer sinal

    pela qual possa ser diferenciada. A Mente Universal a sua causa e suporte,

    mas ela evolu juntamente com a noo de um eu e o que a ele pertence, ao

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    qual se agarra e no qual se reflete. Pela mente intuitiva, pela faculdade de

    intuio, que um entrosamento de identidade e percepo, a inconcebvel

    sabedoria da Mente Universal revelada e realizvel.Como a Mente Universal ela no pode ser a fonte do erro.

    A mente discriminativa uma danarina e um mgico com a atualidade do

    mundo objetivo. A menteintuitiva a sbia boba da corte que viaja com o

    mgico e reflete a sua vacuidade e fugacidade. A Mente Universal mantm o

    registro e sabe o que deve e o que pode ser. por causa das atividades da

    mente discriminativa que o erro surge e o mundo objetivo evolui e o reino

    de um ego alma estabelecido. Quando a mente discriminativa poder

    adquirir liberdade, todo o sistema mental deixar de funcionar e a Mente

    Universal permanecer s. A aquisio de liberdade por parte da mente

    discriminativa, remover a causa de todo o erro.

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    Japo

    Aforismos do Xintosmo

    1. A harmonia para ser prezada, e deve-se honrar toda absteno de

    oposio agressiva.

    2. Todos os homens so influenciados pelo preconceito de classe, e s uns

    poucos so inteligentes.

    3. Quando os de cima esto em harmonia com os debaixo e h concrdia na

    discusso dos negcios, concesso amigos, seguem-se opinies acertadas.4. Poucos so os homens extremamente maus.

    5. Quando receberes as ordens imperiais, no deixes e obedec-las

    escrupulosamente.

    6. O Cu o senhor, e a Terra o vassalo. O Cu sustm e a Terra sustenta. Se

    a Terra tentasse superar e difundir-se, o Cu simplesmente cairia em runas.

    7. Os ministros e funcionrios devem fazer da conduta decorosa o seu

    princpio normativo. Se os superiores no se comportam com decoro, os

    inferiores agiro desordenadamente, e s os inferiores agem

    desordenadamente, logo surgem os agravos.

    8. Queixas do povo h milhares num s dia. Se h tantas num s dia,

    quantas no havero no decurso de vrios anos?

    9. Se o juiz faz do ganho o seu escopo, e julga causas visando receber peitas,

    as queixas dos pobres se assemelharo a gua cada sobre uma pedra.

    10. Castigar os maus e estimular os bons: eis uma excelente regra da

    antiguidade.

    11. No escondas as boas qualidades dos demais, e no deixes de corrigir o

    que achares errado.12. Os bajuladores e os impostores so armas aguadas que solapam a

    Nao, e espadas voltadas contra o povo.

    13. Os bajuladores gostam de delatar aos seus superiores os erros de seus

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    inferiores, e aos seus inferiores criticam as falhas de seus superiores. desses

    que nasce uma guerra civil.

    14. Quando aos sbios se confiam cargos ouve-se o rumor dos louvores.15. Neste mundo poucos so os que nascem com conhecimento: a sabedoria

    produto da ardente meditao.

    16. Para todas as coisas, grandes ou pequenas, cumpre descobrir o homem

    certo, e elas sero bem administradas.

    17. Os sbios soberanos da antiguidade buscavam homens para ocupar os

    cargos, e no cargos para atender os homens.

    18. Os negcios do Estado no admitem lassido, e o dia todo mal basta para

    lev-los a cabo.

    19. A boa f o fundamento dos justos.

    20. Se o senhor e o vassalo agem de boa f entre si, que podero conseguir

    ambos?

    21. Cessemos com o rancor e evitemos olhares maliciosos.

    22. No te ressintas se algum discorda de ti.

    23. Todos os homens tm coraes, e cada corao tem sua prpria

    inclinao.

    24. Ns no somos incontestvelmente sbios; eles no so

    incontestvelmente tolos.25. Como se pode estabelecer uma norma para distinguir o certo do errado?

    26. . Embora apenas ns estejamos com a razo, acompanhemos a maioria e

    procedamos como ela.

    27. Fazei clara apreciao do mrito e demrito, e ministrai a cada um sua

    exata recompensa ou punio.

    28. No pode haver dois soberanos num mesmo pas; no se pode pedir ao

    povo que sirva a dois senhores.

    29. Se ns invejamos outros, eles por sua vez nos invejaro: o mal da inveja

    no conhece limites.

    30. No com prazer que vemos outros nos superarem em inteligncia.

    31. No seno aps um lapso de quinhentos anos que deparamos com um

    homem sbio, e depois de mil anos que conseguimos um gnio.

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    32. Volver as costas para o que particular e o rosto para o que pblico, eis

    o dever de um ministro.

    33. Decises sobre assuntos importantes no devem ser tomadas por umapessoa somente.

    34. O cu e o inferno provm de nosso prprio corao.

    35. Se em nosso corao h uma serpente, ento no convertemos numa

    serpente.

