Upload
phungquynh
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Boletim de Pesquisa ISSN 1517-1981
Número, 17 Outubro, 2000
PEIXES INSETÍVOROS E ZOOPLANCTÓFAGOS DA PLANÍCIE
INUNDÁVEL DO RIO MIRANDA, PANTANAL, MATO GROSSO DO SUL,
BRASIL
Boletim de Pesquisa Nº 17 ISSN 1517-1981
PEIXES INSETÍVOROS E ZOOPLANCTÓFAGOS DA PLANÍCIEINUNDÁVEL DO RIO MIRANDA, PANTANAL, MATO GROSSO DO SUL,
BRASIL
Emiko Kawakami de ResendeRosana Aparecida Cândido Pereira
Vera Lúcia Lescano de AlmeidaAna Geise da Silva
Corumbá2000
Embrapa Pantanal. Boletim de Pesquisa, 17Exemplares desta publicação podem ser solicitados à Embrapa Pantanal
Rua 21 de Setembro, 1880Caixa Postal 109Telefone: (67) 233-2430Fax: (67) 233-101179320-900 Corumbá, MSE-mail: [email protected]: www.cpap.embrapa.br
Comitê de Publicações:Emiko Kawakami de Resende - PresidenteVânia da Silva Nunes - Secretária ExecutivoBalbina Maria Araújo SorianoCristina Aparecida Gonçalves RodriguesAndré Steffens MoraesRegina Célia Rachel dos Santos - Secretária
1ª edição:1ª impressão (2000): 200 exemplares
2ª edição (2002): Formato digital
RESENDE, E.K. de; PEREIRA, R.A.C. Peixes insetívoros e zooplanctófagos da planícieinundável do rio Miranda, Pantanal, Mato Grosso do Sul, Brasil. Corumbá:Embrapa Pantanal, 2000. 40p. (Embrapa Pantanal. Boletim de Pesquisa,17).
ISSN 1517-1981
1. Peixe – Comunidade – Alimentação. 2. Peixe onívoro - Pantanal. 3. Pantanal – Peixeonívoro - Rio Miranda - Mato Grosso do Sul. I. Embrapa Pantanal (Corumbá, MS). II. Título.III. Série.
CDD: 597.098171
Copyright Embrapa-2000
SUMÁRIO
Pág.
RESUMO .............................................................................................. 5
ABSTRACT ........................................................................................... 6
INTRODUÇÃO........................................................................................ 7
MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 9
RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 10
CONCLUSÕES ....................................................................................... 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 32
5
PEIXES INSETÍVOROS E ZOOPLANCTÓFAGOS DA PLANÍCIE INUNDÁVEL DO RIO MIRANDA,
PANTANAL, MATO GROSSO DO SUL, BRASIL
Emiko Kawakami de Resende1
Rosana Aparecida Cândido Pereira2
Vera Lúcia Lescano de Almeida2
Ana Geise da Silva2
RESUMO: Estudou-se a alimentação de peixes insetívoros e zooplanctófagos de quatro ambientes
da planície de inundação do rio Miranda (dois braços mortos, uma vazante e uma lagoa). Cinco
espécies são insetívoras (T. stellatus, R. hahni, P. mucosa,. P. striatulus e B. splendens), seis
zooplanctófagas (P. kennedyi, E. benjamini, H. littorale, C. callichthys, B. britski e S. pappaterra) e
três, zooplanctófagas, insetívoras ou ambas, dependendo da disponibilidade desses alimentos no
ambiente (M. dichroura, P. paraguayensis e E. trilineata). Estas espécies, juntamente com as
detritívoras, compõem a base da cadeia alimentar aquática no Pantanal.
Termos para indexação: cadeia alimentar, ecologia
1 Bióloga, Doutora em Ciências- EMBRAPA- Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal- CPAP- Caixa Postal 109, CEP79320-900 --Corumbá, MS.2 Bolsistas do CNPq
6
INSETIVOROUS AND ZOOPLANKTOPHAGOUS FISHERS FROM THE LOWER MIRANDA RIVER,
PANTANAL, MATO GROSSO DO SUL STATE, BRAZIL
ABSTRACT: The feeding of insetivorous and zoplanktophagous fishes from four environments in the
lower Miranda river were studied (two oxbow lakes, one “vazante” and one small lagoon). Five
species are insetivorous (T. stellatus, R. hahni, P. mucosa,. P. striatulus e B. splendens), six species
are zooplanktophagous (P. kennedyi, E. benjamini, H. littorale, C. callichthys, B. britski e S.
pappaterra) and three species (M. dichroura, P. paraguayensis e E. trilineata) are insetivorous,
zooplanktophagous, or both, depending on the avaiability of these organisms in the environment.
These species and the detritivorous fishes are the base of aquatic food web in the Pantanal.
Keywords: food chain, ecology
7
INTRODUÇÃO
A riqueza e a diversidade de hábitats nas planícies inundáveis de grandes rios latino-
americanos fornecem uma ampla variedade de substratos e alimentos para os peixes. Resende &
Palmeira (1997) relatam a ocorrência de 101 espécies de peixes em dois meandros abandonados,
uma vazante e um pequeno lago na planície de inundação do rio Miranda, tributário do rio Paraguai,
no Pantanal, onde na planície como um todo, são registradas 263 espécies de peixes (Britski et al.,
no prelo). Das 101 espécies, aquelas que apresentaram alimento nos estômagos ou trato digestivo
em geral, foram analisadas a fim de determinar as dietas alimentares. Desta forma, foram
identificadas 15 espécies carnívoras ictiófagas (Resende et al., 1996b), 12 herbívoras (Resende et
al., 1997), 17 detritívoras (Pereira & Resende, 1997) e 24 onívoras (Resende et al., submetido). No
presente trabalho são apresentados os resultados referentes àquelas espécies que se alimentam
predominantemente de insetos e zooplâncton. São espécies quase sempre de pequeno porte, pouco
estudadas quanto aos aspectos biológicos e com pouca informação disponível na literatura, muito
embora constituam uma das bases da cadeia alimentar em ambientes inundáveis. As detritívoras
constituem a outra base dessa pirâmide alimentar, na medida em que encurtam as cadeias
alimentares e aumentam a eficiência do sistema (Catella & Petrere Júnior 1996).
Este trabalho faz parte de um estudo mais amplo que procura caracterizar as comunidades
de peixes que vivem nas áreas inundadas do baixo rio Miranda, a fim de identificá-las, conhecer os
seus hábitos alimentares e estabelecer a estrutura trófica como instrumentos essenciais para o
manejo sustentável dos recursos pesqueiros do Pantanal.
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A bacia hidrográfica do rio Miranda possui área de drenagem de 47.000km2, dos quais
35.570km2 efetivamente contribuem com descarga líquida e a área restante, parte baixa do sistema,
no Pantanal, constitui mais um sistema defluente, que perde água, ao invés de um sistema coletor
(Embrapa, 1991).
No seu curso inferior, parte baixa do sistema, área de interesse deste estudo, o rio Miranda
é muito meândrico e a drenagem é difusa devido ao transbordamento e à formação de corixos,
vazantes e braços, permitindo troca de água com os rios Negro, Abobral e Paraguai. Os corixos
correspondem a pequenos cursos de água de leito próprio e caráter perene que conectam baías
contíguas ou escoam água extravasada dos rios na época das enchentes. Vazantes compreendem
as amplas depressões situadas entre as elevações, que servem de escoadouro natural das águas na
época das enchentes, com características de curso fluvial intermitente, com vários quilômetros de
extensão. Baías correspondem à denominação regional para lagos ou lagoas.
8
O meandro abandonado, localizado no curso inferior do rio Miranda, na sua planície de
inundação, chamado neste estudo de Braço Morto Acima, ponto de amostragem 1 (Figura 1), está
localizado à montante do Passo do Lontra, por onde cruza a Estrada MS-228. Trata-se de antigo
leito abandonado que mantém ligação com o rio durante o ano inteiro, à exceção dos anos mais
secos, entre os meses de outubro a dezembro. Possui um estreitamento na sua parte mediana que
seca nos meses de seca mais intensa (novembro/dezembro). Nas margens próximas ao rio, a
vegetação é constituída por plantas aquáticas de raízes fixas ao fundo ou vegetação resistente à
inundação; na margem oposta predomina vegetação de mata ciliar; parte de suas águas são
cobertas por macrófitas aquáticas. A profundidade varia de 0,5 a 2,5 m, entre a seca e a cheia.
