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Pedido de Providências 238/2010 PROTOCOLO 0081543/2010 Requerente:- Otavio A. F. Neto Vistos, etc... OTAVIO ANTÔNIO FREIRE NETO, devidamente qualificado nos autos, ingressou com Pedido de Providências visando obter manifestação deste órgão sobre a ordem dirigida aos Oficiais de Registro de Imóveis, inserida no item 6.3.3 da CNGC, a qual recomenda-lhes fazer solicitação de certidão de legitimidade da origem da área ao Intermat se, por ocasião do registro, for verificada a ocorrência de fraude ou má-fé de terceiro na matrícula do bem. Em síntese afirma que o munus imposto aos tabeliães tem sido por eles transferido aos detentores de domínio, interessados no registro. E nesta circunstância em razão da grande burocracia imposta pelo INTERMAT têm ocorrido sérios problemas na averbação de áreas já georreferenciadas, causando grande prejuízo na fomentação da lavoura, em especial na safra 2010-2011.

Pedido de Providências 238/2010 PROTOCOLO 0081543/2010 ... · parcelamento ou remembramento de imóveis rurais, ... § 6o A certificação do memorial descritivo de glebas públicas

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Pedido de Providências 238/2010 PROTOCOLO 0081543/2010 Requerente:- Otavio A. F. Neto Vistos, etc... OTAVIO ANTÔNIO FREIRE NETO, devidamente

qualificado nos autos, ingressou com Pedido de Providências visando obter manifestação deste órgão sobre a ordem dirigida aos Oficiais de Registro de Imóveis, inserida no item 6.3.3 da CNGC, a qual recomenda-lhes fazer solicitação de certidão de legitimidade da origem da área ao Intermat se, por ocasião do registro, for verificada a ocorrência de fraude ou má-fé de terceiro na matrícula do bem.

Em síntese afirma que o munus imposto aos

tabeliães tem sido por eles transferido aos detentores de domínio, interessados no registro. E nesta circunstância em razão da grande burocracia imposta pelo INTERMAT têm ocorrido sérios problemas na averbação de áreas já georreferenciadas, causando grande prejuízo na fomentação da lavoura, em especial na safra 2010-2011.

Solicitadas informações aos cartorários do Estado

de Mato Grosso todos eles afirmam que a recomendação vem travestida de obrigação, para a qual eles não têm competência. Ela é do interessado no registro. Entre outros argumentos, dizem que se assim agirem estarão advogando para as partes o que é proibido pela Lei dos Notários. Foram juntadas substanciosas respostas subscritas pelos tabeliães de Canarana, Porto Esperidião, Poxoreo, Nova Xavantina, Itiquira, Nova Mutum, Novo São Joaquim, Colniza, Nova Canaã, Vila Rica, Lucas do Rio Verde, Cuiabá, Alto Araguaia, Comodoro, Alta Floresta, Água Boa, todos no mesmo diapasão. Manifestou-se, também, o Intermat para fazer juntada da portaria que regula a expedição de certidões naquele órgão.

Os autos foram encaminhados à ilustre juíza

auxiliar, Dra. Juanita C. Duarte, junto com um expediente encaminhado pelo Dr. Luis Alfredo, advogado militante em Brasília – DF, que faz uma reflexão sobre a recomendação e os seus efeitos ruins sempre a sobrecarregar aqueles interessados no registro de imóveis. Vieram-me os autos em conclusão.

É O RELATÓRIO. DECIDO.

O registro público brasileiro tem sofrido uma grande evolução desde o Tratado de Tordesilhas ao tempo da distribuição de terras originárias das sesmarias feudais. Não se nega a ligação forte que existe entre o homem e a sua localização sobre a terra, surgindo daí o interesse estatal na sua fixação ao solo. Os tempos atuais mostram que a Lei de Registro Público pretende dar ao imóvel uma feição personificada assim como ocorre com o próprio ser humano. Nesse prisma, a luta atual é no sentido de fazer desaparecer

todo e qualquer litígio sobre propriedade de modo que cada brasileiro disponha de um torrão individualizado livre e desembaraçado, questão ainda de difícil alcance.

