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Esther Giolo/Rebecca Nogushi – 2010.2 (dez/2013)
1 MENINGITES NA INFÂNCIA – NELSON, CAP. 190, 602, AULA PED, AULA DIP, GUIA VIGILÂNCIA MS
602) INFECÇÕES DO SNC
Em geral, as infecções virais do SNC são muito mais comuns que as infecções bacterianas, que, por sua vez, são
mais comuns que as infecções fúngicas e parasitárias. Independentemente da etiologia, a maioria dos pacientes
tem manifestações clínicas semelhantes. Os sintomas comuns incluem cefaleia, náuseas, vômitos, anorexia,
agitação, alteração do estado de consciência e irritabilidade; a maioria destes sintomas é inespecífica. Os sinais
comuns incluem fotofobia, cervicalgia e rigidez de nuca, obnubilação, estupor, coma, crises epilépticas e déficits
neurológicos focais, além da febre.
Meningite e encefalite são exemplos de infecções difusas. Meningite implica envolvimento primário das meninges,
enquanto encefalite implica envolvimento do parênquima cerebral. O abscesso cerebral é exemplo de infecção
focal.
O diagnóstico de infecção difusa do SNC depende do exame do LCR obtido por punção lombar.
602.1) MENINGITE BACTERIANA AGUDA APÓS O PERÍODO NEONATAL
A MB se associa a uma taxa alta de complicações agudas e ao risco de sequelas em longo prazo.
DEFINIÇÃO
A meningite é uma inflamação das meninges, geralmente infecciosa, caracterizada por contagem anormal
de leucócitos no líquor, sendo o tipo bacteriano a mais frequente e mais letal infecção do SNC. Há uma maior
incidência em meses mais frios devido à aglomeração populacional. Além disso, é uma doença de maior frequência
em crianças e de necessidade de notificação compulsória.
ETIOLOGIA
As causas de meningite bacteriana no período neonatal (0-28 dias) em geral são distintas daquelas em lactentes
mais velhos e em crianças. Os patógenos comuns incluem estreptococos do grupo B e D (S. agalactiae e
enterococos), bacilos entéricos gram-negativos (E. coli, Klebsiella) e Listeria monocytogenes. Até o terceiro mês, os
estreptococos B e D e a Listeria persistem, e a partir dessa idade, Streptococcus pneumoniae, Neisseria
meningitidis e Haemophilus influenzae tipo b se tornam cada vez mais prevalentes.
S. pneumoniae e H. influenzae b devem ser consideradas em indivíduos incompletamente imunizados ou em países
em desenvolvimento.
As meningites bacterianas agudas (purulentas) podem ter origem pela infecção dos patógenos: Neisseria
meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Listeria monocytogenes, Streptococcus
agalactiae, Staphylococcus spp., Pseudomonas aeruginosa, Salmonella spp. e enterobactérias. Existem outras
etiologias, como por exemplo, as meningites virais (causadas por herpes vírus 1 e 2, VZV, CMV, EBV, LCMV,
HIV, enterovírus e caxumba), as meningites linfomonocitárias bacterianas (sem material purulento, sem PMN,
líquor parecido com o de infecções virais, exemplos Mycobacterium tuberculosis, Leptospira spp, Treponema
pallidum, Borrelia burgdoferi), meningites fúngicas (Cryptococcus neoformans, Candida sp) e meningites
parasitárias (Acanthamoeba, Trypanosoma cruzi, Naegleria sp, Toxoplasma gondii, Cysticercus cellulosae,
Angiostrongylus cantonensis).
EPIDEMIOLOGIA
Fatores de risco incluem: falta de imunidade contra patógenos específicos, pouca idade, aglomeração humana,
pouca higiene, contato próximo com indivíduos colonizados, pobreza e gênero masculino. O modo de transmissão
mais provável é através de gotículas do trato respiratório. O risco de meningite aumenta entre lactentes e pré-
escolares com bacteremia oculta.
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Deficiências imunológicas (defeitos na produção de imunoglobulinas, defeitos no sistema complemento, disfunção
esplênica, asplenia, defeitos dos linfócitos T) estão associadas a maior risco de meningite bacteriana.
STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE
É conhecido como "pneumococo", sendo um coco gram-positivo que se apresenta em pares ou cadeias.
HAEMOPHILUS INFLUENZAE TIPO B
É um cocobacilo gram-negativo. Antes da introdução da vacinação universal, era especialmente importante como
causa de meningite entre os menores de 5 anos, com pico entre 6 e 9 meses.
PATOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Um exsudato meníngeo purulento pode estar distribuído em torno do encéfalo e entre as fissuras, sulcos e
concavidades; pode haver ventriculite, infiltrados inflamatórios perivasculares, alterações vasculares cerebrais e
parenquimatosas, trombose de pequenas veias e oclusão de seios cavernosos. Infarto cerebral, vasoespasmo e
trombose são sequelas frequentes. A inflamação de nervos e raízes espinais produz sinais meníngeos, e a
inflamação dos nervos cranianos produz neuropatias cranianas dos nervos óptico, oculomotor, facial e auditivo.
A hipertensão intracraniana (HIC) também produz paralisia do nervo oculomotor devido a herniação tentorial e
compressão do nervo. A HIC se deve à morte celular (edema cerebral citotóxico), aumento da permeabilidade
vascular capilar induzido por citocinas e aumento da pressão hidrostática pela obstrução da reabsorção do LCR. A
PIC pode exceder 300 mm H2O. A síndrome da secreção inadequada de hormônio antidiurético (SIHAD) pode
aumentar o risco de HIC.
A hidrocefalia pode ocorrer como complicação aguda da meningite bacteriana. A hiperproteinorraquia deve-se a
aumento da permeabilidade vascular da barreira hematoencefálica e à perda de líquido rico em albumina dos
capilares e veias que atravessam o espaço subdural. A hipoglicorraquia se dá pela redução do transporte de glicose
pelo tecido cerebral.
Todos os fatores patológicos podem resultar em lesão cortical, que leva a manifestações clínicas neurológicas e,
mais tarde, a retardo psicomotor e sequelas.
PATOGÊNESE
A patogênese começa após colonização da nasofaringe, com invasão local seguida de bacteriemia e
consequente invasão meníngea, acarretando em replicação bacteriana e liberação de produtos bacterianos no LCR.
As bactérias no LCR se reproduzem rapidamente, pois nesse ambiente há escassez de anticorpos e fatores do
complemento. Todo esse processo vai acabar aumentando a celularidade no LCR, devido a um maior afluxo de
células de defesa (neutrófilos e monócitos) e maior produção de citocinas pró-inflamatórias que realimentam o
processo, causando agora verdadeiramente a meningite, ou seja, a inflamação no espaço subaracnoide, vindo
acompanhada de vasodilatação, alterações na barreira hematoencefálica e trombose vascular. Com a inflamação,
surge um aumento de permeabilidade da BHE que, juntamente com a maior dificuldade de reabsorver o LCR devido
ao aumento da sua viscosidade, acarretará um aumento da pressão intracraniana. Essa hipertensão intracraniana vai
ser a responsável pelo surgimento de edema cerebral e hidrocefalia.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Há dois padrões. O mais raro é mais dramático, em que há início súbito com manifestações rapidamente
progressivas, com choque, púrpura, CID e redução dos níveis de consciência, muitas vezes resultando em coma e
óbito em 24 horas. Mais frequentemente, a meningite é precedida de vários dias de febre, com sintomas do trato
respiratório superior ou gastrointestinais, com sinais inespecíficos de infecção do SNC.
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Os achados inespecíficos são: febre, anorexia, recusa alimentar, cefaleia, sintomas de infecção do TRS, mialgias,
artralgias, taquicardia, hipotensão e sinais cutâneos como petéquias, púrpura ou rash macular eritematoso. A
irritação meníngea se manifesta como rigidez de nuca, dor nas costas, sinal de Kernig e sinal de Brudzinski. Nas
crianças menores de 18 meses, esses sinais costumam não estar presentes. A HIC é sugerida por fontanela
abaulada, cefaleia, vômitos, paralisia do nervo oculomotor (anisocoria, ptose) ou abducente, hipertensão arterial
com bradicardia, apneia ou hiperventilação, rigidez de decorticação ou descerebração, estupor, coma ou sinais de
herniação. O papiledema é incomum na meningite sem complicações.
Crises epilépticas podem ocorrer por cerebrite, infarto ou distúrbios eletrolíticos. As crises que persistem após o 4º
dia da doença refletem mau prognóstico. Alterações do estado mental são comuns e podem ser causadas por HIC,
cerebrite ou hipotensão.
DIAGNÓSTICO
Deve ser feito por coleta de sangue e de líquor, sendo o líquor a principal ferramenta diagnóstica.
