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[RE]URBANIZAÇÃO REQUALIFICAÇÃO URBANA FAVELA VILA PRAIA TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO MACKENZIE PEDRO RIBEIRO GUGLIELMI ORIENTADOR JOÃO SETTE WHITAKER FERREIRA

PedroTFGmono

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  • [RE]URBANIZAOREQUALIFICAO

    URBANAFAVELAVILA PRAIATRABALHO FINAL DE GRADUAO DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO MACKENZIE

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I

    ORIENTADOR JOO SETTE WHITAKER FERREIRA

  • AGRADECIMENTOS

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I2

  • Antonia Ribeiro GuglielmiCarlos Alberto Coelho

    Cludio SantosComunidade da Vila Praia

    Dona Maria (moradora da Vila Praia)Eugenio ConteGabriel Cesar

    Gilberto de Moraes SivieriHctor Vigliecca e equipe

    Hlia Dias Ribeiro (em memria)Ignacio Errandonea

    Ivana Aparecida BedendoJoo Sette Whitaker Ferreira

    Juan VillJlio Luiz Vieira

    Letcia Ribeiro Guglielmi

    Lucas FehrLuciano Margotto Soares

    Maria Gorete (moradora da Vila Praia)Maria Isabel Villac

    Mnica Machado StuermerNabil Bonduki

    Neli ShimizuPascoal M. Costa Guglielmi

    Paulo Ricardo GiaquintoPedro Nosralla

    Pedro Paulo de Melo SaraivaPerola Felipette Brocaneli

    Ronald FiedlerRuben Otero

    Silvio SantannaThasa FroesWilson Flrio

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 3

  • COMENTRIOS

    O Pedro escolheu um tema importante, de habitao

    social, normalmente pouco trabalhado ainda pelos arquitetos.

    Mais especifi camente, trabalha a problemtica das pequenas

    favelas, produzindo um projeto de grande qualidade, projetual e

    urbanstica, extremamente aplicvel uma situao real. uma

    amostra do aluno amadurecido para a atuao profi ssional.

    Joo Sette Whitaker Ferreira

    Um trabalho diferenciado. O aluno, digo, o arquiteto

    avana propostas consistentes resgatando a problemtica da

    habitao de interesse social para o centro do debate urbano,

    dando questo a relevncia devida. No mais como utopia,

    algo que s se coloca no plano do desejo, mas como inteno

    concreta, objetivando a construo de projetos to bons e

    pertinentes como o que foi desenvolvido, se possvel j!

    Antonio Carlos SantAnna

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I4

  • O Pedro desenvolveu um projeto importante de

    requalifi cao urbana e recuperao ambiental de uma rea

    sensivelmente frgil, com o mrito de oferecer qualidade de

    arquitetura populao moradora na favela Vila Praia.

    O trabalho denota qualidade do aluno e do profi ssional

    arquiteto prestes a enfrentar a ao profi ssional.

    Celso Aparecido Sampaio Pascoal Mrio Costa Guglielmi

    A urbanizao de assentamentos sub-normais uma

    das mais complexas categorias de projeto urbano.

    Pedro enfrentou este desafi o, efetuou pesquisa

    bibliogrfi ca, realizou levantamento de campo, descutiu com

    membros da comunidade e realizou projeto e monografi a de

    excelente qualidade.

    Parabns! E benvindo ao Planeta [Urbanizao de]

    Favela.

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 5

  • NDICE

    1.1. ENFOQUE SCIO-ECONMICO MUNDIAL

    1,2 FOCO NA SITUAO DO BRASIL E DE SO PAULO

    1.3. A LGICA DAS POLTICAS HABITACIONAIS

    1.4. A SITUAO DA POPULAO E A FAVELA

    AGRADECIMENTOS

    0. INTRODUO

    1. ANLISE DO TEMA

    2. ESTUDO DE CASO

    3. PROPOSTA

    BIBLIOGRAFIA

    1. ANLISE DO TEMA 10

    10

    14

    18

    23

    2

    8

    10

    24

    38

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  • 3.1. PORQUE REURBANIZAR

    3.2. COMO REURBANIZAR

    3.2.1. Metodologia de Interveno

    3.2.2. Operacionalizao Administrativa

    3.3. PARA QUEM REURBANIZAR

    3.4. O PROJETO

    3.4.1. Experimentao e Desenvolvimento

    3.4.2. Setorizao dos Usos

    3.4.3. Representaes Finais

    3.4.4. Maquete

    2.1. ABORDAGEM REGIONAL

    2.1.1. Localizao e delimitao da rea

    2.1.2. Ocupao e uso do solo da regio

    2.1.3. Sistema virio, transporte e acessibilidade

    2.1.4. Legislao e questo fundiria

    2.2. ABORDAGEM LOCAL

    2.2.1. Histrico da favela Vila Praia

    2.2.2. Ocupao da Favela Vila Praia.

    2.2.3. Acessibilidade da Favela Vila Praia

    2.2.4. Anlise Fotogrfi ca

    2.3. CONCLUSES

    2. ESTUDO DE CASO 3. PROPOSTA24

    24

    25

    25

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    30

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    62

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  • 0. INTRODUO

    Este texto resultado do Trabalho Final de Graduao da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Tem como tema desenvolvido a favela, expresso concreta da pobreza humana. A favelizao de inmeras cidades do mundo transforma o espao urbano de convivncia social em reas crticas de patologias da sociedade. Mais de um milho de pessoas vivem em condio de pobreza, j ultrapassa um sexto da populao mundial. A refl exo sobre a sociedade atual obriga buscar novas alternativas, e deixa muito claro que no mais possvel ignorar est realidade. papel do arquiteto-urbanista pesquisar, vislumbrar e propor novas solues scio-ambientais coerentes com a ocupao urbana. Enxergar alternativas abrangentes, sustentveis em todas as suas frentes, demonstra a responsabilidade do profi ssional de humanas.

    No primeiro captulo, Anlise do Tema, busca-se entender as razes das tamanhas desigualdades do mundo, bem como compreender a origem da interminvel pobreza da sociedade atual. O modo de produo capitalista responsvel por esse processo de excluso social. Assim, essencial proceder uma leitura expedita do desenvolvimento do sistema capitalista (de

    maneira sucinta, pois o tema extremamente complexo), para se confrontar com a situao atual. Neste momento a pesquisa focada nos aspectos scio-econmicos, fornecendo uma viso abrangente orientada compreenso do todo. Em seguida, busca-se concentrar na anlise emprica desse processo, onde se aborda o desenvolvimento histrico da capital paulistana - sede do projeto proposto, que pode servir de referncia para outros casos. Para tanto, estuda as polticas urbanas e habitacionais adotadas em momentos seqenciados e suas conseqncias. Destacar essas polticas e compreender a lgica de seu funcionamento so objetivos do terceiro item da pesquisa. Saber quais foram os reais objetivos de cada ao do governo na rea habitacional. A pesquisa fi nda com a anlise da situao atual da populao,de fato desatendida tanto pelos programas de governo, quanto pelas aes do mercado imobilirio. Sendo assim, esta populao tratou de resolver seus problemas da sua maneira produzindo seu prprio espao de moradia. Cabe assim entender: o papel da favela, seu signifi cado, sua defi nio e sua relao com a cidade. O Estudo de Caso - segundo captulo do trabalho, destina-se a analisar o lado prtico da teoria e dos processos expostos no captulo anterior. Assim possui um papel de

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  • constatao, aonde se avalia a ocupao, os usos e as infl uencias urbanas, e se compara com desenvolvimento da cidade. Dentro desta tica, a rea de interveno eleita - Favela Vila Praia - alm apresentar grande contraste social, engloba as questes aqui levantadas. O estudo aprofundado em um caso especfi co, refl ete um fenmeno que se reproduz inmeras vezes por toda cidade, por todo o pas e por todo o mundo. Este Estudo de Caso analisa as questes internas de grande relevncia para a Vila Praia, bem como para outros assentamentos. Viver a realidade da comunidade e perceber a difi culdade de cada famlia condio imprescindvel para se compreender totalmente a gravidade da questo habitacional. A proposta, captulo de concluso do trabalho, a resposta para o processo de pesquisa precedente. Assim como a favelizao se refl ete por toda cidade, a proposta tambm deve ter a mesma abrangncia. Deste modo, ela no se prende ao caso especfi co da Vila Praia. Mais do que um projeto, esta proposta utiliza-se desta rea para apresentar uma metodologia de interveno com aplicabilidade geral. O objetivo propor novas frentes para a poltica habitacional e urbana, visando a melhoria da qualidade de vida no apenas da comunidade local, mas de toda classe desprovida de atenes hoje. P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 9

  • 1. ANLISE DO TEMA1.1. ENFOQUE SCIO-ECONMICO MUNDIAL

    Mike Davis, em seu livro Planeta Favela, denuncia a misria em que a sociedade contempornea tem se enraizado cada vez mais. A populao global de 6,5 bilhes de pessoas, metade dela vivendo em reas urbanas. nas cidades que se concentram as grandes taxas crescimento, acarretando nos dias atuais um momento histrico, em que pela primeira vez a populao urbana global ser, ou j (devido impreciso dos dados), maior que a rural. Porm essa taxa de crescimento urbano concentrada nos pases de terceiro mundo, cidades da periferia do capitalismo que crescem de maneira desenfreada. O processo de favelizao generalizado, pases possuem cidades completamente dominadas por favelas, como a Etipia, com 99,4% da populao urbana favelada (Davis, 2007). Os moradores de habitaes sub-normais j representam um sexto da humanidade, ou seja, mais de um bilho de pessoas! A pobreza deixou de ser exceo e tornou-se regra. Este trabalho est focado, primeiramente, em entender como o mundo chegou a essa situao to trgica, como possvel permitir que milhes de pessoas vivam em condies subumanas. Partindo de uma viso geral de todo processo evolutivo scio-econmico da sociedade atual, com um panorama, bastante simplrio e sinttico (com a concincia da complexibilidade do tema), para focar na maior expresso

    As cidades do futuro, em vez de feitas de

    vidro e ao, como fora previsto por geraes

    anteriores de urbanistas, sero construdas

    em grande parte de tijolo aparente, palha,

    plstico reciclado, blocos de cimento e

    restos de madeira. Em vez das Cidades

    de luz arrojando-se aos cus, boa parte do

    mundo urbano do sculo XXI instala-se na

    misria, cercada de poluio, excrementos

    e deteriorao.