No que respeita ao registro de imóvel a legislação

vem procurando aperfeiçoá-lo. Os pressupostos para o registro do título dominial preconizados no velho Código Civil foram mais aprimorados no estatuto vigente, embora os requisitos para o registro estejam inseridos na lei 6.015-73. Ela mesmo já sofreu recente modificação introduzida pela lei 10.267-01 que consignou como exigência do registro, a ser feita pelo tabelião, o georreferenciamento do imóvel. É o que se constata no art. 176, §1º e incisos da regra modificada, in verbis:

Art. 176 – O Livro nº 2 - Registro Geral - será destinado, à matrícula dos imóveis e ao registro ou averbação dos atos relacionados no art. 167 e não atribuídos ao Livro nº 3. (Renumerado do art. 173 com nova redação pela Lei nº 6.216, de 1975). II - são requisitos da matrícula: 1) o número de ordem, que seguirá ao infinito; 2) a data; 3) a identificação do imóvel, que será feita com indicação: (Redação dada pela Lei nº 10.267, de 2001). a - se rural, do código do imóvel, dos dados constantes do CCIR, da denominação e de suas características, confrontações, localização e área; (Incluída pela Lei nº 10.267, de 2001) b - se urbano, de suas características e confrontações, localização, área, logradouro, número e de sua designação cadastral, se houver. (Incluída pela Lei nº 10.267, de 2001) 4) o nome, domicílio e nacionalidade do proprietário, bem como: a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral da cédula de identidade, ou à falta deste, sua filiação; b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes do Ministério da Fazenda; 5) o número do registro anterior; III - são requisitos do registro no Livro nº 2: 1) a data; 2) o nome, domicílio e nacionalidade do transmitente, ou do devedor, e do adquirente, ou credor, bem como: a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a profissão e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral da cédula de identidade, ou, à falta deste, sua filiação; b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes do Ministério da Fazenda; 3) o título da transmissão ou do ônus; 4) a forma do título, sua procedência e caracterização; 5) o valor do contrato, da coisa ou da dívida, prazo desta, condições e mais especificações, inclusive os juros, se houver. § 2º Para a matrícula e registro das escrituras e partilhas, lavradas ou homologadas na vigência do Decreto nº 4.857, de 9 de novembro de 1939, não serão observadas as exigências deste artigo, devendo tais atos obedecer ao disposto na legislação

anterior . (Incluído pela Lei nº 6.688, de 1979). § 3o Nos casos de desmembramento, parcelamento ou remembramento de imóveis rurais, a identificação prevista na alínea a do item 3 do inciso II do § 1o será obtida a partir de memorial descritivo, assinado por profissional habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais, geo-referenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional a ser fixada pelo INCRA, garantida a isenção de custos financeiros aos proprietários de imóveis rurais cuja somatória da área não exceda a quatro módulos fiscais. (Incluído pela Lei nº 10.267, de 2001). § 4o A identificação de que trata o § 3o tornar-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fixados por ato do Poder Executivo. (Incluído pela Lei nº 10.267, de 2001) § 5º Nas hipóteses do § 3o, caberá ao Incra certificar que a poligonal objeto do memorial descritivo não se sobrepõe a nenhuma outra constante de seu cadastro georreferenciado e que o memorial atende às exigências técnicas, conforme ato normativo próprio. (Incluído pela Lei nº 11.952, de 2009) § 6o A certificação do memorial descritivo de glebas públicas será referente apenas ao seu perímetro originário. (Incluído pela Lei nº 11.952, de 2009) § 7o Não se exigirá, por ocasião da efetivação do registro do imóvel destacado de glebas públicas, a retificação do memorial descritivo da área remanescente, que somente ocorrerá a cada 3 (três) anos, contados a partir do primeiro destaque, englobando todos os destaques realizados no período. (Incluído pela Lei nº 11.952, de 2009) 8o O ente público proprietário ou imitido na posse a partir de decisão proferida em processo judicial de desapropriação em curso poderá requerer a abertura de matrícula de parte de imóvel situado em área urbana ou de expansão urbana, previamente matriculado ou não, com base em planta e memorial descritivo, podendo a apuração de remanescente ocorrer em momento posterior. (Incluído pela Medida Provisória nº 514, de 2010)