Figura 1. Localização dos pontos de amostragem na planície inundável do rio Miranda, Pantanal,
MS.
O Braço Morto Abaixo, ponto de amostragem 2 (Figura 1), também é um meandro
abandonado, localizado à margem direita, cerca de 3km a jusante do Passo do Lontra. A cobertura
vegetal é muito semelhante à do Braço Morto Acima, com mata ciliar mais densa na margem direita
e fundo de braço difícil de ser delimitado na época das cheias. A profundidade varia de 0,5 a quase
3 m entre a seca e a cheia. No ano de 1988, desligou-se do rio no mês de novembro.
A Vazante do Morro do Azeite, ponto de amostragem 3, é a linha de drenagem que recebe a
água do rio Miranda por ocasião do seu transbordamento na época das enchentes. Boa parte do
espelho d’água é coberto por Eichornia azurea. As macrófitas submersas eram constituídas
basicamente por Cabomba pyauhyensis e Utricularia foliosa. O espelho de água livre varia em
9
função do nível de inundação e seca apenas nos anos de seca mais intensas, como em 1988. Não
secou nos anos de 1989 e 1990, quando a seca não foi tão pronunciada. No trecho estudado, não
há ocorrência de mata ciliar.
A Baía Cinza, ponto de amostragem 4, foi formada pela extração de terra para a formação
do aterro da rodovia MS-228. Possui dimensão variável, entre 1 e 1,5ha, dependendo do ano e do
período do ano. Liga-se ao rio Miranda nos anos de grandes enchentes, quando é abastecida por
águas das vazantes e corixos mais próximos, como no ano de 1988. Embora seja rica em
fitoplâncton, é um corpo d’água pobremente vegetada, tendo sido observadas apenas Eichornia spp,
Ipomea fistulosa e gramíneas rasteiras que crescem nas margens.
MATERIAL E MÉTODOS
As espécies analisadas foram coletadas nas quatro localidades descritas, na planície de
inundação do baixo rio Miranda (Figura 1).
Foram realizadas 11 coletas, no período de setembro/89 a novembro/90, respectivamente
nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro em 1989 e nos meses de janeiro, fevereiro,
março, maio, julho, setembro e novembro em 1990.
Por causa das peculiaridades dos locais de amostragem, diferentes métodos de captura
foram utilizados. Por ser pouco profundo, de águas transparentes, com abundância de macrófitas
submersas, fixas e flutuantes, com margens nem sempre bem definidas, o timbó foi utilizado na
Vazante do Morro do Azeite, nos meses de outubro, novembro e dezembro de 1989 e janeiro de
1990 (detalhes em Resende et al., 1996b). Por dificuldades na aquisição do timbó, as capturas nas
viagens subseqüentes foram efetuadas com tarrafa de malhagem de 20 a 30mm entrenós opostos,
em coletas diurnas e noturnas.
Nas demais localidades, utilizou-se rede de arrasto de 33,4m de comprimento, 6,4m de
altura e malha de 16mm entrenós opostos. Nos braços mortos do rio, na seca, foram efetuados três
arrastos em locais previamente determinados e na cheia, em um local fixo e dois aleatórios; na Baía
Cinza, três arrastos por viagem, independente da época do ano, por tratar-se de corpo d’água bem
delimitado e isolado.
Os peixes coletados eram colocados em sacos plásticos devidamente etiquetados, mantidos
em gelo em escama e trazidos para o laboratório da Embrapa Pantanal, em Corumbá, onde eram
mantidos congelados até serem processados. Os peixes foram identificados utilizando-se o Manual
de Identificação dos Peixes do Pantanal Mato-grossense (Britski et al., no prelo).
Dos exemplares identificados foram anotados os dados referentes a comprimento total,
comprimento padrão, peso total e retirado o trato digestivo para análise do conteúdo estomacal.
10
Os tratos digestivos, inicialmente preservados em formol a 10%, foram posteriormente
transferidos para álcool a 70% a fim de efetuar a análise e identificação dos itens alimentares até a
categoria taxonômica mais inferior possível.
Para avaliação do volume de cada um dos itens alimentares, foi aplicado o método dos
pontos proposto por Hynes (1950), modificado por Resende et al.(1996b).
A dieta alimentar foi determinada utilizando-se metodologia proposta por Kawakami &
Vazzoler (1980). O índice alimentar, IA, é expresso por:
n
IAi = Fi x Vi/ ∑ (Fi xVi) i=1
onde
IAi = índice alimentar
i = 1,2,...n item alimentar
Fi = freqüência de ocorrência (%) do item alimentar i
Vi = volume (%) do item alimentar i
As espécies abundantes, em cada localidade, foram definidas como aquelas cuja ocorrência
numérica fosse maior que o valor médio encontrado, dividindo-se o número total de exemplares pelo
número de espécies insetívoras/zooplanctófagas de cada uma dessas localidades.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 2 apresenta a variação da profundidade máxima de cada local de
amostragem, medida em cada viagem de campo, no período estudado. A Baía Cinza, por se
encontrar isolada e se ligar ao rio apenas por ocasião das grandes enchentes, não apresentou
diferenças acentuadas. Novembro/89 foi o mês em que o Braço Morto Abaixo perdeu a ligação com
o rio e ficou isolado. O Braço Morto Acima, nesse mês, manteve ligação com o rio, através de um
canal muito raso. Nos demais meses, os braços mortos mantiveram ligação com o rio, o que
permitia possíveis entradas e saídas de peixes. A Vazante do Morro do Azeite manteve ligação com
o rio apenas nos meses de janeiro, fevereiro e julho de 1990.
11
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
set-
89
out-
89
nov-
89
dez-
89
jan-
90
fev-
90
mar
-90
mai
-90
jul-9
0
set-
90
nov-
90
períodos do ano
pro
fun
did
ade
(m)
BMAcima
BMAbaixo
VMAzeite
Bcinza
Figura 2 - Profundidade máxima das localidades amostradas, por períodos do ano, na planícieinundável do rio Miranda.
Efetuadas as análises dos conteúdos estomacais das espécies capturadas nos quatro
ambientes amostrados, foram consideradas como insetívoras e zooplanctófagas, as espécies
listadas a seguir, de acordo com seqüência apresentada em Britski et al. (no prelo).
Ordem: Characiformes
Sub-ordem: Characoidei
Família: Characidae
Sub-família: Tetragonopterinae
Moenkhausia dichroura (Kner, 1858)
Psellogrammus kennedyi (Eigenmann, 1903)
Sub-família: Stethaprioninae
Poptella paraguayensis (Eigenmann, 1907)
Família: Gasteropelecidae
Thoracocharax stellatus (Kner, 1860)
Ordem: Siluriformes
Sub-ordem: Gymnotoidei
Família: Rhamphichthyidae
Rhamphichthys hahni (Meinken, 1937)
Família: Sternopygidae
Eigenmannia trilineata Lopez & Castello, 1966
Sub-ordem: Siluroidei
Família: Pimelodidae
Pimelodella mucosa Eigenmann & Ward 1907
12
Família: Auchenipteridae
Entomocorus benjamini Eigenmann, 1917
Parauchenipterus striatulus (Steindachner, 1876)
Família: Callichthyidae
Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)
Hoplosternum littorale (Hancock, 1828)
Brochis splendens (Castelnau, 1855)
Brochis britskii Nijssen & Isbrucker, 1983
Ordem: Perciformes
Família: Cichlidae
Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840)
A Tabela 1 apresenta, por localidade, o número de exemplares coletados, analisados e com
alimento no estômago. No Braço Morto Abaixo foram capturados 2148 exemplares, dos quais 764
foram analisados e 422 continham alimento no estômago. As espécies abundantes foram M.
dichroura, P. paraguayensis e T. stellatus. No Braço Morto Acima foi capturado o maior número de
exemplares de espécies insetívoras e zooplanctófagas, com 2439 exemplares, tendo sido analisados
628, e 355 continham alimento no estômago. As espécies abundantes foram M. dichroura, P.
paraguayensis, T. stellatus e E. trilineata. O menor número de exemplares ocorreu na Vazante do
Morro do Azeite, com apenas 19, dos quais, sete continham alimento no estômago. As espécies
abundantes foram P. paraguayensis, B. splendens e P. striatulus. Estes resultados devem ser
encarados com ressalva, por causa das dificuldades encontradas para amostrar adequadamente este
ambiente. Na Baía Cinza foram capturados 2012 exemplares, dos quais 685 foram analisados e 427
continham alimento nos estômagos. As espécies abundantes foram P. paraguayensis, M. dichroura
e P. kennedyi. A única espécie abundante em todos os ambientes foi P. paraguayensis.