    Mike Davis

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  • espacial de pobreza da sociedade: a favela. Toda essa misria no se criou por acaso, ela faz parte do desenvolvimento do capitalismo. Tal modo de produo tem a condio intrnseca de promover a acumulao de capital, tornando-se um sistema de multiplicao, porm apoiado tambm, como descreve Karl Marx (O Capital), na necessria produo da desigualdade econmica e social. A revoluo industrial, iniciada na Inglaterra no sculo XVIII, foi o marco do novo modo de produo que se instalava no mundo. A industrializao europia e norte-americana foram desdobramentos desse processo. O refl exo na sociedade, segundo Marx, foi uma nova diviso de classes, com os capitalistas, detentores dos meios de produo, e os proletrios, que possuam apenas sua fora de trabalho, a isto denominou-se como Diviso Social do Trabalho. Os proletrios, mesmo em maioria, fi cavam em desvantagem nas relaes trabalhistas, sem opes rebaixavam o salrio a patamares mnimos e elevavam a jornada de trabalho

    ao mximo, constituindo o chamado exercito industrial de reserva. As cidades do sculo XIX cresciam sem controle, tornaram-se caticas e insalubres, com o risco eminente de epidemias. Os trabalhadores chegaram condio miservel. As revoltas, greves e mobilizaes dos trabalhadores foram a resposta desse setor, que resultaram em importantes

    conquistas, como salrio mnimo e limite da jornada de trabalho. Os sindicatos ganharam destaque na organizao dos proletrios. Marx chama de Luta de Classes a disputa pela apropriao da acumulao gerada pelo sistema. O socialismo, que um novo modo de produo proposto, se baseia na deteno da mais vaila pela classe dos trabalhadores. Paralelamente, com a

    Diviso Internacional do Trabalho, os pases mais industrializados disputavam o domnio do mercado. O liberalismo extremo levou produo exagerada, eclodindo com a crise de subconsumo em 1929. A disputa culminou com o confl ito armado de propores inesperadas com as Guerras do sculo XX. O sistema capitalista se apresentava enfraquecido.

    Os Estados foram bem mais efi cazes

    na destruio de moradia de massas

    do que em sua construo

    Erhard Berner,

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  • 1. ANLISE DO TEMA

    Para superar a crise do modo de produo capitalista e a ameaa de um novo sistema socialista o modelo Keynesiano implementou a participao do Estado como mediador. A poltica do bem estar social, a formao da social-democrcia europia e com a unifi cao de leis trabalhistas foram medidas em defesa da consolidao do modelo capitalista. Para OConnor o Estado capitalista passa a desempenhar duas funes bsicas: acumulao e legitimao. Ou seja, ele deve manter ou criar condies para uma lucrativa acumulao de capital ao mesmo tempo em que deve manter ou criar condies de harmonia social (OConnor, 1977;21). Logo, enquanto

    A causa bsica da favelizao urbana

    parece ser no a pobreza urbana, mas a

    riqueza urbana

    Gita Verma

    a sistema comunista ainda era extremamente presente, os investimentos em manter a harmonia social eram de suma importncia. Com o enfraquecimento da Unio Sovitica o capitalismo se fortaleceu novamente ao mundo, e voltou seus interesses na consolidao de condies propcias a lucratividade do capital. Para isso foram criados novos mecanismos e

    rgos, o Banco Mundial e o FMI so exemplos de instituies internacionais, mas que na verdade so dirigidas pelos pases ricos, para aplicarem o neoliberalismo. Atravs delas os pases em desenvolvimento adotam polticas de cartilhas, como o Consenso de Washington e os PAEs (Planos de Ajustes Estruturais), que traziam pontos para adeso ao modelo capitalista globalizado. Polticas, que nunca foram praticadas

    pelos pases desenvolvidos, desregulamentavam os pases do terceiro mundo. Endividados, os pases subdesenvolvidos cobram altas taxas tributrias para conseguir arrecadar recursos destinados ao pagamento das dvidas e posteriormente para investimentos necessrios infra-estrutura produtiva. Ao mesmo tempo, os

    pases desenvolvidos, com taxas tributrias inferiores possuam uma arrecadao muito superior, que era diretamente voltada aos seus investimentos. A desigualdade se exarceba, ainda mais com o pagamento de royalties e repatriao de lucros dos investimentos estrangeiros nos pases em desenvolvimentos. Quem paga essa conta so os trabalhadores do terceiro

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  • mundo, pois alm de pagarem os altos tributos do governo, eles bancam tambm os altos tributos da produo, pois o capitalista do terceiro mundo repassa os valores para o produto fi nal, sem prejudicar lucro. Assim, o trabalhador carrega duplamente o peso dos impostos, alm de receber salrios baixssimos, o resultado a inviabilidade de uma vida digna e a degradao do seu meio de vida. Esta relao perversa, resultante de um modelo socio-econmico estabelecido no sculo XV, tem sido responsvel pelas deteriorao do terceiro mundo. A misria e a pobreza vivida pelos trabalhadores se generalizou-se por toda periferia do capitalismo mundial, a concretizao disso est nas favelas espalhadas por todo o mundo. Entender todo esse processo ajuda a vislumbrar caminhos alternativos para equacionar os nossos problemas sociais.

    A cidade dos Mortos, no Cairo, onde

    um milho de pobres usam sepulturas [...]

    como mdulos habitacionaisMike Davis

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 1 3

  • As cidades brasileiras so a materializao urbana dessa sociedade, onde se refl etem todas as suas desigualdades. A segregao social que se exacerbou nos anos 50 j existia desde o perodo colonial. Hoje, o Brasil a 10 economia mundial, mas tambm tem umas das maiores taxas de concentrao de renda do mundo. Pode-se dizer que no Brasil existem um pas desenvolvido para uma pequena parcela da populao, e um terceiro mundo para a grande maioria. Desde os primrdios da histria brasileira o acesso terra demonstrava uma lgica de desigualdade. As capitanias hereditrias e o sistema de sesmarias, que vigoraram no perodo de colnia, concediam terras para poucos. Mesmo aps a independncia, a constituio de 1824 no defi niu a posse do solo. S com a Lei das Terras, de 1850, a terra se tornou mercadoria e implantou a propriedade privada do solo no Brasil. Ela consolidou a posse dos grandes latifundios, obrigando trabalhadores livres e ex-escravos a se tornarem fora de trabalho nas grandes propriedades. (Ferreira e Maricato) Apesar de ser um pas agro-exportador, com toda sua produo nas reas rurais, as cidades brasileiras possuam um importante carter poltico-administrativo, por isso preponderavam sobre o campo (Oliveira apud Ferreira), possuindo um papel protagonista no cenrio nacional. Negociaes comerciais ocorriam em reas urbanas, nas quais as intervenes

    1.2. FOCO NA SITUAO DO BRASIL E DE SO PAULO

    urbansticas buscavam reproduzir modelos europeus. Estas operaes abrangiam apenas o centro das principais capitais, de modo a mascarar o atraso no restante do pas, criando uma cidade para ingls ver (Ribeiro e Cardoso apud Ferreira). no fi nal do sculo XIX que So Paulo explode (Rolnik apud Bonduki, 1995), no contexto de um pas que se torna repblica, ao mesmo tempo que superava a condio de simples produtor agrcola. Com o fi m da escravido e a chegada de milhares de imigrantes, a industrializao nascente promoveu o crescimento da cidade em todas as direes. O nmero de habitaes torna-se insufi ciente, da mesma forma que o transporte passa no mais suportar a demanda, assim como o abastecimento de gua e a coleta de esgoto. Diante do sbito crescimento urbano, as autoridades passam a enfrentar as difi culdades de se administrar cidades. (Bonduki, 1995) Os primeiros cortios datam desse perodo da velha repblica onde as habitaes dos trabalhadores eram frequentemente classifi cadas com relatos preconceituosos, em funo dos riscos de epidemia. A situao era considerada grave, sendo de consenso a imprescindvel necessidade de interveno do governo. Utilizou-se do autoritarismo sanitrio nas aes pblicas, tanto na rea jurdica, (promulgando legislaes, com destaque ao cdigo sanitrio), como tambm nos atos do

    1. ANLISE DO TEMA

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I1 4

  • executivo (em obras de infra-estrutura de saneamento). Aes de fi scalizao e inspeo sanitria caracterizaram este quadro, por serem desrespeitosas e agressivas. A industrializao nascente, apoiada em um sitema econmico de baixos salrios, desvalida a poltica higienista. O crescimento econmico e industrial estava dissociado do desenvolvimento social. Nesse contexto, habitaes agrupadas, como as vilas operrias, eram vistas como uma soluo mais vivel, perante uma realidade de mercado onde predominava a moradia de aluguel, produzida pelo setor privado. A industrializao transformava o pas, para isso foram criados mecanismos para potencializar este desenvolvimento, como a Lei do Inquilinato, que repercutiu em diversos setores. Este exemplo mostra como o Estado cria condies para acumulao de capital ao mesmo tempo em que busca harmonia social (OConnor). Promulgada como instrumento de defesa da economia popular, esta lei visava proteger os inquilinos da mesma

    forma que viabilizava a reduo do custo de reproduo da fora de trabalho. Esta medida reduziu a rentabilidade das locaes, desestruturando a classe improdutiva dos rentistas e redirecionando os recursos, tanto fi nanceiro quanto humano, para o setor industrial. (Bonduki, 1995) Com o setor privado desestimulado em investir em habitaes, a promoo habitacional passa a ser entendida como

    um servio pblico, de responsabilidade do Estado. Os IAPs (Institutos de Aposentadorias e Penses), da mesma forma que a Fundao da Casa Popular, aparecem com destaque na produo habitacional. Destaque no pela quantidade, uma vez que no foi sufi ciente para suprir a demanda, mas sim pela qualidade arquitetnica: edifcios modernos que educavam o

    novo homem e utilizavam sistemas construtivos em srie que reduziam o custo da habitao. Na prtica, a Lei do Inquilinato gerou uma grande crise habitacional, as pessoas despejadas, assim como aquelas que chegavam a So Paulo, no encontravam moradias para aluguel. Onde morar? Grande parte da populao se deparava com uma situao sem resposta.

