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Capítulo III O CONGELAMENTO DO ESTAMENTO BUROCRÁTICO 1. A cidade comercial: a corte barroca e o funcionário. 2. O congelamento e a paralisia do Estado barroco. 3. Elite e estamento. A classe comercial que alimenta é sugada e desprezada pelo Estado e a camada dominante que o envolve, já que enriquecimento comercial é consumido senhorialmente pelo estamento. Apesar das discordâncias sociais entre estas classes, ambas compartilham do fomento as navegações e aos lucro gerados por elas. O absolutismo, consagrado no reino, impõe freios à nobreza e compra os comerciantes, sendo assim o reino se torna uma ampla rede de negócios, se moldando sua fisionomia externa de acordo c seus interesses. A nobreza a serviço do rei compunha o estado. Mesmo sem poderem comercializar, já que esta era uma atividade privativa do rei e de seus comerciantes domésticos, a nobreza quem usufruía os frutos do tráfico. A residência real circundada da febre comercial compõe a cidade, e marca a fisionomia do século XVI, o século da Índia. Para Faoro, o país define-se como o prolongamento da cidade: Lisboa, comportando cinquenta mil habitantes, rege a monarquia, com seu milhão de habitantes. O barroco converte- se no estilo da arte e da política. A exploração do novo mundo era a grande motivação em todo reino, para o contentamento da Europa, caravelas voltavam carregadas de especiarias, escravos, açúcar. Sendo assim, a capital Lisboa quinhentista, expandia sua exploração aos extremos do mundo. A regência e o senhorio eram titulados ao rei. A regência abrange a jurdição sobre todos os que vivem no seu reino. O

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Captulo III

O CONGELAMENTO DO ESTAMENTO BUROCRTICO

1. A cidade comercial: a corte barroca e o funcionrio.2. O congelamento e a paralisia do Estado barroco.3. Elite e estamento.

A classe comercial que alimenta sugada e desprezada pelo Estado e a camada dominante que o envolve, j que enriquecimento comercial consumido senhorialmente pelo estamento. Apesar das discordncias sociais entre estas classes, ambas compartilham do fomento as navegaes e aos lucro gerados por elas.

O absolutismo, consagrado no reino, impe freios nobreza e compra os comerciantes, sendo assim o reino se torna uma ampla rede de negcios, se moldando sua fisionomia externa de acordo c seus interesses.

A nobreza a servio do rei compunha o estado. Mesmo sem poderem comercializar, j que esta era uma atividade privativa do rei e de seus comerciantes domsticos, a nobreza quem usufrua os frutos do trfico.

A residncia real circundada da febre comercial compe a cidade, e marca a fisionomia do sculo XVI, o sculo da ndia.

Para Faoro, o pas define-se como o prolongamento da cidade: Lisboa, comportando cinquenta mil habitantes, rege a monarquia, com seu milho de habitantes. O barroco converte-se no estilo da arte e da poltica.

A explorao do novo mundo era a grande motivao em todo reino, para o contentamento da Europa, caravelas voltavam carregadas de especiarias, escravos, acar. Sendo assim, a capital Lisboa quinhentista, expandia sua explorao aos extremos do mundo.

A regncia e o senhorio eram titulados ao rei. A regncia abrange a jurdio sobre todos os que vivem no seu reino. O rei s tem a dignidade real no reino; fora dele, nas terras e mares que descobrir, intitula-se senhor.

Na vida poltica do Brasil, como Estado, o imperador deixa de ser soberano e passa a ser o representante da comunidade no poder.

O estado caracterizado predominantemente como sistema burocrtico e administrativo, o qual e que se caracteriza pela apropriao de funes, rgos e rendas pblicas por setores privados, que permanecem, no entanto, subordinados e dependentes do poder central, formando o que Faoro chamou de "estamento burocrtico".O estamento burocrtico um sistema invarivel e compacto, sendo este a principal caracterstica na disputa entre as classes pelo poder. A camada dirigente, as qual detm o poder, mantm-se nele atravs da eleio de filhos e genros.