LCR: identificar no exame a celularidade total e específica (aumento de celularidade, ou "pleocitose",
com predomínio de PMN é o resultado esperado no paciente positivo), fazer pesquisa de glicose e
proteínas (glicose baixa e inflamação e proteínas altas por aumento de restos celulares e degradação de
bactérias), fazer bacterioscopia ou exame direto/coloração Gram (para diminuir opções ou até mesmo já
definir qual o agente da meningite bacteriana), cultura para germes comuns, pesquisa de antígenos (látex
para meningococo, pneumococo e H. influenzae). Outros exames de líquor consistem em PCR, exame
direto e cultura para fungos e micobactérias, látex para Cryptocococcus sp, VDRL, pesquisa de anticorpos
e isolamento viral.
As contraindicações para uma punção lombar imediata incluem:
1) Evidência de HIC grave (paralisia do 3º ou 6º NC com diminuição do nível de consciência, ou hipertensão e
bradicardia com anormalidades respiratórias;
2) Comprometimento cardiopulmonar grave;
3) Infecção da pele sobre o local da PL.
Trombocitopenia é uma contraindicação relativa. Se a PL for adiada, a antibioticoterapia empírica deve ser
iniciada. TC para investigar abscesso cerebral ou HIC não deve adiar a terapia. A US transfontanela é recomendada
em neonatos com fontanela aberta.
Sangue: Hemograma para pesquisa de leucocitose com desvio para a esquerda, clássico de infecção
bacteriana. Pesquisar bioquímica, com eletrólitos, função renal e glicemia principalmente (hiponatremia
gera baixa de nível de consciência). Pode fazer uma hemocultura para germes comuns, a fim de identificar
o microrganismo circulante. Para diagnóstico diferencial, fazer exames como o VDRL (meningite
sifilítica), procalcitonina (baixa sugere câncer, alta sugere infecção bacteriana), proteína C reativa
(substitui muito o VHS como marcador de inflamação), além de sorologias, PCR, látex para Cryptococcus
sp, hemoculturas para fungos e micobactérias, etc.
Punção lombar
O líquor normal de crianças mais velhas apresenta citometria de até 5 células/mm³ e de RNs de até 30 céls;mm3,
com predomínio de linfócitos ou monócitos, com proteínas abaixo de 40mg/dL e glicose acima de 40mg/dL. Na
meningite bacteriana aguda, a citometria sobe para mais de 1.000 cels/mm³ com predomínio de PMN – 75%-95%
(no líquor, não se refere a isso como "desvio à", mas sim como "predomínio de"), proteínas aumentadas e glicose
diminuída. O LCR é turvo (quando acima de 200-400;mm3). A bacterioscopia é positiva em 70-90% dos pacientes
com meningite bacteriana não tratada (a não ser que a criança já esteja recebendo ATB antes da coleta de líquor. A
pesquisa de antígenos no LCR nesses casos pode ser uma opção).
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Na meningite tuberculosa, a citometria é de menos que 500 (celularidade um pouco menor), com predomínio de
MN, proteínas aumentadas e glicose diminuída.
Já na meningite viral, a citometria também é de menos que 500, com predomínio de PMN no início do quadro,
mudando para MN dentro de 8-24 horas. Proteínas normais ou aumentadas um pouco e glicose normal ou pouco
diminuída.
Na meningite fúngica, o padrão é semelhante ao da tuberculosa.
NORMAL MB MT MV
ASPECTO Límpido
Xantocrômico -RN
Turvo Opalescente Límpido
LEUCÓCITOS
(cél/mm3)
Até 5
até 32 RN
↑ PMN ↑ MN
PROTEÍNAS (mg/dl) Até 45
60-150 RN
↑ ↑ ↑
GLICOSE (mg/dl) 50-60% da
glicemia ou > 40
↓ ↓ Normal
BACTERIOSCOPIA
CULTURA
+ +
AGLUTINAÇÃO LÁTEX Meningococo,
Pneumococo, Hib
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O estado geral extremamente debilitado é um alerta para a meningite. Caso apareça um paciente que tenha
suspeita das doenças a serem citadas, porém seu estado geral esteja abaixo do esperado, deve-se fazer avaliação dos
sinais meníngeos.
São DD: outras meningites, sinusites, leptospirose, dengue, febre amarela, hemorragia subaracnoide,
endocardite bacteriana, sepse bacteriana, drogas (meningite química, SMZ-TMP, metoclopramida "plasil"), malária,
abscesso cerebral, empiema, neurossífilis, hantavirose, rickettsioses, doença de Lyme.