    Quando o assunto moradia,

    a favela problema ou soluo

    Jailson de Souza e Silva e Jorge Luiz Barbosa

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 1 5

  • 1. ANLISE DO TEMA

    As circunstncias encaminharam para o auto-empreendimento da moradia popular, baseado no trinmio: loteamento perifrico, casa prpria e autoconstruo (Bonduki, 1995). Esta equao, focada em reduzir o custo da moradia, modifi cou o mercado de produo de habitao popular, cujo impacto foi um processo de desmercantilizao da moradia, cujo valor de uso preponderou sobre o valor de venda. A partir da, o conceito da casa prpria passou a ser difundido como forma de converter o trabalhador em proprietrio - em pequeno burgus. Esta formao ideolgica, alinhada com o novo sistema industrial, provocou o crescimento horizontal da cidade, desprovida de planejamento, na qual a periferia era vtima da omisso do Estado e se desenvolvia atravs de processos de ocupao informais. Nestas condies, a falta de infra-estrutura e servios pblicos era generalizada, no que pode ser denominado urbanizao

    com baixos salrios (Ermnia apud Ferreira). Omisso, no por incapacidade do Estado de criar mecanismos de controle jurdicos e administrativos, como j o tinha feito em outros tempos, mas por interesse, na qual a populao menos favorecidas deixava regies urbanas mais

    valorizadas, deslocando-se para loteamentos de periferia, em reas semi-rurais, sem qualquer custo para o governo. Como contraponto, a alternativa de moradia junto ao mercado de trabalho levou ao surgimento de favelas, que representaram a resistncia dos inquilinos em deixar as regies centrais, invadindo reas indesejadas, de propriedade

    indefi nida. Com barraces de madeira e outros materiais improvisados, as favelas deram visibilidade crise habitacional, contrastando fortemente com o progresso que a cidade vivia. Os favelados eram vistos com muito preconceito, e o risco de remoes era eminente, desencorajando-os a investirem em

    A elite nunca soube que os moradores

    viviam com tanta humildade porque temiam as

    remoes... De que valia gastar um dinheiro

    sacrifi cado, se podamos ser despejados a

    qualquer momento?Jailson de Souza e Silva e

    Jorge Luiz Barbosa

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I1 6

  • melhorias, e conseqentemente sujeitando-os a morarem de maneira precria. De um lado, o Estado era omisso na controle de novos loteamentos, de outro, mantinha polticas urbanas de remoo de favelas defi nindo um processo que exacerbou as desigualdades da geografi a urbana. No cenrio ps-revoluo de 64, a ditadura demonstrou interesse nas questes sociais e urbanas, investindo na produo de habitao popular atravs do BNH (Banco Nacional de Habitao) - um dos principais personagens do governo.A necessidade de controle sobre a expanso urbana, ocasionada pelo avano dos loteamentos, levou o governo buscar uma forma de disciplina-los por meio legal: a Lei 6.766 de 1979, primeira tentativa de se disciplinar o parcelamento do solo, e a reserva de reas pblicas para fi ns institucionais e de reas verdes. Nessa mesma dcada, desta-se o milagre econmico brasileiro e a realizao do primeiro planto diretor de So Paulo conformando o pano de fundo do novo processo de desenvolvimento e produo do espao urbano. Entretanto estas medidas eram autoritrias, no contemplavam a distribuio desse crescimento, e favoreciam os interesses de grandes empreiteiras. Com a redemocratizao do pas, na constituio de 1988, foi aprovada a Emenda Constitucional de Iniciativa Popular

    pela Reforma Urbana, que estabelecia o princpio da funo social da propriedade urbana. Este princpio fundamentou diversos instrumentos, posteriormente regulamentados com o Estatuto da Cidade em 2001. Assim os novos planos diretores buscam, junto com a participao popular, reverter o quadro de sculos de segregao. A Grande So Paulo hoje possui uma populao de quase 20 milhes, apresentando problemas em todos os setores, desde trnsito at abastecimento de gua. A questo habitacional permanece crtica, com 12% dos habitantes vivendo em favelas. Ter conscincia dessa situao essencial para traar alternativas para que construamos cidades mais justas e democrticas.

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 1 7

  • 1. ANLISE DO TEMA1.3. A LGICA DAS POLTICAS HABITACIONAIS

    Entender o raciocnio por detrs das polticas habitacionais essencial para compreender as aes do governo no campo da moradia popular. fundamental analisar as intenes e prioridades de cada programa para se poder construir uma crtica. Como visto no captulo anterior, o governo assume um papel de provedor de habitao popular a partir do momento que a crise habitacional se acentua. Atravs dos Institutos de Aposentadoria e Penses e da Fundao da Casa Popular o governo constri um expressivo nmero de moradias, embora insufi ciente para resolver o problema habitacional urbano. Os IAPs tinham como objetivo arrecadar recursos para o pagamento das aposentadorias e penses. Para evitar a descapitalizao destes recursos, eram realizados investimentos em habitao, at ento vistos com solidez. Alm disso, a prpria moradia era entendida como um bem essencial. Assim, os Institutos passaram a construir habitaes com a dupla fi nalidade de capitalizao de seus fundos e atendimento das necessidades dos profi ssionais associados. Os projetos construdos eram de grande qualidade arquitetnica, expondo o progresso da cidade e representando o eixo da ao governamental. Dessa forma adquiriam um papel emblemtico, j que era uma fase de mudanas radicais na sociedade com a industrializao do pas. Esses projetos

    tinham ainda a funo pedaggica de ensinar ao trabalhador um novo modo de vida. Como havia uma discusso social por trs do projeto justifi cava a preocupao com a qualidade arquitetnica. Porm o congelamento de aluguis e a desestruturao do mercado de habitao tornaram incoerente a aplicao de recursos nessa rea. Isso enfraqueceu os IAPs e os colocou em crise, uma vez que a remunerao de seus recursos fi cara comprometida. Com o advento do regime militar, os Institutos perderam defi nitivamente seu papel. Paralelamente aos IAPs, a Fundao da Casa Popular fora criada com o objetivo direto de equacionar o problema atravs da sua produo habitacional. Para isso recebia dotao oramentria vinculada captao de impostos. Seus projetos alcanaram alta projeo, e, assim como aqueles dos Institutos, tinham a funo de expressar o progresso do pas. Entretanto esta poltica teve pouca efi ccia, tendo sido desarticulada por presso de interesses contrrios que inviabilizaram sua ao em larga escala. Antes de tratar da poltica habitacional ps-revoluo de 64 muito importante falar da omisso do Estado nas periferias - que pode ser interpretada como uma poltica intencional. Como anteriormente mencionado, era de interesse do governo manter o processo de ocupao irregular das reas semi-rurais, o que

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  • justifi cava a ausncia de investimento em infra-estrutura nessas regies. O binmio ocupao irregular falta de infra-estrutura, produzia habitaes a custos baixssimos, coerente com a economia nacional, baseada em baixos salrios. A poltica da omisso marcou sobremaneira o desenvolvimento das cidades brasileiras. Trouxe profundos refl exos urbanos, excluindo o direito cidade para a maior parte da populao. Ela exacerbou as desigualdades e a excluso social. A forte crise habitacional era o cenrio encontrado pelo governo autoritrio que se estabelecia. O momento era oportuno para a tomada de medidas fortes, como a criao do Banco Nacional de Habitao BNH, dotado de poder oramentrio para enfrentar a crise. A escala dos projetos desenvolvidos era compatvel com o tamanho do problema assim como o dfi cit habitacional era grande, sua soluo deveria ser do mesmo tamanho. Como resultado fsico-espacial os conjuntos habitacionais propostos tinham propores sem precedente. Os projetos buscavam construir o maior nmero de moradias possvel, acabando por reduzir o projeto a mera equao de custos, desvinculada da qualidade arquitetnica. A partir de ento, a poltica habitacional passou a ser desenvolvida em funo apenas dos nmeros resultantes, perdendo-se o carter qualitativo em prol do quantitativo. Esta

    poltica, iniciada com o BNH, perdura at os dias de hoje.A equao calculada atravs de duas variveis (conforme esquema), onde os custos so decompostos visando reduzir o oramento da unidade habitacional.

