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PEDRO E JUDAS JOÃO CALVINO

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Traduzido do Inglês

Fourth Sermon on the Passion of Our Lord Jesus Christ

By John Calvin

Via: Monergism.com

Tradução por Camila Almeida

Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Março de 2015

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, sob a licença Creative

Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

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Pedro E Judas Por João Calvino

“Então cuspiram-lhe no rosto e lhe davam punhadas, e outros o esbofeteavam,

Dizendo: Profetiza-nos, Cristo, quem é o que te bateu? Ora, Pedro estava assentado

fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: Tu também estavas com

Jesus, o galileu. Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes. E,

saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este

também estava com Jesus, o Nazareno. E ele negou outra vez com juramento: Não

conheço tal homem. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a

Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia. Então

começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E

imediatamente o galo cantou. E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe

dissera: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou

amargamente. E, chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes, e os

anciãos do povo, formavam juntamente conselho contra Jesus, para o matarem; E

maniatando-o, o levaram e entregaram ao presidente Pôncio Pilatos. Então Judas, o

que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de

prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, Dizendo: Pequei, traindo o

sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele,

atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar. E os

príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito

colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue. E, tendo deliberado

em conselho, compraram com elas o campo de um oleiro, para sepultura dos

estrangeiros. Por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, Campo de

Sangue. Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias: Tomaram as trinta

moedas de prata, preço do que foi avaliado, que certos filhos de Israel avaliaram, E

deram-nas pelo campo do oleiro, segundo o que o Senhor me determinou.”

(Mateus 26:67-75, 27:1-10)

Como São Paulo diz que a pregação do Evangelho é cheiro de vida para aqueles a quem

Deus chama à salvação e cheiro de morte para todos os réprobos que perecem, também

temos dois exemplos notáveis que estão aqui propostos para nos mostrar que a morte e

paixão do Filho de Deus promoveu a salvação de um e lançou o outro em condenação.

Pois, na queda de Pedro é visto a necessidade que ele tinha de ser retirado da cova em

que ele fora preso. Por enquanto ele estava lá, ele fora banido do reino dos céus, ele se ali-

enou de toda a esperança de salvação e apartou-se da Igreja, como um membro podre. No

entanto, a morte de nosso Senhor Jesus não deixou de beneficiá-lo, embora ele não fosse

digno dela. Quanto a Judas, é dito que, vendo que Jesus Cristo é condenado, ele é tomado

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pelo desespero. Agora, nesta condenação de nosso Senhor Jesus (como já dissemos) é

preciso ter coragem para esperar em Deus. Pois, nós somos absolvidos em virtude do fato

de que o nosso Senhor Jesus foi condenado. Mas, foi necessário que nós tivéssemos aqui

estes dois espelhos, a fim de que sejamos tanto melhor capazes de saber que sem que

sejamos chamados pela graça especial para compartilharmos do fruto da paixão e morte

do Filho de Deus, isso será inútil para nós. Não basta, portanto, que o nosso Senhor Jesus

Cristo tenha sofrido, mas que o bem que Ele adquiriu para nós seja comunicado, e nós se-

jamos colocados em posse disso. Isso é feito quando somos atraídos a Ele pela fé.

Mas, para entender melhor tudo isso, sigamos o fio da história que é aqui narrada para nós.

Diz-se que o nosso Senhor Jesus foi tratado com toda a desonra na casa de Caifás, que

eles cuspiram em Seu rosto, que Ele foi insultado e zombado, chamaram-nO de “Profeta”,

de fato, em desgraça. Agora isso, a fim de que possamos saber que o que Ele sofreu em

Sua pessoa era para libertar-nos diante de Deus e diante dos Seus anjos. Pois, ninguém

precisa cuspir em nossa face para que suportemos muitas máculas e manchas diante de

Deus. Todos nós não somos apenas desfigurados por nossos pecados, mas cheios de in-

fecção e abominação. Além disso, aqui está o Filho de Deus, que é a Sua imagem viva, on-

de a Sua glória e majestade brilham, que sofreu tais vergonhas, a fim de que em Seu nome

agora possamos comparecer diante de Deus para obter graça e para que Ele nos conheça

e nos tenha como Seus filhos, e que todas as nossas manchas e máculas sejam apagadas.

Isso, eu digo, é o que temos que considerar em primeiro lugar.

Agora chegamos à queda de Pedro. Está escrito: “aproximando-se dele uma criada, disse:

Tu também estavas com Jesus, o galileu. Mas ele negou diante de todos”. Outra criada o

viu, e ele negou outra vez. Então, o pressionam mais e fazem disso um completo dilema.