As espécies abundantes apresentaram, em geral, em todas as localidades, freqüência de
estômagos com alimento superiores a 40%, excetuando-se P. striatulus e B. splendens, na Vazante
do Morro do Azeite e P. kennedyi, na Baía Cinza..
13
Tabela 1. Número de exemplares coletados, analisados e número de estômagos com alimento, de peixesinsetívoros e zooplanctófagos da planície inundável do rio Miranda, Pantanal, Mato Grosso doSul.
Braço Morto Abaixo Braço Morto Acima Vazante do Morro doAzeite
Baía CinzaLocalidades
col. anal c/alimento col. anal.
c/alimento col. anal c/alimento col. anal.
c/alimento
espécies N N N % N N N % N N N % N N N %M. dichroura 904 269 120 44,6 1078 208 102 49,0 2 2 0 0 440 197 125 63,4P. kennedyi 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 232 97 33 34,0P. paraguayensis 706 282 196 69,5 492 219 151 68,9 5 5 4 80,0 1113 215 147 68,4T. stellatus 369 84 59 70,2 332 22 20 90,9 0 0 0 0 0 0 0 0R. hahni 18 18 4 22,2 9 8 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0E. trilineata 69 30 20 66,7 260 62 35 56,4 0 0 0 0 0 0 0 0P. mucosa 46 46 11 23,9 190 44 18 40,9 0 0 0 0 105 105 63 60,0E. benjmaini 15 15 5 33,3 57 52 26 50,0 0 0 0 0 94 44 41 93,2P. striatulus 0 0 0 0 14 8 0 0 4 4 0 0 15 14 11 78,6C. callichthys 9 9 6 66,7 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0H. littorale 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 11 11 6 54,5B. britskii 0 0 0 0 2 2 2 100,
00 0 0 0 0 0 0 0
B. splendens 12 11 01 9,1 4 2 0 0 5 5 0 0 0 0 0 0S. pappaterra 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1 1 100,
02 2 1 50,0
Total 2148 764 422 2439 628 355 19 19 7 2012 685 427col.= coletados; anal.= analisados; N= número de exemplares com alimento no trato digestivo.
14
Moenkhausia dichroura é um Tetragonopterinae de pequeno porte, cujos
comprimentos totais variaram de 27 a 84 mm. Chega a alcançar 100mm. É um peixe
fusiforme, ágil nadador de ambientes pelágicos, com boca frontal provida de dentes
cuspidados. Regionalmente são conhecidas como piquiras ou tiquiras.
Os alimentos ingeridos por M. dichroura (Tabela 2) consistiram de
microcrustáceos (cladóceros, copépodos, ostrácodos e conchostracos), insetos das mais
variadas ordens (Coleoptera, Diptera, Ephemeroptera, Hemiptera, Hymenoptera,
Trichoptera, Odonata), escamas de peixes, crustáceos(camarão), vegetais, tecamebas,
ácaros, detritos e areia.
No Braço Morto Abaixo, microcrustáceos, foram quase sempre o item alimentar
principal, excetuando-se março/90 e julho/90, quando predominaram os insetos, na
forma de ovos não identificados e efemerópteros. Detritos de natureza orgânica, não
identificados, tiveram altos valores em janeiro, maio e setembro de 1990.
No Braço Morto Acima, a importância dos microcrustáceos não foi tão elevada,
tendo alcançado índice alimentar de 0,98 apenas em setembro/89. Os insetos tiveram
valores elevados em fevereiro e julho de 1990, com predominância de quironomídeos.
Analogamente ao Braço Morto Abaixo, detritos de natureza orgânica foram importantes
na alimentação da espécie, em quatro períodos, outubro de 1989, janeiro, maio e
setembro de 1990.
Na Baía Cinza, os microcrustáceos apresentaram índices alimentares superiores a
0,50, com exceção de maio/90, quando insetos foram predominantes. Os crustáceos
(camarões) foram ingeridos em quantidades significativas nos meses de dezembro/89 e
janeiro/90.
Dentre os microcrustáceos, houve predominância absoluta de ingestão de
cladóceros e dentre os insetos, efemerópteros, quironomídeos e hemípteros.
Quironomídeos podem ter sido ingeridos em maior quantidade no Braço Morto
Acima, devido à sua abundância e disponibilidade neste ambiente, diretamente
relacionada à maior ocorrência de macrófitas aquáticas, hábitat de ocorrência destes
insetos (Pinder, 1986).
Referências na literatura acerca da alimentação de M. dichroura foram
encontrados em Catella (1992), em que o mesmo o classifica como zooplanctófaga,
comedora de copépodos e cladóceros e “grande devoradora” de insetos que caem na
superfície; tal fato não foi observado no presente trabalho, em que predominaram as
mais diversas formas e ordens de insetos aquáticos, além dos quironomídeos
propriamente ditos. M. intermedia, espécie próxima, alimentou-se de quironomídeos no
Lago de Itaipu (Fundação Universidade Estadual de Maringá, 1987) e de microcrustáceos
15
e insetos na represa de Barra Bonita, São Paulo (Costa, 1991, citado por Catella, 1992).
Embora Sazima (1986) tenha verificado que M. intermedia nada próximo à superfície
“catando organismos” e fragmentos que flutuam, seu comportamento em outras
situações pode ser diferente, refletindo a labilidade de comportamento e de consumo de
diferentes alimentos, como é usual em espécies tropicais e subtropicais (Resende et al.,
1996 a, b; 1998).
TABELA 2. Índices alimentares de Moenkhausia dichroura, por período e localidade de
coleta, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grosso
do Sul.
Períodos set/89 out/89
nov/89 dez/89 jan/90 fev/90 mar/90
mai/90 jul/90 set/90
nov/90
itens alimentares Braço Morto Abaixomicrocrustáceos 0,95 0,78 0,98 0,53 0,97 0,46 0,33 0,10 0,22 0,93peixe 0,01 0,01 0,03inseto 0,04 0,03 0,48 0,01 0,88 0,04detrito 0,04 0,18 0,02 0,40 0,01 0,02 0,66 0,02 0,78 0,01areia 0,01não identificado 0,02
Braço Morto Acimamicrocrustáceos 0,98 0,54 0,06 0,07 0,23 0,19 0,07 0,29peixes 0,03 0,01insetos 0,12 0,89 0,08 0,57 0,28vegetais 0,02 0,02 0,02tecamebas 0,03 0,05 0,14 0,19 0,05ácaros 0,06detritos 0,30 0,47 0,03 0,60 0,03 0,43 0,04areia 0,44 0,02 0,62
Baía Cinzamicrocrustáceos 0,94 0,80 0,83 0,54 0,72 0,97 0,87 0,51insetos 0,04 0,87 0,01crustáceos 0,06 0,32 0,23 0,05detrito 0,05 0,03 0,01 0,01 0,07 0,35areia 0,06 0,16 0,11 0,12 0,04 0,03 0,03 0,06 0,14
16
Tabela 3. Índices alimentares de Moenkhausia dichroura por localidade de coleta, naplanície inundável do rio Miranda.
Locais BMAbaixo BMAcima Bcinzaitens alimentaresMicrocrustáceo 0,73 0,27 0,84Crustáceo 0,04Inseto 0,17 0,37Detrito 0,09 0,24 0,02Tecameba 0,09areia 0,01 0,09
Agrupando-se os dados por localidade de coleta (Tabela 3), observa-se que M.
dichroura é zooplanctófaga no Braço Morto Abaixo e Baía Cinza e insetívora e
zooplanctófaga no Braço Morto Acima, possivelmente relacionada a maior abundância de
macrófitas aquáticas neste ambiente, hábitat de ocorrência dos insetos.