    Variveis Terreno Localizao Caractersticas Enquadramento legal

    Construo Tamanho Qualidade dos materiais Mo de obra Escala e padronizao

    Analisar o esquema de custos permite entender as aes de diversas polticas habitacionais. A partir de alguns exemplos possvel traar uma linha de desenvolvimento dessas polticas. O BNH, que implantou tal metodologia, reduziu o tamanho da unidade habitacional a espaos mnimos. Descartou tambm a aplicao de qualquer material de melhor padro, utilizando acabamentos de menor custo e restringindo-os s reas imprescindveis. Outra caracterstica das aes do BNH foram as localizaes longnquas dos empreendimentos. Embora visassem o baixo custo do terreno para os empreendimentos

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  • habitacionais, esta poltica ocasionava excessivos custos de infra-estrutura e transporte. Mais do que isto, gerava valorizao das reas intermedirias permitindo sua especulao. O que se depreende desta anlise que o objetivo da poltica habitacional no era, de fato, a busca da soluo ao problema habitacional antes disso visava dinamizar a economia. Um governo popular, como o de Luiza Erundina, dava outro tratamento poltica habitacional. Dissociado de interesses econmicos, busca reduzir o custo da habitao atravs da mo de obra. Os mutires marcaram esse governo, que alcanou nmeros signifi cativos para a cidade. O governo Paulo Maluf, com o programa Cingapura, localizou seus empreendimentos em reas pblicas remanescente de loteamentos eliminando os custos de terreno. A insero de conjuntos em reas j urbanizadas, embora interessante por manter a populao integrada s atividades urbanas, aproveita-se desta mesma localizao para promoo poltica. Assim, a busca de reduo do custo da habitao apresentou diferentes tendncias de acordo com os compromissos de cada governo. Como conseqncia, a equao de custos infl uenciou os traos da arquitetura adotada nesses programas. importante notar algumas medidas que trouxeram considervel impacto na fi sionomia dos conjuntos e na sua insero na cidade.

    A padronizao da tipologia dos prdios repetidos indiscriminadamente, desrelaciona o indivduo com a cidade, privando-o de identidade. As tipologias habitacionais passaram a ser utilizados indiferentemente do contexto urbanstico, entendidos como compatveis a qualquer local. Seus projetos buscavam diminuir a rea de modo a maximizar sua efi cincia. Nas unidades verticais, alm dos apartamentos, as circulaes tambm se reduziam ao mnimo. Nesse conceito a tipologia H tradicional alcana a melhor efi cincia, pois atende o maior nmero de habitaes com o mnimo de rea. Apesar de sua caracterstica positiva, acarreta a desqualifi cao do espao urbano estigmatizado por sua volumetria marcante aliada repetio. A utilizao de materiais e elementos pr-estabelecidos em funo de menor preo, como caixilhos e guarda-corpos, difi culta o desenho de uma boa arquitetura. Perde-se liberdade de criao. Os projetos devem se ater aos oramentos para tornarem-se viveis. Porm, obedecendo apenas as relaes de custo, desprezam as questes urbansticas e arquitetnicas que deveriam direcionar o projeto. Assim, grande parte da cidade, construda pelo prprio governo, ao invs de tornarem-se regies modelos, so hoje reas crticas e degradadas. Tais medidas so referentes proviso de unidades habitacionais, at ento a nica frente de atuao da poltica

    1. ANLISE DO TEMA

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  • habitacional do governo. A partir de dos anos 70 so abertos novo procedimento para enfrentar os problemas de moradia da cidade. A aceitao da periferia como rea urbana leva as polticas urbanas a medidas de incluso dessas reas. Assim, a poltica habitacional passa a atuar em trs frentes: Produo (proviso) habitacional Regularizao de loteamentos clandestinos Reurbanizao de assentamentos sub-normais

    Estas frentes responderam diretamente realidade da cidade. Grande parte da malha urbana, que cresceu atravs da omisso do governo, agora devem ser corrigida e regularizada, para conseguir se inserir na cidade. As favelas que resistiram as polticas de remoo a partir de ento passaram a ser reurbanizadas. Alterou-se o modo de olhar para essas reas urbanisticamente crticas. Deste modo, as polticas habitacionais passaram a dar resposta s reas que at ento eram ignoradas. Porm, o dfi cit habitacional ainda era muito alto, e a proviso de unidades novas tambm era essencial. Cada frente atuava de forma independente das outras. Assim como o problema habitacional tambm no se relacionava com os demais aspectos e problemas urbanos. Hoje, com o Plano Diretor, busca-se equilibrar cada

    Quando falamos em moradias populares

    estamos falando de muito mais do que

    paredes e compartimentos domiciliares.

    No se trata simplesmente de um abrigo

    para uma nica famlia. uma moradia.

    Um Espao plural, onde grupos unidos por

    valores, prticas, vivncias, memrias e

    posio social constroem seu enraizamento

    como fora de realizao das suas vidas.

    A moradia signifi ca que as pessoas esto

    inseridas em relaes socioespaciaisJailson de Souza e Silva e

    Jorge Luiz Barbosa

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  • 1. ANLISE DO TEMA

    frente de atuao conforme as prioridades da cidade. A poltica habitacional est diretamente integrada s polticas urbanas, assim as medidas do governo devem atuar em diversos setores. A habitao passa a ser pensada junto a transporte, servios, equipamentos pblicos, infra-estrutura, lazer, etc. Com isso, as polticas habitacionais e urbanas tm se desenvolvido de maneira positiva para a cidade. Entretanto ainda temos muitos ajuste a fazer, alm de potencializar o alcance dessas polticas. Nesse sentido, este trabalho busca entender tais polticas para poder indicar novas alternativas, visando melhora-las.

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  • 1.4. A SITUAO DA POPULAO E A FAVELA

    As polticas habitacionais se desenvolveram e expandiram sua atuao. Porm elas ainda no so sufi cientes para suprir a demanda existente. A populao, principalmente das reas mais carentes, cresce a ndices mais elevados, agravando o dfi cit habitacional. De um lado, o governo, por insufi cincia de recursos, no d conta de suprir esta demanda. De outro, o mercado, devido ao baixo poder aquisitivo dessa populao, tambm no consegue atender esse pblico. A situao da populao foi, e ainda , seu assentamento na periferia ou na favela. A alternativa possvel para as questes habitacionais foi criada pela prpria populao, Ou seja, o governo no consegue atender essa populao, o mercado tambm, a resposta foi dada por eles mesmos: a ocupao de reas ociosas ou excludas do mercado. Para a fi nalidade deste trabalho, ser colocado foco na favela como forma de assentamento urbano sub-normal por melhor expressar as contradies scio-econmico-ambientais da cidade. Assim cabe levantar uma questo sempre presente neste tema : a favela problema ou soluo. Vista de fora, ela degrada a regio sendo frequentemente associada aos problemas de insegurana e insalubridade. Entretanto para quem est dentro, a favela a soluo habitacional vivel para milhares de pessoas.

    Tecnicamente, as favelas so assentamentos humanos urbanos, em reas privadas ou pblicas, ocupadas por no-proprietrios dessas reas, que edifi cam suas moradias margem das leis urbansticas e construtivas. As favelas se caracterizam, portanto, pela dupla ilegalidade de sua situao, tanto fundiria (no que diz respeito ilegalidade da posse da terra), quanto urbanstica (no que diz respeito a ilegalidade das construes).(Bueno, Denaldi apud Ferreira). Segundo o Estatuto da Cidade, a propriedade urbana deve cumprir sua funo social. Embora irregulares as favelas desempenham indiscutvel papel social na cidade, o que muitas reas regulares no cumprem. Apesar de a favela no respeitar formalmente aspectos fundirios e construtivos, ela se justifi ca pelo seu fi m social.

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  • 2. ESTUDO DE CASO

    O estudo de caso da favela Vila Praia tem o objetivo de comprovar que diferentes formas de ocupao, em favelas paulistanas, so resultado de um mesmo processo de excluso scio-fsico-espacial. Paralelamente, as informaes a serem levantadas para esta anlise, proporcionaro o necessrio conhecimentos para o desenvolvimento do projeto de interveno.

    P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I2 4

  • 2.1.2. Ocupao e uso do solo da regio A rea de interveno est localizada em regio de uso predominante residencial, com padres variados. O Plano Diretor Regional do Campo limpo defi ne toda a regio como Zona Mista de Alta Densidade A, e classifi ca as Av. Dr. Luis Migliano e Av. Guilherme Dumont Villares como Sistema Virio Estrutural. A leste a ocupao se caracteriza por grandes lotes com implantao de uso residencial multi-familiar, de padro mdio a alto, com prdios de gabarito de 8 a 20 pavimentos. rea apresenta forte atuao do mercado imobilirio (que denomina a regio como Morumbi), conforme se observa nas vrias obras em andamento e diversas recm acabadas. Por toda essa rea existem lotes vazios, em provvel especulao. Na direo oposta o padro tambm o oposto. A ocupao a oeste da rea tem como caracterstica ruas estreitas com a seqncia de lotes populares de aproximadamente 5 metros de frente. So edifi caes trreas ou sobrados, normalmente geminados, de uso residencial uni-familiar, porm com possveis lotes ocupados por mais de uma famlia. Atende uma populao de padro entre baixo e mdio, e est praticamente toda ocupada. As reas verdes tambm so o oposto do lado leste, nesta rea so quase inexistentes. Ao seguir mais a oeste, at Olaria, o padro continua abaixando. Ao norte, tambm possui uma ocupao residencial uni-familiar, denominada Super-Quadras Morumbi, porm com

    2.1. ABORDAGEM REGIONAL

    2.1.1. Localizao e delimitao da rea A rea de interveno est localizada na regio sudoeste do municio de So Paulo, na Subprefeitura de Campo Limpo, distrito de Vila Andrade. Inserida no bairro de Vila Suzana, a rea tem como principal referncia a centralidade Portal do Morumbi e o cemitrio da Paz. Situada junto Av. Dr. Luis Migliano, a rea delimitada seguindo pela Rua Jos Branco de Miranda, seguida pela Rua Jean Albert at encontrar com a Rua Jos Arzo, onde segue a linha de divisa de lote at chegar a divisa da gleba vizinha, que permanece sem ocupao, onde segue pela divisa at encontrar a novamente a Av. Dr. Luis Migliano onde segue at fechar o permetro, encerrando rea de 10.754,00m.