Então ele começa a jurar, e até mesmo a xingar e a usar a forma de execração. Como se

ele dissesse: “Talvez eu seja condenado, posso perecer, a terra pode devorar-me se eu co-

nhecê-lO”. Aqui, então, está a queda de São Pedro, e não uma, mas três, que são tão pesa-

das e tão enormes que certamente devemos temer ao ler esta história. Agora, nós sabemos

o zelo que estava nele. Além disso, ele havia sido elogiado por nosso Senhor Jesus Cristo,

e o nome de Pedro fora dado a ele para assinalar a firmeza e constância de sua fé; ele ha-

via sido ensinado em uma tão boa escola. Ele tinha ouvido esta doutrina: “Mas qualquer

que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos

céus” [Mateus 10:33]. No entanto, vemos como ele cambaleia. Cada um, então, aqui deve

certamente tremer. Pois, sem que sejamos sustentados do alto, a fraqueza de Pedro não

era maior do que a nossa. Então, em primeiro lugar, vemos como os homens são frágeis,

tão logo Deus solte a Sua mão. Pois isso não é dito de algum escarnecedor, de algum ho-

mem profano, de alguém que nunca ouvira falar minimamente do Evangelho, que não temia

a Deus, e que não prestava nenhuma reverência ao nosso Senhor Jesus Cristo. É total-

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mente o contrário. Pois, já havia alguns excelentes dons em Pedro. Havia sido dito a ele,

desde a boca do Filho de Deus, “porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai,

que está nos céus” [Mateus 16:17]. Isso é, o Espírito de Deus que habitava em Pedro. No

entanto, quão pouco ele resiste a renunciar ao nosso Senhor Jesus diante de uma criada!

Se um homem o houvesse repreendido, ou se fosse alguma pessoa honrada que o tivesse

atacado, haveria alguma desculpa. Mas vemos que foi necessário apenas uma criada para

fazê-lo desistir da esperança de vida e da salvação.

Contemplemos, então, na pessoa de Pedro, que é muito necessário que Deus nos fortaleça

a cada minuto. Porque, do contrário, é impossível perseverar. Embora possamos ser tenta-

dos a nos aproximar de Deus, e embora possamos ter praticado muitos atos virtuosos, mes-

mo tudo, ao mínimo movimento, nós seremos totalmente desvirtuados, a menos que Deus

continue a nos conceder constância invencível. Aprendamos, então, a praticar a admoes-

tação de São Paulo: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” [1 Coríntios 10:12].

É verdade que não podemos preservar-nos. Mas vamos recorrer Àquele que tem os meios.

De qualquer maneira, caminhemos com toda a humildade. São Paulo diz em outra passa-

gem: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua

boa vontade” “De sorte que (diz ele), operai a vossa salvação com temor e tremor” (Filipen-

ses 2:13, 12b).

Como se ele dissesse que toda presunção certamente deve ser abatida, e de fato toda indi-

ferença. Quando nós vemos que temos necessidade de ser ajudados por Deus, e de tantas

maneiras, não é correto que estejamos vigilantes e que não presumamos nada de nossa

própria força, mas que sejamos solícitos para clamar a Deus noite e dia, e esperarmos que

Ele nos guarde e guie?

Isso, então, é o que temos que observar, em primeiro lugar. É ainda muito necessário que

nós assumamos que as tentações, embora possam não ser grandes, terão rapidamente

nos oprimido, a menos que Deus pela Sua graça opere nisso e o remedei. E aqueles que

imaginam ser os mais resistentes, quando eles estão longe de golpes, encontram-se, por

assim dizer, perdidos se houver apenas um pouco de vento que sopra. É verdade que, se

Deus nos ajuda, perseveraremos, embora surjam grandes tempestades. Porque conhece-

mos a figura de linguagem que o nosso Senhor Jesus Cristo evocou: que uma casa bem

alicerçada e construída de material bom, embora venha sobre ela uma grande torrente, ela

sempre permanece; mas a que é edificada sobre a areia em breve desmorona e vem a

arruinar-se. Então, quando nós formos edificados sobre o nosso Deus e Ele estender a Sua

forte mão, certamente seremos capazes de suportar grandes e mui árduos alarmes. Mas,

apesar de não haver qualquer inimigo que nos combata, ainda assim, seremos imediata-

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mente vencidos quando Deus Se retira de nós ou solta a nossa mão, como vemos em

Pedro.

Mas, ainda pior é que ele não somente nega o Senhor Jesus uma vez. Mas ele repete quan-

tas vezes ele é questionado. Vemos que não importava nada para ele que estivesse indo

de mal a pior, mesmo até acrescenta execração, por assim dizer, pedindo que Deus o amal-

diçoe e o consumisse. Quando vemos isso, saibamos que aquele que caiu, em vez de que-

rer ser logo restaurado, mergulhará cada vez mais profundamente em ruínas, até que ele

completamente pereça nela, a menos que Deus o impeça. Esta é a condição dos homens.

Desde o início eles imaginam que eles são maravilhosos em seu próprio poder. No entanto,

nosso Senhor mostra por experiência que isso não é nada, e que basta apenas um pequeni-

no vento sopre, e eles são abatidos. Ainda assim, eles estão convencidos de que podem

levantarem-se novamente. Mas, pelo contrário, apenas aumentam o seu mal, acrescentan-

do culpa sobre culpa, transbordando ainda mais com ações absurdas. Se São Pedro fosse

tentado cem vezes em um dia, ele teria renunciado a Jesus Cristo uma centena de vezes,

talvez mil ou mais e isso é o que ele teria desejado a menos que Deus tivesse piedade dele.