Psellogrammus kennedyi é um Tetragonopterinae de pequeno porte, tendo sido
capturados exemplares entre 42 e 63 mm de comprimento total, na Vazante do Morro
do Azeite (dois exemplares) e Baía Cinza (232 exemplares) (Tabela 1). Possui corpo
comprimido e elevado, com boca frontal provida de dentes incisiformes e cuspidados.
Na Baía Cinza (Tabela 4), os alimentos encontrados nos estômagos dessa
espécie, foram microcrustáceos (cladóceros e copépodos), insetos, escamas de peixes,
restos animais não identificados e areia. Os índices alimentares para microcrustáceos
foram muito elevados, variando de 0,72 a 0,99, revelando serem o principal item
alimentar dessa espécie, com predominância de cladóceros.
Tabela 4. Índices alimentares de Psellogrammus kennedyi, por período de coleta, na BaíaCinza, planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grosso doSul.
Períodos set/89 dez/89 jan/90 mar/90itens alimentares Baía Cinzamicrocrustáceos 0,98 0,72 0,92 0,99insetos 0,06 0,01peixes 0,02resto animal 0,21areia 0,08
Poptella paraguayensis é um Stethaprioninae de pequeno porte, tendo sido
capturados exemplares nos quatro ambientes amostrados, com tamanhos variando entre
29 e 75 mm de comprimento total (Tabela 1). Possui corpo alto e muito comprimido,
com boca em posição frontal provida de dentes incisiformes cuspidados. Sua
alimentação (Tabela 5) consistiu em insetos das mais variadas ordens (Diptera,
Hemiptera, Ephemeroptera, Coleoptera, Hymenoptera, Trichoptera e Homoptera), e de
17
microcrustáceos (Cladocera, Ostracoda, Copepoda, Conchostraca), além de vegetais,
peixes (escamas), aracnídeos, nematódeoss, detritos e areia.
Tabela 5. Índices alimentares de Poptella paraguayensis, por período e localidade decoleta, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grossodo Sul.
Período set/89 out/89 nov/89 dez/89 jan/90 Fev/90 mar/90 Mai/90 jul/90 set/90 nov/90itens alimentares Braço Morto Abaixoinsetos 0,16 0,55 0,40 0,02 0,81 0,40 0,67 0,94 1,00 0,97 0,92microcrustáceos 0,82 0,27 0,97 0,15 0,58 0,14 0,01vegetais 0,01 0,01peixes 0,06 0,01 0,01aracnídeos 0,04 0,01 0,01 0,02 0,01 0,03nematódeoss 0,01detritos 0,59 0,01 0,01 0,10 0,02 0,01 0,03areia 0,01 0,16 0,01 0.01
Braço Morto Acimainsetos 0,51 0,91 0,91 0,91 0,50 0,97 0,74 0,72 0,98 0,89 0,88microcrustáceos 0,49 0,01 0,41 0,01 0,01 0,01 0,01vegetais 0,02 0,01peixes 0,02aracnídeos 0,03 0,01nematódeossdetritos 0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0,26 0,08 0,04areia 0,02 0,03 0,19 0,02 0,01 0,01 0,07
Vazante Morro Azeiteinsetos 0,42microcrustáceos 0,55peixes 0,01nematódeoss 0,02
Baía Cinzainsetos 0,01 0,13 0,35 0,01 0,02 0,23microcrustáceos 1,00 0,53 0,23 0,61 0,88 1,00 0,98peixes 0,01 0,02 vegetaisovos não identif. 0,10detrito 0,02 0,04 0,09 0,49areia 0,46 0,63 0,02 0,07 0,58 1,00 0,49
Insetos foram praticamente o principal item alimentar dessa espécie nos Braços
Mortos, com valores de índice alimentar, muitas vezes superiores a 0,80. Os insetos
consumidos em maior quantidade no Braço Morto Abaixo foram larvas de efemerópteros,
himenópteros (formigas), seguidos de hemípteros, ortópteros e coleópteros; no Braço
Morto Acima, foram coleópteros, seguidos, com menor freqüência, por ortópteros e
efemerópteros.
Na Baía Cinza, microcrustáceos foram o item alimentar predominante,
excetuando-se maio/90, quando insetos hemípteros foram os mais consumidos. Em julho
e setembro de 1990, os poucos exemplares com alimento, continham em sua quase
totalidade, apenas areia ou detrito.
Dentre os microcrustáceos consumidos, em todos os ambientes, houve
predominância absoluta de cladóceros.
18
Diferentemente de M. dichroura, P. paraguayensis revela-se um insetívoro que se
alimenta em grande parte de insetos terrestres que caem na água como é o caso da
grande ocorrência de formigas no seu trato digestivo, sem no entanto, deixar de
consumir insetos aquáticos como larvas de efemerópteros e coleópteros aquáticos.
Catella (1992), mesmo com poucos exemplares analisados, já observara que P.
paraguayensis (= Ephipicharax paraguayensis) da Baía da Onça, braço morto do rio
Aquidauana, apresentavam comportamento alimentar semelhante.
Tabela 6. Índices alimentares de Poptella paraguayensis, por localidade de coleta, naplanície inundável do rio Miranda.
Locais BMAbaixo BMAcima VMAzeite BCinzaItens alimentaresInseto 0,70 0,88 0,42 0,04Microcrustáceos 0,26 0,03 0,55 0,84Peixe 0,01 0,01Aracnídeo 0,01Detrito 0,02 0,06Areia 0,03 0,11Nematódeo 0,02
Em termos gerais P. paraguayensis pode ser considerada como uma espécie
insetívora/zooplanctófaga, sendo o consumo desses itens dependente da disponibilidade
dos mesmos no ambiente de ocorrência (Tabela 6).
Thoracocharax stellatus, pertencente à família Gasteropelecidae, é uma espécie
de pequeno porte que se caracteriza por possuir peito muito desenvolvido, devido à
expansão do osso coracóide, nadadeira peitoral muito longa e ventrais diminutas (Britski
et al., no prelo). Possui corpo muito alto e comprimido, com boca pequena frontal,
provida de dentes incisiformes. Foram capturados apenas nos Braços Mortos e os
tamanhos variaram de 27 a 59 mm de comprimento total (Tabela 1).
Os alimentos encontrados nos estômagos de T. stellatus (Tabela 7) foram insetos
(efemerópteros, himenópteros, coleópteros, hemípteros, ortópteros e dípteros),
microcrustáceos e aracnídeos. Pelos valores de índice alimentar encontrados (0,88 a
0,99), esta espécie é altamente insetívora, em que os alimentos preferidos consistiram
em formigas, larvas e efemerópteros e coleópteros. Goulding (1980) cita os
Gasteropelecidae como insetívoros que se alimentam de insetos alóctones.
19
Tabela 7. Índices alimentares de Thoracocharax stellatus, por período e localidade decoleta, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grossodo Sul.
Períodos Mar/90 Mai/90 Set/90 Nov/90Itens alimentares Braço Morto AbaixoInseto 0,99 0,99 0,88 0,99Microcrustáceo 0,01 0,07 0,01Aracnídeo 0,01Areia 0,05
Braço Morto AcimaInseto 0,98Microcrustáceo 0,01Areia 0,01
Rhamphichthys hahni, gimnotóide pertencente à família Rhamphichthyidae,
caracteriza-se por possuir corpo alongado, achatado lateralmente, focinho prolongado
num rostro reto e boca pequena desprovida de dentes (Britski et al., no prelo). Foram
capturados apenas quatro exemplares no Braço Morto Abaixo (Tabela 1), com
comprimentos totais que variaram de 270 a 380mm. Os três exemplares com alimento
no estômago (Tabela 8) continham insetos, microcrustáceos, rotíferos, detritos e areia.
Dípteros foram o principal alimento dessa espécie, com predominância de larvas de
quironomídeos. Tais resultados são concordantes com os achados por Soares et al.
(1986), num lago de várzea, no médio Amazonas.
Tabela 8. Índices alimentares de Rhamphichthys hahni, no Braço Morto Abaixo, emdezembro/89, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do MatoGrosso do Sul.