    36. Todos os homens so irmos; todos recebem as bnos do mesmo cu.

    37. Liberta-te da dvida e ters tua vida vivificada pela bondade de Deus.

    38. Com Deus no h dia nem noite, distante nem perto.

    39. A sinceridade a testemunha da Verdade.

    40. Com a sinceridade no se conhece fracasso.

    41. F equivale obedincia filial aos pais.

    42. Se a orao falha em ajudar-te a realizar teu propsito, que algo est

    faltando em tua sinceridade.

    43. No atraias sofrimento sobre ti, sendo indulgente no egosmo.

    44. No professes amor com os lbios enquanto que em teu corao abrigas

    dio,

    45. No se deve ser sensvel ao sofrimento em sua prpria vida, e negligente

    ao sofrimento na vida dos outros.46. Teu corpo no para teu bel- prazer.

    47. Nada em todo o mundo atrai tanta gratido como a sinceridade.

    48. Feliz o homem que cultiva as coisas ocultas e deixa que as visveis

    cuidem de si mesmas.

    49. Quando o corao de Amaterasu-Omi-Kami e os nossos coraes

    estiverem unificados, ento no haver coisa tal como morte.

    50. Em todo o mundo no existe coisa tal como estrangeiro.

    Koans do B udismo Japons

    Tanzan e Ekido certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta. Uma

    pesada chuva ainda caa, dificultando a caminhada. Chegando a uma curva,

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    eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono de seda e cinta,

    incapaz de cruzar a intercesso.

    "Venha, menina," disse Tanzan de imediato. Erguendo-a em seus braos, elea carregou atravessando o lamaal.

    Ekido no falou nada at aquela noite quando eles atingiram o alojamento

    do Templo. Ento ele no mais se conteve e disse:

    "Ns monges no nos aproximamos de mulheres," ele disse a Tanzan,

    "especialmente as jovens e belas. Isto perigoso. Por que fez aquilo?"

    "Eu deixei a garota l," disse Tanzan. "Voc ainda a est carregando?"

    Yamaoka Teshu, quando um jovem estudante Zen, visitou um mestre aps

    outro. Ele ento foi at Dokuon de Shokoku. Desejando mostrar o quanto j

    sabia, ele disse, vaidoso: "A mente, Buddha, e os seres sencientes, alm de

    tudo, no existem. A verdadeira natureza dos fenmenos vazia. No h

    realizao, nenhuma deluso, nenhum sbio, nenhuma mediocridade. No

    h o Dar e tampouco nada a receber!" Dokuon, que estava fumando

    pacientemente, nada disse. Subitamente ele acertou Yamaoka na cabea com

    seu longo cachimbo de bambu. Isto fez o jovem ficar muito irritado,

    gritando xingamentos. "Se nada existe," perguntou, calmo, Dokuon, "de

    onde veio toda esta sua raiva?"

    Um orgulhoso guerreiro chamado Nobushige foi at Hakuin, e perguntou-

    lhe: "Se existe um paraso e um inferno, onde esto?""Quem voc?"

    perguntou Hakuin."Eu sou um samurai!" o guerreiro exclamou."Voc, um

    guerreiro!" riu-se Hakuin. "Que espcie de governante teria tal

    guarda? Sua aparncia a de um mendigo!".

    Nobushige ficou to raivoso que comeou a desembainhar sua espada, mas

    Hakuin continuou: "Ento voc tem uma espada! Sua arma provavelmente

    est to cega que no cortar minha cabea..."

    O samurai retirou a espada num gesto rpido e avanou pronto para matar,

    gritando de dio.

    Neste momento Hakuin gritou:

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    "Acabaram de se abrir os Portais do Inferno!"

    Ao ouvir estas palavras, e percebendo a sabedoria do mestre, o samurai

    embainhou sua espada e fez-lhe uma profunda reverncia."Acabaram de se abrir os Portais do Paraso," disse suavemente Hakuin.

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    Tibete

    A V iagem n o alm, no Bardo Todol

    Recebeste o ensino de um sbio guru, iniciado no ministrio do Bardo?

    Se recebeste, no o esqueas e nem te distraias com outros pensamentos.

    Se for o mestre espiritual do moribundo ou do morto, deve dizer:

    Eu te transmiti o profundo ensinamento que recebi do meu mestre e, porseu intermdio, da longa linhagem dos gurus iniciados.

    No esqueas, no te deixes distrair por outros pensamentos. Conserva

    firmemente o esprito lcido.

    Se estiveres sofrendo, no te deixes absorver na sensao do teu sofrimento.

    Se ests sentindo um torpor repousante, no te engolfes em uma calma

    obscuridade, um enleio tranquilizante, No te entregues a isso. Permanece

    alerta.

    As conscincias conhecidas como (aqui o oficiante pronuncia o nome do

    moribundo), tendem a se dissipar. Mantm-nas unidas pela fora do Yid kyi

    nam - parshespa.