E Deus o poupou, e não queria prová-lo ainda mais. No entanto, as três quedas aqui menci-

onadas são o suficiente para mostrar um exemplo terrível, e que deveria fazer-nos estre-

mecer, por fim quando vemos que, pela terceira vez Pedro, então, esqueceu de si mesmo

e que ele estava tão sem sentido quanto um bruto ao renunciar a sua salvação. Além disso,

devemos sempre observar que, se ainda outras tentações viessem sobre ele, ele não lhes

teria resistido melhor e ele teria sido colocado em profundezas mais intensas a menos que

Deus o poupasse disto.

Isso, então, é como nós devemos aproveitar desta doutrina. Agora nós não ouvimos essas

coisas, a fim de julgar Pedro e condenar sua covardia. Pois, tenham certeza, não podemos

fazê-lo com justiça, mas se for necessário em primeiro lugar receber instrução, que possa-

mos conhecer a nossa fraqueza, que possamos até mesmo saber que não podemos fazer

absolutamente nada, de forma que não sejamos inchados com orgulho, atribuindo a nós

mesmos alguma virtude, por meio de tola opinião. Entretanto, que também saibamos, desde

que o diabo tem tantos meios para promover nossa ruína, que ele logo colocaria um fim em

nós, já que São Pedro caiu sem que ele fizesse qualquer aparição. Então, finalmente, saiba-

mos que o nosso Senhor Jesus tem piedade de nós, quando Ele não permite que sejamos

tentados além do limite. Pois é certo que sempre muitíssimo mal seria descoberto, e isso

não teria fim, a menos que fôssemos preservados por Sua bondade. Estas são todas as

coisas que temos para observar aqui.

No entanto, é dito: “cantou o galo (como São Lucas relata). E, virando-se o Senhor, olhou

para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o

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galo cante hoje, me negarás três vezes. E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente”

[Lucas 22:60-62]. Por esta conclusão é-nos mostrado (como já mencionei) que a morte e a

paixão de Nosso Senhor Jesus já produziram o seu efeito e o seu poder naquele Pedro que

foi levantado a partir de uma queda tão horrível. Pois, não é um milagre que Deus teve

piedade dele e que ele ainda alcançou misericórdia depois de ter cometido um erro tão

detestável? Nós declaramos que não ele não poderia ter a desculpa da ignorância, como

se a culpa por ter renunciado a Jesus Cristo fosse pequena. Pois havia sido dito e pronun-

ciado para ele que se ele não fizesse a confissão de sua fé e desse testemunho diante dos

homens, ele mereceria ser totalmente negado diante dos anjos de Deus e que seu nome

seria riscado do livro da vida. No entanto, não importa a ele trocar esta vida miserável e frá-

gil por tão vil e tão estranha renúncia. Na verdade, ele nem ainda sequer é levado perante

os juízes. Ele não é questionado ao limite. Há apenas uma criada que lhe fala. Embora eles

houvessem sido rudes com ele suficientemente, ainda assim ele teria lutado apenas como

uma pobre criatura malfadada. No entanto, ele não se esqueceu todo o temor de Deus.

Quando, então, nós observamos isso, pensemos quanto mais necessário foi para nós que

Deus tenha demonstrado os tesouros infinitos de Sua bondade, quando Ele ainda fez Pedro

participante do fruto da paixão e morte de Seu Filho.

Isso é, então, um milagre que deve nos encantar, que Pedro obteve remissão por uma tão

grande ofensa, de fato, como parece, por seu arrependimento. Pois é certo que, se um

homem é tocado rapidamente, depois de ter falhado, e ele geme e clama diante de Deus

para obter o perdão, é um sinal de que Deus já o recebeu, e que Ele o reconciliou conSigo

mesmo. Pois também o arrependimento é um dom peculiar do Espírito Santo, que nos mos-

tra que Deus tem piedade de nós e que Ele não quer que pereçamos. Mas, Ele nos atrai a

Si mesmo. Agora nós vemos isso em Pedro. Segue-se, então, que a morte e a paixão de

Nosso Senhor Jesus Cristo já fora proveitosa para ele, de fato, de uma forma maravilhosa,

como eu já disse. Mas, em primeiro lugar, devemos observar que São Pedro sempre perma-

neceu sonolento e estúpido até que ele recebeu o sinal de que o nosso Senhor Jesus Cristo

o alertara, isto é, que o galo não cantaria até que ele O renunciasse por três vezes, ou me-

lhor, que o galo não cantaria pela segunda vez, sem que Pedro fizesse suas renúncias. Já

que é assim, então, que se ele não fosse advertido por nosso Senhor Jesus Cristo, ele teria

permanecido ali no seu pecado e ele estaria eternamente mergulhado em perdição, saiba-

mos que precisamos ser solícitos depois de termos cometido alguma falha. Porque, se

formos privados da graça de Deus e Ele não nos exortar a voltar para Ele, é certo que esta-

ríamos enredados por Satanás e todos os nossos sentidos estariam brutalizados de modo

que não teríamos nem qualquer escrúpulo nem bom movimento para voltar ao caminho da

salvação.