A meningoencefalite viral aguda é a infecção mais provavelmente confundida com meningite bacteriana. Embora
as crianças com meningoencefalite pareçam menos doentes que as com MB, ambas as infecções têm um amplo
espectro de gravidade.
TRATAMENTO
A abordagem terapêutica na MB depende da natureza das manifestações iniciais da doença. Em doenças de
evolução rápida, na ausência de HIC, deve-se realizar a punção lombar e depois, iniciar ATB empírico até que saia o
resultado do exame do líquor. Se houver HIC com sinais focais, a ATB é iniciada, realiza-se uma TC e não se faz a PL
antes que os sinais tenham desaparecido. A HIC, bem como a falência de múltiplos órgãos, choque e SARA são
tratados concomitantemente à terapia antimicrobiana. Caso a doença tenha evolução subaguda mais prolongada,
deve-se pesquisar sinais de HIC. Em caso positivo, a ATB é iniciada e só depois da TC é que se avalia a realização da
PL.
O paciente pode estar com bradipneia entre outros sintomas respiratórios, então se deve garantir
perveidade das vias aéreas, ventilação e manutenção de pressão arterial.
Deve-se fazer antibioticoterapia venosa.
Porém, antes de iniciar o ATB, deve-se administrar corticoide (dexametasona). Quando se administra a
primeira dose do ATB, o efeito de matar muitas bactérias pode gerar uma liberação exagerada de debris e
assim aumentar ainda mais a inflamação. Por esse motivo, o corticoide deve ser dado 1 a 2 horas antes do
ATB, ou junto com a primeira dose, com o intuito de segurar a inflamação. Caso o ATB já tenha sido feito,
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não haverá benefício em administrar corticoides depois. O benefício do corticoide está relacionado ao
pneumococo nos adultos e ao influenzae nas crianças, mas não mostra benefício em outros casos. O
corticoide deve ser mantido em administração conjunta com o ATB por quatro dias, sem que se saiba
exatamente o porquê, apesar de diversos estudos apontarem que só assim haverá o efeito desejado.
São medidas de tratamento para HIC (se houver sinais): cabeceira elevada em 45°, uso de manitol, manter
hipocapnia (hiperventilação/baixo CO2, se estiver em ventilação mecânica).
Uso de analgésico, antitérmico, anticonvulsivante e avaliar necessidade de terapia intensiva.
Para iniciarmos ATB empírica, é necessário considerar a sensibilidade/resistência dos pneumococos da
comunidade em questão, que são os agentes com maior taxa de resistência a penicilina. Hib também podem ser
resistentes a ampicilina. Os antimicrobianos devem atingir níveis bactericidas no LCR. Se houver resistência a
penicilina, deve-se usar vancomicina. Cefalosporinas de 3ª geração também são alternativa para os 3 principais
agentes (pneumococo, meningococo, Hib). Em casos de Listeria, ampicilina é a opção, e a alternativa é SMZ-TMP.
Caso o agente seja um bacilo Gram negativo, ceftazidima + aminoglicosídeo.
Quanto à antibioterapia empírica, temos:
I. De 0 a 3 meses: ampicilina + ceftriaxona
II. De 3 meses até 50 anos: ceftriaxona
III. Acima de 50 anos: ampicilina +ceftriaxona
IV. Em caso de fístula liquórica: ceftriaxona
V. TCE penetrante: vancomicina + ceftriaxona
VI. Derivação e neurocirurgia: vancomicina + cefepime/meropenem
VII. Pós-punção lombar: oxacilina/vancomicina + ceftazidima/cefepime
Já a antibioterapia específica varia quanto à sua duração de acordo com o patógeno envolvido na infecção.
Com a Neisseria meningitidis o tratamento deve ser feito por 7 dias. Com o Haemophilus influenzae, por 7 a 10 dias.
O Streptococcus pneumoniae por de 10-14 dias, e o Streptococcus agalactiae por 14-21 dias. Listeria
monocytogenes se trata por 21-28 dias. Tanto Staphylococcus aureus quanto o epidermidis e bactérias gram-
negativas, como Pseudomonas aeruginosa, devem ser tratados durante 21 dias.