    Tuas conscincias separam-se do teu corpo, vo entrar no Bardo.

    Dirige um apelo tua energia, para v-las passarem pelo umbral com teu

    pleno conhecimento.

    Vai aparecer e envolver-te o claro fulgurante da Luz incolor e vazia, mais

    veloz do que o relmpago.

    No tenhas medo, no recues, no desmaies.

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    Mergulha nessa luz.

    Rejeitando a crena em um ego, qualquer apego tua ilusria personalidade,dissolve o No-Ser no Ser e l iberta-te.

    So poucos aqueles que, incapazes de atingir a Libertao, no decurso da sua

    existncia, alcanam-na neste momento, to fugaz que se pode dizer "sem

    durao". Os demais, pelo efeito do temor sentido como choque mortal,

    desmaiam.

    No momento em que o moribundo exala o ltimo suspiro, se o lama que o

    assiste j est habituado e dispe do necessrio poder, dir trs vezes Hick e

    depois uma s vez Phet.

    E continua (pronunciando o nome do moribundo)

    Ests despertando como se tivesses estado dormindo.

    Deixaste o corpo que animavas. Olha: ele jaz inerte.

    No deves sentir saudade. No deves sentir apego.

    No te demores ao lado daqueles que foram teus parentes e amigos.

    No insistas em lhes falar.

    Tua voz no tem sonoridade. Eles no te ouvem.

    No te demores em andar pelos campos, em mirar os objetos que te

    pertenceram. No podes mov-los. No podes lev-los contigo.

    Tu deixaste-os. Eles te deixaram.

    No insistas em renovar os teus laos. Abandona-os.

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    Estiveste sonhando com formas inconsistentes. Como no pudeste agarrar a

    Liberdade, no momento em que surgiu a Luz Realidade, continuars com os

    sonhos agradveis ou penosos. Mas no faltaro' as ocasies de adquirires oconhecimento.

    S vigilante, alerta.

    Agora, compreende: cada uma das conscincias que, reunidas, formam a tua

    pessoa, com base' no corpo fsico, que vai dissolver-se, continuar sua

    atividade prpria, at esgotar-se a energia engendrada pelos atos passados,

    que a mantm ativa.

    mediante essa atividade, que passa do teu corpo material ao teu mental,

    que surgem as vises em torno de ti. Pelos teus olhos, vem a conscincia das

    formas e das cores. Por isso, vs formas e cores. Pelos teus ouvidos, vem a

    conscincia dos sons e portanto ouves os sons. Pelo teu nariz, vem a

    conscincia dos odores e por isso tu sentes os cheiros. Por tua lngua, possuis

    a conscincia dos sabores e assim tu sentes os gostos. Por teu corpo, veio

    conscincia das sensaes e por isso possuis o tato. O teu esprito elaborou

    ideias, oriundas dessas conscincias, por isso tens ideias.

    Fica sabendo que se trata de alucinaes. Nenhum desses objetos real. So

    produtos das atividades das tuas conscincias anteriores.

    No te atemorizes. No te apegues.

    Olha-as, indiferente, sem averso, sem desejo. Se em tua existncia passada

    predominaram a pacincia, os pensamentos e atos caritativos, os esforos na

    prtica do. Bem, a tranquilidade de esprito; se no momento da tua morte

    formulaste votos de felicidade para todas as criaturas; se tuas aspiraes se

    dirigiram aos Budas e Bodisatvas, desejando te aproximares deles e

    participar da sua ao benfica; ento os Budas e Bodisatvas te aparecero,

    radiantes, em uma atmosfera azul claro, infinitamente luminosa.

    Apesar da brandura e do poder, eles te intimidaro. Isso, talvez, porque

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    apesar dos teus pensamentos e atividades virtuosas, tu no te assemelhaste

    substncia dos Budas e dos Bodisatvas.

    No cedas ao medo que sentires. No te desvies.

    No penses em fugir.

    Contempla calmo a viso que se apresenta. Acalma o teu medo.

    No cedas ao desejo.

    Confia em Vairochana, aquele que ilumina. Confia no imortal Dodji

    Semspa. Pela virtude da sua essncia, podes obter agora a Libertao.

    Mas tua atividade mental e material tambm manifestou-se por

    pensamentos de dio, de inveja, por atos de m vontade, de maldade,

    causadores de dor s criaturas.

    Alimentaste o desejo dos prazeres bestiais da luxria, aos quais tu te

    entregaste. Tu te afastaste do conhecimento. Tu te sentiste satisfeito na

    torpeza e na ignorncia. Agora ests rodeado das conscincias ativas nessas

    esferas. Tu no as reconheces nas formas em que elas te aparecem e que tu

    mesmo lhes ds. Sentes ento enorme terror.

    Eis as formas das divindades irritadas dos guardies do Umbral. Os seus

    inmero