Isso, então, é o que devemos contemplar ainda mais na pessoa de Pedro. Mas quando São

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Lucas diz que Jesus Cristo olhou para ele, através disso somos muito melhor ensinados

que não é suficiente que sejamos aferroados e que alguém puxe nossas orelhas para nos

fazer voltar para Deus, mas Jesus Cristo deve lançar Seu olhar sobre nós. Agora, é verdade

que aqui se fala apenas quanto aos olhos. No entanto, nosso Senhor Jesus não conversa

conosco de forma visível. No entanto, é certo que até que Ele lance Seu olhar sobre nós,

seremos sempre insensatos e teimosos em nossas falhas e nunca pensaremos em gemer

e lamentar, embora possamos ter provocado a ira de Deus. Embora Ele tenha retesado o

Seu arco e Sua espada seja desembainhada, permaneceremos sempre em nossa indife-

rença até que nosso Senhor Jesus nos faça sentir que Ele não se esqueceu de nós e que

Ele não quer que nós pereçamos, mas deseja chamar-nos de volta para Si mesmo. E isso

pode ser assim, nós ouvimos sermões diários, pelo qual somos exortados ao arrependi-

mento. E como somos tocados por eles? Existem tantas advertências quantas poderiam

haver. Toda a criação não nos estimula a vir a Deus? Se os nossos sentidos estão bem go-

vernados, de modo a ter alguma partícula de prudência, quando o sol nasce de manhã, isso

não nos chama para adorar o nosso Deus? Depois disso, se observarmos como a terra e

todos os elementos realizam seus ofícios, os animais e as árvores, que nos mostram que

devemos nos preparar para o nosso Deus, a fim de que Ele seja glorificado em nós, e que

nós não pensemos em fazer o contrário. O galo, então, cantou bem, e não somente o galo,

mas Deus faz com que todas as Suas criaturas acima e abaixo cantem para nos exortar a

vir a Ele. Além disso, Ele certamente Se digna a abrir Sua boca sagrada por meio da Lei,

através de Seus profetas, e através do Evangelho, para dizer: “Voltem para Mim”. No

entanto, é visto, por assim dizer, que nós somos tolos. Tal tolice é vista em nós que somos,

por assim dizer, monstros. É muito necessário, então, que o nosso Senhor Jesus nos consi-

dere em compaixão, como fez a Pedro, a fim de extrair de nós verdadeiros lamentos a dar

testemunho de nossa penitência. Pois, quando se diz que Pedro chorou amargamente, é

notada a tristeza de que São Paulo fala em 2 Coríntios, quando ele diz que ela opera para

a salvação (2 Coríntios 7:9-10), e não devemos fugir deste tipo de tristeza, mas antes deve-

mos até mesmo procurá-la. Embora, naturalmente, desejemos nos divertir e não sentir qual-

quer incômodo, ainda temos que ter alguma melancolia. Como quando Deus nos toca com

a angústia, temos que ser atormentados em nossos corações, depois de termos Lhe ofen-

dido. Pois, tal agitação deve conduzir-nos ao real descanso e tal tristeza deve fazer-nos

alegrar diante de Deus e diante dos anjos.

Logo bem veremos que Judas se arrependeu, mas este arrependimento é de outro tipo

bem diferente. Mas Pedro chorou para mostrar que ele estava muito insatisfeito em seu pe-

cado e ele completamente voltara para Jesus Cristo. Notemos também que “saindo dali,

chorou amargamente”. É verdade que isso ainda procedeu de sua fraqueza, de forma que

temia mostrar seu arrependimento diante da multidão. Mas, embora isso possa ser, quando

ele chora sozinho, ele também mostra que ele está tocado por sua culpa e ofensa. Porque

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não procura homens para que testemunhem o seu arrependimento, mas está sozinho, ele

chora diante de Deus. Essa é também a forma como devemos fazê-lo. Porque, se nós

choramos somente diante dos homens, por meio disso mostraremos a nossa hipocrisia.

Mas quando cada um tem recolhido os seus pensamentos, e ele examina suas faltas e

pecados, se ele é, então, afetado com a angústia, é um sinal de que não existe falsidade

nele, e que ele conhecia o seu Juiz, e que ele está ali para pedir perdão, e ele sabia muito

bem que é o ofício de Deus chamar de volta das profundezas aqueles que já estão, por as-

sim dizer, condenados e perdidos. Isso, então, em resumo, é o que temos que lembrar a

partir do relato aqui dado sobre a queda de Pedro, e sobre estas três renúncias, que ele

merecia ser cortado do Reino de Deus, a não ser que Jesus Cristo já houvesse mostrado

o poder de Sua morte e paixão, a fim de atraí-lo ao arrependimento, como vemos que a-

conteceu.