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  • 2. ESTUDO DE CASO

    padro mdio. So terrenos mais generosos e com edifi caes em melhor estado. Geralmente com casas isoladas, apresentando-se quase totalmente ocupada. E, fi nalmente, ao sul delimita-se com rea sem ocupao. So glebas inteiras sem uso, esperando a valorizao da regio. Esta gleba vizinha chegou a ser invadida e ocupada, tendo processo de reintegrao de posse decretado, com a remoo de vrios barracos. Algumas reas apresentam-se em processo de especulao, demonstrando interesse na remoo da favela. Entretanto so reas que no cumprem seu papel social de propriedade urbana. Esta situao est levando a iniciativa privada a dar lanamento a um novo empreendimento, que poder modifi car o panorama da regio. O entorno da favela Vila Praia caracterizado pelo uso residencial mdio a elevado, porm a Av. Dr. Luis Migliano, como via estrutural tem um carter comercial por todo seu percurso, juntamente com a Av. Guilherme Dumont Villares. Formam um corredor de comrcio e servios que articula algumas centralidades da regio, como o Portal do Morumbi, o Largo de Taboo da Serra, o Shopping Jardim Sul e o Terminal Joo Dias. Este carter comercial que se perde apenas nas proximidades com a favela Vila Praia.

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  • P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 2 7

  • 2.1.3. Sistema virio, transporte e acessibilidade A rea de interveno se localiza junto ao Sistema Virio Estrutural, composto pela Av. Dr. Luis Migliano e a Av. Guilherme Dumont Villares. Sistema que se prolonga pela Av. Giovanni Gronchi coletando os fl uxos para os dois eixos troncos da regio. O primeiro ao norte da rea de interveno, que liga o centro da cidade com a regio oeste, formado pela Rua da Consolao/Av. Reboas/Av. Eusbio Matoso/ Av. Francisco Morato. E o segundo ao sul, composto da Av. 9 de Julho/ Av. So Gabriel/ Av. Santo Amaro/ Av. Joo Dias/ Estrada de Itapecerica, que conecta o centro com a regio sul. O transporte est diretamente associado ao sistema virio. Pois atravs dos eixos troncos funcionam os corredores de nibus, responsveis pela maioria das viagens urbanas dessa regio. Principalmente para as classes mais baixas, que tem uma dependncia maior do transporte pblico. Assim, a populao a leste da Av. Dr. Luis Migliano possui uma relao maior com os eixos troncos. A Av. Giovanni Gronchi atende a regio a leste da rea de interveno, sendo mais caracterstica pelas viagens de automveis particulares, normalmente associados a classes mais altas. Desta foram, a rea de interveno que margeia essa via de acesso funciona como porta de entrada para uma considervel regio que est a oeste do permetro do projeto. Regio que

    2. ESTUDO DE CASO

    tem acesso apenas pela Rua Jos Branco de Miranda, junto favela. Rua que assim afunila todo o fl uxo da regio acima, e que tem problemas com entulhos e lixos jogados ao ar livre, que a prefeitura recolhe toda semana.

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  • 2.1.4. Legislao e questo fundiria A favela Vila Praia foi delimitada pelo Plano Diretor Regional do Campo Limpo como uma Zona de Especial Interesse Social ZEIS 1-W051. Mecanismo que compreende a rea como marginalizada e que pretende incorpora-la cidade formal. Instrumento que tem o objetivo de permitir a introduo de servios e infra-estrutura urbanos nos locais em que hoje no chegam, visando melhorar a condio de vida da populao. Tambm foca em regular o conjunto de terras urbanas, reduzindo as diferenas dos padres de ocupao e assim tambm a diferena entre seus valores, aumentando a oferta de terras para o mercado urbano de baixa renda. O instrumento ainda incrementa a arrecadao do municpio, aumentando a base tributria. Assim, com o instrumento aplicado, fi ca reconhecido que para atender sua funo social a rea ocupada pela comunidade de baixa renda deve ser utilizada para fi ns de habitao de interesse social. Desta forma, permitido ao projeto licena aos coefi cientes e normas urbansticas padres, viabilizando oferta de habitao para as camadas mais carentes. Utilizando o instrumento como meio de impedir o processo de remoo e expulso de famlias, lhes garantido o direito a cidade. Logo, a Zona de Especial Interesse Social e o projeto de reurbanizao devem ser compreendidos como um instrumento de garantia do cumprimento da diretriz da poltica urbana.

    Para aplicao do projeto e do instrumento de ZEIS, tambm deve ser avaliada a questo fundiria da propriedade. No caso da favela Vila Praia a rea invadida e ocupada est enquadrada em duas situaes distintas, uma sendo rea particular e outra pblica. A rea particular deve ser desapropriada, e sendo de interesse da comunidade permitido o usucapio urbano coletivo. Instrumento que assegura o direito de propriedade legalmente dada ao possuidor ocupante da rea. Certamente seguindo os critrios do instrumento, como ter a ocupao por mais de cinco anos e estar sem oposio dos proprietrios, o caso da Vila Praia. Com a parcela particular anexada poro pblica se resolve a questo fundiria, assegurando o direito moradia para a comunidade. E torna possvel, por parte do governo, a execuo do projeto e das obras. Mas para permitir o uso habitacional da comunidade na rea, e cumprindo a funo social da propriedade, existem trs alternativas: conceder as habitaes, ou direito de uso delas; vende-las; ou aluga-las. Esta defi nio depender do interesse da poltica habitacional vigente.

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  • 2. ESTUDO DE CASO2.2. ABORDAGEM LOCAL

    2.2.1. Histrico da favela Vila Praia O incio da ocupao foi no ano de 1962, ainda antes regio demonstrar qualquer crescimento, sem haver nenhum prdio. O nico empreendimento perto era o Portal do Morumbi, que estava em construo. Empreendimento que trouxe as primeiras obras de infra-estrutura, trazendo gua, esgoto, energia, pavimentao de sistema virio. At ento, os loteamentos da regio no ofereciam essa infra-estrutura. Segundo depoimentos, as primeiras ocupaes foram de pessoas que trabalhavam na obra do Portal do Morumbi, e que depois acabaram se estabelecendo. E quanto invaso, existem algumas incertezas, pois algumas das edifi caes na verdade foram construdas em lotes comprados, no processo normal, talvez com alguma irregularidade, o que era comum nas regies perifricas. As ocupaes seguintes no procederam formalidade alguma, foram ocupaes defi nidas como invaso. Inicialmente no permetro delimitado como rea verde, que se expandiu para a poro particular, que provavelmente ainda eram lotes vazios. Hoje existe na favela, segundo levantamento realizado pela Parquia de Santa Suzana, 294 domiclios e uma populao de 1.009 habitantes. Com rea prxima a um hectare (10.754,00m), resulta uma densidade bruta bastante alta da ordem de 1.000hab/ha. Uma populao numerosa para uma rea pequena, vivendo em condies extremamente precrias.

    2.2.2. A ocupao da favela Vila Praia Mesmo aps 46 anos de ocupao, o nvel de consolidao ainda baixo em funo da insegurana de permanecer na rea. O risco eminente de remoo ainda causa medo e incerteza nos moradores da rea. Risco, que na verdade, cresce a cada dia, pois com a valorizao da regio e o interesse do mercado imobilirio aumenta a incompatibilidade da favela com os novos usos do entorno. O mercado se interessa e se mobiliza para sua remoo, a ponto de alguns moradores aceitarem R$8.000,00* pela compra de seu barraco, mudando-se para outras localidades. (*Valor pago por construtoras dos empreendimentos da regio, segundo informaes extra-ofi ciais). De qualquer forma o estado fsico da favela demonstra pssimas condies. O padro de vida muito baixo (com reduzidos nveis de escolaridade e renda, diante de elevados ndices de doenas). Suas principais reivindicaes esto relacionadas questo sanitria: canalizao do crrego e coleta de lixo. A favela pode ser classifi cada em quatro reas, de acordo com suas caractersticas de padro construtivo, estado de conservao e condio de acesso: A primeira, com a situao mais estvel, respeita os lotes, apresentando edifi caes em bom estado. A rea passvel de simples regularizao, a partir de intervenes pontuais. Seus

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  • P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 3 1

  • edifcios so residenciais, com apenas as excees de um comrcio (junto com a residncia do morador), e uma igrejinha (que no foi encontrada aberta nenhum dia). A segunda rea a faixa junto Av. Dr. Luis Migliano, onde as edifi caes so, em sua maioria, de alvenaria. Muitas delas esto sobre o crrego, e fi cam em situao de risco de inundao. Vrias fi cam no limite da avenida, chegando inclusive no segundo piso a invadir o espao areo dela. Predominam as residncias embora muitas delas possuam comrcio ou servio no seu piso trreo. A terceira a rea de cota mais elevada, que apresenta as maiores declividades, ainda que sem risco de escorregamento. Tambm composto em sua maioria por edifi caes de alvenaria, sendo que muitas se encontram em condies crticas. Na rea mais alta, existem duas vielas com acesso apenas pela Rua Jos Arzo, agrupando um conjunto de casas isolado do resto da favela, funcionando como um condomnio. O uso exclusivamente residencial, contendo apenas com a exceo de um bar voltado para a Rua Jos Arzo. A quarta rea, que ocupa o miolo da favela a rea mais crtica, que concentra os principais problemas. So barracos de madeira, em condies pssimas e de uso unicamente residencial. Permanentemente afetada pelas inundaes dos dias de chuva, seu crrego se espraia sob as edifi caes,

    obrigando-as a uma ocupao elevada do solo, sobre palafi tas. O vo deixado entre o solo e o piso uma rea mida onde jogado muito lixo, criando um local propcio para a procriao de inmeros ratos. Crianas brincam de caar ratos nesses buracos. O crrego um dos principais problemas visto pela comunidade, pois ele recebe todo o esgoto da favela e grande parte do lixo tambm. assim um foco de contaminao de doenas. Outro ponto importante, que altera bastante o cotidiano dos moradores da favela, a ocupao do trafego de drogas na favela. Decises coletivas importantes da favela so impostas pelos trafi cantes, como toque de recolher e a permisso para pessoas externas poderem entrar na favela. Confl itos entre os trafi cantes e policiais j ocorreram dentro da favela, e o risco de novos confl itos eminente. O trafi co ainda tem o interesse de manter o controle da favela, pois ela o ponto margem da cidade formal. Embora no se constate a presena de organizao voltada a manter a favela.