Entre o governo e governados, o contato era distante e indiferente. Segundoo autor (p. 104): o governo, o efetivo comando da sociedade, sedetermina pela minoria, que com o pretexto de representar o povo,o controla, o explora, o deturpa, o sufoca.

O poder minoritrio, no envolvido, pelo majoritrio, adquire um carter ptreo, independente da nao. Afirma, na hiptese, por fora de seu isolamento, contedo estamental. E dele, e no de uma elite que tratam Manheim e Toynbee, quando denunciam as minorias dominantes, que, em certas circunstncias, se fecham sobre si prprias, esgotadas de energia criadora, meras intermediadoras do pensamento universal num crculo nacional (FAORO, Raimundo, 2012, p.112).

O poder minoritrio, por possuir uma longa herana social e poltica, torna-se uma camada institucionalizada. Desta forma, formou-se uma aristocracia, uma elite, uma escola dirigente, uma classe poltica.Assim, modernizaram-se os paises aprisionados pelo estamento ocidentalizando-se. O mundo se partiu em mundo metropolitano, diretor e condutor, e mundo de retaguarda, alheando mais a minoria do conjunto da Nao.

A primeira consequncia, a mais visvel, da ordem burocrtica, aristocratizada no pice, ser a inquietude, ardente, apaixonada caa ao emprego pblico.(FAORO, 1996, p.390).

Os invisveis, mulheres, crianas, idosos etc, no participam do estamendo, sendo estes a cera mole para o domnio, enquanto v no estado uma potencia inabalvel, longnqua e rgida. O que est fora do estamento ser a cera mole para o domnio, enquanto esta, calada e medrosa, v no Estado uma potncia inabordvel, longnqua, rgida.(FAORO,1996, p.391)

A burocracia o arbtrio de fazer e desfazer das massas que habitam o imprio tornando o Brasil em uma nao artificial.

Segundo Sergio Buarque de Holanda, em seu livro Razes do Brasil, Na verdade, a ideologia impessoal do Liberalismo Democrtico jamais se naturalizou entre ns.