Em caso de resposta terapêutica insatisfatória após 48h de tratamento, deve-se repetir a TC de crânio (ou
realizá-la da primeira vez, caso ainda não tenha sido feita) para identificar se houve algum motivo anatômico ou
complicação responsável por essa aparente falha terapêutica. Em seguida, se a TC não mostrar nada, fazer uma nova
punção lombar, mas, se ela mostrar, deve-se encaminhar o paciente para a neurocirurgia.
A repetição da PL só é indicada em alguns casos: alguns RNs, pacientes com meningite por bacilos Gram negativos
(E. coli, P. aeruginosa) ou na infecção por pneumococo resistente a penicilina. Os bacilos Gram negativos devem
ser tratados com cefalosporinas de 3ª geração por 3 semanas.
Outras Medidas
Deve haver precaução quanto à transmissão por gotículas para o meningococo e H. influenzae, até
completar 24 horas de tratamento. As gotículas contaminam apenas ao redor do leito, não ficam tão em suspensão
quanto aerossóis. Usar máscara cirúrgica simples se for se aproximar do leito nesse período.
Além disso, casos de meningite devem ser notificados a uma autoridade de saúde competente. Deve ser
feita quimioprofilaxia quando indicado (para contactantes, familiares, etc.).
OBS: Não se deve esperar o resultado dos exames para começar a antibioticoterapia. O ideal é colher o
LCR e em seguida iniciar o medicamento.
Cuidados de suporte – avaliações clínicas e neurológicas repetidas devem ser feitas com o intuito de se identificar
precocemente sinais de complicações cardiovasculares, do SNC e metabólicas; nas primeiras 72horas é maior o
risco de complicações neurológicas. Laboratório: dosagem sérica de ureia, sódio, cloreto, bicarbonato e potássio,
hemograma completo, densidade urinária, coagulograma (na presença de petéquias ou púrpura).
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Os pacientes devem ficar em jejum absoluto. A administração de líquidos deve ser restrita até que se exclua HIC ou
SIHAD. Entretanto, na presença de choque, deve-se evitar a hipovolemia para se evitar danos cerebrais ou renais
ou a SARA.
As complicações neurológicas incluem HIC, crises epilépticas, hidrocefalia. Os pacientes com HIC devem ser
intubados e hiperventilados, com o objetivo de manter a hipocapnia; furosemida e manitol devem manter a PIC
reduzida; diazepam (0,1-0,2 mg/kg/dose) IV para epilepsia. Depois do controle, fenitoína ou fenobarbital é usado
para reduzir a probabilidade de recorrência das crises.
COMPLICAÇÕES
Edema cerebral, gerando HIC e herniação
Complicações supurativas como abscessos e empiemas, ou coleções subdurais.
Necroses cerebrais focais (vasculite ou trombose).
SIADH: Síndrome de Secreção Inadequada de Hormônio Anti-Diurético. Nessa situação, haverá alta
produção do hormônio que, por sua vez, vai aumentar a absorção de água, gerando hiponatremia, que é um
causador de diminuição do nível de consciência do paciente.
Síndrome de Waterhouse-Friderichsen: adrenalite hemorrágica. Essa é uma doença das glândulas
adrenais, relacionada classicamente ao Neisseria meningitidis e muito causada pela Pseudomonas
aeruginosa. Nessa síndrome, haverá hemorragia das adrenais, com consequente necrose e um prejuízo nos
produtos da adrenal (cortisol, aldosterona, catecolaminas, etc.), gerando hipotensão, hiponatremia,
hipoglicemia e hiperpotassemia.
Sepse grave e choque séptico.
Meningococo: necrose de extremidades, amputações.
Sequelas: surdez, amaurose (perda da visão, parcial ou total), crises convulsivas, hidrocefalia, déficits
motores.
PREVENÇÃO
No caso de meningite pela Neisseria meningitidis, é indicada para co-habitantes do mesmo
domicílio/dormitório/sala de aula, para contactantes diretos com secreções de orofaringe e para profissionais de
saúde (respiração boca a boca, procedimentos em vias aéreas ou fundo de olho sem máscara). O esquema
recomendado é: Rifampicina 10mg/kg/dose, máx 600mg, 2x dia por 2 dias. As alternativas são: Ceftriaxona IM dose
única ou Ciprofloxacino VO dose única. A ciprofloxacina só deve ser usada em adultos, devido à cartilagem de
crescimento das crianças (o medicamento possui implicações nessas cartilagens).
