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15 UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO Andréa Carla Jorge Reis OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO: a locomoção dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na cidade de Belém/PA. BELÉM - PA 2009

Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

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15

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

E MEIO AMBIENTE URBANO

Andréa Carla Jorge Reis

OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO:

a locomoção dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na cidade de Belém/PA.

BELÉM - PA

2009

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Andréa Carla Jorge Reis

OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO: a locomoção dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na

cidade de Belém/PA.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia, como requisito para a obtenção do título de mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientadora: Profª. Dra. Voyner Ravena Cañete.

BELÉM - PA

2009

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Andréa Carla Jorge Reis

OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO: a locomoção dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na

cidade de Belém/PA.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia, como requisito para a obtenção do título de mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientadora: Profª. Dra. Voyner Ravena Cañete.

Banca Examinadora _____________________________________ Dra. Voyner Ravena Cañete Orientadora – UNAMA _____________________________________ Dra. Claudia Aline Monteiro Soares UNAMA _____________________________________ Dr. Samuel Sá UFPA Apresentado em: ____ / ____ / 2009.

Conceito: _____________________

BELÉM - PA

2009

Page 4: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

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Aos meus queridos pais, Carmen e

Carlos, pelo amor verdadeiro.

Ao meu irmão Eduardo, pelo apoio

incondicional.

Page 5: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

19

AGRADECIMENTOS

À Dra. e querida orientadora Voyner Ravena Cañete, pelo respeito às minhas

dificuldades e por proporcionar um novo olhar para a produção do conhecimento

científico.

Aos mestres do Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Urbano, pelas experiências e conhecimentos compartilhados.

Aos meus queridos alunos de Graduação, por compreenderem a minha ausência e

pelo respeito às minhas necessidades.

Aos colegas de mestrado, em especial, Alexandra Negrão, Daniela Costa, Heloisa

Machado e Francisca Canindé, pelas confidências e palavras de incentivo.

À Secretaria de Estado de Esporte e Lazer, pela confiança na realização desta

pesquisa.

E, em particular, à minha avó Sebastiana Jorge e aos idosos que participaram deste

estudo, possibilitando a reconstrução de um envelhecimento mais ativo e saudável

em uma sociedade ainda com dificuldades para atender as suas reais necessidades.

Page 6: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

20

Preparar-se para a velhice é

principalmente lutar sempre e continuar

lutando por objetivos capazes de conferir

um sentido à existência.

Simone De Beauvoir

Page 7: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

21

RESUMO

A pesquisa objetivou compreender como os idosos, dentro de suas

singularidades, percebem as limitações de acessibilidade e mobilidade no espaço

urbano onde circulam a partir da execução de suas atividade cotidianas. O estudo foi

realizado no Pólo Tuna Luso Brasileira, integrante do Projeto Vida Ativa, com 30

idosos de ambos os sexos, a partir de 50 anos e independentes. Caracterizou-se

como analítico-descritiva e quanti-qualitativa, com a aplicação de questionário sócio-

demográfico, avaliação da capacidade funcional, caracterização da qualidade do

espaço urbano e identificação do grau de satisfação em relação à qualidade do

espaço. Além do Núcleo da Terceira Idade, foram citados como espaços mais

utilizados: agência bancária, farmácia e supermercado. No que diz respeito aos

indicadores de qualidade do espaço urbano de circulação, como conforto,

seguridade, continuidade e segurança, verificou-se que há insatisfação,

especificamente quanto às calçadas com desníveis, obstáculos e iluminação

deficiente, apesar de apresentam boa capacidade funcional para as atividades de

vida diária e atividades instrumentais de vida diária. Conclui-se que os idosos

percebem que há dificuldades importantes no que diz respeito à mobilidade e

acessibilidade no espaço urbano de circulação e muitas delas não estão

relacionadas somente ao processo natural do envelhecimento, mas principalmente,

ao caos urbano evidenciado em muitos relatos, como na mudança do trânsito e

aumento do número de pedestres circulando nas ruas e calçadas, porém,

demonstram manter o deslocamento porque o cuidado com a saúde é cada vez

maior nesta parcela da população e o aspecto social presente no pólo da Terceira

Idade é fundamental para o seu uso significativo, uma vez que é considerado para

muitos idosos uma forma de convívio.

Palavras-chave: Idosos. Espaço Urbano de Circulação. Capacidade Funcional.

Acessibilidade. Mobilidade.

Page 8: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

22

ABSTRACT

This essay has researched on how the elderly citizens, with their own singularities,

have sought to comprehend their own limitations concerning movement and access

inside their urban spaces, when doing their daily activities. Those researches took

place in the Tuna Luso Brasileira Center, as part of the “Active Life Project”, with 30

old ones of both sexes, from 50 years and independent. There was characterized

how descriptive-analytical and quanti-qualitative, with the application of questionnaire

demographic-partner, evaluation of the functional capacity, characterization of the

quality of the urbane space and identification of the degree of satisfaction regarding

the quality of the space. The research has shown that beyond the Age Third Nucleu,

other places usually visited by elderly citizens are bank agencies, pharmacies and

supermarkets. What concerns the quality indicators of the urbane space of

circulation, like comfort, security, happened continuity and security that there is

dissatisfaction, specifically as for the uneven sidewalks, obstacles and defective

lighting, in spite of they present good functional capacity for the activities of daily life

and instrumental activities of daily life. It is ended that the old ones realize that there

are important difficulties what concerns the mobility and accessibility in the urbane

space of circulation and a great deal of them are not made a list only to the natural

process of the aging, but principally, to the urbane chaos shown up in many reports, I

eat in the change of the traffic and increase of the number of pedestrians circulating

in the streets and sidewalks, however, they demonstrate to maintain the dislocation

because the care with the health is every time bigger in this piece of the population

and the social present aspect in the pole of the Third Age is basic for his significant

use, as soon as it is considered for old many people forms one of familiarity.

Key-words: Elderly Citizens. Urban Space of Circulation. Functional Capacity.

Accessibility. Mobility.

Page 9: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

23

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Projeção de crescimento de idosos no Brasil – 2000/2020. 22

Gráfico 2 - Faixa etária dos participantes 74

Gráfico 3 - Sexo dos participantes 75

Gráfico 4 - Escolaridade dos participantes 76

Gráfico 5 - Características clínicas e funcionais relacionadas à queda no

último ano

78

Gráfico 6 - Acuidade visual dos participantes 80

Gráfico 7 - Perda auditiva dos participantes 82

Gráfico 8 - Meio de deslocamento utilizado pelos idosos no espaço urbano de

circulação

83

Gráfico 9 - Dificuldade para andar nas ruas e calçadas da cidade em que

mora

85

Gráfico 10 - Motivo de participação no projeto vida ativa 87

Gráfico 11 - Dificuldade no deslocamento até o núcleo da Terceira Idade 88

Gráfico 12 - Tempo de deslocamento da residência ao núcleo da Terceira

Idade

90

Gráfico 13 - Espaços mais utilizados pelos idosos além do Núcleo da Terceira

Idade

92

Gráfico 14 - Freqüência de utilização dos espaços públicos pelos idosos 93

Gráfico 15 - Dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos idosos 94

Gráfico 16 - Tipo de dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos idosos 95

Gráfico 17 - Mudança no espaço urbano de circulação para pedestres nos

últimos anos

96

Gráfico 18 - Tipos de mudanças identificadas pelos idosos no espaço urbano

de circulação.

97

Gráfico 19 - Sugestões dos idosos para facilitar a acessibilidade e

mobilidade/deslocamento no espaço urbano de circulação.

99

Gráfico 20 - Dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs) 102

Gráfico 21 - Dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). 103

Gráfico 22 - Número de idosos em relação ao conforto como indicador de

qualidade das calçadas

105

Page 10: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

24

Gráfico 23 - Número de idosos em relação à seguridade como indicador de

qualidade das calçadas.

107

Gráfico 24 - Número de idosos em relação à continuidade como indicador de

qualidade das calçadas

109

Gráfico 25 - Número de idosos em relação à segurança como indicador de

qualidade das calçadas

111

Gráfico 26 - Grau de satisfação do idoso em relação ao conforto como

indicador de qualidade da calçada

113

Gráfico 27 - Grau de satisfação do idoso em relação à seguridade como

indicador de qualidade da calçada

113

Gráfico 28 - Grau de satisfação do idoso em relação à continuidade como

indicador de qualidade da calçada.

114

Gráfico 29 - Grau de satisfação do idoso em relação à segurança como

indicador de qualidade da calçada

114

Gráfico 30 - Grau de satisfação do idoso em relação ao conforto como

indicador de qualidade da calçada

116

Gráfico 31 - Grau de satisfação do idoso em relação à seguridade como

indicador de qualidade da calçada

116

Gráfico 32 - Grau de satisfação do idoso em relação à continuidade como

indicador de qualidade da calçada

117

Gráfico 33 - Grau de satisfação do idoso em relação à segurança como

indicador de qualidade da calçada.

117

Page 11: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

25

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Faixa etária dos participantes 74

Tabela 2 - Estado civil dos entrevistados 77

Tabela 3 - Associação entre faixa etária e queda no último ano 78

Tabela 4 - Associação entre faixa etária e acuidade visual 80

Tabela 5 - Associação entre faixa etária e perda auditiva 81

Tabela 6 - Associação entre faixa etária e meio de deslocamento 83

Tabela 7 - Associação entre faixa etária e dificuldade para andar 85

Tabela 8 - Associação entre faixa etária e motivo para participar do Projeto

Vida

86

Tabela 9 - Associação entre faixa etária e espaços mais utilizados 91

Tabela 10 - Associação entre faixa etária e dificuldade de acesso aos espaços

mais utilizados

93

Tabela 11 - Dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs) 102

Tabela 12 - Dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). 103

Page 12: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

26

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 15

2 ENVELHECIMENTO 20

2.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO

ENVELHECIMENTO NO BRASIL

20

2.2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE

ENVELHECIMENTO NORMAL

24

2.3 QUALIDADE DE VIDA E ENVELHECIMENTO 29

3 A CIDADE E O ESPAÇO URBANO DE CIRCULAÇÃO 33

3.1 O SURGIMENTO DAS CIDADES 33

3.2 A URBANIZAÇÃO EM BELÉM 35

3.3 O PLANO DIRETOR DA CIDADE DE BELÉM E OS ASPECTOS DE

MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE URBANAS PARA OS IDOSOS

41

4 A LEGISLAÇÃO E A TERCEIRA IDADE: CONTRIBUIÇÕES PARA A PROMOÇÃO DO BEM ESTAR DA POPULAÇÃO IDOSA

50

4.1 A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO, O ESTATUTO DO IDOSO E A

POLÍTICA ESTADUAL DE AMPARO AO IDOSO

51

4.2 POLÍTICA DE MOBILIDADE URBANA: PRINCIPAIS AVANÇOS 59

4.3 A FUNÇÃO SOCIAL DO ESPAÇO PÚBLICO PARA O IDOSO 63

5 OS IDOSOS DO PÓLO TUNA LUSO BRASILEIRA DO PROJETO VIDA

ATIVA DA CIDADE DE BELÉM/PA 68

5.1 METODOLOGIA 68

5.2 PERFIL DOS IDOSOS 73

5.2.1 Caracterização quanto à faixa etária dos participantes 73

5.2.2 Caracterização quanto ao sexo dos participantes 75

5.2.3 Caracterização quanto à escolaridade dos participantes 5.2.4 Caracterização quanto ao estado civil dos participantes 5.2.5 Características clínicas e funcionais

5.2.6 Caracterização quanto à faixa etária e acuidade visual dos participantes 5.2.7 Caracterização quanto ao auxílio para a locomoção dos participantes

76

77

78

80

81

Page 13: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

27

5.2.8 Caracterização quanto à faixa etária e perda auditiva dos

participantes 6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 6.1 Características do deslocamento no espaço urbano de circulação 6.2 Caracterização quanto à dificuldade para andar dos participantes

6.3 Caracterização quanto ao motivo de participação no Projeto Vida Ativa 6.4 Caracterização quanto à dificuldade no deslocamento até o Núcleo da Terceira Idade 6.5 Caracterização quanto ao tempo de deslocamento dos participantes 6.6 Caracterização quanto aos espaços mais utilizados pelos participantes 6.7 Caracterização quanto à freqüência de utilização dos espaços

públicos pelos participantes 6.8 Caracterização quanto à dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos participantes 6.9 Caracterização quanto ao tipo de dificuldade de acesso aos prédios

públicos pelos participantes 6.10 Caracterização quanto às mudanças no espaço urbano de circulação 6.11 Caracterização quanto aos tipos de mudanças no espaço urbano de circulação

6.12 Caracterização quanto às sugestões para melhorar o espaço urbano de circulação 6.13 Questionário BOMFAQ e a capacidade funcional dos idosos 6.14 A percepção do idoso em relação ao espaço físico utilizado a partir

de indicadores de qualidade 6.15 Grau de satisfação do idoso em relação aos indicadores de qualidade das calçadas dos espaços mais utilizados. 6.16 Gráficos referentes ao grau de satisfação do idoso em relação aos

indicadores de qualidade das calçadas do espaço Tuna Luso Brasileira 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS APÊNDICE A - TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO

81

83

83

85

86

88

90

91

93

93

95

96

97

99

102

104

113

116

120

123

133

Page 14: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

28

APÊNDICE B - AUTORIZAÇÃO DA SECRETARIA DE ESPORTE E LAZER

APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO BOMFAQ APÊNDICE F - PERCEPÇÃO DE ESPAÇO FÍSICO

134

135

137

139

140

R375i Reis, Andréa Carla Jorge Os idosos e a circulação no espaço urbano: a locomoção

dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na cidade de Belém-PA / Andréa Carla Jorge Reis -- Belém, 2009.

147 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade da Amazônia,

Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, 2009.

Orientadora: Profª. Dra. Voyner Ravena Cañete. 1. Acessibilidade de idosos. 2. Espaço urbano de

circulação. 3. Projeto Vida Ativa-Tuna Luso Brasileira. I. Cañete, Voyner Ravena. II. Título.

CDD 362.6

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29

1 INTRODUÇÃO

A realidade das transformações demográficas demonstra que o Brasil já é

considerado um país envelhecido e o crescimento da população idosa é o mais

acelerado do mundo. Segundo Ramos (2006), até 2025, o Brasil representará a

sexta maior população de idosos do mundo (mais de 32 milhões de pessoas com 60

anos ou mais) 1.

Considerando a realidade do Brasil, em 2000, a região Norte apresentava

707.071 idosos residentes e o estado do Pará era o 4º estado brasileiro com o maior

percentual de idosos (356.562 = 5,7%), perdendo apenas para o Rio de Janeiro

(1.540.754 = 10,7%), Rio Grande do Sul (1.065.484 = 10,4%) e Paraíba (350.566 =

10,1%) (IBGE, 2006).

O conceito atual de velhice saudável está diretamente ligado à capacidade

funcional2, isto é, à possibilidade do idoso em manter um grau de independência

com a manutenção da qualidade de vida. A capacidade funcional surge como um

novo conceito na área da saúde e nas áreas que lidam, principalmente, com as

dificuldades dos idosos e a saúde passa a ter, então, um conceito muito mais amplo

se considerada a partir da visão holística de sujeito (BERZINS, 2003).

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998), definiu saúde como forma de

bem-estar geral e a capacidade de se autogovernar e, no que se refere ao idoso,

enfatiza a capacidade funcional e sua independência como aspectos fundamentais

para o diagnóstico de sua saúde física e mental.

Apesar das conquistas na área da saúde, as mudanças nos aspectos

biológicos, emocionais, sociais e psicomotores são inevitáveis e muitas das

características da velhice podem levar à incapacidade, principalmente, no que diz

respeito ao aspecto funcional, como perda de memória, atenção, visão, audição,

alteração de marcha, diminuição do equilíbrio e fraqueza muscular.

Idosos com limitações físicas, principalmente, demonstram uma diminuição do

grau de satisfação da vida, uma vez que, além de interferir na autonomia e 1 Para a Organização Mundial de Saúde (1998), o conceito de velhice está associado ao prolongamento e término de um processo representado por um conjunto de modificações fisiológicas e psicológicas ininterruptas à ação do tempo sobre as pessoas. Tal conceito será detalhado no referencial teórico. 2 A capacidade funcional está ligada à realização adequada de funções diárias básicas, como vestir-se e deslocar-se e demonstra a independência e autonomia do indivíduo (ROLIM; FORTI, 2006).

Page 16: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

30

independência, traz conseqüências na sua integração social acompanhada, muitas

vezes, de isolamento social (DIOGO et al, 2006). Por tal motivo, é preciso

reestruturar os critérios de identificação dos idosos de alto risco para as perdas

funcionais e redirecionar as práticas, não só de saúde quanto ao atendimento e

acompanhamento da pessoa idosa, mas também no que se refere às questões

relacionadas à adequação do espaço urbano de circulação, considerado

fundamental para a manutenção da autonomia e independência deste segmento

populacional.

Para se investigar a capacidade funcional do idoso, torna-se necessária a

observação das tarefas diárias e do desempenho de funções cognitivas, motoras e

psicológicas, que refletem na sua independência funcional e na autonomia.

No Brasil, com o aumento da população idosa, também houve um aumento

de indivíduos que necessitam de suporte para a execução de atividades de vida

diária (AVDs). Em uma pesquisa realizada por Diogo et al (2006) a fim de identificar

idosos com características de dependência para atividades de vida diária, 46% dos

participantes com idades entre 65 e 69 anos precisavam de suporte em alguma

tarefa e, no grupo de 80 anos e mais, 15% não precisavam de ajuda e 28%

necessitavam de cuidados em tempo integral. Tais dados demonstram influência

negativa na qualidade de vida do idoso na medida em que comprometem o seu

deslocamento no espaço físico.

Neste contexto, a equipe interdisciplinar que atendia os idosos, antes

considerada apenas de saúde, hoje necessita de profissionais de outras áreas do

conhecimento, das ciências sociais, da engenheira e arquitetura, por exemplo.

Assim, a qualidade de vida 3 passa a ter um conceito amplo, subjetivo e depende de

muitos aspectos, como da acessibilidade e mobilidade urbana 4.

Deste modo, ainda buscando compreender o envelhecimento, a Região

Metropolitana de Belém, como em outras grandes cidades do Brasil, apresentou um

crescimento populacional e modificações nas atividades urbanas, surgindo a

necessidade de adaptação dos espaços físicos fundamentais para as atividades,

dos padrões de acessibilidade desses espaços e da sua infra-estrutura. Este espaço 3 O conceito de qualidade de vida será melhor abordado no referencial teórico, porém, neste momento, considera-se o conceito subjetivo e relacionado ao contexto sócio-econômico-cultural, dependente da faixa etária e das aspirações pessoais do indivíduo (VECCHIA et al, 2005). 4 A acessibilidade está relacionada à facilidade de se atingir os destinos desejados, enquanto que, a mobilidade diz respeito à capacidade das pessoas se deslocarem no meio urbano para realizar as suas atividades (BOARETO, 2006).

Page 17: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

31

urbano, sob o aspecto físico, apresenta uma interação entre fluxo e fixos, como o

movimento de bens e pessoas entre diferentes locais e a compreensão desses

aspectos se mostra necessária para a análise dos parâmetros de acessibilidade e

alterações de mobilidade dos idosos (TOBIAS; RODRIGUES; BORDALO, 2002).

Assim, é importante relacionar as questões da acessibilidade às barreiras de

transporte que representam as dificuldades ou impedimentos observados pela falta

de adaptação dos veículos e do espaço viário. Segundo a NBR 9050/2004, são

considerados, por exemplo, parâmetros de acessibilidade, degraus e escadas fixas

em rotas acessíveis, presença de corrimãos, faixas de travessia de pedestres e

rebaixamento de calçadas, dentre outros.

Tais aspectos de acessibilidade são pontuados no Estatuto do Idoso e,

quanto à área de habitação e urbanismo, estabelece que seja da competência dos

órgãos e entidades públicos diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas.

Considerando a estruturação espacial da cidade, verifica-se a identificação com as

forças predominantes de organização deste espaço determinando o padrão

construtivo de vias e edificações aos moldes dos mais favorecidos socialmente e

economicamente (SANTOS, 1994).

A redução de mobilidade advém, portanto, de deficiências nas condições

físicas e de características pessoais. Assim, os idosos que já possuem alterações

próprias da idade, apresentam como conseqüência a diminuição em suas

habilidades de reação às ações externas advindas do espaço físico, o que por sua

vez leva a diminuição da mobilidade. Associado a este fato há uma constituição

física do espaço (ruas, calçadas, equipamentos de controle de tráfego, infra-

estrutura de apoio de transporte e modos de transporte) que, quando deficiente,

compõe um conjunto de fatores que contribuem para tornar a mobilidade do idoso

bastante comprometida.

Assim, verifica-se que, muitas vezes, as cidades5 não estão adaptadas para

atender as necessidades das pessoas com restrições de mobilidade e,

paralelamente às queixas dos idosos, é fundamental considerar o espaço físico não

só a partir dos aspectos estruturais, mas como os idosos interpretam o seu direito à

5 Segundo Lefebvre (1991), a cidade é definida como a projeção da sociedade sobre um dado território, o que possibilita refletir sobre uma realidade mais do que geográfica. Assim, a cidade é produto de questões culturais, históricas, econômicas e políticas.

Page 18: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

32

cidade, pois segundo Lefebvre (1991), há um significado particular que é percebido

e vivenciado pelos sujeitos que habitam a cidade.

Para Lynch (1980), há neste espaço físico, relações entre os sujeitos que o

ocupam e que elaboram mentalmente o espaço que usam. A partir de tais

colocações, é importante refletir sobre o aumento do número de idosos nas grandes

cidades e o maior desafio ainda será o de absorver e lidar com as suas demandas.

Neste contexto, o interesse6 pelo estudo do processo de envelhecimento e

questões relacionadas ao espaço urbano de circulação surgiu a partir de vivências

com grupos de idosos que freqüentam os Núcleos da Terceira Idade na cidade de

Belém, em particular, os inseridos no Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida

Ativa, da Secretaria de Estado, Esporte e Lazer (SEEL). Tal núcleo apresenta um

número significativo de idosos que buscam a manutenção da independência e a

melhora na qualidade de vida.

Portanto, nesta pesquisa, a questão que se estabelece pode ser assim

apresentada: como os idosos percebem a limitação de acessibilidade e mobilidade

no espaço urbano onde circulam a partir de suas atividades cotidianas?

Neste sentido, esta pesquisa se justificou pela necessidade de um olhar

diferenciado para as demandas dos idosos no que diz respeito à acessibilidade e

mobilidade no espaço urbano de circulação, pois, apesar de existirem leis que

objetivem a garantia dos direitos sociais do idoso, em especial, o acesso aos

serviços, a prática está distante do que se propõe. Os idosos representam um

segmento da população que precisa de cuidados que garantam o seu direito de ir e

vir, tornando possível a acessibilidade a partir de suas restrições de mobilidade.

O estudo forneceu subsídios que auxiliarão na reestruturação de diretrizes de

desenho urbano e contribuirão com dados para a construção de um ambiente

urbano de maior qualidade de vida para os idosos.

O estudo contou com a participação de idosos independentes e integrantes

do núcleo da Terceira Idade do Projeto Vida Ativa, na região metropolitana de

Belém. O projeto foi implantado pelo Governo Federal, por meio do Ministério do

Esporte, Governo do Estado e por meio da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer 6 A participação de minha avó materna em núcleos da Terceira Idade também foi um aspecto que fortaleceu o interesse em realizar o estudo no Pólo Tuna Luso Brasileira. As observações informais realizadas ao acompanhá-la possibilitaram vivenciar situações a partir das quais verificaram-se demonstrações de insatisfação no que diz respeito às condições de conforto e segurança no espaço urbano de circulação. Tal situação possibilita a segregação espacial que acaba gerando, de alguma maneira, a exclusão social.

Page 19: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

33

(Seel). O projeto propõe a prática de atividades físicas e de lazer à população idosa

e atualmente, oferece suporte a pelo menos 2 mil idosos em 14 núcleos (12 na

RMB, um no município de Capanema e outro núcleo em Soure, capital da Ilha do

Marajó). Em especial, tais idosos apresentam uma demanda que está relacionada

ao direito à vida urbana, já que, apesar das limitações naturais da velhice, o convívio

não é praticado somente no ambiente familiar.

A pesquisa objetivou compreender como os idosos, dentro de suas

singularidades e dentre tantos sujeitos urbanos, percebem as limitações de

acessibilidade e mobilidade urbana no espaço urbano onde circulam a partir da

execução de suas atividades cotidianas.

Como objetivos específicos, a pesquisa buscou: 1) identificar os espaços

urbanos mais utilizados pelos idosos; 2) averiguar a capacidade funcional dos idosos

no uso do espaço urbano; 3) identificar os principais aspectos de qualidade do

espaço urbano a partir da percepção dos idosos e, 4) relacionar tal percepção ao

grau de satisfação.

O trabalho divide-se em quatro capítulos, o primeiro descreve o

envelhecimento como uma condição humana, articulada às questões urbanas e

demográficas, assim como sintetiza as principais características do processo normal

do envelhecimento. O segundo capítulo detalha os fatores envolvidos na evolução

urbana e suas mudanças no espaço urbano de circulação, em especial, para os

idosos.

No terceiro capítulo são abordadas as principais Políticas Públicas

direcionadas para a população idosa e questões relacionadas aos avanços na área

de acessibilidade e mobilidade urbanas. Ainda neste capítulo, são apresentadas

algumas funções atribuídas pelos idosos ao espaço urbano de circulação utilizado

por eles.

Já no quarto e último capítulo, será apresentada o lócus onde os dados foram

coletados, de forma a perfilar e situar o objeto de pesquisa em um quadro real,

descrevendo a metodologia utilizada e os resultados encontrados.

Page 20: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

34

2 ENVELHECIMENTO

Este capítulo tem como finalidade descrever os principais aspectos

demográficos e epidemiológicos de envelhecimento no Brasil e encontra-se dividido

em três seções. A primeira abordará dois indicadores de dados básicos, o indicador

demográfico com a distribuição etária da população e a taxa de urbanização do país

influenciando o processo de envelhecimento. A segunda seção abordará conceitos

sobre envelhecimento normal e suas principais características e por fim, contribuirá

com reflexões da Antropologia em Saúde acerca do envelhecer na sociedade

brasileira.

2.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E OS ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO

ENVELHECIMENTO NO BRASIL

Com o decorrer da história, a partir do contexto sócio-econômico-cultural,

verificou-se um crescimento na longevidade e na expectativa de vida e muitos são

os conceitos utilizados para uma melhor compreensão do processo natural do

envelhecimento. Segundo Carta (2009), a distribuição da população mundial

apresenta a maior mudança da história com uma visibilidade significativa do

processo de envelhecimento nos países considerados desenvolvidos. Para o autor,

a combinação entre a queda da fecundidade e o aumento da expectativa de vida

mostra avanços generalizados no combate a doenças e a melhora da qualidade de

vida, mesmo em regiões chamadas menos favorecidas. Paralelamente, o número

cada vez maior de idosos com demandas crescentes é considerado um desafio para

as próximas gerações.

De acordo com os registros da Eurostat, equivalente ao Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) da União Européia, a expectativa média de vida na

Europa aumentou oito anos desde 1960 e deverá crescer mais cinco anos até 2050.

Deste modo, o percentual de europeus acima de 65 anos saltará de 16% no ano de

2000, para 27,5% em 2050. Considerando as pesquisas, estima-se que a

Page 21: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

35

expectativa média de vida será de 79,7 anos para os homens e de 85,1 anos para

as mulheres (CARTA, 2009).

Dados da Organização das Nações Unidas – ONU (2009) mostram que, no

período compreendido entre 1800 e 1850, a vida durava entre 20 e 35 anos com

uma alta taxa de mortalidade infantil. Já por volta de 1900, a expectativa de vida

subiu para 50 anos nos países desenvolvidos assim como nos países em

desenvolvimento e, em 2000, a expectativa de vida aumentou para 65 anos.

Estudos recentes mostram que a expectativa de vida no Japão é considerada

a mais alta entre os países desenvolvidos e deve subir de 82 anos para 88 anos

(entre 2045 e 2050). Seguindo a mesma estimativa, Canadá, Austrália e Nova

Zelândia apresentarão um aumento de 80 para 85 anos e os Estados Unidos

apresentarão uma longevidade de 82 anos entre 2045 e 2050.