Interpretamos assim, que a negao de uma autoridade incmoda, confirmando nosso instintivo horror s hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os governantes. A democracia no Brasil foi sempre um mal-entendido.Razes do Brasil claro na leitura do livro, que durante o perodo no qual houve a chegadados primeiros colonizadores europeus ao Brasil,as marcas deixadasno foram apenas positivas. A cultura da submisso,forte emum pas de terceiro mundo,pobre,extremamente desigual resultado tambm das prticas daqueles que invadiram as terras brasileiras, eatordoouavida daqueles que aqui moravam. Portugal e Espanha tentaramimplantar a cultura europia em terras brasileiras, usando issocomo um instrumento fortalecedor na constituio da atual sociedade. Srgio Buarque, em sua obra, afirma queo Brasil um povo desterrado em sua prpria terraat os dias atuais.A desordem prevalente nos primeiros anos da invaso portuguesa,deixoucomo legado a falta de coeso na vida dos brasileiros.As decises do governo que se instauravam no pas, atendiam exclusivamente aos interessesde um pequeno grupo, cada vez mais poderoso.Sendo assim, asociedade brasileira que se formava, j contavacom a presena dos ndios,trabalhadores europeus e negros africanos, sendo estescada vez mais renegadoao descaso. Era a formao de um processo hierrquico pautado em inmeros privilgios, sobretudo dos privilgios hereditrios.tempo de saudosismopatriarcalista, Srgio Buarque sugere em Razes do Brasil que, do ponto de vista metodolgico, o conhecimento do passado deve estar ligado aos problemas do presente.Dentre os intelectuais alemes mais falados na poca, Srgio Buarque encontra identificao na obra de Max Weber, cujo exemplo mais claro de sua influncia em Razes a metodologia dos contrrios. Utilizando o critrio tipolgico de Weber, Srgio Buarque focaliza em pares de tipos sociais, e no na pluralidade deles, explorando conceitos polares como rural/urbano,trabalho/aventura, Estado/famlia patriarcal e pblico/privado. O esclarecimento dos conceitos contrrios no a opo por um deles, mas sim o jogo dialtico entre ambos, onde cruzando e misturando conceitos opostos, chega-se a uma concluso. Como explica Antnio Cndido no prefcio que faz ao livro:A viso de um determinado aspecto da realidade histrica obtida pelo enfoque simultneo dos dois; um suscita o outro, ambos se interpenetram e o resultado possui uma grande fora de esclarecimento (p. XIV).No conjunto da obra em questo, houve um captulo que se destacou, tornando-se essencial compreenso da identidade brasileira. Captulo V O Homem Cordial aborda caractersticas prprias do brasileiro como conseqncias dos traos do passado.Srgio Buarque comea o livro falando sobre nossas origens remotas, os pases ibricos Portugal e Espanha -, que, menos europeizados que os demais pases europeus, no tiveram uma hierarquia feudal to enraizada, tendo como conseqncia disso uma frouxido organizacional trazida ao Brasil, alm de uma burguesia mercantil precoce em relao aos demais, que no gostava de trabalho fsico, do trabalho regular e das atividades utilitrias, mas sim de serem senhores.A frouxido das instituies abriu portas para o tradicional personalismo, para a cultura da personalidade que, segundo Srgio Buarque, o trao mais decisivo na evoluo dos hispnicos:Pela importncia particular que atribuem ao valor prprio da pessoa humana, autonomia de cada um dos homens em relao aos semelhantes no tempo e no espao, devem os espanhis e portugueses muito de sua originalidade nacional (p. 4).Os ibricos so conceituados por Srgio Buarque como aventureiros, ou seja, aquele que pensa diretamente no objetivo final, busca novas experincias e a mira de seu esforo tem tanta relevncia capital que chega a dispensar os processos intermedirios para chegar ao ponto final. Quer ganhar dinheiro fcil.Ao contrrio do trabalhador que estima a segurana e o esforo, queenxerga primeiroo obstculo a vencer e aceita compensaes em longo prazo o portugus chegou ao Brasil graas a seu esprito aventureiro. E aqui permaneceu graas a sua grande capacidade de adaptao.Unindo sua forte adaptabilidade e a no disposio para trabalho braal junto fidalguia trazida de sua terra, o portugus instaurou no Brasil a lavoura de cana como ocupao da terra e dinheiro fcil unida ao trabalho escravo queresolvia,de maneira lucrativa, a no disposio ao trabalho, mas sim senhoria.Antnio Cndido ainda completa:A lavoura de cana seria, nesse sentido, uma forma de ocupao aventureira do espao, no correspondendo a uma civilizao tipicamente agrcola (pg. 18), mas a uma adaptao antes primitiva ao meio, revelando baixa capacidade tcnica e docilidade s condies naturais (p. XVI).A vida ruralmarcou fortementena