No caso de meningite por Haemophilus influenzae, há indicação para todos os contactantes que moram
na mesma casa do caso-índice, se houver familiares próximos <48 meses sem vacinação completa ou
imunocomprometidos de qualquer idade no domicílio. co-habitantes do mesmo domicílio/dormitório/sala de aula,
< 4 anos e funcionários do local. É recomendada também para pessoas expostas que tenham contato com criança
suscetível menor de 4 anos. O esquema recomendado é Rifampicina 20mg/kg/dia, máx 600mg, 1x dia por 4 dias.
Imunoprofilaxia
# H. influenzae tipo B – vacina pentavalente: DTPa + Hib conjugada + Hepatite B. Calendário: 2m, 4m, 6m.
# Anti-pneumocócica – vacina decavalente: antígenos de 10 sorogrupos de S. pneumoniae, conjugada. Calendário:
2m, 4m, 6m e Reforço aos 12m.
190) Neisseria meningitidis
É um diplococo Gram negativo. O ser humano é o único reservatório natural e o meningococo é um colonizante
comensal da nasofaringe. A variação antigênica da cápsula polissacarídica levou ao reconhecimento de 13
sorogrupos.
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7 MENINGITES NA INFÂNCIA – NELSON, CAP. 190, 602, AULA PED, AULA DIP, GUIA VIGILÂNCIA MS
EPIDEMIOLOGIA
As taxas de colonização variam por idade e são maiores no grupo de 15-24 anos. Aproximadamente 50% dos casos
ocorrem entre crianças menores de 2 anos, com 25% dos casos em pacientes maiores de 30 anos. N. meningitidis é
a causa mais comum de meningite bacteriana em crianças com 2 meses a 12 anos de idade, nos EUA. As infecções
virais (influenza), fumo, habitações superpopulosas, doença crônica de base e baixa condição socioeconômica
estão associados a risco aumentado de aquisição de infecção meningocócica. As mães são a fonte doméstica mais
comum de colonização para lactentes infectados. A doença endêmica é mais comum entre pré-escolares,
enquanto que a doença epidêmica típica envolve crianças em idade escolar, adolescentes e adultos jovens.
PATOGÊNESE
A N. meningitidis é principalmente adquirida por via respiratória. A colonização na nasofaringe é em geral
assintomática e dura por semanas a meses. A invasão parece ser facilitada por infecções virais do trato
respiratório. O meningococo produz uma IgA protease que contribui para a colonização de membranas mucosas. A
bactéria insere-se no epitélio e, caso não haja anticorpos específicos (antimeningococo), ela ganha a corrente
sanguínea (meningococcemia). A bactéria persistindo, interage com fagócitos, há produção de moléculas de
adesão e o sistema complemento é ativado. A bactéria é protegida pela cápsula antifagocítica, mas antígenos de
superfície são reconhecidos por TLRs, que ativam genes responsáveis pela produção de citocinas inflamatórias,
incluindo o TNFa, IL-1B, 6 e 8, e pela ativação das vias intrínseca e extrínseca da coagulação. A progressão do
escape capilar e coagulopatia intravascular disseminada podem levar à falência dos múltiplos sistemas, choque
séptico e morte.
Vasculite disseminada e CID na meningococcemia são comuns. A hemorragia focal e a necrose resultantes se
manifestam inicialmente como púrpuras na pele e podem acometer qualquer tecido. O coração, o SNC, a pele, as
mucosas, as serosas e as adrenais são afetados na maioria dos casos fatais. Hemorragia adrenal difusa sem
vasculite, a síndrome de Waterhouse-Friderichsen, é comum durante meningococcemia fulminante. A meningite
se caracteriza por células inflamatórias agudas nas leptomeninges e nos espaços perivasculares.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O espectro da doença meningocócica varia de febre e bacteremia oculta a sepse, choque e óbito. Os padrões
reconhecidos da doença incluem: bacteremia sem sepse, meningococcemia (sepse) sem meningite, e meningite
com ou sem meningococcemia. Pelo menos 80% apresentam sinais clínicos evidentes. Meningite desenvolve-se
em 58% dos casos. O N. meningitidis é isolada do sangue em 2/3 dos casos e no LCR em metade dos casos.
A meningococcemia aguda pode inicialmente mimetizar doença viral com faringite, febre, mialgia, fraqueza,
vômitos, diarreia e/ou cefaleia. Rash maculopapular em cerca de 7% dos casos, tipicamente antes de se
desenvolverem sinais mais sérios. Em casos fulminantes, a doença progride rapidamente para choque séptico em
horas, caracterizando-se por petéquias proeminentes e púrpuras, hipotensão, CID, acidose, hemorragia adrenal,
insuficiência renal, falência miocárdica e coma. A meningite pode estar presente ou não.