Itens alimentares Dezembro/89Inseto 0,68Microcrustáceo 0,01Rotífero 0,01Detritos 0,23Areia 0,07
Eigenmannia trilineata, gimnotóide pertencente à família Sternopigydae,
caracteriza-se por possuir focinho curto, corpo alongado e achatado lateralmente e boca
pequena frontal provida de dentes cônicos em várias séries nas maxilas (Britski et al., no
prelo). Foi capturada apenas nos Braços Mortos (Tabela 1), com abundância maior no
Braço Morto Acima, onde foram amostrados ambientes com macrófitas aquáticas
flutuantes, hábitat preferencial de ocorrência da espécie. Os comprimentos totais
variaram de 91 a 195 mm e 69 a 155 mm, respectivamente, nos braços mortos Abaixo
e Acima.
Os alimentos consumidos por essa espécie (Tabela 9) foram insetos (dípteros,
tricópteros, coleópteros, homópteros e hemípteros), microcrustáceos (copépodos,
20
cladóceros e ostrácodos), vegetais, tecamebas, ácaros, rotíferos, detritos e areia. A
diversidade de alimentos consumidos foi mais elevada no Braço Morto Abaixo. Os
alimentos predominantes foram insetos e microcrustáceos em ambos os braços mortos.
Dentre os insetos, os mais consumidos foram as larvas de quironomídeos e os
microcrustáceos, variaram de acordo com os períodos do ano, de copépodos a
ostrácodos e cladóceros.
Em geral, E. trilineata é uma espécie zooplanctófaga, com tendência a insetívora,
dependendo da disponibilidade desses alimentos no ambiente de ocorrência (Tabela 10).
Tabela 9. Índices alimentares de Eigenmannia trilineata, por período e localidade decoleta, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grossodo Sul.
Períodos Out/89 Dez/89 Jan/90 Mai/90Itens alimentares Braço Morto AbaixoInseto 0,05 0,41Microcrustáceo 0,89 0,27Vegetal 0,03Tecameba 0,04Ácaro 0,01Rotífero 0,02Não identificado 0,01Detrito 0,04 0,01Areia 0,20
Braço Morto AcimaInseto 0,16 0,18 0,52Microcrustáceo 0,39 0,61 0,44Vegetal 0,09 0,03Rotífero 0,06 0,10Areia 0,29 0,07 0,03
Tabela 10. Indices alimentares de Eigenmannia trilineata, por localidade de coleta, naplanície inundável do rio Miranda.
Locais BMAbaixo BMAcimaItens alimentaresMicrocrustáceo 0,75 0,51Inseto 0,14 0,32Vegetal 0,01 0,03Rotífero 0,03Tecameba 0,01Não identificado 0,01Detrito 0,03Areia 0,04 0,11
Pimelodella mucosa é um siluriforme de pequeno porte, pertencente à família
Pimelodidae. Foram capturados em todos os ambientes, com exceção da Vazante do
21
Morro do Azeite (Tabela 1) e em maior número, na Baía Cinza. Os comprimentos totais
desses exemplares variaram de 50 a 129 mm. O comprimento máximo registrado por
Britski et al.(no prelo) é de 135 mm.
Os alimentos consumidos por P. mucosa foram insetos (dípteros, himenópteros,
hemípteros e efemerópteros), peixes, crustáceos (camarões), moluscos, vegetais,
detritos e areia (Tabela 11). Os insetos foram o principal item alimentar nos braços
mortos, com consumo predominante de quironomídeos e hemípteros. Apenas em
março/90 e novembro/90, peixes foram importantes nesses ambientes. Na Baía Cinza,
insetos foram quase sempre o principal item alimentar, com predominância de larvas de
quironomídeos e efemerópteros e hemípteros. Os peixes, quase sempre na forma de
escamas, foram consumidos com valores apreciáveis, nos meses de outubro, novembro
e dezembro de 1989 e janeiro e fevereiro de 1990.
Tabela 11. Índices alimentares de Pimelodella mucosa, por período e localidade decoleta, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grossodo Sul.
Períodos set/89 out/89 nov/89 dez/89
jan/90 fev/90 mar/90 mai/90
jul/90 nov/90
itens alimentares Braço Morto Abaixoinseto 1,00 0,93 0,80 0,16 0,77peixe 0,20 0,46crustáceo 0,19vegetal 0,07detrito 0,23areia 0,19
Braço Morto Acimainseto 0,78 0,43peixes(escamas) 0,26 0,95microcrustáceo 0,02 0,16 0,02crustáceo 0,02vegetal 0,02molusco 0,02detrito 0,06 0,01areia 0,20 0,05
Baía Cinzainseto 0,91 0,25 0,73 0,76 0,27 0,37 0,76 1,00 1,00 0,97peixe 0,05 0,73 0,23 0,20 0,34 0,29microcrustáceo 0,04 0,03 0,06 0,01 0,05 0,03crustáceo 0,01 0,15detrito 0,02 0,03 0,33 0,15areia 0,03 0,02
Efetuando-se uma análise dos alimentos ingeridos, por localidade de coleta
(Tabela 12), verifica-se que P. mucosa é essencialmente insetívora.
22
Tabela 12. Índices alimentares de Pimelodella mucosa, por localidade de coleta, naplanície inundável do rio Miranda.
Locais BMAbaixo BMAcima BCinzaItens alimentaresInseto 0,84 0,64 0,72Microcrustáceo 0,08 0,02Crustáceo 0,02Peixe 0,10 0,13 0,25Detrito 0,01 0,02 0,01Areia 0,02 0,12
Entomocorus benjmanini, siluriforme da família Auchenipteridae, foi capturada
nos Braços Mortos e na Baía Cinza (Tabela 1). É uma espécie de pequeno porte e os
exemplares capturados apresentaram comprimentos totais entre 51 e 79 mm. Apresenta
dimorfismo sexual interessante, na forma de barbilhões maxilares ossificados e
modificações estruturais nas nadadeiras dorsal, ventral e anal nos machos. Possui boca
frontal voltada para cima, provida de dentes diminutos dispostos em duas ou três séries
sobre pré-maxilares e dentários (Britski et al., no prelo). Os rastros são finos e de
comprimento mediano. Os alimentos consumidos por E. benjamini (Tabela 13) foram
microcrustáceos (cladóceros, copépodos e ostrácodos), insetos (efemerópteros,
coleópteros e hemípteros), rotíferos, peixes (escamas), briozoários, ácaros, detrito e
areia. Nos Braços Mortos, os microcrustáceos cladóceros foram o principal item
alimentar com altos índices alimentares, exceto em janeiro/90, quando efemerópteros
foram dominantes. Na Baía Cinza, cladóceros foram o item alimentar preponderante.
23
Tabela 13. Índices alimentares de Entomocorus benjamini, por período e localidade decoleta, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grossodo Sul.
Períodos Set/89 Out/89 Nov/89 Dez/89 Jan/90 Fev/90 Mar/90 Jul/90Itens alimentares Braço Morto AbaixoMicrocrustáceo 1,00 1,00 1,00 0,22Inseto 0,75Ácaro 0,03
Braço Morto AcimaMicrocrustáceo 0,43 0,70Inseto 0,26Rotífero 0,06Peixe (escamas) 0,01Briozoário 0,02Ácaro 0,01Não identificado 0,01Areia 0,50
Baía CinzaMicrocrustáceo 0,89 0,95 1,00 0,97 0,93Insetos 0,01 0,01Ovos não identif. 0,11 0,01Detrito 0,03 0,01Areia 0,03 0,05
Tabela 14. Índices alimentares de Entomocorus benjamini, por localidade de coleta, naplanície inundável do rio Miranda.
Locais BMAbaixo BMAcima BCinzaItens alimentaresMicrocrustáceo 0,94 0,73 0,97Inseto 0,05 0,21Briozoário 0,01Não identificado 0,01Areia 0,03 0,03
Em termos gerais, ao se analisarem os dados por localidade de coleta (Tabela
14), fica evidente que essa espécie é predominantemente zooplanctófaga, podendo
consumir também insetos, quando os mesmos forem abundantes, como no Braço Morto
Acima.