Em seguida, é dito: “todos os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos do povo, formavam

juntamente conselho contra Jesus, para o matarem”. Mas porque isso não estava em seu

poder, O levaram amarrado e preso ao governador que tinha jurisdição sobre o país, isto é,

Pôncio Pilatos. Depois o Evangelho diz que Judas arrependeu-se, vendo que Jesus Cristo

fora condenado, e jogou o dinheiro que ele havia recebido como preço e pagamento por

sua traição e completamente confessou sua culpa. No entanto, os sacerdotes não estavam

dispostos a receberem o dinheiro, antes com este compraram o campo do oleiro, onde

deveria ter havido alguma olaria de forma que o campo era inútil e não poderia ser cultivado

nem semeado. Eles compram, então, este campo para sepultar estrangeiros. Na verdade,

eles fizeram isso sob a aparência de alguma devoção. Pois, eles disseram que não era

lícito que esse dinheiro fosse colocado com as ofertas do Templo. Diante disso, o escritor

do Evangelho diz que o que foi dito pelo profeta, foi cumprido, que os trinta denários, pelos

quais Deus fora avaliado pelo povo de Israel, seria arrojado ao campo do oleiro. Temos que

considerar aqui o que já foi iniciado, ou seja, que a morte e a paixão de nosso Senhor Jesus

não concede fruto a todos os homens, porque é uma graça especial que Deus dá aos Seus

eleitos quando Ele os toca pelo Seu Espírito Santo. Embora tenham caído, Ele os levanta.

Embora eles tenham se desviado, como ovelhas errantes, Ele os corrige e estende a eles

a Sua mão a fim de trazê-los de volta para o Seu aprisco. Porque há um Judas que está

totalmente fora do número de filhos de Deus. É necessário que a sua condenação apareça

diante dos homens e que seja totalmente óbvia.

Por isso, aprendamos (seguindo o que já mencionei) a conhecer em tudo e por meio de

tudo, a bondade inestimável do nosso Deus. Porque, assim como Ele declarou Seu amor

para com a humanidade quando Ele não poupou Seu Filho Único, mas o entregou à morte

pelos pecadores, Ele declara também um amor que Ele tem para conosco, especialmente

quando pelo Seu Espírito Santo Ele nos toca pelo conhecimento de nossos pecados e Ele

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nos faz clamar e nos atrai a Si com arrependimento. A entrada, então, que nós temos que

vir para o nosso Senhor Jesus Cristo não procede de nós, mas é na medida em que Deus

nos governa e que agradou a Ele mostrar a Sua eleição. E essas circunstâncias são dignas

de nota. Contemplem Judas, que tinha sido um discípulo de nosso Senhor Jesus Cristo.

Ele fez milagres em Seu Nome. No entanto, qual é a questão disso? Que possamos, então,

aprender a temer e andar em solicitude para com Deus, lançando-nos inteiramente sobre

o nosso Deus; e que possamos orar para que Ele não nos permita cair em tal confusão,

como este miserável. E mesmo quando caímos, que Ele nos levante de novo pelo Seu po-

der, e para que voltemos a Ele; não com tal arrependimento como o de Judas, mas com

uma verdadeira e justa confissão. Pois, os ímpios zombam de Deus tanto quanto puderem.

Eles estão satisfeitos em seus pecados. Eles até mesmo gloriam-se neles, e, no fim, eles

se tornam tão sem vergonha como prostitutas, como é dito pelos profetas Jeremias e Eze-

quiel. Além disso, no fim, Deus faz-lhes sentir os seus pecados, e eles ficam em tal temor

que se preocupam e clamam “ai de mim!” Mas, isso não é a fim de conceber alguma espe-

rança e apresentarem-se a Deus. Pelo contrário, é uma fúria que os impulsiona. Eles fogem,

tanto quanto possível e eles gostariam de derrubar Deus de Seu trono. É apenas uma

questão de choro e ranger os dentes em rebelião completa contra Ele.

Agora, nós viemos a outro tipo de arrependimento; isto é, não aquele em que temos medo,

visto que não podemos escapar do julgamento e da mão de Deus; mas aquele em que nós

confessamos nossos pecados, e os odiamos; e que não nos impedirá de nos aproximarmos

de Deus, de fato, sendo convocados perante Ele sem sermos atraídos a Ele pela força; mas

de nossa própria boa vontade, vamos a Ele para prestar-Lhe homenagem, e confessar que

nós merecemos perecer; no entanto, a certeza de que embora nós mereçamos cem mil

mortes, Ele não deixará, contudo, se apiedará de nós. Esse foi o arrependimento de Pedro.

Mas esse de Judas deve nos mostrar que não é suficiente ter algum sentimento de nossas

faltas e alguns escrúpulos, mas temos que ser totalmente convertidos a Deus. Isso é muito

notável, porque nós vemos como muitos, e quase todos, se gabam. Quando eles fizeram

confissão em uma palavra de suas falhas, embora sejam graves, parece-lhes que eles es-

tão livres e puros, como se tudo o que tivessem a fazer fosse limpar a boca. E mesmo que

alguma instância seja mencionada a eles, eles imaginam que eles repararam um grande

erro. “Por quê?”, dizem, “Eu já não reconheci minha culpa? Eu não fiz penitência?”. Isso é

todo o pagamento que eles fazem, como se Deus fosse uma criancinha que foi apaziguada

por algumas risadas, ou até mesmo um riso falso, que é cheio de hipocrisia e mentira. [...].