    2. ESTUDO DE CASO

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  • 2.2.3. Acessibilidade da favela Vila Praia A favela uma barreira, pois sua presena j um fator que inibe o fl uxo pela rea, assim como desinteressa o comrcio e servio da regio. Ou seja, por mais que as vielas da favela tornassem os fl uxos urbanos mais naturais, a populao do entorno ainda optaria pelo percurso por fora da favela, por mais que ele seja maior. Porm ao considerar os percursos internos da favela ntida a barreira urbana que ela forma uma vez que suas vielas tem apenas a funo de penetrao e no de travessia. As edifi caes voltadas para a avenida tm acesso nico pela a prpria avenida, e so posicionados em seqncia, sem permitir a transposio destas edifi caes - situao que obriga os demais moradores a contornarem toda faixa da avenida. O acesso passa a ser pela Rua Maximino Maciel atravs da Rua Jos Branco de Miranda. Esta situao estigmatiza, talvez por pr-conceito, toda a populao da regio acima, pois essa passa a ser vista como favelada tambm, devido a utilizar o mesmo acesso. Na favela, as edifi caes lindeiras ao sistema virio formal possuem acesso a ele. Essas edifi caes utilizam-se do prprio arruamento como calada e acesso, o que tem levado a confl itos que j causaram vrias vtimas, especialmente crianas. Internamente h um conjunto de vielas, sem hierarquia

    ou fl uxo organizado. A dimenso delas variavel chegando a apresentar larguras inferiores a 60cm. Por algumas vezes as vielas do acesso aos dois barracos, um de cada lado, e mais um em cima. Nestes casos a projeo do piso superior bloqueia a iluminao e a circulao de ar - ambiente completamente insalubre. No miolo da ocupao, onde as vielas tambm so elevadas do solo, os cuidados so quase inexistentes por serem de uso coletivo. Assim, as vielas so completamente precrias pelo alto risco de ruptura.

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  • 2. ESTUDO DE CASO

    2.2.4. Anlise fotogrfi ca

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  • A favela Vila Praia, a despeito de suas particularidades, apresenta um processo de ocupao semelhante maioria das favelas paulistanas. Este processo comprova a premissa apresentada no primeiro captulo, onde a populao sem ter onde morar, devido crise habitacional, opta pela moradia prxima do emprego, mesmo em condies crticas e sem garantia de permanncia.

    2.3. CONCLUSES

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  • 3. PROPOSTA3.1. PORQUE REURBANIZAR

    Reurbanizar favelas uma poltica proposta no Estatuto da Cidade como forma de democratizar o acesso cidade de maneira coerente com as diretrizes traadas pelo Ministrio da Cidade. Desta poltica consiste uma leitura do processo de desenvolvimento urbano, incluindo o crescimento no planejado e suas conseqncias como o processo de excluso social, conforme j tratado anteriormente. O Plano Diretor Participativo, instrumento bsico da poltica de desenvolvimento e expanso urbana, traz resposta a diversos problemas da cidade, buscando um reequilbrio do meio urbano. Incentivar habitao no centro umas das diversas medidas adotadas. Ela visa melhor aproveitamento das reas j urbanizadas providas de infra-estrutura e servios urbanos. Outra frente estimular a gerao de emprego nas periferias, reas predominantemente residenciais. Entre outras medidas aplicadas. Dentre as vrias frentes de atuao, o Estatuto da Cidade regularizou diversos instrumentos de poltica urbana, a serem aplicados nos Planos Diretores Municipais, que possibilitem e reforcem o planejamento urbano e o comprimento da funo social da propriedade urbana. Reurbanizar favelas faz parte desse conjunto de aes para equacionar os problemas da cidade. O Estatuto disponibiliza a ZEIS para regularizao fundiria possibilitando atuar em

    assentamentos sub-normais. Instrumento de alcance social, a ZEIS tem a capacidade de reequilibrar a oferta de terras urbanas de baixa renda. Porm o principal ponto que fortalece a idia de reurbanizar favelas uma resposta poltica de remoo, aplicada durante muito tempo. Respeitar a cidadania de cada comunidade, bem como suas relaes sociais, est vinculado a manter os moradores na sua regio. Este objetivo esbarra na compatibilizao de preservao dos espaos pblicos e das reas de restrio ambiental, com a necessidade de acomodar a populao moradora no mesmo ambiente urbano. Esta difi culdade decorre dos elevados valores imobilirios na regio envolvente, restringindo o alcance dos processos de reassentamento na escala necessria. Assim, reurbanizar favela o meio vivel de incorporar a comunidade cidade formal (dispondo infra-estrutura e servios urbanos, equacionando a questo fundiria e melhorando sua qualidade de vida), ao mesmo tempo que mantm os habitantes no seu local de moradia. Com dignidade e respeito.

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  • 3.2. COMO REURBANIZAR

    Este o principal ponto do trabalho. Mais do que um projeto especfi co para a favela Vila Praia, ele apresenta uma referncia metodolgica que visa complementar as polticas urbanas e habitacionais, buscando maior alcance dessas. Com o objetivo fi nal de melhorar a qualidade de vida, no s da populao da Vila Praia, mas tambm de outras comunidades na mesma condio. O conceito de reurbanizar favela apresentado em duas etapas. A primeira trata-se da metodologia de interveno (o fi nanciamento do projeto, os rgos envolvidos, a questo fundiria e a concepo do projeto). A segunda etapa considera a gesto do projeto (a operacionalizao administrativa do empreendimento como um elemento da poltica habitacional).

    3.2.1. Metodologia de Interveno A proposta de reurbanizao da favela Vila Praia se baseia no Programa de Reurbanizao de Micro-Favela, concebido pelo Instituto Cidade. um programa ainda no incorporado as polticas urbanas, que se fundamenta na parceria de setores da sociedade civil. O programa visa atender micro-favelas - que possuam no mximo 300 domiclios ou1500 habitantes - que esto fora do alcance dos programas de governo. Pois esses programas visam assentamentos sub-normais de maior porte, como a favela Paraispolis, Helipolis entre outras, e contam com recursos pblicos e at fi nanciamentos de organismos internacionais.Assim, grande parte da populao que reside em micro-favelas, diludas em toda rea urbana, vive em condies de extrema precariedade, pois no so absorvidas por esses programas. Para maximizar o alcance social, o governo prioriza a atuao em grandes favelas. Mas a mobilizao da sociedade civil pode trazer novas alternativas a assentamentos sub-normais de pequeno porte, com a obteno de recursos para levantamentos, projetos, obra e acompanhamento social, que seriam dedutveis de tributao. O programa prev a criao de conselhos governamentais, sejam municipais, regionais ou estaduais, credenciados ao governo federal. Conselho que aprovaro e fi scalizaro projetos especfi cos para as micro-favelas. Recebero os fundos de

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  • 3. PROPOSTA

    depsitos vinculados a esses projetos, encaminhado os dados ao rgo da unio, que liberar a deduo do imposto de renda.Os depsitos so feitos pela a sociedade civil, seja como pessoa fsica ou jurdica, que podero apontar para qual projeto ser destinada sua doao, que ser ressarcida, em parte ou totalmente, em forma de benefcios fi scais. Os projetos devero ser organizados pelas comunidades atravs de suas lideranas, porm sero de responsabilidade de uma ONG ou uma OSCIP associada. Devero ser aprovados pelo conselho governamental e buscar apoio fi nanceiro atravs das doaes. Ou at mesmo o prprio fundo pode fi nanciar o projeto com recursos oriundos de doaes sem reas especifi cadas. Os valores do projeto, obra e demais servios devero ser aprovados e apurados por meios comparativos. A liberao dos recursos ocorrer mensalmente, conforme cronograma fsico-fi nanceiro aprovado, condicionada realizao dos servios previstos no ms anterior. E, o acompanhamento dos trabalhos ser procedido por empresa de gerenciamento, que prestar conta comisso composta por indivduos da comunidade local, pessoa fsica ou jurdica contribuinte e entidades no-governamentais envolvidas. Assim o Programa de Reurbanizao de Micro-Favelas visa atender uma demanda desprovida de qualquer investimento

    pblico hoje. Porm ela deve atender tambm os interesses da sociedade civil organizada, trazendo vantagens a ambos. Por tanto, o programa um meio de direcionar os recursos pblicos a urbanizao de assentamentos precrios.