Parauchenipterus striatulus (Tabela 1), também siluriforme da família
Auchenipteridae, foi capturada apenas no Braço Morto Acima e Baía Cinza, com
comprimentos totais entre 75 e 162 mm. Todos os exemplares coletados e analisados
no Braço Morto Acima não continham alimento em seus estômagos. Na Baía Cinza, essa
espécie alimentou-se de insetos (hemípteros, coleópteros, homópteros, efemerópteros e
himenópteros), escamas de peixes, crustáceos (camarões), vegetais, gastrópodos e
detrito (Tabela 15). Insetos hemípteros e efemerópteros foram os itens principais de sua
24
alimentação, excetuando-se outubro/89 e julho/90, quando escamas de peixes e
camarões apresentaram altos valores de índice alimentar.
Tabela 15. Índices alimentares de Parauchenipterus striatulus, por período de coleta, naBaía Cinza, planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grossodo Sul.
Períodos Out/89 Dez/89 Jul/90 Nov/90Itens alimentaresInseto 0,35 1,00 0,23 1,00Peixe 0,54Crustáceo 0,77Vegetal 0,04Gastrópodo 0,05Detrito 0,01
Efetuando-se análise com os dados agrupados (Tabela 16), observa-se que é uma
espécie insetívora, que pode consumir eventualmente outros itens alimentares como
peixes e crustáceos.
Tabela 16. Indices alimentares de Parauchenipterus striatulus, por localidade de coleta,na planície inundável do rio Miranda.
Itens alimentares BCinzaInseto 0,70Peixe 0,13Vegetal 0,01Gastrópodo 0,01Crustáceo 0,15
No Reservatório de Itaipu (Fundação Universidade Estadual de Maringá, 1987), P.
galeatus, espécie muito semelhante a P. striatulus, apresentou como itens dominantes
em sua alimentação, insetos das ordens Coleoptera, Ephemeroptera, e Orthoptera,
dependendo do local amostrado; outros alimentos consumidos foram aracnídeos,
briozoários, algas e frutos. Perrone et al. (1993) relatam P. galeatus como espécie
onívora, que se alimentou preferencialmente de crustáceos, mas seus resultados devem
ser encarados com ressalva, visto que utilizou apenas o método da freqüência de
ocorrência, o qual , muitas vezes, superestima determinados itens alimentares.
Observações de campo, efetuadas no decorrer da execução de outros projetos,
têm mostrado que o ambiente preferencial de ocorrência de espécies do gênero
Parauchenipterus são os corixos, onde as macrófitas aquáticas são abundantes e onde
os insetos também são abundantes, principal alimento das espécies deste gênero.
Callichthys callichthys, siluriforme da família Callichthyidae, foi capturada apenas
no Braço Morto Abaixo (Tabela 1), com comprimentos totais entre 105 e 113mm. O
comprimento máximo registrado é de 170mm (Britski et al., no prelo). Caracteriza-se por
25
possuir corpo coberto por placas ósseas dispostas em duas séries no flanco, uma
superior e outra inferior. Apresentam boca pequena ventral provida de barbilhões. Nos
seis exemplares com alimento no trato digestivo (Tabela 17), foram identificados
rotíferos, tecamebas, microcrustáceos, restos vegetais, algas, insetos e areia, com
predominância de rotíferos dos gêneros Philodina e Lecane. Nos igarapés da Amazônia
foi encontrada alimentando-se intensamente de insetos (Knopell, 1970).
Tabela 17. Índices alimentares de Callichthys callichthys, em março/90, no Braço MortoAbaixo, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do MatoGrosso do Sul.
Itens alimentares Março/90Rotífero 0,69Tecameba 0,17Microcrustáceo 0,01Vegetal 0,04Alga 0,04Inseto 0,01Não identificado 0,01Areia 0,01
Hoplosternum littorale, outro Callichthyidae, foi capturado apenas na Baía Cinza,
com comprimentos totais variando de 147 a 223 mm (Tabela 1). Possui boca ventral
pequena provida de barbilhões. Os alimentos ingeridos pelos seis exemplares (Tabela
18), que continham alimento no trato digestivo, foram microcrustáceos (cladóceros e
copépodos), crustáceos e areia. O item alimentar dominante foram os microcrustáceos
cladóceros.
Soares et al.(1986), estudando a fauna de peixes do lago Camaleão, um lago de
várzea no médio Amazonas, encontraram como alimentos dominantes de H. littorale
foram os estádios larvais de insetos aquáticos (coleópteros, dípteros, odonatos,
hemípteros e efemerópteros) e insetos de origem terrestre, seguidos de zooplâncton
(rotíferos, cladóceros e copépodos). Winemiller (1987), observou nos “Llanos”
venezuelanos que os imaturos alimentam-se principalmente de microcrustáceos
aquáticos, sendo a alimentação dos adultos mais diversificada e variando com a época
do ano, de detritos orgânicos, insetos terrestres, microcrustáceos e besouros aquáticos,
na estação seca e detrito orgânico e larvas de quironomídeos, na estação chuvosa. A
baixa diversidade de alimentos encontrada para esta espécie no presente trabalho
possivelmente está relacionada ao pequeno número de exemplares analisados e ao
ambiente onde foram coletados, pobre em vegetação aquática.
26
Tabela 18. Índices alimentares de Hoplosternum littorale, por período e localidade decoleta, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grossodo Sul.
Períodos Outubro/89 Janeiro/90Itens alimentares Baía CinzaMicrocrustáceo 0,96 0,87Crustáceo 0,13Areia 0,03
Apenas dois exemplares de Brochis britski, siluriforme da família Callichthyidae
foram capturados no Braço Morto Acima (Tabela 1). Os comprimentos totais foram de
78 e 84 mm. Os itens alimentares encontrados nos tratos digestivos foram apenas
cladóceros e areia, respectivamente com índices alimentares de 0,56 e 0,44 (Tabela 19).
Tabela 19. Índices alimentares de Brochis britskii, em janneiro/90, no Braço MortoAcima, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do MatoGrosso do Sul.
Itens alimentares Janeiro/90Microcrustáceo 0,56Areia 0,44
Brochis splendens foi capturado apenas nos Braços Mortos (Tabela 1). Os
comprimentos totais variaram de 60 a 106 mm. No Braço Morto Acima, os exemplares
analisados não continham alimento no trato digestivo. No Braço Morto Abaixo, dos 11
exemplares analisados, apenas um continha alimento, que consistiu em insetos (larvas de
quironomídeos), microcrustáceos (cladóceros e copépodos), tecamebas e areia, com
predominância de insetos (Tabela 20).
Tabela 20. Índices alimentares de Brochis splendens, em maio/90, no Braço MortoAbaixo, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do MatoGrosso do Sul.
Itens alimentares Maio/90Inseto 0,62Microcrustáceo 0,25Tecameba 0,06Areia 0,06
Ambas as espécies de Brochis possuem boca pequena em posição ventral,
provida de barbilhões. Os olhos são comparativamente pequenos em relação ao tamanho
da cabeça.
Satanoperca pappaterra, Perciformes da família Cichlidae, caracteriza-se por
possuir corpo alto e comprimido e focinho alongado. Foram capturados poucos
27
exemplares no Braço Morto Acima, Vazante do Morro do Azeite e Baía Cinza (Tabela 1),
com comprimentos totais entre 80 e 172 mm. Nos dois exemplares com alimento, um da
Vazante e outro da Baía Cinza (Tabela 21), foram encontrados os seguintes alimentos
nos seus estômagos: insetos, vegetais, microcrustáceos, peixes, ácaros, rotíferos, algas,
detrito e areia. Os alimentos predominantes foram insetos na Vazante do Morro do
Azeite e ácaros, microcrustáceos e algas na Baía Cinza.
Tabela 21. Índices alimentares de Satanoperca pappaterra, por período e localidade decoleta, na planície inundável do baixo rio Miranda, Pantanal do Mato Grossodo Sul.
Períodos Set/89 Out/89Vazante do Morro do Azeite
Inseto 0,63Vegetal 0,06Peixe 0,25Ácaro 0,06itens alimentares Baía CinzaInseto 0,04Vegetal 0,05Microcrustáceo 0,12Peixe 0,03Ácaro 0,19Rotífero 0,03Alga 0,12Detrito 0,19Areia 0,22
No quadro abaixo, são apresentados os principais itens alimentares das espéciesabundantes no Braço Morto Abaixo, M. dichroura, P. paraguayensis e T. stellatus, todaspelágicas.