formao da sociedade brasileira. Abaseestrutural dasociedade colonial era rural,e eram os senhores rurais eram quem detinham o poder na poca.Em 1850 instaura-se a lei Eusbio proibindo o trfico de escravos. Entre 1851 e 1855 h notvel crescimento urbano por causa das construes das estradas de ferro. O progresso chegando, o caf como nova fonte de capital e os filhos de fazendeiros sendo mandados para nas cidades estudarem. Dessa classe rica e intelectual veio um progresso social que demoliu suas prprias bases: a escravido. A partir da, os capitais ociosos do trfico foram para as cidades, para investimentos e especulaes.Aqui nessa poca Srgio Buarque enfoca a enorme incompatibilidade entre o mundo tradicional e o moderno, entre rural e urbano. O Brasil no tinha estrutura econmica, poltica e social para desenvolver a indstria e o comrcio. Os homens do campo quemigravam para a cidade eram os mais importantes, os colonos que diziam que o trabalho fsico no dignificava o homem, mas sim o intelectual. Dessa forma, possvel imaginar as dificuldades que chegaram com a Revoluo Industrial, onde o homem vira mquina.Assim, a vida na cidade se desenvolveu de forma desorganizada e prematura, o que nos leva ao captulo seguinte: o estudo da importncia da cidade como instrumento de dominao e como ela foi fundada nesse sentido.Aqui Srgio Buarque prende-se um pouco nas colonizaes portuguesa e espanhola, identificando-os como semeador e ladrilhador. O ladrilhador seria o espanhol que coloniza parte da Amrica construindo cidades planejadas, com a inteno de estabelecer um prolongamento estvel na Metrpole. Suas cidades eram construdas nas regies internas do continente tomando conta, assim, de toda cultura local.Os portugueses, semeadores, agarraram-se ao litoral semeando cidades irregulares, sem ordem e sem objetivos fortes de dominar a cultura do local, norteados por uma poltica de feitoria, querendo fortuna rpida paratornarem-senobres.A urbanizao no Brasil, irregular que foi, criou um desequilbrio social. O peso da famlia tradicional dificultou a formao da sociedade urbana moderna.No Brasil, crculo familiar e famlia patriarcal, muitas vezes so confundidos com Estado. Srgio Buarque afirma e reafirma que so completamente diferentes, explicando que um comportamento pessoal e familiar no funciona numa burocracia democrtica, pois um individual e o outro coletivo, um privado e o outro pblico.O Estado no uma ampliao do crculo familiar e, ainda menos, uma integrao de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a famlia o melhor exemplo. () H nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpreo e no uma depurao sucessiva (p. 101).O homem cordial aquele que vem da famlia, o homem hospitaleiro e generoso. Noentanto, sua polidez apenas aparente, um disfarce que serve de defesa ante a sociedade, preservando a sensibilidade e emoes do indivduo e mantendo sua supremacia ante o social.A manifestao de respeito, por exemplo, aqui no Brasil, concretiza-se no desejo de estabelecer intimidade: os tratamentos pelo diminutivo ou pelo primeiro nome so exemplos disso. Dessa forma, possvel aproximar pessoas e objetos dos sentidos e do corao, demonstrandoum certohorror distncia.Srgio Buarque diz que a mentalidade cordial uma sociabilidade aparente que no se impe ao indivduo e tambm no exerce efeito positivo na estruturao de uma ordem coletiva. Deste fato, ocorre o individualismo do homem cordial manifestando relutncia a alguma lei que o contrarie.Em seguida, critica a satisfao do brasileiro com um saber aparente, levantando, com isso, dogmas que levam confiana mxima nasidias, mesmo quandoinaplicveis, oque traz tona o positivismo no Brasil. Critica o Brasil que acredita em frmulas.Aproveita e tambm afirma que a ausncia de partidos polticos na poca um sintoma de nossainadaptaoao regime legitimamente democrtico, criticando a democracia no Brasil, numa poca em que no se falava nela, dizendo que falta-nos um verdadeiro esprito democrtico.A salvao para o Brasil, segundo Srgio Buarque, seria uma revoluo que daria fim aos resqucios da histria colonial e comear a traar uma histria brasileira, diferente, particular e moderna. Trata-se de adotar o ritmo urbano e elevar as camadas oprimidas da populao, pois apenas estas podero revitalizar a sociedade e propiciar novo sentido vida poltica, j que so fisicamente melhores que a classe alta e tambm o seriam mentalmente se as oportunidades fossem favorveis, como seriam no caso da revoluo. Porm, com a cordialidade, o brasileiro dificilmente chegar nessa revoluo.http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/donos-do-poder-os-conheca-obra-e-autor-fundamentais-para-compreender-o-brasil.htm