    Alm da obteno dos recursos necessrios para o projeto e obra da reurbanizao da micro-favela, o projeto tambm deve atender questes fundirias de completa irregularidade. A defi nio de Zonas de Especial Interesse Social, descritas pelo Plano Diretor, tem um papel importantssimo. Pois, alm de delimitarem essas reas crticas, so instrumentos de forte poder para a regularizao fundiria. Ento, a utilizao do Programa de Reurbanizao de Micro-Favelas associado s ZEIS do Plano Diretor, vislumbra uma nova alternativa para as polticas urbanas habitacionais. O caso da favela Vila Praia ocupa propriedades municipais e privadas. A poro pblica, apesar de estarem em desajuste com a inscrio de rea verde, vivel a interveno da prefeitura. Porm a rea particular deve ser analisada com maior cuidado. A ocupao desta rea j dura mais de 46 anos, e jamais houve alguma contestao (houve do terreno vizinho, onde teve reintegrao de posse). Alis, um caso atpico dos demais, pois sua proprietria, a famlia Silvio de Campos, aceita a dao

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  • ou a transferncia do terreno em nome dos ocupantes.Sendo assim cabvel a desapropriao do terreno sem o gasto pblico, atravs do instrumento de usucapio urbano coletivo. Mecanismo que ser utilizado atendendo o interesse social, como previsto no Estatuto da Cidade. Remembrada a rea desapropriada poro pblica composta a rea integral para atuao da prefeitura. Para isso deve-se utilizar de instrumentos que regularizem o uso habitacional em reas pblicas, atravs do processo de desafetao. A prpria ZEIS um mecanismo norteador desse processo, mas que deve ser adicionado a outros instrumentos para esse fi m. Para usufruto do projeto habitacional fi cam disponibilizados dois mecanismos: a Concesso de Uso Especial para Fins de Moradia e a Locao Social. Concepo justifi cada na operalizao administrativa do projeto.

    E, fi nalmente, a concepo do projeto. Ela se guia na linha de raciocnio do Terceiro Territrio, concebida pelo arquiteto Hctor Vigliecca, como uma linha de refl exo que se estrutura pela valorizao da responsabilidade coletiva perante a individual. O projeto no se baseia na imposio de um modelo pr-estabelecido. Ele se fundamente na introduo respeitosa de uma nova estrutura - sem destruir nem excluir a existente

    - estabelecendo uma Nova Unidade que simultaneamente valoriza, estimula e d sentido a nova morfologia. Assim o novo espao concebido tem equivalente valor projetual do espao existente. O projeto deve se incorporar regio atravs de aes por infi ltrao, nas quais o indivduo que se estabelece seja integrado ao contexto da cidade, estimulando-lhe os valores de identidade. Assim importante que o projeto d suporte apropriao adequada dos espaos, incorporando o sentido ao local e dando-lhe legibilidade fsico-urbana - instrumentos insubstituveis para a transformao dos habitantes em cidados.

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  • 3.2.2. Operacionalizao Administrativa

    3. PROPOSTA

    O Programa de Reurbanizao de Micro-Favelas e os instrumentos do Estatuto da Cidade provem meios para a concepo e construo de projetos nestas reas de assentamentos sub-normais. O processo posterior no est vinculado ao programa. Isso permite que as unidades sejam disponibilizadas para uso da comunidade atravs algumas possibilidades. A possibilidade mais comum da poltica habitacional brasileira a venda da unidade residencial, a preos acessveis e com fi nanciamentos facilitados. O benefi cirio do programa passa a ser proprietrio da sua moradia. Outra alternativa, pouco usual, a concesso da unidade, ou seja, ela dada ao novo proprietrio. O governo pode tambm conceder apenas o direito de uso, assim o morador adquire a condio formal, porm sem ser proprietrio. E, a alternativa adotada, atravs da locao social. Opo, assim como a anterior, que garante moradia s camadas menos favorecidas sem torn-las proprietrias. Este sistema esvazia o valor de troca da unidade, ou seja, impede sua comercializao, o que garante a no expulso da comunidade.So comuns as histrias de pessoas que se benefi ciaram em programas do estado, mas que venderam suas unidades e voltaram para a favela. Assim como os casos de inadimplncia. O aluguel social garante que o subsdio do governo est atendo

    as camadas que realmente necessitam. Com essa concepo, o projeto dispe para as famlias benefi ciadas apartamentos que atendem as necessidades mnimas delas. Sem a possibilidade aumentar a moradia, ao que refl etiria a ascenso social dessa. O programa entende que a famlia que alcana melhor condio deve buscar novas possibilidades de moradias ao mercado formal, como casas populares nas regies a leste da rea de interveno. Assim, cada famlia que atingir certa ascenso social que a permita se transferir para moradias maiores abre espao para uma nova famlia que necessite. Garantido o subsdio as camadas de baixa renda sucessivamente.

    O projeto prev a criao do centro comunitrio, do qual a administrao o corpo principal. Este rgo ter o controle de diversos servios do empreendimento. Instalada voltada para a praa do projeto, ela ter a funo de administrar os alugueis. Considera a proximidade com os benefi cirios moradores, viabiliza o estudo de cada caso associado cobrana do aluguel, permitindo que famlias que realmente no tenham condies fi quem isentas das cobranas. O aluguel ter funes condominiais. Os recursos arrecadados sero aplicados para a gesto e manuteno do empreendimento. Devero cobrir a contratao dos funcionrios

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  • do centro comunitrio, alm da limpeza e das aes de conservao do edifcio. A administrao tambm responder pelo alugueis das reas comerciais. Tero prioridade para a locao os prprios benefi cirios do programa. Visando aqueles que possuam na favela mais do que sua habitao, possuam um pequeno boteco, uma venda ou at mesmo uma borracharia. Um comrcio ou servio que era a fonte de renda de uma famlia. Ou at, incentivando novos (micro) empresrios, que podero encontrar uma alternativa de sustento. H duas observaes importantes na rea comercial do empreendimento. A primeira, quanto gerao de renda para a comunidade. Funo que o comrcio existente da favela no conseguia cumprir, pois apenas transferia a renda dentro da comunidade. Por isso o comrcio projetado deve estar voltado para a cidade, como ser melhor esclarecido na descrio do projeto. O outro ponto a reserva de duas reas comerciais para servios pblicos. Por ser propriedade da prefeitura o empreendimento, cabvel que ela utilize desse espao para que preste servios onde normalmente se paga aluguel. Servios, que no necessariamente sejam municipais, como correios e loterias, que teriam inclusive um poder de atrao para a rea, potencializando a gerao de renda da comunidade.

    A administrao tambm ser responsvel pela sala de informtica - equipamento de importantes relaes econmicas. Como permitir a formatao de pequenos trabalhos, a verifi cao de e-mails e at a procura de emprego, entre outras coisas. Elemento essencial para incorporao da comunidade no mercado formal. O auditrio permite a realizao de cursos profi ssionalizantes, como tambm tem um importante papel no lado cultural da comunidade. possvel a apresentao de pequenas peas de teatro ou show musicais, como at mesmo aulas dessas matrias para a comunidade.A creche tem um papel essencial nesse contexto, educa crianas que muitas vezes no teriam essa oportunidade. Mas, mais do que isso, permite que os pais e mes possam trabalhar e gerar renda. Contudo, o projeto e principalmente a proposta extrapolam a questo habitacional, e acrescem equipamentos sociais e econmicos na rea. Ultrapassam os parmetros habitacionais para responder polticas urbanas. Assim o programa deixa de meramente atender a nmeros e condies. No basta construir o nmero necessrio de habitaes para a comunidade. No basta instalar infra-estrutura aonde ela ainda no chega. A questo sobrepe a simples transferncia do habitante favelado para a nova unidade habitacional. Ela implica

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  • em incorporar a antiga favela ao bairro, e mais do que isso, inserir a comunidade na sociedade. S assim cicatrizar-se- o ferimento scio-ambiental urbano que a favela.

    3. PROPOSTA

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  • 3.3. PARA QUEM REURBANIZAR

    Uma poltica habitacional muitas vezes possui um pblico alvo muito claro. Como o normal das aes governamentais aplicadas at hoje. Isso no caracteriza nenhum problema, porm refl ete de maneira muito ntida que os problemas urbanos so tratados com medidas unilaterais. A proposta aqui apresentada engloba um universo de aes que relaciona diversos personagens, onde todos so agentes envolvidos, assim como tambm so pblico alvo.A fi gura mais ntida desse cenrio a populao do assentamento sub-normal, principal pblico alvo que o elemento norteador de toda proposta. Porm a comunidade carente tambm deve ter um papel protagonista nas aes de melhoramento. Com proximidade e a relao da vida cotidiana, os moradores da regio tambm sofrem grande infl uencia da rea de interveno. Um projeto de requalifi cao urbana que reorganize os fl uxos e usos de todo o entorno, com certeza de grande valia para a qualidade de vida dessa populao. A proposta, baseada nas parcerias pblico-privados, tambm envolve fortemente a sociedade civil. Atravs de um programa que permite o direcionamento dos recursos vinculados unio, possvel atender interesses do setores diferentes da sociedade. O projeto de requalifi cao da rea urbana valoriza empreendimentos imobilirios de maneira tica e responsvel. possvel atender os interesses do mercado melhorando

    a qualidade urbana, associado ao propsito econmico da empresa. Hoje grande parte da cidade cresce em funo dos interesses imobilirios, inclusive o planejamento urbano tem forte infl uencia desse setor. Agregar esse poderio a favor das polticas urbanas de grande valia para os interesses municipais. Mas, sobrepondo-se a qualquer benefi cirio, a grande favorecida a cidade. A poltica, a proposta e o projeto valorizam, antecipando qualquer ponto especfi co, a construo da cidade. O principal objetivo qualifi cao do espao cotidiano da populao, stio responsvel pelo relacionamento social de todos os habitantes. A concretizao de uma identidade do espao urbano passa pelo reconhecimento da populao com seu habitat, com seu local. Assim se materializa a cidadania.