Espécies 9/89 10/89 11/89 12/89 1/90 2/90 3/90 5/90 7/90 9/90 11/90M. dichroura C C C C C C/IN C/IN E C/D CP. paraguayensis C E O C CO E/C E F F E FT. stellatus F F E/F COC=cladóceros; O=ortópteros; E=efemerópteros; CO= coleópteros; D= detritos; F= formigas; IN= inseto nãoidentificado.
M. dichroura, de boca em posição frontal, alimentou-se preferencialmente de
cladóceros; P. paraguayensis, de boca em posição frontal mas ligeiramente voltada para
cima, de cladóceros, insetos autóctones, como coleópteros e larvas de efemerópteros e
também de insetos alóctones como formigas e outros insetos terrestres; T. stellatus, de
boca em posição frontal, mas voltada para cima, preferencialmente de insetos de origem
terrestre, como revelado pela grande abundância de formigas em seus estômagos, bem
como abelhas e fragmentos de insetos terrestres não identificados. Quando ocorreram
conjuntamente, como em março/90, os alimentos dominantes em M. dichroura foram
28
cladóceros, em P. paraguayensis, larvas de efemerópteros e em T. stellatus, formigas.
Em maio/90, há sobreposição alimentar entre P. paraguayensis e T. stellatus, quando
ambos consumiram preferencialmente formigas. Nessa época de cheia, quando os
ambientes terrestres estão inundados, as formigas são encontradas em grande
quantidade naquelas partes de vegetação ainda não inundadas ou mesmo em grandes
bolotas, flutuando na água. Em setembro/90, há uma pequena sobreposição entre P.
paraguayensis e T. stellatus, com consumo de larvas de efemerópteros por parte da
primeira espécie e larvas de efemerópteros e formigas por parte da segunda. Neste
período, quando as águas já estão baixas, T. stellatus parece revelar maior capacidade de
apreensão de insetos terrestres que P. paraguayensis. Em setembro/89, M. dichroura e
P. paraguayensis consumiram preferencialmente cladóceros, os quais eram abundantes
por se encontrarem concentrados no corpo d’água reduzido pela seca, o que pode
minimizar eventuais competições por esse alimento.
Quironomídeos e efemerópteros constituem, no rio Paraná, parte da dieta de
muitas espécies de peixes que buscam seu alimento na camada superficial da coluna de
água como Astyanax bimaculatus, Auchenipterus nuchalis, Parauchenipterus galeatus,
Pimelodus maculatus, Leporinus obtusidens, Leporinus elongatus, L. friderici, L. lacustris
e Moenckhausia intermedia(Fundação Universidade Estadual de Maringá, 1989).
Uma característica anatômica comum a M. dichroura e P. paraguayensis, são os
rastros longos e finos que podem atuar como uma espécie de peneira que retém o
zooplâncton consumido por estas espécies, diferentemente de T. stellatus que possui
rastros curtos, o que pode explicar a sua dieta preferencialmente insetívora.
O quadro abaixo sumariza os principais itens alimentares das espéciesabundantes no Braço Morto Acima.
Espécies 9/89 10/89 11/89 12/89 1/90 2/90 3/90 5/90 7/90 9/90 11/90M. dichoura C C D Q D/C Q D/Q CP. paraguayensis O/E/C CO IN CO CO CO E/CO CO IN IN/CO IN/ET. stellatus CO/EE. trilineata Q/OS/C CP Q/CC= cladóceros; D= detritos; Q= quironomídeos; O=ortópteros; E= efemerópteros; IN= insetosnão identificados; CO= coleópteros; OS= ostrácodos; CP= copépodos.
Como dito anteriormente, as três primeiras espécies são pelágicas, de águas
abertas. E. trilineata é um gimnotóide de hábitos noturnos cujo hábitat de ocorrência são
as macrófitas aquáticas. Quando as três espécies pelágicas ocorrem conjuntamente,
como em setembro/90, os alimentos principais quase não foram os mesmos: M.
dichroura consumiu detritos e quironomídeos, P. paraguayensis, insetos não identificados
(fragmentos de insetos terrestres) e coleópteros e T. stellatus, coleópteros e
efemerópteros.
29
Nos períodos em que M. dichroura e P. paraguayensis ocorreram conjuntamente,
os alimentos principais não foram os mesmos.
As disputas pela mesma fonte alimentar principal entre as espécies abundantes
parecem ser evitadas pelas habilidades específicas de cada uma delas, pelas diferenças
anatômicas corporais e pelo aparato digestivo e nas raras ocasiões em que ocorreu
sobreposição, esta foi atenuada pela abundância daquele determinado item naquele
período em particular.
No quadro abaixo são apresentados os itens alimentares predominantes das
espécies abundantes na Baía Cinza.
Espécies 9/89 10/89 11/89 12/89 1/90 2/90 3/90 5/90 7/90 9/90M. dichroura C C C C C C C CP. kennedyi C C C CP. paraguayensis C C C/H C C C C H DC= cladóceros; H= hemípteros; D= detritos
Em quase todos os períodos, o principal item alimentar dessas espécies foi
constituído por cladóceros. Como estas espécies conseguem coexistir utilizando a
mesma fonte alimentar? Neste caso em particular, a única explicação aceitável é que este
corpo d’água contém uma riqueza muito grande desses organismos, como observado
quando se efetuavam arrastos verticais de rede para coleta de plâncton. Os insetos, por
sua vez, pela pobreza de vegetação aquática que compõe o seu substrato de ocorrência,
também foram relativamente pobres neste tipo de ambiente, reduzindo as possíveis
fontes alternativas de alimentação, exceção feita aos hemípteros consumidos por P.
paraguayensis. Entretanto, no cômputo geral, P. paraguayensis foi muito mais abundante
numericamente que M. dichroura ou P. kennedyi.
Ao menos em relação às larvas de peixes (Sipaúba-Tavares, 1993), o consumo
preferencial de cladóceros em detrimento de outros grupos de microcrustáceos, mesmo
maiores, tem sido relacionados à forma do corpo e aos mecanismos de locomoção, que
no caso dos copépodos, é mais eficiente, facilitando sua fuga (Zaret, 1980, citado por
Sipaúba-Tavares, 1993). Praticamente não existem informações acerca da abundância
relativa dos diferentes grupos de microcrustáceos para o Pantanal. Espindola et al.
(1996) encontraram, na época de águas altas, na lagoa Albuquerque, Pantanal de Mato
Grosso do Sul, densidades de 93,5%, 1,0% e 5,5% respectivamente para rotíferos,
cladóceros e copépodos, e 80,0%, 9,5% e 10,5%, na época de águas baixas.
Comparando-se os resultados encontrados no presente trabalho e os dados obtidos na
literatura disponível, parece haver uma certa seletividade por parte dos peixes estudados
em consumir cladóceros, em detrimento dos demais microcrustáceos, como copépodos,
ostrácodos e conchostracos. Muitos estudos ainda serão necessários para se ter uma
30
melhor idéia da abundância e distribuição destes organismos nos diferentes hábitats
aquáticos do Pantanal.
O quadro abaixo é uma súmula de classificação das espécies analisadas, quanto
ao principal alimento consumido, em cada localidade amostrada.
Espécies Insetívora Zooplanctófaga Insetívora/zooplanctófagaBMAb BMAc BCin BMAb BMAc BCin BMAb BMAc BCin
M. dichroura X X XP. kennedyi XP. paraguayensis X X XT. stellatus X XR. hahni XE. trilineata X XP. mucosa X X XE. benjamini X X XP. striatulus XC. callichthys XH. littorale XB. britski XB. splendens XS. pappaterra XBMAb= Braço Morto Abaixo; BMAc= Braço Morto Acima; BCin= Baía Cinza
Moenkhausia dichroura e P. paraguayensis podem ser predominantemente
insetívoras ou zooplanctófagas, dependendo do ambiente em que ocorrem, mostrando-se
serem bastante plásticas/versáteis em sua alimentação, em função da disponibilidade
desses alimentos. Já, outras espécies como P. mucosa e E. benjamini consumiram
predominantemente o mesmo alimento nos três ambientes amostrados, mostrando serem
mais específicos. E. trilineata, ocorrente nos dois Braços Mortos também mostrou
preferencia pelos mesmos alimentos nas duas localidades. Eventuais similitudes ou
diferenças nas demais espécies não puderam ser inferidas, pois, durante o período de
amostragem, não ocorreram em todos os ambientes amostrados.