Temamos, pois, quando Deus nos admoesta e Ele nos faz sentir nossas falhas, não venha-

mos a ficar estagnados de modo nenhum, por que isso não é devidamente arrependimento.

Mas aqui está o teste pelo qual podemos saber se estamos verdadeiramente arrependidos

ou não. É quando de nossa própria livre vontade nós buscamos completo acordo com Deus

e não fugimos, quando julgados por Ele, de fato, desde que Ele nos receba em misericórdia.

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Isto é o que Ele fará depois que nos declaramos culpados. Pois, quem julgar a si mesmo,

a fim de declarar-se culpado diante de Deus, diante de anjos, e diante dos homens, será

justificado e absolvido, desde que ele somente clame a Deus para que Ele lhe seja favo-

rável. Isso então, em resumo, é o que temos que observar.

Agora, esta confissão de Judas teve que ser feita para tornar os sacerdotes totalmente mui

indesculpáveis. Também o escritor do Evangelho faz este relato para que possamos con-

templar tanto melhor a cegueira que Satanás havia colocado em todos esses réprobos, e

que cada um possa refletir sobre si mesmo. Quando Deus nos propõe exemplos de Sua ira

e de Sua vingança e Ele mostra que os homens são, por assim dizer, loucos, que eles são

depravados de senso e de razão, que eles são (fugazmente) brutais ao arremessarem-se

em uma fúria infernal; é para que cada um de nós abaixe a cabeça e que cada um de nós

saiba que muitas vezes poderia chegar a esse ponto, a não ser que seja preservado pela

bondade e graça de nosso Deus. No entanto, sejamos aconselhados a não lutar contra nos-

sas próprias consciências como os sacerdotes fizeram. Pois, todos aqueles que assim se

endurecem contra Deus, no final, cairão em tal condição reprovável que eles não terão mais

qualquer razão em si mesmo. Mesmo depois de serem assim arruinados diante de Deus,

eles também deixarão de estarem de todo envergonhados diante dos homens. Pois é uma

coisa boa que a baixeza deles seja mostrada para todos e que eles sejam colocados em

tal desgraça que todos fiquem horrorizados com a sua vilania.

Esse é, então, o motivo pelo qual o escritor do Evangelho aqui nos relatou que quando Ju-

das chegou a devolver o dinheiro, os sacerdotes de modo algum foram comovidos por isso.

É verdade que eles disseram que não é lícito colocá-lo na arca do tesouro, pois este é preço

de sangue. É assim que os hipócritas sempre cultivam as aparências, para produzirem uma

sombra e uma cobertura para as suas iniquidades. Mas isso é apenas para zombar de

Deus. Pois, eles nunca vêm em integridade e transparência a Ele. Pois o que é dito aqui?

“Oh, não é lícito colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue”. Então, esse

dinheiro, havia sido roubado? Sabe-se que os sacerdotes viviam das ofertas do Templo.

Como hoje no Papado, aqueles que são chamados prelados e pessoas da Igreja devoram

as oblações e não se importam com que finalidade eles as aplicam. Embora os sacerdotes

tivessem retirado das ofertas do Templo o dinheiro que haviam dado a Judas, isso não im-

portou a eles; eles não têm nenhum respeito. Agora eles questionam-se se devem colocar

esse dinheiro de volta no cofre das ofertas; e por estes meios eles repelem Judas, por assim

dizer, por zombaria, como se dissessem: “Talvez este homem mau traiu seu mestre. Temos

apenas que determinar se fez bem ou mal. No entanto, a fim de que não sejamos partici-

pantes da sua ofensa, e para que mantenhamos nossas mãos limpas (uma vez que eles

haviam usado esse dinheiro para tal finalidade) compremos com ele um campo para o se-

pultamento dos estrangeiros”. Na verdade, para dizer que eles haviam certamente agrada-

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do a Deus e que Ele pode não saberia como requerer mais, embora houvesse alguma falha

no que eles fizeram.

É assim que os hipócritas sempre terão as suas satisfações, pensando em comprar o seu

escape, mas isso é apenas meninice. No entanto, deixe-nos saber que isso é recitado para

nós, a fim de que possamos aprender, quando caímos, a reconhecermos as nossas falhas,

em verdade, e não para que façamos voltas de um lado ou de outro, mas em tudo e por tu-

do francamente suportemos a condenação. Isso é, então, o que é mostrado para nós. En-

quanto isso, oremos a Deus para que Ele remova de nós a venda que Satanás está tentan-

do colocar, a fim de que não murmuremos em nossas lisonjas, querendo desculpar-nos do

mal, mas que cada vez mais possamos nos dar ao trabalho de examinar bem todos os nos-

sos vícios, a fim de condená-los e fazermos uma correta confissão deles. Além disso, tam-

bém vemos como Deus abate a opinião de hipócritas, que, por final, eles permanecem

frustrados com o que tinham fingido. Porquanto os sacerdotes certamente quiseram apagar

sua culpa e que ninguém jamais mencionasse isso, e por isso eles fingiram comprar um

campo para o enterro de estrangeiros, mas Deus torna isso inteiramente ao contrário da

intenção deles. Pois, este campo veio a ser chamado de “campo de sangue” ou “campo de

assassinato”. Esse memorial deve ser perpétuo e permanece para sempre na boca dos

homens, mulheres e crianças, de modo que este crime detestável que fora assim cometido

pelos sacerdotes é diariamente conhecido e manifesto, e eles dizem: “Contemplem, o cam-

po de sangue, ou seja, o campo que foi comprado com o preço da traição. E quem fez isso?