A manifestação clínica mais comum, a meningite meningocócica, é totalmente diferenciada de outras causas de
meningite bacteriana. Cefaleia, fotofobia, letargia, vômitos, rigidez de nuca e outros sinais de irritação meníngea
estão tipicamente presentes. Convulsões e sinais neurológicos focais ocorrem com menos frequência do que em
meningites causadas por pneumococo ou Haemophilus influenzae do tipo b. Pode ocorrer hipertensão
intracraniana.
As manifestações incomuns da doença meningocócica incluem pneumonia, sinusite, otite média, celulite peri-
orbitária, etc.
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8 MENINGITES NA INFÂNCIA – NELSON, CAP. 190, 602, AULA PED, AULA DIP, GUIA VIGILÂNCIA MS
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico definitivo se dá através do isolamento do microorganismo de um fluido normalmente estéril:
sangue, LCR ou líquido sinovial. O isolamento na nasofaringe não dá diagnóstico da doença invasiva. Nas
meningites, o exame do líquor segue as características clínicas e morfológicas das demais meningites bacterianas.
Pode-se lançar mão de cultura de líquor e hemocultura, bacterioscopia com coloração Gram e Detecção de
antígenos capsulares polissacarídicos no LCR pelo teste rápido de aglutinação do látex. O PCR em sangue e LCR é
uma realidade nos países desenvolvidos.
Outros achados laboratoriais incluem leucopenia ou leucocitose, com aumento de neutrófilos e bastões,
trombocitopenia, proteinúria e hematúria, EAS aumentado, proteína C reativa aumentada, hipoalbuminemia,
hipocalcemia e acidose metabólica (lactato alto).
TRATAMENTO
Para pacientes hospitalizados, a penicilina G (250.000 a 400.000 UI/kg/dia, a cada 4-6 horas, IV) é a droga de
escolha. Empiricamente, cefotaxima ou ceftriaxona. A terapia em crianças dura 5-7 dias.
A terapia de suporte apropriado é essencial.
COMPLICAÇÕES
As agudas são: vasculite, CID e hipotensão, presentes na doença meningocócica grave. Os infartos de pele podem
se infectar secundariamente, e o paciente comporta-se como um grande queimado (cicatrizes e enxertos). A
gangrena de extremidades pode demandar amputações. A necrose avascular de epífises podem levar a distúrbios
do crescimento e deformidades ósseas tardias. A surdez é a sequela neurológica mais frequente em crianças com
meningite. Outras sequelas, raras, incluem ataxia, convulsões, amaurose, paralisia de pares cranianos, hemiparesia
ou tetraparesia e hidrocefalia obstrutiva.
As complicações não supurativas parecem mediadas por imunocomplexos: artrite e vasculite cutânea (eritema
nodoso) são as mais frequentes. A reativação de infecções latentes por herpes simples é comum.
PROGNÓSTICO
As taxas de fatalidades nos EUA são mais altas entre os 15 e 24 anos, e a maioria dos óbitos ocorre em 48 horas
após a hospitalização.
PREVENÇÃO
Pessoas em contato íntimo com pessoas com a doença meningocócica estão sob risco aumentado de infecção. A
profilaxia é indicada imediatamente para contactantes domiciliares, de creches e convívio diário e para aqueles
que tenham tido contato com as secreções orais do paciente durante os 7 dias anteriores ao aparecimento da
doença. Para os profissionais de saúde, a recomendação é profilaxia quando houver exposição íntima: reanimação
boca-a-boca, intubação ou aspiração, exame de fundo de olho. As crianças podem receber Rifampicina ou
ceftriaxona. Ciprofloxacina pode ser administrado para ≥ 18 anos. Pacientes tratados com penicilina devem
receber profilaxia antes da alta hospitalar. Em pacientes hospitalizados, precauções contra a disseminação de
gotículas devem ser adotadas por 24 horas após o início da terapia efetiva. É doença de notificação compulsória.
Vacinação – existem 3 tipos de vacina: as polissacarídicas bivalente (sorogrupos A e C) e tetravalente (sorogrupos
A,C,Y e W135) e a monovalente conjugada (oligossacarídeos do sorogrupo C com proteína a base de toxóide
diftérico). No Brasil, a SBP recomenda a vacinação com a vacina conjugada no 1º ano de vida (3º e 5º meses) e uma
dose de reforço entre os 12 e 18 meses de idade (15 meses). Se a vacina for dada após os 12 meses, deve ser feita
em dose única.