As espécies aqui analisadas, juntamente com as detritívoras, devem compor a
base da cadeia alimentar dos ambientes aquáticos no Pantanal. A dificuldade em traçar
adequadamente os elos da cadeia alimentar, principalmente para os peixes, reside no
fato de que muitos contêm peixes em avançado estado de digestão, impossibilitando a
sua identificação. São 15 as espécies ictiófagas que ocorrem nos mesmos ambientes,
mas apenas em Pygocentrus nattereri, e Hoplias malabaricus puderam ser identificados
peixes insetívoros e zooplanctófagos, M. dichroura e P. paraguayensis. Os pescadores
locais costumam utilizar piquiras (Moenkhausia dichroura), para pescar jiripocas
(Hemisorubin platyrhynchos). De toda forma, o conhecimento dos hábitos alimentares de
comunidades de peixes do Pantanal permite uma melhor compreensão do sistema e
conseqüentemente, a possibilidade de manejo mais adequado desse recurso tão
importante para a região.
31
CONCLUSÕES
Dentre as espécies analisadas, cinco são insetívoras, a saber, T. stellatus, R.
hahni, P. mucosa,. P. striatulus e B. splendens; seis são zooplanctófagas: P. kennedyi, E.
benjamini, H. littorale, C. callichthys, B. britski e S. pappaterra e três,
zoonctófagas/insetívoras, dependendo da disponibilidade destes alimentos no ambiente:
M. dichroura, P. paraguayensis e E. trilineata. Estas espécies, juntamente com as
detritívoras, compõem a base da cadeia alimentar aquática no Pantanal.
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITSKI, H. A.; SILIMON, K.Z. de S.; LOPES, B.S. Peixes do Pantanal. Manual deidentificação. Brasília: Embrapa-SPI; Corumbá: Embrapa-CPAP, 1999. 184p.
CATELLA, A. C. Estrutura da comunidade e alimentação de peixes da Baía da Onça, umalagoa do Pantanal do rio Aquidauana, MS. Campinas, SP: Universidade Estadual deCampinas, 1992. 214p. Dissertação Mestrado.
CATELLA, A. C.; PETRERE, M. Jr. Feeding patterns in a fish community of Baía da Onça,a floodplain lake of the Aquidauana river, Pantanal, Brasil. Fisheries Management andEcology, v. 3, p. 229-237. 1996.
EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal (Corumbá, MS). Avaliação dacontaminação ambiental da bacia hidrográfica do rio Miranda; relatório final.Corumbá, 1991. 174p.
ESPINDOLA, E.G.; MATSUMURA-TUNDISI, -T.; MORENO, I.H. Efeitos da dinâmicahidrológica do sistema Pantanal Mato grossense sobre a estrutura da comunidade dezooplâncton da lagoa Albuquerque. Acta Limnologica Brasiliensia, v.8, p. 37-57.1996.
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Ictiofauna e biologia pesqueira:relatório anual. (março de 1985 a fevereiro de 1986). Maringá, 1987. v.1.
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Estudos limnológicos eictiológicos na planície de inundação do rio Paraná, nas imediações do município dePorto Rico-PR. Maringá: NUPELIA/FINEP, 1989. 390p. 3v.(Relatório).
GOULDING, M. (1980). The fishes and the forest; explorations in Amazonian naturalhistory. Berkeley: University of California Press. 1980. 280p.
HYNES, H.B.N. The food of freswater sticklebacks (Gasterostomus aculeatus andPigosteus pumgitius), with a review of methods used in studies of the food of fishes.Journal Animal Ecology, v.19, n.1,p. 411-429. 1950.
KAWAKAMI, E.K.; VAZZOLER, G. Método gráfico e estimativa do índice alimentaraplicado no estudo de alimentação de peixes. Boletim Instituto Oceanográfico, SãoPaulo, v.29, n.2, p. 205-207. 1980.
KNOPPELL, H.A. (1970). Food of Central Amazonian fishes. Amazoniana, 2(3): 257-352. 1970.
PEREIRA, R.A.C. & RESENDE, E.K. de. Peixes detritívoros da planície inundável do rioMiranda, Pantanal, Mato Grosso do Sul. Corumbá: Embrapa, 1998. 50p. (Embrapa-cpap. Boletim de Pesquisa, 12).
PERRONE, E.C.; BORGES Fº, O.F.; COUTINHO, C.L. ; GALVÃO, R.A.M. Hábitosalimentares de uma comunidade de peixes do Reservatório de Águas Claras,município de Aracruz. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE ICTIOLOGIA,10. 1993, SãoPaulo. Resumos...São Paulo: Sociedade Brasileira de ICTIOLOGIA/USP-InstitutoOceanográfico/Instituto de Pesca, 1993. P.165.
PINDER, L.C.V. Biology of freshwater Chironomidae. Annual Review Entomology, n.31,p.1-23. 1986.
33
RESENDE, E.K. de; CATELLA, A.C.; NASCIMENTO, F.L.; PALMEIRA, S.da S.; PEREIRA,R.A.C.; LIMA, M. de S. & ALMEIDA, V.L.L. Biologia do curimbatá (Prochiloduslineatus), pintado (Pseudoplatystoma corruscans) e cachara (Pseudoplatystomafasciatum) na bacia hidrográfica do rio Miranda, Pantanal de Mato Grosso do Sul,Brasil. Corumbá, MS: Embrapa-CPAP, 1996a. 75p. (Embrapa-CPAP. Boletim dePesquisa, 02).
RESENDE, E.K. de; PALMEIRA, S. da S. Estrutura e dinâmica das comunidades de peixesda planície inundável do rio Miranda, Pantanal de Mato Grosso do Sul, Brasil.SIMPÓSIO SOBRE RECUROS NATURAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS DO PANTANAL.MANEJO E CONSERVAÇÃO, 2., 1996, Corumbá, MS. Manejo e Conservação.Anais... Corumbá: Embrapa Pantanal, p. 249-282. 1999.
RESENDE, E.K. de; PEREIRA, R.A.C.; ALMEIDA, V.L.L. de. Peixes herbívoros da planícieinundável do rio Miranda, Pantanal, Mato Grosso do Sul, Brasil. Corumbá, MS:Embrapa-CPAP, 1998. 27p. (Embrapa-CPAP. Boletim de Pesquisa, 10).
RESENDE, E.K. de; PEREIRA, R.A.C.; ALMEIDA, V.L.L. de & SILVA, A.G. Alimentaçãode peixes carnívoros da planície inundável do rio Miranda, Pantanal, Mato Grosso doSul, Brasil.Corumbá : Embrapa-CPAP, 1996b. 36p. (EMBRAPA-CPAP. Boletim dePesquisa, 03).
RESENDE, E.K. de; PEREIRA, R.A.C.; ALMEIDA, V.L.L. de; SILVA, A.G. da. Peixesonívoros da planície inundável do rio Miranda, Mato Grosso do Sul, Brasil. Corumbá,MS: Embrapa Pantanal, 2000. 40p. (Embrapa Pantanal. Boletim de Pesquisa, 16). Noprelo.
SAZIMA, I. Similarities in feeding behaviour between some marine and freswater fishesin two tropical communities. Journal of Fish Biology, v.29, n.1, p. 53-66. 1986.
SIPAÚBA-TAVARES, L.H. Análise da seletividade alimentar em larvas de tambaqui(Colossoma macropomum) e tambacu (híbrido, pacu -Piaractus mesopotamicus -etambaqui- Colossoma macropomum) - sobre os organismos zooplanctônicos. ActaLimnologica Brasiliensia, v. 6, p.114-132. 1993.
SOARES, M.G.M.; ALMEIDA, R.G.; JUNK, W.J. The trophic status of the fish fauna inLago Camaleão, a macrophyte dominated floodplain lake in the midle Amazon.Amazoniana, v.9, n.4, p.511-526. 1986.
WINEMILLER, K.O. Feeding and reproductive biology of the currito, Hoplosternumlittorale, in the Venezuelan llanos, with comments on the possible function of theenlarged male pectoral spines. Environmental Biology of Fishes, v.20, n.3, p.219-227. 1987.