Os sacerdotes e os principais de todo o povo”. Então, nós vemos, quando hipócritas tentam

esconder-se em seus crimes e dissimulam, que Deus revela a vilania deles ainda mais e

faz com que a sua vergonha seja conhecida por todos os homens e que todos os mante-

nham em repulsa. É por isso que eu disse ser totalmente necessário que sejamos aconse-

lhados a ir a Deus e ali, confessar todos os nossos pecados, a fim de que possamos agradá-

lO, para sepultá-los diante dEle, diante dos Seus anjos, e diante de todo o mundo, após tê-

los reconhecido.

Por fim, o escritor do Evangelho cita uma passagem do profeta para mostrar que isso não

é relatado apenas por causa do pecado de Judas, ou por causa da obstinação diabólica

dos sacerdotes, mas por causa da condenação de todas as pessoas em geral. Ele diz,

então, “se realizou o que vaticinara o profeta: Tomaram as trinta moedas de prata, preço

do que foi avaliado, que certos filhos de Israel avaliaram, E deram-nas pelo campo do oleiro,

segundo o que o Senhor me determinou”. Agora Zacarias, de quem esta passagem é extraí-

da, compara nosso Senhor Jesus Cristo a um Pastor, e diz que desejando governar o povo

judeu, Ele tinha tomado a Sua vara, ou Seu cajado de pastor, que foi chamado de “Graça”,

para dizer que Ele tinha uma condição tão bem ordenada que era possível dentre aquele

povo, de fato, que Ele fosse permitido conduzir pela mão de Deus. Pois, há alguma coisa

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mais desejável? E que isso seja assim, onde está a nossa soberana alegria e bem-aventu-

rança, a menos que Deus se preocupe com a nossa salvação e Ele execute o ofício de

Pastor em nosso meio? Isso, então, era um governo de Deus naquele povo, quando se fala

desta vara, não de um cajado que existe para atacar e quebrar tudo, mas para liderar e go-

vernar pacificamente as ovelhas que se tornam dóceis. Agora, diz-se que mais uma vez Ele

tomou uma segunda vara. Como de fato, quando as pessoas foram trazidas do cativeiro da

Babilônia, Deus, em seguida, voltou para Sua posição como Pastor. Depois de uma dissi-

pação tão horrível quanto a que existiu anteriormente, Ele reúne o povo para governá-los

pacificamente sob a Sua mão. Mas por final, havia tal vil ingratidão que Deus desfez-se de

tudo [Zacarias 11:11]. Então, Ele diz: “Oh, vejo o que é isso; eu não preciso perder Meu

tempo ou Minha preocupação com vocês”. Ele fala aqui da maneira comum dos homens.

“Dai-me o meu salário e, se não, deixai-o”. Diante disso, eles trouxeram-Lhe trinta moedas

de prata. “O quê?”, Ele diz, “Esta é a recompensa ou salário que recebo de vocês?” Pois,

quando Ele fala de trinta moedas de prata, Ele considera as oblações que eles fizeram no

Templo. Elas eram (desde que eles as usaram em hipocrisia, sem fé e sem arrependimento)

apenas cerimônias vãs, que, no entanto, os sacerdotes e os judeus valorizavam altamente.

Como hoje os Papistas, quando eles têm feito muitas “santas” e todas as suas belas devo-

ções, lhes parecem que Deus está quase em débito para com eles. Agora Deus diz que

tudo isso é apenas lixo. “Como”, diz Ele, “lucrei por vocês terem passado por isso? Talvez

este seja o pagamento de um pastor, estou-lhes muito grato. Oh, não, não! Não tenho nada

a ver com isso. Vão, arrojem isto ao campo do oleiro, e que vocês decorem as bocas e ca-

bos de suas vasilhas com isso! Vão! Eu estou deixando vocês. Usem isso na sua olaria”.

Como se Ele dissesse: “Se chove em vosso Templo, corrijam isso vocês mesmos. Quanto

a Mim, Eu já não tenho qualquer parte ou porção com vocês. Eu queria que vocês fossem

embora. E não pensem em Me apaziguaram aqui, trazendo-Me, por assim dizer, o

pagamento de um miserável. Eu não aprovo nada disso”. Isso, então, é o que o profeta, em

resumo, intencionou.

Agora, conhecemos que o que foi previsto sobre o nosso Deus, assim foi cumprido na Pes-

soa de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o nosso verdadeiro Deus manifestado em carne.