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  • O projeto urbano arquitetnico estabelecido fruto de um processo de investigao e experimentao das diretrizes traadas a partir da pesquisa precedente. Os conceitos so materializados conforme o desenvolvimento dos estudos. Estudos que so essenciais para a compreenso das solues adotadas. Logo, para a apresentao da proposta, ser exposto o caminho percorrido pelo desenvolvimento do projeto. Ele ocorreu em duas principais etapas. A primeira concentrada nas relaes urbanas, na insero do projeto na malha existente da cidade. Consequentemente atravs de estudos de implantao. Na segunda etapa, desenvolveram-se as edifi caes arquitetnicas. Se utilizando do estudo de fachadas e cortes, o processo de experimentao se alinhava s diretrizes e conceitos estabelecidos tanto nas pesquisas como tambm nas solues urbansticas adotadas, buscando a mesma coerncia e linguagem. Seguem a seguir os croquis e estudos originais paralelamente aos respectivos comentrios de decises:

    3. PROPOSTA3.4 O PROJETO

    Croqui dos primeiros estudos. Demonstrava algumas diretrizes que realmente se incorporaram ao projeto. A recuperao de reas consolidadas demonstra respeito ocupao local. Abertura de um espao pblico no miolo da rea, busca valorizar a comunidade dessa ocupao.

    3.4.1. Experimentao e Desenvolvimento Estudos de Implantao

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  • A praa, como principal espao do projeto, passa a ser entendia como um articulador urbano. Ligada avenida de principal acesso da regio, serve como uma porta de entrada de todo o bairro.

    O projeto atinge uma abrangncia de toda regio. A conexo urbana aberta ganha papel protagonista no projeto, articulando o espao pblico, a implantao dos edifcios e todo o entorno. A praa tambm ganha dimenso regional, espao de convvio no apenas da comunidade, mas do bairro.

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  • 3. PROPOSTA

    Os edifcios delimitando o espao urbano, com clara defi nio das reas pblicas e privadas. Os usos tambm seguem a mesma coerncia, com comrcios prximos avenida e equipamentos sociais voltados para o miolo da rea.

    O eixo de conexo urbana funcionando como articulador do projeto. Defi nindo a implantao, valoriza o espao pblico. Grande norteador do projeto.

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  • Produto da entrega do 9 semestre, a implantao segue os estudos anteriores. Como desenho tcnico detalha mas alguns usos. Como o espao de convvio mais prximo do comrcio, e a rea esportiva no miolo da ocupao, voltada a comunidade da rea. Play Ground infantil mantido dentro das reas condominiais.

    O estudo de implantao prosseguiu valorizando o eixo de conexo urbana, elemento norteador do projeto. Porem o eixo passa a ser alinhado com o sistema virio adjacente, aumentando a fora dele e a fl uidez urbana.

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  • Produto fi nal do projeto, a implantao o resultado de todo trabalho de investigao precedeu. A imagem mostra sua insero urbana e valorizao dos espaos pblicos.Importante notar como os espaos projetados possuem o mesmo valor das reas no construdas. O projeto no se impe na rea, mas sim busca dialogar com o entorno.

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  • A planta trrea esclarece a relao dos usos com o entorno. Organiza os fl uxos urbanos ao mesmo tempo em que cria novos espaos de convivncia. A praa como principal ambiente tem um importante papel para a identidade da rea.Os comrcios se voltam para a Av. Dr. Luis Migliano, guiados pelas duas reas comerciais de servios pblicos. So condizentes com o carter da avenida.Os equipamentos sociais se conectam pelo interior da praa. Valorizam o espao de convivncia. Assim como as circulaes dos edifcios, sempre prezando pelos espaos de uso comum, priorizando o coletivo.

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  • 3. PROPOSTA

    Croqui da fachada. Resultante de um trabalho mais focado no estudo urbano, sem uma refl exo conceitual-esttica. Algumas idias j se mostravam presente, como a arquitetura associada comunicao visual, no sentido de evidenciar seu usos, e, portanto sua restrio. Os matrias eram expostos, revelando sua funo estrutural.

    Os primeiros estudos de fachada realmente foram em busca de uma esttica mais interessante. Desprendendo a habitao social a linguagens arquitetnicas tradicionais. A busca era por uma arquitetura contempornea, mesmo com o uso de matrias to limitados, como a alvenaria estrutural. Foi uma alterao da linguagem esttica, porem mantendo as diretrizes anteriores.

    Estudo das Edifi caes Arquitetnicas

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  • Assim o conceito volumtrico comeou a assumir alguns critrios. A primeira inteno era evidenciar a circulao dentro dos blocos, destacando ela como um elemento arquitetnico com o objetivo de valorizar as reas comuns do edifcio. Atitude que foi refl exo do estudo do modo de vida dessas pessoas, com forte relao social.alvenaria estrutural. Foi uma alterao da linguagem esttica, porem mantendo as diretrizes anteriores.

    Estabelece um critrio. Dois volumes: um de uso restrito, com os apartamentos apenas. E outro com as reas comuns, combinando alguns usos. Sempre na parte superior, a circulao de acesso dos apartamentos, com reas de convvio. E na base, comrcio, quando prximo avenida, ou equipamentos sociais, como auditrio, administrao e creche.

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  • 3. PROPOSTA

    Cada bloco se utiliza dos dois volumes de maneira diferente, apesar das mesmas solues construtivas. Volumetria que causa movimento ao conjunto. Ao lado, estudos que mostraram que cada caixa deveria ter a forma geomtrica limpa, de fcil leitura. E o modo como elas se conectam.

    Defi nida a relao dos dois volumes, passou-se a estudar as aberturas de cada volume. Como o lado interno se revelava em sua fachada. Nessas primeiras idias, a inteno era de destacar o volume das varandas, devido importncia desse espao como de relao entre o meio privado e o pblico. Utilizou-se de um rasgo no volume principal e o avano da caixa das varandas.

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  • Croqui de experimentao da idia anterior, com a correo do rasgo no atravessar todo o volume restrito, valorizando mais a volumetria principal.E, os estudos das reas comuns, de convivncia. Espao valorizado na arquitetura. O prolongamento da laje e sua dobra, incorporando o guarda-corpo, resgata o volume principal, pois avana exatamente at o mesmo alinhamento, e se utiliza dos mesmo materiais.

    Chega-se a soluo adotada. Com o mnimo de elementos na fachada, pois isso que fortalece o volume principal. Assim a varanda passa a ser tratada no como um volume, mas como um vazio. Espao subtrado do volume principal. Tambm se utiliza de materiais diferentes no interior da rea removida, evidenciando esse tratamento.

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  • 3. PROPOSTA

    Croqui de experimentao da fachada adotada com o entrono. Estudo que buscava uma identidade para a rea, assim props-se um marco. Elemento de presena, localizado na praa, principal ponto da implantao.

    Perspectiva digital do produto fi nal. Imagem que mostra desde o eixo que defi ne a implantao, as volumetrias e suas relaes, at o marco. Apresenta todas as solues adotadas.

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  • P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 5 7

  • 3. PROPOSTA

    O bloco junto avenida possui uma espacializao diferente dos demais. Por ter um papel protagonista na implantao e estar no eixo norte-sul, tendo apartamento voltado para ambos os lados, necessitava de uma soluo especfi ca para ele. Porm com os mesmos critrios.

    Tambm com os dois volumes, distintos pelo uso, porm a volumetria aqui era muito mais complexa. A idia inicial partia de um volume central comprido que evidenciava a circulao comum, e dele se projetava os volumes restritos. E como os volume tinha que ter a geometria mais simples possvel, para a melhor leitura.

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  • O embasamento tambm foi agrupado, passando a ser um nico volume. O tratamento do rasgo ainda atravessava o volume inteiro, processo que acompanhava a evoluo dos outros blocos.Imagem renderizada (porm no trabalhada) mostra a volumetria adotada, de fcil leitura, e sua relao com os demais blocos. Todos com o mesmo critrio, dando mesma linguagem a todo conjunto.

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  • 3. PROPOSTA

    3.4.2. Setorizao dos Usos

    Comrcio e Servio Centro Comunitrio. Administrao, Auditrio e Creche

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  • Residencial. Apartamentos de 1 e 2 dormitrios Uso restrito comum. Circulaes e convivncia

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  • 3. PROPOSTA

    3.4.3. Representaes FinaisRelao de desenhos:

    Implantao esc 1:1.000Planta trrea esc 1:1.000Elevao esc 1:300Corte Urbano A esc 1:300Corte Urbano B esc 1:300Apartamento tipa A esc 1:150Apartamento tipa B esc 1:150Corte Edifi cao esc 1:150

    rea de Projeto 10.754,72 m

    rea de Interveno 6.714,02 m

    Populao Existente 1.009,00

    Densidade Populacional 938 hab/ha

    rea Ocupada 2.614,25 m

    Taxa de Ocupao 2,57 %

    rea Construda 10.570,60 m

    Coeficiente de Aproveitamento 1,57

    Remoes 95 ed.143 u.h.

    Mdia de habitantes por domiclio 3,7Populao removida 529 hab

    Projeto - novas unidades1 dormitrio 29,05 m 822 dormitrios 43,54 m 72

    total 154

    Populao atendida 534 hab

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  • 3. PROPOSTA

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  • 3. PROPOSTA

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  • 3. PROPOSTA

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  • 3. PROPOSTA

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  • 3. PROPOSTA

    3.4.4. Maquete

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  • P E D R O R I B E I R O G U G L I E L M I 7 5

  • BIBLIOGRAFIA

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  • ILUSTRAES / MAPAS / FOTOS

    Fotos do autor

    Croquis e desenhos do autor

    Site da Prefeitura de So Paulo e da Superintendncia de Habitao Popular

    BASE Aerofotogrametria

    Subprefeitura de Campo Limpo - Plano Diretor

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