Esther Giolo/Rebecca Nogushi – 2010.2 (dez/2013)
9 MENINGITES NA INFÂNCIA – NELSON, CAP. 190, 602, AULA PED, AULA DIP, GUIA VIGILÂNCIA MS
AULA, PROF. EDUARDO PERNAMBUCO
Manifestações clínicas:
- febre
- sinais de irritação meningea
- sinais de HIC
- sinais neurológicos focais
- convulsões
Meningites bacterianas e virais início agudo
Meningites fúngicas e tuberculosas início insidioso
Variabilidade quadro clínico – depende da idade. <3 anos costumam não apresentar meningismo.
Meningococcemia - choque, petequias, purpuras
Meningite viral:
- aumento das parotidas
-rash maculopapular ou petequial
-encefalite:convulsões, alteração de consciência
Complicações precoces na MB:
- efusão ou empiema subdural
- hidrocefalia
-artrite (após o 5o dia) - Imunocomplexos, espcecialmente Hib
-sd secreção inapropriada do ADH
IMPORTANTE: saber diferenciar Dengue de Doença meningocócica
A LCR é contra indicada quando houver sinais de HIC grave. Caso contrário, a punção pode se realizada (HIC não
grave). Sinais focais: também é contra indicação; pode fazer efeito de massa e herniar o tronco (abscesso cerebral)
Hemorragias: tb é contraindicação.
#quadro lcr#
DIAGNÓSTICO
Aglutinação do Látex - pesquisa de antígenos
Hemocultura, hemograma
BQ:
- Ca, Mg, Na, K (convulsões)
- glicemia (convulsão por hipoglicemia)-glicorraquia nl >40mg/dl ou 50-60% da glicemia
- uréia, creatinina (insuficiência renal)
Rx tórax e face. Na suspeita de MT: rx tórax, PPD, lavado gástrico. Na suspeita de MV: cultura, sorologias pareada,
PCR.
TRATAMENTO
# estabilizar o paciente antes do transporte#
- controle do choque
Esther Giolo/Rebecca Nogushi – 2010.2 (dez/2013)
10 MENINGITES NA INFÂNCIA – NELSON, CAP. 190, 602, AULA PED, AULA DIP, GUIA VIGILÂNCIA MS
- controle da HIC: restrição hídrica, cabeceira elevada, manitol, hiperventilacao. No evento da convulsão -
diazepan; fenobarbital e difenilhidantoina se persistência de crises.
ATB empírico na MB: muda conforme a epidemiologia etiológica na comunidade
<3m = ampicilina + cefalosporina 3a geração
>=3m ceftriaxona
Áreas com resistência em pneumococos: após 3m faz vancomicina + cefalosporina 3a geração
ATB após isolamento do agente:
- meningococos: penicilina G cristalina (causa flebite) ou ampicilina
- Hib: ceftriaxona
- pneumococos: sensíveis - penicilina cristalina ou ampicilina; sensibilidade intermediária- ceftriaxona; resistentes -
vancomicina + ceftriaxona
Outros aspectos: Dosagem adequada
Tempo de tratamento:
- meningococos: 7 dias
- Hib: 10 dias
- pneumococos: 10 a 14 dias
-enterobacterias ou estafilococos: 14 a 21 dias
Uso de corticosteroides:
Menor frequência de sequelas neurológicas na meningite por Hib. Benefício na meningite por pneumococos não
estabelecido.
Dexametasona: 0,6mg/kg/dia, 6/6h, 4dias
Meningite tuberculosa:
RZH por 2 meses + Rh por 7 meses
>10 anos: RZHE por 2 meses + RH por 7 meses
Prednisona 1 a 2 mg/kg/dia por 2 a 4 meses
PREVENCAO
Doença meningococica:
Quimioprofilaxia para contatos íntimos (profissionais da saúde, familiares, colegas creche)
Drogas: R - 20 mg/kg/dia 12/12h por 2 dias
Início precoce até 30 dias após contato
Alternativa: ceftriaxona ou ciprofloxacina, dose única
Doença por Hib:
Quimioprofilaxia
Drogas:
Vacina
PROGNÓSTICO
Melhor em MV. Pneumococos: maior gravidade.
Sequelas: surdez, hidrocefalia, retardo mental, Deficits motores, epilepsia