Por isso, foi necessário que de forma visível essa passagem fosse verificada, e que Jesus

Cristo fosse avaliado em apenas trinta moedas de prata, isto é, que o povo mostrasse tal

vil ingratidão para com Ele, que era o Eterno Pastor, a Quem Deus estabelecera sobre o

Seu povo. O certo é que desde que o povo deixara de ser governado por Deus, também

nosso Senhor Jesus sempre realizou o cargo de Mediador, de fato, embora Ele ainda não

houvesse aparecido em carne humana. Devemos lembrar bem disso bem, a fim de que

possamos aprender de nossa parte que se Deus tem exercido a graça de receber-nos, por

assim dizer, sob a Sua mão, e nós somos o Seu rebanho, e Ele nos dá o nosso Senhor

Jesus Cristo, por um Pastor, não O firam, de forma que Seu Espírito seja entristecido e can-

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sado por nossos atos de rebeldia e ingratidão. Também, não joguemos nEle quaisquer bu-

quês de flores (como se diz no provérbio comum), mas, desde que Ele se oferece a nós,

que possamos nos apegar a Ele como nosso Deus e Rei, que possamos dedicar toda a

nossa vida a Ele, e que não possamos trazer-Lhe um pagamento que Ele rejeita; mas nos

apresentar a Ele, tanto as nossas almas e os nossos corpos. Pois, também é mui certo que

Ele deve ter preeminência sobre todos nós e que Ele nos possua totalmente, quando

consideramos que Ele busca apenas a nossa salvação.

Agora, para finalizar e chegar à conclusão, é dito: “E foi Jesus apresentado ao presidente,

e o presidente o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos Judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes.

E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Disse-

lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti? E nem uma palavra lhe respondeu,

de sorte que o presidente estava muito maravilhado” [Mateus 27: 11-14]. Em primeiro lugar

temos que manter em memória, quando o nosso Senhor Jesus Cristo é julgado diante de

um juiz terreno, que isso ocorreu a fim de que possamos ser isentos e absolvidos da conde-

nação que nós merecemos perante o Juiz celestial. Sabemos que não podemos fugir do

que está escrito pelo profeta Isaías, que todo joelho deve se dobrar diante de Deus (Isaías

45:23). Desde que Deus é o Juiz do mundo, como podemos subsistir diante de Sua face e

diante de Sua Majestade? Não há um de nós que não seja obrigado a condenar-se cem mil

vezes. Quando vivemos apenas um ano no mundo, já existem centenas de milhares de pe-

cados, pelos quais merecemos ser condenados. Não há ninguém que não tenha este teste-

munho gravado em seu coração, e que não esteja convencido disso. Ora, Deus vê muito

mais claramente do que nós, como é que Ele não nos condena, quando cada um é obrigado

a condenar-se, em verdade, de muitas maneiras? Mas aqui o nosso Senhor Jesus é subme-

tido a esse extremo de ser acusado perante um juiz terreno, mesmo diante de um homem

profano, diante de um homem que era impulsionado apenas por sua ganância e sua ambi-

ção. Quando, pois, o Filho de Deus é humilhado a esse ponto, saibamos que isso é para

que sejamos capazes de chegar de cabeças erguidas diante de Deus, e para que Ele possa

nos receber, e que o medo já não possa nos fazer recuar a partir de Seu tribunal, mas que

nós ousemos nos aproximar com coragem, sabendo que seremos recebidos ali em miseri-

córdia. Sabemos mesmo que Jesus Cristo adquiriu autoridade, poder e domínio soberano

de ser Juiz do mundo. E quando Ele é, portanto, condenado por Pilatos, é no sentido de

que hoje podemos chegar com confiança a Ele, na verdade, sabendo que o poder é dado

a Ele para nos julgar. Uma vez que Ele esteve ali, podemos saber que Ele quis carregar a

nossa condenação e que Ele não intencionou um julgamento para justificar-Se, também

sabendo que Ele tinha que ser condenado, de fato, em nossa pessoa. Pois, embora Ele

fosse sem mancha ou defeito, Ele levou todos os nossos pecados sobre Si. Não precisamos

estar surpreendidos, então, que Ele permaneceu ali como se Ele fosse condenado. Pois,

de outro modo, Ele não poderia ter realizado o cargo de Mediador, exceto aceitando a

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sentença e confessando que em nossas pessoas Ele merecia ser condenado. Isso, então,

é o que o silêncio de nosso Senhor Jesus Cristo implica, de forma que hoje possamos

clamar a Deus com plena voz, e que possamos pedir-Lhe o perdão para todos os vícios e

crimes.

Agora, curvemo-nos em humilde reverência diante da majestade do nosso Deus.

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO use este sermão para trazer muitos

Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

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Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

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Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

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Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

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Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

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Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

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Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

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Excelência de Cristo, A — J. Edwards

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Spurgeon

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dos Pecadores, A — A. W. Pink

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Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

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Pacto da Graça, O — Mike Renihan

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Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

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Plenitude do Mediador, A — John Gill

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Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

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Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

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Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

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Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

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Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

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Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

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Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

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O Tema Da Pregação De João

2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.