O texto transcrito contém todos os elementos indispensáveis para se promover o registro e não pode sofrer interferência que resulte em paralisação do ato. Na hipótese o que se verifica é exatamente esse impedimento causado por uma simples recomendação dirigida ao tabelião e não ao interessado no registro. Se analisada a ordem nota-se que toda interpretação dada pelos registradores resulta de leguleios dirigidos para a sua comodidade. E assim é porque se existe recomendação legal (item 6.3.3 da CNGC) o Intermat é obrigado a cumpri-la desde que haja a solicitação, sem que isso importe em atos advocatícios da parte solicitante. Por outro lado, encarregar o proprietário da área de cumprir obrigação (legal ou ilegal) atribuída ao tabelião é uma verdadeira anomalia que só revela rebeldia injustificável.

É bom ressaltar que o próprio Intermat, órgão que

deveria ter o domínio das terras públicas do Estado de Mato Grosso é o primeiro que dificulta o fornecimento de qualquer certidão ao ponto de obedecer a um ordenamento legal para isso. O ilustre representante desse órgão, em recente Seminário Estadual de Assuntos Fundiários e Ambientais realizado pela FAMATO em 09.09.2010, deixou bem claro que nos seus registros existem prateleiras de títulos sobre um único imóvel; e, as certidões retratam registros que não batem com a localização real das áreas rurais. Pelo menos foi a intervenção feita pelo Dr. Afonso Dalberto, diretor do INTERMAT naquele simpósio; in verbis:

“O Sr. AFONSO DALBERTO – Na verdade, as colocações que já ouvi

hoje, pela manhã, que tenho ouvido, “que o INTERMAT não tem condições ou emite, tal...”. Não! As certidões de Legitimidade de Origem são emitidas conforme a Bse cadastral que temos lá dentro. O que eu não faço, enquanto Presidente, e que os meus técnicos, que estão aqui e os que não estão aqui, não fazem é emitir certidões que não dizem a verdade do deslocamento de títulos das sobreposições existentes. O que nós não fazemos; o que o INTERMAT não faz é tentar resolver o problema dos outros. Eu não tenho nada com isso. Eu tenho que escrever a verdade dos títulos deslocados, dos títulos sobrepostos, dos pontos de amarrações que são flutuantes, das áreas que aparecem lá que são dentro de áreas indígenas, desculpe, das solicitações que aparecem lá e que são dentro das áreas indígena, das solicitações que são dentro de reservas ambientais, do monte de título. Em caso de doze títulos sobrepostos, que nós descrevemos na certidão, o deslocamento existe. Portanto, quando colocam que o INTERMAT não faz, o que o INTERMAT não faz é não escrever aquilo que não está La dentro; o INTERMAT não faz é resolver o problema dos outros. Enquanto isso, Dr. Manoel Ornellas, ficará assim até encontrarmos uma solução, que eu coloquei ontem, para solicitação das propostas, para buscarmos solicitação de materialização dos títulos onde já não existe mais terra publica. De que forma nós poderíamos fazer? Isso, também, está aguardando propostas, agora, quanto à Certidão de Legitimidade de origem nós continuamos emitindo com as situações verdadeiras de cada um dos títulos que são solicitados.