Verifica-se, assim, que a distribuição etária da população do mundo tende a

se afastar da estrutura piramidal antiga: a base será mais estreita (com um menor

número de jovens) e o topo será mais alargado (com indivíduos acima de 65 anos).

É importante pontuar que a América Latina apresentará um aumento de 72

para 79 anos, nos 50 primeiros anos do século XXI (CARTA, 2009). No caso do

Brasil, Veras (2002) cita que a expectativa de vida do brasileiro, de 33 anos no início

do século XX, hoje é de 68 anos. Além disso, entre 1960 e 1980, verificou-se, no

Brasil, uma diminuição de 33% da fecundidade, gerando um aumento significativo da

população idosa.

Nesse contexto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 7 -

PNAD (IBGE, 2006), a população com mais de 80 anos foi a que mais cresceu,

registrando, inicialmente, 0,9% da população composta por idosos em 1995 e 2,4

milhões de brasileiros idosos em 2005 (1,3% da população).

Ainda de acordo com a PNAD (IBGE, 2006), idosos com idade entre 70 e 74

anos somavam 3,32 milhões em 2005 e atingiam 1,8% do total da população (1,5%

em 1995). Os que apresentavam entre 65 a 69 anos somavam 4,42 milhões e

representavam 2,4% da população (2,2% em 1995), já os que tinham entre 60 e 64

7 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) objetiva coletar e divulgar informações sobre as características gerais da população, migração, educação, trabalho, famílias e domicílios brasileiros, além de comentar dados sobre composição e mobilidade populacional, situação do mercado de trabalho, sindicalização, cobertura previdenciária, situação dos rendimentos, condições de habitação e posse de bens duráveis.

Page 22: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

36

anos somavam, há dois anos, 5,53 milhões de pessoas, ou seja, 3% dos brasileiros

em 2005 (2,6% em 1995).

Os dados ainda confirmam que, nos centros urbanos como Belo Horizonte,

Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, o número de idosas é bem maior.

Em 1995, a Paraíba apresentava 11% de idosos, enquanto que Rio de Janeiro

apresentava 10,8% e o Rio Grande do Sul 10,1%. Em 2005, o número de idosos

aumentou de maneira significativa, alcançando 13,5% e 12,3%, no Rio de Janeiro e

Rio Grande do Sul (IBGE, 2006).

Alguns estudos já realizam projeções de crescimento da população idosa no

Brasil. Em julho de 2009, de acordo com o IBGE, o Brasil apresentava 19 milhões de

indivíduos com 60 anos ou mais, o que corresponde a 10% da população brasileira,

trazendo não só conseqüências em termos de transição demográfica, mas

apresenta conseqüências sociais e econômicas.

Segundo o Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (Datasus), em julho

de 2009, o número de idosos no Pará era de 498.237, o que corresponde a 6,7% da

população. Em Belém, são 116.409 idosos ou 8% da população da capital, o que

caracteriza Belém como uma cidade em processo de envelhecimento.

Gráfico 1 - Projeção de crescimento de idosos no Brasil – 2000/2020. Fonte: Pereira; Curioni; Veras (2002).

Para Siqueira (2009), até o ano de 2008, estimava-se que o Brasil teria 259,8

milhões de habitantes em 2050 e destes, 146,2 milhões estariam na faixa etária de

16 a 59 anos, considerada produtiva. Porém, de acordo com os últimos dados da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, estima-se um total

Page 23: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

37

de 215,3 milhões em 2050 e destes, 120,8 milhões de habitantes com idades entre

16 e 59 anos.

Os resultados das últimas pesquisas demográficas mostram que os avanços

na área médica e a queda na fecundidade proporcionaram o aumento da

longevidade no Brasil. Em estudos anteriores, estimava-se que a média de filhos por

casal fosse continuar estável em duas crianças até 2020, contudo, de acordo com o

IBGE (2008), há uma tendência de 1,5 a partir de 2028.

Segundo o IBGE (2008), no Brasil, a maior parte dos idosos é composta pelo

sexo feminino, sendo 62 homens para cada 100 mulheres, significando 15 milhões

de idosas em 2020, aproximadamente. Assim, mudam também as principais

manifestações clínicas neste segmento da população, uma vez que as mulheres

vivem cada vez mais, até idades mais avançadas (PARAHYBA; VERAS; MELZER,

2005).

De acordo com Veras; Ramos; Kalache (1987), a população idosa, no Brasil,

cresce em um espaço urbano complexo e com dificuldades de acesso aos serviços

que necessita. Neste contexto, os idosos precisam se adaptar a realidade urbana

que apresenta como principais problemas: poluição do ar, poluição sonora, violência

e falta de infra-estrutura adequada às suas necessidades.

Para Prado; Licht (2004), na medida em que o número de idosos aumentou,

todas as áreas do conhecimento passaram a refletir sobre as demandas dessa

população e um dos enfoques é a área de urbanismo, reforçando o pensamento de

que a qualidade de vida dos indivíduos depende também do meio no qual ele vive e

se desloca.

Considerando o processo de urbanização acelerado, conseqüência de

planejamento ou do crescimento espontâneo, algumas cidades foram construídas

com muitos obstáculos (significativos fatores de exclusão social) que dificultam ou

impedem a circulação com autonomia e independência de muitos indivíduos,

principalmente dos portadores de mobilidade reduzida, como os idosos. Para estes,

as barreiras físicas constituem-se em uma parte dos problemas, caracterizando um

ambiente que foi construído e que não favorece a vida em sociedade.

Conforme citam Prado; Licht (2004), a estrutura urbana atual não contempla o

principio básico de que a cidade deve ser de todos e para todos e que, portanto, a

qualidade de vida de todos os indivíduos inclui o direito à participação nas atividades

econômicas e sociais da cidade.

Page 24: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

38

Sabe-se que tal participação só será efetiva se o acesso físico aos diferentes

espaços constitutivos da cidade também for possível, contando com o deslocamento

realizado por diferentes meios, como o transporte coletivo e a pé, por exemplo.

É importante ressaltar que a complexidade que envolve o espaço urbano de

circulação para os idosos vai além das características físicas. Pesquisas específicas

sobre mobilidade urbana mostram que uma pessoa em idade de trabalhar caminha a

uma velocidade de 1,0 m/s e os idosos caminham com passos de 0,4 m/s. Porém,

as normas estabelecem que a velocidade de marcha utilizada para regular o

funcionamento de semáforos nas cidades é de 1,2 m/s (PRADO; LICHT, 2004).

Somando-se a esse cenário de obstáculos individuais de acesso aos espaços

da cidade, muitas famílias apresentaram dificuldades em acolher os seus idosos,

com uma difícil convivência e conflitos constantes8. Tal situação reflete a

necessidade atual dos idosos buscarem o convívio social nos Núcleos da Terceira

Idade 9.

2.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

NORMAL

Sabe-se que o envelhecimento populacional vem acompanhado de

modificações quanto aos aspectos biológicos, econômicos, sociais, demográficos e

comportamentais. Para a compreensão do processo de envelhecimento torna-se

fundamental compreender as principais etapas do desenvolvimento humano.

Algumas perspectivas teóricas contribuíram para o estudo dos ciclos da vida,

como a Psicanalítica, da Aprendizagem, Cognitiva, Etológica e Contextual. É

importante esclarecer que não é objetivo desta pesquisa utilizar uma abordagem

apenas para explicar as diferentes etapas do desenvolvimento humano, mas como a

8 Tais questões serão discutidas no capítulo 3, abordando a importância das relações sociais para os idosos. 9 Os Núcleos da Terceira Idade anteriormente chamados de Grupos de Convivência de Idosos cresceram em termos quantitativos e qualitativos na década de 70 em todo o país e, de acordo com Marques (2009), surgiram especificamente nos clubes, paróquias, universidades e centros de saúde. Os grupos surgiram com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar da população a partir dos 60 anos, considerando que o processo natural de envelhecimento apresenta características que, por si só, comprometem a qualidade de vida do idoso.

Page 25: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

39

compreensão destas etapas possibilitaria um olhar diferenciado para as reais

necessidades dos idosos.

De acordo com Papalia; Olds (2000), o estudo do desenvolvimento humano é

bastante complexo, com mudanças ricas em quantidade e em qualidade, algumas

mais visíveis do que outras. Para os autores, a mudança quantitativa é considerada

uma mudança em número ou quantidade, como o aumento de vocabulário. Já a

mudança qualitativa é caracterizada por situações ou fenômenos que não poderiam

ser previstos a partir de um determinado funcionamento.

Nesse contexto de mudanças, algumas foram identificadas como

significativas, independente da teoria sobre desenvolvimento humano.

Segundo Papalia; Olds (2000)10, são oito períodos do Ciclo de Vida, a citar:

estágio pré-natal (concepção até nascimento), caracterizado por formação da

estrutura e órgãos corporais básicos, rápido crescimento físico e grande

vulnerabilidade às influências do ambiente; primeira infância (até os 3 anos), rápidos

crescimento físico e desenvolvimento das habilidades motoras, apresenta

capacidade de aprender e lembrar, interesse por outras crianças, aumento do

vocabulário e desenvolvimento acelerado da fala e compreensão.

Na segunda infância (dos 3 aos 6 anos), segundo os autores, há uma

complexidade das habilidades motoras, característica de comportamento

egocêntrico, aumento da independência e cuidado próprio. A terceira infância (6 aos

12 anos) apresenta como principais manifestações: diminuição do crescimento

físico, aperfeiçoamento da força física, aumento da memória e habilidades de

linguagem, ganhos cognitivos, melhora da auto-estima e fortalecimento das

amizades.

Na adolescência, alcança-se a maturidade reprodutiva, há a busca da

identidade pessoal, o pensamento torna-se abstrato e as mudanças físicas são

profundas. Na fase do jovem adulto, a saúde física começa a declinar, há uma

complexidade cada vez maior das habilidades cognitivas e escolhas profissionais

são realizadas.

No período de 40 a 60 anos, chamada de fase da meia-idade, há um declínio

importante da saúde física, a capacidade de solucionar problemas práticos é

acentuada e há certo esgotamento profissional.

10 Considerou-se o aspecto didático e a organização das informações como critério de seleção dos autores citados em torno das principais etapas do desenvolvimento humano.

Page 26: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

40

Finalmente, na terceira idade (a partir de 60 anos), há uma diminuição no

tempo de reação aos estímulos do meio ambiente, declínio importante da

capacidade física e enfrentamento de muitas perdas (afetos e das próprias

faculdades, como a memória).

A partir de tais mudanças quantitativas e qualitativas, é preciso compreender

também os conceitos de senescência e de senilidade a fim de identificar as

principais alterações do processo normal do envelhecimento. O primeiro conceito

está relacionado aos declínios físico (diminuição da habilidade motora) e mental

(diminuição de habilidades cognitivas11) de forma lenta e gradual, associado à idade

cronológica (envelhecimento primário). O segundo considera que os declínios

estarão acompanhados de desorganização mental e/ou de patologias

(envelhecimento secundário ou terminal) (ROLIM; FORTI, 2006).

Mazzo; Lopes; Benedetti (2001 apud ROLIM; FORTI, 2006) relatam que os

conceitos de envelhecimento recebem influências de componentes sociais,

biológicos, intelectuais e funcionais, podendo ser identificados como envelhecimento

biológico, envelhecimento social, envelhecimento intelectual e envelhecimento

funcional.

Ainda de acordo com as autoras citadas, o envelhecimento biológico é

considerado um processo contínuo e as diferenciações acontecem quando os

órgãos envelhecem mais rápido que outros.

O envelhecimento social é compreendido como um processo que ocorre de

maneiras diferentes nas diversas sociedades e está relacionado à produtividade do

sujeito (onde a aposentadoria12 seria o marco desse processo). Nesse contexto, a

vida social do idoso apresenta mudanças específicas, principalmente se ele

encontra-se inserido em uma realidade em que não há valorização do envelhecer.

Segundo Moragas (2004), durante muitos anos, a idade foi considerada um

critério de status social e os idosos eram valorizados pelos mais jovens. As

experiências de vida desses idosos eram muito ricas e os colocavam em posição de

11 Para Papalia; Olds (2000), os idosos podem continuar a adquirir novas informações e habilidades, porém, a cognição (memória, habilidades visuoespaciais e linguagem) apresenta déficits que estão relacionados não só aos aspectos orgânicos, como as conexões nervosas, mas dependem das experiências vivenciadas pelos idosos em diferentes etapas de suas vidas, influenciando, por exemplo, na capacidade de solução de problemas. 12 A aposentadoria é o marco da sociedade moderna, porém, segundo Silva; Silva (2008), o afastamento do trabalho é considerado uma perda da identidade e, muitas vezes, necessita de reorganização dos projetos de vida.

Page 27: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

41

grande respeito, assim como impunham respeito nas decisões políticas e

econômicas das diferentes sociedades.

Para o autor, com as revoluções políticas e industriais, outros atores sociais,

além dos idosos, passaram a apresentar poder e o conhecimento deixou de ser

valorizado somente pelas experiências de vida, passando a expressar-se pelo

domínio da tecnologia e dos grandes recursos econômicos. Assim, na vida social, o

idoso perde o respeito pelas vivências e os atores sociais mais jovens ganham

espaço e status social.

Conforme Nascentes (2004), ao final da Segunda Guerra Mundial, no final do

século XX, a população jovem predomina sobre a população mais velha na tarefa de

reconstruir a Europa, iniciando neste período, o preconceito ao idoso, reforçando a

importância da juventude e a insignificância do idoso para a sociedade. Surgiu

assim, o chamado “idadismo”, que significou a exclusão do outro para benefício

próprio.

O “idadismo” desconsiderou as leis e então, o preconceito, em especial, na

Europa, foi visível a partir da idade convencional para a aposentadoria (65 anos),

estabelecida pelo Chanceler Bismark em 1886, sendo observado em diferentes

culturas. Desse modo, o indivíduo recebeu o título de aposentado, sem papel

reconhecido em uma sociedade que valorizava o trabalho como fonte de status

social e econômico (MORAGAS, 2004).

Para Moragas (2004), na medida em que o idoso não produz, é considerado

por algumas sociedades, um indivíduo passivo que sempre transmitirá a imagem de

desperdiçar recursos públicos pelas aposentadorias, com repercussões negativas.

Já o envelhecimento intelectual é identificado quando o sujeito demonstra

falhas de memória, dificuldades de atenção e alterações consideradas importantes

no aspecto cognitivo. Por outro lado, o envelhecimento funcional é observado

quando já há uma dependência de outras pessoas para o cumprimento das

atividades básicas ou de tarefas rotineiras.

Na perspectiva biológica, o envelhecimento é considerado um processo que

apresenta características universais, naturais, que não dependem da vontade do

indivíduo, com modificações diretamente relacionadas às características individuais,

dentre elas: diminuição da massa óssea, atrofia da musculatura esquelética que

Page 28: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

42

compromete a motricidade13, alteração do sistema de regulação de temperatura,

diminuição da imunidade celular e aumento da predisposição a formar auto-

anticorpos e assim desenvolver doenças auto-imunes.

Além das alterações citadas, a pele torna-se mais seca, rugosa e flácida, há

desgaste dos ossos da maxila e mandíbula, perda da elasticidade do crânio, maior

risco de infecção pela ineficácia dos mecanismos de limpeza brônquica,

comprometimento da mastigação devido à falta dos dentes e alterações

mandibulares. Estas manifestações não ocorrem na mesma intensidade e ao

mesmo tempo em todos os indivíduos e em todos os órgãos (DUARTE, 2008).

O processo de envelhecimento pode ser definido como um processo

degenerativo, caracterizado por menor eficiência funcional, com enfraquecimento

dos mecanismos de defesa frente às variações ambientais e perda das reservas

funcionais, ou seja, do que ainda poderia ser aproveitado em idades avançadas

(RIBEIRO, 1999). Já a senescência, para Russo (1999), é aquele processo no qual

as alterações funcionais decorrentes do envelhecimento são gradativas e permitem

que as células tenham condições de se adaptarem ao novo ritmo, sem ruptura,

mantendo qualidade de vida.

Giacheti; Duarte (1997), em seus estudos, pontuam que o envelhecimento é

considerado:

...uma etapa natural do desenvolvimento caracterizada pela degenerescência psicofísica do ser humano. É um fato universal por ser comum a todos os seres vivos em idades avançadas; gradativo e lento; multidimensional, ocorrendo para diversos indivíduos com realidades biopsicossociais particulares.

Ainda de acordo com os autores citados, as manifestações orgânicas e

funcionais decorrentes do envelhecimento geralmente vêm acompanhadas de

perturbações fisiológicas e biológicas indiscutíveis, podendo atingir o conjunto das

aptidões físicas e mentais, uma vez que todas as células e fibras nervosas são

afetadas por ele.

Meireles (2000) relata, por sua vez, que o envelhecimento é um processo

dinâmico e progressivo onde há modificações tanto morfológicas14 quanto

13 Segundo Bueno (1998), a motricidade é o mesmo que motilidade, domínio do corpo, agilidade, destreza, locomoção, faculdade de mover-se voluntariamente. É a possibilidade neurofisiológica de realizar movimentos. Ou de acordo com Ferreira (2000), motricidade é a propriedade que certas células nervosas têm de determinar a contração muscular.

Page 29: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

43

funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a perda de adaptação do

indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade.

O processo natural do envelhecimento é cercado de determinantes sociais

que lhe imprimem características decisivas, peculiares a cada sociedade, a cada

momento histórico da mesma sociedade, a cada classe, grupo étnico, por exemplo.

Por outro lado, o desgaste físico e orgânico resultante do envelhecimento biológico

condiciona também os papéis desempenhados pelos indivíduos, qualificando-os ou

desqualificando-os para as suas atividades, interferindo na autonomia e

independência (JORDÃO NETTO,1999).

2.3 QUALIDADE DE VIDA E ENVELHECIMENTO

É necessário enfatizar que nem todos os idosos apresentam, na mesma

proporção, limitações físicas e sensoriais, uma vez que o envelhecimento dependerá

das características individuais e de fatores ambientais que variam no cenário de vida

de cada indivíduo.

Outro aspecto que necessita ser abordado relaciona-se à qualidade de vida e

a capacidade funcional.

Rolim; Forti (2006) pontuam em suas pesquisas que a qualidade de vida na

terceira idade15 pode estar relacionada ao fato dos idosos poderem se sentir melhor,

conseguirem realizar suas funções diárias16 básicas adequadamente e conseguirem

viver de forma independente.

Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS (apud GOMES; DIOGO,

2006), a qualidade de vida é definida como a percepção subjetiva do sujeito sobre a

sua atuação no meio e de acordo com a sua cultura, seus valores e a relação com

os seus objetivos, expectativas e preocupações.

14 Morfologia significa, segundo Rey (1999), o estudo da descrição da forma ou arranjo dos elementos constitutivos dos seres vivos. Portanto, o processo de envelhecimento apresenta alterações específicas nas formas e estruturas do indivíduo que envelhece. 15 A expressão Terceira Idade tem sua origem na divisão tradicionalmente conhecida como as “Idades do Homem”: infância, maturidade e velhice (PALACIOS, 2004). 16 As atividades de vida diária (autocuidado, banhar-se, vestir-se, deslocar-se) são consideradas aspectos fundamentais para analisar a capacidade funcional do indivíduo.

Page 30: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

44

Nesse contexto, Rolim; Forti (2006) relatam que a qualidade de vida pode

estar associada ao grau de satisfação do sujeito com a vida nos seus vários

aspectos que incluem moradia, lazer, transporte, realização profissional,

relacionamentos com outras pessoas, autonomia e segurança financeira.

Acredita-se assim, que a qualidade de vida depende “de uma percepção

subjetiva dos indivíduos, do grupo populacional a que se relaciona e que faz parte

de um processo de produção, circulação e de distribuição de bens” (ROLIM; FORTI,

2006, p. 67).

Para a OMS (2008), o idoso saudável possui independência física,

psicológica, social e espiritual. Portanto, a manutenção da vida saudável é

conseqüência da diminuição na perda da capacidade e então, o bem-estar do idoso

seria um equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade funcional deste

indivíduo.

De acordo com a OMS (apud GOMES; DIOGO, 2006), a capacidade funcional

é um aspecto fundamental para o diagnóstico de saúde física e mental do idoso e a

principal meta no trabalho com esta população está relacionada à manutenção da

independência e da autonomia. Desta forma, conforme Rossato et al (2008), alguns

aspectos são importantes na avaliação da capacidade funcional, como relações

sociais, condições de saúde, grau de escolaridade e participação na renda familiar.

É importante considerar a capacidade funcional como um dos critérios para se

manter uma boa qualidade de vida na velhice e esta relação “qualidade de vida” e

“capacidade funcional” permite monitorar o atendimento à saúde da população

idosa, identificar as causas, a gravidade e o prognóstico de patologias, assim como

avaliar e acompanhar as políticas públicas sociais e de saúde para a população

idosa.

A independência funcional configura-se como a capacidade de realizar algo

com os próprios meios e está relacionada à mobilidade e à capacidade funcional,

onde o idoso não precisa de ajuda para a realização das atividades básicas e

instrumentais de vida diária. Por outro lado, a dependência funcional é conceituada

como a incapacidade de funcionar adequadamente sem ajuda por limitações físicas

ou cognitivas (GOMES; DIOGO, 2006).

Considera-se, neste contexto, a alteração da motricidade como a principal

causa da dependência funcional e pode ser justificada por vários fatores, como

Page 31: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

45

doenças incapacitantes, desmotivação, falta de adaptação ambiental para melhor

segurança e inadequação de práticas terapêuticas.

Assim, a qualidade de vida na terceira idade tem sido associada a questões

de independência funcional e autonomia, pois conforme Néri (1993), a possibilidade

de manter-se ativo e independente, possibilita um bom grau de satisfação em

relação à vida e, consequentemente, permite uma melhora na qualidade de vida.

Para Gomes; Diogo (2006, p. 118) a autonomia, é por sua vez, definida como:

a capacidade de decisão e comando sobre as suas ações, de estabelecer e seguir suas próprias regras, assim como inclui liberdade individual, privacidade, livre escolha, autogoverno, independência moral e liberdade para satisfazer suas necessidades e sentimentos.

De acordo com Rolim; Forti (2006), autonomia e independência são conceitos

que estão diretamente relacionados às competências de vida diária 17 e existem três

aspectos destas competências: atividades básicas de vida diária (AVDs), atividades

instrumentais de vida diária (AIVDs) e atividades avançadas de vida diária (AAVDs).

As AVDs são aquelas relacionadas ao autocuidado, como banhar-se, vestir-

se, fazer a higiene pessoal, conseguir se deslocar no espaço e alimentar-se. As

AIVDs envolvem tarefas mais complexas e o idoso, neste caso, executará as AVDs

utilizando os recursos disponíveis no meio ambiente, como por exemplo, a

capacidade de fazer compras, usar os medicamentos de maneira adequada, utilizar

os meios de transporte, preparar a própria alimentação e fazer trabalhos manuais

domésticos. Já as AAVDs envolvem situações como dirigir carro, participar de

serviços voluntários e praticar esportes. Tais atividades dependem de vontade,

motivação e de fatores culturais e educacionais (DIOGO; NERI; CACHIONI, 2006).

A independência para AVDs, AIVDS e AAVDs inclui uma série de

movimentos, como elevar-se e flexionar-se e a própria mobilidade. Neste sentido,

esta é considerada um componente que interfere no quanto o indivíduo pode se

deslocar num determinado ambiente, sendo um dos aspectos fundamentais para a

execução de atividades relacionadas às competências de vida diária e para a

manutenção da independência, principalmente, no espaço urbano de circulação.

17 Entende-se por competências de vida diária, a capacidade ou potencial para realizar adequadamente as atividades consideradas fundamentais à vida independente e estão relacionadas aos fatores socioculturais e a determinantes genéticos-biológicos (ROLIM; FORTI, 2006).

Page 32: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

46

Do ponto de vista psicológico, o envelhecimento apresenta mudanças que

são individuais e as adaptações podem acontecer naturalmente, de maneira

saudável ou patológica. As modificações dependerão das experiências e do contexto

sócio-econômico cultural no quais os idosos estão inseridos e podem estar

acompanhados de depressão, doenças e regressão.

Por conta de ressignificações acerca da velhice, verifica-se que há a

possibilidade também de o processo de envelhecimento estar relacionado à vida

ativa, onde há uma valorização do envelhecer, permitindo ao idoso considerar o seu

potencial de experiência e conhecimentos acumulados.

A partir de tais colocações é importante que sejam identificados os principais

aspectos relacionados à evolução urbana no Brasil e na RMB, para só então,

compreender as dificuldades de acessibilidade e mobilidade urbana dos idosos que

apresentam uma vida ativa e que se deslocam no espaço urbano de circulação.

Page 33: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

47

3 A CIDADE E O ESPAÇO URBANO DE CIRCULAÇÃO

Este capítulo objetiva apresentar a cidade como espaço social e descrever o

processo de evolução urbana do Brasil e, em particular, da cidade de Belém. A

primeira seção deste descreverá aspectos da transformação do espaço urbano de

circulação, com o surgimento das cidades. A segunda seção abordará aspectos da

urbanização da cidade de Belém. A terceira descreverá o Plano Diretor da Cidade

de Belém e sua importância no contexto dos idosos assim como desenvolverá

aspectos da acessibilidade e mobilidade no espaço urbano de circulação.

3.1 O SURGIMENTO DAS CIDADES

Os estudos sobre a cidade podem apresentar um caráter histórico ou mesmo

sociológico. Seguindo tal disposição explicativa, a obra de Coulanges (1995) sobre o

surgimento da cidade antiga mostra-se importante e muitos estudos não apresentam

a organização cronológica, com datas específicas associadas ao surgimento destes

espaços até o processo de urbanização.

O autor descreveu a formação das cidades a partir do núcleo familiar como

sendo, durante muitos anos, a única forma da sociedade existente.

Segundo o autor, a família era muito extensa, demonstrava pouca iniciativa

para a solução prática de atividades que pudessem solucionar as necessidades

materiais e acreditava fielmente no poder dos deuses (crença repassada de geração

para geração). Dessa forma, o fortalecimento da crença nos deuses e o

desenvolvimento da sociedade humana aconteciam paralelamente.

Neste período, não era permitido que diferentes famílias, com diferentes

crenças, estabelecessem qualquer tipo de vínculo, porém, era possível que se

reunissem para celebrar cultos que fossem comuns a elas, sendo denominado de

“fratria” ou “cúria” o grupo formado pelas mesmas.

Na “fratria” ou “cúria” adotavam-se práticas, principalmente, em relação ao

preparo do alimento. As famílias acreditavam que os alimentos preparados no altar,

Page 34: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

48

sob as bênçãos dos deuses e compartilhados entre os membros das famílias,

fortaleciam os vínculos entre elas.

Ainda de acordo com Coulanges (1995), cada “fratria” apresentava suas

regras e era considerada como uma pequena sociedade modelada sobre a família.

Assim, muitas “fratrias” se juntaram e formaram as “tribos”.

As tribos, por sua vez, também tinham uma divindade protetora e o alimento

continuava fazendo parte do momento mais importante das cerimônias religiosas, na

medida em que todos os membros compartilhavam deste ritual. Além desse aspecto,

aparentavam constituir uma sociedade com características independentes e sem

poder social acima das suas crenças.

É importante enfatizar que as crenças religiosas contribuíram para

fundamentar as leis e que, inicialmente, eram demonstradas pela adoração aos

deuses ou atribuição de sentimentos e poderes a objetos inanimados ou elementos

da natureza.

No decorrer da história, o que se verifica é que as famílias, ao demonstrarem

obediência aos deuses, fortaleciam vínculos entre si. Foram criados os santuários e,

por conseguinte, os templos e dessa forma, a sociedade cresceu.

Mesmo compreendendo que as tribos adoravam deuses diferentes, na

medida em que muitas delas se reuniam, respeitando as características de cada

uma, havia um fortalecimento dos laços sociais e assim, as cidades foram surgindo.

O que se encontra na literatura, especificamente, em Coulanges (1995),

evidencia que muitas famílias formaram a fratria, muitas fratrias formaram tribos e

muitas tribos formaram as cidades e, nenhuma delas perdeu as suas características.

A cidade antiga, assim formada, não modificou a constituição das famílias em

termos de organização e adoração aos seus deuses. Portanto, o vínculo social

estabelecido entre as famílias primitivas possibilitou o surgimento das cidades na

medida em que foram estabelecidas regras sociais em torno da religião e das

crenças.

É importante comentar que nem todas as cidades podem ter surgido da

mesma forma, porém, consideram-se aspectos fundamentais para a compreensão

do conceito de cidade.

Ainda para Coulanges (1995, p. 138), os conceitos de cidade e urbe eram

diferentes: “...a cidade era a associação religiosa e política das famílias e das

Page 35: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

49

tribos; a urbe era o lugar de reunião, o domicilio e sobretudo, o santuário dessa

sociedade.”

As sociedades antigas, em particular, as de Roma e Athenas, acreditavam

que a localização das urbes era definida pelos deuses, precisavam ser respeitadas e

aconteciam a partir de cerimônias religiosas.

Todas as cidades apresentavam um histórico particular dependendo das

famílias que formaram as “fratrias” e estas as tribos. A religião, nesse contexto, foi

fundamental para o estabelecimento de vínculos sociais. Com o crescimento das

cidades, pôde-se perceber uma mudança significativa da vida urbana,

principalmente no que diz respeito aos atores que nela atuam, que interagem entre

si e com o meio no qual estão inseridos. Assim, muitas teorias tentaram definir o

conceito de cidade e um simples recorte não permitiria uma análise adequada.

Neste contexto, considerando a leitura de Coulanges (1995), Lefebvre (1991)

define a cidade como a projeção da sociedade sobre um dado território, o que

possibilita refletir sobre uma realidade mais do que geográfica. Portanto, a cidade é

produto de questões culturais, históricas, econômicas e políticas.

Em seus estudos acerca da formação das cidades, Lefebvre (1991),

estabelece uma classificação importante e define as cidades como política,

comercial, industrial e a sociedade urbana.

3.2 A URBANIZAÇÃO EM BELÉM

Segundo Sarges (2002), a formação da cidade de Belém aconteceu em

virtude da ocupação européia e por conta do estabelecimento de uma fortificação

militar (século XVII) com o objetivo de proteger a Região Amazônica das invasões

estrangeiras.

A partir de expedições realizadas em 1615, após a expulsão pelos franceses

do Maranhão, Castelo Branco desembarcou na Baía do Guajará e construiu uma

fortaleza para fixar residência e evitar ataques às novas terras conquistadas,

nomeando-a de Forte do Presépio (recebendo a denominação futura de Forte do

Castelo, Feliz Luzitânia e a seguir, Santa Maria de Belém do Grão Pará). Nesse

momento, é formado um núcleo urbano.

Page 36: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

50

Aos poucos, os colonizadores abriram ruas e avenidas, expandindo a cidade

de Belém, principalmente, a partir de doações de terras a colonos portugueses e

religiosos. Havia, neste momento, um interesse em ocupar determinados espaços

físicos pelos religiosos, já que contribuiriam para impedir a invasão de europeus

(SARGES, 2002).

De acordo com a autora, o processo de povoamento foi considerado lento na

medida em que os índios apresentavam resistência à colonização. Na primeira

metade do século XVII, havia um total de 80 moradores e no ano de 1661, 700

moradores.

É importante enfatizar que a agricultura favoreceu o aumento do número de

habitantes a partir do momento em que possibilitou a entrada de colonos açorianos,

em 1676. A atividade econômica desta época era direcionada para a cana-de-

açúcar, arroz, algodão e cacau.

Assim, para a organização dos novos habitantes e considerando o aumento

da população, foi necessário criar novas ruas e o núcleo urbano começa, então, a se

expandir. Ao final do século XVIII, Belém já contava com mais de 10.620 habitantes

e confirmava a necessidade de reorganizar o seu espaço físico.

Em uma perspectiva nacional, foi a partir do século XVIII, de maneira geral,

que se verificou um maior desenvolvimento da urbanização no Brasil. De acordo

com Santos; Siqueira (2001), apesar de o país apresentar um grande espaço físico,

na época, as relações entre os lugares eram consideradas inconstantes e com uma

economia ainda baseada na agricultura, o processo de organização das cidades

assemelhava-se a um processo de surgimento de muitas delas e não de

urbanização propriamente dito.

Sarges (2002) acrescenta que, no período compreendido entre 1835 e 1837,

aconteceram movimentos das camadas populares em relação aos interesses da

camada portuguesa dita dominante. Tal fato também interferiu na movimentação do

núcleo urbano e no enfraquecimento da economia a partir do momento em que os

movimentos diminuiram o número de habitantes.

Entre 1840 e 1920, a economia da região passou a ser direcionada para a

extração da borracha. Assim, novos moradores para a região em busca de melhorar

as condições de vida e aproveitar a nova fonte de renda, forçando a cidade a

crescer e a modificar o seu espaço urbano, com a criação de novos bairros (muitos

deles afastados do núcleo comercial).

Page 37: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

51

Sarges (2002, p. 53) cita que Belém, ao passar pelas modificações citadas:

“...passou a expressar através da construção de obras, urbanização, formação de

elites, na construção de um modelo ideal de sociedade moderna, a materialização

da modernidade”.

Neste contexto, com a economia da borracha, houve a necessidade de se

organizar melhor o espaço urbano, acompanhado de modificações sociais e

políticas, principalmente, para facilitar a produção e o deslocamento do produto para

outros países.

As modificações sociais estavam relacionadas à ascensão da classe

dominante (fazendeiros e seringalistas) e às demandas ligadas à segurança e

conforto. As modificações políticas relacionavam-se à necessidade de ordenar o

espaço público a fim de torná-lo atrativo aos novos investimentos.

Surgem, também, com o aumento da população, os problemas sociais e a fim

de enfrentar as crises, a classe dominante impôs ao Estado a função de direcionar

as atividades econômicas, de replanejar a cidade de Belém e a de elaborar

substratos para melhorar a qualidade de vida dos seus moradores.

Seguindo estas necessidades, Antônio Lemos, no período compreendido

entre 1897 e 1910, buscou reurbanizar Belém de acordo com a economia capitalista

da região e, em 1850, possibilitou que a cidade assumisse a função de porto

escoador da borracha.

Neste processo de reurbanização da cidade, foram necessárias que algumas

medidas fossem adotadas, como as mudanças de posturas dos habitantes no que

diz respeito à higiene e saúde pública, com a finalidade de evitar a disseminação de

doenças, sendo criado neste momento, o Departamento Sanitário Municipal.

Modificações foram percebidas nos comportamentos dos moradores e Belém

também apresentou uma nova estética. A classe dominante passou a se destacar

muito mais e a tomar conta do espaço urbano, promovendo o afastamento da

camada popular dos centros urbanos.

Novamente, em uma perspectiva mais ampla, em 1900, somente quatro

cidades apresentavam mais de cem mil habitantes, a citar, Rio de Janeiro, São

Paulo, Salvador, Recife e Belém. Porém, foi no fim do século XIX que houve o

primeiro grande crescimento urbano, pois em 1872, a população urbana brasileira

Page 38: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

52

representava cerca de 900 mil pessoas, enquanto que em 1900, este número

cresceu para 1,2 milhões de pessoas 18 (SANTOS, M., 2002).

Considerando valores absolutos, somente entre 1920 e 1940, a população

concentrada nas cidades passou de 4,55 milhões de pessoas em 1920 para

6.208.699 em 1940, apresentando paralelamente, um crescimento da população em

serviços muito maior que o da população economicamente ativa. Neste período, a

urbanização brasileira apresentou um crescimento importante, reforçado pelo

aumento dos investimentos locais em companhias de energia, de telefone, meios de

transporte, bancos e instituições de ensino.

A organização urbana passou a ter novos significados, tanto do ponto de vista

funcional quanto do ponto de vista estrutural, uma vez que, ao longo da história, o

capital promoveu o surgimento de novas atividades de comércio e serviços, acelerou

a urbanização em algumas cidades e modificou, assim, as relações sociais

(CORRÊA, 2005).

Ao longo da evolução urbana, alguns estudiosos na área, como Vasconcellos

(1996) e Santos, M. (2005), afirmaram que a configuração espacial do espaço

urbano influenciou o desenvolvimento socioeconômico das grandes cidades e das

metrópoles, onde a quantidade de espaço físico disponível faz da acessibilidade

elemento fundamental de sua estruturação.

Nesse contexto, Vasconcellos (1996) cita que o espaço urbano, sob o aspecto

físico, apresenta um movimento de bens e pessoas entre diferentes locais,

sugerindo que o processo de estruturação espacial das grandes cidades esteja

relacionado ao processo de estruturação social, confirmando uma relação positiva

entre espaço e sociedade.

Após a Segunda Guerra Mundial, modificações aconteceram nos sistemas de

engenharia e no sistema social, com reorganização do espaço físico do país, com a

implantação de estradas de ferro, portos e a criação de meios de comunicação.

Porém, a troca de informações entre mercado e a sociedade ainda foi considerada

reduzida porque somente participava do processo de organização espacial uma

parcela da população envolvida no processo econômico.

18 Segundo Santos, Siqueira (2001), foi difícil confirmar a participação da população urbana para períodos anteriores a 1940, uma vez que os censos não enfatizavam essa característica. Somente a partir de 1940 foram separadas a população das cidades e vilas (urbanos e suburbanos) da população dita rural.

Page 39: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

53

No período compreendido entre 1930 – 1950 se desenvolve o processo de

industrialização, favorecendo uma modificação política e organizacional do país,

assim como um novo arranjo econômico, importante para o processo de

urbanização.

A industrialização, neste momento, contribui para modificações sociais

também, uma vez que:

inclui a formação de um mercado nacional, quanto aos esforços do equipamento do território para torná-lo integrado, como a expansão do consumo em formas diversas, o que impulsiona a vida de relações e ativa o próprio processo de urbanização (SANTOS, SIQUEIRA, 2001, p. 30).

Nesse contexto, esta reorganização econômica sai do âmbito local e passa a

ser nacional, possibilitando uma urbanização e um crescimento demográfico cada

vez maior, principalmente nas grandes capitais.

Para Santos; Siqueira (2001), as metrópoles apresentam algumas

características, como: formação com mais de um município e são regiões de

planejamento, a partir das quais são considerados aspectos setoriais, ou seja, o

planejamento não atende problemas gerais da área, mas interesses locais e de

caráter coletivo. O espaço físico da metrópole é organizado e reorganizado a partir

de pólos dinâmicos e, considerando os diferentes agentes, as transformações

acontecem não só nos aspectos econômicos, mas também nos sociais.

Para o autor, nas metrópoles há interdependência do que se chama

categorias espaciais, como tamanho urbano, modelo rodoviário, carência de infra-

estrutura, especulação imobiliária e fundiária, problemas de transporte, periferização

da população, que acabam ocasionando um modelo de centro-periferia. E, dentro

desta realidade, o crescimento urbano é conseqüência dessas características.

Assim, todas as cidades, independente do tamanho, número de habitantes e

atividades desenvolvidas, apresentam aspectos de diferenciação, como problemas

de emprego, da habitação, transportes, saneamento, educação e saúde.

De acordo com Rodrigues (1996), as principais conseqüências da

urbanização são: a poluição do ambiente e a concentração de milhões de pessoas

nos grandes centros urbanos, privando estes indivíduos da satisfação de algumas

necessidades ditas fundamentais à saúde pública, como moradia, alimentação,

Page 40: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

54

abastecimento de água, adequadas condições de acessibilidade e mobilidade

urbanas.

Voltando a falar da cidade de Belém, esta passou por um processo de

reordenamento espacial e hoje, localizada na foz do Rio Amazonas, lidera a área

urbana atual denominada de Região Metropolitana de Belém – RMB. Esta foi criada

por Lei Complementar Federal em 1973, alterada em 1995, conta com mais de

2.043.543 de habitantes e compreende os municípios de Ananindeua, Belém,

Benevides, Marituba e Santa Bárbara do Pará. (IBGE, 2006).

De acordo com as últimas pesquisas, a taxa de urbanização dos cinco

municípios da RMB é diferenciada, apresentando 99,8% em Belém e 99,4% em

Ananindeua. Como município pólo da RMB, Belém apresenta uma densidade

demográfica alta quando comparada aos demais municípios. Em 2000, Belém

apresentava 2.056,3 hab/km² e a diferenciação das densidades por espaço

delimitado demonstra que há uma maior densidade nos bairros centrais da cidade

(COORDENADORIA GERAL DE GESTÃO DE PESSOAS -COGEP, 1992).

Neste contexto, a urbanização em Belém, tem sido acompanhada por

aumento da expectativa de vida e outros indicadores de bem-estar, mas também

trouxe problemas, como os modos de se deslocar, autonomia de deslocamento, ou

mesmo a melhora da qualidade de vida.

Já que as questões relacionadas às condições de mobilidade são

consideradas problemas das grandes cidades, é necessário contextualizar a

concentração geográfica das atividades e suas conseqüências sociais, econômicas

e administrativas para então compreender melhor os indicadores e as condições de

mobilidade da população urbana.

3.3 O PLANO DIRETOR DA CIDADE DE BELÉM E OS ASPECTOS DE

MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE URBANAS PARA OS IDOSOS

A partir de registros do IBGE (2007), nas cidades brasileiras vivem,

aproximadamente, 82% dos habitantes do Brasil, porém, uma parte restrita da

população tem acesso à moradia, lazer, trabalho e transporte adequados. Belém,

como grande cidade, também está inserida nesta realidade e torna-se, então,

Page 41: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

55

fundamental, repensar a cidade enquanto espaço de vida, de desenvolvimento

humano e de história.

O problema urbano é complexo e segundo Dias (2002), o caos urbano é

conseqüência da transformação infra-estrutural da sociedade brasileira, da

sociedade global e que provoca, assim, migrações e modifica a dinâmica de vida,

impondo mudanças de valores nos aspectos considerados necessários, como

vestuário, moradia, lazer e saúde.

Segundo a autora, a cidade apresenta espaços urbanos diferentes nos quais

se verificam áreas cobertas por serviços e infra-estruturas básicos, permitindo aos

moradores o acesso à moradia com qualidade de vida, ao mesmo tempo em que há

a favelização, a falta de saneamento, energia, educação e segurança. Assim, a

segregação social e espacial é considerada resultado da apropriação desigual dos

espaços urbanos e a cidade é considerada um lugar onde acontecem as grandes

atividades econômicas e as disputas políticas.

Torna-se necessário, portanto, compreender que todo o sistema urbano e os

serviços nele contidos, carecem de estrutura que reúna eficiência, bem-estar social,

equilíbrio do meio ambiente e qualidade de vida aos seus moradores. Tal situação

exige um novo olhar, mais justo, igualitário e dinâmico, com possibilidades de

soluções aos problemas urbanos que promovam um melhor ambiente e condições

de vida adequada aos cidadãos.

A partir do que foi apresentado, para que haja uma convivência tranqüila entre

os moradores de um mesmo espaço público, são definidas regras pelos próprios

indivíduos e, entre as regras propostas, é importante citar o Plano Diretor.

A partir de discussões com diferentes segmentos da sociedade e com base

nas contribuições obtidas nas Audiências Públicas Temáticas e Territoriais

aprovadas na Câmara Municipal de Belém, em julho de 2008, foi aprovada a Lei

8.655, que dispõe sobre o Plano Diretor da Cidade de Belém.

De acordo com o Estatuto da Cidade, o Plano Diretor deve ser direcionado

pela Prefeitura Municipal em parceria com os representantes da sociedade e depois

aprovado pela Câmara dos Vereadores. O Município organiza a formação de um

núcleo gestor responsável por construir e monitorar o Plano Diretor, definindo regras

e prazos para cada etapa de construção. Compõem este núcleo: técnicos do poder

público e membros da sociedade organizada. O Plano Diretor reflete as expectativas

da população de acordo com as necessidades locais em busca da melhora da

Page 42: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

56

qualidade de vida. E o plano de Belém encontra-se em processo de atualização e

todos os moradores são convidados a participar de maneira democrática deste

processo.

O Plano Diretor representa a lei municipal que organiza o crescimento e o

funcionamento da cidade, para garantir aos cidadãos do município um lugar

adequado para morar, trabalhar e viver com dignidade. Dessa forma, o plano é um

instrumento da política urbana importante para a sociedade a partir do momento em

que interfere no desenvolvimento local e considera os fatores políticos, econômicos,

culturais, ambientais, sociais e territoriais que caracterizam a situação do município.

Considerando o processo de urbanização da cidade de Belém, torna-se

fundamental entender o funcionamento do Plano Diretor para que seja possível a

compreensão dos aspectos que influenciam de maneira significativa a qualidade de

vida dos idosos, já que compõem parcela importante da população e que

necessitam de um olhar diferenciado para as questões relacionadas à mobilidade e

acessibilidade urbanas.

Ressalta-se o conceito de acessibilidade como a medida mais direta de se

atingir os destinos desejados, enquanto que a mobilidade é um atributo associado às

pessoas e aos bens, corresponde às diferentes respostas dadas por indivíduos às

suas necessidades de deslocamento, considerando-se o espaço físico e a

complexidade das atividades nele desenvolvidas (BOARETO, 2006).

O Plano Diretor aborda alguns aspectos da Política de Mobilidade e

Acessibilidade Urbanas. Apresenta como algumas de suas diretrizes:

1) promover o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, com a

adoção de tarifas e equipamentos adequados no Serviço de Transporte Público de

Passageiros, contemplando os portadores de necessidades especiais ou com

mobilidade reduzida;

2) promover a integração das políticas de mobilidade urbana, uso e

controle do solo urbano;

3) priorizar a circulação de pedestres, das pessoas portadoras de

necessidades especiais ou com mobilidade reduzida e dos veículos não motorizados

sobre o transporte motorizado e dos veículos coletivos em relação aos particulares;

Page 43: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

57

4) favorecer os deslocamentos não motorizados, através da ampliação da

rede cicloviária, melhoria da qualidade das calçadas, paisagismo, iluminação e

sinalização;

5) estruturar o sistema de transporte público de passageiros,

possibilitando a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais ou com

mobilidade reduzida, garantindo condições adequadas de conforto, segurança e

confiabilidade.

No que diz respeito à população idosa, o Plano Diretor apresenta alguns

aspectos importantes sobre a mobilidade e acessibilidade urbanas, principalmente

nas seções II e III, Capítulo III.

A Política Municipal de Mobilidade Urbana (seção II, artigo 41) apresenta

como objetivo contribuir para o acesso amplo e democrático à cidade, por meio do

planejamento e gestão do Sistema de Mobilidade Urbana e como uma das diretrizes

desta política (seção II, artigo 42), há a priorização da circulação de pedestres, das

pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dos veículos não

motorizados sobre o transporte motorizado (PLANO DIRETOR, 2008).

Quanto à acessibilidade, o Poder Público Municipal deverá garantir a

acessibilidade a toda a população, com segurança e autonomia, total ou assistida,

dos espaços, mobiliários, edificações e equipamentos urbanos públicos, dos

serviços de transporte públicos e dos dispositivos, sistemas e meios de

comunicação e informação (Artigo 50, Seção III, PLANO DIRETOR, 2008).

De acordo com o parágrafo 1º, seção III do Plano Diretor, a garantia dos

princípios da autonomia e da segurança, deverá respeitar as diferenças urbanas de

uso do tempo e espaço da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade

reduzida.

Verifica-se que a população, principalmente a idosa, não tem conhecimentos

sobre o que dispõe a Lei 8655, o que possibilita a vulnerabilidade deste segmento

social em relação às decisões e articulações sobre os aspectos relacionados à

mobilidade e acessibilidade urbanas.

Acredita-se que a falta de conscientização a respeito dos processos de

natureza espacial, fundamentais na formação e crescimento das cidades, faz com

que a localização dos espaços públicos de circulação, recreação e uso institucional

Page 44: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

58

atenda estratégias comerciais e critérios dos empreendedores privados, do que ao

interesse público de qualificação do espaço urbano (VASCONCELLOS, 1996).

Verifica-se que as transformações no espaço urbano de circulação estão

diretamente relacionadas à necessidade de uma adequada infra-estrutura que

atenda à demanda de uma população específica, como a dos idosos ou indivíduos

portadores de necessidades especiais ou deficiência19, uma vez que o crescente

desenvolvimento urbano das cidades apresenta como conseqüência a fragmentação

e uso inadequado do solo, disponibilizando um espaço físico de circulação cada vez

mais limitado.

Neste contexto, a expansão e as grandes transformações das cidades

influenciaram de maneira significativa a qualidade de vida da população,

principalmente no que diz respeito aos aspectos de mobilidade e acessibilidade

urbanas.

No Brasil, os últimos dados da PNAD (IBGE, 2006) mostram que 14,5% da

população apresentam algum tipo de deficiência, o que representa 26 milhões de

pessoas. A deficiência, temporária ou não, gera redução de mobilidade e impede

que estes indivíduos acessem e se desloquem com autonomia e independência no

espaço urbano de circulação e consequentemente, comprometem a sua participação

na sociedade. Acrescenta-se a esta situação, os obstáculos físicos observados no

meio urbano que não facilitam e não promovem os deslocamentos adequados desse

grupo social.

A organização das grandes cidades, em sua maioria, se deu em função das

necessidades de uma parcela da população e foram adaptadas à circulação de bens

e serviços fundamentais. Porém, tal organização acabou por prejudicar a dinâmica

de vida de alguns indivíduos, como por exemplo, a circulação urbana de cidadãos

com dificuldade de locomoção, de baixa renda e idosos20.

Para a estruturação dos espaços físicos, é necessário promover a inclusão e

a utilização deste espaço por qualquer indivíduo, com autonomia e segurança. Para

19 Uma pessoa portadora de deficiência é qualquer indivíduo incapaz de assegurar por si mesmo, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, temporária ou permanente, em suas capacidades físicas, sensoriais e mentais. Pessoas com restrição de mobilidade possuem necessidades para se deslocar pela cidade, em função da idade e estado de saúde (FERREIRA, SANCHES, 2003). 20 O próximo capítulo abordará as principais políticas públicas relacionadas ao idoso.

Page 45: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

59

que isso aconteça, o Desenho Universal21 deve ser considerado e parte da

concepção de espaços que visam atender simultaneamente todas as pessoas, com

diferentes características, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se

nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade (BRASIL, 2006).

Portanto, qualquer espaço precisa ser construído de acordo com o conceito de

desenho universal, a fim de alcançar uma adequada acessibilidade ao meio urbano

e possibilitar uma sociedade inclusiva.

Alguns princípios básicos do desenho universal precisam ser observados,

como: a) o uso equiparável (útil e comercializável às pessoas com habilidades

diferenciadas), b) flexibilidade no uso (atende a uma ampla gama de indivíduos,

preferências e habilidades), c) uso simples e intuitivo (uso de fácil compreensão,

independentemente de experiências, nível de formação, conhecimento do idioma ou

da capacidade de concentração do usuário), d) informação perceptível (comunica

eficazmente ao usuário as informações necessárias, independentemente de sua

capacidade sensorial ou de condições ambientais), e) tolerância ao erro (minimiza o

risco e as conseqüências adversas de ações involuntárias ou imprevistas), f) baixo

esforço físico (pode ser utilizado com um mínimo de esforço, de forma eficiente e

confortável), g) tamanho e espaço para aproximação e uso (oferecem espaços e

dimensões apropriados para interação, alcance, manipulação e uso,

independentemente de tamanho, postura ou mobilidade do usuário) (BOARETO,

2006).

Além dos aspectos considerados fundamentais quanto ao desenho universal,

é importante abordar a importância dos direitos humanos no espaço urbano de

circulação.

Segundo Dias (2002), os direitos humanos expressam os anseios, carências

e necessidades humanas. Além disso, acrescenta-se a obrigatoriedade de seu

respeito e proteção por órgãos estatais e sociedade a partir de políticas públicas em

áreas ditas urbanas. Neste contexto, os princípios constitucionais para o

desenvolvimento dos espaços urbanos são fundamentais.

21 O conceito de desenho universal foi criado em 1963 nos EUA e chamado inicialmente de “desenho livre de barreiras”, por enfatizar a eliminação de barreiras arquitetônicas nos projetos de equipamentos, edifícios e áreas urbanas. Esta definição mudou para desenho universal e passou a considerar, principalmente, as diferentes características das pessoas e apresenta como objetivo garantir a acessibilidade a todos os indivíduos (ORNSTEIN, 2006).

Page 46: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

60

O direito às funções sociais da cidade implica em dizer que todos têm direito à

cidade, direito à vida com qualidade, em condições dignas. Significa tratar os

problemas sociais a partir de políticas em transformação, possibilitando uma

sociedade mais justa e que é objetivo de todo Município. Considera-se, portanto, a

necessidade de se oferecer espaços urbanos aos cidadãos e que estes possam, por

sua vez, ter acesso à moradia, saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao

transporte, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer.

Outro princípio importante é o da igualdade, cujo objetivo é evitar injustiças e

favorecimentos ilegítimos. Ou seja, é o principio que exige concretização por meio

de políticas públicas que evidencie esforços para que, gradualmente, diminua as

desigualdades sociais, possibilitando oportunidades iguais e boas condições de vida

a todos. Conforme cita Dias (2002, p. 176): “O principio da igualdade deve ser

baseado na proporcionalidade da desigualdade entre os seres humanos, a fim de

que todos possam ter iguais condições ante as possibilidades do cotidiano.”

Um terceiro principio constitucional é o da dignidade da pessoa humana. Este

principio supõe a necessária busca de comportamentos e hábitos morais que levem

em consideração o respeito ao próximo, à sua condição humana e aos seus direitos.

Ainda de acordo com a autora, garantir a dignidade da pessoa humana

significa prover meios e condições materiais necessários aos que, em função de sua

condição social e econômica, se encontram em situação de inferioridade e que os

impede de alcançar o desenvolvimento físico, cultural e espiritual. Portanto, ao tratar

das questões de proteção da minoria, como o caso dos idosos, o principio da

dignidade da pessoa humana torna possível um novo olhar para os seus problemas,

possibilitando, assim, o exercício da cidadania.

Considerando tais princípios, as cidades não foram projetadas, inicialmente,

para atender as demandas das pessoas portadoras de necessidades especiais ou

com mobilidade reduzida e, nesse contexto, as diversas barreiras urbanísticas e

arquitetônicas impedem o deslocamento adequado no espaço urbano de circulação.

O problema da acessibilidade não é só da população idosa ou dos que

apresentam mobilidade reduzida, há um contingente cada vez maior de pessoas

com interesses que se multiplicam e se modificam de acordo com as necessidades

de deslocamento, como por exemplo, os trabalhadores noturnos (GOMIDE, 2006).

Tal afirmação demonstra que qualquer redução de acessibilidade significa

exclusão social e, portanto, dificulta a possibilidade de acesso à saúde, educação,

Page 47: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

61

lazer e às interações sociais. Neste caso, os idosos merecem uma atenção especial,

uma vez que representam um grupo em constante crescimento e as iniciativas que

garantam o seu direito de ir e vir, são consideradas importantes para a manutenção

da qualidade de vida.

É importante enfatizar que este segmento da população não está associado

somente às grandes limitações físicas, pois busca novas possibilidades de lazer, de

atualização e integração social, principalmente, nos núcleos da Terceira Idade, o

que exige uma constante movimentação e deslocamento no meio urbano. Porém,

apesar das características de independência e autonomia22, os riscos nos

deslocamentos ainda são considerados maiores para este grupo.

Independente do modo de deslocamento, seja a pé, utilizando o transporte

coletivo ou carros particulares, os problemas são constantes. A queda 23 é

considerada um problema crescente na população que envelhece e

aproximadamente 30% dos idosos com idade acima de 65 anos, caem a cada ano,

aumentando o risco com a idade. Muitos são os fatores que contribuem para esta

situação e os extrínsecos (meio ambiente) são os mais significativos. Entre os idosos

com 75 anos, 10% têm dificuldade de atravessar uma sala, 25% são incapazes de

caminhar 10 quarteirões e 30% são incapazes de subir escadas (SANTIAGO et al,

2004).

Assim, o idoso pedestre é considerado mais frágil em relação aos outros

sujeitos que não apresentam mobilidade reduzida, pois apresenta também

diminuição na concentração, lentidão nos reflexos pela redução das capacidades

visual e auditiva e perda de memória. É preciso considerar que o deslocamento a pé

possibilita a inclusão social, estimula os sentidos e exercita a cidadania e, na

realidade do idoso que caminha, muitas dessas necessidades não estão sendo

vivenciadas na sua totalidade em virtude dos grandes obstáculos no meio urbano

(MANTOVANI, 2006).

Neste contexto, a calçada ainda é considerada o espaço por onde os idosos

mais circulam e é também o espaço que mais apresenta riscos, como barreiras, 22 É importante lembrar que independência é a capacidade de usufruir os ambientes, sem precisar de ajuda, enquanto que autonomia é a capacidade do indivíduo de desfrutar os espaços e elementos espontaneamente (PRADO; MORAES, 2006). 23 A queda é um evento não intencional que tem como resultado a mudança de posição do indivíduo para um nível mais baixo em relação à sua posição inicial. As causas e fatores de risco são múltiplos e cerca de 10% das quedas resultam em lesões não fatais, como fraturas de quadril. Os acidentes relacionados a quedas são considerados a sexta maior causa de morte entre os idosos (SANTIAGO et al, 2004).

Page 48: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

62

degraus e lixo. Tal situação contribui para dificultar a circulação adequada dos

sujeitos com deficiência ou mobilidade reduzida.

Os idosos também enfrentam outros problemas para se deslocar e as suas

necessidades, nesse aspecto, são grandes e a atual situação demonstra que,

apesar de existirem leis e princípios constitucionais que objetivem a garantia dos

direitos sociais do idoso, em especial, o acesso aos serviços, a prática está distante

do que se propõe.

Segundo Mantovani (2006), as barreiras urbanísticas são dificuldades

encontradas pelos sujeitos nos espaços e mobiliário urbano24, a citar: desníveis nas

calçadas, desníveis nos locais de travessia, calçadas estreitas, com obstáculos e

com mau estado de conservação. Assim, ambientes com obstáculos oferecem

poucas oportunidades para o desenvolvimento de potencialidades e impedem que o

sujeito assuma um papel social ativo, com autonomia e independência.

Torna-se fundamental enfatizar que o transporte público também não está

adaptado para atender as necessidades da população com mobilidade reduzida, em

especial, os idosos que acabam segregados e desprovidos do direito de ir e vir. Os

investimentos nessa área ainda são considerados insuficientes para atender as

demandas específicas e a população convive com as condições desfavoráveis do

transporte público urbano, como degraus altos, ônibus com número excessivo de

passageiros, além de motoristas não capacitados para lidar com as dificuldades

desse segmento social (PASSAFARO, 2006).

O crescente aumento do número de idosos e da expectativa de vida está

transformando os padrões de acessibilidade quanto aos níveis de conforto, até então

considerados normais, que passaram a ser revistos a fim de promover o acesso de

bens e serviços a um número cada vez maior da população com mobilidade

reduzida ou com algum tipo de deficiência.

Portanto, a garantia de acessibilidade no meio urbano é um desafio para

diferentes profissionais, pois o assunto requer uma abordagem mais ampla e

holística, que envolve a participação de arquitetos, urbanistas, psicólogos,

sociólogos e antropólogos. As contribuições das diversas áreas do conhecimento

24 Entende-se por mobiliário urbano todo elemento ou conjunto de elementos que pode ser instalado na via pública e que valoriza o espaço físico, atendendo aos critérios de estética e funcionalidade e nos seus aspectos cultural, social e ambiental. Bancos, suportes informativos, coberturas de ponto de ônibus e vitrines são alguns dos exemplos de mobiliário urbano (ZMITROWICS; ANGELIS NETO, 1997).

Page 49: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

63

caminham no sentido de tornar a acessibilidade um instrumento indispensável para

tornar a sociedade inclusiva.

Nesse sentido, o próximo capítulo abordará questões fundamentais sobre as

principais políticas públicas direcionadas à população idosa e as suas contribuições

às demandas desse segmento social.

Page 50: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

64

4 A LEGISLAÇÃO E A TERCEIRA IDADE: CONTRIBUIÇÕES PARA A

PROMOÇÃO DO BEM ESTAR DA POPULAÇÃO IDOSA

Este capítulo objetiva apresentar e compreender a articulação e

implementação de leis que atendam às demandas da população idosa. Descreverá

em um primeiro momento o Estatuto do Idoso, a Política Nacional do Idoso e suas

contribuições para a promoção do bem estar deste segmento da sociedade. No

segundo momento, trará à discussão questões relacionadas aos avanços na área de

acessibilidade e mobilidade urbanas, principalmente no que diz respeito às leis que

garantem o direito de ir e vir dos idosos no espaço urbano de circulação. No terceiro

e último momento, abordará o aspecto social presente no espaço urbano de

circulação como fundamental para o seu uso significativo a partir do momento em

que é considerado para muitos idosos uma forma de convívio.

4.1 A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO, O ESTATUTO DO IDOSO E A POLÍTICA

ESTADUAL DE AMPARO AO IDOSO

A fim de compreender melhor as políticas públicas direcionadas aos idosos, é

necessário, inicialmente, abordar a importância da Carta Magna, que surgiu em

virtude dos movimentos da sociedade civil e possibilitou avanços no que diz respeito

ao olhar direcionado às classes sociais consideradas minorias25.

A Constituição Federal (CF) de 1988 é a Carta Magna do Brasil e é a norma

fundamental que rege toda a sociedade. Apresenta em sua estrutura os direitos

fundamentais (individuais, sociais e de solidariedade) e, neste contexto, a dignidade

da pessoa humana e a cidadania são considerados dois dos mais importantes.

Assim, a Carta Magna contribuiu de maneira significativa para as mudanças,

não só em termos de políticas públicas, mas para as mudanças de comportamento

em relação às classes sociais menos favorecidas e, nesse caso, o idoso foi, durante

25 O termo minoria já foi bastante utilizado para identificar um grupo racial, cultural ou de nacionalidade, em busca de melhor status compartilhado em um mesmo habitat por outro grupo racial, cultural ou de nacionalidade dominante que não o aceita (REY, 1999).

Page 51: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

65

muito tempo, considerado minoria na sociedade, além de não ser reconhecido como

ator social importante na reconstrução da história social, cultural e política do país.

A partir da modificação das políticas públicas no que se refere à população

idosa e a sua realidade, torna-se fundamental abordar as principais leis e seus

objetivos. Neste contexto, a Lei nº. 8.842 de 1994, dispõe sobre a Política Nacional

do Idoso (PNI), criou o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. A PNI

foi promulgada em janeiro de 1994 pelo Presidente Itamar Franco e regulamentada

pelo decreto nº. 1948, em 3 de julho de 1996, pelo Presidente Fernando Henrique

Cardoso.

A PNI tem como objetivo assegurar os direitos sociais dos idosos e

estabelecer condições para a promoção de sua autonomia, integração e participação

efetiva na sociedade. Em 1996 passou a ser implementada nos estados e como

instrumentos de controle, conta com os Fóruns Estaduais e Regionais Permanentes

de atenção ao idoso. Estes são direcionados aos gestores municipais e aos idosos.

Com o primeiro grupo, o objetivo é refletir sobre as políticas públicas dos municípios

voltadas para a população idosa e com os idosos, em particular, a finalidade é

refletir e discutir os direitos sociais assegurados por meio da PNI e do Estatuto do

Idoso.

As questões apresentadas nos debates dos Fóruns Estaduais buscam

identificar os programas ou ações desenvolvidas em cada município, assim como

identificar os serviços que compõem a rede de atenção ao idoso, os aspectos

preconizados pelo Estatuto que ainda não estão sendo atendidos e as alternativas

que os grupos propõem para efetivar a atenção integral proposta pela PNI e pelo

Estatuto do Idoso.

Já os Fóruns Regionais de atenção ao idoso propõem em seus encontros a

troca de experiências acerca do envelhecimento e suas demandas, implementar os

Fóruns Estaduais, estimular a criação e implementação das Políticas Estaduais e

Municipais (conforme o estabelecimento na PNI e no Estatuto do Idoso), incentivar a

formação e capacitação permanente de recursos humanos visando garantir a

qualidade no atendimento ao idoso e manter a articulação freqüente com o Conselho

Nacional dos Direitos do Idoso e o gestor federal. Vale enfatizar que a realização

dos Fóruns Regionais e Estaduais é de responsabilidade dos respectivos gestores e

contam com verbas do Governo Federal e da participação de organizações não

governamentais.

Page 52: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

66

Deve-se esclarecer que a efetivação e a obtenção de resultados positivos

nesses eventos dependem de vários fatores, como: disponibilização de verbas, do

compromisso assumido por cada gestor, da conscientização de cada idoso no

processo de mudanças e, por esse motivo, as respostas são diferenciadas em cada

região. Porém, no dia 8 de abril de 2009, a Comissão dos Direitos Humanos aprovou

o projeto de lei26 que institui o Fundo Nacional do Idoso, com a finalidade de

financiar programas e projetos direcionados à população idosa.

Verifica-se, desta forma, a existência de movimentos constantes de

profissionais e da própria população idosa quanto às necessidades de mudanças

nas políticas públicas de atenção ao idoso.

É fundamental, portanto, neste cenário de grandes transformações,

compreender como a PNI contribui para os debates propostos nos Fóruns

permanentes de atenção à população idosa a partir da instrumentalização dos

gestores, profissionais e dos próprios idosos que participam destes encontros.

A PNI apresenta princípios e diretrizes no capítulo II, divididos em seções. O

Art. 3º da Seção I apresenta como princípios:

I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos

os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo

sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;

II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo

ser objeto de conhecimento e informação para todos;

III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;

IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a

serem efetivadas através desta política;

V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as

contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos

poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta Lei.

26 O projeto de lei foi proposto pelo deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) e também autoriza a dedução do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas no que diz respeito às doações efetuadas aos Fundos Nacional, Estadual e Municipal do Idoso. De acordo com o projeto de lei, o fundo será constituído por recursos do Orçamento da União e por verbas destinadas ao Fundo Nacional de Assistência Social para a aplicação em programas direcionados à população idosa (CDH, 2009).

Page 53: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

67

O Art. 4º do capítulo II apresenta como diretrizes:

I - viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do

idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações;

II - participação do idoso, através de suas organizações representativas, na

formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos

a serem desenvolvidos;

III - priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em

detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições

que garantam sua própria sobrevivência;

IV - descentralização político-administrativa;

V - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e

gerontologia e na prestação de serviços;

VI - implementação de sistema de informações que permita a divulgação da

política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível de

governo;

VII - estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de

informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do

envelhecimento;

VIII - priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados

prestadores de serviços, quando desabrigados e sem família;

IX - apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao

envelhecimento.

Quanto aos princípios e diretrizes apresentados a partir da PNI, verifica-se a

necessidade constante de promover a instrumentalização dos profissionais, gestores

e dos próprios idosos para que os questionamentos ocorram de maneira adequada e

assim, possibilitem as mudanças nas políticas públicas de atenção ao idoso.

Muitos são os objetivos traçados nos Fóruns Regionais e Estaduais de

atenção à pessoa idosa (conforme apresentado anteriormente) e um deles destaca a

necessidade de viabilizar e sistematizar os trabalhos e experiências junto a esse

segmento da população a fim de aumentar em quantidade as produções científicas e

divulgar a qualidade no atendimento ao idoso, uma vez que estudos e pesquisas

sobre as questões relativas ao envelhecimento ainda são consideradas limitadas no

país.

Page 54: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

68

Já no capitulo V, da PNI, no que diz respeito às ações governamentais, o

artigo 10º estabelece que sejam competências dos órgãos e entidades públicos, na

área de habitação e urbanismo: incluir nos programas de assistência ao idoso,

formas de melhoria de condições de habitação e adaptação de moradia,

considerando seu estado físico e sua independência de locomoção; assim como

diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas.

Essas questões urbanas apresentadas estão relacionadas diretamente ao

espaço urbano como produto social construído a partir do trabalho do homem e das

ações sociais, políticas e econômicas, assim como das necessidades das diferentes

relações de produção e dos conflitos de classe que surgem em função delas

(CASTELLS, 2000).

Portanto, a dinâmica de formação dos grandes centros urbanos é complexa e

apresenta como resultado um contínuo processo de reorganização espacial com

mudanças na qualidade de vida do indivíduo. Para o idoso, a qualidade de vida no

espaço urbano estaria relacionada ao ambiente físico limpo e seguro, serviços de

saúde acessíveis, possibilidade de participação social por meio de interações sociais

e a possibilidade de se deslocar de forma independente no espaço urbano de

circulação.

Com o aumento da expectativa de vida e, por conseqüência do

envelhecimento da sociedade, foi necessário reformular as práticas no que diz

respeito às demandas da população idosa. E apesar da existência da PNI, muito

ainda se questiona em termos de políticas públicas que atendam às necessidades

deste segmento social, principalmente no que diz respeito aos aspectos de

mobilidade e acessibilidade urbanas e, em particular, às suas conseqüências, como

por exemplo, a exclusão social.

Assim, a exclusão social no contexto urbano, expressa, segundo Castells

(2000, p. 203) “...a tendência à organização do espaço em zonas de forte

homogeneidade social interna e de forte disparidade social entre elas, entendendo-

se esta disparidade não só em termos de diferença como também hierarquia”.

O idoso, como segmento social em constante crescimento e com limitações

características do processo normal do envelhecimento, já mencionadas no capítulo I,

passa por momentos de exclusão social nas grandes cidades a partir do momento

em que estas não apresentam os aspectos considerados fundamentais à

acessibilidade e mobilidade urbanas, como os inseridos no desenho universal

Page 55: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

69

(detalhados nas seções seguintes).

Considerando tais necessidades, o Estatuto do Idoso foi aprovado em

setembro de 2003 sancionado pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva no mês

seguinte e ampliou os direitos dos cidadãos a partir de 60 anos. É considerado mais

abrangente que a Política Nacional do Idoso de 1994 e aplica penas importantes

para quem desrespeitar o idoso nos seus diferentes aspectos. Estatuto do Idoso,

Lei nº. 10.741/03, se destaca por possibilitar a modificação do olhar da sociedade

em relação ao idoso.

Dentre os tópicos abrangidos estão as medidas de proteção ao idoso em

estado de risco pessoal, a política de atendimento por meio da regulação e do

controle das entidades de atendimento ao idoso, o acesso à justiça com a

determinação de prioridade ao idoso e a atribuição de competência ao Ministério

Público para intervir na defesa do idoso e qualificando, nos crimes em espécie,

novos tipos penais para condutas lesivas aos direitos dos idosos e, principalmente,

ressaltando os direitos fundamentais, como por exemplo, os direitos à vida, a

liberdade, respeito e à dignidade, bem como aos alimentos, saúde, educação,

cultura, esporte, lazer, profissionalização, trabalho, previdência social, assistência

social, habilitação e transporte.

Verifica-se que de acordo com o Estatuto e com a PNI, o idoso deveria ter

participação importante no complexo sistema que compõe a sociedade onde vive e

tem o direito de exigir o seu espaço. Porém, percebe-se que a população idosa

ainda não tem consciência dos seus direitos ou ainda não teve acesso às

informações que possibilitem à manutenção ou melhora na sua qualidade de vida no

espaço urbano de circulação.

Para Minayo (2007), as condições de participação estão em dois níveis: o do

indivíduo e da sociedade. No campo individual, busca a conscientização e, no

coletivo, considera-se o modo que as relações sociais acontecem, envolvendo

questões estruturais e conjunturais.

Portanto, no que se refere ao Estatuto do Idoso, em termos de

empoderamento social, é fundamental compreender o que dispõe o Título II. Trata

Page 56: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

70

dos Direitos Fundamentais27 e o seu 1º Capítulo aborda os aspectos relacionados ao

Direito à Vida. É importante enfatizar os seguintes artigos deste capítulo:

Art. 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um

direito social, nos termos desta Lei e da Legislação vigente.

Art. 9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e a

saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um

envelhecimento saudável e em condições de dignidade.

A partir do que propõe o Estatuto do Idoso e a PNI, verifica-se que o primeiro

é mais abrangente que o segundo, uma vez que, além de abordar questões

referentes à saúde e moradia, dispõe sobre as ações necessárias para a proteção

dos direitos com a possibilidade de mandado de segurança contra atos ilegais que

prejudiquem a integridade física e moral dos idosos.

O Estatuto atribui ao Estado a obrigação de garantir à população idosa: a

proteção à vida e à saúde, a partir da efetivação de políticas públicas que

possibilitem um envelhecimento saudável e em condições de dignidade28.

Segundo Silva (2005), a função principal do estatuto é funcionar como uma

carta de direitos, fortalecendo o controle do Poder Público em relação ao melhor

tratamento das pessoas com idade avançada, respeitando a sua dignidade,

galgando um lugar de respeito, transformando-se numa verdadeira educação

cidadã, buscando alcançar a posição de cidadão efetivo na sociedade aos idosos

com participação ativa.

Em relação às políticas públicas, a Lei nº. 6.582 dispõe sobre a Política

Estadual de Amparo ao Idoso (PEAI), sancionada pela Assembléia Legislativa do

Estado do Pará em 22 de setembro de 2003, na época do então Governador Simão

Jatene. A PEAI também é considerada fundamental para transformar a realidade

deste segmento social.

O Art. 1º do Capítulo I estabelece que o Estado do Pará manterá a Política

Estadual de Amparo ao Idoso, com o objetivo de assegurar-lhe os direitos sociais e

promover sua integração e participação efetiva na sociedade. 27 Segundo Dias (2002), são considerados Direitos Fundamentais os direitos inerentes à condição humana, pois independem de qualquer dever estatal de provê-los. São chamados também de Direitos das Minorias e como exemplos: o direito à vida, à liberdade, à opinião e à liberdade de locomoção. 28 A dignidade é o grau de respeitabilidade que um ser humano merece, o que difere da caridade, solidariedade e assistência que trazem em si um conteúdo pejorativo (SILVA, 2008).

Page 57: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

71

O Art. 4º, Capítulo II dispõe sobre os princípios da PEAI:

I – a defesa do direito à vida e à cidadania;

II – a garantia da dignidade e do bem-estar;

III – a participação na comunidade;

IV – a proteção contra discriminação de qualquer natureza.

O parágrafo 1º do Capítulo II enumera as diretrizes:

I – a viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio

do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações;

II – a participação do idoso, por meio de suas organizações representativas,

na formulação, na implementação e na avaliação da política, dos planos, dos

programas e dos projetos a serem desenvolvidos;

III – a capacitação e a reciclagem dos recursos humanos nas áreas de

prestação de serviço ao idoso;

IV – a implementação de sistema de informações que permita a divulgação da

política, dos serviços oferecidos, dos planos, dos programas e dos projetos em cada

setor do Governo do Estado do Pará;

V – o estabelecimento de mecanismos de divulgação de informações de

caráter educativo sobre os aspectos biopsicossoaisi do envelhecimento;

VI – o apoio a estudos e pesquisas sobre questões relativas ao

envelhecimento;

VII – a descentralização dos programas de assistência, com a priorização do

atendimento ao idoso em seu próprio ambiente.

O Art. 5º estabelece os aspectos que são de competência dos órgãos e

entidades estaduais: promoção e assistência social; área da saúde; na área da

educação; na área de trabalho e recursos humanos; na área da justiça; na área da

cultura, esporte e lazer e na área de habitação e urbanismo (principalmente na

redução de barreiras arquitetônicas e urbanas).

Considerando as leis apresentadas, verifica-se a importância da Declaração

dos Direitos Humanos como desencadeadora das mudanças em termos de políticas

públicas. A Declaração foi proclamada pela resolução nº. 217 da Assembléia Geral

Page 58: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

72

das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 e foi assinada também pelo Brasil

na mesma data.

Assim, a Declaração dos Direitos Humanos apresenta como objetivo maior

conscientizar os indivíduos sobre a importância de se promover o respeito aos

direitos e liberdades. Contextualizando com a realidade da população idosa, citam-

se os seguintes artigos da Declaração:

1) Artigo 1º - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e

direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às

outras com espírito de fraternidade;

2) Artigo 2º - Toda pessoa tem capacidade de gozar os direitos e as

liberdades estabelecidas na declaração, sem distinção de cor, sexo, religião, opinião

pública, raça, língua ou de outra natureza, de origem nacional ou internacional,

riqueza, nascimento ou qualquer outra condição;

3) Artigo 3º - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança

pessoal;

4) Artigo 22 – Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à

segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação

internacional de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos

econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre

desenvolvimento de sua personalidade.

A partir do cenário histórico, político e cultural apresentado acerca das

questões relacionadas ao idoso, verificam-se alguns avanços com o surgimento de

programas, serviços e projetos, porém, alguns foram considerados importantes e

outros sem funcionalidade e não contribuíram para a melhora na qualidade de vida

da população idosa, principalmente porque não consideraram o que está proposto

na Declaração dos Direitos Humanos.

Há que se repensar nas estratégias políticas que atendam à população idosa

a partir de suas reais necessidades e que não sejam utilizadas para beneficiar

gestores ou profissionais em razão própria.

Na realidade, como o espaço urbano foi e ainda é construído por forças

dominantes (do ponto de vista econômico e político), não há interesse em modificar

a estrutura urbana em detrimento de uma minoria em termos intelectuais e de

Page 59: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

73

participação, como é o caso da população idosa, uma vez que o acesso à

informação e a possibilidade de empoderamento deste segmento social promoveria

conflitos de classes.

Tanto a Política Nacional do Idoso quanto o Estatuto do Idoso e a Política

Estadual de Amparo ao Idoso são consideradas estratégias que representam

avanços importantes na área de atenção ao idoso e que auxiliaram na modificação

de comportamentos frente às características singulares deste grupo que, cada vez

mais, mostra a necessidade de conscientização de seus direitos.

4.2 POLÍTICA DE MOBILIDADE URBANA: PRINCIPAIS AVANÇOS

Ao longo da história do envelhecimento, foram significativos os avanços na

área de acessibilidade e mobilidade urbanas, principalmente no que diz respeito às

leis que garantem o direito de ir e vir dos idosos no espaço urbano de circulação.

Considerando as legislações vigentes, a Lei Federal nº. 10.098/2000 e o

Decreto nº. 5.296/2004, estabelecem que os municípios devam fiscalizar a questão

da acessibilidade para qualquer edificação e antes do funcionamento.

Ainda com relação à legislação, a Constituição Federal enuncia que a política

urbana executada pelo poder público municipal, conforme o artigo 182 e sua

regulamentação pela Lei Federal nº. 10.257/2001 – Estatuto da Cidade – deve

ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-

estar de seus habitantes, tendo como instrumento básico o Plano Diretor29. As

principais referências em termos de legislação urbanística municipal são as leis

federais e em especial, o Decreto Federal nº. 5.296/2004 que as regulamentam

(PASSAFARO, 2006).

Neste contexto, os princípios da acessibilidade são direcionados a todos os

sujeitos e deveriam garantir a oportunidade de se viver na cidade com um mínimo de 29 O Plano Diretor dispõe sobre um conjunto de definições para políticas setoriais a partir de diretrizes gerais e específicas para o desenvolvimento urbano e sócio-econômico dos municípios. Muitas das propostas ainda não foram realizadas, prejudicando o atendimento adequado das necessidades da população. A revisão dos planos diretores possibilitará um amplo processo de discussão com a sociedade, contemplando os diversos segmentos sociais, por meio de seminários e audiências públicas, na perspectiva de elaboração coletiva do texto final do Plano Diretor, o qual deverá ser transformado em projeto de lei e ser encaminhado à Câmara Municipal (PASSAFARO, 2006).

Page 60: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

74

qualidade, não só em relação às questões de acessibilidade e mobilidade, mas

também no que diz respeito ao acesso à cidade saudável30.

Dessa forma, ainda de acordo com o autor citado, a função social da cidade

estaria relacionada à equiparação de oportunidade, reforçando a acessibilidade

como atributo da qualidade de vida e pressuposto da sustentabilidade ambiental

urbana.

Prado; Moraes (2006) citam como aspectos fundamentais, a partir das

legislações, sobre a acessibilidade do meio urbano: garantir a acessibilidade nas

vias, praças, parques e demais espaços de uso público; implementar rotas

acessíveis, livres de obstáculos; instalar piso tátil de alerta e direcional e semáforos

adequados aos deficientes visuais; adequar o mobiliário urbano garantindo a

aproximação e uso. Quanto aos transportes públicos citam: garantir terminais de

ônibus acessíveis e capacitação de pessoal para atender os sujeitos com mobilidade

reduzida e criar um serviço de transportes com veículos adaptados que permitam à

pessoa ser transportada sem dificuldades.

Além da legislação urbanística dos municípios, a política urbana, prevê a

utilização de instrumentos para promover o desenvolvimento urbano, como o

Estatuto da Cidade, que representa novas possibilidades para cumprir a função

social da cidade. Tais instrumentos de controle urbano têm como objetivo promover

a sustentabilidade e a inclusão social e incluem em suas propostas a implementação

de novas oportunidades de acessibilidade e mobilidade urbanas.

Os programas que surgiram significaram um avanço para a elaboração de

políticas públicas para os indivíduos com restrições de mobilidade, constituindo-se

em grandes oportunidades de participação dos diferentes segmentos interessados

na acessibilidade e mobilidade urbanas. Porém, considera-se fundamental

reconhecer o papel das três esferas de governo, os contextos dos municípios e

estados assim como as demandas dos indivíduos com deficiência ou mobilidade

reduzida.

Na verdade, refletir sobre mobilidade urbana é pensar sobre como organizar a

ocupação das grandes cidades e a melhor maneira de promover o acesso das

30 Cidade saudável é considerada, neste momento, a partir de um ambiente limpo e seguro, de um ecossistema estável e sustentável, de um alto grau de participação social, de necessidades básicas satisfeitas, de acesso às experiências, recursos, contatos e comunicações, de uma economia local diversificada, de serviços de saúde acessíveis a todos e de um alto nível de saúde (SELVA, 2008).

Page 61: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

75

pessoas e bens ao que a cidade oferece (escolas, parques, hospitais) e não apenas

em termos de transporte e trânsito (BRASIL, 2005).

A fim de garantir uma boa mobilidade no espaço urbano de circulação, é

preciso considerar também como as cidades crescem, como as pessoas se

deslocam e como as atividades estão localizadas no espaço físico. Assim, devem

ser adotadas medidas mais contextualizadas e funcionais ao sistema que se

observa para só então atender as demandas específicas dos diferentes segmentos

sociais e garantir uma boa mobilidade urbana, sustentável e socialmente inclusiva.

A política de mobilidade urbana faz parte da política de desenvolvimento

urbano e está articulada com as políticas ambientais. Estabelece os direitos dos

usuários e orienta a construção das regras para a regulamentação e planejamento

do transporte público. A proposta é orientar os itinerários, definir em quanto tempo

deve passar o transporte, quanto vai custar em termos financeiros, orientar a

construção de um sistema de transporte que gaste menos energia e que não ofereça

tantos riscos ao meio ambiente.

Segundo Boareto (2006), os princípios da política de mobilidade urbana são:

Acessibilidade urbana como direito universal;

Garantia de acesso dos cidadãos ao transporte coletivo urbano;

Eficiência e eficácia na prestação dos serviços de transporte coletivo;

Contribuição ao desenvolvimento sustentável das cidades;

Transparência e participação social no planejamento, controle e avaliação

dos serviços de transportes e da política de mobilidade urbana;

Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes

modos de transporte urbano;

Equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros.

Ainda de acordo com o autor, as principais diretrizes da política de mobilidade

urbana são:

Integração com a política de uso e controle do solo urbano;

Diversidade e complementaridade entre os serviços e modos de

transportes urbanos;

Page 62: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

76

Minimização dos custos ambientais, sociais e econômicos dos

deslocamentos de pessoas e bens;

Inclusão social;

Incentivo à adoção de energias renováveis e não poluente e priorização

aos modos de transporte coletivo e não motorizados.

Acredita-se assim, que para tornar a cidade um local de exercício da

cidadania, é preciso concretizar a participação popular e articulá-la aos

representantes do governo para então alcançarmos as propostas reais da política de

mobilidade urbana.

Neste contexto, algumas entidades e instituições como o BNDES (Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vem desenvolvendo, há muitos

anos, medidas importantes na implantação de projetos de desenvolvimento urbano e

fortaleceu o seu apoio a propostas de reestruturação de transporte público. O

BNDES atua com apoio técnico e financeiro a fim de encontrar estratégias que

atendam de maneira significativa às necessidades da população, em especial, o

segmento da sociedade com restrições de mobilidade, como os idosos (BARBOSA;

SOUZA, 2006).

Dentre as principais iniciativas do BNDES, destaca-se o Programa de Apoio à

Inclusão da Pessoa Portadora de Deficiência, em fevereiro de 2003, criada com a

finalidade de apoiar a captação de investimentos, por beneficiários do setor público

ou privado, para a sensibilização e capacitação de profissionais, com o objetivo de

eliminar as barreiras que dificultem ou impeçam a acessibilidade das pessoas

portadoras de deficiência aos ambientes públicos e privados.

Tal programa foi substituído em dezembro de 2003, pelo Programa de Apoio

a Investimentos Sociais de Empresas – PAIS. O programa envolvia investimentos

em projetos de inclusão de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade

reduzida, como investimentos em obras e adaptações físicas de instalações e

ajudas técnicas. Assim, o banco vem ampliando suas iniciativas objetivando

contribuir para a melhora da qualidade de vida dos sujeitos com dificuldade de

locomoção.

Na realidade do Pará, em 2001, o então prefeito Edmilson Rodrigues,

sancionou a Lei nº. 8.068 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a

promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com

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77

mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e

espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos

meios de transporte e de comunicação, no Município de Belém.

Apesar de a lei existir, verifica-se que os avanços aconteceram para uma

parcela da população com necessidades especiais e mobilidade reduzida, como

para os cegos e cadeirantes, porém, para a população idosa ainda é necessário

repensar as práticas em termos de políticas públicas, uma vez que ainda existem,

por exemplo, barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos que comprometem

o seu deslocamento no espaço urbano de circulação (iluminação deficiente,

calçadas com desníveis e em estado precário de conservação).

Deste modo, para que os projetos e serviços relacionados à acessibilidade,

mobilidade e desenho universal, fundamentais para a qualidade de vida

(independente da idade e do contexto sócio-econômico-cultural), sejam

considerados de maneira funcional, é preciso que haja uma gestão que assuma o

compromisso com a produção de espaços físicos acessíveis e adaptação dos

espaços que já existem (ORNSTEIN, 2006).

4.3 A FUNÇÃO SOCIAL DO ESPAÇO PÚBLICO PARA O IDOSO

Segundo Dorneles; Ely; Pedroso (2006), a população idosa no mundo alcança

o valor de 6,9%. E de acordo com o IBGE (2006), cerca de 8,6% da população

brasileira tem mais de 60 anos e encontra-se, em sua maioria, vivendo nos grandes

centros urbanos.

Pensar a população idosa dentro desse espaço urbano requer compreender

que a estrutura urbana abordada, neste momento, não está relacionada somente às

questões formais do espaço urbano, como estrutura edificada, mas também à

estrutura natural, motivo pelo quais os espaços são relacionados à estruturação

ambiental.

O conceito de espaço público31 aqui apresentado assume um papel

importante na estrutura e vivência urbana (principalmente dos idosos), uma vez que,

31 O espaço público é considerado fundamental na estruturação do espaço urbano e apresenta-se como um dos subsistemas que o constituem, representa a condição essencial para a realização da

Page 64: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

78

enquanto local de uso coletivo, desempenha importantes funções sociais,

ambientais e econômicas. A estrutura urbana dos espaços públicos é complexa e

por este motivo, torna o espaço urbano de circulação importante e ao mesmo tempo

lhe impõe problemas de coesão territorial32 (PINTO; REMESAR; AMADO, 2008).

Nesse contexto, mesmo com as limitações observadas no processo de

envelhecimento e com as diferentes necessidades, os idosos não se privam de

procurar, de conhecer novos lugares e de desenvolver diversas atividades. Assim,

questiona-se se os grandes centros, em particular, se os espaços urbanos utilizados

pelos idosos estão preparados e adequados para atender as suas demandas

(DORNELES; ELY; PEDROSO, 2006).

Considerando o cenário dos grandes centros urbanos, alguns dos obstáculos

às demandas da população idosa dizem respeito principalmente às relacionadas ao

aspecto físico, à falta de informações do espaço urbano que facilite o seu

deslocamento e às que promovam a interação social. Tais necessidades serão

apresentadas a seguir.

Conforme Hunt (1991 apud Dorneles; Ely; Pedroso, 2006), as necessidades

dos idosos no espaço urbano de circulação são classificadas em:

Necessidades físicas: Relacionadas à saúde física, segurança e conforto

dos indivíduos no espaço urbano, apresentando-se livre de obstáculos e de

fácil manutenção a fim de evitar acidentes.

Necessidades informativas: Relacionadas ao modo como a informação

sobre o meio no qual estão inseridos é processada. A percepção (processo

de obter ou receber a informação do ambiente) e a cognição (representa o

modo como a pessoa organiza a informação recebida) são identificados

como aspectos importantes para o processamento da informação. Deve-se

considerar neste item as dificuldades visuais, por exemplo.

Necessidades sociais: Referem-se à promoção do controle da privacidade

ou interação social, dizendo respeito ao significado atribuído pelo idoso ao

espaço público pelo qual circula. As mudanças características do

vida urbana, representando também, um fator significativo de identidade das cidades, o que contribui para a sua estruturação (PINTO; REMESAR; AMADO, 2008). 32 Para Pinto; Remesar; Amado (2008) é comum encontrar problemas de coesão territorial no espaço urbano de circulação: fragmentação de importantes estruturas naturais, a exclusão social, marginalização e disparidades econômicas.

Page 65: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

79

envelhecimento apresentam diferentes conseqüências e necessidades que

influenciam a interação dos idosos com outras pessoas e com o ambiente

no qual estão inseridos.

Desta forma, a partir da classificação das necessidades dos idosos, devem-se

considerar também as relações sociais estabelecidas a partir do deslocamento deste

grupo no próprio espaço urbano de circulação (DORNELES; ELY; PEDROSO,

2006).

Neste contexto, a dinâmica social do espaço público será definida pelas

características da população tais como interesses políticos, religiosos etc. Assim, a

dinâmica social de um lugar irá refletir as demandas singulares de um determinado

segmento social.

Considerando a realidade dos idosos (apresentadas no capítulo I), o espaço

urbano de circulação deve ser adaptado às demandas, com características que

promovam não só a acessibilidade, mas também sejam reforçadores de laços

sociais33 (PINTO; REMESAR; AMADO, 2008).

Segundo Ramos (2002), a aspiração de auto-desenvolvimento e de

interesses das pessoas está relacionada a sentimentos de bem estar na velhice.

Este segundo aspecto está diretamente ligado à capacidade de realizar trocas (de

dar e receber ajuda de forma balanceada). Tais relações sociais podem ser

negativas ou positivas.

Alguns efeitos negativos encontrados na literatura relacionados aos laços

sociais estabelecidos dizem respeito à falta de auto-estima, em especial, pela

desvalorização da pessoa idosa em diferentes sociedades. Tal situação é somada

às conseqüências do processo normal de envelhecimento, como dependência para

atividades de vida diária (AVDs) e falta de autonomia.

Pode-se verificar que a quantidade e qualidade dos contatos sociais que

reforçam um sentimento de pertencer à sociedade afeta positivamente a saúde dos

indivíduos e, neste caso, dos idosos (RAMOS, 2002).

Portanto, é possível compreender que as características da velhice afetam a

manutenção adequada das relações sociais que, por sua vez, afetam a saúde e a 33 As relações sociais ou laços sociais são considerados essenciais para manter ou promover a saúde física e mental dos idosos. Os idosos apresentam como aspectos positivos: segurança para lidar com o processo de envelhecimento e melhora na auto-estima, reduzindo o estresse na saúde mental e contribui para o controle pessoal (RAMOS, 2002).

Page 66: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

80

qualidade de vida do individuo que envelhece. Assim, verifica-se também que,

muitos problemas de saúde podem ser causados não somente pelo processo de

envelhecimento normal, mas também pela qualidade das relações sociais.

Vale ressaltar que não é a quantidade de laços sociais dos idosos, mas o

significado das interações sociais e a possibilidade de participar como ator social

nestas interações que permitirá uma melhora na sua qualidade de vida, em especial,

no que diz respeito à saúde mental.

É neste momento que a organização espacial das cidades assume um papel

importante para a coesão ao nível social, uma vez que toda a organização do

espaço deve ser direcionada para possibilitar a acessibilidade dos diferentes grupos

sociais e sua integração neste espaço e entre si.

Apesar da compreensão acerca das necessidades dos idosos no que se

referes à mobilidade urbana, principalmente no que diz respeito às relações sociais,

com o crescimento das cidades verifica-se uma desvalorização deste espaço

público.

Tal situação é descrita por Marcelino (1983 DORNELES; ELY; PEDROSO,

2006, p. 2733):

Nas grandes cidades atuais sobra pouca ou quase nenhuma oportunidade espacial para a convivência, pois da forma pela qual são constituídas e renovadas, o vazio que fica entre o amontoado de coisas é insuficiente para permitir o exercício efetivo das relações sociais produtivas em termos humanos.

As últimas pesquisas do IBGE confirmam que os idosos têm procurado de

maneira intensa os centros urbanos por conta da infra-estrutura urbana, relacionada

à saúde ou às atividades cotidianas, já que com a longevidade, muitos deles

continuam ativos (mesmo com a aposentadoria) e buscam novas atividades, como a

inserção nos grupos da Terceira Idade.

De acordo com dados do IBGE (2006), estima-se que em 2020 haverá um

aumento de 16% no número de idosos com incapacidade, moderada ou grave. É

possível que, neste processo de envelhecimento, sejam identificados um grupo de

idosos excluídos. Todavia, em virtude do avanço da tecnologia, da medicina e de

recursos para minimizar as características da velhice e devido à mudança de

comportamento dos idosos (buscam independência e autonomia), torna-se

Page 67: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

81

fundamental, nas sociedades modernas, entender a importância que os Núcleos da

Terceira Idade assumem na saúde dos idosos.

Os grupos ou núcleos da Terceira Idade surgiram não só para a manutenção

da saúde física, mas apresentam estratégias que caracterizam um modelo de ações

preventivas consideradas instrumentos importantes para o resgate da auto-estima e

para a inclusão social.

Portanto, diante das evidências demográficas e epidemiológicas sobre o

envelhecimento no Brasil, necessita-se considerar a valorização do idoso a partir de

sua singularidade, possibilitando autonomia e bem estar.

O aspecto social presente no espaço urbano de circulação e nos núcleos da

Terceira Idade passou a ser considerado funcional a partir do momento em que

muitos idosos passaram a utilizá-lo como uma forma de convívio. Dessa forma, os

laços sociais estabelecidos nestes espaços físicos são fundamentais para a

manutenção da qualidade de vida do idoso em todos os aspectos, em particular, do

emocional.

Este trabalho buscou identificar como os idosos, a partir de suas

características individuais, percebem o espaço urbano por onde circulam. Neste

sentido, o capítulo a seguir apresenta os resultados e a discussão acerca dos

aspectos que tornam o espaço urbano de circulação funcional a partir do momento

em que é considerado importante para o estabelecimento do vínculo social.

Page 68: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

82

5 OS IDOSOS DO PÓLO TUNA LUSO BRASILEIRA DO PROJETO VIDA ATIVA

DA CIDADE DE BELÉM/PA

Nos capítulos anteriores foi apresentado o instrumental teórico que

oportunizou lançar luz ao processo de envelhecimento, as características do espaço

urbano de circulação e a legislação relativa aos idosos. Este capítulo apresenta os

dados da pesquisa de campo que possibilitam compreender os resultados acerca

das principais dificuldades encontradas pelos idosos no espaço urbano de

circulação. Os dados encontrados serão analisados a partir do suporte teórico até

aqui trabalhado, das áreas da saúde, antropologia e urbanismo. Para tanto, ele está

dividido em aspectos metodológicos e perfil dos idosos participantes da pesquisa.

5.1. METODOLOGIA

O estudo acerca do envelhecimento e das questões relacionadas à

mobilidade e acessibilidade urbanas é considerado fundamental a partir da

ressignificação do conceito de velhice e do aumento cada vez mais significativo do

número de idosos que buscam melhorar a qualidade de vida nos grupos da Terceira

Idade.

Considerando que muitos desses idosos são independentes e se deslocam

no espaço urbano, os dados a seguir auxiliarão na compreensão de como os idosos,

dentro de suas singularidades e dentre tantos sujeitos urbanos, percebem 34 as

limitações de acessibilidade e mobilidade no espaço urbano onde circulam a partir

da execução de suas atividades cotidianas.

Neste contexto, a partir do aumento da expectativa de vida e com o objetivo

de melhorar a qualidade de vida dos idosos, o Governo Federal, por meio do 34 Segundo Ferreira; Sanches (2003), a percepção baseia-se na capacidade que o homem possui de produzir informações a partir de impactos ambientais urbanos que constituem seu cotidiano. A partir dessa capacidade, o ser humano conhece seu ambiente e é capaz de, sobre ele, produzir opiniões e atitudes, gerando informações. Ainda de acordo com os autores, as atitudes caracterizam como uma tendência à ação, que é adquirida no ambiente em que se vive e deriva de experiências pessoais e também de fatores e personalidade. As opiniões referem-se a um julgamento ou crença em relação à determinada pessoa, fato ou objeto.

Page 69: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

83

Ministério do Esporte, Governo do Estado e da Secretaria de Estado de Esporte e

Lazer (Seel)35, implantou o Projeto Vida Ativa. Este possibilita o atendimento a 4.000

idosos dos municípios de Belém, Ananindeua, Marituba, Santa Bárbara, Capanema

e Soure. Apresenta como meta atender idosos de ambos os sexos, a partir de 50

anos de idade, residentes nos municípios citados e busca proporcionar a

socialização, a integração, o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida dos idosos

com a realização de práticas esportivas e de lazer.

O Projeto, conforme explicitado, oferece diferentes atividades e, neste

sentido, as principais atividades esportivas são: alongamento, caminhada, dança

recreativa, expressão corporal, ginástica, hidroginástica, natação, vôley, atletismo,

futebol de campo e jogos recreativos. Como atividades sócio-educativas e culturais:

dança folclórica, palestras, turismo social, eventos sociais e oficina de teatro. Conta

ainda com grupos administrativo e pedagógico que realizam reuniões para a troca

de experiências e avaliações das atividades desenvolvidas.

No município de Belém, o Projeto conta com alguns parceiros para

desenvolver as atividades. É possível encontrar pólos da Terceira Idade funcionando

de maneira sistemática no Clube do Remo, na ASALP (Associação dos Servidores

da Assembléia Legislativa do Pará), no Clube dos Advogados, no Estádio Olímpico

do Pará, no Iate Clube do Pará, na ALSSE (Associação de Lazer dos Sargentos e

Sub-Tenentes do Exército), na Tuna Luso Brasileira e no Município de Santa

Bárbara.

A ASALP oferecia aos idosos um total de 2 atividades (hidroginástica e

natação), no Estádio Olímpico, caminhada e treino de atletismo, no SESC

Ananindeua, 4 atividades (hidroginástica, caminhada, ginástica e dança). Já no

Clube dos Advogados, os idosos podiam participar da hidroginástica, dança e

alongamento, enquanto que na ALSSE, no Clube do Remo e no Iate Clube do Pará,

somente da hidroginástica. No município de Santa Bárbara, 4 atividades eram

ofertadas à população idosa (dança, caminhada, ginástica e alongamento). E por

fim, na Tuna Luso Brasileira, os idosos podiam se inscrever em um total de 6

atividades, a citar: voleibol, hidroginástica, dança, memorização, ginástica e

alongamento.

35 A SEEL apresenta como secretário o Sr. Carlos Alberto da Silva Leão e como coordenadora do Projeto Vida Ativa, a Sra. Jeane Conceição de Oliveira Duarte.

Page 70: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

84

O estudo foi realizado na Tuna Luso Brasileira36, um dos núcleos (indicado

pela Secretaria de Estado, Esporte e Lazer) integrantes do “Projeto Vida Ativa”, na

região metropolitana de Belém. O clube é tradicionalmente conhecido pela

população paraense e considerado um importante parceiro para o desenvolvimento

de atividades voltadas para a população idosa.

Em relação aos outros núcleos, o Pólo da Tuna Luso Brasileira apresentava,

por ocasião da pesquisa, um número significativo de atividades desenvolvidas em

horários diferentes (o que possibilitou um deslocamento maior no espaço urbano de

circulação), assim como o maior número de idosos inscritos no “Projeto Vida Ativa”

(um total de 291 idosos). Além disso, o clube fica situado na principal avenida da

cidade e oferece maiores possibilidades de deslocamento. Pelas informações

apresentadas, o Pólo Tuna Luso Brasileira foi escolhido para ser o local da

pesquisa.

A pesquisa caracterizou-se como analítico-descritiva e quanti-qualitativa

quanto ao método. Participaram do estudo 30 idosos, de ambos os sexos que

encontram-se inseridos no Projeto Vida Ativa (a ser detalhado) e, para a coleta de

dados os critérios para a escolha do grupo a representar foi o maior número de

idosos matriculados em um dos Pólos do Projeto Vida Ativa, a realização de, pelo

menos, 3 atividades que exigissem o deslocamento freqüente do participante e a

localização do clube. Tais critérios serão apresentados com detalhes a seguir.

A pesquisa37 foi realizada com idosos de ambos os sexos, a partir de 50 anos

e independentes, sem comprometimento físico ou de comunicação que os impeça

de se deslocar e de responder aos questionários. Tais critérios foram considerados

importantes na medida em que o objetivo da pesquisa é compreender a percepção

do idoso no espaço urbano de circulação a partir das atividades que desenvolve

diariamente. O deslocamento no espaço urbano de circulação é o foco da pesquisa,

portanto, a existência de comprometimento motor ou cognitivo possibilitaria o

36 A Tuna Luso Brasileira é um clube brasileiro de futebol e foi fundada em 1903 por portugueses interessados em difundir a cultura portuguesa no Brasil. Primeiramente chamada de Tuna Luso Caixeiral (fundadores com função de caixeiros viajantes) e depois, em 1926, chamada de Tuna Luso Comercial. Somente em 1968 foi denominada de Tuna Luso Brasileira. A sede do clube fica situada na Avenida Almirante Barroso, nº. 4110, Bairro: Souza. 37 A pesquisa teve início após a aprovação da orientadora (apêndice A), da Secretaria de Esporte e Lazer (Apêndice B), do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e dos indivíduos pesquisados por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C).

Page 71: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

85

surgimento de viés no estudo, pois os questionários utilizados dependeram da

fidedignidade das respostas a partir das vivências da população idosa.

Os idosos participantes realizavam sistematicamente três atividades, pois dos

idosos inscritos, nem todos participam de todas as atividades propostas (que exigem

o deslocamento freqüente para o núcleo) do “Projeto Vida Ativa”. As três atividades

realizadas pelos idosos participantes da pesquisa no pólo da Tuna Luso Brasileira

são: hidroginástica (3 vezes por semana), alongamento (2 vezes por semana) e

memorização (2 vezes por semana).

A hidroginástica e o alongamento apresentam como objetivos fortalecer a

musculatura, adequar a flexibilidade, o equilíbrio e a coordenação motora às

características próprias do envelhecimento, melhorando assim, o condicionamento

físico do idoso e como conseqüência possibilita uma redução no risco de quedas

(DIOGO; NERI; CACHIONI, 2006). A atividade de memorização, por sua vez,

possibilita a manutenção ou melhora da memória (considerada uma das funções

cognitivas mais prejudicadas na terceira idade), já que compromete a retenção e o

resgate de situações vivenciadas (LUENGO, 2007). Para tal atividade são utilizados

jogos com regras, leitura e interpretação de textos e diálogos a partir de temas

oferecidos pelos professores que acompanham os grupos.

É importante enfatizar que as atividades apresentadas possibilitam,

principalmente, o estabelecimento de vínculos sociais, diminuem o estresse, a

depressão e auxiliam o idoso no processo de inclusão social.

A aplicação do questionário foi realizada pela pesquisadora, nos meses de

novembro e início de dezembro (encerramento das atividades na primeira quinzena),

no horário da manhã, das 8:00 h às 12:00 h (por conta da maior assiduidade dos

idosos às atividades)38.

Por uma questão de organização e para que os idosos não se confundissem

com os questionários, as entrevistas foram separadas em quatro etapas e, para

cada uma, 10 minutos. A aplicação foi realizada pela própria pesquisadora a fim de

não possibilitar viés na coleta de dados e auxiliar na reestruturação das perguntas,

caso fosse necessário.

38 Antes de realizar as entrevistas, a Educadora Física, responsável pela hidroginástica e alongamento (primeiras atividades do horário da manhã) foi procurada para a autorização do estudo com a apresentação da carta de autorização fornecida pela SEEL. A pesquisadora foi apresentada ao grupo de idosos que, após as atividades, compareceram para a aplicação dos questionários.

Page 72: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

86

A coleta de dados foi dividida em quatro etapas. Na primeira etapa do estudo,

os idosos foram esclarecidos sobre a pesquisa e sobre as etapas para coleta de

dados. Demonstraram paciência, bom humor e interesse pelas questões

apresentadas nas perguntas, relatando, principalmente, que é necessário que os

profissionais atuantes na área do envelhecimento mudem suas práticas e repensem

os cuidados com esta parcela da população. Foi necessário controlar o tempo

estimado para cada idoso (40 minutos), pois cada um apresentava necessidades

específicas para verbalizar e aproveitavam para detalhar as suas experiências.

Nos primeiros 10 minutos desta primeira etapa, a partir da aplicação pessoal

do questionário (apêndice D), o participante forneceu informações como sexo, idade,

grau de instrução, motivo da participação no núcleo da terceira idade e freqüência

do deslocamento para o pólo. O questionário (composto por 5 perguntas abertas e 9

perguntas fechadas) foi aplicado individualmente, no período de novembro a

dezembro de 2008.

Na segunda etapa da coleta de dados, foi identificada a capacidade funcional

dos idosos no uso do espaço urbano a partir do questionário BOMFAQ39 (versão

brasileira de OARS - Olders Americans Resources and Services) Multidimensional

Functional Assesment Questionaire (Apêndice E).

O questionário avaliou a dificuldade referida na realização de 15 atividades

validadas previamente, sendo 8 atividades de vida diária (AVD): deitar/levantar da

cama, comer, pentear cabelo, andar no plano, tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro

em tempo e cortar unhas dos pés e 7 atividades instrumentais da vida diária (AIVD):

subir escada (1 lance), medicar-se na hora, andar perto de casa, fazer compras,

preparar refeições, sair de condução e fazer limpeza de casa. As atividades foram

categorizadas com ou sem dificuldades40

Na terceira etapa de coleta de dados, os idosos classificaram41 em ordem de

importância, as variáveis que consideraram fundamentais no que diz respeito às

39 O protocolo BOMFAQ se assemelha a outros questionários, porém, foi selecionado pela facilidade de aplicação, objetividade e pela sua organização estruturada. O protocolo foi utilizado para a capacidade funcional do idoso. 40 A avaliação da mobilidade tem sido considerada como parte importante da avaliação funcional. Nesse contexto, o protocolo BOMFAQ possibilita a avaliação da mobilidade a partir da auto-declaração, com uma abordagem hierárquica, inicialmente, com atividades simples (pentear o cabelo) até atividades mais complexas (como subir escadas). 41 A classificação a partir da percepção dos idosos em relação à qualidade do espaço urbano, possibilita compreender suas dificuldades a partir das próprias vivências e do deslocamento funcional e real.

Page 73: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

87

questões de conforto e segurança, a fim de identificar os principais aspectos de

qualidade do espaço urbano (calçadas e espaços destinados a pedestres - apêndice

F) ao longo da trajetória realizada da residência ao núcleo da terceira idade no qual

ele está inscrito e participa. A classificação foi realizada através de notas variando

de 1 e 5, a partir da escala proposta por Ferreira e Sanches (2003).

E na última etapa, a partir da identificação dos espaços utilizados além do

Núcleo da Terceira Idade (Tuna Luso Brasileira), foi solicitado à cada idoso que

identificasse o grau de satisfação em relação aos indicadores de qualidade

(conforto, seguridade, continuidade e segurança) do espaço urbano de circulação42.

O grupo que fez parte da pesquisa foi descrito e quantificado a partir das

respostas obtidas nos protocolos BOMFAQ (apêndice E) e de Percepção de Espaço

Físico (apêndice F) de Ferreira e Sanches (2003).

Os dados obtidos na entrevista semi-estruturada (apêndice D) e no protocolo

de Percepção de Espaço Físico (apêndice F) de Ferreira; Sanches (2003) foram

categorizados, correlacionados e interpretados à luz da Política Nacional do Idoso.

5.2. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Os dados obtidos nas entrevistas foram descritos, inicialmente, a partir de

seis importantes caracterizações: perfil da população (idade, sexo, escolaridade e

estado civil); aspectos clínico-funcionais; deslocamento no espaço urbano de

circulação; capacidade funcional; percepção do espaço físico e grau de satisfação

do idoso em relação aos espaços utilizados.

5.2.1 Caracterização quanto à faixa etária dos participantes

De acordo com as entrevistas realizadas, verifica-se que o maior número de

participantes encontra-se na faixa etária de 62 a 68 anos de idade, representando

36,7% dos idosos. 42 As informações fornecidas pela pesquisa qualitativa ajudam a interpretar ou compreender mais detalhadamente os dados quantitativos. E conforme explicitado anteriormente, o homem produz informações sobre os impactos ambientais urbanos a partir de suas vivências e, possibilita assim, a análise crítica e a mudança de comportamento (FERREIRA; SANCHES, 2003).

Page 74: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

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Tabela 1 – Faixa etária dos participantes Faixa etária Freqüência Percentual

50 – 56 2 6.7 56 – 62 6 20.0 62 – 68 11 36.7 68 – 74 8 26.7 74 – 80 3 10.0 Total 30 100

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 2 - Faixa etária dos participantes Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Considerando que o universo investigado refere-se a indivíduos da terceira

idade, é possível verificar a presença significativa da faixa etária entre 62 a 68 anos.

Tal resultado corresponde à busca por atividades logo após a saída do mercado de

trabalho, garantida pela Lei Federal nº. 8.213/9143. A ausência de atividades logo

após a saída do mercado de trabalho possibilita que o indivíduo se adapte a uma

nova realidade sem obrigatoriamente manifestar sinais de estresse pelo afastamento

das tarefas desenvolvidas até então ou pelo rompimento de vínculos sociais

estabelecidos no local de trabalho (DIOGO; NERI; CACHIONI, 2006).

43 O Artigo 1º do Título I da Lei Federal dispõe que a Previdência Social, mediante contribuição, tem por objetivo assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares, prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

2

6

11

8

3

0

2

4

6

8

10

12

50|-----56 56|-----62 62|----68 68|----74 74|----80Faixa etária

Frequência

Page 75: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

89

5.2.2 Caracterização quanto ao sexo dos participantes

O núcleo da terceira idade inserido no Pólo Tuna Luso Brasileira é composto

mais por idosos do sexo feminino do que do sexo masculino, como mostra o gráfico

a seguir.

Gráfico 3 - Sexo dos participantes Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Verifica-se que, dos 30 entrevistados, 24 (80%) idosos pertenciam ao sexo

feminino, enquanto que somente 6 (20%) pertenciam ao sexo masculino.

Acredita-se que os homens, ainda por questões culturais, apresentem

resistência para buscar núcleos da Terceira Idade, não só para a melhora dos

aspectos físicos, mas como forma de convívio. É importante acrescentar também

que o aumento da expectativa de vida para as mulheres é maior do que para os

homens.

Ramos, Vera e Kalache (1987) relatam que há diferenças no comportamento

entre homens e mulheres em relação às doenças e incapacidades e, neste contexto,

as mulheres parecem estar mais atentas em relação aos sinais e sintomas de uma

possível patologia, têm um esclarecimento maior em relação às enfermidades e

demonstram utilizar mais os serviços de saúde. Desta forma, a busca pela melhora

na qualidade de vida e a utilização freqüente dos serviços de saúde também tem

relação com a escolaridade. Indivíduos com baixa escolaridade não procuram

atendimento ou orientação médica, não só por falta de informação, mas também por

Masculino20.0%

Feminino 80.0%

Page 76: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

90

estarem inseridos em culturas que reforcem as medidas preventivas terciárias (de

reabilitação) e não as medidas preventivas primárias (prevenção). Portanto, quando

procuram ajuda, a doença, muitas vezes, já está instalada (CAMPOS et al, 2006).

Ao relacionar tais informações com os dados obtidos na pesquisa, acredita-se

que as mulheres ainda são as que mais buscam melhorar a qualidade de vida

procurando os núcleos da terceira idade.

5.2.3 Caracterização quanto à escolaridade dos participantes

Considerando o gráfico abaixo, 50% dos idosos (15 indivíduos) apresentam o

nível médio completo como o grau de escolaridade, enquanto que 23,3% citaram o

nível fundamental. Dos idosos participantes da pesquisa, somente 6,7% apresenta o

nível superior como grau de escolaridade.

Gráfico 4 - Escolaridade dos participantes

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

A escolaridade influencia de maneira significativa a compreensão e

conscientização de informações consideradas fundamentais para o exercício da

cidadania no contexto urbano. Assim, na medida em que se verifica indivíduos mais

instrumentalizados do ponto de vista intelectual, maiores as chances de questionar

as políticas públicas existentes e os direitos no espaço urbano de circulação

(FALEIROS, 2008). Os idosos, neste cenário, apresentam, em sua maioria, nível

23.3%

6.7%

50.0%

13.3% 6.7% Fundamental Analfabeto Médio CompletoMédio IncompletoSuperior Completo

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91

médio completo, o que já permite um olhar diferenciado acerca do pensar o espaço

urbano, com a possibilidade de resgate dos seus direitos e a manutenção da

autonomia. É importante citar que somente um idoso participante da pesquisa

apresenta nível superior completo.

5.2.4 Caracterização quanto ao estado civil dos participantes

De acordo com os dados obtidos nas entrevistas, 14 idosos (46,6%) são

viúvos, 11 (36,6%) são casados e 5 (16,6%) são divorciados.

Tabela 2 - Estado civil dos entrevistados

Estado civil Freqüência Percentual Casados 11 36.6 Divorciados 5 16.6 Viúvos 14 46.6 Total 30 100

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Verifica-se que os idosos que mais buscam por atividades no Núcleo da

Terceira Idade são viúvos, o que possibilita refletir sobre a dificuldade deste

segmento social em se adaptar a uma nova realidade, a uma vida sem a

companheira (o) de muitos anos. De acordo com Russo (1998), o idoso que já

encontra-se num momento de fragilidade por conta do próprio processo natural do

envelhecimento, precisa aprender a lidar com a perda e o corte de um vínculo

estabelecido durante muito tempo.

Em virtude da não aceitação da perda e da possibilidade de ter que enfrentar

a solidão, muitos idosos buscam os grupos de convivência. Além disso, tentam

estabelecer novos vínculos sociais o que permitirá a redução da depressão e ao

isolamento social.

Page 78: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

92

5.2.5 Características clínicas e funcionais associadas às quedas.

Sabe-se que o envelhecimento normal apresenta características clínicas e

funcionais que comprometem o seu deslocamento no espaço urbano de circulação

e, apesar de identificar cada vez mais idosos independentes do ponto de vista

funcional, tais características ainda são consideradas fundamentais na compreensão

das principais dificuldades encontradas por eles no espaço urbano de circulação.

Tabela 3 - Associação entre faixa etária e queda no último ano

Queda no último ano Faixa Etária Sim % Não %

Total

%

50 – 56 2 6.7 0 0.0 2 6.7 56 – 62 4 13.3 2 6.7 6 20.0 62 – 68 6 20.0 5 16.7 11 36.7 68 – 74 4 13.3 4 13.3 8 26.7 74 – 80 0 0.0 3 10.0 3 10.0

Total 13 53.3 14 46.7 30 100 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 5 - Características clínicas e funcionais relacionadas à queda no último ano. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

A partir das entrevistas realizadas, 13 idosos (53%) relataram a ocorrência de

quedas no último ano, sendo seis (20%) na faixa etária de 62 a 68 anos de idade.

Vale ressaltar que todas as quedas citadas foram em ambiente externo.

Segundo Ferreira (2000), em 1985, nos Estados Unidos, 73% dos idosos

sofreram quedas e a metade delas aconteceu em casa (10% precisaram de

hospitalização e 44% de acompanhamento fisioterápico. No Brasil, em 1986,

Sim 53%

Não 47%

Page 79: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

93

verificou-se que 10% a 12% (aproximadamente 1,2 milhão) das fraturas foram

decorrentes de osteoporose. Assim, se considerarmos que, além das características

próprias do processo de envelhecimento, como a possibilidade de osteoporose,

verifica-se que as quedas também estão relacionadas à insegurança nos espaços

urbanos, principalmente no que diz respeito ao estado de conservação das

calçadas, por exemplo (detalhado nos próximos gráficos).

A autora cita ainda em seus estudos que as quedas representam a sexta

causa de morte em idosos a partir de 75 anos, 20% das pessoas com fratura de

fêmur acabam falecendo e a metade passa a ter limitações físicas irreversíveis.

O idoso que não sofre conseqüências significativas com as quedas, passa a

apresentar uma diminuição da mobilidade em virtude do receio de cair novamente.

Tal atitude apresenta outras conseqüências como insegurança para caminhar, que

por sua vez possibilita ao idoso diminuir sua mobilidade e assim, diminuir também a

força muscular, verificando-se o enfraquecimento das pernas, tornando-o

dependente e possibilitando o isolamento social (FERREIRA, 2000).

De acordo com o Sistema de Informação Médica do Ministério da Saúde

(2007), o Brasil, no período de 1979 a 1995, registrou 54.730 mortes por quedas

(52% de idosos) e em 2000, 87.177 internações de idosos por causas externas e

destas causas, 48.940 foram por quedas. As quedas relatadas pelos idosos

aconteceram em virtude das características do ambiente (ruas em estado

inadequado de conservação e iluminação deficiente).

Considerando que o espaço urbano de circulação apresenta barreiras

arquitetônicas e urbanísticas que dificultam a mobilidade da pessoa idosa e colocam

em risco a sua integridade física, é necessário rever o conceito de desenho universal

como elemento essencial para o planejamento do espaço público a fim de promover

o deslocamento adequado deste segmento da sociedade.

Portanto, as quedas são mais comuns em idosos e apresentam

conseqüências negativas para a sua qualidade de vida. Assim, a incidência de

quedas na terceira idade pode ser reduzida a partir da elaboração e execução de

medidas preventivas específicas para as suas verdadeiras causas.

Page 80: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

94

Outro fator que contribui para a ocorrência das quedas está relacionado à

acuidade visual44 (característica do olho em reconhecer dois pontos próximos) e é

considerada importante para o deslocamento no espaço.

5.2.6 Caracterização quanto à faixa etária e acuidade visual dos participantes

De acordo com os dados obtidos nas entrevistas, 17 (43%) idosos relataram

algum problema visual, principalmente na faixa etária de 62 a 68 anos de idade.

Tabela 4 - Associação entre faixa etária e acuidade visual.

Acuidade visual Faixa Etária Sim % Não %

Total

%

50 – 56 1 3.3 1 3.3 2 6.7 56 – 62 3 10.0 3 10.0 6 20.0 62 – 68 6 20.0 5 16.7 11 36.7 68 – 74 4 13.3 4 13.3 8 26.7 74 – 80 3 10.0 0 0.0 3 10.0

Total 17 56.7 13 43.3 30 100 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Para Lavinsky (2008), idosos representam a metade da consultas oftálmicas e

14% deste grupo, ou seja, mais ou menos cinco milhões de brasileiros, são

portadores da Doença Macular Relacionada à Idade (DMRI) em pelo menos um

olho, está relacionada ao envelhecimento natural e não tem causa específica.

Gráfico 6 - Acuidade visual dos participantes. Fonte: Pesquisa de campo, 2008

44 Segundo Guimarães e Farinatti (2005), a acuidade visual pode reduzir em 80% aos 90 anos de idade e afeta a possibilidade de perceber a diferença entre os objetos e detalhes no espaço físico, além de diminuir à adaptação ao escuro, podendo caracterizar-se por um embaralhamento da visão com aumento do tempo de resposta visual.

Enxerga bem

57%

Enxerga mal

43%

Page 81: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

95

As alterações visuais exigem do idoso adaptações para a realização de

Atividades de Vida Diária e Instrumentais de Vida Diária. As alterações visuais

podem ser caracterizadas pela dificuldade em acomodar a visão e discriminar

detalhes de objetos próximos, necessitando de melhor iluminação, principalmente

quando há mudanças de ambientes com iluminações diferentes (FERREIRA, 2000).

5.2.7 Caracterização quanto ao auxílio para a locomoção dos participantes

Auxilio à locomoção Nº % Andador 0 0 Bengala 0 0

Não utiliza 30 100 Quadro 1 - Características clínicas e funcionais relacionadas ao auxílio para

locomoção. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

A partir dos dados encontrados nas entrevistas, 30 (100%) idosos não

utilizam auxilio para locomoção. Os idosos pesquisados não necessitam de qualquer

tipo de suporte e deslocam-se com autonomia no espaço urbano de circulação.

De acordo com Gomes; Diogo (apud DIOGO; NÉRI; CACHIONI, 2006), a

idade exerce influência importante na incapacidade das pessoas e que o declínio da

função motora é comprometido em menor ou maior grau nos indivíduos idosos.

Segundo os autores, esse declínio é complexo e multifatorial. A participação,

integração e a sincronia dos sistemas nervoso, cardiovascular, osteomuscular e

sensorial são fundamentais para que o ato motor se realize sem alterações.

5.2.8 Caracterização quanto à faixa etária e perda auditiva dos participantes

Tabela 5 - Associação entre faixa etária e perda auditiva

Perda auditiva Faixa Etária Sim % Não %

Total

%

50 – 56 0 0.0 2 6.7 2 6.7 56 – 62 2 6.7 4 13.3 6 20.0 62 – 68 0 0.0 11 36.7 11 36.7 68 – 74 2 6.7 6 20.0 8 26.7 74 – 80 1 3.3 2 6.7 3 10.0

Total 5 16.7 25 83.3 30 100.0 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Page 82: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

96

Gráfico 7 - Perda auditiva dos participantes. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Segundo Russo (1999), a deficiência auditiva acomete 70% dos idosos. Nas

entrevistas realizadas, 5 (17%) idosos relataram apresentar perda auditiva, enquanto

que 25 (83%) não relataram perda auditiva. De acordo com a autora, a surdez no

idoso constitui-se em um dos mais importantes fatores de exclusão social e de todas

as privações sensoriais, a perda auditiva é a que produz efeito mais importante no

processo de comunicação do idoso, comprometendo ainda mais o bem estar desta

parcela da população.

O idoso ainda resiste em admitir que possa apresentar perda auditiva por

acreditar que o déficit de funções sensoriais aumentaria as chances de exclusão no

contexto social e que a audição é um aspecto importante para aquisição de

informações fornecidas pelo ambiente para o adequado deslocamento (DORNELES;

ELY; PEDROSO, 2006).

É importante ressaltar que não foram realizadas avaliações

otorrinolaringológicas e audiológicas a fim de confirmar a existência de perdas

auditivas neste grupo de indivíduos.

Sim 17%

Não 83%

Page 83: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

97

6.ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.1. Características do deslocamento no espaço urbano de circulação

Tabela 6 - Associação entre faixa etária e meio de deslocamento.

Como se desloca pela cidade Faixa Etária

A pé % Ônibus % A pé e de

ônibus

% Ônibus e carro %

Total

%

50 – 56 0 0.0 1 3.3 1 3.3 0 0.0 2 6.7

56 – 62 1 3.3 1 3.3 3 10.0 1 3.3 6 20.0

62 – 68 0 0.0 3 10.0 8 26.7 0 0.0 11 36.7

68 – 74 0 0.0 3 10.0 4 13.3 1 3.3 8 26.7

74 – 80 1 3.3 1 3.3 1 3.3 0 0.0 3 10.0

Total 2 6.7 9 30.0 17 56.7 2 6.7 30 100.0

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 8 - Meio de deslocamento utilizado pelos idosos no espaço urbano de circulação. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

A partir das respostas obtidas nas entrevistas, do total de idosos, 17 (56%)

deslocam-se na cidade a pé e de ônibus, enquanto que 9 (30%) dos entrevistados

utilizam o ônibus como principal meio de deslocamento, verificando-se um número

significativo de indivíduos que caminham pelas ruas e calçadas, independentes de

serem trafegáveis ou não.

7%

30%

56%

7%A pé ÔnibusA pé e de ônibusÔnibus e carro

Page 84: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

98

Um número significativo de pessoas se desloca a pé em pequenas distâncias,

sem precisar de outro meio e pode ser considerado, segundo Vasconcellos (2001),

um dos modos mais utilizados pela população em todo o mundo.

Em relação ao transporte público, conforme cita Santos, M. (2005), este não é

privilegiado nas políticas de transporte e, foi exigido este tipo de deslocamento, em

especial, pelo processo de urbanização das cidades, a partir do momento em que

houve um crescimento acelerado da população e de sua estabilização nas áreas

chamadas periféricas, distantes das principais atividades relacionadas ao trabalho.

Assim, justificando a utilização do ônibus pelo trajeto a ser concluído.

De acordo com o questionário BOMFAC (Apêndice E), em seis (75%)

atividades de vida diária das oito propostas, os idosos apresentam boa capacidade

funcional e em cinco (71,46%) das sete atividades instrumentais de vida diária, os

idosos apresentam boa capacidade funcional, o que possibilita o deslocamento a pé

e de ônibus, porém, existem fatores que comprometem este tipo de deslocamento,

como iluminação adequada e segurança (SANTOS, J., 2005).

De acordo com o IBGE (2006), cerca de 15% da população brasileira

apresenta algum tipo de deficiência, correspondendo a 26,5 milhões de pessoas,

não considerando as pessoas com mobilidade reduzida.

Considerando que o Pará é o quarto em número de idosos (IBGE, 2006), a

questão da acessibilidade torna-se um aspecto fundamental na promoção de

qualidade de vida deste segmento da sociedade. Segundo Tobias (2005), por meio

das Leis nº. 10.048 e nº. 10.098, promulgadas em 2000, o Governo Federal dispôs

sobre a prioridade de atendimento e as normas gerais para a promoção da

acessibilidade das pessoas portadoras de necessidades especiais ou com

mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras nas vias, espaços públicos,

mobiliário urbano, construção e reforma de edifícios, bem como meios de transporte

e de comunicação.

Page 85: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

99

6.2 Caracterização quanto à dificuldade para andar dos participantes

Tabela 7 - Associação entre faixa etária e dificuldade para andar. Dificuldade para andar Faixa

Etária Sim % Não %

Total

% 50 – 56 1 3.3 1 3.3 2 6.7 56 – 62 6 20.0 0 0.0 6 20.0 62 – 68 8 26.7 3 10.0 11 36.7 68 – 74 7 23.3 1 3.3 8 26.7 74 – 80 3 10.0 0 0.0 3 10.0

Total 25 83.3 5 16.7 30 100.0 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 9 - Dificuldade para andar nas ruas e calçadas da cidade em que mora. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Dos 30 idosos entrevistados, 25 idosos (83%) relataram apresentar

dificuldade para andar nas ruas e calçadas da cidade em que moram e somente 5

idosos (17%) disseram não apresentar tal dificuldade.

De acordo com Pinto; Remesar; Amado (2008), o espaço público é um

elemento estruturador do espaço urbano e desempenha papel essencial na criação

de boas condições de acessibilidade e mobilidade, que devidamente integradas e

adaptadas à realidade urbana em que os individuos estão inseridos, promovem o

sucesso do espaço público.

Os resultados obtidos nesta tabela mostram que a presença de dificuldade

relatada pelos idosos não está compatível com o Estatuto do Idoso, uma vez que

Sim 83%

Não 17%

Page 86: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

100

não atende o Artigo 38, inciso II, que determina que sejam eliminadas barreiras

arquitetônicas e urbanísticas, a fim de garantir a acessibilidade do idoso. Assim

como no Artigo 3º da Lei nº. 10.098/2000, que determina que as vias públicas e

espaços de uso público deverão ser concebidos e executados de forma a torná-los

acessíveis para as pessoas portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida.

A organização dos espaços públicos regida pelo principio da “acessibilidade

para todos” e elemento de coesão no espaço urbano de circulação, promove a

coesão territorial ao nível da mobilidade e acessibilidade, importante também para a

coesão social. É neste contexto, que as questões relacionadas à mobilidade e

acessibilidade devem ser consideradas no planejamento de espaços públicos

(PINTO; REMESAR; AMADO, 2008).

Dentro do processo de urbanização e crescimento das cidades, é importante

considerar o olhar do idoso sobre o seu ambiente cotidiano para compreender a

relação dos espaços utilizados por ele com a sua qualidade de vida. Tal percepção

possibilitará as mudanças nas políticas públicas voltadas para as necessidades reais

deste segmento social e torna-se concreta a partir das dificuldades observadas nos

relatos destes idosos, como os que seguem abaixo:

“Tenho dificuldade para andar principalmente nas calçadas, elas estão cheias

de buracos...” (Y.L., sexo feminino, 66 anos);

“Ah, eu já caí duas vezes no mês passado...isso aconteceu quando eu ia pela

calçada, da minha casa para a farmácia...”(M.P., sexo feminino, 69 anos).

6.3 Caracterização quanto ao motivo de participação no Projeto Vida Ativa

Tabela 8 - Associação entre faixa etária e motivo para participar do projeto vida.

Qual o motivo que o fez participar do Projeto Vida Ativa? Faixa Etária Auto

estima

% Saúde

% Novas

Companhias

% Auto

estima e saúde

%

Saúde e novas

companhias

%

Total

%

50 – 56 0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 3.3 1 3.3 2 6.7 56 – 62 0 0.0 1 3.3 1 3.3 0 0.0 4 13.3 6 20.0 62 – 68 0 0.0 8 26.7 0 0.0 0 0.0 3 10.0 11 36.7 68 – 74 0 0.0 1 3.3 0 0.0 2 6.7 5 16.7 8 26.7 74 – 80 1 0.0 1 3.3 0 0.0 0 0.0 1 3.3 3 10.0

Total 1 3.3 11 36.7 1 3.3 3 10.0 14 46.7 30 100.0

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Page 87: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

101

Gráfico 10 - Motivo de participação no Projeto Vida Ativa.

Fonte: Pesquisa de campo, 2008

De acordo com os dados da tabela nº.10, 11 (36,7%) idosos entrevistados

mostram que a saúde é o principal motivo de procura pelo núcleo da Terceira Idade

e 14 (46,7%) participantes relataram que os motivos foram saúde e novas

companhias. O relato a seguir evidencia o motivo saúde:

“Eu procurei o grupo para melhorar o problema da minha pressão alta...”(L.P,

sexo feminino, 65 anos);

O cuidado com a saúde é cada vez maior nesta parcela da população e

considerando o aumento da expectativa de vida, as últimas pesquisas do IBGE

(2006) confirmam que os idosos têm procurado muito mais os centros urbanos por

conta da infra-estrutura urbana e programas de atenção ao idoso, como os

programas da Terceira Idade.

Muitos idosos continuam ativos e procuram novas atividades e o aspecto

social presente no pólo da Terceira Idade é fundamental para o seu uso significativo

(é considerado para muitos idosos uma forma de convívio). Vale lembrar também

que 80% da amostra são do sexo feminino e ainda é a população que mais busca os

grupos de convivência: “Sabe que, quando ficamos velhos, ficamos também

sozinhos e eu soube do grupo por uma vizinha, então resolvi me inscrever e não me

arrependo, fiz muitos amigos...”(Y.A.S, sexo feminino, 74 anos).

A qualidade dos contatos sociais reforça um sentimento de pertencer à

sociedade e que afeta positivamente a saúde dos indivíduos e, neste caso, dos

idosos (RAMOS, 2002).

46.7%

3.3%

36.7%

10.0%3.3%

Auto estima

Saúde

Novas companhias

Auto estima e saúde

Saúde e novascompanhias

Page 88: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

102

Acredita-se que os grupos ou núcleos da Terceira Idade contribuam não só

para a manutenção da saúde física, mas apresentam estratégias que caracterizam

um modelo de ações preventivas consideradas instrumentos importantes para o

resgate da auto-estima e para a inclusão social.

6.4 Caracterização quanto à dificuldade no deslocamento até o Núcleo da Terceira Idade

Gráfico 11 - Dificuldade no deslocamento até o núcleo da Terceira Idade. Fonte: Pesquisa de campo, 2008

A partir do momento em que os núcleos da Terceira Idade são cada vez mais

procurados pelos idosos, verifica-se a necessidade de se repensar as Políticas

Públicas direcionadas para o adequado deslocamento desta parcela da população.

De acordo com o Artigo 10º, capítulo V, da Política Nacional do Idoso (PNI), é

de competência dos órgãos e entidades públicos, na área de habitação e urbanismo,

diminuir as barreiras arquitetônicas e urbanísticas. Mas apesar da existência de

Políticas Públicas que garantam o direito de ir e vir do idoso, verifica-se que a prática

está distante do que se propõe.

A partir das entrevistas realizadas, verificou-se que 21 (70%) idosos relataram

apresentar dificuldade de deslocamento até o núcleo da Terceira Idade (Pólo Tuna

Luso Brasileira), enquanto que 9 (30%) não relataram dificuldades. A dificuldade no

70%

30%

Sim Não

Page 89: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

103

deslocamento pode ser observada nas falas dos idosos M.K.L (63 anos, sexo

masculino) e M.C.P (69 anos, sexo feminino) respectivamente:

“Olha só...você sabe que o trânsito de Belém tá muito ruim, isso atrapalha às

vezes, tem muito carro...”

“Eu tenho algumas dificuldades para andar até a Tuna...ah, andando pelas

calçadas que não são boas, né? Mas as pessoas acham que eu é que tenho

problema...”

Mesmo com dificuldades no deslocamento até o Pólo Tuna Luso Brasileira, o

grupo de idosos mantém o deslocamento e a participação no Projeto Vida Ativa,

considerando que a procura por novas companhias foi um dos motivos mais

relatados pela população entrevistada.

A visão de incapacidade funcional com a perda das funções foi alimentada

durante muito tempo pela ideologia produtivista, que ofereceu suporte ao capitalismo

e reforçou a idéia de que o idoso seria incapaz de trabalhar e de gerar renda,

portanto, sem funcionalidade para a sociedade e com a perda de status social

(MINAYO; COIMBRA JÚNIOR, 2002),

Assim, de acordo com Ramos (2002), a manutenção dos laços sociais

estabelecidos em diferentes grupos ou núcleos de convivência, possibilita ao idoso,

o resgate da auto-estima e os mantém como atores participantes em uma sociedade

em que as características do processo de envelhecimento são consideradas ainda

negativas e não inseridas em um fenômeno normal.

Verifica-se que os resultados do gráfico apresentado são compatíveis com os

dados encontrados no gráfico nº. 9 que evidencia respostas positivas para a

dificuldade em andar nas ruas e calçadas da cidade em que mora. É importante

comentar que as principais dificuldades encontradas serão apresentadas no

Apêndice F, a partir da identificação de indicadores de qualidade dos espaços

públicos, em particular das calçadas.

Page 90: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

104

6.5 Caracterização quanto ao tempo de deslocamento dos participantes

Gráfico 12 - Tempo de deslocamento da residência ao núcleo da Terceira Idade. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Todos os idosos entrevistados relataram que utilizam o ônibus como meio de

deslocamento para o núcleo da Terceira Idade. Dos participantes, 33% relataram

que levam 30 minutos para completar o trajeto da residência ao Pólo Tuna Luso

Brasileira, enquanto que 27% levam 40 minutos para completar o trajeto.

Tobias (2005) em seus estudos sobre as condições de acessibilidade na

Região Metropolitana de Belém, identificou dificuldades de acesso ao transporte

coletivo, caracterizadas por: paradas de ônibus distantes da calçada e falta de

informação ou informação inadequada sobre os pontos de parada e sobre os

aspectos relacionados aos destinos dos usuários.

Assim, o Plano Diretor da Cidade de Belém é considerado instrumento da

política urbana importante para a sociedade a partir do momento em que interfere no

desenvolvimento local e considera os fatores políticos, econômicos, culturais,

ambientais, sociais e territoriais que caracterizam a situação do município.

As seções II e III, Capítulo III do Plano Diretor, abordam aspectos da

Mobilidade e Acessibilidade Urbanas, em especial sobre a acessibilidade, o Poder

Público Municipal deverá garantir a acessibilidade a toda a população, com

segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários, edificações e

equipamentos urbanos públicos, dos serviços de transporte públicos e dos

dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação.

20%

33%27%

7% 13%

20 minutos30 minutos40 minutos50 minutos1 hora ou +

Page 91: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

105

Neste sentido, muitos dos idosos entrevistados relataram que melhorar o

sistema de transporte coletivo e a capacitação de profissionais (como motoristas de

ônibus) são duas sugestões para melhorar o acesso aos serviços e espaços

públicos (resultados no gráfico 19).

Neste contexto, o controle de tráfego e o acesso adequado ao transporte

público são considerados aspectos importantes para o deslocamento do individuo

com necessidades especiais ou com mobilidade reduzida.

6.6 Caracterização quanto aos espaços mais utilizados pelos participantes

Tabela 9 - Associação entre faixa etária e espaços mais utilizados.

Faixa etária Espaço mais utilizado 50-56 % 56-62 % 62-68 % 68-74 % 74-80 %

Total

%

Agência bancária e posto de saúde

0 0.0 0 0.0 1 3.3 0 0.0 0 0.0 1 3.3

Agência bancária e supermercado

0 0.0 1 3.3 0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 3.3

Posto de saúde e supermercado

0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 3.3 1 3.3 2 6.7

Agência bancária, farmácia e supermercado

1 3.3 3 10.0 6 20.0 2 6.7 1 3.3 13 43.3

Agência bancária, farmácia, supermercado e shopping

1 3.3 2 6.7 3 10.0 4 13.3 0 0.0 10 33.3

Farmácia, supermercado e shoping

0 0.0 0 0.0 0 0.0 0 0.0 1 3.3 1 3.3

Todos os lugares

0 0.0 0 0.0 1 3.0 1 3.3 0 0.0 2 6.7

Total 2 6.7 6 20.0 11 36.7 8 26.7 3 10.0 30 100.0 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Page 92: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

106

Gráfico 13 - Espaços mais utilizados pelos idosos além do Núcleo da Terceira Idade. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

De acordo com o gráfico, os espaços mais utilizados pelos idosos são

agências bancárias, farmácia e supermercado, totalizando 13 idosos (43,3%),

seguido por agências bancárias, farmácia, supermercado e shopping, com 10 idosos

(33,3%).

Segundo relatos dos próprios participantes, os espaços identificados nas

entrevistas são os considerados necessários:

“Eu continuo saindo sozinha para resolver as minhas coisas, mas também

vou aos lugares mais importantes, não fico batendo perna à toa, vou ao

supermercado e, quando tenho que receber minha aposentadoria, vou

também...”(Z.M, sexo feminino, 60 anos).

Vale ressaltar que nenhum idoso citou a utilização de praças públicas,

principalmente como espaço de lazer, preferindo o shopping para esta atividade. Os

sujeitos da pesquisa identificaram a insegurança como justificativa por conta do

aumento cada vez maior da violência nas grandes cidades.

33.3%43.3%

3.3%

6.7%

3.3% 3.3%6.7%

Agência bancária e posto de saúde Agência bancária e supermercado Posto de saúde e supermercadoAgência bancária, farmácia e supermercado Agência bancária, farmácia, supermercado e shopping Farmácia, supermercado e shopingTodos os lugares

Page 93: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

107

6.7 Caracterização quanto à freqüência de utilização dos espaços públicos

pelos participantes

Gráfico 14 - Freqüência de utilização dos espaços públicos pelos idosos. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

A partir das entrevistas, a tabela nº.14 mostra a freqüência com que os idosos

se dirigem aos lugares públicos citados na tabela nº.13.

Dos idosos entrevistados, 4 (13,3%) relataram que freqüentam 1-2 vezes por

semana, enquanto que 18 (60%) idosos citam que freqüentam 1 ou 2 vezes no mês,

quando recebem o salário ou a aposentadoria. Tais atividades estão relacionadas à

qualidade de vida e necessidades específicas.

6.8 Caracterização quanto à dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos participantes

Tabela 10 - Associação entre faixa etária e dificuldade de acesso aos espaços mais utilizados.

Dificuldade de acesso a prédios públicos Faixa Etária Sim % Não %

Total

%

50 – 56 2 6.7 0 0.0 2 6.7 56 – 62 4 13.3 2 6.7 6 20.0 62 – 68 6 20.0 5 16.7 11 36.7 68 – 74 3 10.0 5 16.7 8 26.7 74 – 80 1 3.3 2 6.7 3 10.0 Total 16 53.3 14 46.7 30 100

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

13.3%6.7%

10.0%

60.0%

10.0%1-2 x/semana3 x/semana4 x/semana1-2 x/mês4 x/mês

Page 94: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

108

Gráfico 15 - Dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos idosos. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Dos idosos entrevistados, 16 (53%) relataram apresentar dificuldade no

acesso aos espaços públicos, enquanto que 14 (47%) não encontram dificuldades.

A partir dos resultados, verifica-se que os idosos que mais apresentam

dificuldade de acesso aos espaços públicos pertencem à faixa etária de 62 a 68

anos.

Segundo Ely; Dorneles (2006), as necessidades espaciais dos idosos são

classificadas em três categorias: necessidades físicas, informativas e sociais.

Para as autoras, as necessidades físicas estão relacionadas à saúde física,

conforto e segurança dos idosos no ambiente. Já as necessidades informativas

dizem respeito à disponibilização e processamento da informação do ambiente.

Quanto às necessidades sociais, referem-se à interação social, à possibilidade de

promover o estabelecimento de laços sociais.

As dificuldades de acesso serão abordadas na próxima figura e classificadas

nos três tipos de categorias apresentadas.

Sim 53%

Não 47%

Page 95: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

109

6.9 Caracterização quanto ao tipo de dificuldade de acesso aos prédios

públicos pelos participantes

Gráfico 16 - Tipo de dificuldade de acesso aos espaços públicos pelos idosos. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

De acordo com o Artigo 10º, capítulo V, da Política de Mobilidade Urbana, é

de competência dos órgãos e entidades públicos, na área de urbanismo, diminuir

barreiras arquitetônicas e urbanísticas, considerando o estado físico e a

independência de locomoção dos idosos.

Apesar dos idosos apresentam boa capacidade funcional em seis (75%) das

atividades de vida diária e em cinco (71,46%) das atividades instrumentais de vida

diária, demonstrando boas condições para o deslocamento no espaço urbano de

circulação, os resultados mostram que 62% dos idosos apresentam como

dificuldade de acesso aos espaços públicos, o estado precário das calçadas,

observado nos relatos abaixo:

“Nós idosos, temos muitos problemas quando saímos de casa...eu por

exemplo, quando vou ao banco, tenho que ir devagar, mas tem muita gente nas

calçadas andando rápido...”(M.C., sexo feminino, 74 anos).

“Eu sempre vou ao supermercado...tem um perto da minha casa, mas ando

às vezes com medo porque já caí na calçada, com buracos...”(I.M.R.M., sexo

feminino, 61 anos).

Neste contexto, a Lei Federal nº. 10.098/2000 e o Decreto nº. 5.296/2004

estabelecem que os municípios devam fiscalizar as questões relacionadas à

acessibilidade e mobilidade urbanas. Vale ressaltar ainda que a Constituição

Federal, Artigo 182 e Lei Federal nº. 10.257/2001, enuncia que a política urbana

62%

6% 19%

13%

Muitos pedestres nas calçadas Excesso de escadas

Estado precário das calçadas Todas as anteriores

Page 96: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

110

executada pelo município, pelo Estatuto da Cidade, deve ordenar o pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

habitantes, utilizando o Plano Diretor como o instrumento básico.

Assim, os aspectos da acessibilidade e mobilidade urbanas deveriam ser

direcionados a todos os indivíduos e garantir a oportunidade de se viver na cidade

com um mínimo de qualidade.

6.10 Caracterização quanto às mudanças no espaço urbano de circulação

Gráfico 17 - Mudança no espaço urbano de circulação para pedestres nos últimos anos. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Segundo Corrêa (2005), o espaço urbano é considerado um complexo

conjunto de usos da terra, fragmentado e articulado, cujos fragmentos mantêm

relações espaciais com outros espaços, em intensidade variável.

Essas relações espaciais, segundo o autor, integram de maneira diferente as

diversas partes da cidade e apresentam como núcleo de articulação, o centro da

cidade.

Essa fragmentação articulada é considerada a expressão espacial de

processos sociais, um reflexo da sociedade, de ações que são concretizadas no

presente e de ações que aconteceram e influenciaram de certa forma o espaço

urbano atual. O espaço urbano também é condicionante da sociedade,

desempenhando relações de produção, venda de mercadorias e prestação de

Sim 96%

Não 4%

Page 97: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

111

serviços, assim como assume uma função simbólica, com crenças e valores

vinculados aos diferentes segmentos da sociedade e a sua maneira de reprodução

(CORRÊA, 2005).

De acordo com os dados obtidos nas entrevistas, verifica-se que 96% dos

idosos relataram que o espaço urbano de circulação mudou nos últimos anos,

sugerindo, portanto, novos significados, tanto do ponto de vista estrutural quanto do

ponto de vista funcional.

Nesse contexto, Vasconcellos (1996) cita em seus estudos que o espaço

urbano, sob o aspecto físico, apresenta uma interação entre fluxo e fixos (movimento

de bens e pessoas) e sugere que o processo de estruturação espacial das grandes

cidades esteja relacionado ao processo de estruturação social, confirmando uma

relação significativa entre a sociedade e o espaço.

A cidade, segundo Lefebvre (1991), é o produto de questões culturais,

históricas, econômicas e políticas. Assim, com o crescimento das cidades, pôde-se

verificar mudanças importantes na vida urbana, especialmente, no que se refere aos

atores que nela atuam, que interagem entre si e com o meio no qual estão inseridos.

6.11 Caracterização quanto aos tipos de mudanças no espaço urbano de circulação

3%

67%10%

3%17%

Ruas mais asfaltadasMuitos carros nas ruas, piorando o trânsitoRuas mais asfaltadas e muitos carros nas ruas, piorando o trânsitoRuas mais asfaltadas e muitas pessoas circulando no espaço físicoMuitos carros nas ruas, piorando o trânsito e muitas pessoas

Fonte: Pesquisa de campo Gráfico 18 - Tipos de mudanças identificadas pelos idosos no espaço urbano de circulação.

Page 98: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

112

Dos idosos entrevistados, 20 (67%) relataram que a presença de muitos

carros nas ruas piorou o trânsito e foi considerada a mudança mais significativa no

espaço urbano de circulação nos últimos anos. Em segundo lugar, 5 (17%) idosos

identificaram como mudança importante, além de muitos carros nas ruas, muitas

pessoas circulando no espaço físico.

As falas dos idosos entrevistados demonstram como o caos urbano interfere

na sua qualidade de vida e como o processo de urbanização não consegue ser

compatível com as especificidades deste segmento social:

“Todo mundo percebe que Belém melhorou, mas também dá para ver que

piorou em algumas coisas, como no trânsito, tem muitos carros agora...tem que

tomar cuidado...”(M.L.P, 73 anos, sexo feminino);

“Às vezes tenho que sair sozinha e às vezes prefiro sair com alguém porque

agora tem muita gente nas ruas...e não respeitam os velhos, esbarra na

gente...”(E.L., 64 anos, sexo feminino).

Segundo Vasconcellos (1996), a reorganização das grandes cidades nos

países em desenvolvimento nos últimos anos e o processo de urbanização,

transformou o espaço urbano, ao mesmo tempo em que mudou os modos de

deslocamento utilizados. Acompanhando este processo de urbanização, algumas

conseqüências são observadas, como: a poluição do ambiente e a concentração de

milhões de pessoas nos grandes centros urbanos, privando os indivíduos da

satisfação de algumas necessidades, ditas essenciais à saúde pública, como

moradia, alimentação, abastecimento de água, assim como condições adequadas

de acessibilidade e mobilidade urbanas (RODRIGUES, 1996).

De acordo com as últimas pesquisas da Coordenadoria de Gestão de

Pessoas (1992), a taxa de urbanização dos cinco municípios da Região

Metropolitana de Belém é diferenciada, apresentando 99,8% em Belém e 99,4% em

Ananindeua. Como município pólo da RMB, Belém apresenta uma densidade

demográfica alta quando comparada aos demais municípios. Em 2000, Belém

apresentava 2.056,3 hab/km² e a diferenciação das densidades por espaço

delimitado demonstra que há uma maior densidade nos bairros centrais de Belém.

Dessa forma, torna-se fundamental o estudo do Plano Diretor da cidade de

Belém para que seja possível a compreensão dos aspectos que influenciam de

maneira significativa a qualidade de vida dos idosos, já que compõem parcela

Page 99: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

113

importante da população e que necessitam de um olhar diferenciado para as

questões relacionadas à acessibilidade e mobilidade urbanas.

6.12 Caracterização quanto às sugestões para melhorar o espaço urbano de

circulação

Gráfico 19 - Sugestões dos idosos para facilitar a acessibilidade e mobilidade/deslocamento no espaço urbano de circulação. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

A partir das entrevistas realizadas, verificou-se que 33% dos idosos sugeriram

melhorar as calçadas, melhorar a sinalização e sensibilizar a comunidade a fim de

facilitar a acessibilidade e a mobilidade no espaço urbano de circulação; enquanto

que 17% sugeriram melhorar as calçadas e capacitar os profissionais (como

motorista de ônibus) e 17% dos idosos acreditam que, além de melhorar as

calçadas, seria importante adequar o sistema de transporte público.

Dos três grupos que se destacaram, é importante enfatizar a melhora das

calçadas como aspecto fundamental para possibilitar de maneira adequada o

acesso aos serviços em termos de mobilidade.

Os espaços públicos, segundo Aguiar (2003), são os espaços de circulação,

abertos e acessíveis a todos os cidadãos a qualquer momento e nas cidades eles

representam uma parcela significativa do espaço urbano destinado a toda a

população e se apresentam na forma de ruas, praças, jardins e parques. Assim, as

13%10%

17%17%3%7%

33%

Melhorar as calçadasMelhorar as calçadas e a sinalizaçãoMelhorar as calçadas e adequar o sistema de transporte Melhorar as calçadas e capacitar profissionais (ex. motorista) Melhorar a sinalização e adequar o sistema de transporte Adequar o sistema de transporte e capacitar profissionais Melhorar as calçadas, melhorar a sinalização, sensibilizar a comunidade

Page 100: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

114

calçadas surgiram a partir da necessidade de separar os caminhos dos pedestres

dos caminhos dos veículos.

Ainda segundo a autora, com o crescimento das cidades e o processo

acelerado de urbanização, as calçadas assumiram uma função importante nas áreas

urbanas centrais, com a existência de atividades e aumento de mobiliário urbano.

Dessa forma, a redução das superfícies destinadas ao uso dos pedestres, nas

grandes cidades, vem gerando problemas como a produção de alterações físicas

relacionadas às mudanças funcionais e sociais das cidades.

No caso estudado, a adequação deste espaço público é necessária uma vez

que o modo de deslocamento a pé ainda é utilizado para a maioria dos

deslocamentos urbanos, considerado fundamental para os usuários com menor

poder aquisitivo, além de compreender que nas calçadas, como espaço público, as

pessoas circulam e estabelecem uma forma de convívio social.

Em relação ao sistema de transporte público, a dinâmica adquirida pela

cidade ao longo dos anos de crescimento transformou o espaço urbano de

circulação e propiciou a utilização do ônibus e do carro de passeio como importantes

meios de deslocamento (AGUIAR, 2003).

Ainda de acordo com a autora, verifica-se que com o aumento do número de

veículos, ônibus ou não, houve um aumento significativo de congestionamentos e de

agravos à saúde e, neste aspecto, a avaliação da qualidade do serviço nos sistemas

de transporte tem sido, desde a década de 80, objeto de estudo de diversos autores.

Em relação aos idosos, uma grande preocupação está relacionada aos

acidentes de trânsito, principalmente por conta da falta de capacitação dos

motoristas de ônibus. Segundo Souza et al (2003), os acidentes de trânsito são

merecedores de atenção entre a população idosa, principalmente ao se considerar o

seu caráter evitável.

De acordo com uma pesquisa realizada por Souza et al (2003) no município

de Maringá, no Estado do Paraná, em 2003, os idosos acidentados apresentavam

boa capacidade funcional para Atividades de Vida Diária (AVDs), revelando o grau

de autonomia e de independência para transitarem, principalmente, sozinhos pelas

ruas da cidade. Do grupo de 88 participantes, 52% encontravam-se na condição de

pedestre, 18% eram condutores, 13% ciclistas e 6% motociclistas.

Os dados da pesquisa citada mostraram que, no caso dos pedestres, as

dificuldades características da idade e as largas avenidas nem sempre permitiam

Page 101: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

115

concluir a sua travessia no tempo programado pelos semáforos, verificando-se

também que dentre os idosos, metade atravessava a rua fora da faixa de segurança,

enfatizando a necessidade de ações educativas e preventivas. Os autores citam

ainda que 23% dos acidentados relataram que ainda estavam próximos à calçada

quando foram atingidos, sinalizando a falta de cuidado dos motoristas.

Quanto aos motoristas de ônibus, questiona-se a atenção em relação aos

idosos, pois além de desconhecerem as limitações relacionadas ao processo normal

de envelhecimento, como as alterações na função cognitiva, a diminuição da

velocidade psicomotora e o declínio da acuidade visual, vale ressaltar que muitos

não estão preparados para atender as demandas dos usuários de maneira geral.

Assim, torna-se necessário e urgente a capacitação desses profissionais para

que possam garantir um deslocamento desse usuário com dificuldade de

mobilidade, o mais seguro possível.

Para Vasconcellos (2001), em particular, quanto ao transporte, os idosos

apresentam dificuldades em desempenhar os papéis de usuário de transporte

público e de pedestre. No primeiro momento, as dificuldades são físicas para entrar

no veículo, especialmente, pela falta de degraus adequados e pela superlotação. Já

no segundo momento, a dificuldade está relacionada ao tempo curto dado para a

travessia das vias, o que não garante segurança.

De acordo com a Lei Federal nº. 10.048/2000, todo veículo para transporte

público, a ser fabricado no Brasil, deve ser planejado de forma a facilitar o acesso

das pessoas com dificuldades de mobilidade, o que faz com que o Poder Público só

aceite, quando da renovação da frota, veículos livres de barreiras, a fim de permitir o

fácil embarque e desembarque dos usuários.

Segundo a percepção dos idosos entrevistados acerca dos fatores que

podem ser modificados para facilitar o seu deslocamento, é importante considerar

que muitos dependem, principalmente, do Poder Público para colocar em prática o

que as leis enunciam, assim como da conscientização dos profissionais sobre as

demandas reais desses usuários do espaço urbano de circulação.

Só com as transformações necessárias será possível contribuir para uma

maior qualidade de vida destes idosos, uma vez que grande parte dos entrevistados

se desloca a pé e de ônibus (56%).

Page 102: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

116

6.13 Questionário BOMFAQ e a capacidade funcional dos idosos

De acordo com a literatura, o envelhecimento apresenta características

específicas como o declínio de muitas funções, como a função motora e

conseqüente dependência para a realização de algumas atividades, porém, com a

mudança no perfil do sujeito que envelhece, a manutenção da autonomia e da

independência constituem-se em variáveis fundamentais para uma velhice saudável

(RUSSO, 1999).

A seguir serão apresentados os resultados referentes ao desempenho da

capacidade funcional em atividades de vida diária e atividades instrumentais de vida

diária.

Tabela 11 - Dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs)

ATIVIDADES Com dificuldade

% Sem dificuldade

%

Deitar/levantar da cama 6 20 24 80 Comer 0 0 30 100

Pentear o cabelo 0 0 30 100 Andar no plano 1 3,33 29 96,67 Tomar banho 1 3,33 29 96,67

Vestir-se 0 0 30 100 Ir ao banheiro em tempo 0 0 30 100 Cortar as unhas dos pés 10 33,33 20 66,67

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 20 - Dificuldades nas atividades de vida diária (AVDs) Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

624

0 30 030

1 29 1

290

30 0

3010 20

0 5 10 15 20 25 30

Frequência

Deitar/levantar da cama Comer

Pentear cabelo Andar no plano

Tomar banho Vestir-se

Ir ao banheiro em tempo Cortar unhas dos pés

Sem dificuldade Com dificuldade

Page 103: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

117

Tabela 12 - Dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). ATIVIDADES Com

dificuldade % Sem

dificuldade %

Subir escada (1 lance) 7 23,33 23 76,67 Medicar-se na hora 7 23,33 23 76,67 Andar perto de casa 0 0 30 100

Fazer compras 0 0 30 100 Preparar refeições 10 33,33 20 66,67 Sair de condução 2 6,67 28 93,33

Fazer limpeza de casa 21 70 9 30 Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 21 - Dificuldades nas atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Segundo a Organização Mundial de Saúde (1998), a capacidade funcional

seria um fator importante para o diagnóstico de saúde mental e física.

Questões biológicas, hábitos, estilo de vida, contexto sócio-econômico-

ambiental, podem apresentar conseqüências negativas na mudança na capacidade

funcional do idoso, dificultando o seu deslocamento no espaço urbano de circulação

e a própria manutenção de laços sociais, possibilitando ou não a inserção do idoso

na sociedade.

Assim, a capacidade funcional está relacionada à preservação da realização

de Atividades de Vida Diária e à capacidade de desenvolver Atividades

Instrumentais de Vida Diária (DIOGO; GOMES, 2006). No caso dos idosos do

Projeto Vida Ativa, das 8 Atividades de Vida Diária, somente em duas (25%), deitar e

levantar da cama e cortar as unhas dos pés, os idosos apresentaram dificuldades,

sendo o cortar as unhas dos pés a mais significativa. Deste grupo, 33,33% dos

7 23

7 23

0 30

0 30 10

20 2

2821 9

0 5 10 15 20 25 30

Subir escada (1 lance) Medicar-se na hora Andar perta da casa

Fazer compras Prepara refeições Sair de condução

Fazer limpeza da casa

Sem dificuldade Com dificuldade

Page 104: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

118

idosos entrevistados relataram esta dificuldade e relacionaram ao problema de

coluna (citado por alguns idosos sem confirmação diagnóstica).

Na tabela 12, das 7 atividades instrumentais de vida diária, os idosos

apresentaram dificuldades significativas em duas (28,54%): preparar as refeições

(33,33%) e fazer limpeza da casa (70%). As duas atividades envolvem movimento

constante, relatando a necessidade de auxilio para não ocasionar muito esforço.

O questionário BOMFAQ mostrou que dos idosos entrevistados, em seis

(75%) das atividades instrumentais de vida diária, apresentaram boa capacidade

funcional e em cinco (71,46%) das atividades instrumentais de vida diária

apresentaram boa capacidade funcional.

Para Rossato et al (2008), a condição funcional é um indicador fundamental

para a qualidade de vida na velhice e está relacionado à capacidade de manter as

habilidades físicas e mentais exigidas para uma boa vida. Os resultados positivos

encontrados no estudo indicam que os idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira

apresentam condições favoráveis para a manutenção da autonomia e

independência, o que possibilita o deslocamento no espaço urbano de circulação.

6.14. A percepção do idoso em relação ao espaço físico utilizado a partir de indicadores de qualidade

Na metodologia Ferreira; Sanches (2003), a qualidade dos espaços é

avaliada pela percepção dos pedestres em relação aos aspectos ambientais que

caracterizam este espaço. Os aspectos ambientais considerados fundamentais

nesta metodologia foram: conforto, seguridade, continuidade e segurança.

O item conforto está relacionado ao grau de esforço físico que facilita o

movimento dos pedestres. A seguridade está relacionada ao grau de vulnerabilidade

quanto à iluminação (gerador de insegurança). A continuidade mostra a presença de

trechos de calçadas sem interrupções que garantam o fluxo de pedestres. Já o

aspecto segurança indica a possibilidade de quedas.

Nesta pesquisa, os idosos foram orientados a informar por ordem de

importância, os indicadores de qualidade das calçadas, sendo o número 0 (zero) o

mais prejudicial.

Page 105: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

119

Cada um dos indicadores foi esclarecido com linguagem clara com a

finalidade de facilitar a compreensão pelos idosos, como segue abaixo:

Conforto: “o importante é que a calçada ofereça conforto ao pedestre, sem

rachaduras e/ou desníveis”;

Seguridade: “é importante que a calçada ofereça boa iluminação e gere

sensação de segurança”;

Continuidade: “é importante uma calçada sem obstáculos, como bancas de

jornal, sem carros ou mesas”;

Segurança: “o mais importante é que a calçada não ofereça conflito entre

pedestres e carros e não dificulte o caminhar do pedestre”.

A metodologia de Ferreira; Sanches (2003) é considerada ferramenta

fundamental para contribuir na mudança de políticas públicas voltadas para a

adequação do espaço urbano de circulação a partir do momento em que considera o

olhar do pedestre um termômetro em relação ao grau de satisfação no que diz

respeito à qualidade dos espaços públicos utilizados.

Gráfico 22 - Número de idosos em relação ao conforto como indicador de qualidade das calçadas. Fonte: Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

6

15

7

1

1

0 2 4 6 8 10 12 14 16 Frequência

Calçadas sem arb, com desníveis e/ou inclin, impossibilitando o caminhamento dos pedestres com dificuldade de locomoção

Calçadas sem arborização, comdesníveis e inclinações, dificultando o caminhamento dos pedestres

Calçadas arborizadas comdesníveis e inclinações, dificultando o caminhamento dos pedestres

Calçadas sem desnível e cominclinações leves

Calçadas sem desnível einclinações e com arborização

Page 106: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

120

De acordo com a figura, verifica-se que 15 (50%) idosos relataram que as

calçadas encontram-se sem arborização, com desníveis e inclinações, dificultando o

caminhamento dos pedestres.

Em relação à qualidade das calçadas, muitos trabalhos tentam explicar

quantitativamente e qualitativamente, as características que tornam um ambiente

agradável para os pedestres, porém, apesar de existirem leis, a realidade está

distante do que se propõe principalmente no que se refere ao deslocamento dos

idosos (AGUIAR, 2003).

De acordo com Ribeiro et al (2008), as condições ambientais têm influenciado

de maneira significativa o risco de cair e o estado precário das calçadas não tem

oferecido as condições necessárias para o conforto dos idosos no que diz respeito à

mobilidade no espaço urbano de circulação.

Ainda de acordo com os autores, como conseqüências das quedas, os idosos

passam a experimentar sentimentos negativos, alterações de memória e

concentração, baixa auto-estima, assim como alterações na imagem corporal e na

aparência.

Nesse contexto, um ambiente confortável está relacionado ao grau de esforço

físico, que seja adequado para os idosos, com funcionalidade e que possa promover

o controle pessoal e facilitar a interação social.

Page 107: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

121

Gráfico 23 - Número de idosos em relação à seguridade como indicador de qualidade das calçadas.

Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Uma boa iluminação pública significa promover um adequado

desenvolvimento social e econômico da cidade. Neste contexto, nos grandes centros

urbanos, a iluminação pública é considerada essencial para a qualidade de vida,

uma vez que está diretamente relacionada à segurança pública no tráfego,

possibilita um olhar diferenciado para a paisagem da cidade, valorizando

monumentos, além de facilitar a hierarquia viária e orientar melhor os percursos

utilizados pelos pedestres (ELETROBRÁS).

Segundo os dados coletados, 14 idosos (46,67%) relataram que a iluminação

pública é deficiente, gerando sensação de insegurança.

Considerando a realidade da população idosa, de acordo com Lavinsky

(2008), mais ou menos 5 milhões de brasileiros são portadores da Doença Macular

Relacionada à Idade (em pelo menos um olho). Tal patologia está relacionada ao

processo natural de envelhecimento e não tem causa específica e, dos idosos

entrevistados, 43% relataram dificuldade visual.

De acordo com dados fornecidos pela Eletrobrás, sob o ponto de vista

constitucional, a prestação dos serviços públicos de interesse local é de

responsabilidade dos municípios e, por se tratar de um serviço que requer o

14

9

7

0 2 4 6 8 10 12 14 Frequência

Área com iluminação públicadeficiente

Área com iluminação média

Área com boa iluminação pública

Page 108: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

122

fornecimento de energia elétrica, está submetido à legislação federal. Assim, as

condições de fornecimento de energia direcionada para a iluminação pública são

regulamentadas pela resolução da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)

nº. 456/2000.

Verifica-se que as obras públicas nas grandes cidades apresentam como

objetivo maior a valorização dos grandes centros históricos e de pontos turísticos e

no que diz respeito à iluminação pública, em particular, não há um direcionamento

para as necessidades dos idosos, com a elaboração de políticas públicas que

possam redefinir a posição da população idosa na sociedade e que privilegiem o

cuidado na família e nos espaços públicos.

De acordo com Márcio Homci, diretor do Departamento de Iluminação Pública

da Secretaria Municipal de Urbanização (SEURB), o serviço vem sendo otimizado

desde o final de 2008. O diretor explicou, em algumas entrevistas, que os problemas

das luminárias acontecem em toda a cidade e justifica que os equipamentos são

antigos e ineficientes. Comenta ainda que há o projeto RELUZ, orçado em R$ 20

milhões (R$ 17 milhões do Sistema Eletrobrás e R$ 3 milhões do Município de

Belém) e que possibilitará a substituição de 37 mil pontos de iluminação pública e a

implantação de 16 mil novos pontos de iluminação em áreas com déficit.

O diretor comenta ainda a elaboração do Plano Diretor de Iluminação de

Belém. Tal Plano permitirá que a Prefeitura execute de maneira adequada as ações

necessárias para tornar Belém uma cidade iluminada e será complementado com o

Cadastro do Parque de Iluminação Pública de Belém (instrumento de controle dos

pontos de iluminação da cidade).

Page 109: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

123

Gráfico 24 - Número de idosos em relação à continuidade como indicador de qualidade das calçadas. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

De acordo com a figura, 10 idosos relataram que as calçadas apresentam

desníveis e obstáculos que obrigam o pedestre a caminhar no leito da rua.

O problema das calçadas constitui-se em um dos maiores perigos para os

idosos em termos de mobilidade no espaço urbano de circulação, impedindo a

circulação livre e segura. Segundo Ferreira (2007), 60 % das calçadas públicas de

Belém são irregulares e a ilegalidade está no formato, altura e alinhamento, que

desobedecem ao que prevê as legislações como o Código de Postura do Município

e a Lei de Acessibilidade.

Nesse contexto, o Código de Posturas do Município, lei n° 7.055 de 1977,

inserido no conjunto da Legislação Urbanística, tem como um dos objetivos

principais resgatar o respeito ao direito individual e ao coletivo, tratando de

diferentes aspectos: higiene e saúde pública, proteção do aspecto paisagístico e

histórico, insalubridade dos estabelecimentos comerciais, industriais e habitações.

Além disso, dispõe sobre as infrações e penalidades ao Código (SANTANA, 2009).

Para a autora, a Secretaria Municipal de Urbanismo contabilizou até julho de

2007, desde a criação do Código de Postura do Município (1977), um total de 1.146

10

8

2

7

3

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Frequência

Calçadas com desníveis e obstáculos que obrigam o usuário a

Calçadas usadas comoestacionamento

Calçadas ocupadas parcialmente por outros usos

Calçadas com mobiliário,dificultando o caminhamento

Calçadas sem obstáculos e commobiliário urbano

Continuidade

Page 110: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

124

notificações, demolições, regularizações, ordens de serviço e notificações jurídicas

emitidas a moradores e comerciantes que precisam se adequar ao que prevê a lei.

Em agosto de 2007, foram realizadas 385 novas notificações para consertar e

corrigir calçadas consideradas perigosas para crianças, jovens, adultos e a terceira

idade.

Ainda de acordo com a autora, os acidentes acabam provocando processos

judiciais que tramitam na Justiça Estadual contra a prefeitura. Hoje, na Secretaria

Municipal de Assuntos Jurídicos (Semaj), sete ações ajuizadas estão nas mãos dos

procuradores municipais. Em todas elas, o pedido de indenizações, que variam de

R$ 25 mil a R$ 200 mil, por danos físicos e materiais provocados por acidentes nas

calçadas irregulares de Belém.

Sabe-se que a regularização das calçadas é considerada uma obra publica e

o prefeito Duciomar Costa mostrou ser consciente dos perigos oferecidos pelas

calçadas irregulares na cidade de Belém. De acordo com o prefeito em entrevistas

realizadas no ano de 2007 e 2008, estimou que, no ano de 2007, já regularizou 14

mil metros de calçadas em Belém, totalizando 14 quilômetros do projeto denominado

Faixa Cidadã (criada pela Secretaria Municipal de Urbanismo e pela Secretaria

Municipal de Saneamento).

O prefeito explica ainda que o objetivo da Faixa Cidadã é deixar a cidade

adaptada à Lei da Acessibilidade, constante do Estatuto do Idoso, e à realidade de

uma parcela importante da população, os portadores de necessidades especiais.

Segundo ele, a faixa criada no calçamento é um referencial porque prevê um

nivelamento de todas as calçadas e a implantação de uma faixa tátil indicadora de

direção, além de outra com indicação de alerta para o meio-fio e a via, com

características importantes para o deslocamento adequado para o cadeirante, para o

idoso e ao cego.

O projeto é considerado, por muitos pesquisadores, inédito na Região Norte e

já observa-se nas avenidas Governador José Malcher, Magalhães Barata, Duque de

Caxias, Generalíssimo e na Avenida Presidente Vargas. A faixa também está em

processo de implantação na avenida Marquês de Herval, totalizando 44.065,17

metros quadrados de novas calçadas e da faixa Cidadã.

Verificam-se, assim, mudanças importantes no que diz respeito à

acessibilidade e mobilidade de idosos e pessoas portadoras de mobilidade reduzida.

Page 111: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

125

Gráfico 25 - Número de idosos em relação à segurança como indicador de qualidade das calçadas. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Segundo Silva; Silva (2008), a maior incidência de quedas encontra-se na

terceira idade e está relacionada à fatores extrínsecos, como assoalhos

escorregadios, tapetes soltos, iluminação inadequada e calçadas com desníveis e

estreitas. Para as autoras, estima-se que há uma queda para um cada três

indivíduos com mais de 65 anos e que um em vinte dos que sofreram quedas,

apresentam como conseqüência fraturas ou necessitam de internação e dos idosos

acima de 80 anos, 40% caem a cada ano.

Além das causas relacionadas à idade, os fatores ambientais constituem-se

como os mais importantes fatores extrínsecos associados às quedas em idosos

(PAPALEO, 1996).

Da Silva; Silva (2008) ainda relatam que ambientes inseguros aumentam a

probabilidade de escorregar, tropeçar e cair. Tais riscos dependerão da freqüência

da exposição ao ambiente inseguro e da capacidade funcional do idoso.

Segundo Gold (2003), caminhar a pé é considerada uma das atividades mais

fundamentais do ser humano. Nas áreas urbanas, segundo o autor, com espaços

limitados e com a incompatibilidade veículo/pedestre, surgiu a calçada como espaço

físico importante a fim de possibilitar a circulação adequada de pessoas que utilizam

6

8

11

3

2

0 2 4 6 8 10 12 Frequência

Área com existência de calçadas,mas o pedestre disputa o le

Área com conflitos entre pedestrese veículos (estacionament

Área com calçadas estreitas eoferecendo riscos aos pedestre

Área sem conflito entre pedestres ecom acessibilidade média

Área s conflito c veic, obst, desn, qdificultem o caminham

Page 112: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

126

como o caminhar como modo de deslocamento e, sabe-se que, em muitas cidades

brasileiras, mais do que 30% dos deslocamentos diários da população são

realizados a pé.

Assim, a calçada deveria oferecer ao pedestre a segurança para a circulação

a pé, sem dividir o espaço com veículos ou mobiliários urbanos, porém, as

condições inadequadas das calçadas brasileiras restringem a sua utilização pelos

pedestres, principalmente pelos idosos. Tal situação obriga muitos dos pedestres a

caminharem na rua sem calçada, correndo um perigo muito maior se houver a

circulação de veículos no mesmo espaço (GOLD, 2003).

O gráfico 25 mostra que, dos idosos entrevistados, 11 (33,67%) relataram que

calçadas estreitas e oferecendo riscos aos pedestres são considerados aspectos

importantes para a segurança como indicador da qualidade da calçada.

Para Gold (2003), a largura mínima livre necessária de uma calçada é de

1,5m para o deslocamento de dois adultos lado a lado ou em direções opostas,

porém, considerando-se a existência de mobiliário urbano, a largura recomendável é

de 2,3m.

De acordo com o Estatuto do Idoso (2003), a Política Nacional do Idoso

(1994) e Política Estadual de Amparo ao Idoso (2003), apesar dos avanços em

termos de políticas públicas em relação aos idosos, as necessidades reais no

quanto à acessibilidade e mobilidade deste segmento social ainda não estão sendo

cumpridas.

Page 113: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

127

6.15 Grau de satisfação do idoso em relação aos indicadores de qualidade das

calçadas dos espaços mais utilizados.

Gráfico 26 - Grau de satisfação do idoso em relação ao conforto como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 27 - Grau de satisfação do idoso em relação à seguridade como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

7%

93%

SatisfeitoInsatisfeito

7%

90%

3%

SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente

Page 114: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

128

Gráfico 28 - Grau de satisfação do idoso em relação à continuidade como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 29 - Grau de satisfação do idoso em relação à segurança como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Em relação aos gráficos, verifica-se que os idosos entrevistados apresentam

algo grau de insatisfação em relação aos indicadores de qualidade das calçadas,

totalizando 93% em relação ao conforto, 90% em relação à seguridade, 86% em

relação à continuidade e 84% em relação à segurança.

Os valores estão relacionados aos espaços físicos mais utilizados em suas

atividades cotidianas, além da Tuna Luso Brasileira. São eles: agência bancária,

7%

86%

7%

SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente

3%

84%

13%

SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente

Page 115: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

129

farmácia e supermercado (46,67%), agência bancária e supermercado (3,33%),

agência bancária, farmácia, supermercado e shopping (30%), posto de saúde e

supermercado (6,67%), agência bancária e posto de saúde (3,33%), farmácia,

supermercado e shopping (3,33%) e 6,67% citaram que freqüentam todos os

lugares.

De acordo com as entrevistas realizadas, os idosos que freqüentam as

agências bancárias, farmácias e supermercados (46,67%), relataram que são os

lugares considerados mais importantes uma vez que estão relacionados às

atividades básicas, como o recebimento da aposentadoria, a compra de

medicamentos necessários e de alimentos para a manutenção da qualidade de vida.

É importante considerar que nenhum idoso citou as praças públicas como

espaço físico utilizado para o lazer, mas citaram o shopping com tal função.

Comentaram nas entrevistas que a violência foi considerada o aspecto que

contribuiu para que o shopping fosse considerado o espaço mais seguro para o

lazer, além do Núcleo da Terceira Idade (Tuna Luso Brasileira).

De acordo com Minayo (2003), compreender a violência nos grandes centros

urbanos é um dos grandes desafios e maior ainda quando relacionado ao idoso.

Para a autora, no conjunto de violências que mais vitimaram os idosos no período de

1980 a 1998, foram os acidentes de trânsito, as quedas e homicídios.

De acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do SUS, em 1999,

foram registradas 69.637 internações por violências. Destas, 55% por quedas e

23,4% por acidentes de trânsito. Além dos dados obtidos pelo sistema de

informação do SUS, os registros policiais confirmam que idosos são vítimas de

seqüestros, assaltos, invasão de domicilio, mesmo que em número menor, mas da

mesma maneira que acontece em outros segmentos da sociedade (MINAYO, 2003).

Os dados confirmam que a percepção que os idosos apresentam sobre a

cidade foi modificada ao longo dos anos e possibilitou a mudança de comportamento

em relação à utilização de espaços para o lazer, substituindo as praças públicas

pelos shoppings.

Segundo Ferreira; Sanches (2003), a percepção baseia-se na capacidade que

o homem possui de produzir informações a partir de impactos ambientais urbanos

que constituem seu cotidiano. A partir dessa capacidade, o ser humano conhece seu

ambiente e é capaz de, sobre ele, produzir opiniões e atitudes, gerando

informações. Ainda de acordo com os autores, as atitudes caracterizam como uma

Page 116: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

130

tendência à ação, que é adquirida no ambiente em que se vive e deriva de

experiências pessoais e também de fatores e personalidade.

6.16 Gráficos referentes ao grau de satisfação do idoso em relação aos

indicadores de qualidade das calçadas do espaço Tuna Luso Brasileira

Gráfico 30 - Grau de satisfação do idoso em relação ao conforto como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 31 - Grau de satisfação do idoso em relação à seguridade como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesqusia de campo, 2008.

3%

87%

10%

SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente

17%

70%

13%

SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente

Page 117: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

131

Gráfico 32 - Grau de satisfação do idoso em relação à continuidade como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo, 2008.

Gráfico 33 - Grau de satisfação do idoso em relação à segurança como indicador de qualidade da calçada. Fonte: Pesquisa de campo. 2008.

Em relação aos gráficos, verifica-se que os idosos entrevistados apresentam

algo grau de insatisfação em relação aos indicadores de qualidade das calçadas,

totalizando 87% em relação ao conforto, 70% em relação à seguridade, 87% em

relação à continuidade e 87% em relação à segurança.

É importante enfatizar que todos os idosos entrevistados não apresentam

nenhum tipo de auxílio para se deslocar e que deste grupo, 75% apresenta boa

10%

87%

3%

SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente

3%

87%

10%

SatisfeitoInsatisfeitoIndiferente

Page 118: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

132

capacidade funcional para Atividades de Vida Diária e 71,46% apresenta boa

capacidade funcional para Atividades Instrumentais de Vida Diária.

Durante as entrevistas, os idosos relataram que fazer parte do Núcleo da

Terceira Idade fez com que eles renovassem a vontade de viver, e muitos deles

(36,7%) apresentaram a saúde como motivo principal, enquanto que 46,7%

apresentaram não só a saúde, mas também a necessidade de novas companhias

como motivo principal.

Apesar do alto grau de insatisfação demonstrado pelos idosos em relação aos

indicadores de qualidade das calçadas, o que possibilita a permanência no Núcleo

da Terceira Idade, em especial, no Pólo Tuna Luso Brasileira é o fato de

encontrarem neste espaço, uma forma de convívio social.

De acordo com Marques (2009), na década de 70 houve um aumento dos

grupos de convivência de idosos em todo o país, especificamente nos clubes,

paróquias, universidades e centros de saúde. Para o autor, esses grupos surgiram

com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar da população a partir dos 60

anos, considerando que o processo natural de envelhecimento apresenta

características que, por si só, comprometem a qualidade de vida do idoso.

É importante enfatizar que os idosos pertencentes aos Núcleos da Terceira

Idade vivenciam a velhice de forma diferenciada, com uma participação funcional e

significativa em atividades variadas. No caso dos idosos inseridos no Pólo Tuna

Luso Brasileira, destacam-se: hidroginástica, alongamento e atividades de

memorização (detalhadas na metodologia).

Além da realização de diferentes atividades lúdico-terapêuticas, a participação

do idoso no Projeto Vida Ativa possibilita a sua inserção na sociedade, verificando-

se um compromisso não só com o bem-estar físico individual, mas coletivo.

Paralelamente, o idoso do núcleo pesquisado demonstra uma

conscientização importante no cenário político e social, capaz de resgatar o seu

verdadeiro papel na sociedade com a manutenção da autonomia e a realização

pessoal. Tais aspectos contribuem para a construção de um novo paradigma sobre

o envelhecimento, uma nova mentalidade acerca das reais necessidades dos

idosos, permitindo-lhes uma percepção mais detalhada sobre as suas condições de

vida.

Em relação à procura por novas companhias em grupos de convivência,

pouco se tem na literatura sobre estudos realizados na cidade de Belém.

Page 119: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

133

Segundo Ramos (2002), a qualidade dos contatos sociais, independente da

idade, reforça um sentimento de pertencer à sociedade e que afeta positivamente a

saúde de qualquer indivíduo. Neste caso, considera-se a realidade dos idosos como

indivíduos cada vez mais ávidos por melhorar a sua qualidade de vida a partir da

manutenção das relações sociais.

Portanto, diante dos dados apresentados, a pesquisa permite destacar três

pontos centrais. Primeiro, uma observação da qualidade de vida do idoso,

relacionada ao crescimento de sua rede de relações sociais.

Como segundo ponto, a relação do aspecto citado ao cenário urbano,

expresso através do tempo de trajeto, a dependência, a baixa autonomia advinda de

um espaço pouco estruturado. E, finalmente, as contribuições das questões legais

aos resultados desta pesquisa, como o Plano Diretor da Cidade de Belém, o

Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso, evidenciando a adequação de uma

política de mobilidade e acessibilidade que atenda às necessidades deste segmento

social.

Porém, no relato dos idosos inseridos no Projeto Vida Ativa, não é isso que

evidencia como resultado:

“Apesar de saber que temos direitos, não encontramos apoio quando

precisamos...para andar nas ruas e calçadas de Belém ainda é difícil...”(E.O., sexo

feminino, 64 anos);

“Não posso deixar de fazer as minhas atividades físicas por causa dos

buracos das calçadas...é preciso andar com cuidado...”(A.A., sexo feminino, 70

anos);

“Eu já me acostumei com a falta de atenção aos mais velhos...sou mais

um...”(P.L.J., sexo masculino, 66 anos);

“Quando eu me matriculei no núcleo, era só pela saúde, eu tinha problema de

coluna, mas agora tenho atividades de lazer e tenho muitos amigos...não vou deixar

de vir por causa das calçadas mal feitas...”(I.G., sexo feminino, 72 anos).

Page 120: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

134

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cenário atual confirma o crescimento cada vez mais acelerado da

população idosa e deixa claro que, a saúde do idoso não se refere somente ao

controle e prevenção de doenças, mas a atenção ao processo de envelhecimento

engloba o ser físico, mental e a independência, seja econômica ou funcional.

O envelhecimento, por si só, apresenta mudanças biológicas e emocionais

que podem modificar a rotina de vida do indivíduo, porém, verifica-se que em termos

de políticas públicas, há propostas que não atendem as reais necessidades deste

segmento populacional, principalmente, se considerarmos a inserção deste idoso no

espaço urbano de circulação.

Sabe-se que o envelhecimento está diretamente relacionado às condições e

qualidade de vida dos indivíduos e assim, a qualidade de vida passa a ter um

significado mais amplo, subjetivo e dependente de vários aspectos, como da

acessibilidade e mobilidade urbanas.

Apesar de reconhecer a existência e o significado dos aspectos legais, como

o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso que dispõe sobre leis que

garantem o direito de ir e vir deste segmento social, verificam-se relatos de

dificuldades para circular no espaço urbano.

Nesse contexto, Belém, considerada um grande centro urbano, apresenta a

necessidade de adaptar os espaços físicos a fim de possibilitar um deslocamento

adequado da sua população idosa, na medida em que o Pará é considerado o

quarto estado no Brasil em número de indivíduos inseridos na Terceira Idade.

Grande parte desta população demonstra independência e busca cada vez mais a

inserção na sociedade de maneira funcional.

Deste modo, os núcleos da Terceira Idade são considerados espaços

importantes para a reconstrução da cidadania e o estabelecimento de novos laços

sociais. Verifica-se que a possibilidade de manutenção da independência

proporciona uma maior satisfação com a vida e, consequentemente, melhor

qualidade de vida.

Além do Pólo Tuna Luso Brasileira, os espaços urbanos mais utilizados pelos

idosos são agência bancária, farmácia e supermercado e foi possível identificar, a

partir dos relatos dos participantes, que há 100% de insatisfação em relação aos

Page 121: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

135

indicadores de qualidade do espaço urbano de circulação, como conforto,

seguridade, continuidade e segurança, especificamente no que diz respeito aos

desníveis e obstáculos observados nas calçadas, assim como a iluminação

deficiente.

É importante relacionar tal resultado à ocorrência de quedas e, apesar de

todos apresentarem boa capacidade funcional, 53% dos entrevistados relataram ter

caído em ambiente externo. Portanto, não é somente a condição de saúde que

possibilitará as quedas, mas as características do espaço físico.

A pesquisa objetivou compreender como os idosos, inseridos em um núcleo

da terceira idade, dentro de suas características e dentre tantos sujeitos urbanos,

percebem as limitações de acessibilidade e mobilidade no espaço urbano por onde

circulam a partir da execução de suas atividades cotidianas.

Os idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira percebem que há dificuldades

importantes no que diz respeito à mobilidade e acessibilidade no espaço urbano de

circulação e muitas delas não estão relacionadas somente ao processo natural do

envelhecimento, mas principalmente, ao caos urbano evidenciado em muitos relatos,

como na mudança do trânsito e aumento do número de pedestres circulando nas

ruas e calçadas.

Assim, considerando o crescimento acelerado das grandes cidades e o

oferecimento de barreiras arquitetônicas e urbanísticas que comprometem o

deslocamento do idoso no espaço urbano de circulação e colocam em risco a sua

integridade física, torna-se fundamental rever o conceito de desenho universal. Esse

aspecto passa a ser instrumento obrigatório para a eliminação de tais barreiras,

além de possibilitar a construção de uma sociedade inclusiva que permita ao idoso

se deslocar com autonomia e segurança.

O estudo possibilitou compreender que o espaço público constitui-se como

elemento fundamental para estruturar o território considerado urbano além de

desempenhar funções urbanísticas, como sociais e ambientais.

Cabe, então, enfatizar que os idosos inseridos no Projeto Vida Ativa, apesar

de manifestarem insatisfação em relação à qualidade dos espaços urbanos

utilizados, mantêm o deslocamento nestes espaços, principalmente pelos laços

sociais estabelecidos.

A dinâmica social do espaço urbano é, neste caso, definida pelas

características específicas da população, tais como as necessidades de

Page 122: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

136

estabelecimento e manutenção de vínculos sociais. É neste sentido que o espaço

público assume importante função no cotidiano dos idosos.

Portanto, o espaço público com a função de organizar e estruturar o espaço

urbano, também desempenha importante papel na criação de boas condições de

acessibilidade e mobilidade urbanas que, quando adaptadas à realidade dos idosos,

promovem a valorização deste espaço e possibilitam a manutenção da sua

autonomia e independência.

Conclui-se que, no cotidiano urbano, faz-se necessário implementar e rever

as políticas públicas de atenção à pessoa idosa que promovam o uso e a

acessibilidade dos espaços públicos de forma humanizada.

Torna-se fundamental a adaptação dos espaços urbanos a fim de garantir o

direito de ir e vir deste segmento da população, além de contribuir para o resgate do

espaço público como forma de convívio social, uma vez que estes idosos ainda

encontram dificuldades para se manterem como atores sociais importantes para o

desenvolvimento histórico, cultural, social e político da sociedade na qual estão

inseridos.

Page 123: Percepção dos idosos acerca do espaço urbano de circulação a

137

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146

APÊNDICES

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147

APÊNDICE A

TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO

Eu, Voyner Ravena Cañete, Professora e Orientadora credenciada junto ao

Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Urbano, aceito orientar a aluna Andréa Carla Jorge Reis na elaboração do projeto

intitulado “Os Idosos e a Circulação no Espaço Urbano: a locomoção dos idosos do

Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na Cidade de Belém/PA.”

Declaro ainda ter ciência dos Regulamentos e Normas de Orientação do

Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano.

Belém, ____ de ________ de 2008.

___________________________

Voyner Ravena Cañete

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148

APÊNDICE B

AUTORIZAÇÃO DA SECRETARIA DE ESPORTE E LAZER

Eu, _________________________________, representante da Secretaria de

Estado de Esporte e Lazer do Estado do Pará, autorizo a realização da pesquisa de

dissertação intitulada “Os Idosos e a Circulação no Espaço Urbano: a locomoção

dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na Cidade de

Belém/PA.”.

Estou ciente que a pesquisa tem fins puramente científicos e educacionais e

que o objetivo do estudo é compreender como os idosos, dentro de suas

singularidades e dentre tantos sujeitos urbanos, percebem a limitação de mobilidade

e acessibilidade no espaço urbano onde circulam a partir da execução de suas

atividades cotidianas, além disso, estou ciente que os resultados obtidos durante o

estudo serão mantidos em sigilo.

Belém, ___ de _______ de 2008.

___________________________

Assinatura

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149

APÊNDICE C

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

“OS IDOSOS E A CIRCULAÇÃO NO ESPAÇO URBANO: A LOCOMOÇÃO

DOS IDOSOS DO PÓLO TUNA LUSO BRASILEIRA DO PROJETO VIDA ATIVA NA

CIDADE DE BELÉM/PA.”

Você está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa acima

citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a

pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita

importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará

nenhum prejuízo a você.

Eu, ___________________________, residente e domiciliado na

______________________, portador da Cédula de identidade, RG ____________ ,

e inscrito no CPF_________________ nascido(a) em _____ / _____ /_______ ,

abaixo assinado(a), concordo de livre e espontânea vontade em participar como

voluntário(a) do estudo “Os Idosos e a Circulação no Espaço Urbano: a locomoção

dos idosos do Pólo Tuna Luso Brasileira do Projeto Vida Ativa na Cidade de

Belém/PA.”

Estou ciente que:

I. A pesquisa tem fins puramente científicos e educacionais. O objetivo

do estudo é compreender como os idosos, dentro de suas singularidades e dentre

tantos sujeitos urbanos, percebem a limitação de mobilidade e acessibilidade no

espaço urbano onde circulam a partir da execução de suas atividades cotidianas;

II. Os dados serão coletados através de questionários e entrevistas que serão

gravados;

III. Não sou obrigado a responder as perguntas realizadas;

IV. A participação neste projeto não tem objetivo de me submeter a um

tratamento, bem como não me causará nenhum gasto com relação aos

procedimentos efetuados com o estudo;

V. Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo

no momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;

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150

VI. A desistência não causará nenhum prejuízo à minha saúde ou bem estar

físico;

VII. A minha participação neste projeto contribuirá para acrescentar à literatura

dados referentes ao tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da

qualidade de vida e não causará nenhum risco;

VIII. Não receberei remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa,

sendo minha participação voluntária;

IX. Os resultados obtidos durante o estudo serão mantidos em sigilo;

X. Concordo que os resultados sejam divulgados em publicações científicas,

desde que meus dados pessoais não sejam mencionados;

XI. Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados

parciais e finais desta pesquisa.

( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.

( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.

Belém, de de 2008

Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os

eventuais esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas.

_________________________________________________

Participante

_________________________________________________

Testemunha 1 :

Nome / RG / Telefone

_________________________________________________

Testemunha 2 :

Nome / RG / Telefone:

__________________________________________________

PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Telefone para contato: ________________________________

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151

APÊNDICE D

QUESTIONÁRIO

1) Características sócio-demográficas:

- Nome (iniciais): ________ Idade: ______ DN: ___/___/___ Sexo: ( )M ( ) F

- Grau de escolaridade:

( ) Fundamental ( ) Analfabeto

( ) Médio completo ( ) Médio incompleto

( ) Superior completo ( ) Superior incompleto

2) Características clínicas-funcionais:

- Queda no último ano? ( ) sim ( ) não

- Acuidade visual ( ) enxerga bem ( ) enxerga mal ( ) cegueira

- Auxílio à locomoção ( ) andador ( ) bengala ( ) não utiliza

- Apresenta perda auditiva? ( ) sim ( ) não

3) Como se desloca pela cidade? ( ) a pé ( ) ônibus ( ) carro ( ) van

4) Em relação à cidade onde a sra./sr. mora, encontra alguma dificuldade para andar

nas ruas e calçadas da cidade? ( ) sim ( ) não

5) Qual o motivo que o fez participar do Projeto Vida Ativa?

_______________________________________________________________

6) Durante o trajeto até o núcleo da terceira idade, encontra alguma dificuldade para

se deslocar? ( ) sim ( ) não

7)Quanto tempo leva para completar o trajeto? ________________________

8) Além de freqüentar o núcleo da terceira idade, quais são os serviços que o

sr./sra.mais precisa e usa?

( ) agência bancária ( ) farmácia ( ) posto de saúde

( ) praças ( ) supermercados ( ) shoppings

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152

Especifique quantas vezes por semana precisa dos serviços citados: ________

9) A sra./sr. encontra alguma dificuldade de acesso aos prédios públicos, como

farmácias, agência bancária, posto de saúde, shoppings? ( ) sim ( ) não

Que tipo de dificuldade? ___________________________________________

10) O espaço urbano de circulação para pedestres mudou nos últimos anos?

( ) sim ( ) não Em que aspectos? __________________________________

11) Em sua opinião, o que seria importante para facilitar o seu acesso aos serviços

que mais precisa, em termos de mobilidade/deslocamento?

( ) melhorar as calçadas ( ) melhorar a sinalização ( ) sensibilizar a comunidade

( ) adequar o sistema de transporte ( ) praticar as políticas públicas de atenção ao

idoso ( ) capacitar profissionais – ex: motorista de ônibus

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APÊNDICE E

QUESTIONÁRIO BOMFAQ

(Versão Brasileira de OARS - Olders Americans Resources and Services

Multidimensional Functional Assesment Questionaire)

Atividades de Vida Diária

Com dificuldade Sem dificuldade

Deitar/levantar da cama

Comer

Pentear cabelo

Andar no plano

Tomar banho

Vestir-se

Ir ao banheiro em tempo

Cortar unhas dos pés

Atividades Instrumentais de Vida

Diária

Subir escada (1 lance)

Medicar-se na hora

Andar perto de casa

Fazer compras

Preparar refeições

Sair de condução

Fazer limpeza de casa

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154

APÊNDICE F

PERCEPÇÃO DE ESPAÇO FÍSICO

METODOLOGIA DE FERREIRA E SANCHES (2003)

A metodologia de Ferreira e Sanches (2003) avalia a qualidade dos espaços

dos pedestres considerando aspectos ambientais e determinam a percepção da

qualidade atribuída pelos pedestres a estes espaços por meio de indicadores mais

relevantes.

Os indicadores são: conforto (representa o grau de esforço físico),

continuidade (existência de trechos sem interrupções), segurança (sem perigo de

quedas) e seguridade (iluminação em relação à sensação de segurança).

Quadro 1 – Indicador de qualidade da calçada

Conforto pontuação

_______________________________________________________________

Calçadas sem desníveis e inclinações e com arborização 5

Calçadas sem desníveis e com inclinações leves 4

Calçadas sem piso, mas com condições de caminhamento 3

Calçadas arborizada com desníveis e inclinações, dificultando o

caminhamento dos pedestres 2

Calçadas sem arborização, com desníveis e inclinações, dificultando o

caminhamento dos pedestres 1

Calçadas sem arborização, com desníveis e/ou inclinações,

impossibilitando o caminhamento de pessoas com

dificuldade de locomoção ou mobilidade reduzida 0

_______________________________________________________________

Quadro 2 – Indicador de qualidade da calçada

Seguridade pontuação

_______________________________________________________________

Área com boa iluminação pública 5

Área com iluminação média 3

Área com iluminação pública deficiente 0

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155

Quadro 3 - Indicador de qualidade da calçada

Continuidade pontuação

_______________________________________________________________

Calçadas sem obstáculo e com mobiliário urbano 5

Calçadas com condições de caminhamento, mas sem revestimento 4

Calçadas com mobiliário dificultando o caminhamento 3

Calçadas ocupadas parcialmente por outros usos 2

Calçadas usadas como estacionamento 1

Calçadas com desníveis e obstáculos que obrigam o

usuário a caminhar no leito da rua 0

_______________________________________________________________

Quadro 4 - Indicador de qualidade da calçada

Segurança pontuação

_______________________________________________________________

Área sem conflito com veículos, obstáculos, desníveis que 5

dificultem o caminhamento dos pedestres e pessoas

portadoras de dificuldades de locomoção ou mobilidade reduzida

Área sem obstáculos para o caminhamento dos pedestres

pessoas portadoras de dificuldades de locomoção ou

mobilidade reduzida 4

Área sem conflito entre pedestres e veículos e com

acessibilidade média ao caminhamento de pessoas 3

Área com calçadas estreitas e oferecendo riscos aos pedestres 2

Área com conflitos entre pedestres e veículos (estacionamentos) 1

Área com existência de calçadas, mas o pedestre disputa

o leito da rua com os veículos 0

_______________________________________________________________