O registro do item 6.3.3 na CNGC resultou do

Provimento 19.4-CGJ editado pela Corregedoria Geral de Justiça em 05.10.04. Essa norma jurídico-administrativa foi editada à época para orientar os registradores com a

introdução do georreferenciamento como novo pressuposto do registro de imóvel. Entre os dispositivos lançados pelo então Corregedor da época, Des. Mariano A. R. Travassos, cuidando das instruções aos tabeliães em razão da questão formulada pela ANOREG, foi acrescida a infeliz recomendação. Essa, ao que parece, para servir de garantia ao tabelião e não de empecilho para a prática do ato em desfavor do interessado no registro.

É dever ressaltar que a própria FAMATO –

Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso, logo após a edição do Provimento 19.4 ingressou com o Pedido de Providências 140/2005 visando desconstituir o dispositivo objeto do processo. Em síntese, pretendia esse órgão orientação visando a abstenção dos registradores quanto à exigência da certidão do INTERMAT nos casos de averbação do gerreferenciamento. Destaco deste processo uma importante manifestação lançada na petição inicial nos seguintes termos, in verbis:

“2 – DA ILEGALIDADE DA EXIGÊNCIA DE CERTIDÃO DO

INTERMAT A imposição, pelo oficial de Registro Imobiliário, de uma nova condição não prevista na lei, para realização do Registro, nos casos de “georreferenciamento”, constitui prática abusiva e flagrante arbitrariedade. Legislar sobre registros públicos é competência exclusiva da União, conforme está estabelecido no art. 21, XXV, da Constituição Federal. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXV – registros públicos; Atenta a esse imperativo constitucional, a Douta Corregedoria Geral de Justiça, ao editar o Provimento nº 19/04 – CGJ, de 05/10/2004, foi cautelosa na redação que deu ao seu art. 3º, retro transcrito, fazendo apenas uma recomendação aos oficiais do registro de Imóveis, para que solicitem do INTERMAT, uma certidão de legitimidade de origem. Não se estabelece uma imposição, mas aconselha-se ou recomenda-se”.

O que se conclui a toda evidência é uma única

certeza: o dispositivo, ora examinado, está gerando efeitos contrários à sua destinação, não obstante à boa intenção que o levou para a CNGC. Pelo espírito que o instituiu, o item 6.3.3 visou evitar prática de atos com base em fraude e má-fé

no registro de títulos imobiliários, em benefício do próprio tabelião. No entanto, o espírito legal não foi adotado pela classe que passou a utilizar um simples conselho como regra geral, impondo elevado ônus aos usuários do serviço, por meio de interpretação casuística com força suficiente para isentá-los da obrigação.

Daí porque, a solução que decorre é a

neutralização, de uma vez por todas, do preceito recomendatório, mesmo porque, o tabelião responde por dano moral pela prática dos seus atos nos termos da lei dos notários; e, tem expediente próprio (suscitação de dúvida) para paralisar o registro em casos de verificar fraude ou má-fé quanto ao apresentante do título.

Por fim, a recomendação propriamente dita, sem

dúvida nenhuma, não alcançou o espírito que lhe emprestou a Corregedoria Geral de Justiça, passando a funcionar como impeditivo absoluto do registro de propriedades, circunstância que não deve ser admitida por este órgão. É inegável asseverar, finalmente, que não é uma certidão do INTERMAT que irá revelar se os inúmeros registros ali existentes sobre um imóvel irá regular fraude ou má-fé, pois, em casos tais compete ao prejudicado intentar a ação competente.

Diante do exposto, revogo o item 6.3.3 da Consolidação das Normas Gerais da Corregedoria de Justiça determinando que os autos sejam encaminhados à Dra. Juanita Clait Duarte para elaborar, incontinenti, o respectivo provimento. Promova em seguida sua divulgação a todos os titulares de cartórios notariais e de registro do Estado de Mato Grosso.

Publique;

Cumpra.

Cuiabá, 02 de fevereiro de 2011.

Des. MANOEL ORNELLAS DE ALMEIDA CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA